quarta-feira, 14 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13139: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (29): A Cidadela de Cascais, que conheci em 1967, e de que fui comandante durante 370 dias em 1994/95 e sobre a qual escrevi um livro (António J. Pereira da Costa, cor art ref)






Cascais > A Cidadela de Cascais > 7 de maio de 2014 > Espaço interior e vistas sobre a baía de Cascais.


Fotos (e legendas) © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.



1. Comentário do nosso camarada António J. Pereira da Costa ao poste P13134 (*):

[foto atual à esquerda: alf art na CART 1692/BART 1914,Cacine, 1968/69;  e cap art cmdt das CART 3494/BART 3873, Xime  e Mansambo,  e CART 3567, Mansabá, 1972/74; 
hoje cor art ref]

Olá, Camaradas
Fui comandante desta unidade durante 370 dias (1994-95) e tive o máximo prazer nisso.

Conheci-a em 1967 quando ali fiz um estágio de Artilharia Anti-Aérea e depois voltei lá episodicamente até vir a ser o comandante (**).

Escrevi um livro sobre ela que o Exército e a Câmara Municipal apoiaram (o que quer dizer que não era assim tão mau) e que se chama "A Cidadela de Cascais: Pedras, Homens e Armas". Podem vê-lo e comprá-lo no posto de vendas da Câmara. Pela minha saudinha que não ganho nada com a venda...

Quanto às legendas... Ficam à imaginação dos observadores.

Um Ab.
António J. P. Costa


2. Comentário de L. G.:

Bingo!!!... Não tem nada que enganar!... É a Cidadela de Cascais... E merece bem uma visita demorada... Desde o Palácio da Presidência da República, à Pousada (a maior do país, com 120 e tal quartos), gerida pelo Grupo Pestana. Não percam a visita à cisterna da Cidadela... E às galerias de arte.

Com as minhas limitações de locomoção, não pude andar por todo o lado... Mas fiz uma visita, guiada, demorada, ao Palácio... (Vejam aqui mais informação no sítio da Presidência da República).

Sobre o historial militar (mais recente) da Cidadela de Cascais, ver o que diz o nosso assessor militar, o Zé Martins:

(i) Na Cidadela de Cascais cuja história remonta ao séc. XVI (se não mesmo antes), foi constituído o Grupo de Artilharia contra Aeronaves, nº 1, em 1937 e 1939.

(ii) Depois, em 1959, esta unidade foi transformada em Centro de Instrução de Artilharia Anti-Aérea e de Costa (, designação alterada para Centro de Instrução de Artilharia Anti-Aérea de Cascais, em 1977). 

(iii) É extinto CIAAAC em 1993.

O nosso D. Luís, pai do D. Carlos I, e avô do D. Manuel II, passou a frequentar o palácio do governador da cidadela, por razões da saúde (sofria de renite, se não erro) a partir do início da década de 1870. A época balnear, na altura, era mais tardia do que hoje: setembro, outubro, novembro... A família real voltava a Lisboa para a "rentrée", ou seja, a abertura da temporada da ópera no São Carlos... Bons tempos!... "Belle époque"!...


3. Mensagem de ontem, do António J. Pereira da Costa

Olá, Camarada:
Aqui vai a capa do meu livro sobre a Cidadela. Foi lançado em 2003 no Palácio Conde de Castro Guimarães em vez de ter sido na cisterna na qual não há qualquer vestígio da "ocupação militar".

Havia um conjunto de brasões de barro da autoria da ceramista Maria de Lurdes Valente. Eram brasões de todas as unidades de artilharia e do governo militar de Lisboa. Aí havia um brasão de grandes dimensões com as armas de Portugal e respectivos "tenentes".

No meu tempo, havia um pequeno museu com as imagens de Santa Bárbara, do Santo António, um pendão para as procissões do dia 13 de junho e vários guiões das unidades mobilizadas pelo GACA 2 (Torres Novas) e outras unidades.

Creio que as coisas reverteram para o RAA 1 (Queluz) se eram de AA e para a EPA, se eram de Artilharia de Campanha.
As peças os obuses e o morteiro do Bartolomeu da Costa reverteram para um ou outra

Um Ab.
António J.P. Costa

Título: "A Cidadela de Cascais: pedras, homens e armas"
Autor: António José Pereira da Costa;  Prefácio: Rui Carita.
Publicação: Lisboa:  Direção de Documentação e História Militar, 2003
Descrição física:  481p. : il.; 23 cm
ISBN:  972-8347-02-2 (brochado)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13134: Fotos à procura... de uma legenda (27): Alguns de nós, poucos, passaram por lá... Foi centro de instrução militar...

(**) Último poste da série > 8 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13115: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (28): Caldas da Rainha onde frequentei o 1.º Ciclo do Curso de Sargentos Milicianos até me magoar, baixar ao HMP e regressar a casa com licença registada (António Tavares)

Guiné 63/74 - P13138: Tabanca Grande (434): Luís Cândido Tavares Paulino, ex-Fur Mil da CCAÇ 2726 (Cacine e Cameconde, 1970/72) - Grã-Tabanqueiro 655

Mensagens enviadas ao nosso Blogue pelo nosso camarada Luís Cândido Tavares Paulino, ex-Fur Mil da CCAÇ 2726 (Cacine e Cameconde, 1970/72):

Primeira mensagem:
Amigo e Camarada Luís Graça,
Tenho vindo a abrir com alguma frequência o blogue, que é o ponto de encontro de muitos que como eu, cumpriram as suas comissões de serviço nas Ex-Colónias desde o início da década de 60 até 1974 e sempre tive o desejo de um dia poder vir a contribuir para o seu enriquecimento, - por entender que muitas das memórias que aqui são narradas, irão pertencer à história da época colonial - e também para continuar a manter ligações com os que como eu, também palmilharam aquelas terras africanas.

Fui Fur. Mil. e pertenci à C.Caç. 2726, que cumpriu a sua comissão de serviço na Ex-Colónia da Guiné, tendo ficado estacionada em Cacine e Cameconde, desde Abril de 70 a Fevereiro de 72.

Esta unidade formada no BII18 em Ponta Delgada, era maioritariamente constituída por naturais dos Açores e comandada pelo Capitão David Magalhães, (hoje Coronel).

Em 2004, por mera casualidade, foi possível reencontrar um número significativo de elementos e a partir dessa data temo-nos reunido anualmente em convívios, cuja duração nunca foi inferior a 3 dias. Durante estes 10 anos, já percorremos desde o Minho e Trás-os-Montes ao Algarve e as Ilhas de S.Miguel, Terceira, Pico e Faial.
Para este ano já está praticamente organizado o 10.º Convívio, que vai ocorrer em Lisboa, de 20 a 22/6.

Do Programa constam visitas a lugares de interesse histórico e turístico, culminando com o habitual almoço convívio, abrilhantado por um conjunto de guitarra e viola que irão acompanhar uma fadista e organista que irá transmitir uma animação própria para estas ocasiões.

Saudações fraternas,
Luís Paulino



Segunda mensagem:
Amigo e Camarada Luís Graça,
Enviei ontem um email para o blogue e hoje ao proceder à sua abertura e após uma leitura pormenorizada, verifico que o médico Bernardo Silva, que passou pela nossa Companhia em Cacine, tem referido os nomes do Comandante - Capitão David Custódio Gomes Magalhães, o meu e de outro médico Mário Bravo, que também deu assistência à nossa Companhia.
Atendendo a que está para breve o nosso 10.º Convívio, seria interessante se fosse possível contactá-lo para o poder convidar.

Saudações fraternas,
Luís Cândido Tavares Paulino
Ex-Fur. Mil. C.Caç.2726


Com Este Sinal Vencerás


Terceira mensagem:
Caro Amigo e Camarada Vinhal,
Como já ontem referi num email que enviei para o blogue Luís Graça, sou o ex-militar que pelos vistos está a ser badalado no blogue dos que como eu prestaram serviço militar na Guiné.

O meu nome é - Luís Cândido Tavares Paulino e fui Furriel Miliciano na C. Caç.2726, que esteve estacionada em Cacine de 1970/1972.
Não sendo minha intenção desvalorizar os eventos de outras unidades que se têm organizado por todo o país, é de realçar a forma quase "profissional" como organizámos os 9 Convívios já passados. Como também referi, já percorremos o continente desde Minho, Trás-os-Montes, Beira Litoral, Estremadura e Algarve. Nos Açores já visitamos S. Miguel, Terceira, Pico e Faial.

Lembro-me que na viagem a S. Miguel faziam parte do grupo mais ou menos 90 pessoas. - Viagens de avião, alojamento em hotéis, transportes terrestres locais, para visitas turísticas, almoços extra-convívios, cerimónias religiosas, animação musical, (organistas, conjuntos de violas e guitarras com fadistas, ranchos folclóricos locais), tudo isto para animar o formal Almoço Convívio.

O meu amigo poderá questionar-se: se será possível que estes malucos ainda tenham pedalada para estas actividades? Podem acreditar que é mesmo esta a realidade dos nossos Convívio.

Também já li no blogue do Luís Graça que o médico Bernardo Amaral, que prestou assistência médica à Companhia, já fez referência à nossa singular dos nossos eventos. Gostaria que ele nos acompanhasse este ano em Lisboa, por ocasião do nosso 10.º Convívio de 20 a 22 de Junho. Também já contactei via telefone, o médico Mário Bravo, nesse sentido, pelo que a sua presença poderá ser uma realidade.

Agradeço, se for possível, que me contactem.

Saudações Fraternas.
Luís Cândido Tavares Paulino
Ex-Fur. Mil. C.Caç.2726

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine vista de uma embarcação no rio... à esquerda o antigo posto de socorros no tempo da CART 1692... Ainda hoje a povoação, embora degradada, está coberta de magníficos poilões e cabaceiras.

Foto: © Luís Graça (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


2. Comentário do editor

Caro camarada Luís Paulino,
Muito obrigado pelo teu contacto e por seres um dos leitores do nosso Blogue.
Em conversa telefónica, ontem à tarde, pudemos trocar imensas recordações dos nossos tempos de militares e dos caminhos que trilhámos quase ombro a ombro.
Para que quem me leia fique a saber tanto como nós, passo a explicar.
Fizemos ambos a recruta do CSM no RI 5 das Caldas da Rainha no segundo turno de 1969, de 21 de Abril a 3 de Julho, dia em que Juramos Bandeira. Tu pertencias à 2.ª Companhia de Instrução e eu à 6.ª. No meio ficava a 4.ª.
Tu foste depois fazer a Especialidade na arma de Infantaria (CISMI) Tavira e eu Artilharia (EPA) Vendas Novas.
Voltámos a andar juntos no XXXIII Curso de Minas e Armadilhas, na Escola Prática de Engenharia de Tancos (EPE), entre 20 de Outubro e 28 de Novembro de 1969. Eu na Turma B, tu não te lembras da tua.
Durante o Curso ambos fizemos amizade com o então Aspirante Couto que viria a integrar a minha Companhia na Guiné, onde viria a falecer no dia 6 de Outubro de 1970, vítima de uma mina antipessoal IN.
Findo o curso foste para os Açores e eu (em Dezembro) para a Madeira.
Quando mobilizados, ambos para a Guiné, tu saíste de Lisboa no dia 11 de Abril de 1970 com a tua açoriana CCAÇ  2726, no navio Ana Mafalda, que fez escala no Funchal no dia 13 para embarcar a minha madeirense CART 2732. De novo reunidos, desta vez num espaço bem mais pequeno.
Por certo fizemos as refeições juntos a bordo e dormimos em camarotes contíguos.
Chegados à Guiné, seguiste o teu destino para os Resorts de Cacine e Cameconde e eu, mais modesto, estive 23 meses nas Termas de Mansabá.
Regressaste a 27 de Fevereiro de 1972, sortudo, véspera do dia em que eu havia de abandonar definitivamente Mansabá para aguardar, em Bissau, embarque para a Metrópole, o que veio a acontecer só no dia 19 de Março.

Disse que te receberemos na tertúlia com todo o gosto, desde que prometas enviar-nos algumas das tuas memórias escritas e em fotos. Já sabes que para formalizar a tua admissão na Tabanca Grande, nome por que também é conhecido o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, nos deves mandar uma foto "daquele tempo", fardado, e outra actual (de preferência tipo passe, em formato JPEG) que se destinam, não só aos nossos arquivos, como também a ilustrar os teus postes, que como te expliquei também, somos nós a publicar.

As tuas mensagens com textos e/ou fotos a publicar devem ser enviadas para o Blogue, endereço luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com e para um dos co-editores: eu ou o Eduardo Magalhães.

Já que estamos em contacto, passo a informar, se ainda não sabes, que no próximo dia 14 de Junho se vai levar a efeito o IX Encontro da Tabanca Grande, convívio este aberto a todos os camaradas que palmilharam aquela terra vermelha, que molharam as fardas nas bolanhas e as secaram sob aquele tórrido sol. Isto nos une e nos faz irmãos. Por isso nos tratamos por tu, independentemente do que fomos (patentes militares) e do que somos agora como civis.

Caro Luís, já me alonguei muito. Logo que me mandes as fotos da praxe, publicá-las-ei neste mesmo poste para que te possamos conhecer aí pelos caminhos de Portugal.

Recebe um abraço de boas-vindas em nome dos editores e da tertúlia.
Fico por aqui ao teu dispor
Carlos Vinhal

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Setor de Cacine > Cameconde > 1968 > Três aspetos gerais do destacamento.

Fotos: © António J. Pereira da Costa (2013). Todos os direitos reservados


3. Em tempo

Fotos da praxe publicadas em 4 de Junho de 2014.
A propósito, posso dizer-te, caro Luís Paulino, que "a tua cara não me é estranha".
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12991: Tabanca Grande (433): Lucinda Aranha, filha de Manuel Joaquim dos Prazeres que viveu em Cabo Verde e na Guiné entre os anos 30 e 1972, e que era empresário de cinema ambulante

Guiné 63/74 - P13137: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte VI: Canjambari, aquartelamento e tabanca (Fernando Pires, ex-fur mil at inf)

 1. Histórias da CCAÇ 2533 > Parte VI (Fur mil at inf, 3º pelotão, Fernando Pires)



Continuamos a publicar as "histórias da CCAÇ 2533", a partir do livro editado pelo 1º ex-cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). Esta publicação é uma obra coletiva, feita com a participação de diversos ex-militares da companhia (oficiais, sargentos e praças).

A brochura chegou-nos digitalizada através do Luís Nascimento (que também nos facultou um exemplar em papel e que, até ao momento, é o único representante da CCAÇ 2533, na nossa Tabanca Grande). Temos autorização do editor e autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as peripécias por que passou o pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71).

Continuamos a publicar a colaboração do fur mil at inf Fernando J. do Nascimento Pires, que pertenceu ao 3º pelotão. O poste de hoje corresponde às pp. 30/34 e nele se descreve o quartel e tabanca de Canjambari.

Não temos foto nem contactos do Fernando Pires a quem já, publicamente, endereçámos um convite para para se juntar à nossa Tabanca Grande. Só precisamos de 2 fotos dele, uma atual e outra do tempo da tropa... O convite é extensivo aos restantes autores, que iremos publicando. (LG)



Guiné > Mapa da província > Escala 1/500 mil > 1961 > Posição relativa de Canjambari, no setor de Farim, região do Oio, confinando com a zona leste (Região de Bafatá) e tendo a norte a fronteira com o Senegal. Pormenor.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).







A porta de armas






(Continua)
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Nota do editor:


Último poets da série > 10 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13124: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte V: (i) A praxe (a história de uma partida a um alferes pira e que envolve também o cap inf Vasco Lourenço); e (ii) a cabra do mato que chorava (Fernando Pires, ex-fur mil at inf)


terça-feira, 13 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13136: Memória dos lugares (265): Bubaque, cada vez mais bonita... (Patrício Ribeiro)



Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama- ijagós > Bubaque > Porto > A ligação a Bissau é feita por embarcações nhomincas e a travessia leva 5 horas...


Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama- Bijagós > Bubaque > Cais


Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Bubaque > Rua Principal, on de fica o restaurante da portuguesa Dora.Iluminação pública, com painéis solares, obra da Impar Lda, financiamento da União Europeia.


Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Bubaque > O novo mercado, construído com financiamento da União Europeia


Guiné-Bissau > Arquipélago Bolama-Bijagós > Bubaque > Hospital regional > Iluninação pública, exterior, com painéis solares, obra da Impar Lda, financiamentro da União Europeia

Fotos (e legendas) © Patrício Ribeiro (2014). Todos os direitos reservados.




1. Mensagem, de hoje, do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro que está em Portugal (hoje em Águeda, onde está a reconstruir uma casa; amanhã e depois em Lisboa):


[Foto à direita; Patrício Riubeiro,  português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, com família no Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bssau desde 1984, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.]




Hora: 09:24



Assunto - Mais notícias de Bubaque.

A cidade de Bubaque está bem…

Os netos dos alemães, antigos proprietários da fábrica de óleo de palma, voltaram e querem o terreno onde estava a fábrica, querem lá fazer uma nova. As sucatas da antiga já desapareceram há muito, já pouco resta, só um ou outro armazém.

Já têm um novo mercado, inaugurado há poucas semanas. Financiamento da UE, (junto foto).

Instalei há aproximadamente um mês, 15 postes solares. Passaram a ter luz nas ruas da cidade, toda a noite. Financiamento da UE (junto foto: Hospital e rua da Dora).

Foi inaugurada há poucos dias uma pizaria, por uns tugas.

O hotel da Dora, “portuguesa dos sete custados” , está cada vez mais bonito!

Os turistas continuam a chegar aos diversos hotéis franceses, vão para lá semanalmente, já desde há muitos anos, aproximadamente uns 50 por semana, aos diversos hotéis que existem nos Bijagós, para a pesca à cana; percorrem, em barcos rápidos, os pesqueiros das ilhas.

O festival de música, realizado há poucos dias, foi muito bom, os mais conceituados artistas guineenses lá estiveram e não só.

A fábrica de gelo está fechada, é destinada à conservação de pescado, para ser transportado nas canoas para Bissau, mas agora o gelo tem que vir de Bissau.

O padre Luigi Scantamburlo provavelmente lá vai andando entre Lisboa e Bubaque. Há alguns meses que não estou com ele, anda em Lisboa, a fazer o seu doutoramento, “o ensino em crioulo”.

Transportes públicos, só de canoa Nhominca; a viagem leva 5 horas até Bissau, foi quanto demorei para cada lado, há poucas semanas. (Junto foto do porto).

Abraço,

Patrício Ribeiro
________________

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , 
Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645, Guiné Bissau
Tel / Fax 00 351 218966014 Lisboa 

Guiné 63/74 - P13135: Contraponto (Alberto Branquinho) (52): A Guerra (Colonial) no Feminino

1. Em mensagem de 4 de Maio de 2014, o nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos o seu contraponto número 52, dedicado à "guerra" no feminino.


CONTRAPONTO

52 - A GUERRA (COLONIAL) NO FEMININO

Não há dúvida: foi aquela guerra!! Aquela experiência!!

Trata-se de escritos sobre a “guerra” das mulheres que acompanharam os seus maridos mobilizados para a “guerra em África”. (!!!)

Em Angola e em Moçambique havia muitos locais assim... “guerreiros” (perigosíssimos!), onde as mulheres, com seus maridos, podiam e eram autorizadas a aboletar-se... gozando as delícias dos trópicos. Bem, em alguns casos poderia tratar-se de militares que se deslocavam em missões ao interior efectivamente guerreiro (pára-quedistas, pilotos...), regressando, em breve prazo, para junto das suas consortes (com melhor sorte). Mas a grande parte dessa “guerra no feminino” foi a “guerra santa” da contraparte dessa masculina “santidade”.

Todos sabemos que, na Guiné, era proibida a presença das esposas dos militares, excepto em Bissau e em Bafatá. Recordo-me do caso daquela Senhora, que, roída de saudades do marido-alferes miliciano, atracou a Catió, mas foi remetida à procedência, tendo o marido sido autorizado a acompanhá-la até Bissau.

Vem este arrazoado a propósito de ter encontrado fartas referências à “guerra colonial no feminino” e, então, pensei que seria sobre as peripécias das vidas das “nossas” enfermeiras pára-quedistas em teatro de guerra. Não! Era sobre essoutro (pretenso) lado da lua, que, afinal, quando escrevente, também é considerada “literatura da guerra colonial”, com muitas referências e citações em compilações literárias sobre essa espécie de.

Ficarão para a História... relatando a guerra vista de longe e baseada no diz-se, consta que, ouvi dizer. 
PÓIS!
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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12187: Contraponto (Alberto Branquinho) (51): Micoses

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13134: Fotos à procura... de uma legenda (27): Alguns de nós, poucos, passaram por lá... Foi centro de instrução militar...








Região Metropolitana de Lisboa > 7 de maio de 2014 > Foi centro de instrução militar... Alguns de nós, poucos, por lá terão passado... É um sitio cheio de história... e com vistas soberbas,  É uma antiga fortaleza, É hoje uma espaço multifuncional, museológico, cultural, turístico...Teve, na sua reabilitação e recuperação, a mão de um grande mestre da arquitetura portuguesa,,, Fui lá há dias, no âmbito de uma visita guiada a um palácio... Não é para mancos, mas tem elevadores... Adivinhem se fazem favor... (Hoje já não tem militares, e está  classificado como  imóvel de interesse público; o exército cedeu a instalações).

Fotos (e legendas) © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.



Mais uma ajuda,,, Esta foto não é minha... É da Wikipedia, do domínio público,,,

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Nota do editor:

Último poste  da série > 8 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12948: Fotos à procura... de uma legenda (26): Mais um sítio de passagem, para alguns de nós, no tempo de tropa... Qual ? (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P13133: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (84): Quando Bula é, por um dia, sábado, 10 de maio, duas cidades portuguesas irmanadas, Torres Vedras e Caldas da Raínha, pelos convívios da CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) e do EREC 2454 (Bula, 1969/71) (Armando Pires)



Torres Vedras > 10 de maio de 2014 > 28º encontro da CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70). Foto de família.



Caldas da Rainha > XXIII Encontro do o pessoal do Esquadrão de Reconhecimento AML 2454. Na foto, o Armando Pires e o Bernardino Cardoso.

Fotos (e legendas) © Armando Pires (2014). Todos os direitos reservados.

1. Mensagens do Armando Pires, deixadas na pagina do Facebook da Tabanca Grande:

Sábado passado foi o chamado dia em cheio. E tudo fruto do destino, ou do acaso, como lhe queiram chamar:

(i) Em Torres Vedras realizou-se o 28º Encontro da minha Companhia. A CCS do BCAÇ 2861. Faltava a foto de família, não era? Ora aqui está ela.

(ii) Pois à mesma hora reunia nas Caldas da Rainha o pessoal do Esquadrão de Reconhecimento AML 2454, com quem, em Bula, partilhei dos melhores e piores momentos então vividos.
Claro que fui às Caldas saudar a malta. E fui recebido, com um abraço do tamanho do mundo, pelo meu amigo e nosso camarada tabanqueiro Bernardino Cardoso.

Armando Pires

2. Comentário de L.G.:

Armando, tu és fadista, pelo que terás tendência a acreditar no destino, no "fatum"... Eu, que também sou dado ao pensamento mágico,  acho que isso foi obra do bom irã acocorado no alto do poilão da nossa Tabanca Grande...  Quer queiras quer não, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!...

Um alfrabravo fraterno  para os dois bons camaradas de Bula, Armando e Berrnardo. Gostria de vos reencontrar em Monte Real, no próximo dia 14 de junho!... E que o bom irã vos acompanhe!

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de março de  2014 > Guiné 63/74 - P12833: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (83): Recebi notícias do último CMDT do Glorioso GA 7, Coronel de Artilharia Faia Correia (Vasco Pires)

Guiné 63/74 - P13132: Notas de leitura (590): Bubaque foi uma colónia alemã... antes da I Guerra Mundial (Luís Vaz)

1. Trocas de mensagens com o Luís Vaz, a propósito do poste P13117 (*):

(i) Luís Vaz. 9/5/2014

Caros Camarigos Eduardo e Luís:

Luis Vaz, aos 13 anos,
em Bubaque.
Páscoa de 1974
Já respondi ao Antº Rosinha, a história da Fábrica Alemã na ilha de Bubaque. Mas tenho um texto muito interessante sobre a Ilha, de Luigi Scantamburlo que viveu 3 anos na Ilha de Bubaque, pois foi enviado pela sua congregação (Pontificio Istituto Missioni Estere de Milano) à Guiné-Bissau. No ano de 1975 começou a viver junto com o povo das ilhas dos Bijagós, onde preparou o presente estudo etnográfico. Em 1981 publicou a gramática e dicionário da língua crioula da Guiné-Bissau (editora EMI - Bolonha, Itália). Presentemente está a preparar um estudo sobre a língua e a religião dos Bijagós.

O texto segue em anexo [Etnologia dos bijagós da Ilha de Bubaque]. Se calhar dá para muitos artigos no nosso Blog, pensem nisso, e depois digam-me alguma coisa.

Abraço


 (ii) Luís Graça, 10/5/2014

Luís: Obrigado por esta preciosidade, que desconhecia. Não podemos reproduzir o documento tal como está, por causa dos direitos de autor. De preferência, o blogue publica inéditos... Mas se quiseres fazer uma nota de leitura, ou um síntese, tudo bem. O meu filho, músico e médico, esteve um fim de semana em Bubaque, em dezembro de 2009. Mas eu nunca tive oportunidade de conhecer os Bijagós. Como não houve lá guerra, é uma região mal conhecida dos ex-combatentes... Queres fazer um ou dois postes ? Afinal passaste lá ferias...Um abraço. Luís


 (iii) Luís Vaz, 10/5/2014

Olá,  António:

Ainda bem que apreciaste! Pelos vistos ali os verdadeiros colonizadores foram os Alemães. Podes fazer tu nota de leitura, pois eu como professor estou numa altura de muito trabalho. Pensa nisso. Abraço,  Luís Vaz. (**)


2. Reprodução de um excerto do livro de Luigi Scantamburlo, trad. de Maria Fernanda, "Etnologia dos Bijagós da Ilha de Bubaque", Lisboa : Institutro  de Investigação Científica Tropical ; Bissau : Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, 1991, 109 pp. Disponível, em texto integral, aqui:



BIOGRAFIA

Luigi SCANTAMBURLO nasceu em 1944. Fez os seus estudos de História das Religiões na University of Detroit (M. A., 1976) e de Antropologia na Wayne State University, Detroit. U. S. A. (M. A., 1978). Depois de ter trabalhado como jornalista na revista italiana Mondo e Missione (Milão) durante três anos, foi enviado pela sua congregação (Pontificio Istituto Missioni Estere de Milano) à Guiné-Bissau. No ano de 1975 começou a viver junto com o povo das ilhas dos Bijagós, onde preparou o presente estudo etnográfico. Em 1981 publicou a gramática e dicionário da língua crioula da Guiné-Bissau (editora EMI - Bolonha, Itália). Presentemente está a preparar um estudo sobre a língua e a religião dos Bijagós.

Este texto é a Thesis de Master of Arts em Antropologia na Universidade Wayne State, de Detroit (Michigan, U. S. A.), no ano de 1978. A tradução do inglês foi feita pela Doutora Maria Fernanda Dâmaso.


ÍNDICE

Prefácio
Agradecimentos
Introdução
História e origem
A situação geográfica e económica
As relações do parentesco tradicional e o sistema político
A cosmologia dos Bijagós
Conclusão
Bibliografia
Mapas e Figuras
Mapa 1 – A República da Guiné-Bissau
Mapa 2 – As Ilhas de Bubaque e de Rubane
Figura 1 – A tabanca de Ancadona
Figura 2 – Tipos de casas dos Bijagós
Figura 3 – Terminologia dos graus de parentesco em Bubaque
Fotografias

A SITUAÇÃO GEOGRÁFICA E A ECONOMIA (pp. 16/17)

A ilha de Bubaque, com uma área de 48 km2, dezoito dos quais são pântanos alagados pelo oceano durante a maré alta, está situada no canto sudeste do arquipélago (vê mapa 2). É a ilha mais afectada pela presença dos europeus, escolhida pelos colonizadores alemães antes da I Guerra Mundial e pelo Governo Português depois de 1920, como o centro principal das suas actividades no arquipélago. Os alemães construíram aqui uma fábrica para a extracção do óleo de palma (Elaeis guineensis); um porto para navios de pequena e média tonelagem na parte setentrional e uma quinta experimental em Etimbato.

Durante a ocupação colonial, que terminou em Agosto de 1974, Bubaque era o centro dos serviços administrativos de todo o arquipélago, com um administrador português residente e outros funcionários. Em 1952, a igreja católica, através de presença permanente de um missionário, e a missão protestante, começaram a sua acção na ilha. A construção de um pequeno hotel para turistas aumentou a presença dos europeus. A enorme praia de Bruce, situada na parte meridional, constitui uma atracção especial para os turistas e está ligada ao centro administrativo de Bubaque por uma estrada asfaltada desde 1976.

As comunicações com Bissau são possíveis através de pequenos aviões e barco. Todos os sábados à tarde chega um navio com capacidade para 200 passageiros e regressa a Bissau no dia seguinte. Mais hotéis e um grande aeroporto estão agora a ser construídos para desenvolver a capacidade turística da ilha.

O clima é do tipo subtropical, com chuvas abundantes, cuja precipitação média anual é de 1500 a 2000 mm, durante a estação das chuvas, de meados de Maio até meados de Novembro. A temperatura média é cerca de 33°C durante a estação seca e de 25°C durante a estação das chuvas, e a sua variação diária é muito ampla. À noite, sobretudo entre Dezembro e Fevereiro, a temperatura desce para 10°C ou mesmo 8°C e as pessoas têm de abrigar-se nas suas cabanas para se aquecerem.

A maior parte da ilha é coberta de palmeiras de óleo, cuja cultura foi desenvolvida pelos colonizadores alemães no princípio do século. A outra vegetação, do tipo floresta, inclui uma variedade de plantas da Região subtropical. As árvores de grande porte mais importantes, muitas vezes centros sagrados para as cerimónias religiosas, são os chamados poilões (Eriodendrum anfractuosum) e os embondeiros (Andansonia digitata). Nos arredores das tabancas, as árvores de fruto mais comuns são as mangueiras, os cajueiros, as laranjeiras, os limoeiros e as papaeiras. A caça, que se encontra nas outras ilhas (gazela, cabra-do-mato, hipopótamo, crocodilo), desapareceu da ilha de Bubaque. No entanto os macacos e os tecelões (Proceus cucullatus), tão perigosos para a agricultura, são ainda bastante numerosos.

Em Novembro de 1976, e ilha contava com 2172 habitantes (1054 dos quais eram homens e 1118 mulheres), cerca de 757, metade dos quais não bijagós, habitavam no centro de Bubaque e 1415 viviam nas doze tabancas da ilha (...)

Nalgumas tabancas, como Agumpa, Bruce e Etimbato, há uma ou duas famílias de outros grupos étnicos (Mandingas, Beafadas, Papéis) casados geralmente com mulheres bijagós. Bijante possui a ilha de Rubane (com uma área de 18 km2, cinco dos quais cobertos pela maré alta) e Ancadona possui as pequenas ilhas de Ametite e Anágaru, na parte oriental de Rubane. No sudoeste desta ilha existe um acampamento permanente para pescadores, ocupado habitualmente pelos Nhominca, um grupo étnico do Senegal.

A estatura media dos Bijagós é de 1,70 m para os homens e 1,60 m para as mulheres. Como a maioria dos povos do grupo atlântico-ocidental, a cor da sua pele é castanha, com algumas tonalidades de castanho muito escuro. Têm poucos pêlos no corpo e os rapazes usam o cabelo comprido, geralmente enrolado e entrançado da mesma forma que as mu1heres. Devido à presença dos serviços administrativos e das escolas construídas nos últimos trinta anos, Bubaque possui a mais alta percentagem de escolarizados do arquipélago.

Anninu, um bijagó de Canhabaque, foi, segundo a tradição, o fundador de Bruce, a primeira tabanca da ilha. A segunda foi Bijante, num dia em que o irmão mais novo do chefe de Bruce, encontrando-se no alto mar para caçar e pescar, descobriu a ilha de Rubane, abundante em caça, frutos e peixe. No intuito de ficar mais perto de1a, construiu uma nove aldeia. Ainda hoje existe um relacionamento especial entre estas duas tabancas.

Os Bijagós concordam em que duas ou três gerações atrás as ilhas eram mais povoadas. Buchumbar, perto de Ancadona, desapareceu há uma geração, e em muitas tabancas existem ainda vestígios evidentes de cabanas arruinadas, que nunca mais foram reconstruídas.

A importância de uma tabanca reside na sua autonomia para realizar as cerimónias de iniciação. Algumas delas não têm local para as realizar e mantêm por isso um relacionamento estreito com uma tabanca das proximidades. Assim, encontramos os seguintes grupos de tabancas, sendo as grafadas em itálico aquelas que possuem local para as cerimónias de iniciação: Bruce, Bijana-Ambanha, Bíjante-Enem-Ancadona, Agumpa-Ancabas, Ancamona-Charo-Anhimango. Etimbato ainda não é considerada uma tabanca, mas sim um lugar para trabalhos periódicos, preparado pelos colonizadores alemães para o cultivo das palmeiras de óleo. Alguns bijagós estão a tentar que lhe seja concedido esse estatuto. (...)
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Notas do editor:

Guiné 63/74 - P13131: Notas de leitura (589): "Os Frades Menores de Veneza na Guiné-Bissau: 50 anos de história para recordar (1955-2005)", por Fabio Longo (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Novembro de 2013:

Queridos amigos,
Trata-se de um relato inspirado na bondade e dedicação ilimitada de franciscanos italianos implantados na Guiné desde 1955. É um relato tocante, pelo que se constrói e a seguir se vê destruído, basta uma guerra civil.
Estão aqui páginas de ouro da vida missionária de uma Guiné que deploravelmente foi esquecida durante séculos, isto sem deixar o reparo de que o clima era adverso para trabalho em profundidade, que é propósito básico do missionário.
Obra rica nas ilustrações, desvela igualmente almas esplendorosas como a de Settimio Ferrazzetta, sepultado na Catedral de Bissau.

Um abraço do
Mário


Os Frades Menores de Veneza na Guiné-Bissau: 50 anos de história para recordar (1955-2005)

Beja Santos

É um registo tocante, por vezes a roçar o épico, desvelam-se aqui santos, gente mais compassiva é difícil de imaginar que estes franciscanos vénetos que aportaram à Guiné Portuguesa em 1955 e aqui têm operado maravilhas em prol do desenvolvimento humano e das convicções cristãs. O autor da narrativa chama-se Fábio Longo que trabalhou a documentação recolhida pelo Padre Rino Furlato, arquivista da diocese de Bissau. O autor destaca vários objetivos para esta publicação, penso que o mais carregado de intensão é o último, onde ele escreve que pretende dar o conhecimento de como permanece intacto o ideal evangélico de S. Francisco de Assis: o amor e o cuidado dos homens mais infelizes e abandonados, os leprosos e os mais pobres entre os pobres do mundo, afinal o que fizeram os Frades Menores vénetos desde 1955 na Guiné: Padre Settimio Ferrazzetta, Frade Giuseppe Andreatt, Frade Epifanio Cardin, seguidos depois por muitos outros, religiosos, religiosas e leigos.

Começa por apresentar a Guiné-Bissau em termos geográfico-históricos, sumaria a evangelização da Guiné-Bissau que, diga-se em abono da verdade, é paupérrima e coroada de insucessos. Pela Guiné andaram franciscanos em 1973, a supressão das ordens religiosas em Portugal, em 1834, deitou por terra o esforço missionário destes frades que evangelizaram em Farim, Geba e Ziguinchor. Os missionários franciscanos portugueses regressaram em 1932, desembarcaram em Bolama e alcançaram Cacheu, logo perceberam que tudo tinha voltado à estaca zero. No seu primeiro relatório apelaram a pelo menos 20/25 sacerdotes, dada a impossibilidade dos franciscanos portugueses corresponderem ao pedido apelou-se ao Instituto Pontifício para as Missões Estrangeiras, de Milão, que aceitou enviar um primeiro grupo de sacerdotes e um irmão leigo, em 1947, data da primeira chegada de missionários não-portugueses. Nesta época já vigoram os princípios missionários combonianos (com origem em Dom Daniele Comboni): formação de catequistas, uma das bases da evangelização; seminários diocesanos e casas de noviciado, enfim, preparar no local os servidores religiosos que atuaram no local.

A chegada dos três primeiros franciscanos a bordo do Ana Mafalda, a sua preparação em Bor e depois a sua ida para a Cumura, junto à leprosaria dão conta da atividade que aqui se desenrolará, em torno de uma aldeia habitada pela etnia Papel. O que ali existia era uma aldeia com 18 palhotas, terra batida, todas sem água e sem luz, habitadas por 205 leprosos, desfigurados no rosto, corroídos na pele e na carne, mutilados nos membros, sem mãos, sem dedos, com os pés totalmente deformados, alguns com os braços e o corpo carregados de feridas nauseabundas. É nesta atmosfera de pobreza extrema e de morbilidade intensa que os franciscanos começam a sua ação. Settimio Ferrazzetta escreve em julho de 1955: “Era a primeira vez que via uma leprosaria. Esta primeira visita lançou-me um pouco o pavor na alma, não pela sensação de me encontrar defronte à terrível doença, não pelo medo de me infetar, mas pelo ambiente em que vivem estes pobres leprosos”. Lançam-se ao trabalho, assistem e medicam diariamente os doentes, procedem ao exame bacteriológico e clínico, distribuem géneros alimentícios, dão catequese. Depois começam a chegar reforços. Em 1966, é criada a Missão Católica de Cumura, chegam os donativos, são postos de pé novos pavilhões, arejados, com leitos de ferro, colchões, lençóis e redes mosquiteiras. Settimio Ferrazzetta escreve em 1970, a propósito dos leprosos convertidos: “É algo de comovente ver estes pobres infelizes rezar: o terço não desliza bem em suas mãos, porque… perderam os dedos, por isso querem terços de grãos muito grossos! Pobrezinhos! Mas numa fé profunda e vivida encontraram a resignação cristã. É muito fácil encontrar leprosos no nosso hospital que dizem: O bom Deus é para todos, eu sofro, mas Ele o sabe, amanhã me pagará os meus sofrimentos, amanhã Deus me dará as minhas mãos e os meus pés, o meu corpo será belo como o corpo dos outros, e eu viverei feliz na eternidade”.

O trabalho é insano, constroem-se casas, jardins para os filhos dos leprosos, presta-se assistência aos pobres, a guerra de 1998-1999 agravou as condições de vida dos guineenses, a ajuda das Missões intensificou-se, procuram oferecer comida, vestuário, sabão, o indispensável. Como o Estado já não pode responder às necessidades básicas, os franciscanos constroem um hospital-maternidade, abrem-se postos de socorro, a atividade assistencial alastra. O livro elenca a edificação de igrejas e capelas na Cumura, em Bor, Prábis, em Cumura-Papel. O reconhecimento das gentes é cada vez maior, são tratados como os pais. O primeiro batismo foi administrado a um adolescente em fim de vida na leprosaria, crescem as conversões, aumentam os catequistas, as escolas de Cumura ganham notoriedade até se transformarem em complexo escolar. A partir dos anos 1970, Settimio Ferrazzetta começa a enviar para Portugal e Itália alguns jovens guineenses com a finalidade de formar gente preparada para favorecer o progresso social e cultural do país. Infelizmente, poucos voltaram à Guiné-Bissau, defraudando as esperanças neles depositadas pelos missionários. A promoção social, na lógica missionária é a de “não dar um peixe sem ensinar a pescar”, assim surgem a carpintaria e a oficina mecânica.

Conta-se a infausta Missão de Bolama, encetada em 1956 e interrompida em 1962 por razões do início dos focos independentistas, os padres foram afastados. De igual modo são descritas as missões de Brá, de Nhoma, de Safim, que foram profundamente afetadas pela guerra civil. Pelo adiante são descritas com mais pormenor as missões de Quinhamel e de Blom e, por último a Missão de Caboxanque, na região de Tombali.

A narrativa desnuda-nos a alma santa de Settimio Ferrazzetta, primeiro bispo da Guiné-Bissau, sacerdote da paz e do diálogo, prosélito e evangelizador, a ele, tanto como a Cumura, ficam associadas iniciativas como os seminaristas que mandou estudar filosofia e teologia no Senegal enquanto não se construiu o seminário diocesano em Bissau, depois a construção do seminário maior e casa de formação para aspirantes a irmãs guineenses. Morre imprevistamente mal tinha regressado à Guiné, em janeiro de 1999, deixou consternada toda a Guiné, fora, nesses tempos duríssimos da guerra civil uma figura eloquente da mediação e da tentativa da resolução pacífica da contenda entre Nino Vieira e a Junta Militar. A narrativa prossegue apresentando outros frades que acompanharam Settimio Ferrazzetta desde a primeira hora aquelas que já partiram deste mundo. É dado igualmente destaque à Ordem Franciscana Secular na Guiné-Bissau, aos muitos voluntários que dão a sua generosidade ao serviço dos guineenses, merece destaque Vittorio Romano Bicego, um antigo sargento do Corpo dos Alpinos, depois empregado nos lanifícios, que se dedicou de alma e coração à construção de missões em Tite, Ingoré e Bendanda e na região de Tombali criou uma propriedade agrícola modelo chamada “São Francisco da Floresta”.

Enfim, um documento acerca da exaltação do amor de vultos excecionais que têm doado a sua vida à Guiné.
Para que conste.
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13119: Notas de leitura (587): "Um Sorriso para a Democracia na Guiné-Bissau", por Onofre dos Santos (Mário Beja Santos)