sexta-feira, 15 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4349: Convívios (131): Pessoal do BCAÇ 2884, em S. Pedro do Sul, no dia 9 de Maio de 2009 (José R. Firmino)

1. O nosso camarada José Rodrigues Firmino, ex-Soldado Atirador da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884, Jolmete, 1969/71, em 11 de Maio, enviou-nos estas notícias do Encontro do Pessoal do seu Batalhão:


ALMOÇO CONVÍVIO DO BCAÇ 2884 "MAIS ALTO"

Teve lugar no passado dia 2009-05-09 em S.Pedro do Sul o XIX Convívio Anual com recepção no Largo da Câmara Municipal, por volta das 11h00. Uns e outros chegados com cabelos já brancos, e alguns quilitos a mais, após os cumprimentos da praxe, do contar de algumas histórias que são muitas nos tempos vividos naquela ex-Povíncia Ultramarina da Guiné enquanto militares, sempre valentes e corajosos tantas vezes ignorados jamais esquecidos.

Por volta das 12h30 já com parte da conversa em dia, rumamos à Igreja de Bordonhos no local atrás citado, onde todos assistimos à celebração da Santa Missa por alma dos camaradas já falecidos.

Tratadas que estavam as almas, convite para cuidar os estômagos com o almoço convívio servido e bem na Casa do Paço de Bordonhos, em S. Pedro do Sul, onde nada faltou, até a boa disposição que sempre deve reinar em nossos corações.

Depois dos estômagos aconchegados as gargantas regadas com tinto, branco, sumos, ou mesmo água, seguiu-se a escolha do local para o XX convívio que será na Cidade da Guarda, onde esperamos todos poder estar novamente com saúde paz e alegria.

Termino com um bem haja ao organizador Pinto da Costa.

Da minha parte fica aquele abraço.
Firmino

Para mais tarde recordar

Bolo Comemorativo

Ex-Fur Mil Lino ladeado pelo Zé Carlos (Famalicão).

Pascoal, Régua e ex-Alf Mil Ferreira

Vieira Pinto e o Lima

Vieira Pinto e o Montemor
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4343: Convívios (128): Pessoal da CCS/BCAÇ 2845 no passado dia 9 de Maio, em Sintra (Albino Silva)

Guiné 63/74 - P4348: Questões politicamente (in)correctas (38): Os nossos queridos nharros (José Teixeira)

1. A propósito do vocábulo nharro (que tinha no passado colonial e ainda tem hoje, para alguns falantes da língua portuguesa, uma conotação racista, pejorativa, ofensiva) (*), não resisto a recuperar um velho texto do nosso querido camarada e amigo, o Zé Teixeira, já publicado na I Série do nosso blogue (**).

É um belíssimo texto, hoje esquecido, de difícil acesso, mas que eu continuo a subscrever de alma, coração e mente abertos... (Eu, editor L.G., aqui com dois queridos nharros, da CCAÇ 12, na foto à esquerda, em Finete, Cuor, no 2º semestre de 1969)...

Não é preciso lembrar - a não ser eventualmente para os periquitos da Tabanca Grande - que o Zé foi talvez dos poucos que, graças ao seu papel de enfermeiro (e também por mérito pessoal, pela sua generosidade, coragem, inteligência emocional e demais qualidades humanas), conseguiu saltar a barreira da espécie: ele, tuga, foi aceite e amado pela população fula, e ainda hoje tem verdadeiros amigos, fulas, lá Guiné-Bissau profunda... Ele é amado, mimado, adorado quando lá volta (e, segundo creio, já voltou duas vezes, em 2005 e 2008)...

Devo acrescentar que o termo nharro, que nós usávamos no nosso calão de caserna, na Guiné, e nomeadamente na zona leste, não tinha propriamente uma conotação racista... Minto: cheguei uma vez por outra a ouvir o termo como sinónimo de preto, barrote queimado... Rascistas, puros e duros ? Com certeza, que os havia, embora minoritários, na Guiné de Spínola... No meu tempo, não se pode dizer que eles se manifestassem abertamente, bem pelo contrário... Conheci alguns, em Bissau, que não perdoavam a Spínola a sua política da Guiné Melhor...

O que posso acrescentar é que o significado da palavra dependia dos interlocutores, do contexto da comunicação, do tom de voz, da entoação... Tal como os palavrões, bem duros para a sensibilidade auditiva das gentes do sul, que ainda hoje se ouvem no Norte duriense e minhoto, puro e duro... (onde, de resto, o palavrão é sempre uma manifestação de ternura e de afecto, no círculo familiar e de amigos).

Não sei qual é a origem do termo, provavelmente é crioulo da Guiné. Ele ainda não consta do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, mas continua a fazer parte da língua portuguesa viva, uma língua fêmea, uma das línguas mais abertas, plásticas, generosas, criativas e procriadoras que eu conheço... Já o vi traduzido por gandarro, massaro, pessoa ignorante, sem conhecimentos, num sítio brasileiro ...

Continua, por outro lado, a fazer parte do calão dos nossos jovens urbanos e suburbanos... Já vi inclusive a utilização do termo, num blogue, como adjectivo: tuga nharro (ou português ignorante)...

Em suma, que me perdõem os puristas, os ortodoxos, os politicamente correctos, mas vou continuar a utilizá-lo, nomeadamente em (con)textos literários e poéticos, embora sempre em itálico, como por exemplo quando evoquei a morte do meu primeiro soldado, justamente a meu lado, na zona da Ponta do Inglês, Xime, no dia do meu baptismo de fogo, em 7 de Setembro de 1969:

(...) O que interessa é que chorei por ti,
Confesso que chorei por ti,
Que morreste a meu lado,
E que levavas um prisioneiro,
Teu irmão,
Pela mão.
E que não eras meu irmão.
Nem grande nem pequeno.
Nem tinhas a mesma cor de pele.
Nem a mesma religião.
Nem a mesma língua.
Nem a mesma pátria.
Nem o mesmo continente.
Não comias carne de porco
Nem bebias água de Lisboa.
Eras apenas um guinéu,
Um nharro,
Soldado-atirador
De 2ª classe.
Ganhavas 600 pesos de pré.
Um saco de arroz por mês
Para alimentar a tua família.
Para mim, eras apenas um homem,
Da espécie Homo Sapiens Sapiens.
A única que chegou até aos nossos dias.
O primeiro que eu vi morrer a meu lado.
Nunca mais chorei por ninguém.
Chorei por ti, Ieró Jau.
Chorei de raiva. (...)

Luís Graça


Mas voltemos ao Zé Teixeira, o nosso Esquilo Sorridente, o nosso tabanqueiro das primeiras horas, um dos fundadores e animadores da Tabanca de Matosinhos, o talentoso colaborador do nosso blogue (cujos textos já mereciam um livro!), o homem sensível e solidário, o nharro mais nharro de todos os tugas que passaram pela Guiné...

Não é um texto qualquer, é uma página de antologia, arrancada do coração onde se faz um sentida homenagem aos órfãos de Pátria, aos nossos queridos nharros... É também um dedo acusador, apontado ao Estado português...

Obrigado, Zé, ninguém saberia dizer isto melhor do que tu!

O José Teixeira foi 1.º Cabo Enfermeiro na CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70.

Ei-lo aqui, no Saltinho, trinta e cinco anos depois, em 2005, com a mulher, Adada, do actual Régulo de Sinchã Shambel, Suleimane Shambel Baldé, filho do Régulo Shambel, de Contabane (em 1968/70).

Um belo exemplo do que é a hospitalidade fula: " A Adada, filha do Aliu de Mampatá, a oferecer-me um ronco para nha mindjer, um lindo colar que tirou do seu pescoço". (LG)


Aos nossos queridos nharros...

por Zé Teixeira


Tropa africana, que connosco deram o seu sangue suor e lágrimas, por Portugal, com toda a carga emotiva, de carinho e afecto que a palavra nharro possa conter.

O programa aparecido na TV (***) teve pelo menos o condão de nos pôr a reflectir, a nós que durante cerca de dois anos convivemos diariamente com a tropa africana, fiel a Portugal e não ao regime, como alguns tentam deixar passar.

O conceito de mãe-pátria, Metrópole, Lisboa, estava arreigada naquela gente, não pelos políticos, mas pelos portugueses brancos que por lá foram passando, muitos dos quais para cumprir penas de índole criminal e quantas vezes por estarem em desacordo com os políticos e as políticas exercidas em Portugal.

Era um conceito forte, de esperança e de orgulho. Foi com eles que eu aprendi quanto se deve respeitar a bandeira do meu País. Com que orgulho eles a saudavam (e toda a população) no hastear e arrear diário. Gesto que ainda hoje se repete. Há um ano em Bissau, [em 2005, ] pude testemunhar o toque de hastear no quartel da Amura e a reacção de toda a população na rua exterior, até onde era possível ouvir o toque.

Era este conceito de filhos de Portugal, aliado naturalmente à propaganda da época e aos benefícios financeiros que os faziam alinhar ao nosso lado com a sua experiência e conhecimento de logística local, dos carreiros das tabancas inimigas, dos perigos desconhecidos para um europeu ingénuo, para quem tudo era estranho, desde o clima ao modo de estar em sociedade, à floresta com os seus segredos e perigos, às técnicas de guerrilha usadas pelo adversário.

Pergunto:

- Quem de nós, periquitos, não sentiu ao chegar, uma mão amiga, um sorriso e um alerta para um eventual perigo ?

- Quem nos orientava na Tabanca, na busca de uma lavandera bonita e jeitosa ?

- Quem nos avisava dos perigos da floresta, abelhas, formigas, cobras ? (Aos bloguistas que se deram ao trabalho de lerem o meu diário (****), recordo a cena do ataque de abelhas e a forma como um milícia cujo rosto não fixei que me agarrou por um braço, me escondeu atrás de uma árvore e me aconselhou a ficar rigidamente quieto até elas, as abelhas, se irem embora. Foi assim que aprendi a não ter medo de abelhas e tanto jeito me fez no segundo ataque que sofri mais tarde.)

- Quem nos indicava à chegada o melhor sítio para tomar banho, no rio para tomar banho sem correr perigo ?

- Quem nos arranjava os frangos e os cabritos para as tainas, para esquecer as mágoas ?

- Quem se prontificava a ajudar o colega do morteiro, o enfermeiro (Bons amigos que tive e recordo com saudade), no transporte do equipamento, etc. ?

- Quem ainda hoje apesar de tão desprezados pela mãe-pátria, como costumavam dizer, nos recebem com um carinho e afecto, que só quem lá foi consegue entender e apreciar ? (Vi e senti lágrimas, recebi abraços longos e quentes, passados 35 anos de separação).

- Quem servia o meu País e desprezava o seu país, deixando mulheres e filhos da outra banda (Kebá de Empada, meu querido amigo, recordo as conversas que tive contigo, sobre as tuas duas mulheres e os teus filhos que optaram pelo outro lado, quanto tu sofrias quando eras atacado! Porque te recusavas a ir comigo para o mato!).

- Quem, debaixo de fogo, avançava de peito aberto para o Inimigo (eu testemunhei), protegendo-nos (quantos de nós tão acagaçados, que não cabia um feijão no buraquinho) convencidos que era esse o caminho certo para o seu País ?

- Quem vergonhosamente os abandonou, deixando que tantos fossem assassinados pelos seus conterrâneos, só porque estavam do lado errado, quando politicamente correcto Portugal admitiu que não tinha saída, a não ser dar a oportunidade a um povo de construir e seguir o seu próprio destino ?

- Quem a partir desse momento os deixou órfãos de Pátria, obrigando-os a irem procurar a sua pátria que até então lhe garantiam não existir, sem qualquer preocupação de lhe dar o prémio merecido por tudo quanto fizeram em nome e para Portugal ?

- Quem lhe traiu todas as promessas de uma Guiné melhor, com Portugal ?

Sinto vergonha. Estão-me na memória os Sambá, os Adbulai, os Ussumane, os Amadu, os Aliu, os Braima, os Mamadu, tantos outros, que conheci e com quem convivi sadiamente, que me acompanharam em tantos encontros com o adversário e que merecem ser considerados filhos de Portugal, pelo que fizeram, pelo que sentiam e ainda sentem, pela alegria que expressam quando nos vem chegar.

Quantos deles assassinados por incúria de Portugal, quantos andaram anos fugidos no mato, deixando a família nas mãos dos adversários, quantos ainda não reconstruíram as suas vidas, quantos sofrem o stress de guerra, quantos morreram à fome, quantos passam fome, por falta de trabalho. Não sabiam fazer mais nada a não ser guerra.

Telefonou-me há dias o Quintino Procel, de Empada. Esse conseguiu fazer no meu tempo a 4ª classe e seguiu a carreira de enfermeiro, sendo hoje o enfermeiro-chefe em Canjadude. Quando em 2005 passei por Empada, procurei-o.Alguém o informou da minha presença e o seu telefonema chegou um ano depois:
- Tissera, tu vai na Guiné e não fala comigo ? Eu na tem casa em Canjadude. Bó na vem e firma lá. Eu fico triste, manga dele, por não ver Tissera. - Foram estas palavras que guardei no coração passados 35 anos.

Creio que ainda há algum tempo para Portugal olhar para esta gente. Não pode desperdiçar esta oportunidade.

Creio que nós, antigos combatentes, ainda podemos fazer algo por eles. No mínimo ir visitá-los(os que puderem), testemunhar-lhes a nossa amizade, tanto quanto eles nos deram a deles. Permitir que sintam e vivam essa alegria de não sentirem que foram esquecidos, por aqueles que, como eles, deram sangue, suor e lágrimas, por uma Pátria que, não sendo actualmente a deles, se deve sentir orgulhosa de os ter tido como filhos, embora de 2ª...
Zé Teixeira

[Revisão / fixação de texto: L.G.]


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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 11 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLIII: Aos nossos queridos nharros (Zé Teixeira)

(**) Vd. poste de 14 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4341: Questões politicamente (in)correctas (38): Abuso e abuso do termo 'nharro' (Zeca Macedo / Henrique Matos)

(***) Vd. post de 6 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXX: Ex-comandos africanos, 'órfãos de Pátria', reportagem na RTP 1 (José Martins)

(****) Vd. post de 14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVI: O meu diário (Zé Teixeira) (fim): Confesso que vi e vivi

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4347: Fichas de Unidades (1): A CCAÇ 16 (Teixeira Pinto, Bachile e Churobrique, 1970/74) (José Martins)

Companhia de Caçadores nº 16  

A Companhia de Caçadores nº 16, do recrutamento provincial, foi organizada no Centro de Instrução Militar, em Bolama, em 4 de Fevereiro de 1970.

Resultou, como a maioria das subunidades africanas, não só da “africanização da guerra”, mas também á quase impossibilidade, do recrutamento da metrópole, poder alimentar as necessidades das então províncias.

A guerra não grassava só na Guiné, com uma área semelhante ao actual Alentejo, mas, em Angola e Moçambique, onde se abriam novas frentes de combate, também reclamavam novos reforços.

A subunidade era constituída, à semelhança das outras congéneres, por quadros (Oficiais, sargentos e praças especialistas) metropolitanos que enquadravam tropas naturais. Neste caso de etnia Manjaca.

Na data de formação, não tinha ainda todos os efectivos, mas foi colocada em Teixeira Pinto em 04 de Março de 1970, destacando dois pelotões para Bachile, passando a estar integrada no dispositivo do Batalhão de Caçadores nº 1905, substituindo a Companhia de Caçadores nº 2658, que se encontrava em reforço no sector.

A 30 de Abril de 1970, já com o quadro orgânico de pessoal completo, e deslocada para Bachile, onde assume a responsabilidade daquele sector, então criado, ficando na dependência do batalhão que ali se encontrava.

Passa a depender do CAOP 1 (Comando de Agrupamento Operacional) em 28 de Janeiro de 1971 e, a partir de 01 de Fevereiro de 1973, do Batalhão de Caçadores nº 3863 e do Batalhão de Caçadores nº 4615/73, que assumiram, a seu tempo, a responsabilidade do sector em que aquela subunidade estava integrada.

Destacou forças para colaborar nos trabalhos de reordenamento de Churobrique.

Em 26 de Agosto de 1974, desactivou e entregou o quartel de Bachile ao PAIGC, recolhendo a Teixeira Pinto, onde foi extinta a 31 de Agosto desse ano.

Assumiram o comando desta subunidade, os seguintes oficiais:

  • Capitão de Infantaria Rolando Xavier de Castro Guimarães
  • Capitão de Infantaria Luciano Ferreira Duarte
  • Capitão Miliciano de Infantaria José Maria Teixeira de Gouveia
  • Capitão do Quadro Especial de Oficiais José Mendes Fernandes Martins
  • Capitão de Infantaria Abílio Dias Afonso
  • Capitão Miliciano de Artilharia Luís Carlos Queiroz da Silva Fonseca
  • Capitão Miliciano de Infantaria Manuel Lopes Martins

Esta subunidade não tem História da Unidade. Há apenas registos, considerados muito incompletos, relativo aos períodos de 1 de Janeiro a 31 de Setembro de 1972 e de 1 de Janeiro a 31 de Dezembro de 1973, que se encontram depositados no Arquivo Histórico Militar, caixa nº 130 – 2ª Divisão/4ª Secção. 

Guiné 63/74 - P4346: Os bu...rakos em que vivemos (10): Também havia um em Nova Lamego (Luís Dias)

1. Mensagem de Luís Dias (*), ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872 (2), Dulombi e Galomaro, 1971/74, com data de 11 de Maio de 2009:

Caro Carlos

Depois da leitura sobre a maravilhosa Estância de Férias do Mato-Cão (**), excelentemente descrita pelo Camarigo Joaquim Mexia Alves e de outras descrições, não menos deliciosas sobre as condições em que fomos sobrevivendo nessa Guiné, eu, tive melhor sorte porque andem em locais bem mais arejados, como Dulombi, Galomaro, Piche, Bambadinca, Nova Lamego, Pirada, etc. No entanto, envio uma foto das magnificas instalações, que foram fornecidas ao 2.º Grupo de Combate da CCAÇ 3491 (Dulombi/Galomaro), quando esteve de intervenção ao serviço da CAOP 2, nos meses de Novembro e Dezembro de 1973.
O mais incrível é que o local, não era em qualquer bura..ko da zona leste, não senhor... situava-se na própria cidade de Nova Lamego. Os soldados colocaram uma cruz na entrada... onde escreveram, como se vê, "Os abandonados de Galomaro" e, pasme-se, nunca fui abordado pelos superiores para que eles retirassem aquele cartaz, de cariz moderno e tão embelezador daquele Spa.

Pois era nesta bela mansão que o Bando por mim comandado habitou, sentindo-se uns privilegiados, por estarem neste paraíso, em especial por já terem 23/24 meses de Comissão e não estarem habituados a estes luxos.

Um abraço para os editores e para todos os Tertulianos
Luís Dias
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 25 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4249: Blogpoesia (41): "Para quê, Soldado?" (Luís Dias)

(**) Vd. poste de 11 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4321: Os Bu...rakos em que vivemos (9): No Mato Cão, com o Ten-Cor Polidoro Monteiro, em finais de 1971 (Paulo Santiago)

Guiné 63/74 - P4345: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (16): Emboscada nocturna no Olossato

1. Mensagem de Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, (, Mansabá e Olossato, 1968/70), com data de 17 de Abril de 2009:

Amigo Carlos,
Aqui vai mais um artigo da CCaç 2402.

Um abraço para ti e para os outros editores "desenfiados".
Um bom trabalho para todos e até ao convívio.
Raul Albino


Emboscada Nocturna no Olossato

A 21 de Agosto de 1969, o 3.º pelotão foi incumbido de fazer a protecção nocturna do aquartelamento. Todos os dias era escalonado um grupo de combate para fazer o patrulhamento nocturno aos arredores do quartel, com a conjugação de emboscadas nos locais de possível infiltração do inimigo com intuito de desencadearem ataques às nossas instalações.

Neste dia coube-me a mim e ao meu grupo essa missão. O patrulhamento nocturno não era propriamente uma pêra doce. Especialmente em dias sem lua, não se via um palmo diante do nariz, os mosquitos atacavam de noite sem que pudéssemos utilizar os habituais repelentes pelo seu intenso cheiro que poderia ser detectado, isto sem contar com o vício dos fumadores que desesperavam por não poder acender os cigarros, pela luminosidade e cheiro que produziam, denunciando a nossa posição ao inimigo.

A experiência que já possuíamos nesta altura tinha demonstrado que, nas deslocações diurnas, o inimigo tinha vantagem porque conhecia perfeitamente o terreno e, nas deslocações, podiam perfeitamente dispersar-se para melhor nos combater, visto as nossas tropas se deslocarem invariavelmente unidas e em fila. Éramos pois um alvo facilmente detectável e muito simples de emboscar. Nas deslocações nocturnas o inimigo já não tinha vantagem em se dispersar, com receio de dispararem uns contra os outros, em contrapartida as nossas tropas, que continuavam a movimentar-se em fila, quando detectava o inimigo podia facilmente orientar o seu fogo na direcção correcta e com toda a sua intensidade. Senão vejamos, só no primeiro ataque a Có o inimigo se deslocou de noite para nos atacar pela manhã, enquanto em todos os outros cinco ataques, a deslocação foi feita de dia para efectuarem os ataques ao anoitecer. Eu, se fosse o inimigo, procederia da mesma forma, se verificasse que as tropas portuguesas patrulhavam os arredores do aquartelamento durante a noite. Em conclusão, esta nossa forma de actuação era dura para quem saía, mas era segura para quem descansava no quartel.

Uma vista do aquartelamento do Olossato

Material apreendido durante a emboscada da noite de 21 de Agosto de 1969

Assim, neste dia, pelas 19,30 horas, já noite, o 3.º grupo de combate detectou a aproximação de um grupo inimigo, avaliado em cerca de 20 elementos, armados de Lança Granadas Foguete, Morteiro 60 e várias armas automáticas, que caiu na nossa emboscada, sendo violentamente atacado pelas nossas tropas. A surpresa do ataque, não permitiu ao inimigo qualquer tipo de reacção efectiva, sendo-lhe feita uma perseguição imediata onde, em debandada, abandonou no terreno 1 LGF RPG-2, 3 granadas de LGF RPG-2, 1 Pistola Metralhadora PPSH, 50 cartuchos de PPSH e 50 cartuchos de espingarda. A figura mostra o material apreendido. O inimigo sofreu dois mortos e vários feridos, tendo as nossas tropas sofrido unicamente um ferido ligeiro.

Como a perseguição durante a noite não era muito eficiente e tornava-se até perigosa, porque a certa altura já não se sabia quem era turra ou milícia, pedi ao quartel que efectuasse fogo de morteiro pesado para a posição do contacto, ao mesmo tempo que fazíamos uma retirada rápida do local para não apanharmos com as granadas em cima.

O tiro de morteiro do quartel mostrou-se muito certeiro e eficiente, não deixando ao inimigo qualquer vontade em regressar. Devido à pouca visibilidade, só no dia seguinte de manhã, um grupo de milícias encontrou no terreno a restante parte do material abandonado pelo inimigo e se pôde avaliar com mais rigor o resultado do confronto da noite anterior.

Análise recente feita a esta operação:

Devo confessar que, na altura, julguei que aquele grupo IN se deslocava no terreno com destino a outras paragens.

Já durante a compilação dos factos mais importantes da companhia, que deram origem à publicação do livro “Memórias de Campanha de CCaç 2402”, dei pela particularidade dos ataques aos aquartelamentos coincidirem com ausências do nosso comandante de companhia, conforme descrevo no meu anterior post P4182, onde exponho a minha opinião de que, se tivéssemos identificado nessa altura a coincidência desses ataques em relação com a ausência do comandante, poderíamos tirar proveito da estratégia do inimigo, simulando uma ausência e emboscando o inimigo com todo o potencial que tivéssemos disponível.

Só no ano passado eu analisei melhor a operação acima descrita e as conclusões foram as seguintes:

1 - O ataque anterior foi a 31 de Julho de 1969.

2 - Esta emboscada foi a 21 de Agosto de 1969, também ao anoitecer.

3 - A emboscada feita pelo meu grupo foi perfeitamente rotineira, de protecção exterior ao aquartelamento.

4 – O comandante de companhia encontrava-se ainda de férias na metrópole neste dia, ficando a substituí-lo o alferes mais velho que está comigo na foto junto ao espólio do contacto.

5 – O inimigo não ia de passagem para outras paragens, mas sim atacar o quartel do Olossato mais uma vez.

6 – O contacto com o inimigo foi portanto acidental.

Imagine-se agora que a nossa força no terreno era superior a um grupo de combate e com melhor armamento e que estávamos a emboscar, não em rotina, mas aguardando intencionalmente a muito provável chegada do inimigo. Eles não tiveram reacção digna desse nome porque foram completamente surpreendidos com o contacto, quase tanto como nós, diga-se em abono da verdade. Por isso mesmo, apesar do pesado revés nas suas intenções e estratégia, uma grande parte do grupo conseguiu fugir ileso. De notar que os grupos IN em deslocação para ataques a quartéis, tinham uma fragilidade, iam carregados de material pesado e com dificuldades de movimentação, só voltando a ficar mais ligeiros depois de descarregar as munições em cima do aquartelamento.

Se a emboscada tivesse sido premeditada e planeada de outro modo, o resultado seria outro, disso não tenho a menor dúvida.

O Alf Mil Brito (que substituía o CMDT) e eu próprio segurando duas granadas de RPG2 e o restante espólio abandonado pelo grupo IN.
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Nota de CV:

Vd. poste de 14 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4182: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (15): O primeiro ataque ao Olossato

Guiné 63/74 - P4344: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (12): Homenagem dos Homens Grandes de Guiledje a Coutinho e Lima (Camisa Mara / TV Klelé)



Mensagem dos Homens Grandes de Guiledje (sic) ao Cor Art Ref Alexandre Coutinho e Lima (antigo comandante do COP 5, responsável pela decisão da retirada de Guileje, em 22/5/1973), por ocasião do lançamento do seu livro A Retirada de Guileje: a verdade dos factos

Quatro depoimentos, gravados no antigo aquartelamento e tabanca de Guileje, em 2/12/2008: Aladje Mamadu Djaló, 57 anos; Amadu Coiat, 57 anos; Asana Silá, 50 anos; Camisa Mara, 51 anos (e não 30, como por lapso, se indica nas legendas).

Ficha técnica > Imagem: Alimo Djaló ; Antunis Sanca. Reportagem: Amarildo Mendes. Edição: Demba Sanhá. Colaboração: Inácio M. Mané. Produção: Televisão Comunitária de Klelé. Dezembro de 2008.

Vídeo gentilmente cedido ao nosso blogue pela TV Klelé e pela AD - Acção para o Desenvolvimento. O portador do vídeo foi o Prof Doutor Eduardo Costa Dias (ISCTE, Lisboa), a quem estamos gratos.

Vídeo (5' 38''): You Tube > Nhabijoes (2009). Direitos reservados.



Transcrição de carta, manuscrita, assinada por Camisa Mara, endereçada ao Cor Art Ref Coutinho e Lima (na foto, à esquerda, em Guileje, 1973) e que acompanhou o vídeo (*):

República da Guiné-Bissau, Região de Tombali, Sector de Bedanda, Secção de Guiledje, Guiledje, 4-12-08

Exmo. Amigo Major Coutinho e Lima:

Antes de tudo desejo-lhe uma boa saúde e felicidade, um bom fim do Ano e excelente novo Ano, longa vida no seio do povo português.

E faço-lhe saber que sou Camisa Mara, residente em Guiledje, e faço parte das 660 pessoas que salvaste da morte na última batalha de Guiledje no mês de Maio de 1973, entre os militares portugueses e os militares do P.A.I.G.C. (Bissau).

Major, queremos ser ou somos a tua família, baseando-nos no passado ou na prolongação da nossa vida a partir de 1973, por autorizares o abandono de Guiledje com destino a Gadamael Porto. Neste contexto vamos valorizar a História da Guiné – Guiledje e o Major Coutinho e Lima.

Sou Camisa Mara nº 678-92-43 (...)

[falta uma linha na fotocópia da carta a que tive acesso]

[ Transcrição / fixação de texto: L.G.]

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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 5 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4282: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (11): Heróis... (Constantino Costa, Sold CCav 8350, 1972/74)

Vd. também o último poste da série A retirada de Guileje, pror Coutinho e Lima> 24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3932: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (23): Resposta do autor do livro a António Martins de Matos (Parte II)

Guiné 63/74 - P4343: Convívios (130): Pessoal da CCS/BCAÇ 2845 no passado dia 9 de Maio, em Sintra (Albino Silva)

1. Mensagem de Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Guiné, 1968/70com data de 10 de Maio de 2009:

Caro Camarada Carlos Vinhal
Envio-te aqui um Blog sobre o Convívio da Minha Companhia, CCS/BCAÇ 2845 - Guiné, o qual desejava ver na Nossa Tabanca Grande se isso te for possível.

O endereço é o seguinte:

http://batcac2845guineteixeirapinto.blogspot.com/

Sei que estou sendo um pouco maçador, mas a verdade é que tenho dado o endereço de nossa Tabanca a vários Camaradas, e os mesmos estão deveras interessados em ver Nossa Tabanca.

Agradeço desde já todo o trabalho que vão tendo comigo.

Obrigado,
Albino Silva



2. Com a devida vénia, apresentamos o texto inserido na Página do BCAÇ 2845, só com algumas correcções na pontuação, para não alterar muito o texto original.

Pois é Camaradas foi assim este nosso encontro em que houve alegria durante todo o tempo em que estivemos presentes.

Tivemos Camaradas que vieram pela primeira vez e sei que gostaram. Tivemos outros que têm vindo poucas vezes e também continuam a gostar. Depois tivemos aqueles que ao longo dos Anos não falham às Formaturas.

Foi Lindo, e o Miguel está de Parabéns pela Organização onde nada falhou, e todos nós reconhecemos isso mesmo.

Foi anunciado o Convívio para 2010, este a ser Realizado pelo Albino Silva e pelo Guerra, e se não houver nada em contrário será em Buarcos "Figueira da Foz" no Restaurante TAMARGUEIRA, que se encontra debruçado sobre o Mar, pois de lá teremos boa oportunidade de vermos o NIASSA a passar, e até se houver visiblidade, poderemos de lá ver a Guiné-Bissau. Por isso Camaradas em princípio será no dia 1 de Maio, e queremos que vós todos que estivestes em Sintra venham todos e se possível trazer aqueles que continuam teimando em não vir, alguns dos quais recebem as cartas e nada dizem.

Se calhar porque se esqueceram daquele lema em que nós dizíamos,"todos por um, um por todos"
Se calhar por vergonha, o que sinceramente não acredito.
Se calhar com medo de gastar mais uns cêntimos, pois conheço casos de Camaradas que tudo tem, mas que não têm tempo para para se encontrar com aqueles que Ano após Ano se preocupam em querer saber deles, e talvez nunca saibam aquilo que é tão Lindo e Saudável que e a C.C.S. se mantiver unida é sempre Aquela Companhia.

Cabe a cada um de nós dar um pouco de coragem a outro Camarada mesmo que seja teimoso, e trazê-lo no próximo convívio, e tudo para que o Ronco seja maior.

Nós que temos comparecido sabemos o quanto tem sido Lindo e sabemos que na hora de nos despedirmos uns dos outros, ja ficamos com Saudades para mais um Ano.

No Próximo Ano completamos assim 40 Anos de Regresso da Guiné onde fomos Excelentes e Valorosos , e por isso ainda hoje o somos, porque sabemos Recordar aquele passado na Guiné, concretamente em Teixeira Pinto de que nos lembramos bem, e ainda recordamos os serviços à Ponte, Serviços à Enfermaria, Guardas ao Quartel e Reforços, Guardas à Central e Fortim, os Alfa Sierra nas transmissões os Panelões e a fumaça das cozinhas, o Roncar das Viaturas.

Lembrámo-nos da Bolanha e do bom camarão, Ostras e das Manjacas que lá iam à pesca, também daquele peixe que muitas vezes nos serviu de Alimento quando falhavam os Ciclistas a Teixeira Pinto, sempre confeccionados pelos então famosos cozinheiros da C.C.S. e seus Básicos.


3. E agora umas quantas fotos retiradas da referida Página

Um minuto de Silêncio em homenagem a Camaradas da companhia já Falecidos

Da esq. Rodrigues ex Fur. ao Centro, Amona e na Dt, 2º Sarg. Guerreiro, Actualment Major...

Ex Furrieis e companhia em largos sorrisos

A Honra da presença do Sr Major Fernando Guerreiro Duarte Nunes, que na C.C.S. era ainda 2º Sargento

Ovarense, Albino, Dr.Maymon e Vieira... Neste encontro muito nos honrou o Dr. Maymon Martins Com a sua Presença. Foi a segunda vez que respondeu a chamada e teve um excelente comportamento na formatura, pois a todos transmitiu grande alegria e deixou-nos a promessa de para o Ano voltar para fazer grande Ronco celebrando os 40 Anos de nosso regresso da Guiné.

Aqui o Guerra informava do Convívio para o proximo Ano

Bolo de Aniversário da C.C.S. que assim comemorou o primeiro Ano na Guiné-Teixeira Pinto. 1 de Maio de 1968 a 3 de Abril de 1970

A Partilha do Bolo pelo Dr. Maymon Martins Enquanto que era cantado os Parabéns à Companhia
__________

Notas de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4339: Convívios (127): 32º Encontro de pessoal da Base Aérea Nº 12 e Outros, dia 30 de Maio, em Vouzela (Victor Barata)

Guiné 63/74 - P4342: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (18): Devemos manter o dedo no gatilho (Manuel Maia)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Maia (*), ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, (1972/74), com data de 7 de Maio de 2009:

Apesar do continuado e calculado silêncio com que temos vindo a ser brindados por sua excelência excelentíssima, continuo a entender que enquanto o pedido formal de desculpas não surgir, deveríamos manter o dedo no gatilho, na posição de fogo, até ao dia em que a criatura tenha um rebate de consciência e entenda que deve descer do alto do pedestal onde ajudamos a colocá-lo, (deve-nos portanto a ascensão ao cocuruto no concernente à hierarquia militar...) largar o etéreo onde paira qual querubim ou serafim e descer a este inferno que todos tivemos e ainda temos, este lugar de luta quotidiana sem a rede ou guarda-chuva protector do estado, e mostrar, uma vez que seja, que é moldado da mesma massa de que são feitos os muitos milhares de anónimos militares, esses sim heróis porque milicianos, heróis porque sofreram na carne todas as vicissitudes, heróis porque deram tudo de si mesmos sem nada pedirem em troca, (contrariamente às excelências excelentíssimas, únicos beneficiados a todos os níveis com a guerra), heróis porque nunca regatearam esforços, heróis porque souberam ser solidários no sofrimento a que as excelências excelentíssimas estavam dispensadas, porque no inferno de Bissau os tiros só ecoavam quando algum wayneano western passava na sala do UDIB... e finalmente heróis porque lutaram até à exaustão, longe dos gabinetes com ar condicionado onde se arquitectava a traição, patrocinada por algumas excelências excelentíssimas, que da tropa só pretendiam ordenados chorudos e penduricalhos p´ra farda sem um minimo de risco...

É em nome desses heróis anónimos que tombaram para sempre no teatro de operações que devemos exigir a reparação deste ultraje, deste insulto, desta ignomínia, deste vomitar nojento de verborreia viscosa e pestilenta como a que sua excelência excelentíssima debitou no programa de Joaquim Furtado.

Escrevamos ao jornalista, enviemos-lhe, em nome dos camaradas mortos, a expressão do nosso mais vivo repúdio manifestado aqui mesmo desde a data que mediou entre a
passagem do filme e o dia de hoje, de amanhã...

Não desistamos, levemos até ao fim esta obrigação para que possam descansar em paz sem se revirarem, enojados, nos tumulos cavados pela grei e pela sem vergonhice dos responsáveis militares da altura.

É tempo de lavarmos a honra daqueles que foram nossos amigos, nossos irmãos naquelas horas de sofrimento.
Saibamos merecer esse encargo!

Depois dum enxovalho e vil ofensa,
um simples ralho, um grito, a voz mais tensa,
dispara a raiva, atiça a indignação.
Protestos contra AB direccionados,
são gestos, já se vê, desesperados,
mas prenhes de justeza e de razão...

Muletas da ascensão nesta carreira,
os bandos são jogados p´ra lixeira,
perdido o seu interess temporário...
De cima da estrelada posição,
sobranceria sobra ao figurão,
na pose de emproado legionário...


Manuel Maia


2. Comentário de CV

O nosso camarada Manuel Maia não desarma.
Com um pouco de atraso, aqui deixamos as suas últimas impressões e convite à indignação colectiva, em nome dos que já não têm voz, porque o acaso da guerra os silenciou.

Um abraço Manuel
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(*) Vd. último poste de 6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4290: Blogpoesia (45): História de Portugal em Sextilhas (Manuel Maia) (III Parte): II Dinastia, até ao reinado de D. João II

Vd. último poste da série de 30 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4268: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (17): Até que a voz me doa (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P4341: Questões politicamente (in)correctas (38): Abuso e abuso do termo 'nharro' (Zeca Macedo / Henrique Matos)

1. Mensagem do nosso camarada Zeca Macedo (ou Zeca Macedo, para os amigos), um cabo verdiano da diáspora, que foi Fuzileiro Especial no DFE 21 (Cacheu e Bolama, 1973/74), e que hoje é advogado nos EUA, para onde imigrou em 1977 (*).

Virgínio:

Li num Post de hoje, 12 de Maio, e não quis acreditar.: "Estando Mato Cão na berra com a última estória do Jorge (sempre surpeendente) e do Mexia Alves sobre o Bu...rako onde esteve com os nharros do 52 que eu ensinei" (...) (**)

Nharros do 52? Estará ele a referir-se aos Caçadores Nativos, chamando-os de Nharros, 43 anos depois? Ser+a que chamará de Nharro, na cara dele, ao Marcelino da Mata?

Quando alguém critica o Cor Coutinho e Lima ou chama de Bandos os soldados (não foi bem assim), cai o Carmo e a Trindade; contudo, quando se chama de Nharro (pior dos piores pejorativos) aos soldados nativos, ninguém (a não ser eu?) protesta.

Foi só um desabafo de um Fuzileiro que esteve num destacamento de Fuzileiros Especiais Africanos.

José J. Macedo, Segundo Tenente
DFE 21-Guiné

Jose J. Macedo, Esquire
Law Offices of Jose J. Macedo
392 Cambridge Street
Cambridge, MA 02141
Tel. (617) 354-1115
Fax (617) 354-9955


Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio, de Mário Beja Santos > O primeiro comandante do Pel Caç Nat 52 (Porto Gole e Enxalé, 1966/68), Henrique Matos, com o Queta Baldé, seu antigo soldado. O Henrique, açoriano, vive em Olhão e é, como se costuma dizer entre nós, um verdadeiro camarigo. Não apenas camarada, não apenas amigo, um camarigo, um tabanqueiro de cinco estrelas. (Atenção que tabanqueiro quer dizer "membro da nossa Tabanca Grande", do nosso blogue; em Bissau, pode ter hoje um conotação pejorativa, quando o termo é utilizado pela comunicação social ou pela elite política: habitante de uma tabanca, rural, campónio, saloio)...

Foto: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.


2. Resposta na volta do correio, por parte do editor L.G.:

Meu caro Zeca Macedo:

Eu conheço bem o Henrique Matos, comandou o 1º Pel Caç Nat 52, composto por gente valorosa, guineenses, fulas e outros (na zona de Porto Gole, Enxalé, a norte do Rio Geba)... Ele usa a expressão nharros, sem qualquer conotação racista, antes pelo contrário, com carinho... Tal como eu a uso, queridos nharros, referindo-me a homens que foram/são meus camaradas e amigos... Repara: tal como usamos o termo tugas (que também é/era depreciativo)... Sem complexos!

Admito que possa haver leituras como a tua... Em termos do processo de comunicação, temos aqui a dupla questão da denotação/conotação... Para mim e para o Henrique Matos, o termo tem outra conotação: usamos a palavra com afecto, por muito estranho que te pareça...

Eu sei que vives no States, no país do politicamente correcto, e que este termo (nharro) aí seria um insulto... No nosso blogue, num contexto descomplexado, pós-pós-colonial, parece-nos inofensivo.... Repara que temos para os antigos soldados guineenses que lutaram contra o PAIGC, ao nosso lado, uma série que se chama Os Nossos Camaradas Guineenses... Acho que isto diz tudo...

Resumindo: Seria bom que o termo viesse em itálico, ou com aspas, ou que não fosse sequer usado... Obrigado por estares atento. É por estas e por outras que estamos a precisar de um provedor do leitor do blogue... Best regards. Luís


3. Novo comentário do José Macedo:

Obrigado pela resposta. Sei que quando dizes Nharro não é racismo, contudo, o importante não é o que pensa quem o diz, mas sim que o recebe. Acho que nos EU não é que sejamos politicamente corretos (sem o "c" devido a politicamente correta reforma ortográfica).

Penso sim que se trata de um processo evolutivo. Chegou-se a esse ponto de sensibilidade depois de uma longa luta pelos direitos civis dos negros. É o que está a contecer agora com os casamentos entre gays e entre lesbians. Não aconteceu de repente. Existe todo um passado de luta. Em Portugal, infelizmente, tal (ainda) não aconteceu.Continua a ser um pais de brandos costumes.

Um abraço amigo,

Zeca Macedo

4. Comentário, politicamente correcto (***), do nosso querido Henrique Matos:

Caro Luís:

Fiquei como se costuma dizer de boca aberta com o comentário ao meu poste. Para quem me conhece só faltava mesmo poder pensar-se que usei o termo nharros com qualquer intuito racista. Enfim... mas a tua defesa foi óptima.

Abraço
Henrique Matos
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Notas de L.G.

(*) Vd. último poste deste nosso camarada > 10 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P4009: Blogoterapia (96): Não chorarei a morte do Nino (Zeca Macedo, ex - 2º Ten DFE 21, Cacheu e Bolama, 1973/74)

Vd. também:

13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2532: Tabanca Grande (56): José J. Macedo, ex-2º tenente fuzileiro especial, natural de Cabo Verde, imigrante nos EUA

2 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3014: Fuzileiro uma vez, fuzileiro para sempre (José Macedo, EUA)

(**) Vd. poste de 12 de Maio de 2009 >Guiné 63/74 - P4328: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (6): Atolado no Mato Cão, com a CCAÇ 1439, a madeirense do Enxalé

(***) Vd. último poste desta série que, ultimamente, não tem sido muito usada... > 4 de Novembro de 2007> Guiné 63/74 - P2237: Questões politicamente (in)correctas (37): RTP: As baixas da guerra (Paulo Raposo)

Guiné 63/74 - P4340: O Nosso Livro de Visitas (61): Amizades muito especiais (Branco Alves)

Meus Caros Luís Graça & Camaradas da Guiné,  
Há alguns meses ao procurar a palavra Guiné deparei casualmente com algo que desconhecia, ou seja este admirável Ponto de Encontro dos ex-militares que, de passagem por aquela Terra, se transformaram de adolescentes em homens numa rápida, difícil e desconhecida transição. 

Tenho saboreado, por um lado com alguma tristeza mas por outro com um pouco de orgulho escondido, a generosidade da juventude daquele tempo que se entregou, dando a própria vida em muitos casos, e o esforço e dedicação em tudo o mais que lhe era exigido, com um esgar de esforço num momento breve para no seguinte irradiar a satisfação do sorriso no cumprimento da obrigação. 
Algumas vezes viajo acompanhando os excelentes contadores de histórias  no deambular das suas narrativas que tão sabiamente transmitem a sua vivência daquele tempo. Obrigado a Todos... e que apareçam muitos mais. 

Tenho adquirido, sempre que possível, alguma literatura respeitante ao tema da Guiné-Bissau e acompanho com bastante preocupação o desenrolar sinuoso da vida daquele país; há algum tempo algumas publicações, referidas no blogue, chamaram a minha atenção, vou encontrando uma por outra, mas há uma delas que por mais voltas que tenha dado em livrarias não consigo encontrá-la e trata-se de "PAMI NA DONO, A GUERRILHEIRA", da autoria de Mário Vicente Fitas, será possível encaminharem-me no sentido de obter essa publicação? Agradeço e fico a aguardar a vossa informação, se assim o entenderem. 

Bem meus caros certamente que perguntarão, e com bons motivos, quem é este pendura; pois estive na Guiné entre Fevereiro de 1970 a Janeiro de 1972 em Empada, Buba e Bissau, integrado na CART 2673 - Leões de Empada, como Alferes Miliciano e o meu nome é Branco Alves.  
Um Grande Abarço Para Todos,   
(Branco Alves) 
_________ 

Nota de MR: 

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4339: Convívios (129): 32º Encontro de pessoal da Base Aérea Nº 12 e Outros, dia 30 de Maio, em Vouzela (Victor Barata)

Amigo Luís,  
Junto o programa do nosso 32º Encontro de Pessoal da Base Aérea Nº 12 e Outros.  
Mais uma vez esta grande "FAMÍLIA" se vai juntar, desta vez com o maior numero de participantes até hoje reunidos.  
Um abraço,  
(Victor Barata)  



Guiné 63/74 - P4338: Tabanca Grande (140): Vítor Oliveira, ex-1.º Cabo Especialista da FAP, BA 12, 1967/69

1. Mensagem de Vítor Oliveira, 1.º Cabo Melec da FAP, BA 12, Guiné, 1967/69:

Amigo Luís
Aqui está o meu pedido de adesão.
1.º Cabo Especialista Melec - 1.ª de 1966
Estive na BA2 e Escola Militar Electromecânica entre 20 de Janeiro de 1966 e 19 de Abril de 1967.
No AB1 entre 20 de Abril e 8 de Outubro de 1967.
Na BA12 entre 9 de Outubro de 1967 e 31 de Maio de 1969.
Na BA4 entre 31 de Maio de 1969 e 12 de Janeiro de 1970.

Era conhecido na terra do branco pelo Canéças e na Guiné pelo Pichas.
Moro actualmente em Canéças. Estou reformado.
Um pormenor Benfiquista a sério.
Luís um abraço.


2. Honório e eu num abrigo em Madina de Boé. A nossa sorte

Estávamos em Nova Lamego a fazer proteção à coluna para Madina, quando um dia, pela manhã, carregam um caixão forrado a pano preto na DO para Madina. Aparece o Honório e diz-me:
- Pichas vamos a Madina.

Eu disse-lhe a gente lá nem tempo tinha para beber um copo. Quando íamos a Madina nem parávamos o motor.

No meio desta conversa apareceu um cabo do exército que pediu ao Honório se o levava, porque nunca tinha andado de avião. Ainda lhe perguntei se sabia onde se ia meter.

Bom, lá descolámos os três e eis que quando passávamos o rio, vinha uma coluna na direção do Cheche. O Honório quando a vê, toca de fazer as suas habilidades e o nosso cabo começa de gritar ao gregório, que não se podia estar dentro da DO.

Quando aterrámos, disse ao cabo para ir buscar água para lavar o avião.
Veio um alferes e um cabo num unimog que nos convidaram para irmos beber um copo. De repente ouvem-se uns tiros. Ao alferes e aos cabos nunca mais os vi. Eu e o Honório deitámo-nos debaixo da DO. O pessoal do quartel começou a chamar-nos. Levantámo-nos e lá vêm mais uns tiros. Ficámos debaixo do unimog e só à segunda tentativa conseguimos entrar no abrigo.

Abrigo esse em forma de L. Entrámos lá para dentro, para o fundo. Puxei dum cigarro, tremia como varas verdes, e o Honório a gozar comigo. Passada talvez meia hora e depois do pessoal do quartel ter mandado umas morteiradas lá para os montes, diz o Honório:
- Pichas vamos embora.

Perguntei pelo cabo, foram à sua procura e vi-o sair do abrigo em frente, havia salvo erro duas ou três tabancas. De novo se ouvem uns tiros e então ele entra a correr pelo abrigo dentro, dizendo-me que ali é que se estava bem.

Ao fim de mais uma hora, lá desatámos a correr para a DO. Foi chegar, pô-la a trabalhar e descolar, a rapar, direito ao monte.

Posso dizer que os nervos eram tantos que consegui fechar a porta da DO com o cinto de fora, meti a mão na janela, mas parti o acrilico da porta. Isto porque o inimigo tinha lá um artista a quem chamavam Osvald (que matou o Kennedy) e que punha o quartel em alvoroço.

Fui lá algumas vezes levar munições nas DO. Devemos ter sido os únicos da FA a conhecer aqueles abrigos.

Felizmente a sorte esteve do nosso lado.

Já agora gostava que me explicassem como é que aparece em livros editados fotografias de um T6G em reparação em Madina, uma vez que a pista mal dava para as DO e ficava no meio dos montes.

Um abraço
Vitor Oliveira

Este é T6G 1791 que um alferes periquito mandou para o capim perto de Madina

Aqui é pessoal a desmontar o todo o material que foi possivel.esta operação foi feita com a proteçção dos paraquedistas

Já não me lembro deste pessoal a não ser do sarg.ajudante Manuel Matacão

Este é o avião que o brigadeiro Hélio viu quando da retirada de Madina de má memória e que eu assisti

A carcaça ficou lá depois de incendiada


3. Comentário de CV:

Caro Vitor Oliveira, finalmente entraste nesta Tabanca de tropa, dita, macaca, onde se pode encontrar elementos da tropa especial, de que tu és um bom exemplo.

Muito obrigado por te juntares a nós e aos teus camaradas da FA que já colaboram neste Blogue.

Como sabes, além de Especialistas, temos Caçadores Pára-quedistas, Pilotos-aviadore e até uma Enfermeira Pára-quedista. Uma panóplia completa. Estás em família, portanto.

Temos cá umas fotos tuas que iremos publicar brevemente, logo mantém-te atento e poderás, mais tarde, enviares mais umas coisas para publicação.

Em nome da tertúlia e especialmente dos teu camaradas da FA, deixo-te um abraço.
CV
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4329: Tabanca Grande (139): Francisco Santos, ex-militar da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau, Bafatá - 1963/65)

Guiné 63/74 - P4337: (Ex)citações (28): o 10 de Junho, o Santo Condestável e o Hino de Portugal (José Martins)

Boa tarde Camaradas,
Conforme está previsto e já difundido, vi o programa das cerimónias para comemorar o encontro de combatentes deste ano.
Como está indicado, e bem, vai ser prestada uma homenagem a D. Nuno Alvares Pereira, Condestável e Santo. Também foi, como já referi em data anterior, um dos primeiros combatentes em África, pelo que temos algo a ver com ele, porque além de também ser Patrono da Infantaria Portuguesa, nós, aqueles a quem chamam antigos ou ex- combatentes, fomos os últimos combatentes portugueses em África.
No entanto, o que me leva a escrever à Comissão Organizadora do Encontro, e em especial ao seu presidente Tenente General Alípio Tomé Pinto, é que, quando a banda presente tocar o Hino Nacional, não esteja ninguém a cantar, a solo, o nosso hino.
Como em encontros anteriores, que houve destacadas figuras do mundo musical que se enganavam na letra, deixem que sejam as nossa vozes roucas a cantar.
Roucas, da idade;
Roucas, da emoção,
Roucas, do desgaste que têm;
e, sobretudo,
soluçantes, porque ao entoar o Nosso Hino, não deixaremos de pensar em quem, antes de nós e desde 1143, se entregou à causa de defender a Bandeira das Quinas, entregando, a própria vida, no cumprimento de um dever sagrado, ao Jurar Bandeira.
E que não venham novos velhos do Restelo dizer que, quando estavam na cerimónia de Juramento, não moveram os lábios. O Juramento à Pátria não é exterior, é interior e pessoal. E é a soma de todas estas vontades individuais, que faz a grandeza da Pátria.
Que se entoe o Hino, entre lágrimas e sorrisos, mas que seja a voz dos Combatentes que, mais uma vez, se levante e se faça ouvir por Portugal.
(José Martins)
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Nota de MR:
Vd. último poste da série em:
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Ver também:

Guiné 63/74 - P4336: Controvérsias (17): A acção do IN, face à circunstância, permite julgamento de modo diferente? (António Matos)

1. Texto enviado por António Garcia Matos (*), ex-Alf Mil da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, com data de 1 de Maio de 2009:

Concordo com o Miguel Pessoa na sua relutância em abraçar o seu inimigo. Não concordo, porém, que ele (Miguel) fosse o inimigo.

Há já algum tempo decidi que, se a saudade me fizesse sentir a necessidade de voltar à Tabanca, fá-lo-ia com redobrada expectativa como se de uma operação se tratasse, prescutando aqui, ouvindo atentamente os sons dali, tentando enquadrar a realidade momentânea, e desferir um eventual ataque caso visse postas em perigo as minhas convicções e os meus credos.

Voltei hoje, e rápido me vi empolgado em participar num contacto após a leitura do post P4271 (**) do meu homónimo António Matos, ainda que de Garcia nada tenha mas de Martins não desdenhe.

Essa leitura levou-me a outras e dou por mim a magicar numa frase do Luís Graça ao dizer que o Miguel Pessoa já não podia apertar a mão (***), quiçá dar um abraço, ao homem (Caba Fati) que o tentou matar (falava do strella com que o alvejara) pois este já tinha falecido.

Sempre defendi que a história não pode nem deve ser contada sem o distanciamento que o tempo imporá sob pena de darmos a conhecer versões tolhidas pelo calor dos acontecimentos e com a objectividade ferida por algum facciosismo.
Apreciei a frontalidade do Miguel ao expôr com verticalidade o seu repúdio a tal cumprimento ainda que não desprezasse o respeito pelo combatente inimigo.
Mas estes 37 anos que me separam daquela realidade deixam-me ver, claramente visto (numa perspectiva pessoal) a grande diferença existente numa tentativa de liquidação dum inimigo no corpo-a-corpo com a destruição dum avião.

Na situação do corpo-a-corpo (emboscada ou flagelação), a destruição do inimigo passava pelo atingimento explícito do corpo do combatente e o troféu seria vê-lo dobrar pelos joelhos numa clara manifestação de derrota.
Tenho para mim que ao apontar uma arma pesada a uma avião e toda a logística que se lhe associa, não haverá a ideia que o inimigo seja outra coisa que não a aeronave.

Deixem-me ficar com esta convicção pois não estou nada a ver pegar numa G3 e calcular o cockpit onde estava o piloto e tentar acertar-lhe entre os olhos !
O objectivo será o avião em si e não o piloto pelo que não concordo com a expressão... o homem que te tentou matar...

Provavelmente esta discussão poderia ser endossada para um âmbito meramente filosófico só não sei se há interessados nela.
Talvez o Miguel
Talvez o Luís Graça
Talvez o Matt Hurley
Eu próprio, definitivamente.

Abraços generalizados e desculpem se a polémica não vos merecer atenção especial.
António Matos ( Garcia )
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4296: Espelho meu, diz-me quem sou eu (2): António Matos

(**) Vd. poste de 1 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4271: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (10): Respondendo ao João Seabra (António Martins de Matos)

(***) Vd. poste de 28 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4258: FAP (27): Miguel, já não poderás apertar a mão ao homem do Strela que te quis matar... O Caba Fati morreu em 1998 (Luís Graça)

Vd. último poste da série de 9 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3587: Controvérsias (12): Chicos, furras e ripanços em Catió, 1968 (Jorge Teixeira)