domingo, 7 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17326: Fotos à procura de uma... legenda (85): Nossa Senhora de Fátima de Guileje... a propósito do lançamento do livro de Luís Branquinho Crespo, "Guiné: um rio de memórias" (Leiria, Textiverso, 2017)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje ou a caminho de Guileje > 2010 > "A Nossa Senhora de Fátima de Guileje"... A última doação à Capela de Guileje, uma imagem de N. Sra. de Fátima, trazida de Portugal por António Camilo e Luís Branquinho Crespo. 

Recordamos aqui uma mensagem do nosso saudoso amigo Pepito (1947-2014), com data de 16/3/2010:

"Luís: Mais uma importante contribuição dos nossos amigos da Capela de Guiledje, o António Camilo e o Dr. Luis Branquinho Crespo (na foto), que fizeram questão de se deslocarem a Guiledje para doarem a imagem da Nossa Senhora de Fátima à Capela. Este gesto tão bonito, foi acompanhado pelos votos de que esta oferta ajude a Guiné-Bissau a encontrar rapidamente os caminhos da Paz. Abraço. Pepito."

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). Todos os direitos reservados [ Edião e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do nosso editor, inserido no  poste P17320 (*), a propósito do lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo, advogado em Leiria, que esteve na zona leste, Xitole/Saltinho, entre 1968 e 1970, possivelmente a comandar um Pel Caç Nat (sabemos que no  final de 1968, ao tempo do BCAÇ 2852, o Pel Caç Nat 63 estava no Saltinho, o  Pel Caç Nat 53 em Bambadinca, e o Pel Caç Nat 52 em Missirá: em abril de 1969, o Pel Caç Nat 63 vai para Bambadinca).

 Luís, caro camarada da Guiné:

Antes de mais os meus parabéns pela publicação do livro "Guiné: um rio de memórias". Fico sempre feliz quando vejo um camarada meu, dos tempos da Guiné, exorcizar em livro, em prosa ou em verso, os fantasmas que ainda povoam a floresta galeria da nossa dorida memória..

Embora não nos conhecendo pessoalmente, o nome do Luís não me era estranho... Não estudei em Leiria, sou da Lourinhã e acompanhei, à distância, através do meu amigo de infância Álvaro de Carvalho, hoje conhecido psiquiatra, a irreverência e a inquietação, poética, cultural e cívica, da sua geração (onde se incluem figuras públicas como o Alberto Costa...) enquanto estudantes do liceu de Leiria... Recordo-me de ler, fascinado, o vosso jornal e sobretudo a vossa produção poética...

Por outro lado, tenho velhos e bons amigos aí, em Leiria (...). Vou, desde 1975, com alguma frequência à bela capital do Liz... É nesse concelho, em Monte Real, que se tem realizado, todos os anos, desde 2010, o Encontro Nacional da Tabanca Grande, o mesmo é dizer, do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que tem 13 anos de existência...

Em contrapartida, sinto-me constrangido, ao escrever-lhe, porque nunca cheguei a dar resposta, que eu me lembre, ao seu amável convite, de 2/12/2013, para aceitar apreciar e comentar o seu manuscrito e ajudá-lo a encontrar um editor. Remexendo numa das minhas várias caixas de correio, deparei-me com a sua mensagem... Nem sequer foi aberta, o que é lamentável, mas eventualmente desculpável: nessa altura, eu ainda estava no ativo, como professor universitário, e nem
sempre conseguia dar resposta aos muitos mails que recebia, quer por razões profissionais, quer na qualidade de editor do blogue. Confesso que não me lembro desta sua mensagem...

Peço-lhe, tardiamente, que aceite as minhas desculpas. Fico feliz por ter encontrado um editor, para mais da terra. Vou ler o livro e prometo fazer-lhe uma bela recensão, eu ou o nosso crítico literário
Mário Beja Santos. Também seria interessante podermos publicar o texto de apresentação.(...) Sei que o apresentador é de cinco estrelas, o meu amigo e nosso camarada António Graça de Abreu.

E faço questão desde já de o convidar, a si, Luís, para integrar a nossa Tabanca Grande. Somos já 742 os grã-tabanqueiros registados (54, infelizmente, já falecidos)... O Luís tem por certo histórias e fotos para partilhar connosco. Para já, e para o apresentar, só preciso de duas fotos, uma do tempo da Guiné e outra atual, e um pequeno CV militar...

Em tempos publicámos uma espantosa foto que o saudoso Pepito nos mandou com o Luís, de costas, "desembrulhando" a nossa senhora de Fátima de Guileje... Na altura o Luís foi, com o Camilo e o Pepito até Guileje, fazer a entrega da imagem... É uma belíssima e feliz imagem, que junto remeto, para o caso de não a ter. O Luís, afinal, fez parte do Grupo de Amigos da Capela de Guileje! (**)

Receba uma alfabravo do camarada Luís Graça.
____________


Guiné 61/74 - P17325: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2.ª versão, 2010, 99 pp.) - XXI Parte: Cap XII - Op Tesoura, Cadique, dezembro de 1965: "Meu furriel, eu sou um criminoso, um assassino! Numa das casas, quando lancei a granada, estava um bebé a chorar lá dentro!" (1º cabo Cigarra)


Guiné > Região de Tombali >  Cufar >  CCAÇ 763 (1965/67) > "Tomada de assalto a tabanca [, Cadique,] que se encontrava deserta, obviamente procede-se à sua destruição. Os Vagabundos, comandados por Mamadu, terão essa tarefa como determinado. Simples: porta aberta, granada incendiária descavilhada para dentro, porta fechada e fugir para se abrigar. Em segundos o que era uma morança, é uma cópia do inferno de Dante."

Foto (e legenda): © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Capa do livro (inédito) "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", da autoria de Mário Vicente [Fitas Ralhete], mais conhecido por Mário Fitas, ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67. Do mesmo autor já aqui publicámos, em 2008, em dez postes, o seu fascinante livro "Pami N Dondo, a guerrilheira", ed. de autor, Estoril, 2005, 112 pp.


Mário Fitas foi cofundador e é "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, alentejano de Vila Fernando, concelho de Elvas, reformado da TAP, pai de duas filhas e avô. Foto em baixo, à direita, Tabanca da Linha, Oitavos, Guincho, Cascais, março de 2016]

Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra > XVIII Parte > Cap  XII - Guerra 3 (pp. 70-76)

por Mário Vicente

Sinopse:

(i) faz a instrução militar em Tavira (CISMI) e Elvas (BC 8),

(ii) tira o curso de "ranger" em Lamego;

(iii) é mobilizado para a Guiné;

(iv) unidade mobilizadora: RI 1, Amadora, Oeiras. Companhia: CCÇ 763 ("Nobres na Paz e na Guerra");

(v) parte para Bissau no T/T Timor, em 11 de fevereiro de 1965, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa.;

(vi) chegada a Bissau a 17:

(vii) partida para Cufar, no sul, na região de Tombali, em 2 de março de 1965;

(viii) experiência, inédita, com cães de guerra;

(ix) início da atividade, o primeiro prisioneiro;

(x) primeira grande operação: 15 de maio de 1965: conquista de Cufar Nalu (Op Razia):

(xi) a malta da CCAÇ 763 passa a ser conhecida por "Lassas", alcunha pejorativa dada pelo IN;

(xii) aos quatro meses a CCAÇ 763 é louvada pelo brigadeiro, comandante militar, pelo "ronco" da Op Saturno;

(xiii) chega a Cufar o "periquito" fur mil Reis, que é devidamente praxado;

(xiv) as primeiras minas, as operações Satan, Trovão e Vindima; recordações do avô materno;

(xv) "Vagabundo" passa a ser conhecido por "Mamadu"; primeira baixa mortal dos Lassas, o sold at inf Marinho: um T6 é atingido por fogo IN, na op Retormo, em setembro de 1965;

(xvi) a lavadeira Miriam, fula, uma das mulheres do srgt de milícias, quer fazer "conversa giro" com o "Vagabundo" e ter um filho dele;

(xvii) depois de umas férias (... em Bissau), Mamadu regressa a Cufar e á atividade operacional: tem em Catió, um inesperado encontro com o carismático capelão Monteiro Gama...

(xviii) Op Tesoura: dezembro de 1965,  tomada de assalto a tabanca de Cadique, cujas moranças  são depois destruídas com granadas incendiárias.


Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2.ª versão, 2010, 99 pp.) - XXI Parte: Cap XII:  Guerra 3 (pp. 70-76)



XII Guerra 3


Dezembro de 1965. Quinze horas do vigésimo primeiro dia. O bulício na messe de sargentos era grande, pois tinha havi­do correio e toda a gente comentava as notícias. As mais ínti­mas guardavam-se para a décima vez de leitura, mesmo depois de decoradas, por terem um sabor especial. De repente tudo se alterou. Bastaram estas simples palavras do Amadeu, cabo da secretaria:
- O nosso capitão chama ao comando os nossos sar­gentos e furriéis.

Torcásio teve uma cólica de tal maneira que correu ime­diatamente direito à latrina. Alguns dar-lhes-ia, mais tarde, a revolta aos intestinos, enquanto outros, pensando para onde seria, iam sentindo o estômago apertando-se… apertando-se, de forma que só nele caberia um trago de whisky, já que ajudava um pouco a controlar o nervoso miudinho que sempre aparecia nes­tas ocasiões. Interessante a reacção dos homens a estas situa­ções. A ansiedade, a incerteza do momento de contacto, princi­palmente quando se progredia na mata, punha os nervos em franja. Era medo? Sim! Mas esse controlava-se. A dúvida de onde, como e quando o IN se manifestava, é que tornava a guer­ra difícil e asfixiante. Após o contacto se efectuar, parecia to­mar-se um tónico,  aí, então, a cabeça raciocinava logicamente e a máquina de guerra começava a funcionar. 


Mamadu, apesar de menino dos Rangers de Lamego, teve bastantes dificuldades de adaptação nos primeiros tempos de Guiné pois, quando começava o tiroteio, não conseguia deitar-se. O seu corpo saltava impelido por um "mola", uma  estranha força a uma altura de meio metro. Tinha de estar de pé para tudo observar. Teve sorte porque se tornava num alvo facílimo. Com o tempo foi-se adaptando, e pôde por fim utilizar as teorias e práticas de contra-guerrilha insufladas nas serras do Marão, Meadas e rios Douro e Balsemão.

Verificando as presenças, Paolo informou Carlos de estarem todos os (des)interessados na excursão.

Carlos, com a sua fluidez e síntese, explanou então aos alferes e sargentos, a excursão a efectuar. Coisa simples, ir ao outro lado do Cumbijã onde, como já sabíamos, punha e dispunha o nosso amigo João Bernardo Vieira, ('Nino'). Objectivo: varrer a região de Cadique e destruir as instalações dos nossos amigos na região. Esta simpática visita seria intitulada operação Tesoura e teria a colaboração de mais uma companhia do batalhão, bem como a habitual ajuda de duas secções, do João Bacar Jaló, comandadas pelo Quêba. O embarque seria no cais de Impungueda e a LDM desembarcar-nos-ia no tarrafo junto à bolanha, próximo de Cadique Iála.

Vinte horas do mesmo dia. Os três grupos de combate estão formados em frente ao comando. Cinco minutos depois, é dada ordem de progressão até ao local de embarque. Em coluna, "fila de pirilau" pela ordem determinada, segue à cabeça, uma secção da milícia comandada por Gibi, seguida pela secção dos Vagabundos do furriel Mamadu; depois as secções de Chico Zé e Tambinha do 2°. grupo de combate; seguidamente viria o comando com uma secção de milícia e o 3°. grupo; fe­chando a coluna o 1°. grupo de combate.

O embarque efectua-se pelas 02h30 no máximo silêncio. O desembarque no local determinado também sem problemas, a lancha regres­sa e a companhia começa a progressão para o objectivo. Pelas 3hOO somos flagelados pelo IN. Nada de resposta, nada de denunciar posições, mas em certa parte o alerta estava dado. Tinha-se perdido a surpresa.

4hOO, aguarda-se um pouco mais o clarear do dia para se começar o assalto e a destruição das instalações inimigas. Próximo das 5hOO, tomam-se as posições de assalto. Quêba e seus homens, que passam a noite a mascar cola, formam a primeira linha; o 2° grupo de combate faz a cobertura; o 3° e o 1 ° . grupos fazem o envolvimento lateral.

5h10. Carlos dá ordem de assalto. Por momentos, vivemos um verdadeiro holocausto. Mamadu ordena:
- Olindo, já!

Sai a primeira dose da bazuca, depois grita para o homem da MG42:
- Ferreira, varre os poilões à direita.

O matraquear das G3 é ensurdecedor, a penumbra e neblina matinal não definem correctamente ainda a forma das coisas. Com o fumegar e saída dos projécteis das espingardas, parece que a terra se abriu para dar saída a um enxame de pirilampos.

Parecem cobras deslizan­do por entre o capim, Mamadu, já na operação Saturno, tinha tido oportunidade de acompanhar estas máquinas de guerra: cor­rida em zigue-zague, quinze a vinte metros, paragem imediata, joelho em terra, olhos de águia rompendo a frente, três segundos para perscrutar o horizonte, rajada varrendo a frente, nova corrida e assim sucessivamente, até se consumar o assalto.

Sabe-se que a guerra é um meio de destruição do próprio homem, mas quando o sangue ferve e temos de matar para não morrer, tudo se transforma nesse momento.

Tomada de assalto a tabanca que se encontrava deserta, obviamente procede-se à sua destruição. Os Vagabundos, comandados por Mamadu, terão essa tarefa como determinado. Simples: porta aberta, granada incendiária descavilhada para dentro, porta fechada e fugir para se abrigar. Em segundos o que era uma morança, é uma cópia do inferno de Dante.

E se está alguém lá dentro? Não seria a primeira nem a última!

Após a destruição efectuada, Mamadu reagrupa a secção, mas algo estranho acontecia, o cabo Cigarra chorava. Preocu­pado.  o furriel pergunta:
- O que é que foi, pá? Estás ferido?

Há sempre um estilhaço que nos pode apanhar. Mas o cabo diz não ser nada, talvez do fumo possivelmente.

Sem problemas esta fase da operação. Pior a batida à mata de Cadique Iála onde as coisas se baralharam um pouco com forte resistência do IN. Com o apoio aéreo resolveu-se a questão e, milagrosamente, desta vez sem um ferido sequer. Há horas felizes!

Batida que foi a mata, a companhia deslocou-se para a estrada de Cadique, onde se garantiria a protecção a um grupo de combate dos páras que iria entrar em acção.

Concluída a operação, havia que reembarcar, no cais de Cadique Nalu. Embarque um pouco atribulado pois, para além do cais estar destruído, a maré ainda a encher, a lancha tinha problemas para encostar, houve que entrar no lodo até aos joelhos. Coisa da guerra que,  como já se viu,  a preparação era feita como no jogo do pau. Aprendia-se a levar pancada. 

Finalmente lá se embarcou, descurando um pouco a segurança, é verdade, mas hoje é o nosso dia e a sorte também conta nesta vida de antiguerrilha. Não se pode levar sempre porrada,  carago, como costumava dizer, na sua típica linguagem tripeira, esse grande amigo que é António Pedro. Tivemos bas­tante sucesso na operação, conforme informações posteriores que confirmaram termos causado baixas significativas ao IN, já por nós calculadas dados os rastos de sangue que verificáramos na mata.

Camuflados cheios de lama e todos molhados, já na lancha, ainda alguém se lembrava de ter envolvido cigarros e isqueiro (nessa altura já não era obrigatória a licença) em saquinho milagroso de plástico. Geralmente almas caridosas, pelo que Mamadu come­çou a deliciar-se com umas gostosas fumaças, enquanto a lancha fazia marcha à ré até alinhar pelo meio do rio. Hora de sabor e de sonho. Mas o cabo Cigarra, continuava estranho! Mamadu estava preocupado.

Aproveitando a maré enchente, a LDM desliza suave­mente rio Cumbijã acima rumo a Cufar, num ronronar silencioso.

Em sentido contrário, o meu pensamento aproveita a deslizante maré para se transformar, e desgovernado rodopia e avança em louca navegação sem instrumentos de bordo, num abandono fantasmagórico de barco sem timoneiro.

Qual o ganho desta revolta sem ânimo, se o desalento que me assalta não leva a lado nenhum, nesta trama trágico-marítima? Fora do tempo e do modo, galopante,  a tua lembrança de mulher aparece! Descubro-te agora figura não apagada nos teus olhos negros vivos e cintilantes.

Corrói-me a inexistente coragem - forte motivação - para existir para ti e contigo. Sinto-me possuído e consumido por febrão de paludismo incurável, na existência da tua imagem. Num décimo de segundo tenho de abandonar-te, figura presente. O matraquear das PPSH, as 'costureirinhas', e o sibilante assobiar das metralhadoras Degtyarev passam uns metros acima da blindagem. O cabo marinheiro põe o motor da lancha numa po­tência louca, os dois fuzos agarram-se à metralhadora cobertos pela blindagem, ordem imediata para ninguém levantar cabe­ça. Apesar de mais de cem homens a bordo, a lancha levanta a proa e o doce deslizar transforma-se em louca hidroplanagem rio acima.

Não resisto. É mais forte do que eu. Pé sobre a rampa da lancha, espreito. O rio neste local alarga um pouco, mas é nítido o fumegar das Preciosas no tarrafo. A experiência do marujo é importante. Aproxima-se mais da margem contrária. Ouvi neste momento nitidamente o estampido cavo, da saída de granadas das RPG2. A coisa está preta. O motor continua no seu louco ronco forçado.

Mais uma vez volto a ti. Sinto-te perto de mim. Rodopiamos ao som da banda, junto ao Pelourinho. A minha mão esquerda aperta com sensibilidade extrema a tua mão direita, enquanto o meu braço, com enlevo, envolve o teu frágil corpo. Um balanço mais forte, um estrondo fortíssimo e escorrego pela blindagem da LDM. Aperto contra o peito a minha companheira G3, imagem há pouco transformada em ti. Um braço amigo segura-me. Uma granada de RPG tinha rebentado por cima da blindagem do abrigo da metralhadora. Cigarra, meu cabo amigo continuava para além da sua defesa, junto a mim. Espero, meu amigo, que a sorte nos sorria, assim como tu não me abandonas. 

Um ferido ligeiro, não é nada mau. Um pequeno esti­lhaço no ombro do fuzo impecavelmente tratado pelo Juvelino que tinha tanto de bom enfermeiro, como de tarado sexual. A zona de emboscada passou. A LDM voltou ao suave deslizar sobre as águas do Cumbijã. No cais de Impungueda, as viaturas esperavam o desembarque dos grupos de combate. O fuzo seguia na lancha até ao navio patrulha, o qual já entrara no rio para fazer a cobertura.

No cais, o furriel Mamadu, comandante dos Vagabundos, saltou para o unimog e sentou-se na capota por cima do moto­rista, como era habitual. Cara encovada, cheia apenas por uma barba mal arranjada, olhos fundos, ar de poucos amigos, gritou para o cabo Cigarra:
- Esta merda está pronta?
- Sim, meu furriel!

Respondeu o cabo no seu modo sereno e simples. Mamadu fez sinal ao alferes do grupo de combate, levantando o polegar da mão direita, que por sua vez informou Carlos. Após dez minu­tos de espera por causa das Amélias se acomodarem, que em to­dos os lados as há, a coluna arrancou direito, ao aquartelamento.

À chegada, como de costume, o pessoal que tinha ficado em Cufar aproximava-se e queria saber como tinha decorrido a Operação. Os valentes do arame farpado queriam saber se havia algum prisioneiro, para molharem a sopa. Necessidade psíquica para estes heróis ultrapassarem a cobardia fora do arame, e assim limpar o cu, borrado ainda da última saída ou flagelação às instalações!

Mandados destroçar os grupos de combate, cada qual foi tomar o seu magnífico duche, sob os bidões de gasolina ou petróleo, não importava, desde que tivessem água. Quem não tivesse bidões que a puxasse a pulso com baldes do poço. 

Nesta época já Mamadu, Francisco José e António Pedro dividiam entre si o quarto de adobe, reconstrução de armazém da antiga quinta do sr. Camacho. Mamadu pediu a Amadu, soldado nativo impedido dos três furriéis, para lhe limpar a G3 e os carregadores, bem como o cinturão e cartucheiras, e dirigiu-se para os chuveiros. Jata cantarolava debaixo da água.
-Amadu! Quero roupa lavada, calças e camisa civil - gri­tou Mamadu.

Depois de atirar com o camuflado cheio de lama para um canto, meteu-se debaixo do chuveiro e sentiu a água morna como que saída do esquentador. Que merda de terra esta, até a água fria é quente!... Se os americanos tivessem estas condições, não paravam um dia no Vietname! Só mesmo o portuguesinho aguenta esta porra, cogitou enquanto se ensa­boava.
-Amadu! - voltou a gritar-Diz ao Lopêz que quero o copo de bambu cheio e gelado!
-Furiel, bó cá cume nada? Bó cá tem cabeça,  furiel!
-Amadu, cala a boca e faz o que furriel manda, meu saco de carvão!
-Chi, minino, lassa picou mesmo furiel Mamadu! Mim bai chama Miriam, mim cá entende furiel, hoje!
-Bó suma burro de Bafatá!- gritou Mamadu enfure­cido.
-Vem buscar o camuflado que está cheio de lama e faz tu conversa giro com Miriam. Gosse gosse, tira esta merda daqui.

Jata tinha saído do chuveiro, calçou as sabrinas e enrolou a toalha à cintura, sem se limpar. Olhando para Vagabundo que tirava a espuma do corpo, deu um assobio de piropo e disse:
-Manga de ronco. Conforme estás hoje, há festa da grossa!
-Não me chateis, também tu! Zarpa! Fora! Vai levar onde levam as galinhas.

De facto não se encontrava bem... Sentia-se neurótico. Queria estar só, não queria ver, ouvir, sen­tir, ninguém por perto. O ego exige-nos muitas vezes o isolamen­to. Há momentos que são só nossos. Deixem-no só, por favor!...

Vagabundo estava mesmo no fundo. Vestiu-se lentamente, da mesma forma, descalço aproximou-se do bar e sen­tou-se num canto sozinho. O Lopêz conhecia já as tempestades e os tornados perfeitamente, pelo que, com a sua sensibilidade, evitava-os. Devagar, mais parecendo deslizar sobre gelo, levou o velho copo com dose dupla, colocou-o sobre a mesa, e mais uma vez adivinhando tudo, junto colocou um maço de Português Suave e uma caixa de fósforos. De idêntica forma deslizou para detrás do balcão, e a sua boca continuou um túmulo. Tão bem que nos conhecias, Lopêz, e quão mal nós te tratávamos!

Ao primeiro gole, o velho copo ficou meio. Um pouco nervoso, Vagabundo abriu o maço de cigarros, acendeu um e também este ficou pelo meio na primeira passa. Ao lado, mas silencioso, Chico Zé observava e adivinhava que Mamadu esta­va voando em direcção ao Alentejo. Verdade! Mas já não voava, tinha aterrado numa praça onde existia um pelourinho.

Conheci-te menina e moça. És um ano mais velha que eu. Eu ainda adolescente, com borbulhas na cara a despontar uma rara barba, sorrindo introvertido, envergonhado, olhos no chão. Por vezes, num arranque de dignidade, tentava procurar os teus olhos, com o rubor na face de te querer namo­rar.

Ninguém nos ajudou, ninguém nos desculpou, antes pelo contrário, tentaram conspurcar. As nossas mãos límpidas e cora­ção puro para uma simples paixão jovem. Hoje, tão longe tão per­to desse tempo, recordo com angústia que ninguém quis deixar­-nos provar a límpida água da ébria nascente dos nossos sonhos.

Espreitámo-nos por entre janelas de cortinados arren­dados, tendo o pelourinho como sentinela, arvorado em cúmplice guardião, em dias cálidos de verão, ou sorrir de sol em tardes de festa do Santo Mártir. Na sombra das acácias, teceram-se teias de segredos e ternura contida.

Nos meus olhos, a doce tentação do emanar da mensa­gem possível. A vastidão do forte sentir, a envolvente aventura da alma, na ânsia da emoção mal disfarçada. O encoberto e silenciado crime do meu (nosso?) amor, era a certeza de coisa sofrida no amplificar dos sentidos, tentando perscrutar o inaudível me­lódico som de guitarra chorando.

Uma mão tocou-lhe o ombro, e acordou. O Chico Zé tinha-se aproximado, a mão fez mais pressão e falou baixinho:
- Que é isso,  pá? Escreve pelo menos!
- Nunca! Dói-me muito.

Gargalhada.

-Nunca digas nunca. A malta não pode ficar assim. Vamos comer qualquer coisa, depois vão uns fadinhos de Coimbra, O.K.? Anda lá. Espera, vamos primeiro provocar o Jata.

Mamadu reagiu, limpou a garganta com o resto do Dim­ple e, conjuntamente com o Zé, atacaram:

"Diziam que era a mais bela de Andaluzia
Mais bela quando cantava à luz do luar,
Manuela .... Manuela ... "



Jata deu um salto no outro lado da sala e gritou:

- Cabrões! Lopêz dá-me uma 'bazuca'! (A 'bazuca' era um acerveja de 6,6 dcl.)

Não podia ouvir esta canção, tinha de recorrer à cerveja para apagar, ou pelo menos diluir, a lembrança sentida da mulher amada. Quase enlouquecia. Por vezes a dor era tão forte que as lágrimas rolavam-lhe pelo rosto em pérolas de saudade.

Carlos Manuel e António Pedro aproximavam-se, depois outros. Estava o coro formado. Olhos nos olhos, a guerra pre­sente morria naqueles momentos.

"Ao longe sulcando o espaço
Vai um bando de andorinhas”


O pensamento daqueles jovens, tornados homens de guerra, voava também com as andorinhas. Uma, de certeza, pousaria docemente no campanário da Matriz de N. S. do Paço, e chilreante, tentaria transmitir uma mensagem ao pelourinho.

Era nestas alturas que Lopêz se tornava Chefe man­dante, como ele o sabia fazer tão bem.

-Como é que é, hoje não se come? Vá.  meninos, para a mesa! Depois dizem que a comida não presta.

Abeirava-se mais junto do grupo e sussurrava baixinho, na sua voz gaguejante:

- Olhem que o G3 (, alcunha do primeiro sargento da companhia, ) já está a resmungar.

Aceitavam-se, por vezes, as ordens do Lopêz e o pessoal lá se ia sentando para a opípara refeição, tendo ainda o trabalhão de consultar a lista para escolher o menu:

Esparguete guisada com carne de vaca,

Carne de vaca guisada com esparguete,

Carne de vaca acompanhada de esparguete,

Esparguete para acompanhamento de carne de vaca. 

Difícil!

- Quem me escolhe a ementa hoje que eu estou indeciso? - pedia Tambinha, solícito.
- Come e cala, senão vais pró rancho geral comer baca­lhau amarelo com ciclistas ou batatas podres.

Era verdade. Por vezes não havia facilidades de abaste­cimento, várias vezes se tinha recorrido ao arroz pilado nas tabancas. E que mais queria a malta?

Não havia de vez em quando perdiz, pato, pombo verde e outras aves caçadas pelos doentes da caça?! E gazela com feijão frade?!...


Cada mês havia um gerente de messe. Quando calhava o Mamadu ou o Chico Zé, o G3 entrava em pânico pois não sobra­va um peso, e se as contas davam alguma coisa a favor, havia. bebidas de borla para toda a malta.

Vacas, isso não havia problemas. Quando o stock estava a acabar, fazia-se a operação Vacas. Só de voluntários, pois não se queria muita gente. Poucos, mas dos bons. Parecendo fácil, era muito difícil e extremamente perigosa. Vamos a uma:

Zona: Bolanha da tabanca de Boche Mende entre a mata de Cufar e Cabolol, só a pronúncia deste último nome, dava logo para fazer uma selecção.

Armamento: G3, um lança granadas foguete, uma MG42, granadas de mão ofensivas e defensivas.

Munições: à descrição.

Operação: o grupo de combate não poderia ter menos de trinta homens nem mais de trinta e cinco. O grupo seria dividido em três subgrupos: dois de segurança e um de "campinos".

O grupo saía direito ao cais de Cufar e seguia pelo tarrafo acima até junto à mata de Cufar Nalu. Assim que encon­trasse local apropriado, cambava o rio Manterunga, para o lado da bolanha de Boche Mende. Nesta zona de ninguém, tabancas que se encontravam abandonadas, existiam várias manadas de vacas. Localizada a manada que estaria em melhores condições de manobrar, era montado o dispositivo de segurança pelos dois grupos para esse efeito. Depois seria o trabalho dos "campinos" que tentariam reunir e conduzir o maior número possível de ca­beças para o local onde se cambaria o rio. Não era fácil, pelo contrário, exigia perícia, sangue frio e valentia. A primeira dificuldade, consistia em separar o touro dominante, chefe da manada, dos restantes animais.

Havia duas opções que só no terreno, e no momento se podiam determinar, resultando daí o sucesso ou insucesso da operação. Ou se abatia o touro e corríamos o risco de sermos detectados por algum grupo do PAIGC que andasse próximo, ou até espantar a manada. Tentava-se ir calmamente isolando o macho, de forma a manada ser conduzida facilmente. Tudo muito bem no papel, mas no terreno, só com gente com sangue mais frio do que rãs.

Nem sempre sucedeu bem e uma vez tivemos de pedir o auxilio da artilharia e dos morteiros 81. Com o rabinho entre as pernas e sem vacas, voltámos ao aquartelamento. Outros dias de sucesso compensavam generosamente esse desaire.

Após o jantar, o furriel, como de costume, passou pelo abrigo da secção para verificar o moral da malta. O pessoal estava contente, as coisas tinham corrido bem, havia uma mesa de lerpa, que terminou imediatamente à entrada do chefe dos Vagabundos. Alguns escreviam à luz do candeeiro, feito das garrafas de cerveja com mechas e petróleo lá dentro. O cabo não estava. Há problema!, pensou Mamadu. Perguntou então onde é que ele se encontrava ao que o Ferreira, o homem da MG42, respondeu, dizendo tê-lo visto jun­to ao cajueiro, em frente ao abrigo. Dirigindo-se para lá, dá com o mesmo quadro, o cabo a chorar.
-Que se passa pá, há problemas com a família?!. .. São saudades?!. ..

O cabo engasgou, um soluço abafado e triste saiu-lhe da garganta, virou a cara e disse, soluçando:
-Meu furriel, eu sou um criminoso, um assassino! Numa das casas, quando lancei a granada, estava um bebé a chorar lá dentro!

Mamadu apertou-lhe o braço com força, olhou para o céu e blasfemou, gritando!

-Oh, Deus! Oh, Tu que em tudo mandas, acaba depressa com esta merda de guerra suja, ou então Tu próprio tens de nos perdoar.

Grandes problemas existem nesta guerra, mas aparecem como acto natural, em natureza perversa e suja. Não há impos­síveis. Tudo hoje nos aparece como normal, nesta sujeira envol­vente de lama.

Na parte nova do aquartelamento, ainda no abrigo da secção, estava Vagabundo uma noite a dormir a sono solto, quando pelas vinte e quatro horas, mais ou menos, foi acordado pelo Orlando que estava de sentinela.
- Meu furriel! Meu furriel!
- O que foi?

Perguntou Vagabundo levantando-se e pegando imediatamente na G3.
- Não é nada, não faça barulho, deixe a arma venha ver, por aqui!

Saíram contornando as bananeiras, junto ao cajueiro, Orlando disse baixinho:
- Olhe ali para o curral das vacas, junto ao poilão!

Mamadu ficou pasmado, embora o luar não fosse o natural de África, pois a noite apresentava-se um pouco escura. A cena não era só visível, mas perfeitamente audível. O Fumaça, empoleirado nas raízes do poilão, calções em baixo, possuía a vaca preta, a Pretinha,  como se lhe chamava derivado da sua man­suetude. A mão direita afagava o bicho, enquanto se ouvia uma voz rouca e trémula de excitação:
-Está quieta, pretinha ... está quieta ...

Vagabundo
ia dar um berro. Dominou-se, pegou no braço de Orlando e sussurrou:
-Anda, vamos embora, os outros não utilizam a cabra? Deixa os animais,  coitados,pois é deles a noite como dos lobiso­mens. É o que esta maldita guerra faz de todos nós! Não somos animais, rapaz, somos bestas.

Fumaça ficou satisfazendo os seus instintos animalescos, e Vagabundo, num turbilhão mental de dor, de revolta, de dó e de confusão, pensou num ser Superior. Pensou, pensou, até entrar no escuro, e não conseguiu resposta nenhuma. Mas sentiu uma certeza: Deus deve estar completamente desfeito e desi­ludido, ao verificar a merda em que se transformou o homem que criou.

_______________

Nota do editor:

19 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17258: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2.ª versão, 2010, 99 pp.) - XX Parte: Cap XI - Como se Constrói uma Capela... ou o insólito encontro com o carismático capelão Monteiro Gama, do BCAV 490 (Binta e Farim, 1963/65)

sábado, 6 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17324: Manuscrito(s) (Luís Graça) (116): Nada disto é fado...ou o encantatório "Fado Saltério", 2º teledisco dos "Melech Mechaya", tema fortíssimo que assinala o lançamento do novo disco "Aurora"



Com a devida vénia... You Tube > Melech Mechaya 

Vídeo 5' 02''


1. "Fado Saltério" ?... Felicíssima combinação... O saltério era um instrumento antigo de cordas, muito popular na peninsula ibérica nos tempos modernos, dando origem a um instrumento triangular moderno com 13 ordens de cordas....Mesmo assim pouco comum, nas nossas bandas de hoje...

 Confesso que é um tema que me fascinou desde que o ouvi há uns tempos atrás, ainda em "laboratório"... Agora no teledisco é encantatório, que é algo mais do que fascinante... É um tema poderoso, para se ouvir "ao romper da bela aurora" ou ao "pôr do sol", ou a qualquer hora do dia ou da noite, em que a gente precise de um sopro de vida...

O grupo, os "Melech Mechaya",  continua a escancarar portas, a fazer fusões, a dar-nos novas sonoridades... e neste caso dá um contributo espantoso para a reinvenção / renovação / reconstrução  do fado... E o teledisco, realizado pelo talentoso Miguel Veríssimo, também merece nota "5 estrelas". Está lá tudo, o humor e o amor, a nossa humanidade, a alegria e a tristeza, a sedução e o pudor, a exaltação e a melancolia!.. Está lá a vida, na sua bipolaridade, estamos lá  todos, está a nossa idiossincrasia portuguesa!...

Meus amigos, isto é música da boa, portuguesa, universal, feita por gente nossa, talentosa! (... Não me posso alargar em adjectivos, porque sou fã do grupo, de há muito, logo um pouco suspeito)... Boa sorte para o novo disco, uma boa e bela "Aurora"... Muitas, boas e belas "Auroras"...

Para saber mais sobre o novo disco "Aurora", o 4º do grupo, a ser lançado no dia 12/5/2017, clicar aqui.


2. Em tempos escrevi esta letra para os Melech Mechaya... Não passou no "crivo", mas agora penso que podia ser cantada, e que era apropriada para este "Fado Saltério"... Sem imodéstia... 


nada disto é fado

nada disto é fado, é apenas história, indevida, 
ruas do ouro e da prata, de outrora, querida. 

colina acima, rua abaixo, no metro de lisboa, 
ou no amarelo da carris, é a vida, à toa. 

a vida é um assalto à caixa de pandora, meu amor, 
beware of pickpockets, avisa o revisor. 

alcântara, a ponte de fogo, suspensa
sobre a tua cabeça,  e a nossa raiva, tensa. 

em almada, a teus pés, tens o estuário do tejo, 
mas é na solidão do terreiro do paço que eu mais te desejo. 

compro castanhas, quentes e boas, com ternura,
enquanto a vida segue pelas ruas, sujas, da amargura. 

nada disto é fado, é apenas história, indevida, 
ruas do ouro e da prata, de outrora, querida. 

lisboa, 21/3/2011

___________

Nota do editor:

Último poste da série > 16 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17248: Manuscristo(s) (Luís Graça) (115): O compasso pascal

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17323: Efemérides (249): Dia 7, domingo, dia da mãe... O Museu da Marinha oferece bilhetes às mães para a exposição "Vikings - Guerreiros do Mar", composta por 600 peças originais provenientes do Museu Nacional da Dinamarca... A não perder.


O cartaz e o convite é do Museu da Marinha, em Lisboa


A TUA MÃE É UMA GUERREIRA! SERÁ QUE TAMBÉM É VIKING? VENHAM AMBOS DESCOBRIR…

A Marinha Portuguesa irá oferecer bilhetes para o Museu de Marinha no próximo dia 7 de maio a todas as mães.
O Museu de Marinha apresenta ao público a exposição “Vikings - Guerreiros do Mar”, composta por mais de 600 peças originais provenientes do Museu Nacional da Dinamarca.

O termo Viking é habitualmente usado para se referir aos exploradores, guerreiros, comerciantes e piratas nórdicos que invadiram, exploraram e colonizaram grandes áreas da Europa e ilhas do Atlântico Norte entre o final do século VIII e o século XI.

A cultura viking tinha um carácter essencialmente guerreiro, pelo que estes “homens do norte” eram conhecidos pelas suas espadas, sendo que os mais ricos e poderosos tinham as melhores e mais belas.

Mas ficaram também conhecidos pelos seus longos e característicos navios, que também utilizaram para estabelecer rotas de comércio que perduraram durante séculos. 

Traga a sua mãe e venha celebrar o dia da Mãe connosco, venha viajar nesta Aventura Épica, no Museu de Marinha.

Oferta válida para a mãe, na compra do bilhete para o/a descendente. Deverão ser portadores de BI/CC. Os bilhetes apenas poderão ser adquiridos na Bilheteira do Museu de Marinha, não sendo possível a sua compra Online.
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 25 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17283: Efemérides (248): 25 de Abril: Um regime em conspiração (Carlos Matos Gomes, Cor Cav)

Guiné 61/74 - P17322: Homenagem aos limianos que morreram pela Pátria nas guerras do ultramar (Mário Leitão) - Parte IV





Mário Leitão,  farmacêutico reformado, 
residente em Ponte de Lima, ex-fur mil de Farmácia, Luanda, 1971/73. 



(Continuação)








De José da Silva Sousa a  Manuel Fiúza Parente Bouças  (n=14)
.

1. Continuação da divulgação do artigo publicado na Revista Limiana (I Série, 2007-2014, nº 37, abril de 2014, director: José Pereira Fernandes), da autoria do nosso camarada e grã-tabanqueiro Mário Leitão.

Proprietário da Farmácia Lopes, em Barroselas, Viana do Castelo, farmacêutico reformado, residente em Ponte de Lima, ex-fur mil de farmácia, Luanda, 1971/73, o Mário Leitão tem-se dedicado, de alma e coração, à recolha e tratamento da informação relativa aos limianos,  os naturais do concelho de Ponte de Lima, mortos nos TO de Angola, Guiné e Moçambique bem como no continente ou outros territórios, no cumprimento do serviço militar, no período que abarca a guerra  colonial (1961/74).

Júlio de Lemos Martins Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 779,
morto no TO  Guiné em  2/8/1965, por afogamento.  
A lista (52 nomes no total) é enriquecida com fotos e valiosas notas biográficas. Depois dos 24 primeiros nomes (*), publicam-se os 14 seguintes. Os camaradas mortos no TO da Guiné vão assinalados por nós a vermelho (sublinhado). São 4 nesta lista, tendo pertencido às seguintes subunidades/unidades:

DInt 707;
CART 3359 / BART 3844;
CCAÇ 797 / BCAÇ 559,

Não há indicação da unidade a que pertenceu o José da Silva Sousa.

Um dos nossos camaradas limianos que não voltou à sua terra natal foi o Júlio de Lemos, cuja memória já tinha aqui evocada pelo Mário Leitão (**). 


Guiné 61/74 - P17321: Notas de leitura (953): "Buruntuma - Algum Dia Serás Grande - Guiné-Gabú - 1961-63", por Jorge Ferreira (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Abril de 2017:

Queridos amigos,
Num futuro não muito longínquo, os investigadores e todos aqueles que pretendam fazer a historiografia da nossa guerra, terão de se implicar no visionamento destas imagens e nas que se seguiram. Nas que primorosamente Jorge Ferreira organizou temos uma Buruntuma que antevê a guerra, que se fortifica, que vigia as fronteiras. São imagens de encontro, de descoberta, não há ali uma só ruga ou vinco de hostilidade, naquele ponto ermo onde em breve vai troar a artilharia e instalar-se o desassossego permanente. E temos que ter orgulho sabendo de antemão que esses historiadores terão no nosso blogue um fonte documental e imagística ímpar, sem rival. Sim, temos que ter muito orgulho no peso desta memória e no permanente cuidado em dar-lhe acrescento, luminosidade e compreensão.

Um abraço do
Mário


Buruntuma e uma leve reflexão sobre as imagens na História

Beja Santos

Ando há largos meses para ir entregar no Arquivo Histórico-Militar uma resma de fotografias de uma Companhia que andou pela Guiné entre 1959 e 1961, as fotos já estão reproduzidas no nosso blogue, registam a amenidade de uma vida militar que surpreende usos e costumes, com soldados a pescar na bolanha, até se mostra uma ponte em Teixeira Pinto que ficou inacabada, sabe-se lá porquê. Têm estas imagens importância para o estudo da História? Indubitavelmente. Era aquela a paz que havia, uma placidez que se traduzia em percorrer todos os percursos sem os bofes de fora ou o coração contrito, não se anteviam perigos, nem explosões, nem intimidações. Vejamos agora o álbum Burutuma, publicado pelo nosso confrade, com data de Dezembro de 2016, e aqui já referido. São a recuperação de memórias de alguém que viveu na região do Gabu e foi colocado em Buruntuma em 1961, integrado na 3.ª Companhia de Caçadores a comandar 20 militares metropolitanos pertencentes ao Esquadrão de Cavalaria n.º 252 e 20 soldados nativos a quem tinha dado instrução em Bolama. Vamos conhecer a Buruntuma de uma Guiné que dá sinais de efervescência, os Manjacos do Movimento de Libertação da Guiné, procurando antecipar-se ao PAIGC, flagelam S. Domingos e vandalizam Susana e Varela, em meados do ano. Afluem mais contingentes que são disseminados pela província.

As memórias de Jorge Ferreira não estão associadas a nenhuma tragédia, em Buruntuma e arredores vive-se numa relativa acalmia. Jorge Ferreira percorre Pirada, Sonaco, Bajocunda, Piche, Cabuca e outros lugares, envolve-se em ações de vigilância e abastecimento. E parte para Buruntuma, junto da fronteira com a República da Guiné. Regista o património imobiliário existente: casa do régulo, armazém de mancarra, casas comerciais, escola primária, instalações da PIDE. Só existe uma cerca de arame farpado e uns bidões cheios de areia que protegiam a única estrada, saída do armazém de mancarra que lhes servia de aquartelamento. Concebeu-se uma solução que consistiu na abertura de um “poço” no centro do aquartelamento por onde os militares acediam a um túnel que desembocava num sistema de trincheiras que circundava todo o perímetro de defesa, nos cantos puseram-se as armas pesadas. Fizeram-se postos de observação, cavalos de frisa, construiu-se refeitório e cozinha. Com uma pitada de humor fala de um problema insanável, a localização de Buruntuma. “Com efeito, estando a povoação contígua à fronteira, em caso de ataque que não pudesse ser rechaçado, a retirada estava fora de questão. Com efeito, a única que a permitiria, a estrada Buruntuma-Piche corria paralela à fronteira natural – um afluente do rio Corubal, e portanto essa retirada seria facilmente anulada através de emboscadas de guerrilheiros acantonados na margem do rio”. Dito de outro modo, Buruntuma estava entregue à sua sorte.

As ações de nomadização abrangiam o triângulo Buruntuma-Canquelifá-Bajocunda. Contava-se com a inequívoca fidelidade dos Fulas, neste caso com a colaboração do régulo de Canquelifá, instalado em Buruntuma, Sene Sane. O contingente militar fora bem acolhido, integrava vários Fulas. Buruntuma mudou de forma, ganhou outra natureza, não se descuraram as populações locais, deu-se professor à escola, melhorou-se a enfermaria, apareceu médico. Jorge Ferreira concluiu a sua comissão em Junho de 1963, altura em que a guerrilha ganhara alento no Sul, consolidara posições no Corubal e no Morés. O PAIGC terá sérios revezes junto das populações nesta primeira fase, tudo se alterará em 1969 com a retirada de Madina do Boé, de Beli e de Chéche, começarão então a exercer-se pressões sobre o Cossé, e entretanto Buruntuma passará a ser seriamente fustigada a partir da República da Guiné. Como escreve Jorge Ferreira logo em 1964 em vez do seu escasso efetivo vão aparecer 250 homens. Naquele fim de mundo deixava de haver paz.

A paz e os preparativos para a guerra dominam este álbum que tão carinhosamente Jorge Ferreira organizou: a majestade do régulo Sene Sane, a Buruntuma tal como foi encontrada à chegada, a construção das trincheiras, os marcos da fronteira, as ações de nomadização, a preparação de refeições, as viaturas atascadas, os jogos de futebol, os batuques, o fascínio das bajudas, os veneráveis homens grandes, as crianças de sorriso aberto, tecelões, djilas, tocadores de Korá, caçadores, dançarinos, rapazes Papéis, lavadeiras, bajudas Balantas com saia Bijagó.

Não há uma só crispação nestas imagens, a guerra é uma possibilidade mas ainda não se experimentou, daí a expressão de leveza em todos os rostos metropolitanos, à cautela, Jorge Ferreira leu uma obra estimulante “Os Fulas do Gabu”, de Mendes Moreira, ainda hoje uma referência obrigatória para o estudo dos Fulas, anota que há um islamismo impregnado de práticas animistas e feiticistas, descreve a sua habitação, vestuário, enfeites, atividades produtivas. É um lugar ermo, uma fronteira recente, porosa, se bem que exista aquela fronteira natural, um afluente do Corubal que Jorge Ferreira captou em dia de bruma. Estamos perante uma Buruntuma que ainda não viu o ferro e fogo, um punhado de homens, brancos e pretos, ali vivem amistosamente e deixaram o seu largo sorriso para uma posteridade em que os contemplamos com o mesmo agradecimento que endereçamos a Jorge Ferreira que lega este álbum aos seus entes queridos, aos seus camaradas da Guiné, lembrando a todos que naquele terrunho se moldou o seu caráter e se fez homem.

Também enternecidos, agradecemos-lhe a ampla riqueza que é o tesouro destas imagens.


____________

Nota do editor

Último poste da série de 1 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17301: Notas de leitura (952): Guerra da Guiné: Os atores, a evolução político-militar do conflito, as revelações surpreendentes - Apresentação dos três volumes alusivos aos aspetos operacionais na Guiné, da responsabilidade da Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974 (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17320: Agenda cultural (557): Lançamento do livro "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo. Sábado, 6 de maio, às 15h30, em Leiria, no Celeiro da Casa do Terreiro. Apresentação do nosso camarada António Graça de Abreu. O autor fez parte do Grupo dos Amigos da Capela de Guileje.



O convite chega-nos pela mão atenta e solícita do nosso camarada e colaborador permanente José Martins, que tem uma relação especial com Leiria, terra dos seus antepassados. A Textiverso é uma editora com sede em Leiria. O Luís Brnaquinho Crespo deve ter sido alfeeres miliciano num companhia que estve no Xitole / Saltinho, entre 1968 e 1970, é portanto contemporâneo de alguns de nós (BCAÇ 2852, CCAÇ 12...).


Sinopse do livro

Assombrados por lembranças passadas, três homens, entre vários, regressam ao ponto de partida de há muitos anos.

Num percurso atravessado por bolanhas e tarrafos da terra verde de floresta e do chão vermelho e amarelo da Guiné-Bissau, confronta-se esse rio de lembranças e de memórias mais recentes com os registos da solidão e de abandono como os sofridos por Braima Bá e pelo António Pouca Sorte. A que não é alheia uma descolonização pouco exemplar.

É este derramamento doloroso de memórias que percorre o livro e as elas são tão permanentes que nem o regresso pelo deserto afasta aqueles homens daquelas vidas que ficaram para sempre desacompanhadas.

O livro “Guiné - Um Rio de Memórias” é, também, além do mais, uma viagem íntima por um país de inacreditabilidades


Luís Branquinho Crespo - Nota biográfica 
(i) nasceu em 22 de dezembro de 1944 na localidade de Portelas da Reixida, freguesia de Cortes, concelho de Leiria:

(ii) fez os seus estudos no antigo Colégio Correia Mateus e, em seguida, no antigo Liceu de Leiria;

(iii) ingressou depois na Faculdade de Direito de Coimbra, interrompendo o curso por ter sido mobilizado para a guerra colonial na Guiné-Bissau;

(iv) de regresso, ainda frequentou a Faculdade de Direito de Lisboa, mas acabaria por se licenciar na Faculdade de Direito de Coimbra;

(v) exerce a profissão de Advogado em Leiria desde meados dos anos 70 do século XX;

(vi) publicou em Leiria, em 1963, o livro de poemas “Cidade Sem Fim” (70 p., colec. Almagre, n.º 2, capa de Augusto Mota);

(vii) em 1966, ainda em Leiria, foi co-autor da antologia “Almagre 3”, com Levi Condinho, Jaime Fernandes, António Maria de Sousa e Alberto Costa;

(viii) urante o seu percurso liceal, ganhou um 1.º Prémio de Poesia, e, durante mais de um ano, foi o editor da página cultural “Madrugada”,  no jornal “A Voz do Domingo”, também de Leiria;

(ix) tem colaboração dispersa por vários periódicos.

Fonte: Cortesia de Tinta Fresca - Jornal de Arte, Cultura e Cidadania


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 2010 > "A Nossa Senhora de Fátima de Guileje"... A última doação à Capela de Guileje, uma imagem de N. Sra. de Fátima, trazida de Portugal por António Camilo e Luís Branquinho Crespo. Recordamos aqui uma mensagem do nosso saudoso amigo Pepito (1947-2014),  com data de 16/3/2010: 

"Luís: Mais uma importante contribuição dos nossos amigos da Capela de Guiledje, o António Camilo e o Dr. Luis Branquinho Crespo (na foto), que fizeram questão de se deslocarem a Guiledje para doarem a imagem da Nossa Senhora de Fátima à Capela. Este gesto tão bonito, foi acompanhado pelos votos de que esta oferta ajude a Guiné-Bissau a encontrar rapidamente os caminhos da Paz. Abraço. Pepito."

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné Todos os direitos reservados.
______________

Guiné 61/74 - P17319: Parabéns a você (1250): Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 2317 (Guiné, 1968/69)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 4 de Maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17315: Parabéns a você (1249): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716 (Guiné, 1970/72)

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17318: Historiografia da presença portuguesa em África (75): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte IV: No chão fula, Bafatá e Gabu, 6 de fevereiro de 1947...


Guiné > Bafatá > 1958 > Equipa do SCB [Sporting Clube de Bafatá], onde não há um "negro da Guiné"...  Em 6/2/1947, na sua sede,  foi servido um "porto de honra" ao ilustre representante do governo de Salazar, a que "assistiu toda a população branca" (, segundo a notícia da agência "Lusitânia", que a seguir se reproduz...).

Era filial do Sporting Clube de Portugal que, nesta época (1946/49),  era o patrão do futebol português e, de resto,m conotado com as elites... Foi  a época de ouro dos "cinco violinos" (Jesus Correia, Vasques, Albano, Peyroteo e José Travassos).

Foto (e legenda): © Leopoldo Correia (2013) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]











Recorte do Diário de Lisboa, nº 8692 , ano: 26, edição de sábado, 8 de fevereiro de 1947 (Director: Joaquim Manso)


(Cortesia do portal Casa Comum > Fundação Mário Soares > Arquivos > Diário de Lisboa / Ruella Ramos >  Pasta: 05780.044.11043


Citação:

(1947), "Diário de Lisboa", nº 8692, Ano 26, Sábado, 8 de Fevereiro de 1947, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_22334 (2017-5-4)



1. Depois do Cacheu e do Oio, prosseguia, em 6 de fevereiro de 1947, a visita, à Guiné, do subsecretário de Estado das Colónias, engº Sá Carneiro, sendo então governador-geral   Manuel Sarmento Rodrigues.

Já aqui sublinhámos a importância política de que se revestia esta demorada visita, de quase um mês, quer para o governo de Salazar, na conjuntura do pós-guerra e no início do movimento de descolonização, quer para o governador geral Sarmento Rodrigues, um prestigiado oficial da marinha, considerado com um "conservador liberal", com "ligações à Maçonaria" e que apoiava o Estado Novo... Transmontano de Freixo Espada à Cinta, era considerado um  homem "à esquerda" do regime, com afinidades político-ideológicas com Marcelo Caetano, o então ministro das Colónias . Foi governador geral da Guiné entre 1945 e 1949 e será o preferido de Salazar para o lugar de Ministro das Colónias, em 1950, e depois do Ultramar, em 1951.


Manuel Sarmento Rodrigues (cortesia da revista da Revista Militar)

Em diversos postes publicados ao longo da existência de 13 anos deste blogue, temos chamado a atenção dos nossos leitores para o trabalho que Sarmento Rodrigues desenvolveu na modernização de Bissau e outras cidades, e na organização do território,sem esquecer a criação do Centro de Estudos da Guiné, com a excecional colaboração de Avelino Teixeira da Mota, então 2º tenente da marinha,  responsável pelo "Boletim Cultural da Guiné Portuguesa" (que irá dedicar um nº especial, em outubro de 1947, a esta efeméride, o V Centenário).

O engº Rui Sá Carneiro tinha chegado ao território no dia 27 de janeiro de 1947, justamente com a missão de, em representação do governo central, encerrar as comemorações do descobrimento da Guiné, em 1446.

Fonte: Wikipedia
2. Da leitura da notícia da agência "Lusitânia", publicada no "Diário de Lisboa", na sua edição  de 8/2/1947  (pp. 1 e 11), constata-se: 

(i) a tendência para o reforço da aliança das autoridades portugueses as da colónia com o grupo étnico semi-feudal fula;

(ii) a valorização do "chão fula", em especial da região do Gabu, "habitada pelas raças mais civilizadas da colónia" (sic), no dizer do administrador da circunscrição, Luís Correia Garcia;

(iii) a visita protocolar à tabanca do "grande chefe fula" Madiu Embaló";

 (iv) a existência de cavalos, ainda na época, montados pelos régulos fulas e mandingas;

(v) o esforço das autoridades coloniais para combater e erradicar doenças tropicais como a doença do sono;

(vi) o peso relativo da comunidade sírio-libanesa no leste da Guiné;

(vii) a existência de um  campo de aviação no Gabu (e não, ainda, Nova Lamego...) e a inauguração  da nova capela;

(viii) o progresso de Bafatá e o prestígio do clube desportivo local, o Sporting Clube de Bafatá. em cuja sede foi servido um "porto de honra" ao ilustre representante da metrópole, a que "assistiu toda a população branca"...

e, por fim e não menos significativa, (ix) a importância que os seres humanos atribuem às "encenações do poder", em todos os sítios e épocas, tanto os súbditos como os governantes.... A colónia da Guiné, em 19947,  não escapava à regra da ciência política...(LG).
______________



19 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17155: Historiografia da presença portuguesa em África (72): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte I: A consagração do governador geral, o comandante Sarmento Rodrigues, como homem reformador e empreendedor (Reportagem de Norberto Lopes, "Diário de Lisboa", 27/1/1947)

Guiné 61/74 - P17317: Inquérito 'online' (110): as primeiras 25 respostas: dois terços dos participantes estão globalmente satisfeitos com o hotel escolhido como local para o nosso encontro anual


Leiria, Monte Real > Palace Hotel Monte Real > XII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 29 de abril de 2017 > "Foto de família": este ano juntámos 134 camaradas e amigos/as. Mas, para o ano há mais, se Deus, Alá e os bons irãs nos derem vida e saúde.

Foto: © Abel Santos / J. Casimiro Carvalho   (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


I. Questionário (escolher uma das 7 hipóteses de resposta):

"ESTOU SATISFEITO COM O HOTEL ESCOLHIDO COMO LOCAL PARA O NOSSO ENCONTRO ANUAL"



Respostas preliminares (n=25) (até ao meio dia de hoje)



1. Totalmente satisfeito  > 10 (40%)
\
2. Em grande parte satisfeito  > 3 (12%)

3. Satisfeito  > 3 (12%)

4. Assim-assim  > 6 (24%)

5. Não satisfeito  > 0 (0%)

6. Em grande parte não satisfeito  > 3 (12%)

7. Totalmente não satisfeito  > 0 (0%)

II. Camarada, amigo, camarigo:

Prazo de resposta: até 9 do corrente, 3ª feira, às 13h45.

Se participaste este ano ou em anos anteriores (desde 2010), no nosso encontro nacional anual, em Monte Real, responde ao nosso inquérito (diretamente no canto superior esquerdo). 

A tua opinião é muito importante para nós. Queremos chegar às 100 respostas.

Estamos já a preparar o próximo, o XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande, que deverá realizar-se  na 1ª quinzena de abril de 2018.

___________