segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P13965: Conto breve (António Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513) (1): Pesadelo

1. Mensagem do nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), com data de 19 de Novembro de 2014:

Caríssimos camaradas Luís Graça e Carlos Vinhal.
Envio-vos em anexo duas imagens e um texto, em Word, que é uma estorinha tirada de um "filme" que me revisitou nos primeiros tempos após o regresso da Guiné.
Ficcionei, para me permitir omitir nomes, datas e detalhes. Por estas razões ou por falta de dados concretos, ou porque sejam irrelevantes, assim farei no futuro. Chamar-lhes-ei "contos breves". Tudo o resto serão crónicas, memórias, etc.
Deixo à vossa consideração a publicação ou não do texto anexo e o mais que aqui vai. Isto é válido para todas as situações futuras, não vale a pena estar sempre a mencioná-lo.
Caso optem pela publicação, gostava que fosse precedida por uma pequena homenagem ao único soldado falecido da minha Companhia.  

Era o Jerónimo de Freitas Martins e era do meu GComb. 

Morreu em Bissau em 29-01-1974, vítima de um acidente de viação quando aí se encontrava para tratar dos dentes, ou para consulta hospitalar, não recordo. Caiu de uma viatura quando integrava um piquete de recolha de lixo. Dele, junto uma fotografia que lhe fiz em pleno mato quando fotografei, um a um, todos os elementos do meu GComb. A mágoa que me deixou a sua morte foi maior por se tratar de um homem exemplar: corajoso (com ar tímido), humilde e bom. De uma simplicidade a roçar a timidez, estava sempre disponível com um sorriso no lábios. Nunca soube o que seguiu à sua morte. Tão pouco se veio para ser sepultado na sua terra natal. Hoje penalizo-me por não ter recolhido informações sobre ele naquela altura e, se o fiz, ficaram os meus escritos em Nhala, a onde não regressei após as minhas férias de Agosto de 1974. Certo é que nunca pude contactar os seus familiares e depois enterrei o assunto juntamente com todos os assuntos relativos à Guiné.
E agora é tarde de mais.


Da pág. 255 da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974 - 8.º Volume - Mortos em Campanha - Tomo II - Guiné - Livro 2:

Jerónimo Freitas Martins, Soldado Atirador da 2.ª Companhia do Batalhão de Caçadores n.º 4513/72
Unidade Mobilizadora: Regimento de Infantaria 15 de Tomar
Data do Falecimento: 29 de Janeiro de 1974 no HM de Bissau
Causa de Morte: Acidente de viação
Estado civil: Solteiro
Pai: Manuel Martins
Mãe: Josefa Freitas
Freguesia: Atães
Concelho: Guimarães
Local de Operações: Bissau
Local da Sepultura: Cemitério Paroquial de Atães

************

Conto breve

1 - Pesadelo

Caminhavam em fila-indiana há várias horas, por um carreiro muito apertado a cortar a mata cerrada. Há muito que se dissipara a frescura da manhã e o calor já se fazia sentir com alguma intensidade. A partir daí, não mais pararia de aumentar, tornando apreensivos os caminhantes, já ensopados mas ainda dando mostras de alguma desenvoltura. O mesmo não se passava com o alferes, muito trôpego e com o suor a pingar do queixo. O movimento das suas pernas tornara-se automático e bastava o tropeço numa raiz, para o desequilibrar e fazer dar largas passadas, projectado para a frente, quase a estatelar-se. A carga que o alferes levava também não ajudava, tal como aos demais, mas para uma operação de vários dias havia que acautelar uma logística a condizer.

Ia, pois, trôpego, pesadão e absorto, pois na sua cabeça ia um turbilhão. Desde o início questionara-se sobre a utilidade daquela operação de tropa macaca, com uma Companhia reforçada de vários grupos de combate de outras unidades, fora a quantidade de carregadores nativos. Apeados, denunciariam a sua presença assim que saíssem da orla da mata. Estendiam-se por centenas de metros, e mais metros teriam quando guardassem maiores distâncias entre si, logo que entrassem em campo aberto. Mesmo dentro da mata, que aconteceria se a cabeça da coluna caísse numa emboscada? Ou fossem atacados os da cauda? Que apoio teriam dos restantes camaradas? Achava que era uma operação condenada ao fracasso.

Mas, então, não era assim em todas as deslocações? – Perguntaram-lhe. Não! Aqui estão demasiadas pessoas a movimentarem-se em pleno território inimigo, que controlam à vontade e que fazem pagar caro qualquer intromissão, como já acontecera no passado. Nem os postos avançados vamos conseguir ultrapassar! Então deixam-se à vontade e permite-se-lhes que continuem, a partir do centro daquele território, a reabastecer as suas bases, a infiltrarem-se nas imediações dos nossos aquartelamentos, a cortarem-nos as vias de comunicação, a emboscarem-nos, sei lá... Não!!!, porra! – Interrompia o alferes – nós não vamos fazer um golpe de mão a uma casa de mato, nós vamos fazer um assalto a um santuário inimigo no coração do seu território, onde já repeliram as nossas tropas especiais..., que haviam sido lançadas de surpresa sobre as suas cabeças!... Ou não foi por o caso ser sério que deixaram passar estes anos todos desde então? Até se lembrarem agora de novo assalto, nesta operação ridícula e que seria trágico-cómica não fossem as consequências para centenas de pessoas.

O alferes deu por si a falar alto, meio descontrolado, quando lhe deram duas palmadas nas costas: era um dos furriéis do seu pelotão a fazer-lhe sinal para se calar e não perder de vista o homem da frente que já tinha sumido. Por breves instantes acompanhou-o lado a lado e perguntou-lhe se estava tudo bem com ele, ao que o alferes respondeu com um olhar vago, meio surpreendido. De volta à realidade, teve ganas de abrir o cinturão, largar a carga, deitar fora a G3 e embrenhar-se na mata sem destino. Mas não teve coragem. Caralho! – disse para consigo – até para ser cobarde é preciso ter coragem!...

Acelerou o passo com dificuldade, todo suado. O batimento cardíaco a demorar o ritmo normal, parecia retornar de um sonho mau. Um sonho dentro de um sonho? A festa ainda não tinha começado e já receava não aguentar. Bebeu dois goles de água quente do cantil e fez uma careta olhando o relógio. Perdera a noção do tempo, caramba! Porque não paramos para descansar um pouco? – Pensou. Fazia tensão de vir atrás falar com o capitão, quando se apercebeu, pela claridade à sua frente, que se aproximavam da orla da mata. Prosseguiu. No carreiro à sua frente, em zigue-zague, não conseguia vislumbrar em simultâneo mais de dois ou três dos soldados do seu pelotão. Pela sua posição no grupo, calculou que os três primeiros estariam a chegar à clareira, por onde o pelotão da frente já devia progredir. Era uma clareira traiçoeira, que ele conhecia bem. Nos seus patrulhamentos de rotina, apenas com o seu pelotão, era a fronteira para além da qual, nem morto... O terreno era bastante plano, não muito largo mas muito comprido, acompanhando um riacho, às vezes seco, mais próximo da orla da mata em frente. Ao sair da mata, sabia, tinha no máximo cem metros até ao riacho, que se apresentava atravessado na sua frente. Para ultrapassá-lo havia um tosco pontão de madeira com três tábuas largas a fazer de tabuleiro. Bastava arrancá-las e atirá-las para a água e estava feita uma armadilha para quem já estivesse do outro lado.

Acelerou o passo logo parando, para dar passagem a uma coluna de carregadores cujos passos restolharam atrás de si. Deduziu que foram mandados para a orla da mata com os cunhetes de munições, tubos dos morteiros de 81 mm e respectivos assessórios, grandes garrafões de água e até macas. Percebeu as intenções e aguardou a passagem do furriel para o incumbir de levar para a orla da mata a secção do morteiro e a da bazuca. Agarrou para junto de si o 1.º cabo das transmissões e fez sinal ao outro furriel, que já se aproximava, para fazer passar adiante todo o pessoal com as granadas. Começou de novo a andar e disse ao cabo do rádio para ligar ao capitão da sua companhia.

Ia o cabo a começar a falar e, de repente, rebenta lá na frente um foguetório de pôr os cabelos em pé, com rajadas prolongadas e cruzadas, rebentamentos de granadas um pouco por todo o lado, mesmo até ao lugar em se encontrava. Passados os instantes de surpresa e arrepio, deu uma corrida na direcção da orla da mata e ficou encostado a uma árvore de pequeno porte, meio curvado, tentando avaliar a situação. Na base da árvore, um dos seus furriéis estava agachado e parecia calmo. Atrás de si, e ao logo do carreiro dentro da mata, o pessoal era pouco visível, e aguardavam protegidos. Movimentando-se curvados, passaram por si o capitão e alguns alferes, na direcção da saída da mata. Lá na frente, não dava sinais de abrandar a contenda, ouviam-se berros, palavrões e insultos. A metralha estava no auge. O alferes continuava de pé, apreensivo, mas o furriel fazia-lhe sinal que os homens do pelotão, mais à frente, estavam em segurança (?) junto à orla da mata a fazer fogo de morteiro. Os rebentamentos dentro da mata, atrás de si, começaram a rarear mas, à sua frente na mata do lado de lá da clareira e do riacho, parecia até que aumentava. Mas estava lá o pelotão que tinha avançado à frente e, agora, tinha a sensação que os disparos se deslocavam muito para a direita. Talvez estivessem já a debandar esses turras do caralho! – pensou. Ponderou então ir a corta-mato pela direita até à orla e ver das condições aí para instalar o morteiro e, quem sabe, com o resto do pessoal, esboçar um envolvimento...

 Clicar na imagem para ampliar

Mas, num ápice, uma rajada cortou as folhas que lhe roçavam a cabeça, num ramo baixo. Precipitou-se, com toda a sua carga, sobre o furriel na base da árvore. Este, com um lamento de dor, empurrou-o à bruta para o lado. Ainda atónito, incrédulo, numa fracção de segundo, perpassou-lhe o espírito, uma certeza: fora alvejado. Não foi para assustar, foi para matar! A ele, à sua pessoa! Outros que ele não conhecia, a quem nunca fizera mal, podiam tê-lo matado... Já tinha estado várias vezes debaixo de fogo, mas fora diferente. Eram ataques ao colectivo, não à sua pessoa em particular. Nunca tinha sentido isto com tanta crueza: jamais se sentira tão vulnerável. De repente, atrás de si, ouve um tiro de G3. Nem teve tempo de se voltar, porque à sua esquerda, a dois metros, um jovem carregador nativo, quase uma criança, começou a berrar com a mão direita a segurar o pulso da outra mão, vazada de um lado ao outro. Então, cresceu-lhe uma raiva cavernosa nas entranhas, a subir até à garganta. Num impulso decidido, o alferes pôs-se de pé como uma mola e, temerário e meio louco, desatou a correr para fora da mata a urrar a plenos pulmões enquanto fazia rajadas para a direita da mata em frente. Corria, clareira fora, em direcção ao riacho e ao pontão. Mas não chegou lá. Estava a ser alvejado com rajadas que, bem via, faziam fiadas de impactos na terra à sua volta, obrigando-o a correr para a protecção de um tronco de velha árvore caída no chão. Lá na frente, onde jamais chegaria, entre palavrões, ouviu berrar «estão em cima das árvores!». Ainda aí estão, os cabrões!

Abrigado, a cara perto do chão, desapertou o cinturão e pôs todo o material do seu lado esquerdo, a arma do outro lado. Sentiu alguma estranheza por não ter notado alívio na cintura. Também lhe tinha parecido que não sentira as pernas na corrida para ali chegar. Ficara-lhe uma sensação estranha de ter vogado, talvez só a alma..., talvez que o corpo o não tivesse acompanhado, ainda estivesse caído em cima do furriel... Certo é que começou a ouvir tudo muito vago, difuso, longínquo, como se estivesse submerso... Continuava a ver, aqui e ali, colunas de fumo que logo desapareciam mas mal ouvia as detonações. Mas também a visão começava a ficar turva, quase só via ténues sombras na claridade ofuscante. Confuso e prostrado pela astenia, a ouvir mal, quase não se dava conta de um ronronar vindo dos céus. Fez um esforço e, pesadão, ergueu a cabeça para cima. Mal definido na névoa luminosa e com o ronco cada vez mais próximo, viu uma sombra que lhe pareceu um Fiat ou outro avião qualquer. «Haja Deus!», pensou. Deixou-se cair, para logo se soerguer e tentar confirmar a “salvação”, elevando com muito esforço a cabeça acima do tronco. O avião picava directo ao solo, lá muito para a direita, ao fundo, mas descrevendo um arco na sua direcção. Conseguiu distinguir a largada de duas bombas e, num arco ascendente, o avião passou sobre si e perdeu-se nos céus. Logo viu a coluna de fumo do primeiro impacto dentro da mata, mais longe do que supusera. Teve a sensação de que, até muito longe, toda a mata fora soprada. Até o tronco que o abrigava, pareceu-lhe, rolou contra o seu corpo. Mas..., faltava uma deflagração! Ou não eram duas bombas? Ou teria a segunda bomba sido travada no riacho?

Com um esforço tremendo espreitou de novo sobre o tronco e não queria acreditar no que viam (viam?) os seus olhos. Porque a impressão que teve, mesmo difusa, era que a bomba deslizava no chão, silenciosa, na sua direcção. Abriu muito os olhos. Sim, está cada vez mais próxima, parece um grande bidão com focinho de bomba. E não se ouvia qualquer ruído, embora, é certo, se percebam projecções laterais de terra e pequenas pedras à sua passagem... Pensou, confusamente, que talvez fosse o mundo que estivesse a acabar e, por instantes, sentiu uma coisa gelada percorrê-lo todo por dentro. Ainda olhou para trás, para a mata de onde viera, mas já só viu luz e sombras esbatidas. Tudo a preto e branco. Espreitou de novo para a frente e viu, com espanto e pânico, que uma sombra negra, já sem contornos definidos, acabava de se encostar ao outro lado do tronco.

Num reflexo frouxo, meio apagado, encostou a cara ao chão. Os braços abertos, uma crispação de dedos cravados na terra, um calhau na garganta contra o qual batia, desordenado, o coração prestes a rebentar. E esperou... Mas não aconteceu nada. De súbito, trum!-trum!-trum! Deu um salto e ficou sentado na cama, ofegante, comprimindo os ouvidos com as mãos. De olhos muito abertos olhou em redor, na penumbra, mas de imediato não percebeu onde estava. Percebeu, sim, que estava todo suado e com dificuldade em respirar. Tentava normalizar a respiração quando, estremecendo, ouviu de novo: trum!-trum!-trum! Deu um salto da cama, abriu com violência as portadas de madeira da janela que dava para o quintal, nas traseiras, e berrou:
- Mãe!!!!!! Quantas vezes já te pedi para não me acordares a bater nos vidros da janela?!!!
- São que horas! Anda almoçar!

************

Ao jeito de posfácio: o que sucedeu termina ali mesmo naquele anterior ponto de exclamação. Mas, cuidando o narrador que, nesse ponto, ficou algo suspenso, incomodamente descontinuado, ainda adianta que o nosso alferes, a tiritar e em grande desconsolo, ainda fez tensão de se meter de novo nos lençóis, mandando às urtigas o dispensável almoço de fim de tarde, mas, apercebendo-se de que a cama estava um pântano gelado, deixou-se cair de bruços sobre ela e, dando murros desesperados, lançou um cavernoso e potentíssimo urro, como surgido das profundezas das trevas, a encorajá-lo a entrar de novo naquela clareira de luz e de morte. Mas não. Apenas o fez entrar na realidade.

António Murta

Guiné 63/74 - P13964: Agenda cultural (362): Apresentação do livro "Os caminhos de Gadamael Porto - Guiné, 1970/72", da autoria do nosso camarada Manuel da Silva Fernandes, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 2796 - Gaviões de Gadamael, dia 7 de Dezembro de 2014, pelas 15h00, no edifício sede da Junta de Freguesia de Arcozelo, Ponte de Lima


Do nosso camarada Manuel da Silva Fernandes recebemos a seguinte mensagem datada de 22 de Novembro passado:

Por motivos de ordem pessoal, alguns deles já dissecados nas curtas conversas através do P9994(1) e P10689(2), o livro em tópico será apresentado em Ponte de Lima (Arcozelo) no dia 7 de Dezembro, às 15H00, no edifício da sede da Junta da vila de Arcozelo. 

Há diligências para que o mesmo desiderato ocorra na “Casa do Concelho de Ponte de Lima” em Lisboa em data ainda não calendarizada, vicissitude que em devido tempo farei chegar ao conhecimento de todos. 

Um abraço 
Manuel da Silva Fernandes 
Ex. Operador Cripto
____________

Notas do editor:

(1) Vd poste de 4 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9994: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte VII: Despedida de Bedanda, a caminho de Gadamael e Guileje, aos 18 meses

Comentário de Manuel da Silva Fernandes:

CARO VASCO PIRES:
Tenho acompanhado a dinâmica do "Blog" e, natutalmente, estou ao corrente da vida de tanta gente que pisou as terras de Gadamael-Porto. Evitei até agora qualquer participação na "Tabanca" para fugir à tentação de comentar alguns disparates que foram ditos nas disserções entre o senhor "Coronel" Morais e Silva e o "Alferes" Amaral Bernardo. Aparentemente está tudo sanado, para sossego das nossas consciências - CCAÇ.IND.2796 «Os Gaviões de Gadamael», Pelotão de Art.ª 23.º e Pelotão de Reconhecimento Fox 2260 -.
Sobre a vida de Gadamael-Porto e Quinhamel (onde este assunto também é tratado)- apresentarei em Dezembro, em Ponte de Lima, o livro "Os Caminhos de Gadamael-Porto" em memória dos meus camaradas que cairam na frente da guerra e dos que já partiram depois da aurora de Abril. Para além da solidariedade e respeito para com todos aqueles que de forma desinteressada têm permitido dar voz aos mais humildes, expresso aqui a minha enorme admiração por quem abraçou tão grande projecto.
Ao Vasco o meu abraço por sabermos que ainda vai andando por aí; já houve uma ou duas oportunidades em que os homens da CCAÇ.2796 partilharam essas emoções com as tropas de artilharia e Fox.
Ex - 1.º Cabo Operador Cripto 
Silva Fernandes da CCAÇ. IND. 2796.
31 de Outubro de 2012 às 19:18

(2) - Vd. poste de 18 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10689: Em busca de ... (208): Vasco Pires, ex-comandante do 23º Pel Art pede a Manuel da Silva Fernandes, ex-1º cabo cripto da CCAÇ 2796, contactos dos seus antigos furrieis, que estiveram com ele em Gadamael (1970/72)

Comentário de Manuel Fernandes:

Em data oportuna respondi à pertensão do Vasco Pires. Ao que parece o "email" titulado pelo "Luís Graça" não entrou. 
Por motivos de indole profissional e alguma debilidade física não estive disponível durante este tempo todo pelo que me penitencio pela ausência e - há razão para isso -, pela deslealdade com alguém que nos é próximo. Continuo muito empenhado em satisfazer as expectativas do Vasco, quer através da "Tabanca" quer directamente. 
Um abraço 
Manuel Fernandes 
(Op.Cripto Ccaç. Ind. 2796 - Gaviões de Gadamael). 
Um abraço. 
4 de Abril de 2014 às 21:00

Último poste da série de 27 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13951: Agenda cultural (365): Dia 29 do corrente, sábado, 15h30, na Biblioteca Municipal de Oeiras: sessão de apresentação (e debate): "Militares e Política: o 25 de abril", livro de Luísa Tiago de Oliveira (ed. lit)

Guiné 63/74 - P13963: Recordações de uma ida à Feira da Ladra: 15 de Novembro (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Novembro de 2014:

Queridos amigos,
As andanças num mercado de tralha deixam sempre o doce travo de que quando não há acasos felizes naquele dia fica-se com a secreta esperança de agradáveis imprevistos para a viagem seguinte.
Recolher umas fotos, examinar um mapa de 1960 longe da verdade do espaço e dos lugares, ter acesso à dimensão epistolar íntima daquele que, depois de Amílcar Cabral, terá sido a cabeça melhor organizada dos lutadores do nacionalismo nas colónias portuguesas, é uma gratificação impagável, é dimensão luminosa que acompanha estas buscas, tão mais grato quanto se pode comunicar dentro do nosso blogue.

Um abraço do
Mário


Recordações de uma ida à Feira da Ladra: 15 de Novembro (2)

Beja Santos

Falemos um pouco deste ideólogo e filósofo angolano que deixou uma impressionável obra dispersa e de incalculável valor. Por exemplo, foi responsável pela redação das Atas do Simpósio Internacional dedicado à atualidade do pensamento de Amílcar Cabral; responsável pela Antologia da Poesia Africana de Expressão Portuguesa, para a coleção da UNESCO. Está editado em português, caso de A guerra do povo na Guiné-Bissau, Sá da Costa Editora, Lisboa, 1974. Editou a obra de Amílcar Cabral na Seara Nova, a seguir ao 25 de Abril. É um importante ideólogo da negritude e foi seguramente um intelectual africano que mais tempo e mais perto conviveu com Amílcar Cabral, designadamente em Conacri. A filha mais velha dedica-lhe uma escolha de correspondência que trocou com o grande amor da sua vida, Sarah Maldoror e com a sua filha Henda, aqui revela a sua ternura, o amor às filhas, a luta, o exílio e a solidão.

Vejamos a sua correspondência de Bissau, estamos em Janeiro de 1978: Sarah, o novo ano não pronuncia para mim bons auspícios. Sinto-me submerso num oceano de solidão e tristeza. Por um lado, se o meu estado de saúde me deixa inquieto, por outro não alcanço a mínima satisfação no desempenho do meu trabalho quotidiano. Tinha-me dedicado à tarefa que me havia sido confiada no quadro da preparação do Congresso (do PAIGC), tarefa gigantesca. Em seguida, após a sua conclusão, instalou-se uma grande lassidão que me arrastou para o abismo do desânimo. E dois meses mais tarde: Sarah, meu Amor, continuo triste e solitário, depois de me teres deixado repentinamente. É necessário que eu ultrapasse este problema de solidão afetiva que me avassala. Em Julho, escreve à sua filha mais velha: Henda, minha muito querida filha, Na véspera do teu aniversário, os meus pensamentos mais profundos voam para ti. Gostaria de partilhar o belo dia de amanhã contigo e de te rodear de todo o meu afeto. Todavia, mantenho a esperança de festejar em breve os teus catorze anos com a Mamã e a Annouchka, juntos em Bissau. Em Agosto de 1980 escreve a Henda, que está em Paris: Saber-te feliz enche-me de alegria. Não te deixes porém deslumbrar pelas luzes do capitalismo, o acesso fácil ao consumo, etc. Abre também os teus olhos críticos sobre as realidades sociais. És suficientemente crescida, adulta e responsável para avaliar com serenidade o mundo que te rodeia.

Em 1983, em Maio, escreve a Henda a partir de Lisboa: Minha filha, Não deixei de pensar em ti desde a minha chegada a esta cidade, a pequena casa lusitana. A vida é um longo processo de conquista de objetivos que devemos impor a nós mesmos. Se admitires este princípio terás de exercer um verdadeiro e constante controlo sobre ti, um confronto permanente entre a realidade e a perspetiva que se desenha no horizonte. Em termos concretos, parece-me que devias escolher melhor os objetivos que pretendes realizar.

Os últimos anos de vida de Mário Pinto de Andrade decorrem sob o signo da doença. Em 1984 escreve de Lisboa a Henda dizendo que está na Biblioteca Nacional a descobrir elementos importantes para a redação da sua obra “O discurso da libertação nacional”. No ano seguinte escreve de São Tomé e diz à filha: dedico-me à minha pesquisa que constitui o centro da minha atividade intelectual: a história da emergência e do desenvolvimento das ideias nacionalistas nos cinco países africanos (antigas colónias portuguesas). Em Janeiro de 1988, escreve da Praia, sente-se que está irrequieto quando diz a Henda: O meu maior desejo, no limiar deste novo ano, traduz-se na materialização da intenção de retomar o contacto contigo, de te ver e te escutar longamente: bem-entendido dialogar sobre a vida e os projetos para um futuro imediato. Confesso que a minha consciência não está tranquila. Tenho como que uma certa impressão de te ter perdido um pouco, à margem do meu horizonte. Podes crer que estás intimamente presente em cada instante da minha existência. Mas faço por corresponder (e de manifesta a consciência do lugar que o meu espírito e o meu coração te reservam). A vida caminha para o fim, e em Agosto de 1989 escreve à filha em Maputo: O tempo é demasiado curto para realizar os projetos que tracei: escrever a história dos discursos nacionalistas e dedicar-me à redação das memórias de uma geração, traçando o meu percurso pessoal. Mas evito essa tentação. Morre em Agosto de 2009 aquele que, segundo Sarah Maldoror escreveu “não queria culturas de empréstimo, mas sim um intercâmbio na reciprocidade de conhecimentos. Se no início o combate foi desigual, a sua coragem foi grande, já que tinha para consigo a abnegação e o orgulho da reconquista da liberdade”.


Eis o produto de uma vinda à Feira da Ladra, uma agradável safra, encontrei pepitas guineenses e colaterais.
E fiquei enternecido com este Mário Pinto de Andrade na intimidade.
Ponto final.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 28 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13954: Recordações de uma ida à Feira da Ladra: 15 de Novembro (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13962: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXVII: Boas vindas à equipa da RTP que foi gravar as mensagens do Natal de 1969: Benvindos!... Jamgarte!... Welcome!... (José Luís Sousa, ex-fur mil, 1º Pelotão)






1. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (*)

Hoje a história vem na página 90, e é  contada pelo ex-fur mil José Luís Simões (também do 1º pelotão):  tem por título "o especialista"... Mais um exemplo  do nosso sentido de humor, posto à prova nas condições adversas em que se desenrolaram as nossas "comissões de serviço" no TO da Guiné...  ( LG)
___________________

Nota do editor:

Último poste da série > 14 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13893: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXVI: O finório e o 1º sargento (José Luís Sousa, ex-fur mil, 1º pelotão)

Guiné 63/74 - P13961: Parabéns a você (822): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil CAV, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Guiné, 1969/71)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 26 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13943: Parabéns a você (821): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art da CART 2412 (Guiné, 1968/70) e Manuel Lima Santos, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3476 (Guiné, 1971/73)

domingo, 30 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13960: Agenda cultural (367): Apresentação, pela escritora Helena Matos, do livro "Estudos Gerais Universitários de Angola. 50 anos: história e memórias" (Autores Vários; Lisboa, Colibri, 2104; prefácio de Adriano Moreira)

Título: Estudos Gerais Universitários de Angola. 50 anos: História e Memórias

Autoria: AAVV
Temas: História, Sociologia, Lusofonia, Memórias
Editora: Colibri
Local: Lisboa
Ano: 2014
Capa: mole
Tipo: Livro
N. páginas: 376
Formato: 23x16
ISBN: 978-989-689-441-2
Preço: 30,00 € 

Sinopse:

A criação dos Estudos Gerais Universitários de Angola e, também, na mesma data, de Moçambique foi antecedida de uma grande batalha e, por isso, acompanhada de um erro e de um compromisso. O erro traduziu-se no título das instituições, chamadas Estudos Gerais com o intuito de ficar afirmado que tinham a mesma intenção, dignidade e responsabilidade das mesmas instituições ocidentais usadas na Europa havia séculos. 

O compromisso teve origem na necessidade de ultrapassar as resistências, desactualizadas nos tempos e nas convicções de muitos, de que era necessário continuar a exigir e manter o ensino superior na metrópole como instrumento para assegurar a unidade prevista na Constituição de 1933. 

Neste caso tratou-se de um conflito de experiência e de concepção. Quanto à concepção, a ideia de unidade de Portugal nasceu da visão, confirmada por factos históricos, como a Restauração de 1640, de que os portugueses, emigrados pelas cinco partidas do mundo, e os descendentes manteriam essa comunidade, em primeiro lugar de afectos e, depois, de solidariedade e interdependência, que se chama Nação. 

Uma concepção que seria alargada, com expressão viva no Comandante João Belo, na esperança da assimilação que viesse a unir europeus e gentes das terras. Uma concepção ideológica contraditória com o próprio ensino universitário da época, provavelmente inspirado nas independências do continente americano, e que usava o exemplo de os filhos se separarem dos pais, o que estava em contradição evidente com a interpretação constitucional. Mas era mais relacionada com a convicção da preservação da unidade imperial o engano de que tal objectivo da unidade era melhor servido pela manutenção na metrópole do exclusivo ensino superior que, apenas, tinha excepção na Escola Médica do Estado da Índia, cujos diplomas não eram reconhecidos suficientes na metrópole. 

[do prefácio de Adriano Moreira] 

Fonte: Edições Colibri


Vídeo (14' 51''). Luís Graça (2014). Alojado em You Tube > Nhabijoes

A escritora Helena Matos, no lançamento do livro "Estudos Gerais Universitários de Angola: 50 anos, história e memórias"  (Lisboa: Edições Colibri, 2014)

Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 27/11/2014, 18h00 > Ao centro, a engª agrª Marília de Sousa, que coordenou a edição literária, e, à sua direita, o representante da editora. Mão de Ferro.




Vídeo (3' 36''). Vídeo de Luís Graça (2014). Alojado em You Tube > Nhabijoes

A jornalista Helena Matos, no uso da palavra (continuação) 




Vídeo (10' 26''). Vídeo de Luís Graça (2014). Alojado em You Tube > Nhabijoes


 Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkina > 27/11/2014, 18h > Sessão de  lançamento do livro "Estudos Gerais Universitários de Angola: 50 anos, história e memórias"  (Lisboa: Edições Colibri, 2014)

Ao centro, a minha amiga e amiga da Maria Alice Carneiro, engª agrª Marília de Sousa, que coordenou a equipa de  edição literária (6 pessoas); à  sua direita, o representante da editora, Mão de Ferro;  à esquerda , a  analista política e escritora Helena Matos, que apresentou a obra.

Helena Matos, nascida em 1961, é autora de, entre outras obras, Salazar em dois volumes (Lisboa, Temas e Debates, 2010), e Os Filhos do Zip Zip (Lisboa, A Esfera dos Livros, 2013).  Foi professora do ensino secundário. Trabalhou em seguida como jornalista.  Mais recentemente foi consultora histórica das séries Conta-me Como Foi (RTP) e Depois do Adeus (RTP). Faz ou fez comentário no Diário Económico,  na Antena 1, no Público  e no Observador.

________________

sábado, 29 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13959: (Ex)citações (255): A minha aventura (e da minha mulher, grávida) a bordo da BOR, numa viagem atribulada entre Bolama e Bissau (Rui Santos, ex-alf mil inf, 4ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65)

A. Mensagem enviada ao fimd a tarde, pelo correio interno, a toda a Tabanca Grande:

Camaradas:

1. Desculpem importunar o vosso descanso de fim de semana, que deveria ser sagrado para um guerreiro... Mas esta nossa partilha de menórias não tem dia(s) nem hora(s)...E é sempre mutuamente vantajosa...

2. Há dias mandei-vos uma "charada": que raio de inscrição era aquela no cano do mais puro aço Krupp no obus 10.5 de Mansambo, 19678, onde o nosso camarada Torcato Mendonça pousou (descansou) o braço direito e posou para a eternidade, qual Napoleão, mostrando o relógio Rolls Royce Breitling de duas mila patadas, no pulso do braço direito ?... A inscrição dizia Magul 1895 [, vd. foto acima]...

Foi preciso um "brazuca", ex-artilheiro de Gadamael, o Vasco Pires, mandar, do outro lado do Atlântico, a contra-senha: Magul (8/9/1895)... foi a célebre batalha que precedeu, em 3 meses, a de Chaimite (28/12/1895), em Moçambique, quando Gungunhana, rei de Gaza, e aliado dos ingleses, é aprisionado por Mouzinho de Albuquerque... Bolas, a escolinha foi há mais de meio século!... Alguém se lembraria de Magul!...

3. O exercício deste fim de semana não é menos desafiante: a BOR, já ouviram, falar? Alguns de nós andaram nela (ou nete)... Era um pachorrento ferryboat capaz de levar a carga de uma LDG... Spínola "passeou" nele(a) no Rio Corubal, em 17/3/1969... O Torcato, o Ismael e outra malta do leste andou na BOR...Eu não tenho ideia, e como não tenho a certeza não ponho no meu currículo... Andei no Bubaque, mas na BOR não me lembro...

O nosso camarada e hoje embaixaxdor de Cabo Verde em Itália, Manuel Amante da Rosa, descreve-a nestes termos

(...) "Quanto ao BOR, como os outros, também era do Comando da Defesa Marítima. Era o que se chamava um ferryboat, para transporte de viaturas, cargas a granel, passageiros, gado e tudo o mais que houvesse, incluindo a guarnição de várias unidades militares a nível de companhias e seus apetrechos e viaturas. Tinha dois potentes e ruidosos motores, um a bombordo e outro a estibordo, que lhe permitia grande capacidade de manobra e calava pouco. Mas era lento de exasperar e desconfortável. O sol era abrasador para quem não estivesse abrigado. Levava facilmente mais de 400 passageiros e cargas.Era seguro e muito utilizado para o transporte das guarnições militares". (...)

4. Não acreditam, mas nós que já publicámos cerca de 30 mil fotos no nosso blogue, não temos uma foto da BOR!... Temos tropa na BOR, na viagem de regresso de Bambadinca a Bissau, mas não temos uma foto de corpo inteiro desta valente embarcação que fez a guerra e a paz....A foto que anexo é do Fernando Cachoupo, a quem saúdo, bato pala e tiro o quico!...

Camaradas, vasculhem osvossos álbuns e baus, mas por favor mandem-me uma foto da mítica BOR!...

Um alfabravo de camarada para camarada, de amigo para amigo. Luís Graça


B. Resposta pronta do nosso veteraníssimo Rui Santos [ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65]



Ainda há poucos dias contei, não sei onde, a minha história a bordo do Bor, minha e de minha mulher que estava pançuda e o médico disse que não devíamos ir de avião... Então vai disto ... Bor,  "bamo bora" e lá vai um jovem casal,  sentados em rolos de cabos grossos, quando começa uma tempestade daquelas que todos conhecem, os que estiveram pisando o solo da Guiné, quase à saida do Canal de Bolama...

À passagem defronte da Ilha das Cobras começa o motor a... puff, puiuff e puift mêmo,  já perto do Geba, chuva na chube noss alfer ...

Pois... e eu à rasca por causa da minha mulher que nem lhe via a cor branca da face, mas aguentou estoicamente, fui falar ao "Comandante" mas pouco, e ninguém conseguía pôr a nau Catrineta a funcionar, e eu a ver os canais do Geba e a ver duas coisas ou ficamos aqui nos baixios ou vamos a caminho do Atlântico, sem rádios sem comunicação com terra ... zero!

Não sei o que se passou...  De repente ouço os motores trabalhando e os "mecânicos" rindo,  cantando e dançando, fui para o pé da minha mulher e, passado uma hora, para mais  não para menos, eis-nos chegando ao Pidjiguiti (se não for assim, é parecido) onde estava o Capitão João Nogueira e a esposa esperando e muito apreensivos.

A aventura do Bor...


Boa noite, Rui Santos


C. E a propósito, cumpre-me lembrar e reproduzir  aqui uma outra mensagem recente,  do nosso camarada e grã-tabanqueiro de longa data, e que queremos partilhar com o resto da Tabanca Grande:


Eu, Rui Gonçalves dos Santos, alferes miliciano 
de 1963 a 1965,  prestei serviço no CTIGuiné, em rendição individual, no sudoeste desse território, Bedanda (4ª CCaç) e Bolama (CIM), passando também em Fulacunda  por uns dias, por actos praticados em cumprimento do meu dever, galadoaram-me com a Medalha de Mérito Militar de 3ª classe.

Fui ... um militar de infantaria ... das operações banais .... Hoje, 13 de Novembro de 2014,  pelas 15 horas e 30 , em Chelas, numa cerimónia singela,  a meu pedido, um sr major e um sargento ajudante colocaram-me fora do peito o que tenho e sinto com muita honra dentro dele ... Obrigado!

As fotos do acto registado por meus filhos, que foram comigo testemunhar e apoiar-me na respectiva sessão da condecoração.

_____________________

Nota do editor:

Último poste da série > 29 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13958:(Ex)citações (254): quando Spínola viajou, com mais 300 homens, na BOR, em 17/3/1969, no decurso da Op Lança Afiada, em pleno Rio Corubal, da Ponta Luís Dias à Ponta do Inglês

Guiné 63/74 - P13958:(Ex)citações (254): quando Spínola viajou, com mais 300 homens, na BOR, em 17/3/1969, no decurso da Op Lança Afiada, em pleno Rio Corubal, da Ponta Luís Dias à Ponta do Inglês

  
Guiné > Rio Geba > Barco BOR > 2/5/1967 > " (...) No dia dois de maio [de 1967], a seguir ao almoço formar e seguir para as viaturas, carregar as lembranças nas respectivas viaturas destinadas a cada Pelotão e seguir para Bambadinca onde nos esperava o barco, a BOR,  que nos transportava no rio Geba até Bissau onde nos esperava o barco Uíge" (...).

[Cortesia de Fernando Chapouto, ex-fur mil op esp, CCAÇ 1426, Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, 1965/67 >  Cantinho do Fernando > As minhas mnemnórias da Guiné 65/67]

Foto: © Fernando Chapouto  (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



1. A propósito da BOR, a embarcação civil que era utilizada em 1968/69 no transporte de tropas, com ums pequena escolta de fuzileiros (*):


Excerto do relatório da Op Lança Afiada (**):


Dia D + 9 (17 de Março de 1969)

O PCV com o comandante do Agrupamento Táctico Norte sobrevoou os Dest A, B e C cerca das 07H00, verificando que estavam no local que a carta indica como sendo o “Porto” de Ponta Luís Dias. Não conseguiu entrar em contacto rádio com a FN [ Força Naval] , apesar desta força ter indicativo e frequência marcados no Anexo de Transmissões da OOP.

O PCV regressou depois a Bambadinca para se reabastecer. Cerca das 09H20 chegou a Bambadinca o heli de Sua Excia o Comandante-Chefe que deixara Sua Excia junto dos Dest A, B e C.

Aparentemente o embarque não podia ser feito onde as NT se encontravam pois via-se uma grande língua de areia. O heli levantou para escolher um local onde a língua de areia fosse mais estreita, o que ocorreu cerca de 1,5 quilómetros a Norte.

Quando a maré subiu, verificou-se que a água cobria toda a língua de areia e que as LDM [lanças de desembarque médias ] e a BOR [, embarcação civil,] podiam ter abicado no local onde as NT se encontravam inicialmente. O esforço que a estas foi exigido de caminhar quilómetro e meio pelo lodo podia ter sido poupado se a bordo do PCV tivesse ido um oficial de marinha.

Foi nessa altura que Sua Excia o Comandante-Chefe informou que, por uma questão de marés, as NT não seriam transportadas ao Xime como ficara combinado na véspera mas sim apenas a Ponta do Inglês  [, na Foz do Corubal, margem direita]. A CART 1743, no entanto, seguiria para Bissau. Os Dest A e B, desembarcados em Ponta do Inglês, seguiriam depois a pé para o Xime, o que aconteceu.

A avaria de uma das LDM obrigou a outra a ficar-lhe ao pé e levou a BOR a transportar 300, isto é, mais do que a sua lotação permite. Como o heli do COMCHEFE não chegou a tempo, Sua Excia tomou também lugar na BOR, com o Comandante da Operação e com o Delegado do QG [ Quartel General ] que viera coordenar o embarque.

Cerca do meio dia as LDM e a BOR abicaram a Ponta do Inglês.

 Sua Excia tomou o seu heli para Bissau e o Comandante da Operação [, cor inf Hélio Felgas,] tomou o das evacuações que entretanto mandar vir para fazer duas evacuações para Bambadinca.

Os Dest A e B chegaram ao Xime cerca das 15h30 depois de terem sofrido novo ataque de abelhas que, tal como em Ponta Luís Dias, de manhã, ocasionou desorganização e levou os carregadores a abandonarem material, recuperado mais tarde.

Ao compreender-se que apenas era deixado o heli de evacuações, deu-se ordem aos Dest E, F, G, H e I para se aproximarem dos respectivos aquartelamentos [ Mansambo e Xitole]. Não se podiam abandonar sem alimentação nem água garantidos.

Aliás aqueles Dest haviam saído às 03H30 da tabanca do Fiofioli onde se haviam reunido e, uns por Cancodea Balanta e por outros por Cancodea Beafada, completaram a destruição de todos os meios de vida IN da região. Encontraram vacas que mataram, levando outras consigo. Em Cancodea Beafada capturaram 2 homens, 3 mulheres e 3 crianças.

Estes Dest passaram depois por Mina e por Gã Júlio, utilizando sempre trilhos diferentes dos de ida. Quando, ao fim da tarde, foram sobrevoados pelo PCV, encontravam-se próximos da foz do Rio Bissari, tendo já percorrido nesse dia uns 30 quilómetros. Foram-lhes recomendadas todas as cautelas e autorização para prosseguirem quando quisessem pois não se poderiam reabastecer.

Mal o PCV saiu da área, o IN flagelou o Dest com 2 morteiradas e rajadas, de longe, procedimento este que afinal utilizou durante toda a operação e que revelou impotência [no original, importância] e falta de agressividade. (...)

_______________

Notas do editor:

(*) Vd, postes de:

29 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13956: (Ex)citações (253): de facto sou eu, estou a preparar o embarque de um jipe Willys com destino a Bissau (devidamente canibalizado)...E aproveito para recordar a BOR, embarcação civil que fazia transporte de tropas com uma pequena escolta de fuzileiros (Ismael Augusto, ex-alf mil manut, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70)

(...) Relativamente ao cais, em 1968, a CCS do BCAÇ 2852 chegou a Bambadinca num barco civil que fazia o transporte de tropas. Era um barco (lancha ou navio, para não ofender os nossos amigos da marinha, que fazem muita questão na destrinça entre estas designações dadas pelos menos conhecedores, o que é o caso).

Chamava-se BOR e dispunha de apoio de uma pequeno grupo de fuzileiros, que nos acompanhou a bordo durante todo o percurso. Obrigado a eles. Foi por eles que fiquei a saber da existência do macaréu que, com outra designação [, pororoca ]. tem a sua réplica no rio Amazonas, pelo menos nesse. (...) 


Ainda sobre a BOR, vd. os postes:

12 de fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2527: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (11): Na Bor, Rio Geba abaixo, com o Alferes Carvalho num caixão de pinho...

(...) Um dia, as más notícias correm céleres, soube-se: vítima de mina antipessoal,  faleceu o Alferes Carvalho. Na malfadada estrada para Madina do Boé ficava o amigo. Menos de três meses após a chegada àquela terra. Soube agora no Blogue a data esquecida, 17 de Abril [ de 1968] e o local onde hoje repousa (...).

Mais um nome, a juntar a tantos vitimados naquela estrada. Toda a Companhia sentiu aquela morte. A primeira sofrida pelas duas Companhias gémeas.

Voltaram-se a encontrar-se, como e porquê? Por acaso ou porque se deviam despedir ainda. Tinha que ir a Bissau, ao Hospital Militar. A curiosidade e não só levou-o a fazer a viagem na BOR – um barco com pás na proa, verde-claro, e que se habituara a ver passar nas seguranças a Mato Cão. (...)


28 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5555: A navegação no Rio Geba e as embarcações do meu tempo: Corubal, Formosa, BOR... (Manuel Amante da Rosa)

(...) Quanto ao BOR, como os outros, também era do Comando da Defesa Marítima. Era o que se chamava um ferryboat, para transporte de viaturas, cargas a granel, passageiros, gado e tudo o mais que houvesse, incluindo a guarnição de várias unidades militares a nível de companhias e seus apetrechos e viaturas. Tinha dois potentes e ruidosos motores, um a bombordo e outro a estibordo, que lhe permitia grande capacidade de manobra e calava pouco. Mas era lento de exasperar e desconfortável. O sol era abrasador para quem não estivesse abrigado. Levava facilmente mais de 400 passageiros e cargas.Era seguro e muito utilizado para o transporte das guarnições militares. (...) 

Guiné 63/74 - P13957: Bom ou mau tempo na bolanha (77): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (17) (Tony Borié)

Septuagésimo sexto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Dia 9 de Julho de 2014

Resumo do décimo nono dia

Lavámos os vidros do Jeep, não muito bem, mas a condução já oferecia alguma segurança, era manhã. Depois de andar alguns quilómetros pela estrada número 2, seguimos pela número 3 e, depois de percorrer a cidade de Lethbridge, que dizem que é uma importante cidade da província de Alberta, sendo a terceira em área e a quarta em população e, no século passado, as suas minas de carvão, fizeram dela uma próspera cidade, onde ainda hoje é bom local para se viver.


Ainda dentro da cidade, seguimos pela estrada número 4, onde passado algum tempo, nos aparece um cenário de quintas, muitos celeiros para armazenar cereais, pastagens com muitas vacas, tudo em funcionamento, nada abandonado, que nos levou à fronteira com os USA, na povoação de Sweet Grass, onde termina a famosa auto estrada número 15, que atravessa os USA desde o México ao Canadá e cuja povoação tem um posto fronteiriço que abriu no ano de 2004, onde em tempos viveu um tal Earl W. Bascom, que era um famoso cowboy, artista, escultor, actor e inventor, que fazia as mais deliriantes “cowboyadas” num rancho que era propriedade do seu primo, em Kicking Horse Creek, muito próximo de Sweetgrass Hills.



Para nós, que entrámos pelo norte, a estrada começou onde um funcionário da alfândega nos fez quase as mesmas perguntas, continuando nós a responder que sim, levávamos ainda algumas garrafas de vinho, que tinham vindo de nossa casa, na Florida, ao que ele sorriu, levantando a mão e, com um sorriso ainda maior, desejou-nos um “Welcome Room”.

Estávamos nos USA, no estado de Montana, onde já passámos na viagem de ida, quando explicámos um pouco da sua história, no entanto podemos acrescentar, só por curiosidade, que em alguns lugares a gasolina é mais cara que o gasóleo e, contam-se centenas de histórias. Quando por volta do ano de 1850, o estado era escassamente povoado, descobriram ouro, rapidamente as pessoas afluíram, todos queriam ficar ricos, o ouro passou a ser o principal motor da economia da região, era tanto, que os empregados “chineses”, que eram os que lavavam a roupa dos mineiros, encontravam quilos de ouro nos ribeiros, onde iam buscar a água para lavar a roupa. Naquela altura, o que existia a mais em ouro, faltava em cumprimento da lei, os ditos “xerifes”, eram a lei, mas eles próprios a violavam, pois o ouro andava de mão em mão, comprava tudo, ignoravam assaltos, assassinatos, que eram frequentes na região, muitas pessoas, sentindo-se desprotegidas, decidiram tomar as leis em suas próprias mãos, surgindo assim, os ditos “vigilantes”.

Bem, já chega de história, nós seguimos pela autoestrada número 15, direcção sul, agora um trajecto que ainda não tínhamos trilhado, portanto diferente, podíamos viajar bem nesta larga e, em alguns locais deserta estrada, passámos pela cidade de Great Falls, onde não parámos, seguimos até à capital, que é a cidade de Helena, onde também não parámos, aqui desviámo-nos pela estrada número 287, que é uma estrada com cenário, onde se podem ver alguns rios, lagos, montanhas, vales e planícies extensas, com o sol refletindo no verde escuro do terreno, com alguns búfalos pastando, longe uns dos outros em algumas áreas e, pequenas manadas em outras zonas, parecendo grandes extensões de terreno de uma só propriedade, talvez animais perdidos, não sabemos, mas o cenário era encantador, convidava a parar, sentar-se numa cadeira e admirar por horas, talvez dias, anos, ou pelo resto das nossas vidas.





Nestas planícies notava-se a ausência do célebre arame farpado, que foi uma invenção que nasceu na década de 1870, permitindo ao gado viver em áreas confinadas e designadas, para evitar o pastoreio dos animais em áreas circunvizinhas, principalmente no estado do Texas. O aumento da população, no que dizia respeito aos agricultores que se dedicavam à produção e pastoreio de gado, queriam cercar as suas terras, para as fazerem individuais. Isso trouxe um drama inicial considerável para as outras pastagens. Esta invenção feita com cercas de enorme extensão, era muito mais barato do que a contratação de cowboys para lidar com o gado e mantê-lo fora das outras propriedades e, até das terras consideradas federais.

Na década de 1880 ocorreram muitos conflitos, muitas vezes sem qualquer relação à propriedade da terra ou outras necessidades públicas, pois tinha que haver corredores, ou seja vias públicas, onde se pudesse passar, tais como para a passagem de pessoas e bens, que seguiam nas “diligências”, entrega de correio ou movimentação de outros tipos de animais.

Diversas leis estaduais autorizaram os “vigilantes”, que tentaram impor-se à construção das cercas do arame farpado, mas esse combate teve um sucesso variável e o arame farpado, por volta da década de 1890, foi removido em algumas áreas.

Nos estados do norte, o pastoreio de animais era em escala aberta, ou seja, era livre de fronteiras, mesmo assim, a forragem de inverno era insuficiente para o gado e a fome, especialmente durante o rigoroso inverno de 1886-1887, quando centenas de milhares de animais morreram em todo o Noroeste, levando ao colapso da indústria do gado, assim, na década de 1890, a cerca do arame farpado, também foi padrão, nas planícies do norte, principalmente protegendo as ferrovias, construídas mais perto de grandes áreas de pecuária, fazendo movimentações do gado ao longo do Texas para os terminais ferroviários em Kansas.

Sem querer já ia outra vez com a história, bem continuando a nossa jornada, rumo ao sul, já era ao anoitecer, quando chegámos ao parque de campismo de Canyon Ferry Lake, na vila de Townsend, ainda no estado de Montana, à beira de um grande lago, onde chegavam e partiam pessoas, com barcos que atracavam num cais que ali existia, alguns contentes, mostrando peixes. Aqui preparámos alguma comida e, pela madrugada, houve um vento forte, chuva e trovoada, o que nos acordou e assustou, pois a nossa caravana abanava e a chuva entrou pela janela que estava só com a rede.


Neste dia percorremos 527 milhas, com o preço da gasolina a variar entre $3.78 e $4.12 o galão, que são aproximadamente 4 litros.

Tony Borie
____________

Nota do editor

Último poste da série de 22 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13928: Bom ou mau tempo na bolanha (75): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (16) (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P13956: (Ex)citações (253): de facto sou eu, estou a preparar o embarque de um jipe Willys com destino a Bissau (devidamente canibalizado)...E aproveito para recordar a BOR, embarcação civil que fazia transporte de tropas com uma pequena escolta de fuzileiros (Ismael Augusto, ex-alf mil manut, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70)


Guiné > Zona leste > Bambadinca > c. 1968/69 > Bambadinca e o seu porto fluvial...Na foto conseguimos  distinguir [, com a ajuda do Beja Santos...] o Ismael Augusto [, ex-alf mil manut, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70].  É o primeiro à esquerda, precedido pelo chefe de posto administrativo. (*)

A partir de 24 de novembro de 1969, a administração do porto de Bambadinca passou a dispor dum autogrua mais potente, a Galion, que veio substituir a autogrua Fuchs (que se sê na foto). Na história do BCAÇ 2852, lê-se que no dia 25/11/1969, o 2.º comandante do BENG 447 visitou a sede do batalhão, visita essa que só pode estar relacionada com a entrega da autogrua Galion, permitindo melhorar as operações de carga e descarga no porto fluvial de Bambadinca.

Foto © Jaime Machado [ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70]. Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


1. Mensagem do nosso camarada Ismael Augusto  com data de hoje, a propósito do poste P13918 e de um comentário meu, ou melhor, de uma provocação minha (*):

De facto estou a preparar não o desembarque mas o embarque de um WILLYS com destino a Bissau (devidamente canibalizado, claro, embora no caso pouco restasse) e conforme o que constava nas NEP (Normas de Execução Permanente), aqui na parte restrita do Serviço de Material.

Relativamente ao cais, em 1968,  a CCS do BCAÇ 2852 chegou a Bambadinca num barco civil que fazia o transporte de tropas. Era um barco (lancha ou navio, para não ofender os nossos amigos da marinha, que fazem muita questão na destrinça entre estas designações dadas pelos menos conhecedores, o que é o caso).  

Chamava-se BOR (**) e dispunha de apoio de uma pequeno grupo de fuzileiros, que nos acompanhou a bordo durante todo o percurso.  Obrigado a eles. Foi por eles que fiquei a saber da existência do macaréu que,  com outra designação [, pororoca ].  tem a sua réplica no rio Amazonas, pelo menos nesse.

A navegação não poderia ter lugar quando esse fenómeno se observasse, pelo que era importante saber da sua existência. Fiquei a conhecer as tabancas que marginavam o Geba e os pontos mais críticos do percurso, que naturalmente coincidiam com o inicio do Geba estreito.

A este propósito, fiz uma vez o percurso Bambadinca- Bissau, num barco de transporte de "mancarra", numa viagem de cerca de 10 horas, onde literalmente fritei, pois as sombras e o espaço eram quase inexistentes.

Tive no entanto a sorte de a partilhar com um chefe religioso (fula) e a conversa não podia ser mais interessante. Só o sol é que não colaborou. (***)

Um abraço,

Ismael Augusto (****)

_________________

Nota do editor:

(*)  Vd. poste de 19 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13918: (Ex)citações (249): Quando os barcos chegavam ao porto fluvial de Bambadinca: fotos de Jaime Machado e legendas de Beja Santos

 (...) Comentário de Luís Graça:

Quem seriam os senhores que vieram de jipe até ao cais de Bambadinca (foto nº 1A) ?

Para além do nosso engº Ismael Augusto (, a engenharia veio mais tarde, e com ela a RTP, as telecomnunicações, a TDT...), reconheço o chefe de posto de administrativo de Bambadinca, que era caboverdiano... Nunca privei com ele, nem sei como se chamava...Mas, pela farda, deveia ser ele... Quanto aos dois militares à sua frente, só poderiam ser dois militares, oficiais, da CCS/BCAÇ 2852... Convivi com este batalhão cerca de 1 ano, entre meados de 1969 e maio de 1970...

O Ismael Augusto é nosso grã-tabanqueiro, tal como o Fernando Calado, dois alferes milicianos da CCS/BCAÇ 2852, do tempo do Jaime Machado e do Beja Santos...

Ouvir aqui uma entrevista, de 2012. do Ismael Augusto na qualidade de especialista em TDT. (...)

(**) Sobre a BOR, vd. poste de 12 de fevereiro de  2008 > Guiné 63/74 - P2527: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (11): Na Bor, Rio Geba abaixo, com o Alferes Carvalho num caixão de pinho...

(***) Último poste da séroe 26 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13945: (Ex)citações (252): Comentário ao artigo "Guiné, Guileje e o desnorte do reino" publicado em O Adamastor (4)

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13955: Álbum fotográfico do alf mil art João Calado Lopes (BAC1, 1967/69): Bambadinca, vista do alto da antena de comunicações (Parte II)



Foto nº 28 > Bambadinca > c. 2º semestre de 1968 > Foto nº 28  >  Vista do quartel de Bambadinca, do alto da antena das comunicações (*),  na direção norteste-sudoeste (ao fundo, à esquerda,  o início da enorme  bolanha de Bambadinca, e as instalações do comando, quartos e messes de oficiais e sargentos; ao centro, a rua principal, que aatrevassa o arquelamento no sentido leste (Bafatá) - oeste (Xime) e o telhado da capela).  

Popr esta "rua" que devia o aquartelameno ao meio, passaram dezenas e dezenas de milhares de homens, ao lomgo da guerra, desembarcados em LDG no Xime (a 12 km) e em trânsito para todo leste: setor L1 (Bambadinca), setor L2 (Bafatá), setor L5 (Galomaro), setor L4 (Nova Lamego), setor L5 (Piche) e setor L6 (Pirada)... Todos tinham que passar, obrigatoriamente, por Bambadinca...

Do lado direito da foto, vê-se  o início de um conjunto de casernas (onde ficavam as praças da CCS, paralelas ao campo de futebol, à rede de arame farpado e da pista de aviação.




Foto nº 28  A > Bambadinca > c. 2º semestre de 1968 >   As instalações, construídas pelo BENG 447 (Bissau), em 1968,  ao tempo do BART 1904 (1967/68),  eram ainda muito recentes...Vê-se pelo tamanho das árvores, plantadas frente às instalações (, edifício em U. (messes e quartos) de oficiais e sargentos ( à esquerda)e do comando de batalhão (à direita)... 

Por aqui passaram, desde a sua construção, desde o 2º semestre de 1968 até setembro de 1974  os seguuintes cinco batalhões (**): 

(i) BART 1904 (fev-out 1968); (ii)  BCAÇ 2852 (out 1968-junho 1970); (iii) BART 2917 (mai 1970 - mar 1972); (iv) BART 3873 (dez 1971-abr 1974); e (v) BCAÇ 4616/73 (abr- set 1974)


Foto nº 28 ~B > Bambadinca > c. 2º semestre de 1968 > Do lado direito, as instalações dos sargentos (messe e quartos); do lado esquerdo, oficinas auto e a o depósito de engenharia.  Nas traseiras do depósito de engenharia e das  oficinas auto, deveria existir, na época, um abrigo ou um espaldão para a bazuca 8.9... No meu tempo, foram abertas valas ao longo de todo o vasto perímetro do aquartelamento. O aquartelanmento foi atacado em 28 de maio de 1969 por um força IN estimada em 100 homens, com 3 canhões sem recuo, 
 

Foto nº 28 C > Bambadinca > c. 2º semestre de 1968 > vista parcial do edifício em U (instalações de oficiais e sargentos), vendo-se a entrada (porta) para os quartos e messe de oficiais (lado direito): é visível a rede de arame farpado do lado sul do aquartelamento. sobranceiro à grande bolianha de Bambadinca, como o espaldão (circular) do morteiro 81... No tempo em que estive em que estive em Bambadinca (julho de 1969/março de 1971) não havia artilharia. Julgo que o autor destas fotos, o João Calado Lopes, alf muil art, BAC1, nunca esteve colocado enquanto tal, mas sim em trânsito para o leste (Piche).  O Torcato Mendonça, da CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69) também não se recorda ver obuses instalados em Bambadinca. No nosso tempo havia dois pelotões do BAC1,  um em Mansambo e outro no Xime. Qualquer destes aquartelamentos também só teve obuses 105 mm, Krupp  (ou 10.5, como dizíamos).




Foto nº 28 D > Bambadinca > c. 2º semestre de 1968 >  Edifício do comando de batalhão (incluindo o gabinete de planeamento de operações)... Ao fundo, do lado direito, descortina-se algumas tabancas que pertenciam ao reordebnamento de Bambadincazinho (ou Bambadincazinha, como o Beja Santos lhe chama).,

Conferir estas imagens com as vistas aéreas de Bambadinca que temos publicado, nomeadamente as do álbum do Humberto Reis. Praticamente a totalidade das instalações e edifícios de Bambadinca da época de 1969/70 estão identificados. Conferir aqui.

Foto: © João Calado Lopes (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]
____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 28 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13952: Álbum fotográfico do alf mil art João Calado Lopes (BAC1, 1967/69): Bambadinca, vista do alto da antena de comunicações (Parte I)

(**) Vd.poste de  27 de agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3151: Unidades sediadas em Bambadinca entre 1962 e 1974 (Benjamim Durães)

Guiné 63/74 - P13954: Recordações de uma ida à Feira da Ladra: 15 de Novembro (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Novembro de 2014:

Queridos amigos,
Mais tarde ou mais cedo far-se-á uma excursão de velhos combatentes até à Feira da Ladra.
Levaremos um oficial do quadro permanente para irmos almoçar à messe dos oficiais do Exército, um lindo palacete e uma bela sala de refeições, com azulejos topo de gama.
Aqui ficam recordações e remeto trabalho para outros. Por exemplo, o Zé Martins(*) que nos esclareça aonde se situava esta rua Alferes Linhares de Almeida e nos dê mais elementos sobre a sua morte em combate e a CCAÇ 1547.

Um abraço do
Mário


Recordações de uma ida à Feira da Ladra: 15 de Novembro (1)

Beja Santos

Tempo adverso, chuva intermitente, aguaceiros enervantes, feirantes e passantes descorçoados, com tanta água a escorrer de Santa Clara até à rua do Paraíso, só ficam os vendedores com toldo ou cobertas em plástico bem resistentes. Por ali se vagabundeia com chapéu aberto ou fechado, é tudo uma questão de persistência, até de desportivismo de quem anda à cata de surpresas, de agradáveis imprevistos. Já tinha abordado a D. Piedade que tem mercados singulares: azulejos, peças em tricot, molduras antigas, coisas que vieram de um negócio de adelo, compras de espólio, a família fartou-se do bricabraque que o defunto ou defunta deixou no sótão, no mobiliário, nas gavetas. Mas havia para ali umas caixas com fotografias e um atlas completo intitulado A. Nascimento – Atlas de Geografia, Livraria Franco, Lisboa, 1960.

Toca de procurar a Guiné. Como veem, é um mapa fora do tempo, onde se lê Senegâmbia deverá ler-se Senegal, onde se lê Guiné Francesa deve ler-se Guiné Conacri. A disseminação das etnias não é rigorosa: não há uma palavra sobre os Mandingas, o Leste e o Norte em peso parecem ocupados por Fulas Pretos e Futa Fulas. A toponímia é do princípio do século. Falando da região onde vivi e combati, é verdade que à entrada do Geba Estreito estava S. Belchior, povoação abandonada durante a guerra, mais abaixo havia Enxalé, povoação antiga, aqui não é referida. Mais adiante, fala-se em Sambel Nhanta, era de facto a povoação mais importante do Cuor até à rebelião de Infali Soncó, sufocada em 1908, apareceram depois Chicri, Sinchã Corubal, Madina, Canturé e Gambiel. Refere-se no mapa Caranque Cunda, foi fundada em 1908, depois da rebelião de Infali Soncó, ali estiveram acantonadas tropas durante algum tempo, os macuas e tropa metropolitana, pouco tempo depois tornou-se um sítio irrelevante. Passando para a outra margem do Geba, Fá tinha ainda bastante peso como Bambadinca e Xime, mas antes de 1960 havia já inúmeras povoações que podiam e mereciam ter referência. É necessário estudar este mapa para se perceber que não se estudava a Guiné, não se conhecia a Guiné, quase tudo o que aqui aparece em 1960 é d eturpação ou omissão. Assunto que nos devia dar que pensar. Claro está que os acontecimentos, a partir de 1963, alteraram muita coisa, apareceram destacamentos em lugares inconcebíveis, abandonaram-se povoações, mas muito do que se regista neste mapa é muito antiquado, e esse é antiquado é porque ninguém lhe dava importância, ninguém refilava, é porque a Guiné estava para lá do sol-posto.

Mapa da Província da Guiné. Escala 1:2.000.000
Clicar na imagem para ampliar

O mapa já passou para as minhas mãos, guardei-o em dois sacos de plástico, não é propriamente uma preciosidade mas não gosto de papel encharcado. E agora dobro a cerviz, já me acocorei, a ver se acontece mais uma pepita guineense. E acontece mesmo, há para ali uma chusma de fotografias que diz Foto Iris, Bissau. Mexo e remexo, não encontro fio condutor, terá sido seguramente alguém que andou entre a Guiné e Cabo Verde, encontrei fotografias do porto de Mindelo, S. Vicente, bem bonitas por sinal. Não chove, pus mais um plástico e ali ponho os joelhos, para contemplar demoradamente as fotografias. Escolho três de que gostei muito, não sei explicar porquê. Talvez no Google encontrasse referências a esta CCAÇ 1547, a que pertenceu o alferes Linhares de Almeida, morto em combate em 1 de Abril de 1967. O Zé Martins que descalce a bota, ele é que é o estudioso e conte como foi. Outro bico-de-obra é saber onde é que estava esta rua, num muro enegrecido de onde brota capim: será Bissau? Quem se recordar faça o favor de me explicar aonde estava esta rua.


A fotografia seguinte não levantou dúvidas, jangada em João Landim, o Mansoa espraia-se, temos a vegetação ao fundo. Os cinco turistas não identificáveis, a roupinha é da década de 1960, a menina já tem saia curta, podemos até perguntar se o jovem do meio não é militar e vão todos em festa, fazer um repasto em Mansoa. Conjeturas, nada mais do que conjeturas.


Por último, encheu-me as medidas este jogo de luz que atravessa a lala e pode ir até a um braço da ria, a vegetação é frondosa, o contraste entre a claridade e o negrume da vegetação é um achado feliz. Não sei quem tirou a fotografia, creio que ninguém irá identificar o local mas é uma bela imagem dessa zona tropical seca onde vivemos entre água e vegetação luxuriante. Só por esta fotografia dei por bem empregado a vinda à Feira da Ladra.


Subo em direção ao mercado de Santa Clara, começou a chuviscar, abrigo-me na tenda do meu amigo Eduardo Martinho, recebe-me com um sorriso. Combateu na Guiné, conhece o nosso blogue, foi com ele que regateei o livro dedicado a Mário Pinto Andrade. Vai buscar o livro e autoriza que eu reproduza o que achar de mais interessante.
Trata-se de uma edição de 2009, Edições Chá de Caxinde, Luanda, Mário Pinto de Andrade, um olhar íntimo, a coordenação é da filha mais velha, Henda Pinto de Andrade, na dedicatória, em primeiro lugar, veio o nome de Iva Cabral, a filha mais velha de Amílcar Cabral, nome certamente escolhido por lembrança de Iva Pinhel Évora, assim se chamava a mãe de Amílcar Cabral. Por diferentes títulos, Mário Pinto de Andrade tem a ver com as lutas de libertação e com a Guiné. Nos finais dos anos de 1940, vemo-lo com Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Eduardo Mondlane, Marcelino dos Santos e Francisco José Tenreiro em atividades culturais, designadamente mais tarde, em 1951, no Centro de Estudos Africanos. Foi presidente do MPLA de 1960 a 1962 e coordenador da Conferência das Organizações Nacionalistas nas Colónias Africanas. Recorde-se que o MPLA foi também criado com a colaboração de Amílcar Cabral. Foi encarregue pelo Comité Executivo do PAIGC para organizar a apresentação dos textos políticos de Amílcar Cabral. Foi coordenador geral do departamento da cultura da República da Guiné-Bissau, de 1976 a 1978 e ministro de Estado da informação e cultura de Outubro de 1978 a 14 de Novembro de 1980. Após o golpe de Estado saiu da Guiné-Bissau e dedicou-se à investigação. Faleceu em 1990. Este olhar íntimo faz-nos conhecer um escritor epistolar de altíssima craveira. Veremos estas qualidades no apontamento que se segue.
____________

Nota do editor

(*) Vd. poste de 24 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13938: Consultório militar, de José Martins (11): Quem foi o alf mil Linhares de Almeida, da CCAÇ 1547, morto em combate em 1/4/1967, e condecorado, a título póstumo, com a cruz de guerra de 2ª classe?

Guiné 63/74 - P13953: Agenda cultural (366): Apresentação do livro "Nós Enfermeiras Paraquedistas", coordenação de Rosa Serra, cerimónia que decorreu no passado dia 26 de Novembro no Estado-Maior da Força Aérea

1. Com a devida vénia à Tabanca do Centro e ao nosso camarada Miguel Pessoa, publicamos aqui a reportagem do lançamento do livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas", com coordenação da Enf.ª Rosa Serra, levado a efeito no passado dia 26 de Novembro no Estádo-Maior da Força Aérea.


____________

Nota do editor

Último poste da série de 27 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13951: Agenda cultural (365): Dia 29 do corrente, sábado, 15h30, na Biblioteca Municipal de Oeiras: sessão de apresentação (e debate): "Militares e Política: o 25 de abril", livro de Luísa Tiago de Oliveira (ed. lit)