1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo grã-tabanqueiro António Manuel Murta Cavaleiro, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), com data de 2 de Novembro de 2014:
António Manuel Murta Cavaleiro, abaixo devidamente identificado, vem mui respeitosamente junto dos Grã-Tabanqueiros abaixo designados, formalizar o seu
PEDIDO DE ADESÃO À TABANCA GRANDE
Camarada Luís Graça, Carlos Vinhal, demais editores, colaboradores permanentes, Tabanqueiros em geral: «Conheço-vos a todos! É como se tivesse vindo convosco no barco. Também eu sou um soldado como vocês!». (Dou um docinho a quem souber a autoria desta frase!).
Pois..., conheço-vos a todos de há uns anos a esta parte. Diariamente, procuro novas das vossas pessoas e das vossas histórias, dos vossos alegres convívios e, também, dos vossos infortúnios. Dei-me conta de que fico animado com as vossas alegrias mas, de igual modo, fico angustiado com os dramas que vos tocam ou aos vossos familiares mais queridos.
Porque “também sou um soldado como vocês”, ou seja, fazemos parte de um grupo com interesses e problemas comuns e algo nos irmana como um todo, pese embora todo o resto que nos possa diferenciar. Fazemos parte de uma geração que foi sujeita a uma colossal violência física e psicológica, para a qual não estávamos (todos) preparados, e que deixou marcas para sempre nas nossas vidas. Mais grave: ceifou milhares delas quando, ainda, começavam a desbrochar. Tudo isto é sabido, foi já dito e redito. Até já aconteceu a gerações anteriores. Mas agora trata-se da nossa geração, sofredora mas muito mais esclarecida e, também, com recursos (como os deste Blog), inimagináveis há uma dezena de anos, capazes de dar um contributo decisivo (histórico, informativo, formativo de consciências, etc.), para que a nossa sorte não se venha a repetir nas novas gerações.
Por tudo isto, achei que não podia continuar a furtar-me à vossa convivência. E não é justo que vos conheça a todos, tire partido da vossa experiência, sem me dar a conhecer e sem dar o meu contributo.
Era, pois, uma honra sentar-me convosco à sombra deste poilão magistral. Para tanto, já fiz seguir fotografia actual, (depois arranjarei outra), e uma do tempo da Guiné. Embora não pretendendo ser uma excepção quanto ao cumprimento dos requisitos para o ingresso, peço-vos, contudo, que aceitem que vos envie posteriormente uma história, reservando agora algum espaço para a minha apresentação e, a seguir, tecer algumas considerações.
Apresentação:
António Manuel Murta Cavaleiro
Ex-Alf. Mil. Minas e Armadilhas da
2.ª CCAÇ do BCAÇ 4513. Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973-74
Sou natural de Lemede – Cantanhede, onde ainda me ligam laços familiares, alguma nostalgia e pouco mais.
Vivi quase toda a minha infância em várias localidades do Norte e, já na adolescência, rumei ao Concelho e à cidade da Figueira da Foz, sempre colado à errância nómada da família: o meu pai era ferroviário.
Radicado aqui, na Praia da Claridade, iniciei os estudos secundários e, após estes, já na preparação académica para outros voos, vi a carreira interrompida para assentar praça, como os demais mancebos da minha idade.
Abrevio o que se seguiu porque a minha história aconteceu a toda a gente, com mais ou menos variantes.
Apresentei-me no RI 5 das Caldas da Rainha no dia 25 de Abril de 1972, (seria outro 25 de Abril a abreviar-me a tropa...), para frequentar o CSM.
Fui depois seleccionado para seguir para o COM, em Mafra, passei por Tancos para tirar o Curso de Minas e Armadilhas, dei uma formação de recrutas em Tomar e formámos aí o Batalhão de Caçadores que viria depois a ser destinado à Guiné.
Passei por Bolama para fazer o IAO da praxe e, finalmente, segui para Nhala para aí me fixar.
Julgava eu, pois, para meu desespero, os rumos foram vários.
Feita a apresentação, gostava de fazer algumas considerações.
Em conversa telefónica com o camarada Luís Graça, faz tempo, mostrei alguma relutância em vir a fazer parte da Tabanca Grande e expliquei porquê. Tinha assistido no Blog a algumas intervenções que me desagradaram, em questões que eu conhecia muito bem. Também me desagradavam algumas polémicas fúteis mas que, apesar disso, exaltavam os ânimos. Sei que muitos, devido a isso, preferem afastarem-se do Blog. Eu tenho resistido a entrar porque, realmente, já não estamos em idade de ter muita pachorra. Só por descuido, eu próprio, criarei uma polémica mas, se acontecer, em princípio, não a alimentarei.
Mas, reconheço que, aquando dessa conversa com o Luís Graça e até muito depois dela, tomei o particular pelo geral, o que, convenhamos, está longe de ser a realidade do Blog. Diria até que, num grande leque de temas trazidos à colação pelos diversos camaradas, os subscreveria sem hesitações. Outros temas há, mais raros, em que, não subscrevendo, passo normalmente por cima sem grandes engulhos. Tinha pensado referir um tema ou outro que, pelo seu melindre ou importância, me são mais caros e que vejo às vezes tão mal tratados no Blog, mas vou ignorar e passar à frente para não me alongar e arriscar ser mal compreendido.
1973 - Estado D'Alma
Sobre o meu contributo:
Vai ser modesto.
1º - Não sendo um intelectual, lido mal com a capacidade de síntese, o que, não deve ser nada bom para a saúde do Blog e dos editores;
2º - Das notas do meu irregular diário da Guiné, ainda não consegui transcrição decente até hoje, sem essas notas, tudo o que escrever de memória está sujeito a gafes. Há anos que pego “naquilo” e largo quase de seguida. Mais anos esteve “enterrado” juntamente com tudo o que dissesse respeito à guerra colonial: pus uma pedra em cima do assunto, tal como tantos outros camaradas que agora se expressam no Blog;
3º - A memória é o que vocês devem saber, não ajuda muito. Para piorar as coisas, há um período razoável da minha vivência em Nhala, registada em diário, que ficou lá, bem como todo o meu espólio, por ter vindo de férias à “Metrópole” em Agosto de 1974 e já não ter regressado;
4º - As minhas fotografias, no geral, não têm grande qualidade: quando fui para a Guiné nem máquina tinha. Usei uma emprestada por uma amiga, mas demasiado básica e pouco fiável. Nas primeiras férias comprei uma Olympus compacta e passei a fazer, quase sempre, slides. Digitalizados com um scâner normal, são uma triste amostra dos originais. Com muito deles optei por fotografar a projecção em suportes variáveis, com os inconvenientes que também isso acarreta.
Enfim, concluo reafirmando: só pode ser modesto o meu contributo. Mas não deixarei de, aos poucos, enviar as minhas fotografias que passarão a constituir espólio do Blog. Sempre que acharem utilidade na sua publicação, todos os restantes camaradas poderão dispor delas, salvaguardando apenas a referência autoral. Algumas não são da minha autoria e já não é possível saber as suas origens. Nesses casos farei uma nota anexa. Quanto a textos, enviarei algumas coisas por certo, ficando ao vosso critério a utilização ou não.
O Alf Mil António Murta, em primeiro plano sentado no capô da Berliet.
Foto: © António Murta (2014). Todos os direitos reservados.
A todos, sem excepção, rendo aqui as minhas homenagens. Fizeram, em conjunto, uma obra notável e em contínua renovação, a que não é alheio, repito, o empenho e a dedicação do camarada Luís Graça e do camarada Carlos Vinhal, com os seus mais próximos colaboradores.
Para ambos, um abraço muito especial.
Para todos os camaradas da Tabanca Grande, um fraternal abraço.
António Murta.
Figueira da Foz, 2014-11-01
2. Comentário do editor:
Caro camarada António Murta, muito bem-vindo a esta família de ex-combatentes da Guiné, e não só, que se reunem por aqui para falarem da sua experiência enquanto militares que tiveram a má experiência da guerra. A Guiné nos une já que fomos marcados por aquela minúscula parcela de África.
Costumo dizer que como em casa já ninguém pode com o cheiro a pólvora, ao menos entre nós trocamos impressões, relembramos situações, trocamos fotos e, às vezes, discutimos mais acaloradamente. Ma nada que não se resolva, felizmente.
Porque já navegas nesta tua página com um certo à-vontade, vou excusar-me de entrar em pormenores técnicos. No entanto, sempre que te surja alguma dúvida não hesites em ligar para nós.
Fazes uma apresentação muito pormenorizada e justificas algumas das tuas dúvidas quanto à tua participação, mas já que cá estás, escolhe um lugar confortável e, depois de nos conheceres um pouco melhor, vais ver que te atiras de corpo e alma à parte que te toca na feitura destas memórias escritas na primeira pessoa, por aqueles que a seu modo foram agentes activos.
Nós os dois temos em comum o início da nossa guerra no RI 5 das Caldas da Rainha, sendo que eu andei por lá 3 anos antes, e a pós-graduação em Minas em Armadilhas na EPE de Tancos, mais propriamente no desterro do Casal do Pote.
Queria pedir desculpa pelo tempo que mediou entre o envio da tua mensagem e a tua apresentação, atraso devido ao trabalho de bastidores que também faz parte da função de editor.
Fica aqui um abraço de boas-vindas da tertúlia, e dos editores Luís Graça, Magalhães Ribeiro e este escriba que se assina
Carlos Vinhal
____________
Nota do editor
Último poste da série de 29 de Outubro de 2014 >
Guiné 63/74 - P13819: Tabanca Grande (450): Jéssica Nascimento, neta do nosso camarada Luís Nascimento, nossa novel Grã-Tabanqueira 670