Foto: © Carlos Vinhal
1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:
Canção da terra...
Acordei enlevado.
Fui à janela.
Que linda melodia
Envolvia a terra.
Não se via donde vinha.
Acordes luminosos
Vibravam leves,
Na suave brisa
Que exalava fresca
Do mar ao pé.
Havia trinados frenéticos
Da passarada.
Vinham da mata.
E poisadas no topo dos postes,
Arrulhavam pombas
Como tenores divinos,
Tão afinados
Do alvorecer.
Até os sinos,
Do Convento ao longe,
Maravilhados, assomaram ufanos,
Entoando hinos
De extasiar.
Que linda festa,
Em apoteose,
Decorreu gratuita
Para quem quis ouvir...
Bar "Caracol" arredores de Mafra,
19 de Abril de 2017
9h30m
Jlmg
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A riqueza das palavras...
Não são uma soma de letras mortas ou adormecidas.
Têm alma.
Irradiam calor e vida.
Tanto aquecem como brasas
e refrescam as ideias
mais escaldantes.
Se atraem umas às outras
segundo leis ocultas
e imperceptíveis.
Têm cor e exalam perfumes.
como se fossem madressilvas.
São sonoras
com o encanto inebriante das sereias sedutoras.
Têm peso
e calam fundo,
quanto mais leves.
Pintam quadros
e contam histórias.
e, tão ciosas,
guardam os segredos
mais profundos.
São geométricas.
Rigorosas.
Se encaixam
em perfeitas simetrias.
Vestem tons,
de variadas cores,
em harmonia.
Dos mais claros
aos mais escuros.
Pintam a beleza em quadros belos.
Sempre prontas.
Tão afinadas,
emocionam.
Fazem rir e fazem chorar,
como, no palco,
as melhores actrizes.
Que seria da humanidade,
um dia só,
sem as palavras!...
Mafra, 21 de Abril de 2015
19h45m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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O nada...
Tudo desaparece.
Deixa de ser real
Na escuridão total.
Até os holofotes possantes
Que tudo iluminam.
Se o sol vai,
Vem a noite com seu manto
E num instante,
Aparece o negro.
Fica só o reflexo
Na nossa mente.
A memória esquece.
Derramando esquecimento Como uma glândula.
Feroz e inclemente.
Vão-se todas as résteas de luz.
E o deserto avança.
Frio. Seco.
Sepulcro profundo.
Devorador.
Chegam os vermes.
Tudo mastigam
Reduzindo a nada.
Vai-se a fome.
E germina a ausência
Potente e eterna.
Nada germina.
É o fim.
Inclemente e cego.
Nem há fumo
Que se eleve no ar.
Até o cheiro seca.
Desfeito em cal.
Não há bem
Nem mal.
É o nada com toda a força.
Só um milagre
O fará reviver.
Mafra, 20 de Abril de 2014
21h10m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor
Último poste da série de 18 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17254: Blogpoesia (506): "Mata da paz..."; "Deus é brincalhão..." e "De nada serve me armar até aos dentes", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728