sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14051: Conto de Natal (20): O "amor" de um bode ou a solidariedade entre animais (Manuel Luís R. Sousa)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Sousa (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74, actualmente Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma), com um belo Conto de Natal em que o protagonista não é o burrinho nem a vaquinha mas um bode.


O “AMOR” DE UM BODE

Sim, isso mesmo, o “amor” de um bode! 

Como pretexto para vos cumprimentar, de ir ao vosso encontro, tenho-vos enviado alguns dos meus “postais”, como, por exemplo, “O Douro sob o meu olhar”, "Vila Flor em dia de noivado”, “Vila do Conde é um poema”, etc. Hoje, com o mesmo objectivo, por muito estranho que vos pareça, imbuído de espírito de Natal, tenho o gosto de levar até vós mais um dos meus “postais” alusivo ao “amor”, solidariedade, companheirismo, em que o protagonista é este ruminante. Esses sentimentos que, pelo que presenciei, não são exclusivos dos humanos.

Como reformado, e como transmontano que se preza, cultivo um pequeno quintal num terreno contíguo à minha residência. Entre as diversas culturas que ali granjeio, como não podia deixar de ser, fiel aos costumes de Trás-os-Montes, plantei uma centena de pés de couves de penca, cuja finalidade, para alguns deles, era acompanharem o bacalhau na noite de consoada.


Ali próximo existe um campo a pousio, cujo proprietário, para evitar que o mato ali crescesse, autorizou um vizinho, depois deste vedar todo o perímetro do terreno com uma rede de arame, a colocar ali cerca de duas dezenas de ovelhas e meia dúzia de cabras, entre as quais o dito bode, a figura principal do enredo desta história.


As ovelhinhas, mais pachorrentas, limitaram-se sempre à área circunscrita pela cerca, enquanto que as cabras, lideradas pelo imponente e chifrudo bode, amarfanhavam a dita cerca com as patas e, “upa”, saltavam para fora e todos os terrenos limítrofes eram deles, incluindo, para minha “desgraça”, o meu bem tratado quintal.

Na minha ausência, para meu desgosto, os assaltos à minha horta sucederam-se, não obstante eu ter avisado o proprietário dos bichos, a ponto de todos os pés de pencas terem sido dizimados e, portanto, “nicles”, não há, este ano, daquela horta, couves para a consoada. Com uma selectividade cirúrgica, porfiaram fazer desaparecer apenas as couves de penca até à última folha, até ao tutano, ignorando as nabiças e as couves galegas ali existentes, provavelmente por terem um trago mais amargo.

Perante este quadro, tão cioso da minha horta, escusado será dizer o “pó” que eu apanhei aos caprinos que já não os podia “enxergar” e entre as pragas que lhes roguei, a mais benévola, era que uma alcateia de lobos por ali passasse e os devorasse. Descarregava a minha ira, algumas vezes, quando os via aproximar do quintal, correndo-os à pedrada. Tal era a frequência das investidas, que até já tinha pesadelos de noite ao sonhar que as cabras me estavam a invadir a horta.


Recentemente, encontrando-me eu no mesmo quintal a proceder à sementeira de inverno, das favas e das ervilhas, constatei que uma das cabras, ao tentar transpor a rede da cerca, lutava para se desenvencilhar das malhas de arame que se lhe enlearam no pescoço e nos chifres. Quanto mais estrebuchava mais o garrote a apertava.

- Bem feito..., bem feito…, é para que te sirva de emenda para não vires cá para fora a abocanhar as couves dos outros - rejubilava eu em pensamento, enquanto a azougada cabra lutava cada vez com mais dificuldade, perante os berros desesperados do bode branco que a acompanhava e se movimentava inquieto de um lado para o outro, à sua volta, como a pedir ajuda para libertarem a companheira.

Como ninguém se aproximava, incluindo eu que estava ali próximo, o bode, continuando a berrar desatinadamente, correu pelo campo fora, para o extremo oposto, em direcção à residência do dono do terreno, deixando eu de o ver a partir do meio do percurso, por interposição de um bloco habitacional implantado junto ao terreno, facto que me intrigou e me fez ficar ainda mais atento àquela cena.

Ficou ali então a cabra sozinha a lutar com as malhas da rede, quase a sufocar, o que, não obstante a minha “raiva”, a minha indignação, pelo que já referi, com problemas de consciência, larguei a enxada e preparava-me para ir libertar o animal já prestes a abafar. Entretanto, volvidos alguns instantes, para minha surpresa, surgiu por detrás do referido prédio habitacional a esposa do proprietário do terreno em socorro da cabra, seguida do bode ainda a bramir como um desmamado.

Depois desta, muito a custo, a ter soltado das malhas da rede, ambos, a cabra e o bode, correram pelo campo fora como a festejarem a libertação.

Perante o que acabara de testemunhar, de tal modo o gesto do bode me tocou, embora revoltado por me terem rapinado as pencas do Natal, que não pude deixar de exclamar com esta “terna” expressão, aqui para nós que ninguém nos ouve, “…filho da puta do bode…” 


Não quis, portanto, deixar de partilhar convosco esta linda história de “amor”, à parte a “ternura” da expressão com que terminei, e de, aproveitando o contexto, levar até vós, como ilustração da mesma história, a bonita melodia Love Story, nostálgica para os menos jovens. Precisamente, uma história de amor.

Se bem reparastes ao longo do texto, falei-vos de amor, solidariedade, companheirismo, couves, bacalhau e animais. Como sabeis, tudo isto integra a festa de Natal que se aproxima. Aceitai, portanto, esta história como um postal de Natal. Um postal diferente, especial, que, só por isso, e porque a mesma história foi o motivo de ir mais uma vez ao vosso encontro, a perda das minhas couves de penca não foi em vão. Bem pelo contrário, foi até compensadora.

E, já agora, para terminar, sabeis como vou resolver o problema das couves para não deixar o bacalhau da ceia na solidão? Se não houver uma boa alma de um de vós, os mais próximos, que se tenha enternecido com a pungente história das minhas couves e me dispense uma “tronchuda” para a ceia de Natal, O mercado espera-me.

Feliz Natal de 2014 para todos os meus companheiros ex-combatentes e familiares.
Manuel Sousa
____________

Nota do editor

Último poste da série de 18 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14048: Conto de Natal (19): Uma viagem a outros Natais (Francisco Baptista)

Guiné 63/74 - P14050: Notas de leitura (658): “A Enfermeira Chinesa”, de Rui Coelho e Campos, Sítio do Livro, 2014 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Abril de 2014:

Queridos amigos,
As surpresas literárias, felizmente nestas investidas escriturais dos combatentes, são como as contas de missanga: é no enfiamento que o multicolorido reverbera e chama a nossa atenção.
É surpreendente a qualidade dos contos de Rui Coelho e Campos, pena é, em meu modesto entender, que tenho ajuntado estes portentosos contos ajuntando-lhes missangas de menor valia, isto quando se percebe que aquela África e aquela guerra lhe fervem nas veias, sente-se à légua que tem muitos contos a dar para o crisol da literatura de guerra.

Um abraço do
Mário


As guerras iguais e as disparidades dos trópicos (as guerras diferentes)

Beja Santos

Há um fio condutor em todas as guerras e as guerras que travámos em África não foram exceção: a aprendizagem do horror dentro da aprendizagem do meio, a comunicação do grupo a sobrepor-se às práticas culturais anteriores, a interiorização de um medo visceral, um tumulto psicossomático, umas vezes silencioso, outras vezes avassalador, daí a rigidez ou a explosão que transfigura o homem no herói… Não vale a pena desfiar o caudal de argumentos, são sobejamente conhecidos, e por nós experimentados. Quando lemos um relato da Batalha de Estalinegrado ou de Monte Cassino, sabemos que aqueles homens, independentemente da ideologia que os respaldava, suspiraram pelos seus entes queridos, temeram, expuseram-se graças a uma força desconhecida. E ficaram fiéis aquelas memórias, indeléveis, ficaram agregadas a um património que cada um deles sabe que os ultrapassa, até porque houve mortos e feridos, atos destemidos entre vencedores e vencidos.

As nossas guerras em África foram diferentes pela dimensão do território, pela natureza do inimigo, pela latitude e longitude, pela fauna e pela flora, pelo mosaico étnico em que cada um se teve que ambientar. Está escrito e reescrito que 10 quilómetros na Guiné não são equiparáveis a 10 quilómetros em Angola e Moçambique. Nas diferentes literaturas, os seus autores ressaltam cheiros, amplas distâncias, florestas do tipo galeria, zonas penhascosas, colunas que percorrem durante largos dias elevações e vales de grande amplitude. Há, é certo, a inquietude das tropas acantonadas, silêncios que urge saber desfibrar, memórias que se soltam para que a vida seja tolerável na caserna ou no posto de sentinela. E há os estampidos, as explosões, os terrenos minados, aquelas emboscadas que desorientam, que está fora da zona de fogo. Semelhanças e dissemelhanças: as lembranças que pesam como ferro em brasa; a comida rasca e as agressões verbais ao cozinheiro, aquele tempo a escorrer como chumbo líquido e a malta a endurecer o palavreado, a atacar a cerveja como se esta fizesse esquecer o arame farpado à volta e os potenciais perigos vindos da mata na noite escura.

Temos pois, sem equívoco, disparidades literárias porque a circunstância de todas aquelas guerras esculpiram tempos e realidades distintos. É saboroso, por vezes, olhar para outros teatros de operações que não o da Guiné e perceber-lhe o que nos identifica e nos aparta. Tomo como referência, para este exercício o livro de contos “A Enfermeira Chinesa”, de Rui Coelho e Campos, Sítio do Livro, 2014. Ali se diz que o autor foi alferes miliciano de infantaria numa Companhia de Intervenção em Moçambique e é advogado. É o primeiro livro de contos, fica-se a saber, mas o autor dribla folgadamente a técnica deste género literário: não há engorduramentos, desenvolvimentos extasiantes, o descontrolo das falas.

No conto Zahida é indispensável localizar o teatro em que se processam encontros e desencontros desamorosos. Há uma porta principal que dá acesso à pista do aeródromo, a certas horas, mulheres e homens cruzam a porta principal e transportam ao ombro as suas alfais, vão até à machamba. Nessa porta principal está uma milícia sentada, vigilante. Aqui começa o jogo de amores recônditos, inconfessáveis:
“O grupo das três mulheres do régulo tarda a transpor a porta principal; Faad, que ficou ligeiramente para trás, ilumina os dentes muito brancos e olhos em movimento alternado e suave em direção em Posto 1, desatinando Matsinhe, soldado criado no Sul nas margens do Umbelúzi, onde aprendera a agarrar mulher, agora ansioso pelo anoitecer para agarrar Faad.
O jogo discreto dos olhos de Faad é captado no Posto 1; o local, a hora, os cuidados, as promessas, tudo é registado por Matsinhe que, uma vez o sol recolhido, vai juntar as missangas de cores múltiplas no leito de capim acamado, onde mergulhará no copo macio de Faad, escutando, os olhos cerrados, o marulhar das águas do Umbelúzi.
Mas os sinais dos olhos de Faad também são captados por Zahida, mulher segunda do régulo, cansada da pele lisa de Faad, onde as missangas rolam e brilham sempre.
Durante o dia, ao ritmo lento da enxada, Zahida lança as sementes da urdidura; tem de secar o atrevimento de Matsinhe e devolver Faad aos amores do soldado Mezulo; talvez por falar pouco, ou por ter vindo do Luatize, ou porque lhe lembra o filho, no mato, fugido à chibata do cipaio – sabe-se lá se regressa, um dia, com eles… - Mezulo é o consentido de Zahida.
Evita a porta principal e reentra mais cedo no aldeamento, emergindo de entre as fiadas do arame farpado, decidida a alijar de vez o fardo da ousadia de Matsinhe.
Antes que chgue aos ouvidos do régulo, acaba-se o fingimento entre Faad e Zahida; decidiu, vai procurar Mezulo e contar-lhe tudo. Não teme o escândalo; embora saiba que, quando há zaragata entre militares, a ninguém falha o pormenor das razões e o detalhe dos factos, ela confia que Mezulo intervirá com prudência e eficácia, sem que o régulo venha a suspeitar de nada.
Mezulo chega amanhã, na coluna que vem da cidade”.

Segue-se a descrição da coluna a emergir da poeira densa da picada. Zahida conta tudo a Mezulo. Quem irá resolver a situação será Caímo. Chegou a hora da feitiçaria, presume-se que o aldeamento vai ser atacado. Matsinhe já está a sofrer os efeitos do feitiço, a medicina convencional nada pode resolver. Entra em cena o alferes que desmantela toda esta história de feitiços, altera-se e impõe-se:
“Cabrão, filho da puta, feiticeiro de trampa, fodo-te o canastro. Se o Matisnhe morre, vais lerpar também, mas à porrada!»… é Santiago, com os nervos à solta e o medo aos berros, perdido por um ou por mil, as veias do pescoço reluzem à chama pálida do petromax; a coronha da Mauser de Changane, empunhada por Santiago, voa em direção à testa de Caímo que se protege apavorado, os braços em volta da cabeça; e, o copo encolhido, indefeso, a rolar no chão, os olhos esgazeados, grita, grita, muitas vezes, e Changane grita também mas ri, ri muitas vezes, «Sim, sim, vou partir o xiquembo de Matsinhe!», clama Caímo, clama Changane.

Matsinhe recupera, já não vai morrer. Alguém vai ao focinho de Mezulo, não se sabe quem. O régulo sovou Faad e também Zahida, que não cuidou da mulher mais nova como era sua obrigação, e enviou um recado ao alferes para se iniciarem as negociações da reparação que lhe é devida pela honra ofendida por um soldado do Sul, reparação que mete dinheiro, cerveja e panos, talvez um relógio de pulso que o sargento vai pagar.

E o empolgante do conto, o âmago do segredo, fica para o frenesim da operação, em vagas os helicópteros estão a lançar as tropas no assalto. No meio da algazarra, Santiago aproxima-se do alferes e conta aquilo do feitiço do Matsinhe:
«Conte lá… depressa!» 
«Na manhã a seguir à chegada da coluna, depois do Mezulo ter falado com ele, o Caímo agarrou num cordel de amarrar as sacas da farinha, dos mais finos, e embrenhou-se no mato até chegar à zona onde começa a floresta; apanhou uma folha de árvore caída sobre o capim, uma folha seca…»
«Despache-se, os helis já aí estão!» 
«…fez-lhe um furo, inseriu o cordel e deu um nó, com muito cuidado para não rasgar a folha; depois… o feiticeiro pendurou o cordel, com a folha suspensa na ponta, no ramo de uma árvore na floresta…»
«Rápido!», insiste o alferes, o vento das hélices a esmagar o capim e a levantar rolos de poeira vermelha.
«… e quando o vento batia na folha seca e a fazia girar…», grita Santiago, as duas mãos à volta da boca, «o coração de Matsinhe rodopiava, rodopiava, rodopiava como um louco!» 

Rui Coelho e Campos dá-nos contos assombrosos nestas memórias moçambicanas e mais uma vez me interrogo como é que toda esta prosa de altíssima qualidade passa ao lado das grandes editoras e dos leitores, que mistério é este como estes grandes contos de um combatente correm risco de passar despercebidos. Dito isto, que o leitor interessado por esta literatura, obrigatoriamente prosopopeia que a memória guardou e criou, dá depressa à procura de “A Enfermeira Chinesa”.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 15 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14029: Notas de leitura (657): "Obras Escolhidas de Amílcar Cabral, a arma da teoria, unidade e luta”, Seara Nova, 1976 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14049: Parabéns a você (831): Humberto Reis, ex-Alf Mil Op Esp da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71) e João Melo, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)


__________

Nota do editor

Último poste da série de 16 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14034: Parabéns a você (830): António Paiva, ex-Soldado Condutor Auto do HM 241 (Guiné, 1968/70)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14048: Conto de Natal (19): Uma viagem a outros Natais (Francisco Baptista)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 17 de Dezembro de 2014:

Este texto não será ainda a estória dessas viagens de lazer, de prazer, relaxamento, pelos vales, planícies, montanhas, florestas, muitas vezes refletidos em grandes lagos ou grandes rios onde espelham o seu encanto e a beleza.

Terá sido nessas viagens e passeios pela natureza onde as paisagens que nos encantam se duplicam nas águas límpidas e transparentes, onde Narciso se apaixonou pela sua própria imagem.
Não será também a estória das viagens pelas maravilhas construídas pelas mãos hábeis de tantos artífices e artistas que povoam as cidades da terra.
Pela mente todos os dias viajamos, de corpo e alma de vez em quando.

Hoje a minha viagem de menino leva-me à igreja de Brunhoso.
Próximo do local onde assistia com a família masculina (as mulheres ficavam separadas, atrás dos homens, talvez para não haver lugar a troca de olhares sensuais e pecaminosos) a todas as cerimónias religiosas, havia um altar, com um Menino Jesus, quase todo nu, somente com um pano a tapar-lhe o sexo.

Dentre todos os santos que povoavam os altares da igreja sempre achei muita graça a esse menino, pois parecia-me mais humano do que todos os outros santos adultos que, por vezes muito bem vestidos e enfatuados duma forma antiga, pareciam olhar mais para o alto do que para as pessoas.

Esse menino parecia um outro como eu quando ainda o era, e que estaria disposto a brincar comigo e com os da minha idade. Na Missa do Galo, no Natal, esse menino descia do seu pedestal e o padre dava a beijar os pés dele a toda a gente. Hoje raramente vou à missa mas confesso camaradas que ainda sinto muita ternura por esse menino de barro.

Brunhoso, nesse tempo, tinha poucas árvores de fruta e as laranjeiras não cresciam lá, queimadas pelas geadas, em minha casa como na maioria apreciávamos muito a fruta, que não sendo de colheita própria, raramente se comprava. O meu pai que eu julgava muito sovina, depois da Missa do Galo, todos os anos invariavelmente, comprava o grande cesto de fruta que era leiloado pelos rapazes no adro da igreja, que continha sobretudo laranjas.

Para mim e os meus irmãos era quase um milagre do Menino Jesus, saber que esse grande cabaz de laranjas ia para nossa casa.
Muito obrigado pai por tantos milagres.

Portugal > Bragança > Mogadouro > Brunhoso > Terra com história, património e gente de carácter. Foto de Aníbal Gonçalves, grande divulgador da sua região, em particular o nordeste transmontano. Professor, alia a fotografia ao geocaching.  É natural de Bragança, vive em Vila Flor. Tem página no Facebook. Cortesia da sua  página dedicada a Brunhoso.

Os meus Natais na Guiné foram dias como os outros, no quartel ou no mato, tanto em Buba em 1970 como em Mansabá em 1971. Que me recorde, não houve bacalhau nem rabanadas nem outro petisco da quadra natalícia.

Porque eu sempre associei o Natal ao frio e por vezes à neve, deixei passar o Natal sem nostalgia, porque estava enfeitiçado pelo calor e pelo cheiro quente da terra africana e nesse tempo nunca imaginei um Menino Jesus negro.
Na Guiné vivi em terras de muçulmanos e por outro lado andava desinteressado de manifestações religiosas de qualquer crença.

" Decididamente é difícil pensar que não é Natal", como diz o nosso poeta e comandante Luís Graça.

Este texto que evoca o Natal, dedico-o a ele pela dedicação e trabalho que diariamente desenvolve pela manutenção e vitalidade do blogue, ao meu camarada de Mansabá e quase vizinho actual, Carlos Vinhal igualmente um grande obreiro e sacrificado do blogue.

Os outros camaradas que me desculpem mas vou dedicá-lo também a outros dois camaradas:
Ao camarada Jorge Picado, mais velho e sereno do que eu, que também esteve em Mansabá, e que aprendi a apreciar por conhecimento pessoal e pela bonomia que transmite nas palavras que escreve.
Ao amigo José Luís Fernandes, pela autenticidade, humanidade e profundidade de tudo o que já escreveu no blogue e pela ausência já tão longa, com que nos penaliza e que espero não se prolongue muito mais.

A todos os camaradas desejo um Bom Natal e um Bom Ano.
A todos um grande abraço
Francisco Baptista
____________

Nota do editor

Último poste da série de 25 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12504: Conto de Natal (18): "Uma Luz de Natal no alto do Monte", por Adriano Miranda Lima - Cor Inf Ref

Guiné 63/74 - P14047: A minha máquina fotográfica (15): Comprei-a em 73, em Bissau por 5.000 pesos, que utilizei durante muitos anos na vida civil e fez algumas viagens ao estrangeiro na década de 80 (Agostinho Gaspar)

1. Mensagem do nosso camarada Agostinho Gaspar (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), com data de 13 de Dezembro de 2014:

Boa tarde,
Depois de esquecida durante décadas, veio o blogue lembrar um dos nossos passatempos favoritos: as máquinas fotográficas.

Quando fui para a Guiné não tinha máquina fotográfica, passados alguns meses comprei uma simples a um colega da Companhia, que depois vendi a outra pessoa.

Meses mais tarde comprei outra, mais moderna, com tantas técnicas, que ainda hoje não sei usar todas, comprei-a em 73, em Bissau, e custou-me 5.000 pesos (manga de patacão!).

Máquina essa que utilizei durante muitos anos na vida civil e fez algumas viagens ao estrangeiro na década de 80.

Modelos mais modernos deixaram-na esquecida durante mais de 20 anos na gaveta. Até o dia em que no blogue falaram de máquinas fotográficas, que tinham sido usadas durante o tempo na Guiné e lembrei-me da minha.

Em anexo, envio fotos actuais dela e algumas fotos tiradas também por ela há mais de 40 anos.

Melhores cumprimentos,
Agostinho Gaspar



 




Equipa dos Mecânicos
____________

Nota do editor

Último poste da série de 18 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14046: A minha máquina fotográdfica (14): Comprei-a logo nos primeiros dias em Bissau, numa loja de material fotográfico ao lado do forte da Amura, em Julho de 1968, com dois colegas do curso de Mafra, o Rego e o Amorim. Eram todas iguais, marca “Fujica” (Fernando Gouveia)

Guiné 63/74 - P14046: A minha máquina fotográfica (14): Comprei-a logo nos primeiros dias em Bissau, numa loja de material fotográfico ao lado do forte da Amura, em Julho de 1968, com dois colegas do curso de Mafra, o Rego e o Amorim. Eram todas iguais, marca “Fujica” (Fernando Gouveia)

1. Mensagem do nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec Inf, Bafatá, 1968/70) com data de 12 de Dezembro de 2014:

Para todos os camaradas, com um grande abraço:

De início não contava escrever sobre este tema das máquinas fotográficas mas como “já que tanto insistem” aí vai.

Já em tempos referi a marca da máquina que me acompanhou na minha comissão na Guiné e com a qual tirei centenas de fotos.
Foi a páginas vinte e nove do livro “Na Kontra Ka Kontra”, que escrevi debaixo da adrenalina acumulada durante a visita que fiz à Guiné em Março de 2010.

O invólucro de couro da minha “Fujica” ajudou à sua longevidade.

Não posso deixar, mais uma vez, de agradecer ao blogue e ao próprio Luís Graça e Carlos Vinhal, não esquecendo o António Pimentel, este, que me incentivou a rever locais e gentes de há quarenta anos atrás.

Quanto à máquina, comprei-a logo nos primeiros dias em Bissau, em Julho de 1968. Eu próprio e mais dois colegas do curso de Mafra, o Rego e o Amorim, compramos três máquinas iguais “Fujica”, numa loja de material fotográfico, ao lado do forte da Amura.

Se não me engano custaram-nos 1.500$00 cada. Vim depois a saber que os meus colegas de compra não ficaram muito satisfeitos com elas. No que me diz respeito gostei imenso dela pois além de me “fazer” a guerra ainda durou mais vinte anos. O seu fim só se deu com o colapso do fotómetro, com que já era equipada.

A existência do fotómetro permitia-me tirar fotos em modo automático. Assim, e pelo facto de com o polegar direito fazer a focagem bem como a passagem à foto seguinte, conseguia tirar fotografias seguidas só com a mão direita.

Durante a comissão tirei centenas de slides e, penso, só um rolo de fotos a preto e branco (reveladas por um qualquer camarada do Comando de Agrupamento em Bafata) e um rolo de fotos coloridas.

Durante os vinte e dois anos em que funcionou tirei quase sempre slides e da marca “Agfa” tendo sido todos revelados em Barcelona pois em 1968 não havia essa possibilidade em Portugal. Como curiosidade direi que nunca se extraviou um sequer.

Termino referindo mais uma vez, que agradeço aos camaradas atrás referidos e também à minha “Fujica” o inesquecível, emocionante e indelével prazer que senti ao entregar as três fotografias que se seguem às pessoas respectivas quarenta anos depois, quando da tal visita à agora Guiné-Bissau.

Ao mostrar a foto à Bobo, ela muito emocionada disse: Ah, ah, ah, ah, ah, ah a minha Maria.

A bajuda agora a mulher grande Kadidja, embora só nos tivéssemos visto uma vez, quarenta anos depois, ainda me reconheceu e soube referir o local onde lhe tirei a foto.

O Tchame já tinha morrido mas o filho não deixou de ficar altamente emocionado quando lhe entreguei a foto do pai.

Fernando Gouveia
____________

Nota do editor

Último poste da série de 18 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14045: A minha máquina fotográdfica (13): Tive, desse tempo, uma Kowa SE T que depois vendi; e tenho ainda uma Minolta SR T 101... Se um dia quiserem fazer um museu com as "máquinas de guerra", contem com a minha... Não a vendo, tem um grande valor sentimental... (Manuel Resende, ex-alf mil, CCaç 2585, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71)

Guiné 63/74 - P14045: A minha máquina fotográfica (13): Tive, desse tempo, uma Kowa SE T que depois vendi; e tenho ainda uma Minolta SR T 101... Se um dia quiserem fazer um museu com as "máquinas de guerra", contem com a minha... Não a vendo, tem um grande valor sentimental... (Manuel Resende, ex-alf mil, CCaç 2585, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71)

1. Mensagem de Manuel Resende, com data de 11 do corrente


[ Manuel Resende, com o Dandi, em pose para a fotografia; ex-Alf Mil da CCaç 2585/BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71]


Caros Luís e Vinhal,


Em anexo segue um pequeno texto sobre as minhas máquinas fotográficas na guiné.

Tambés as fotos para serem coladas nos locais próprios. (Vd aqui o link do meu álbum fotográfico.  referido no texto).

Desejo-vos um Santo Natal. Muitas prendinhas do Menino Jesus e um 2015 um pouco melhor que este.

Um abraço, Manuel Resende




Crachá da CCAÇ 2585 ( Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71)


2. As minhas máquinas fotográficas 

por Manuel Resende


Amigo Luís Graça

A propósito da sondagem das fotos e máquinas fotográficas da nossa comissão na Guiné (*), tenho todo o prazer em dar a minha opinião, pois já nessa altura eu era o fotógrafo da Companhia, havia de facto mais algumas máquinas, mas quase todos me batiam à porta.

Tirava fotos individuais a quem me pedia e colectivas, sendo a revelação feita sempre em Bissau e com cópias “por cabeça”. O nosso 1º Sarg. Vinagre ia todos os meses a Bissau tratar dos assuntos necessários, e levava os rolos para revelar e trazer as cópias que eram feitas em tempo oportuno. Também comprava o que lhe encomendássemos, como foi o caso da minha máquina fotográfica, da minha pressão ar “Diana 37 de 5,5 mm”, etc. Convém não esquecer que Jolmete era só o Quartel, depois do arame farpado era mato e turras.

Lembro-me que o Fur Guarda tinha uma máquina, salvo erro Olympus. O Fur Rodrigues também tinha uma, mas a que me chamou mais a atenção era a do Alf. Mosca, uma Yashica, tipo caixa, de ver por cima, que fazia negativos de 60x60 mm e tinha uma lente com luminosidade de 1:1.2, o que na altura era o máximo que se fabricava. As fotos de 12x12 cm ficavam extremamente nítidas. Tenho a certeza que ele a levou para fotografar os “amigos”, como ele dizia, que o assassinaram juntamente com os Majores.





Eu, depois de “tirar” a especialidade de Atirador de Artilharia em Vendas Novas (a nossa artilharia era G3), fui colocado no BII 18 dos Arrifes, em Ponta Delgada - Açores, e passado um mês de lá estar a descansar, recebi guia de marcha para o Pragal (Almada) para formar Companhia para a Guiné, e no meu regresso dos Açores viajei no Paquete Funchal. Foi lá que eu vi uma linda máquina Reflex, marca Kowa, com lente de 1:1.8. Comprei também um Flash electrónico, com regulação de luz (manga de ronco), que ainda hoje funciona. A máquina custou 2.800$00 e o Flash custou 1.000$00.






Sensivelmente a meio da comissão resolvi comprar a máquina dos meus sonhos. Numa das idas a Bissau do nosso 1º Vinagre, pedi-lhe que me comprasse uma que eu já tinha namorado na casa Pintosinho, nos dois dias em Bissau à nossa chegada. Era uma Minolta SRT 101, com lente 1:1.2, só que na altura não tinham esse modelo, pelo que o nosso 1º resolveu comprar a melhor que lá tinham, a mesma mas com lente 1:1.4, e que me custou 7.800$00. Ainda hoje a tenho e funciona bem. Entretanto vendi a alguém da Companhia, e que já não me lembro, a anterior. 





Amigo Luís,

se um dia quiseres fazer um museu de máquinas antigas podes contar com a minha, pois o valor real é nulo, mas o valor sentimental é grande e eu não a vendo.

Em relação às minhas fotos e slides estão todas num álbum na net. São trezentas e tal, mas acho que muitas são de nível particular e penso que não terás interesse em publicá-las. Estás à vontade para publicar as que bem entenderes.


Um abraço

Manuel Resende

(Fotos e link em anexo)





Álbum do Manuel Resende > Foto nº 24 > "Como as palmeiras eram pesadas"



Álbum do Manuel Resende > Foto nº 57 > "Cubano ferido"



Álbum do Manuel Resende > Foto nº 85 > "Capitão Almendra" (**)


Fotos (e legendas): © Manuel Resende  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

_________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 15 de dezembro de2014 >  Guiné 63/74 - P14030: A minha máquina fotográfica (12): Ainda tenho, operacional, a minha Fujica Compact S, comprada em finais de 1972, em Bissau (Armando Faria, ex-fur mil, MA, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74)


(**)  Vd. poste de 1 de julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4622: Fichas de Unidades (4): História do BCAÇ 2884 (José Martins)


(...) Companhia de Caçadores nº 2585


(...) Iniciou o deslocamento, por fracções, em 15 e 16 de Março de 1969, com destino a Teixeira Pinto donde, no dia seguinte, segue para Jolmete, afim de render a Companhia de Caçadores nº 2366.

Na dependência do Batalhão de Artilharia nº 2845, assume a responsabilidade do subsector Jolmete e, após remodelação dos sectores, fica na dependência do Batalhão de Artilharia 2866 e posteriormente na dependência do seu batalhão.

Colaborou na protecção e segurança dos trabalhos da estrada de Bula - Ponta de S. Vicente, guarnecendo as bases de Bipo e Ponta Fortuna, e realizou operações nas regiões de Bugula, Ponta Nhaga, Peconha e outras.

Foi rendida, em 12 de Fevereiro de 1971, pela Companhia de Caçadores nº 3306.

(...) Distinguiram-se e foram condecorados os seguintes militares:

(...)

Por acção praticada no dia 22 de Outubro de 1970:

ANTÓNIO CAMILO ALMENDRA, Capitão Miliciano Graduado de Infantaria, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra 1ª Classe, conforme Ordem do Exército nº 17, IIª Série de 1971; (...)

Guiné 63/74 - P14044: Sob o poilão sagrado e fraterno da nossa Tabanca Grande: boas festas 2014/15 (4): Cartão original de António Murta


Imagem: © António Murta (2014). Todos os direitos reservados. 


1. Mensagem do António, recente grã-tabanqueiro, com data de hoje

[, foto à esquerda, António Murta [ex-Alf Mil Inf Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513. Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74]

Camaradas amigos
Luís Graça e Carlos Vinhal

A toda a Tertúlia desejo BOAS FESTAS e um ano de 2015 com mais de tudo o que em 2014 faltou. Com muita saúde.

Especialmente a vocês, ao Magalhães Ribeiro e ao Briote,
com um grande abraço,

António Murta.

PS: Anexo um postal que fiz nos joelhos para publicarem se acharem bem.
_______________

Nota do editor:

Gui9né 63/74 - P14043: In Memoriam (213): Fotos do saudoso ex-alf mil at art Manuel Jorge Martins Gomes (1948-2014) (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74)




Foto 2 - Vila Nova de Gaia > 2006 > 21º Convívio Anual da CART 3494... O Manuel  Gomes, em primeiro plano. Ao meio. o Pereira da Costa.


Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2014). Todos os direitos reservados

1. Mensagem, com data de 16 do corrente, do Jorge Araújo (ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974): 


Caro Luís,

Bom dia,

Em relação à triste notícia que acabei de ler - a morte do meu/nosso camarada Manuel Gomes [1948-2014] (*), anexo, para os devidos efeitos, três fotos. A do cais do Xime, que é minha, já timnha sido i publicada no blogue [P13839, de 2 de novembro de 2014] com a legenda que indico.

Que tenhas um dia tranquilo. (**)

Um abraço,
Jorge Araújo

______________________

Notas do editor:


(*)  Vd. poste de 16 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14035: In Memoriam (211): Manuel Jorge Martins Gomes, ex-alf mil at art, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74 (António J. Pereira da Costa)

(**) Último poste da série > 17 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14041: In Memoriam (212): Ana Paula G. Pires Dias (1962-2013), esposa do nosso camarada Armando Pires (jornalista da rádio reformado, ex.-fur mil enf, CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/71)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14042: Memória dos lugares (278): Antigos quarteis de Farim e Nema (Patrício Ribeiro, sócio-gerente da Impar Lda)



Foto nº 1 > Farim, praça principal (1)


Foto nº 2 > Farim, praça principa (2); Patrício e o filho (à esquerda)


Foto nº 3 > Farim, a rua dos alfaiates


Foto nº 4 > Farim, antigo quartel das NT (1)



Foto nº 5 > Farim, antigo quartel das NT (2)


Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 2533 (1969/71)> c. finais de 1970 / princípios de 1971 > O Luís Nascimento, 1º cabo op cripto, junto ao monumento ao BART 733 (Bissau e Farim, de 8/10/1964 e 7/8/1966).

Foto: © Luís Nascimento (2013). Todos os direitos reservados. [Edição / Legendagem: L.G.]




Foto nº 6 > Farim, um oráculo mariano [, não parece ser do nosso tempo, LG]


Foto nº 7 > Farim, antigo quartel das NT, monumento aos mortos da CCS/BCAÇ 1887 [Legenda de Carlos Silva]



Foto nº 8 > Farim, Nema, antigo  quartel das NT, por onde passou a  CCAÇ 2549. ["O monumento de Nema é da CCaç 2549 e tem lá o nome inscrito do seu comandante que deu o nome ao estádio que fica por trás: Vasco Correia Lourenço e muito mais. Basta consultar os posts que escrevi sobre o Bat Caç 2879". Legenda de Carlos Silva]



Foto nº 9 > Farim, Nema, antigo quartel das NT. "O emblema verde é do BCAÇ  1887" [Legenda de Carlos Silva]


Fotos: © Patrício Ribeiro  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.: legendas: Carlos Silva]


Brasão de armas da vila de Farim no tempo colonial... (Fonet: Jorge Santos (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


1. Mensagem do nosso amigo e camarada  Patrício Ribeiro [, atural de Águeda, criado e casado em Angola, com família no Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bssau desde 1984, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.]

16 dez 2014 | 20:15

Amigos:

Para recordar,

Algumas fotos tiradas hoje em Farim (*). Em visita de trabalho. Tiradas na Cidade [ fotos nºs 1, 2, 3 e 6], e nos dois quarteis, o da Cidade [fotos mº 4,5, 7] e em Nema [, fotos nº 8 e 9]

Junto ao padrão, eu e o meu filho  andamos por lá a trabalhar. [Fotos nºs 1 e 2]

Estamos a instalar luz solar no hospital e uma bomba solar para abastecer toda a cidade com água, vai ser instalada do Quartel de Nema [, Fotos nº 8 e 9] (**).
Abraço

Patricio Ribeiro

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , 
Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645, Guiné Bissau
Tel / Fax 00 351 218966014 Lisboa 

(...) Texto do Virgínio Briote, que foi Alferes Miliciano da CCAV 489 (Cuntima, Janeiro a Maio de 1965), pertencente ao BCAV 490 (sediado em Farim, em 1965):

Caro Anízio,

Que é que lhe posso dizer de Farim?

Passei por lá há muitos anos, há mais de quarenta. Pus lá os pés pela primeira vez em finais de Janeiro de 1965. Estávamos no início da luta pela libertação da Guiné. O meu Batalhão, designado por Batalhão de Cavalaria 490, instalou a sede em Farim e dispersou as companhias militares por Jumbembem e Cuntima. Fui um dos destacados para Cuntima, na fronteira com o Senegal, a cerca de 30 e tal km de Farim e por lá me mantive cerca de 5 meses.

Visitava Farim, quando estava em trânsito, quando ia lá buscar abastecimentos para Cuntima. Era uma pequena povoação, uma cidade para os padrões locais daqueles tempos. Uma cidadezinha agradável, o rio Cacheu tranquilo a banhar-lhe as margens, população afável numa tabanca já com alguma dimensão.

A guerra tinha começado há pouco mais de 2 anos, circunscrevia-se ao Sul e tinha pequenos focos ainda um pouco incipientes no Oio (Morés) e em outras zonas dispersas pelo território. Muito perto de Farim, passavam corredores de infiltração (Sitató, por ex.), por onde entravam guerrilheiros e abastecimentos para o triângulo do Óio (Mansoa, Bissorã e Mansabá). Na altura, pelos arredores de Farim, os trilhos assinalavam quase todos os dias passagens recentes de guerrilheiros e de pequenas secções de reabastecimento.

Em meados de 1965, pode dizer-se que a tropa ocupava as povoações mais importantes e o PAIGC era dono e senhor dos trilhos e das matas. Na altura em que abandonei Cuntima, a tendência acentuava-se, com o PAIGC a firmar-se com denodo nas matas à volta de Farim.

Canjambari, uma povoação a sul de Farim, era um importante ponto de infiltração. Então, foi decidido ocupar Canjambari. Mas não foi nada fácil, a luta durou dias e dias, até que finalmente uma companhia militar do tal Batalhão conseguiu ocupar Canjambari. A posição ocupada nunca teve descanso, os guerrilheiros, da mata visavam diariamente o aquartelamento com morteiros.
E um dia, a guerrilha decidiu dar um passo em frente, atacar dentro da povoação de Farim. Um batuque, muita gente em festa, alguns militares também, um guerrilheiro infiltrado na população meteu lá dentro uma "bomba". Num saco, misturaram granadas de todos os tipos, projécteis de balas, até uma bomba de avião que não tinha rebentado. E foi tudo pelos ares, população incluída que foi a mais atingida, aliás. Um pandemónio que teve as consequências que imagina em termos de repressão (...).

E pronto, dali para a frente a vida nunca mais foi a mesma, com a tendência sempre crescente da implantação do PAIGC e que só parou na independência.

Por aquela gente sinto carinho e respeito. Carinho porque, a minha vida estava no princípio, tinha acabado de fazer 21 anos, fui tratado sempre com humanidade e porque ajudaram ao meu crescimento. Respeito porque ganharam uma luta que era deles, de serem eles próprios, bem ou mal não temos nada com isso, a conduzirem os seus próprios destinos.

E pronto, caro Anízio, aqui lhe deixo o meu testemunho. Se na altura pressentisse que o Anízio, quarenta anos depois, me iria questionar sobre o Farim daqueles tempos, certamente teria sido mais previdente e guardaria informação mais precisa. (...)


(**) Último poste da série > 27 de outubro de  2014 > Guiné 63/734 - P13812: Memória dos lugares (277): Os meninos do Xime do tempo da CART 3494 - O caso de José Carlos Mussá Biai (Jorge Araújo)

Guiné 63/74 - P14041: In Memoriam (212): Ana Paula G. Pires Dias (1962-2014), esposa do nosso camarada Armando Pires (jornalista da rádio reformado, ex.-fur mil enf, CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/71)

Armando Pires, nosso querido amigo e camada,
fotografado pelo Manuel Resende, no último convívio
da Magnífica Tabanca da Linha, em 14/11/2014.
Já visivemente preocupado com a evolução da doença
da sua companheira Ana Paula. A sua última esperança era o
transplante, conforme como me confidenciou... (LG)
IN MEMORIAM

A doença e a morte não escolhem idades, e cada dia somos confrontados com o desaparecimento de amigos e familiares. Mesmo sendo uma coisa que se entende como natural, na hora em que enfrentamos a triste realidade, ficamos sem palavras e sem jeito.

Ontem chegou-nos ao conhecimento a notícia brutal do falecimento da esposa do nosso querido amigo e camarada Armando Pires. A Ana Paula, ao fim de muito sofrimento, não resistiu mais e partiu para o Eterno Descanso.

Mais não podemos fazer se não, neste doloroso momento, dar um abraço apertado ao nosso amigo Pires e algumas palavras de conforto.  Nestas horas, a presença física dos amigos é uma prova de solidariedade. 

Para quem quiser e puder, de alguma maneira, estar junto deste nosso amigo, aqui ficam algumas informações:

O Corpo da nossa amiga Ana Paula estará em Câmara Ardente na Igreja de Linda-a-Velha, concelho de Oeiras, a partir das 18h00 de hoje.

Amanhã, dia 18, pelas 14h30, será rezada Missa de Corpo Presente nesta mesma Igreja. 

O funeral sairá de seguida para o Cemitério de Barcarena (, também no concelho de Oeiras), onde, pelas 16h00, o corpo será Cremado.

Embora de viva voz já tenha manifestado o nosso pesar ao Armando Pires, pela partida da sua esposa, aqui fica a renovação da nossa solidariedade e o envio dos nossos sentidos pêsames ao resto da família.

Os editores

PS - O telemóvel do Armando Pires está disponível na sua conta no Google: 962 938 817. Os seus camaradas e amigos mais íntimos mais íntimos, mesmo à distância, podem e devem dar-lhe a palavra de conforto que qualquer homem precisa quando de perder a sua companheira de uma vida ou de parte de uma vida (, como era o caso na Ana Paula).

Recorde-se que o nosso camarada, que trabalhou na Antena 1 como jornalista,  foi fur mil enf da CCS/BCAÇ  2861, Bula e Bissorã, 1969/71 [, foto à esquerda[]. É presença habitual na Magnífica Tabanca da Linha.  Tem sido, além, disso, um ativo colaborador do nosso blogue. (LG)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 16 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14035: In Memoriam (211): Manuel Jorge Martins Gomes, ex-alf mil at art, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74 (António J. Pereira da Costa)