quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17825: Historiografia da presença portuguesa em África (96): primeira relação de nomes geográficos da Guiné Portuguesa, em 1948, ao tempo do governador Sarmento Rodrigues (Parte II)


Freixo de Espada à Cinta > Lápide evocativa do nascimento de Sarmento Rodrigues (Freixo de Espada à Cinta, 15 de Junho de 1899 / Lisboa, 1 de Agosto de 1979), prestigiado oficial da Marinha de Guerra Portuguesa, político, africanista, homem de cultura, escritor... Homenagem do povo do Freixo, em 20 de junho de 1999.

Transmontano de Freixo Espada à Cinta, era considerado: (i) um "conservador liberal", com "ligações à Maçonaria" e que apoiava o Estado Novo; (ii)  um homem "à esquerda" do regime, com afinidades político-ideológicas com Marcelo Caetano, o então ministro das Colónias; (ii) governador geral da Guiné entre 1945 e 1949, terá sido talvez o melhor dirigente da administração colonial que passou por aquele território, tendo-se encetado com ele um processo, tardio mas irreversível, de modernização da economia e da sociedade guineenses; e (iv)  o eleito por  Salazar para o lugar de Ministro das Colónias, em 1950, e depois do Ultramar, em 1951.

Nessas funções governativas levou a cabo uma vasta reforma da administração colonial portuguesa, tendo visitado o Extremo Oriente, o Sueste Asiático e a África. Entre 1961 e 1964 foi governador-geral de Moçambique. onde terá deixado saudades.

Tem uma extensa obra publicada sobre assuntos navais, de defesa e de administração colonial. Cite-se apenas algumas das suas publicações, relacionadas com a Guiné: Os maometanos no futuro da Guiné Portuguesa (1948), No governo da Guiné: discursos e afirmações (1949), Horizontes para um médico em África: conferência pronunciada no Instituto de Medicina Tropical (em 30/3/1950), A nossa Guiné (1972)...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






















Anexo à Portaria nº 71, de 7 de julho de 1948, do Governo da Colónia da Guiné: alguns anexos (pp. 7, 23, 37, 52, 57, 68, 67, 69, 72)


1. São apenas algumas páginas da extensa  "Primeira Relação de Nomes Geográficos da Guiné Portuguesa" elaborada em 1948 nos tempos do Governador Sarmento Rodrigues, e que nos chegou por mão do historiador Armando Tavares da Silva, membro da nossa Tabanca Grande..

Por ela se pode ver que havia 2 povoações Canchungo, uma na área de S. Domingos e outra na área de Cacheu (p.  23).  O Canchungo, nome gentílico, coexistia com a nova vila, Teixeira Pinto (p. 72).

Quanto à tabanca Portugal, havia dois lugares com este nome: (i) povoação na área de Bolama; e e uma outra na região de Fulacunda, sendo nesta que morava, em 1947, o régulo Bacar Dikel (p. 57).

Gabú era uma circunscrição, Gabú-Sara era uma povoação (p. 37)  e Nova Lamego uma vila tal como Nova Sintra (p. 52). Também existia uma Nova Cuba (p. 52).

Quanto a Aldeia Formosa  (p. 7) esta aparece como uma povoação de Fulacunda, a par de Quebo (p. 57).

Releia-se  o preâmbulo da Portaria de Sarmento Rodrigues e a expressa vontade de normalização da escrita dos nomes geográficos da Guiné (*). Alguns nomes são novos, ou aparecem pela primeira vez: Teixeira Pinto, Nova Lamego, Aldeia Formosa...

Lembre-se, por fim, que Sinchã foi introduzida para designar uma nova povoação fula, acompanhando a "expansão" do chão fula... . Entre elas (e são mais de centena e meia) notámos a a existência de uma Sinchã Comandante (p. 67) e outra Sinchâ Sarmento  (p. 68)... Também, para além de Aldeia Formosa, há mais 3 Aldeias (p. 7). Há ainda, topónimos pouco vulgares ou pitorescos como Algodão, Acampamento ou Achada do Burro (p. 7) ou ainda Quartel (p. 52), Porcoa, Preço Leve (p. 57)...

Desafia-se o nosso leitora a verificar se algumas destes topónimos, aportuguesados, sobreviveram à guerra e à independência...

No nosso blogue há, por exemplo, há várias referências a lugares começados por Sinchã... Destaque para Sinchã Jobel que foi uma base do PAIGC ou "barraca" no regulado de Mansomine (carta de 1/50 mil. Bambadinca).

Sinchã Abdulai (1)
Sinchã Bambe (1)
Sinchã Dumane (1)
Sinchã Jobel (16)
Sinchã Madiu (1)
Sinchã Molele (1)
Sinchã Queuto (2)
Sinchã Sambel (1)

2. Tirando um ou outro nome português, do nosso roteiro poético-sentimental (Nova Sintra, Nova Lamego...), o essencial dos nomes geográficos da Guiné não nos diziam nada, nem tinham que dizer, eram exóticos, pitorescos... mas não suscitavam curiosidade por aí além...  Eu, que não sabia mandinga, só muito mais tarde é que vim a saber que Bambadinca, por exemplo, queria dizer "a cova do lagarto"...

De facto, quem é que se lembraria de ir fazer umas "férias", em 1948,  a Gadamael ou a Pejungunto, ou a Bajocunda ou a Buruntuma... ? Eram nomes completamente estranhos aos militares portugueses que foram aportando a Bissau, a partir de 1961...

Mais pica tinham, na nossa santa terrinha, algumas povoações com  conotações... erótico-satíricas, se não mesmo anatómico-sexuais (ou que se prestam  a trocadilhos, mal entendidos, piadas de mau gosto, brejeirices, etc.).

A própria terra em que nasceu o grande "africanista"  Sarmento Rodrigues... Quem é o "tuga" que já alguma vez foi a Freixo de Espada á Cinta, que ficava lá no  "Cu de Judas" ?...

Aqui vai, a título exemplificativo uma lista de topónimos portugueses que se prestam, muitos deles,  à risota ou à mais série meditação e contemplação... (indica-se o respetivo concelho)... Imaginem agora os nossos futuros conquistadores ou colonizadores de amanhã, em papos de aranha a tentar descodificar o raio desta porno-corografia deste "famoso reino de Portugal", e encontrar um equivalente semântico para as suas línguas (alemão, chinês, árabe...) 

Aldeia da Cuada - Lajes das Flores, Açores

Alçaperna - Lousã

Amor - Leiria

Bexiga - Tomar

Bicha - Gondomar

Buraca - Amadora

Cabeça Perdida - Portimão

Cabrão - Ponte de Lima

Cabrões - Santo Tirso

Cama Porca - Alhandra

Casal do Corta-Rabos - Alcobaça

Casal da Gaita - Lourinhã


Casais Pia do Mestre - Lourinhã

Catraia do Buraco - Belmonte

Cemitério - Paços de Ferreira


Chiqueiro - Lousã

Coina – Barreiro

Coito - (Vários concelhos)

Colo do Pito - Castro Daire


Coxo - Oliveira de Azeméis

Cu de Judas – Ilha de São Miguel, Açores

Cu Marinho - Évora (distrito)


Curral das Freiras - Câmara de Lobos, Madeira

Endiabrada - Aljezur e Odemira

Fandinhães - Marco de Canaveses

Farta-Vacas - Lagos

Filha Boa - Torres Vedras


Focinho de Cão - Aljustrel

Fonte da Rata - Espinho

Margalha - Gavião


Mata Pequena - Mafra

Moita Longa - Lourinhã

Monte do Pau - Évora (distrito)

Monte do Trambolho - Évora (distrito)

Monte dos Tesos - Avis

Montedeiras - Marco de Canaveses

Montoito - Lourinhã

Namorados - Castro Verde

Paimogo -  Lourinhã

Paitorto - Mirandela

Paixão - Celorico de Basto

Papagovas - Lourinhã

Pedaço Mau - Vila Nova de Famalicão

Pena Seca - Lourinhã

Pernancha de Cima - Portalegre (distrito)

Pernancha de Baixo - Portalegre (distrito)

Pernancha do Meio - Portalegre (distrito)

Picha - Pedrógão Grande

Pirescoxe - Santa Iria da Azóia, Loures (a terra em que viu nascer gente operária e militantes comunistas como o nosso camarada Jerónimo de Sousa)

Pitões das Júnias - Montalegre

Porcalhota (apelido de um proprietário de terras que esteve na origem da Amadora)

Pousaflores - Ansião

Punhete - Valongo

Rabo de Peixe - Ilha de São Miguel, Açores

Rabo de Porco - Penela

Rata - (11 concelhos, pelo menos: Arruda dos Vinhos, Beja, Castelo de Paiva, Espinho, Maia, Melgaço, Montemor-o-Novo, Murça, Santarém, Santiago do Cacém e Tondela)

Rego do Azar - Ponte de Lima


Rio Cabrão - Arco de Valdevez

Rio Seco dos Marmelos - Ferreira do Alentejo

Sempre Noiva - Évora (distrito)

Sítio das Solteiras - Tavira

Terra da Gaja – Lousã

Tomates - Albufeira

Traseiros - Oliveira de Azeméis

Triste Feia - Torres Vedras

Vaginha - Vagos

Vale da Rata – Almodôvar

Vale das Pegas - Albufeira


Vale de Viga - Lourinhã

Venda da Gaita - Tomar

Venda da Luísa - Condeixa a Nova

Venda da Porca - Estremoz

Venda das Pulgas - Mafra

Venda das Raparigas - Alcobaça

Vergas - Vagos

Vila Nova do Coito - Santarém

PS - Espero que nenhum leitor leve a mal esta lista corográfica do "Portugal, país porreiro", que nos coube em sorte. A gente tem que nascer em qualquer sítio... E, como diz o nosso povo, "a vida tem uma porta só, a morte tem cem"... 

Muitos destes lugares do Portugal Profundo já deram, por certo, filhos e filhas, ilustres,  bravos e honrados, à Nação... Em todo o caso, não deixa de ser engraçado alguém, escritor com numerosos livros publicados, nascer numa terra como... "Pena Seca"... E eu,  confesso, também teria dificuldades em escolher um sítio para nascer como "Pernancha" (de cima ou de baixo, tanto faz)... 

A língua portuguesa é traiçoeira, é preciso um falante ser especialista na arte de codificar / descodificar... Dito à mesa, "Ó Maria, dá-me o pito", no norte do país, não quer dizer exatamente o mesmo que a expressão,  em crioulo da Bafatá colonial, "parte catota comigo"... (LG)
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quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17824: Os nossos seres, saberes e lazeres (232): Em Moffat, no coração do Sul da Escócia, a explorar os arredores (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 29 de Junho de 2017:

Queridos amigos,
Uma das vantagens de não andar na disciplina da excursões é dispor de tempo para percorrer calmamente uma povoação de um lado para o outro, apreciar o que os outros compram, como se indumentam, o que visitam, estar num café e escutar conversas.
Estava-se em plena campanha eleitoral, mas houve a intuição que os escoceses viviam o prélio um tanto à margem, o matraquear da líder nacionalista escocesa quanto a um segundo referendo não colheu efeito, os nacionalistas voltaram a ganhar mas perderam muitos assentos para os conservadores e trabalhistas.
É bom cirandar nos lagos, parar-se um carro para desfrutar aquelas paisagens únicas em que as colinas declivam para vales fundos onde serpenteiam ribeiros murmurantes enquanto as ovelhas se apascentam sem nenhum constrangimento.
Eram estas as férias singulares que eu tinha encetado em Moffat, no Sul da Escócia, na esplêndida região de Dumfries e Galloway.

Um abraço do
Mário


Em Moffat, no coração do Sul da Escócia, a explorar os arredores (3)

Beja Santos

Moffat já teve umas esplendorosas termas vitorianas, acabou tudo em cinzas, ainda hoje corre o rumor de que foi fogo posto por proprietário endividado. A povoação ressuma bem-estar, não há indicativos de pobreza extrema, os seniores andam cuidados, seja com próteses, seja nas suas cadeiras-viaturas. Tem belos vales, uma correnteza de lagos, um clube de golfe, o hotel mais estreito do mundo e um outro que começou por ser uma casa senhorial que saiu do traço de um arquiteto prodigioso do seu tempo, Robert Adam. Começa-se o passeio no largo de Santa Maria, nos Scottish Borders. As paragens são múltiplas, há recantos formosos, ruínas românticas, cemitérios, anda-se à volta entre Moffat e Selkirk, vai-se até 35 milhas a Sul de Edimburgo.


Com o aperto da fome, viandante e companhia vão comer um prato de empadão num desses restaurantes à beira-rio, neste caso no Yarrow Valley. O que se vê é uma reconstrução com dois anos, laboriosa e bem-cuidada. Um curto-circuito esturricou tudo, ficaram as paredes-mestras. Uma bela exposição fotográfica permite ver o antes e o depois. Nestas coisas do caráter arquitetónico, os britânicos não desarmam, nada de mamarrachos ou novas construções com betão e vidros, a tradição impõe-se. O viandante não dá novidade a ninguém, tem que se ser moderado no que se bebe, em restaurantes do Reino Unido, o vinho é proibitivo, há cervejas gostosas e os pratos trazem pastelões farfalhudos, que se regam com um molho que dá pelo nome gravy, feito com os sucos da carne, Maizena e algo mais, legumes não faltam; o cliente escolhe batata cozida, com ou sem casca (neste caso, abre-se ao meio e mete-se manteiga, é bom que se farta) mas não é incomum ver-se nestes restaurantes comer tudo frito, desde o peixe frito com a batata frita.


Nesta região de Dumfries e Galloway, onde existe uma biosfera reconhecida pela UNESCO, não faltam ovelhas, a lã escocesa tem renome mundial, vendem-se peças para todos os preços, os merinos e caraculos são procurados como peças finas, sem igual no comércio da lã. O viandante está convicto que falta alguma claridade à imagem, é para se saiba que o tempo é instável, a seguir a uma chuvada vem um bom sol e que aquelas nuvens brancas que se vêem ao fundo, sob azul celeste, têm nuvens negras por cima de quem está a tirar a fotografia. É o tempo da Escócia, daí a pastagem dos solos que sustentam estes animais, de manhã à noite, quatro estações por ano.


Falando de Moffat, mostro-vos o principal templo religioso, é da igreja da Escócia, anos atrás pude visitá-lo, é de uma austeridade sem paralelo, agora está permanentemente fechado, só abre para a missa dominical. A fé cristã está a cair a pique, mesmo em Moffat há uma igreja que se transformou em prédio de apartamentos. Felizmente que o viandante irá percorrer algumas abadias (em geral em ruínas); elas ainda guardam sinais de esplendor, as guerras religiosas fizeram desaparecer estatuária, ourivesaria e pintura de incalculável valor. Voltaremos ao assunto.



Há alguma relação entre estas duas imagens, acreditem. O viandante aprecia muito entrar nestes estabelecimentos de miudezas onde se vende traquitana que dá pelo nome de lembrança. Há um assunto nacional que dá pelo nome de trocas postais, bilhetes de aniversário, de Natal, de parabéns pela data do casamento, o mais que se sabe. Na segunda imagem pode-se ver-se à direita uma loja de beneficência, têm hoje um peso social relevantíssimo: aqui se encontra roupa e calçado e chapéus, cortinados, têxteis de todos os tipos, livros, cd’s, tudo o que o leitor quer imaginar, felizmente com uma grande rotação, os preços são competitivos, há livros a meia libra, belíssimos álbuns de música clássica… O viandante irá abastecer-se até o limite, regressará desapontado com as coisas que não pôde comprar.


Mas que grande surpresa, o viandante sempre se habitou a ver cabines e marcos do correio em bom vermelho, preparava-se para meter ali uns postais e deu com um marco de correio completamente dourado, coisa nunca vista. Enfim, a tradição já não é o que era.



Veio-se a este cemitério preitear mortos de família, o viandante não perde a oportunidade para vaguear por estes espaços de calmaria e serenidade. Acresce que há sempre um monumento a recordar os mortos da I Guerra Mundial. Os nomes não dizem nada ao viandante, só aquele cumprimento do dever em que se dá a vida. Pensa-se no sofrimento e ora-se pela misericórdia divina.


O local que se visitou tinha mesmo este nome: Drumlanrig, ali perto se bebeu um café com leite e um scone de queijo de sabor inesquecível. À entrada do carro o viandante deu com esta fachada rara, lembrou-se da azulejaria portuguesa, achou que o desenho era original e tirou fotografia. Fora um dia e peras. Regressa-se a Moffat, o viandante está em pulgas por ir acompanhar a campanha eleitoral, será bem-sucedido no final, na noite das eleições não pregará olho, acompanhará hora a hora um desfecho que muito provavelmente irá mudar o curso da história do Reino Unido dentro da Europa e talvez no mundo.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17800: Os nossos seres, saberes e lazeres (231): Do Yorkshire profundo até Moffat, Sul da Escócia (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17823: Historiografia da presença portuguesa em África (96): primeira relação de nomes geográficos da Guiné Portuguesa, em 1948, ao tempo do governador Sarmento Rodrigues (Parte I)




Governador-geral Manuel Sarmento Rodrigues (1945-1949) [, foto acima,  cortesia da Revista Militar].  





(Continua)


1. "Em bom português nos entendemos"... já em 1948, quando era governador da Guiné (então Portuguesa) o capitão de fragata Sarmento Rodrigues. Foi com ele que se fez um primeiro esforço sério para grafar os topónimos (nomes geográficos) da Guiné, através da Portaria nº 71, de 7 de julho de 1948... Ainda hoje, há um  pequena "Babel linguística" no nosso blogue,  quando escrevemos alguns nomes de terras por onde passámos e que nos são familiares, dolorosamente familiares, nalguns casos.

Por exemplo, deve escrever-se Guileje e não Guilege ou Guiledje... Guidaje e não Guidage.. Bajocunda e não Badjucunda... . Xime e não Chime... Copelão e não Cupelom ou Cupilão ou Pilão... Sinchã e não Sintchã... Sare e não Saré... Nalguns casos, ficaram consagradas grafias erradas como Bafatá (que deveria ser Báfata)...

As cartas geográficas seguiram esta orientação de "aportuguesamento" dos nomes geográficos da Guiné. No nosso blogue (, que é escrito, em geral, em Português europeu...) devemos seguir esta "normalização"  dos nomes geográficos da Guiné que conhecemos.... A "crioulização" do português da Guiné.Bissau é outro problema  (complexo e delicado...) sobre o qual não nos vamos debruçar agora... Na dúvida, perguntamos ao Ciberdúvida da Língua Portuguesa...

Até 1948, as tropelias linguísticas nesta matéria (grafia dos nomes geográficos da Guiné) era confrangedora.  Basta ler um folheto como "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é hoje", da autoria do 2.º Sargento António dos Anjos (Bragança, Tipografia Académica, 1937, c. 97 pp.) que  publicámos no nosso blogue. Cite-se alguns nomes: Gábu, Xôroenque, Sáfim, Gêba, Gade-Mael, Xôro, Bacerél, Sozana, etc.

Obrigado ao nosso amigo Armando Tavares da Silva, especialista da história político-militar da Guiné (1878-1926) que nos fez chegar cópia desta portaria e de alguns dos seus anexos (que vamos publicar em próximo poste).

Aqui fica a mensagem, de ontem do nosso amigo Armando Tavares da Silva:

Luís,

Enviei por WeTransfer 14 páginas da "Primeira Relação de Nomes Geográficos da Guiné Portuguesa" elaborada em 1948 nos tempos do Governador Sarmento Rodrigues.

Por ela se pode ver que havia 2 povoações Canchungo, uma na área de S. Domingos e outra na área de Cacheu. Teixeira Pinto existia e era uma Vila.

Quanto a Portugal, havia uma povoação na área de Bolama e uma fulacunda. A do régulo Bacar Dikel deve ser esta.

Gabú era uma circunscrição e Nova Lamego uma Vila.

Quanto a Aldeia Formosa esta aparece como uma fulacunda, e Quebo outra fulacunda, aparecendo também como povoação na região de Catió (páginas não enviadas).

Curioso é ler o preâmbulo da Portaria de Sarmento Rodrigues e as normas adoptadas para a escrita dos nomes geográficos.

Sinchã foi introduzida para designar uma nova povoação fula. Entre elas notei a existência de uma Sinchã Comandante, outra Sinchâ Sarmento e (entre muitas outras) uma Sinchã Marío (com acento agudo!?).

Espero que isto anime a discussão...

Abraço

Armando
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17819: Historiografia da presença portuguesa em África (95): A intriga política na Guiné, 1915-1917 (Armando Tavares da Silva, historiador)

Guiné 61/74 - P17822: Inquérito 'on line' (126): Em 50 respondentes, 60% diz que há pelo menos um monumento aos combatentes do ultramar no concelho onde mora... Prazo-limite de resposta: sábado, dia 7, até às 20h43


Lourinhã > Modelo > Vista parcial do Monumento aos Combatentes do Ultramar, inaugurado em 2005.  No concelho da Lourinhã. há mais monumentos: na sede, Lourinhã, nas vilas de Atalaia e de Ribamar, e ainda nas povoações de Zambujeira / Serra do Calvo.


Foto (e legenda): © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. INQUÉRITO DE OPINIÃO:

"NO CONCELHO ONDE MORO, HÁ MONUMENTO AOS COMBATENTES DO ULTRAMAR"...

Primeiras 50 respostas (até às 23h00 de ontem)



1. Sim  > 30 (60%)



2. Não  > 12 (24%)


3. Não sei / não tenho a certeza  > 8 (16%)


Votos apurados: 50


Último dia para votar: sábado, dia 7, até às 20h43.

II. Portugal tem 308 concelhos (, 278 no continente, 11 na RA Madeira e 19 na RA Açores). 

Se tivermos mais de 300 monumentos aos combatentes do Ultramar, isso daria praticamente 1 monumento por concelho. (Exclui-se a centena de monumentos existentes, erigidos à memória dos combatentes da I Grande Guerra,)

Nada mais enganador... Há concelhos com mais de um monumento (1 na sede no concellho, um, dois ou mais nalgumas sedes de freguesia). E há concelhos sem nenhum...

Camarada, ajuda-nos a identificar esses concelhos que estão em falta... 
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Guiné 61/74 - P17821: Parabéns a você (1321): Artur Conceição, ex-Soldado TRMS da CART 730 (Guiné, 1965/67) e Inácio Silva, ex-1.º Cabo Apont AP da CART 3732 (Guiné, 1970/72)


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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17818: Parabéns a você (1320): Cor Ref Carlos Alberto Prata, ex-Capitão, CMDT da CCAÇ 4544/73 e CCAÇ 13 (Guiné, 1973/74), e Hélder Valério Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF (Guiné, 1970/72)

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17820: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (5): 4.º Dia: Bissau, Safim, Bula, Có, Pelundo, Canchungo, Bachile e Cacheu (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)


1. Continuação da publicação das "Memórias Revividas" com a recente visita do nosso camarada António Acílio Azevedo (ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72, Bula e da CCAÇ 17, Binar, 1973/74) à Guiné-Bissau, trabalho que relata os momentos mais importantes dessa jornada de saudade àquele país irmão.

AS MINHAS MEMÓRIAS, REVIVIDAS COM A VISITA QUE EFECTUEI À GUINÉ-BISSAU ENTRE OS DIAS 30 DE MARÇO E 7 DE ABRIL DE 2017

AS DESLOCAÇÕES PELO INTERIOR DA GUINÉ-BISSAU (5)

4º DIA: DIA 02 DE ABRIL 2017 - BISSAU, SAFIM, BULA, S.VICENTE, INGORÉ, S. DOMINGOS, SUSANA, VARELA E PRAIA VARELA

Como tínhamos de véspera combinado ir neste dia visitar o norte da Guiné, saltámos da cama por volta das 07,00 da matina, pois um dia longo nos esperava pela frente.

Engolido o pequeno-almoço, tomámos lugar nos 4 jeeps e iniciámos a viagem com destino final na Praia Varela, zona de etnia “Felupe”, passando por Safim, pela ponte Amílcar Cabral construída sobre o Rio Mansoa, por Bula, visita que deixámos para o dia seguinte, passámos sobre a nova ponte de S. Vicente, que liga as localidades de S. Vicente e Ingoré à saída da qual parámos para a foto da praxe, atravessámos Ingoré, que também decidimos visitar no regresso e efectuámos a primeira paragem em S. Domingos, situada a cerca de 5 quilómetros de Mpak, fronteira com o Senegal, pois daqui até Varela eram 52 quilómetros que teríamos que percorrer em estrada de terra e com muitas covas.

Entrámos num pequeno bar/restaurante da localidade, onde reencontrámos 3 casais portugueses que fizeram a viagem no mesmo avião que de Lisboa nos levou a Bissau e andavam a conhecer a Guiné.
Um pouco de conversa, uma bebida fresca, porque já estava muito calor e um pequeno passeio a pé pela zona central desta localidade e eis-nos de novo a caminho, percorrendo aos “esses”, esta autêntica picada que, na época das chuvas deve ficar quase intransitável e obrigará os habitantes destas localidades (Susana e Varela) a utilizar a via fluvial até à cidade do Cacheu, situada do outro lado deste largo rio.
Mais ou menos a meio do caminho, efectuámos uma paragem na povoação de Susana, onde no tempo da guerra colonial se sediava uma Companhia de militares do Batalhão de S. Domingos, a fim de desentorpecemos o corpo e as pernas, ficando algo tristes ao vermos as instalações do antigo quartel completamente degradadas.

Com tristeza, encontrámos aqui dois antigos memoriais das nossas tropas quase completamente destruídos e abandonados, mas ficámos um pouco admirados com a presença, junto à estrada, de um habitante de Susana, a vender garrafas e garrafões com gasolina para as motorizadas, porque, segundo nos contou, a partir de S. Domingos não existem postos públicos de venda de combustíveis.
Pessoa simples e afável, que estava acompanhado de um filhote com cerca de 5 anos, contou-nos um pouco da sua vida e dos seus familiares e da ilusão que para ele e seus pais, tinha sido a independência do País. Sintomático e elucidativo da vida destas gentes…

Arrancando pouco depois, chegámos à localidade de Varela, mas resolvemos continuar até à denominada Praia Varela, que dali distanciava 5 quilómetros, pois um dos motivos desta nossa deslocação era, pelo menos molhar nos pés nas tépidas águas do Oceano Atlântico.
Saindo dos jeeps, efectuámos um curto passeio a pé até ao mar, atravessando uma zona de dunas, constatando, passados uns minutos, que um grupo de 5 senhoras, ficaram com a carrinha Toyota metida nas areias até ao eixo. O motorista guineense, bem tentava retirar a viatura, mas cada vez mais a enterrava.
Fomos em seu socorro, informando-nos que eram quatro médicas e uma enfermeira italianas, que estavam numa missão de apoio solidário e voluntário no Hospital de Bissau e aproveitaram a folga do fim-de-semana para irem até à Praia Varela.

Com muito custo e apenas com a ajuda e força de dois dos nossos jeeps, conseguimos tirar de lá a Toyota em que as médicas se faziam transportar.
Como este “salvamento” demorou bastante tempo a concluir, a nossa intenção de virmos almoçar a S. Domingos gorou-se e resolvemos almoçar no “Aparthotel Chez Helléne”, na povoação de Varela, aproveitando as médicas a nossa boleia e indo elas também lá almoçar.
Surgiu, porém, um pequeno contratempo, pois como não estavam a contar com tanta gente para almoçar (só nós éramos 12, mais 3 motoristas), a que se juntavam mais 6 pessoas (5 italianas e o motorista), tivemos que esperar que descongelassem a carne o que nos atrasou cerca de 2 horas, mas no final tudo ficou bem e as italianas ficaram muito gratas pela nossa acção de interajuda.

Com esse atraso, no regresso parámos somente na localidade de Ingoré, uma pequena vila que nos pareceu bastante comercial e com grande movimento de pessoas, não sem que antes nos detivéssemos uns minutos a observar a extracção e produção do sal, que apanhavam do solo de uma das bolanhas junto à estrada por onde circulávamos, tendo sido já de noite, que chegámos a Bissau.

Foto 37 - S. Domingos (Guiné-Bissau): Descanso no pequeno bar/restaurante da localidade, estando na mesa ao nosso lado, os 3 casais que viajaram no mesmo avião em que nós fomos

Foto 38 - S. Domingos (Guiné-Bissau): Vista aérea da vila, onde se vê a povoação, a pista de aviação e na parte superior direita, a picada, em terra batida, que a liga às localidades de Susana e Varela. A rua que do centro se abre para a direita da foto, vai ligar a fronteira senegalesa de Mpak. Em primeiro plano as instalações do Quartel
Foto: © José Salvado (2016). Todos os direitos reservados

Foto 39 - Susana (Guiné-Bissau): Edifício do Comando da última Companhia de militares que aqui esteve estacionada

Foto 40 - Susana (Guiné- Bissau): Antigas e arruinadas instalações do antigo aquartelamento
Fotos e legendas: © Pepito/ AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) (2007)

Foto 41 - Susana (Norte da Guiné-Bissau): Bela foto de um natural desta terra, com o seu filhote, que, em bancada idêntica à que se vê na imagem, vendia garrafas e garrafões de gasolina para motos

Foto 42 e 43 - Praia Varela (Norte da Guiné-Bissau): Duas fotos minhas. Na primeira, a molhar os pés na tépida água do Atlântico e na seguinte, junto à água, a filmar a paisagem para o lado norte

Foto 44 - Praia Varela (Norte da Guiné-Bissau): Mais um conjunto de banhistas da areia seca (da direita para a esquerda: Rebola, Vitorino, Rodrigo, Cancela e Isidro)

Foto 45 - Varela (Norte da Guiné-Bissau): No Aparthotel "Chez-Helléne", aguardando, com cara de fome o almoço.

Foto 46 - Ingoré (Guiné-Bissau): Jardim de Infância
Foto: © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados

Foto 47 - Ingoré (Guiné-Bissau): Descarga de material diverso, para o Jardim de Infância
Foto: Com a devida vénia a Tabanca de Matosinhos & Camaradas da Guiné

Foto 48 - Antotinha (Guiné-Bissau): Moutinho, Azevedo e motorista Armando, junto à nova ponte sobre o Rio Cacheu

Foto 49 - S. Vicente (Guiné-Bissau): Nova ponte construída sobre o Rio Cacheu

Foto 50 - Rio Cacheu (Guiné-Bissau): O antigo e velho cais de S. Vicente/Antotinha, onde actualmente existe a nova ponte

Fotos: © A. Acílio Azevedo

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17804: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (4): 3.º Dia: Bissau, Safim, Bula, Có, Pelundo, Canchungo, Bachile e Cacheu (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)