Guiné > Zona Leste > Sector L2 (Geba) > CART 1690 (1967/69) < Destacamento de Banjara > Foto do Jaime Estêvão, morto em por um estilhaço de morteiro, no ataque ao destacamento, em 24/7/1968...
Guiné > Zona Leste > Sector L2 (Geba) > CART 1690 (1967/69) < Destacamento de Banjara > O Sold Jaime Estêvão, natural de Ourém, à esquerda....
Guiné > Zona Leste > Sector L2 (Geba) > CART 1690 (1967/69) < Destacamento de Banjara > Uma terceira foto do malogrado Sold Jaime Estêvão, lançando-se para a "piscina" à pai Adão...
Fotos: © Alfredo Reis / A. Marques Lopes (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
Guiné > Zona Leste > Sector L2 > Geba > CART 1690 / BART 1914 > Destacamentos e aquartelamentos > 1968 > A CART 1690, com sede em Geba, tinha vários destacamentos: Banjara, Cantacunda, Sare Banda, Sare Ganá... Os destacamentos não tinham luz eléctrica, as condições de segurança eram precárias e o reabastecimento irregular. O IN tinha duas importantes bases em Sinchã Jobel e Samba Culo. A CART 1690 pertencia ao BART 1914 (Tite, 1967/69), que tem página Net.
Infogravura: © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados
1. Mensagem do A. Marques Lopes, com data de 18 do corrente:
Amigo, vê em baixo o mail que me mandou esta mulher.
Tenho tentado apanhar no blogue as fotografias de Banjara, sei que o Estêvão está em algumas delas, mas não consigo ir aos sítios. Tenho informações sobre o homem, como era, como morreu... Gostava de dizer à mulher e enviar-lhe as fotografias. Já as tive mas acho que as apaguei, porque não as encontro. Se puderes indicar-me os locais onde estão...
Abraço e obrigado
A. Marques Lopes
2. Mensagem, enviada com ao A. Marques Lopes, por Maria da G. V. (não identificamos a pessoa, por que não pedimos a sua autorização expressa, por escrito), com data de 18 do corrente:
Assunto: Jaime Estevão
Boa tarde.
Interesso-me bastante por toda esta questão da guerra colonial. Marcou muita a minha infância, com partidas de amigos e familiares. Um amigo, um familiar e um meu conhecido não voltaram da Guiné. Lembro-me de ouvir falar de outros mortes na zona. Consegui situar a morte de alguns, um deles na operação Nó Górdio, em Moçambique.
Eu tinha 10 anos quando morreu o Jaime Nunes Estevão. No seu relato diz que houve um morto em Baranja no dia 18 de Maio de 68. Ele era da CART 1690 [, do BART 1914]. Foi a vítima que refere?
Há vários fotos mas sem estarem identificadas Como posso obter mais informações da vida e morte dele na Guiné e identificá-lo nas fotos?
Nunca o consegui esquecer. Ainda hoje recordo nitidamente o dia do seu funeral, as salvas de tiros, as conversas com os irmãos que eram meus colegas de escola .
Recordo também a partida do meu tio 2 ou 3 meses depois. O barco, as lágrimas da minha mãe, avós e tias e a despedida dele do irmão mais velho, com 36 anos de idade, em fase terminal de leucemia (morreu 6 meses depois), que lhe disse:
- Nunca mais nos veremos e, aliada à preocupação de deixar as minhas filhas [três] e a minha mulher desamparadas, ainda vou passar o resto dos meus dias a ter medo que partas antes de mim porque não sei qual de nós vai primeiro, se eu com esta maldita doença ou tu com uma bomba no meio do mato.
Ainda hoje o meu tio não gosta de falar da Guiné e não esquece a mágoa de, em vez de acompanhar o irmão e sobrinhas nos seus últimos meses de vida, ainda contribuiu para os tornar mais pesados.
Também me marcou muito a imagem da mãe do Jaime, viúva com 4 ou 5 filhos, sendo ele o mais velho. Dizia que a guerra lhe tinha levado o filho e o sustento dos irmãos mais novos, todos menores. Lembro-me de consolar o irmão Afonso, de 16 /17 anos, e dizer-lhe que ele não seria morto como o irmão porque já não seria obrigado a ir para a Guerra.
Não me recordo de outro familiar, morreu em 1965, eu tinha 7 anos. Mas recordo vivamente a pena que tinha do meu primo, 3 anos mais novo e sem pai. Agradeço-lhe antecipadamente qualquer informação que me possa prestar. Estou a tentar descobrir o mais possível sobre as curtas vidas destes jovens (só no concelho de Ourém, cerca de 40) que foram obrigados a partir e deram as suas vidas.
Também tomei contacto com a primeira [guerra] através do meu avô paterno que foi gaseado em França e ficou sempre com problemas de saúde. Morreram lá cerca de 14 ourienses, alguns amigos do meu avô. O meu avô materno partiu para França em 1920, com 19 anos, para fazer parte da reconstrução pós-guerra, onde ficou quase 10 anos. Cresci com as histórias de um e outro sobre a França.
Com os meus cumprimentos
Maria da G.V.
3. Mensagem de L.G., enviada em 18 do corrente ao A. Marques Lopes:
Querido António: Vê lá se encontras aqui alguma foto do Estêvão, neste dossiê de 2007... Estas são fotos do Alfredo Reis, não sei se alguma é tua... Mas julgo que tenho mais, de Banjara... Vou procurar... Estás melhor ?... Vou fazer uma referência ao teu blogue... Fica bem. Luís
4. Resposta do A. Marques na volta do correio:
Há aqui duas [fotos] onde ele está. É o que se está a mandar tudo nu para dentro de água e o que tem o javali. Era um tipo muito forte e trabalhador, amigo e companheiro. Um morteiro caiu em cima de uma árvore onde ele estava perto e um estilhaço furou-lhe o peito mesmo em cima da aorta. Caiu num charco de lama e esvaiu-se em sangue. Era o [Alf Mil Alfredo] Reis que lá estava e diz que o esteve a lavar. Eu não tenho fotografias de lá. Se arranjares mais algumas agradeço. (...)
Obrigado. Abraço
5. Comentário (final) de L.G.:
Segundo informação constante da lista dos mortos do Ultramar, naturais do concelho de Ourém, coligida e divulgada pelo portal Ultramar Terraweb (laboriosa e superiormente criado e mantido pelo nosso camarigo António Pires e a sua equipa), o nosso malogrado camarada Estêvão, Jaime Maria Nunes Estêvão, de seu nome completo, natural do Regato, Ourém, morreu 24/7/1968 (**), e está sepultado no cemitério da sede do concelho.
Gostaríamos de poder aqui, no nosso blogue e nesta série, recordar um a um todos os nossos camaradas que perderam a vida no TO da Guiné. Agradeço à Maria da G.V. a oportunidade de evocar a memória do seu amigo e nosso camarada de armas Jaime Estêvão, para cuja família e amigos de Ourém mandamos um abraço solidário.
________________
Notas de L.G.:
(*) Último poste da série > 27 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7873: In Memoriam (71): Fur Mil Av Frederico Manuel Machado Vidal (1943-1964), piloto de T-6, abatido em 24/2 /1964
Notas de L.G.:
(*) Último poste da série > 27 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7873: In Memoriam (71): Fur Mil Av Frederico Manuel Machado Vidal (1943-1964), piloto de T-6, abatido em 24/2 /1964
(**) Vd. Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, I Série > 25 Maio 2005
Guiné 69/71 - XXIV: O ataque ao destacamento de Banjara (1968) (A. Marques Lopes)
(...) Vou-vos falar sobre Banjara. Não havia população civil e estava cercado por mata. Estava só um pelotão, 30 efectivos. A um quilómetro havia uma fonte onde, alternadamente, os nossos e o PAIGC se iam fornecer de água. Às vezes, encontravam-se… Mas havia uma fuga concertada dos dois lados, sem tiroteio. Ficava a 45 kms da sede da companhia (a CART 1690, em Geba).
Como podem ver pelo mapa [do sector de]Geba que já vos enviei, tinha do lado esquerdo a base de Samba Culo do PAIGC e do lado direito a base de Sinchã Jobel. Os abastecimentos eram feitos por terra, com grandes dificuldades. Às vezes demoravam muito tempo, pelo que era necessário recorrer aos "produtos" da natureza, isto é, apanhar algum bicho para comer (javalis, pássaros, macacos e, até, cobras). Neste ataque de que vos dou o relatório, tentaram fazer o mesmo que em Cantacunda, mas sem sucesso.
(...) Ataque a Banjara: 24 de Julho de 1968.
"Desenrolar da acção: No passado dia 24, pelas 18H00, o destacamento de Banjara foi atacado por numeroso grupo IN, estimado em cerca de 80 elementos (Bigrupo reforçado) com o seguinte armamento:
-Morteiro 82
-Morteiro 60
-Bazooka
-Lança-Rockets
-Metralhadoras pesadas
-Armas ligeiras
"O ataque terminou às 19H15. Verificou-se que, durante o ataque, as NT sofreram 1 morto [, Sold Jaime Maria Nunesa Estêvão] e 2 feridos, tendo sido atingido por uma granada de morteiro a caserna e por uma granada do lança-rocketes o depósito de géneros.
"O ataque foi efectuado no sentido Norte-Sul tendo o IN instalado alguns elementos do lado Sul. Verificou-se que mal o IN abriu fogo com os morteiros 82 e 60, alguns elementos correram imediatamente para a rede de arame farpado, cortando o arame nalguns sítios, procurando penetrar no aquartelamento. No entanto, devido à pronta reacção das NT, não o conseguiram, tendo sido obrigados a retirar, após o que continuaram a flagelar o aquartelamento sem, contudo, causarem mais baixas às NT.
"Diversos: A hora a que o ataque se realizou quase que coincidiu com a hora da terceira refeição. Verificou-se que a maioria dos soldados se encontravam a tomar banho, pois tinham acabado de jogar uma partida de futebol.
"O impacto inicial do ataque foi sustido principalmente pelo soldado Manuel da Costa que, mal se iniciou o ataque, correu para a metralhadora pesada Breda e, sem ser apontador da mesma, pô-la imediatamente [em acção] e manteve-se sempre nesse posto, e pelo soldado José Manuel Moreira da Sila Marques que, sozinho, em virtude dos outros dois camaradas que constituíam a esquadra do morteiro 81, terem sido feridos, funcionou com o mesmo, tendo a presença de espírito para, a certa altura, e após ter verificado que algumas das granadas estavam sujas de terra, despir os calções para limpar as mesmas e poder assim continuar a bater o IN com um fogo bastante certeiro.
"A coluna de socorro, constituída por 1 PEL REC do EREC [Esquadrão de Reconhecimento] 2350, 1 GR COMB da CART 1690 e pelo PEL CAÇ NAT 64, saiu de Saré Banda às 07H30 do dia 25 (e tal deveu-se a ter sido necessário recolher as forças que executavam a Operação Iluminado) e atingiu Banjara às 15H00, pois foi necessário picar toda a estrada até ao destacamento de Banjara.
"Quando a coluna lá chegou ordenei que um Gr Coimb batesse toda a região, tendo o mesmo detectado várias manchas de sangue e pedaços de camuflado IN, e munições de armas ligeiras.
"Devido às baixas, deixei uma secção a reforçar o destacamento de Banjara, tendo em seguida regressado a Geba.
"Resultados obtidos:
"Baixas sofridas pelo IN: dois mortos confirmados; várias baixas prováveis; material capturado: munições de armas ligeiras e uma granada de morteiro 82". (...)
Como podem ver pelo mapa [do sector de]Geba que já vos enviei, tinha do lado esquerdo a base de Samba Culo do PAIGC e do lado direito a base de Sinchã Jobel. Os abastecimentos eram feitos por terra, com grandes dificuldades. Às vezes demoravam muito tempo, pelo que era necessário recorrer aos "produtos" da natureza, isto é, apanhar algum bicho para comer (javalis, pássaros, macacos e, até, cobras). Neste ataque de que vos dou o relatório, tentaram fazer o mesmo que em Cantacunda, mas sem sucesso.
(...) Ataque a Banjara: 24 de Julho de 1968.
"Desenrolar da acção: No passado dia 24, pelas 18H00, o destacamento de Banjara foi atacado por numeroso grupo IN, estimado em cerca de 80 elementos (Bigrupo reforçado) com o seguinte armamento:
-Morteiro 82
-Morteiro 60
-Bazooka
-Lança-Rockets
-Metralhadoras pesadas
-Armas ligeiras
"O ataque terminou às 19H15. Verificou-se que, durante o ataque, as NT sofreram 1 morto [, Sold Jaime Maria Nunesa Estêvão] e 2 feridos, tendo sido atingido por uma granada de morteiro a caserna e por uma granada do lança-rocketes o depósito de géneros.
"O ataque foi efectuado no sentido Norte-Sul tendo o IN instalado alguns elementos do lado Sul. Verificou-se que mal o IN abriu fogo com os morteiros 82 e 60, alguns elementos correram imediatamente para a rede de arame farpado, cortando o arame nalguns sítios, procurando penetrar no aquartelamento. No entanto, devido à pronta reacção das NT, não o conseguiram, tendo sido obrigados a retirar, após o que continuaram a flagelar o aquartelamento sem, contudo, causarem mais baixas às NT.
"Diversos: A hora a que o ataque se realizou quase que coincidiu com a hora da terceira refeição. Verificou-se que a maioria dos soldados se encontravam a tomar banho, pois tinham acabado de jogar uma partida de futebol.
"O impacto inicial do ataque foi sustido principalmente pelo soldado Manuel da Costa que, mal se iniciou o ataque, correu para a metralhadora pesada Breda e, sem ser apontador da mesma, pô-la imediatamente [em acção] e manteve-se sempre nesse posto, e pelo soldado José Manuel Moreira da Sila Marques que, sozinho, em virtude dos outros dois camaradas que constituíam a esquadra do morteiro 81, terem sido feridos, funcionou com o mesmo, tendo a presença de espírito para, a certa altura, e após ter verificado que algumas das granadas estavam sujas de terra, despir os calções para limpar as mesmas e poder assim continuar a bater o IN com um fogo bastante certeiro.
"A coluna de socorro, constituída por 1 PEL REC do EREC [Esquadrão de Reconhecimento] 2350, 1 GR COMB da CART 1690 e pelo PEL CAÇ NAT 64, saiu de Saré Banda às 07H30 do dia 25 (e tal deveu-se a ter sido necessário recolher as forças que executavam a Operação Iluminado) e atingiu Banjara às 15H00, pois foi necessário picar toda a estrada até ao destacamento de Banjara.
"Quando a coluna lá chegou ordenei que um Gr Coimb batesse toda a região, tendo o mesmo detectado várias manchas de sangue e pedaços de camuflado IN, e munições de armas ligeiras.
"Devido às baixas, deixei uma secção a reforçar o destacamento de Banjara, tendo em seguida regressado a Geba.
"Resultados obtidos:
"Baixas sofridas pelo IN: dois mortos confirmados; várias baixas prováveis; material capturado: munições de armas ligeiras e uma granada de morteiro 82". (...)