quarta-feira, 16 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13406: Memórias de Gabú (José Saúde) (40): Libaneses!

O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem



AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU


Libaneses 

Desafiando a distância no tempo, proponho-me embarcar com suavidade no repto lançado pelo nosso camarada e editor do blogue, Luís Graça, trazendo à opinião pública a questão dos libaneses que viviam na Guiné na época em que cada um de nós cumprimos a nossa comissão militar naquela antiga província ultramarina. 

Nomes? Não sei! Sei, e disso tenho absoluta certeza, que em Nova Lamego, urbe onde cumpri a minha comissão, os libaneses detinham maioritariamente o poder comercial. Afáveis, como era costume, prontificavam-se em servir com gentileza a tropa branca.

Recordo que o recheio de uma loja libanesa oferecia imensas opções de compra. Naquele espaço existiam qualificáveis objetos que colocavam infinitos desejos num mancebo sem medo que vivia num mundo de arriscados sonhos, sendo absolutamente previsível que a sua bagagem de regresso à metrópole fosse recheada de muitas ofertas para as namoradas, família e amigos. 

Tudo era novidade. E os libaneses eram perfeitos sabichões na arte de aliciar o cliente que vivia um momento eufórico e vislumbrando no horizonte o fim da guerra na Guiné.

Eu fui um desses clientes que se predispôs a comprar não só ilusões mas outros bens que se assumiram como essenciais ao longo da minha comissão por terras guineenses.

Neste contexto, cito a exemplaridade que a máquina fotográfica comprada quando cheguei a Nova Lamego, e numa loja de libaneses, me facultou para a minha última obra denominada GUINÉ-BISSAU AS MINHAS MEMÓRIAS DE GABU. 

Eis a narrativa quando cito no livro a sua afetividade para um camarada que conheceu a guerra e a paz. 

A minha máquina fotográfica Olympus
Obrigado pelas tuas imagens 

Olho, hoje, para ti e relembro os momentos em que foste, para mim, uma insofismável companheira! Comprei-te numa loja de libaneses, em Nova Lamego. A aquisição baseou-se, essencialmente, sobre uma carência pressupostamente sentida quando ostentava, ainda, a alcunha de piriquito. Optei, no ato compra, pela marca que já conhecia e fiz menção que o seu manuseamento fosse o mais simples possível. Vislumbrava no horizonte que poderias, em momentos crucias, debitares imagens capitais para mais tarde recordar. 

Seguias viagem no bolso do camuflado e a tua humilde ação apresentou-se, a espaços, importante para a reposição de reproduções que nos leva a viajar nas asas do vento e trazer à memória pedaços de indeléveis recordações. O seu aspeto simples, e de mecânica sumária, jamais me deu o mínimo de problemas ou/e de preocupações. Ou seja, a minha Olympus era uma máquina divinal. Não recordo o seu custo exato. Talvez uns quinhentos ou setecentos e cinquenta mil réis. 

Afirmo, por outro lado, que a generalidade dos documentos visualizados nesta obra, tiveram como base aquele pequeno brinquedo que teimosamente acostou junto a este combatente - sem nome - que prestou serviço militar em território da Guiné. 

O clique não obedecia a cuidados antecipados. A visualização do objetivo não apresentava dificuldades pré concebidas. Colocava a máquina na posição de automática e saía, normalmente, uma imagem de se lhe tirar o chapéu. Com ela, a minha Olympus, recolhi pormenores de gentes que viviam no meio de duas frentes de guerra que impunham leis horrendas no terreno. 

Recolhi imagens de crianças que muito cedo se habituaram a ouvir os sons horripilantes das armas de fogo que serviam simplesmente para matar outros homens considerados inimigos. Imagens de homens e de mulheres grandes que serviam, por vezes, de fúteis objetos. Em prol da sobrevivência tudo se aceitavam. 

A guerra, a tal maldita guerra, traçava horizontes deveras débeis. Melhor, medonhos. 

Gentes que caminhavam para o campo com uma aparente ligeireza. Pareciam conhecer, e bem, os trilhos do medo. E tudo se conjugava numa irreverente certeza: a população era um alvo apetecível para as duas frentes de guerra no terreno. E o povo sabia que eram seres importantes num xadrez de incertezas. 

A minha Olympus acumulava, pausadamente, registos que nos fazem recuar no tempo e trazer à estampa nacos de memórias inesquecíveis. Fomos combatentes na Guiné. 

Convivemos, no meu caso, com a guerra e a paz. Conhecemos o odor da desgraça. Vimos companheiros perderem a vida em plena juventude e a defenderem interesses alheios. 

Estropiados que sempre reclamaram uma maior justiça social. Outros que ainda coabitam com traumas psíquicos de um conflito que lhes quebrou uma vida saudável. Outros que tentam passar imunes a problemas mentais que sistematicamente lhes causam problemas no seio familiar ou na comunidade. 

Enfim, um rol de odores de um tempo sem tempo que desafiou gerações transversais e que nos obrigou a combater num conflito sem rumo. 

À minha Olympus, que continuo a guardar devotamente no baú da saudade, vai o meu muito obrigado. 

Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em:

27 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P13052: Memórias de Gabú (José Saúde) (39): A guerra de além-mar 40 depois… Calar é resignar! 


Guiné 63/74 - P13405: Tantas vidas (Gil da Silva Duarte / Virgínio Briote) (2): As nossas mulheres: carta de uma mãe a Sua Excelência o Minstro do Exército, datada de 4 de fevereiro de 1963, intercedendo por um filho que acabava de ser mobilizado para o CTIG, depois de um outro ter sido morto em Angola, em 23 de abril de 1963...



Portugal > Finais dos anos 50 >  "Fotografia de mães e filhos, em finais dos anos 50, com a guerra já no horizonte. Todos esses rapazes foram para África: um para a Guiné, e dois para Moçambique, regressando um destes paraplégico".

Foto (e legenda): © Virgínio Briote  (2014). Todos os direitos reservados [Edição: L.G.]


1. Mensagem do nosso editor (jubilado) Virgínio Briote, e referência incontornável do nosso blogue, para o qual entrou na data já distante de 23/10/2005 (*):

Data: 16 de Julho de 2014 às 14:43

Assunto: As nossas Mulheres

 Caros Luís e Carlos,

Dei agora com uma carta que, naqueles tempos, me foi entregue em Brá. É evidente que os nomes estão omitidos, mas a carta é verdadeira. Devolvi-a ao filho da Senhora que a escreveu há pouco mais de meia dúzia de anos, estava a Mãe ainda viva! 

Anexo uma fotografia de mães e filhos, em finais dos anos 50, com a guerra já no horizonte. Todos esses rapazes foram para África. Um para a Guiné, e dois para Moçambique, regressando um destes paraplégico.

Um abraço do VB

[, Virgínio Briote, ex-alf il cmd, cmtd Gr Diabólicos, CCmds, CTIG, Brá, 1965/67: , foto à esquerda, c. 1965]


2. Carta ao Ministro do Exército

Exmo Senhor Ministro de Exército

Excelência,

Venho respeitosamente dirigir-me a Vossa Excelência expondo-lhe o seguinte.

Sou mãe do 2º Sargento Mil ..., morto em Angola, no Quitexe, em 23 de Abril de 1963. Após 22 meses (?) ao serviço da Pátria, o meu filho, que era a luz dos meus olhos lá se ficou.

Hoje tive conhecimento que outro meu filho, o 1º Cabo Mil ..., acaba de ser mobilizado para a Guiné, para onde parte no dia 9 deste mês.

Sou pobre, se não ia pessoalmente, de joelhos, pedir a Vossa Excelência que tenha pena de mim. Com a morte do meu ... nunca mais fui a mesma. Se há pessoas desamparadas da sorte, uma delas sou eu, perdi completamente o gosto por viver.

Não choro os meus filhos à Pátria, choro sim a sua morte quando vejo companheiros deles, depois de apurados, descerem aos hospitais militares e ficarem livres. Não ensino procedimentos destes aos meus filhos, custar-me-ia muito vê-los tomar atitudes idênticas.

Mas apelo ao coração, que presumo ser bom, de Vossa Excelência, que certamente também é Pai. A metrópole é também a nossa Pátria e o meu filho ficaria aqui a cumprir o tempo necessário e não mo mandaria para longe entrar em combates.

Há seis anos, o meu marido teve uma trombose. Vive, mas é um doente, e com tudo isto vejo agravar o seu sofrimento.

Não me convenço que meu filho…vá para tão longe. E pelos seus filhos, peço-lhe que mo deixe ficar. Vossa Excelência terá a certeza que eu terei mais meia dúzia de anos de vida, nunca mais de alegria, mas para melhor poder amparar o meu marido e meus filhos, para os quais sempre tenho vivido.

Julgo bater à porta de Deus e a Ele fico a pedir para que Vossa Excelência e Família tenham uma vida cheia de saúde e felicidade.

Respeitosamente de Vossa Excelência

Maria……

4 de Fevereiro de 1965.

3. Comentário de L.G.:

No passado dia 10, mandei ao VB a seguinte mensagem:

(...) Em boa forma ? È só para te recordar o desafio que te lancei há tempos, e reiterei em Monte Real, no IX Encontro Nacional da Tabanca Grande... Não nos sacas aí, do teu baú, uns tantos textos (meia dúzia...) para dar continuidade a esta série, "Tantas Vidas" ? !...

Estamos com 200 mil visualizações por mês... Vem o verão, e é preciso alimentar o blogue... sobretudo em agosto... Há muitos camaradas, "periquitos", que nunca tiveram oportunidade de ler o teu blogue Tantas Vidas (**), há muito desativado,,, Pensa também nesta malta,que está a chegar ao nosso blogue... Quando cá chegaste éramos meia dúzia de "tertulianos", hoje somos 662" (...).


A resposta não tardou, comunicando-me que o assunto não estava esquecido, e mandando-me duas colaborações, a começar por este texto que acima publicamos, o que vem reforçar a minha esperanção, e mais do que isso, convição de que os nossos leitores vão poder ter o privilégio de ler ou reler alguns dos melhores textos da série "Tantas Vidas" do Gil Duarte & Companhia... (Gil Duarte é uma espécie de "alter ego" do VB)...

(...) Os textos do Tantas Vidas? Nunca mais peguei neles, tenho-os arquivado no portátil, julgo que fiz a cópia total do blogue mas nem tenho a certeza de que o tenha copiado todo. No PC fiquei com alguns textos que copiei e antes de os publicarmos tenho que os voltar a ler, corrigir, ordenar e completar, uma vez que fechei o blogue em princípios de 2005! Mas podemos voltar a pegar no assunto. (...).

Por estes dias, o VB e a Irene estarão  de visita à "família americana" (filha, genro e netos), em Seatle... Desejo-lhes calorosos  encontros e que bons ventos os tragam de novo à doce casa e à querida pátria, como diria o grande Ulisses, o homérico  guerreiro que levou 10 anos da sua vida a regressar à sua amada Ítaca, depois da guerra de Troia.

4. Adenda posterior, do VB,  ao poste (com referência à carta e à foto):


Não fosse a pressa, a história para ficar completa devia tê-la contado assim: a carta foi certamente enviada para o ME que a deve ter remetido para o QG/CTIG. Aqui deve ter estado parada uns tempos até ter sido enviada para Brá, uma vez que era lá que se encontrava o filho (elemento do meu grupo) da Senhora que escreveu a carta. 

O então Cmdt da CCmds do CTIG entregou-ma em mão com a indicação "desenrasque-se" e que agisse em conformidade com o estado anímico e físico do referido militar. Muitos anos depois, 2002/03, quando estava em casa dos meus Pais a ver e limpar os papeis e fotos que tinha trazido de lá, dei com essa carta. 

Depois entrei em contacto com o meu antigo Camarada e combinei encontrar-me com ele e passei-lhe para as mãos a carta que a Mãe tinha escrito em 1965. Foi com as lágrimas nos olhos que reconheceu a letra da Mãe e me disse que ainda era viva.

Era assim que eu devia ter relatado este facto.
O meu irmão Rui é o pequeno da ponta esquerda da foto, de boné. Foi atingido por estilhaços de uma granada de morteiro que rebentou no parapeito do telhado sobre o qual se encontrava, no Chai, Macomia, em Junho de 1973, salvo erro.
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Guiné 63/74 - P13404: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XVI: A "sorte de um soldado", transmontano, que não sabia ler nem escrever quando foi incorporado (José Tomás Costa, sold at inf, 1º pelotão)


Guiné > região do Oio > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) > "Picagem até Jumbembem". Imnagem inserida a pág. 69, do livro "Histórias da CCAÇ 2533".






1. Histórias da CCAÇ 2533 > Parte XVI (José Tomás Costa, sold at inf, 1º pelotão):

Continuamos a publicar as "histórias da CCAÇ 2533", a partir do livro editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (*)

Registe-se, como facto digno de nota, que esta publicação é uma obra coletiva, feita com a participação de diversos ex-militares  (oficiais, sargentos e praças) da companhia.

A brochura  chegou-nos às mãos, em suporte digital, através do Luís Nascimento, que vive em Viseu, e que também nos facultou um exemplar em papel. Até ao momento, ele é o único representante da CCAÇ 2533, na nossa Tabanca Grande, apesar dos convites, públicos, que temos feito aos autores cujas histórias vamos publicando.

[Foto à esquerda: o ex-1º cabo cripto Luís Nascimento, em dia de chuva, em Canjambari, c. 1969/70]

Temos autorização do editor e autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as aventuras e desventuras vividas pelo pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71).

Desta vez publicamos  2 pequenas histórias, contadas pelo sold at inf José Tomás Costa, que foi ferido em combate já para o fim da comissão: (i) nós e as minas (p. 69); e (ii)  a sorte de um soldado (p.70)...
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terça-feira, 15 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13403: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (2): O meu Natal de 1965 em Bissorã, na casa do sr. Michel, bebendo whisky do bom... (Manuel Joaquim, ex-fur mil armas pesadas, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67)


Aerograma enviado pelo Manuel Joaquim à sua namorada: "Bissorã, 25 dez65" e onde fala sua festa de natal, oferecida à tropa,  pelo decano dos comerciante libaneses de Bissorã...

Foto: © Manuel Joaquim  (2012). Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.)

1. Excerto de um poste do Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau,Bissorã e Mansabá, 1965/67)(*)

Na noite de Natal de 65, o decano dos comerciantes libaneses, sr. Michel (**), acho que era este o seu nome, preparou uma recepção na sua casa, para a qual convidou os comandantes das companhias alocadas em Bissorã, CART  643 e CCAÇ  1419, seus oficiais e 1.ºs sargentos e sendo o restante pessoal militar representado por um furriel e por um praça de cada uma das companhias. Posso estar enganado,  mas é a ideia que tenho.

Da CCAÇ 1419 fui eu o furriel escolhido. Não sei se “de motu proprio” ou cumprindo decisão superior, o 1º sargewnto  da companhia fez-me o convite que eu aceitei, algo contrariado, após alguma insistência.

Para a ocasião vesti o meu fato “de ir à missa” comprado na  então famosa casa de moda da baixa lisboeta, a Casa Africana, uns dias antes de embarcar. “Ótimo para usar em África”, disse-me o vendedor em resposta à minha inicial informação de que estava prestes a embarcar para a Guiné e precisava de um fato para levar.

[Imagem à direita: Cartaz publicitário da eitinta Casa Africana, uma loja emblemática da Rua Augusta, em Lisboa]

E lá fui de fatinho azul-ténue, muito leve, com risquinhas verticais pretas e muito finas. A confraternização correu bem. Houve “comes e bebes” e muita conversa, geral e particular, entre os convidados e o dono da casa.

Recordo bem a qualidade do uísque, uma maravilha, do resto tenho noção vaga duma conversa do anfitrião discorrendo sobre as suas relações com personagens conhecidas na política e na sociedade empresarial, tanto na Guiné como em Portugal (no Continente, como então se dizia).

Não sei que idade teria o sr. Michel mas para mim era um homem já idoso, um senhor culto, bem viajado, bom conversador e de óptimo trato. Penso que teria sido, antes da guerra, um grande comerciante. Em 1965 a sua actividade comercial já estava muito reduzida.

Havia música mas não havia “garotas”! A animação não foi muita mas deve ter havido alguma já que o evento durou umas boas horas. O certo é que não me lembro dela. Talvez por causa do meu estado de espírito naquela altura como se pode adivinhar pela breve referência que fiz ao assunto num aerograma enviado à namorada:

(…) “Há por aqui umas famílias de emigrantes libaneses que nos proporcionaram umas festazinhas agradáveis na quadra que passou há pouco. Mas o sofrimento cá anda roendo a alma. E para muitos de nós a bebedeira foi a fuga. O whisky aqui é barato. Assim a bebedeira fica barata também.” (…)

Uma nota final: Interessante o lembrar-me ainda hoje da qualidade do uísque do sr. Michel e não me lembrar de muitas outras coisas mais importantes. Pensando bem, compreendo. Pois para quem andava afogando mágoas, eu por exemplo, curtindo alegrias e lavando o estômago com VAT69, J. Walker red label e outros deste género, encontrar e saborear o uísque do velho libanês foi um momento inolvidável. Aquilo não era uísque, aquilo é que era whisky!

Manuel Joaquim


Ferreira do Alentejo > Figueira de Cavaleiros > 25 de Setembro de 2010 > Jantar em casa do Jacinto Cristina   > Até à última gota de... uísque. Buchanan's, from Scotland, for the Portuguese Armed Forces... with love... Esta foi comprada em Bissau, em Junho de 1974, e aberta no nosso primeiro encontro, na festa de anos da filha do Jacinto, em Março passado. Na Guiné, aprendemos  a distinguir o bom "scotch whisky" do "uísque marado de Sacavém" que se bebia nas noites de Lisboa e arredores, nos anos 60/70,nos primeiros bares de alterne que apareceram...

Foto: © Luís Graça (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 21 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10839: Conto de Natal (9): O meu Natal de 1965 em Bissorã (Manuel Joaquim)

(**)  Vd. poste de 15 de julho de  2014 > Guiné 63/74 - P13400: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (1): Quem eram, onde viviam e trabalhavam, quando chegaram, etc. Propostas de TPC estival: factos, gentes, histórias, fotos...

Guiné 63/74 - P13402: Convívios (613): IX Encontro do pessoal da CART 3521, levado a efeito no passado dia 7 de Junho de 2014 (Henrique Castro)

1. Mensagem do nosso camarada Henrique Martins de Castro (ex-Soldado Condutor Auto, CART 3521, Piche, Bafatá e Safim, 1971/74), com data de hoje, 15 de Julho de 2014:

Camarada Vinhal.
Mais uma vez e pela última organizei, no passado 07/06/14, um convívio da CART 3521. Devido à atual conjuntura económica, ao falecimento de alguns camaradas e à falta de vontade de mais de 70% dos ex-militares em estarem presentes, estiveram 19 e as respetivas famílias, e apesar de no convite informar que tinha para oferecer 2 DVD, um com um filme feito por mim na Guiné e o nosso primeiro encontro e outro com 2 horas de gravação com o 1.º, 2.º, 3.º e 4.º encontros, o 7.º está gravado no Youtube, assim como o 9.º, estou desanimado e resolvi encerrar este ciclo.

Agradeço que publiques estas fotos no blogue e que escrevas também que o filme está no Youtube. Para ser visto basta escrever CART 3521.

Henrique Castro


Vídeo do IX Encontro do pessoal da CART 3521 alojado no Youtube

Bolo comemorativo do Encontro da CART 3521

O camarada Vieira e o Comandante da CART 3521

O casal Magalhães, sentados, e a esposa do Coimbra

 A viúva do falecido camarada Massarelos e a esposa do Henrique Castro
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13384: Convívios (612): Mais um Encontro da Magnífica Tabanca da Linha, dia 17 de Julho de 2014, em Cascais (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P13401: Notas de leitura (612): "O Arauto" noticia a primeira ida para o ar da Emissora da Guiné, em meados de Março de 1953 (Lucinda Aranha)

1. Mensagem da nossa amiga tertuliana Lucinda Aranha, filha de Manuel Joaquim, empresário e caçador em Cabo Verde (1929/1943) e Guiné (1943/1973), com data de 10 de Julho de 2014:

Olá Carlos
1. Só hoje vi a recensão do Beja Santos ao art. de Teresa Montenegro e Carlos Morais sobre os Djumbai. É um assunto de que me falou há pouco tempo o Tony Tcheka e que me interessa para o livro que estou a escrever. Vou procurar a revista para tentar ler o art. na íntegra.

2. Estou muito interessada em saber o ano em que o Kumba Ialá veio para Loulé. Será que o Cherno Baldé me saberá dizer?

3. No decorrer das minhas investigações encontrei informações sobre os inícios da Emissora da Guiné. Não sei se vos interessa mas de qualquer modo envio-vos.

Lucinda


A Emissora da Guiné

A Emissora da Guiné foi para o ar, pela primeira vez, em meados de Março de 53. Funcionava então durante duas horas por dia com início às 20h30m. Tinha uma programação ambiciosa e bastante variada para o tempo que estava no ar a qual chegou a ser publicada com todo o detalhe diariamente pelo jornal da terra, O Arauto. Uma das rubricas de maior sucesso foi a de música de dança que está logo presente na programação do 1.º dia de emissão. A título de exemplo, transcrevo do jornal dois programas. O primeiro respeita ao dia 17 de Março, provavelmente o dia de abertura e o segundo ao dia 21 do mesmo mês.



1. Dia 17 de Março de 1953

NOVIDADES QUE INTERESSAM A TODOS PROGRAMA DA EMISSORA DA GUINÉ 
(20,30 h.— 22 h. / 51,37 m.)

20,33 h.— ORQUESTRAS LIGEIRAS:
Canaro—Luis Rovira—João Nobre—Artie Shaw
20,45 h.— PRIMEIRO NOTICIÁRIO
20,50 h. – Interpretações de Carlo Buti e de Lucienne Delyle
21,00 h. – MÚSICA DE CÂMARA: Quinteto em lá maior de Shubert
21,15 h. – CANÇONETISTAS PORTUGUESES:
Julia barroso—Tony de matos—Maria de Lurdes
F. José—Maria Clara—José António e Margarida Amaral
21,50 h.— MÚSICA PARA DANÇAR

2. Dia 21 de Março de 1953

UTILIDADES QUE A TODOS INTERESSAM
OUÇA HOJE NA EMISSORA DA GUINÉ
(20,30 h.—22 h. /51,37 m.)

20,33 h. – Cançonetas americanas:
Dany Kay and his sisters; Dorothy Squires;
Paul Rbeson; Bing Crosby.
20,45 h. – PRIMEIRO NOTICIÁRIO
20,50 h. – Artistas Italianos:
Emilio Levi; Carlo Butti; Tito Scippa; Caruso.
21,00 h. – O artista da Semana. MARIA DE LURDES
Alcobaça; Leiria; Mulher Pequenina;
Moleirinha; Rosinhas de Toucar.
21,15 h. – SEGUNDO NOTICIÁRIO
21,25 h. – Música Variada:
Ana Mª Gonzalez; G. Boulanger; Mª Clara;
Tino Rossi; Manuel Monteiro e outros.
21,50 h. – Música de dança
22,00 h. – HINO NACIONAL e Fecho da Estação.

Na data do seu décimo aniversário, segundo O Arauto de 15 de Março de 63, a emissora duplicou o seu tempo de emissão diário. Cresceram então as expectativas, havendo quem defendesse que se devia optar por programas ao vivo, inspirados nos modelos metropolitanos de modo a fazer despertar vocações na rádio. Sonhou-se com o teatro radiofónico, com um concurso de revelações, tipo programa de variedades com conjuntos e artistas locais, com um prémio votado pelos ouvintes e patrocinado pelos anunciantes. De forma não inocente, motivada pela conjuntura de guerra, houve quem propusesse a abertura diária da emissão com uma gravação do hino nacional tocado por instrumentistas mandingas ou fulas como já acontecia em Moçambique com os tocadores de marimba de Zavala. Também a guerra da libertação explica a propaganda veiculada pela Emissora Nacional com início nesse mesmo ano de 63. Mensalmente, passou a transmitir o programa A Presença da Guiné de produção da Emissora Provincial. Deste modo, os portugueses da metrópole ficariam a conhecer a labuta e o empenho dos «seus irmãos da Guiné Portuguesa» nas palavras do governador Vasco Rodrigues.

Lucinda
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13398: Notas de leitura (611): "Estados de Alma: cem sonetos de vida e amor", por Tomás Paquete (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13400: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (1): Quem eram, onde viviam e trabalhavam, quando chegaram, etc. Propostas de TPC estival: factos, gentes, histórias, fotos... precisam-se!

1. Amigos e camaradas da Tabanca Grande e demais leitores:

Estamos já em plena "época estival" e o blogue ressente-se da falta de colaboração... O Carlos Vinhal costuma queixar-se, nesta altura do ano, de ter pouco trabalho... Por outro lado, em agosto  o blogue, as férias e a praia são três coisas que não combinam bem... Eu, LG,  ainda estou no ativo e vou tirar férias em agosto (altura em que o meu estaminé fecha, parcialmente, durante 2 semanas...).

À boa maneira dos senhores professores, vamos  pedir-vos  um TPC, trabalho de casa, para alimentar o blogue durante a canícula... O tema é: "Os libaneses da Guiné"...

(i) Uma questão interessante é a de se saber quantos libaneses viviam na Guiné, antes e durante a guerra colonial (1963/74); .

(ii) Algumas famílias terão ficado por lá mesmo depois da independência, ou emigraram, para lá a seguir; se sim, quantas ? onde ? [Lemos, numa reportagem do jornal Expresso, de 2006, que seriam uns 200, a maior parte concentrados em Bissau];  (*)

(iii) Do nosso tempo estão sinalizados (ou têm sido referidos)  alguns comerciantes libaneses, ou de origem libanesa, em Bissau, Bafatá, Xitole, Gondomar e outros sítios:

(a) Bissau > Na baixa, havia as lojas do Taufik Saad, do Azis Harfouche, do Mamud el Awar;

(b) Bafatá > As "manas libanesas";

(c) Xitole > Jamil Nasser;

(d) Nova Lamego > (?)

(e) Bissorã > (?)

(f) Teixeira Pinto / Canchungo > (?)

(g) Xime > Amin (?)

(h) Gondomar > Regala (?)

(i) Catió > ?

(j) Piche > Taufick ?

(iv) Não há estatísticas... Ou há ?  De qualquer modo, a diáspora libanesa é já muito antiga, e remonta aos seus antepassados fenícios que chegaram à nossa costa, atlântica,  muitos séculos antes de Cristo... Calcula-se que, para uma população atual de 4,4 milhões a viver no Líbano [, "Lebanon", em inglês], haja o dobro ou o até o triplo de libaneses, ou seus descendentes, pelo mundo fora, com destaque para o Brasil (5 a 7 milhões), a Argentina, os EUA,a Venezuela, a Austrália, etc. Mas também países árabes, África ocidental francófona (Costa do Marfim, Senegal, Guiné-Bissau...).

(v) Antiga colónia ou protetorado francês, depois da desintegração do império otamano, o Líbano alcançou a independência em 1943; as tropas francesas sairam de lá em 1946; e  a emigração para a África Ocidental francófona deve ser dessa época, ou até anterior (antes e depois da I Guerra Mundial); em geral, são cristãos, mas também muçulmanos xiitas, os que emigram, e são reconhecidos como uma comunidade próspera e influente, de gente que se dedica ao comércio (veja-se  o caso do Brasil);

(vi) Quando é que os libeneses começaram a vir para a Guiné ? [O Expresso diz que foi há mais de 120 anos] (*);

(vii) Não sei se o Joaquim Mexia Alves e outros camaradas que privaram com o Jamil Nasser (**), no Xitole, têm alguma informação sobre a história da família, sua chegada à Guiné, etc.

(viii) Alguns foram nossos camaradas como o cap grad comando Zacarias Saiegh, por exemplo, tendo começado como fur mil do Pel Caç Nat 52,antes e ingressar na 1ª CCmds Africanos.


2. Quem quer dar uma ajudinha para este TPC coletivo ?

Boas férias para quem for de férias, bom descanso para quem ficar em casa... Passear, a pé, é importante... Mas também conviver, pensar, ler, escrever... e blogar!

Um abraço (ativo, produtivo, saudável, camarigo...) para todos. Luís Graça, Carlos Vinhal e demais equipa.
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Notas do editor:

(*) Vd. excerto de reportagem, Expresso, de 7/972006 (Os libaneses na actual  Guiné-Bissau")

(...) O cônsul do Líbano em Bissau, o comerciante Hassib el Awar, garante que os "sirianus" – como eram conhecidos os libaneses antes da independência da Guiné-Bissau – estão cá há pelo menos 120 anos. Este druzo de 73 anos, natural da região de Baabda, no centro do Líbano e a 40 quilómetros de Beirute, sabe do que fala. Chegou à ex-Guiné Portuguesa em 1949, para trabalhar com o tio, de quem herdou a "Casa Mamud el Awar", loja que ainda hoje conserva o mesmo nome.

Hoje, o cônsul tem um registo de apenas 200 libaneses. Mas supõe-se que são muito mais, na maioria muçulmanos, xiitas. Discretos, por vezes, não hesitam em exibir as suas preferências políticas, como durante o recente conflito com Israel, em que o restaurante "Ali Baba", em Bissau ostentou um retrato de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah.

Os irmãos Mazeh, xiitas, instalados a partir dos anos 90, abriram a primeira fábrica de espuma da capital guineense, onde está o grosso dos libaneses. Mas ainda há um punhado de comerciantes nas regiões. É o caso de Abibe Fares, ex- colaborador do general Aoun, que vive em Bissorã, no Norte. Outro apoiante do líder cristão, Ghassam S. Makarem, um famoso jornalista, explora duas papelarias em Bissau.

As diferenças confessionais não impedem a comunidade de coabitar. Em Julho, cristãos e muçulmanos organizaram uma marcha de protesto contra a ofensiva israelita no sul do Líbano. Mas difícil é manter a associação local, que apenas funcionou um ano.(...)


(**) Vd. poste de 8 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13378: No 25 de abril eu estava em...(24): Xitole, e foi o comerciante libanês Jamil Nasser quem me deu a notícia, ouvida na BBC, na sua emissão em árabe (José Zeferino, ex-alf mil at inf, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74)

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13399: Efemérides (164): O Ramadão de 1970 em Paunca (Abílio Duarte, ex-fur mil art, CART 2479 / CART 11, Os Lacraus, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)









Guiné > Zona Leste > Setor L6 (Pirada) > Paunca >  CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71) > Cerimónia do Ramadão de 1970 em Paunca. Nesse ano o Ramadão começou a 31 de outubro e terminou a 30 de novembro.

Fotos: © Abílio Duarte (2014). Todos os direitos reservados. (Edição:  L.G.)

1. Está a decorrer desde 29 de junho e vai  até 28 de julho, no mundo ilsâmico, a festa do Ramadão, o  nono mês do calendário muçulmano, durante  o qual os crentes praticam o seu jejum ritual,   um dos cinco pilares do Islão.

A palavra Ramadão vem do árabe "ramida", “ser ardente”,  palavra talvez associada ao facto de o Islão ter celebrado este jejum pela primeira vez no período mais quente do ano. Em termos simples, para um crente é um tempo cracterizado por : (i)  renovação da fé; (ii) prática mais intensa da caridade; (iii) vivência profunda da fraternidade; (iv) reforço  dos valores da vida familiar; (v) aior proximidade aos valores sagrados; (vi) leitura mais assídua do Alcorão; (vii)  freqüência da mesquita; (viii) correção pessoal e autodomínio.

No Alcorão, é  o único mês  que vem mencionado pelo nome. É o  mês em que foi revelado o Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos.

Durante a guerra colonial, os preceitos deste mês (e nomeadamente o jejum durante o dia)  era escrupulosamente respeitado pelos nossos soldados muçulmanos do recrutamente local, e pelas milícias, e muito possivelmente pelos guerrilheiros do PAIGC que eram islamizados (caso dos beafadas, mandingas, fulas, nalus, balantas manés...). Mas em geral os nossos graduados (a começar pelos oficiais) não tinham grande sensibilidade para o problema, e sobretudo para o potencial conflito entre a exigências da atividade operacional e as restrições alimentares impostas pelo  Ramadão.

Na CCAÇ 12, o jejum era respeitado, tanto quanto me lembro pelos nossos soldados. Ainda este ano, durante o Campeonato Mundial de Futebol, se levantou de novo a polémica sobre a religião e o futebol, a propósito da seleção nacional argelina de futebol, por causa da imposição do jejum durante o Ramadão, incompatível, em princípio, com a prática da alta competição desportiva.

2. Publicam-se em cima fotos do Ramadão de 1970,  em Paunca, na zona leste,, uma ceriomónia que era seguida à distância, com respeito e curiosidade, pelos militares portugueses metropolitanos.

As fotos são do Abilio Duarte [ex-fur mil art, CART 2479 (que em janeiro de 1970 deu origem à CART 11, Os Lacraus, que por sua vez em junho de 1972 passou a designar-se CCAÇ 11), Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70; bancário reformado). Foram enviadas em 12 do corrente com a seguinte nota:

(...) "Nesta época de Ramadão, junto te envio umas fotos que tirei em Paunca no Ramadão de 1970. Nestas cerimónias esteve presente um alto dignitário, e que,  segundo me disseram, viera da Mauritânia, e andou naquele períoao do, pelo Senegal e terras do Leste da Guiné, em actividade religiosa.

"Não te incomodo mais, e mais uma vez os meus agradecimentos pela existência do Blog."

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Nota do editior:

Último poste da série > 12 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13273: Efemérides (163): O 10 de junho de 2014 em Belém, Lisboa... Um dos fotógrafos da Tabanca Grande estava lá (Jorge Canhão)

Guiné 63/74 - P13398: Notas de leitura (611): "Estados de Alma: cem sonetos de vida e amor", por Tomás Paquete (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Janeiro de 2014:

Queridos amigos,
Tomás Paquete tem nas veias sangue guineense, cabo-verdiano e são-tomense, nado e criado em Lisboa, assumiu depois as suas origens africanas e partiu para a Guiné-Bissau.
Como funcionário das Nações Unidas tem corrido Seca e Meca e Olivais de Santarém, ásias, américas e áfricas.
A sua poesia não é rotulável, é quase académico, oscila entre o gosto popular e o romantismo desabrido. Uma poesia cosmopolita de quem calcorreou muito mundo e descobriu as âncoras do amor e as desvela, com alegria e exaltação.

Um abraço do
Mário


Estados de Alma: Cem sonetos de vida e amor

Beja Santos

Tomás Paquete apresenta-se como produto da multiculturalidade lusófona, filho de pai guineense, mãe cabo-verdiana e avô paterno são-tomense. Nasceu em Lisboa e passou a juventude entre a Amadora e a capital. Frequentou os liceus Pedro Nunes e Passos Manuel e as Oficinas de São José. Foi funcionário do Instituto Nacional de Estatística e partiu para a Guiné-Bissau depois de assumir as suas origens africanas, foi professor e depois diretor-adjunto do Internato Domingos Ramos, no Boé. Foi seguidamente produtor e chefe do departamento de produção da Rádio Nacional da Guiné-Bissau. Participou na primeira antologia poética da Guiné-Bissau, “Mantenhas para Quem Luta”, 1977, tem vasto currículo ao serviço das Nações Unidas.

“Estados de Alma” é o seu primeiro livro de poesia. Como prefacia António Soares Lopes Jr. (Tony Tcheka), este livro marca a rotura do poeta com o passado, este conteúdo de sonetos medularmente românticos nada tem a ver com a longa luta de libertação nacional, é uma extensa e avassaladora crónica de amor, escrito por vezes num ritmo febril, por vezes mais distenso, elegíaco, temente das perdas desses amores, lançando apelos confessionais, desculpando-se, sofrendo, vitoriando as coisas do amor.

Sempre 14 versos, sonetos que cuidam da rima, métrica rigorosa. Um português castigado, depurado, saltitando entre o gosto popular e o evanescente ultrarromantismo, sem tibiezas. Assim, um poeta raro, indiferente à escola, ao estilo castigado, ao pendor académico. Poesia de consagração, de concelebração, de cântico da dor, de promessa, de registo da mulher que transformou a existência do poeta, ode à sensualidade, pranto na hora da despedida, registo da angústia nos diferentes momentos da incerteza. Fala-se do amor mulato, dos tons mate, da sensaboria do amor vertigem, curtíssimo. Trata-se de uma longa crónica de amor e de alguém que buscou e encontrou um porto de abrigo, que faz confissões ao Tejo, que tem nostalgia das ruas de Lisboa, que lança promessas e que se despede com versos feitos vida, com esta delicadeza e esta intemporalidade:

Vieste num belo formato, nada pequenina,
lembra-me o galão do mata bicho, morena.
Pele delicada em porcelana, tal loiça da china,
que até o tocar-te, não vás partires-te, me dá pena.

Vestida ou não em roupa muito ou pouco fina,
tens sempre um porte real e a voz amena.
E ao teres sido assim pensada e criada, menina,
ao teu corpo só poderiam ter dado uma alma divina.

A água de dois rios famosos fizeram-te, soberana
e quantas esperanças desfeitas, de quem queria
ocultar a beleza, que é, do Nilo e Tejo, a predileta.

Se tudo em ti, é tão sublime, apesar de humana,
espero que percebas, que és a minha única moradia,
e que um dia, transformes os versos, na vida, deste poeta.

Tomás Paquete apresenta-se assim numa toada vibrante, a pulsão é mesmo a paixão ardente. Vale a pena regressar a Tony Tcheka e ao que ele pensa destes estados de alma: “Descortina-se por entre as palavras rimadas, eivadas de estética e ternura, uma musa inspiradora à qual o autor também dedica muitos dos textos escritos num hiato de dois anos. Outros motivos vão aparecendo à medida que a esteira de sentimentos se alarga e abrange outros espaços físicos e geográficos. Ainda quando fala de lagos, rios e montanhas que foi conhecendo por esse mundo fora, é o amor sublime aos cantos”. Ingénuo nesta sua vivacidade de contar, atento à melodia dos sons, este seu livro é a exaltação pelo amor descoberto, nada mais que a vida e o amor se atravessam nesta poesia simples e calorosa.
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13389: Notas de leitura (610): "Exploradores Portugueses e Reis Africanos, Viagens ao Coração de África no Século XIX", por Frederico Delgado Rosa e Filipe Verde (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P13397: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (26): O Honório que eu conheci em Angola e em Cabo Verde (Albertino da Silva, West Palm Beach, Florida, USA, antigo piloto dos TACV, em 1979/80)

1. Mensagem do nosso leitor, residente em WestPalm Beach, Florida, EUA, Albertino Dasilva

Data: 13 de Julho de 2014 às 07:14

Assunto: O Piloto Honorio...

Hoje li um boletim no www.barrosbrito.com, acerca do Piloto Honório [Brito da Costa, nascido na Praia, Cabo Verde, em 28/8/1941; foto à direita, cortesia da página do da família Barros Brito ](*).

O Honório era mulato. Filho de um advogado preto de Cabo Verde. A sua mãe era branca, não sei se nascida na cidade da Praia.

Eu conheci a mãe do Honório.

Eu fui Piloto dos TACV [, Transportes Aéreos de Cabo Verde,] cerca de dois anos (em 1979 e1980). Eu tenho agora 68 anos. Vim de Angola e foi em Luanda que conheci o Honório quando ele saiu da Força Aérea. O Honório fez pulverização aérea nas fazendas de Malange... e depois trabalhou nos Táxis Aéreos em Luanda até à  Independência; tendo regressado a Cabo Verde com medo do MPLA.

Quando chegou a Cabo Verde, o Governo inicial da Independência que tinha um ramo associado aos cubanos, mandou prender o Honório. Pois era um Governo do PAIGC contra o qual o Honório bombardeou na Guiné.

Depois de largos meses na prisão, a sua mãe que por acaso era amiga do Presidente Aristides Pereira (PAIGC),  lá conseguiu que o Honório fosse libertado e depois de uma recuperação de longos meses ele foi admitido nos TACV.

O piloto Alexandre Pina Ferreira, que foi colega do Honório na Força Aérea (neste caso,  em Angola) deu-lhe a mão e ajudou o Honório a entrar na companhia.

Em Luanda éramos todos amigos e sempre prontos aos copos... lá no Baleizão... e uns valentes churrascos com bom vinho e cerveja,  não esquecendo as mulatas bonitas que por lá andavam...
Pois eu também era piloto em Angola e o Alexandre Ferreira também me chamou para trabalhar nos TACV, onde estive 2 anos.

Depois disso vim para os EUA e aqui estou há 32 anos, agora reformado na Flórida.

Tenho um filho (Paulo da Silva) que agora voa nos 777 da US Airways (International).

Soube que o Honório teria morrido antes de 1990. E também o Alexandre Ferreira se passou [...].

Claro que o Honório ainda era meio maluco lá na cidade da Praia. Eu fui co-piloto de alguns voos onde ele era comandante. Confesso que não era nada fácil entendê-lo [...].

Na Praia, quando eu lá estive, assisti a várias palhaçadas...
O Honorio tinha um cão Pastor Alemão... como ele se esquecia de dar comida ao cão, o bicho ia definhando lentamente... E um dia o cão morreu mesmo. O Honório sai-se com esta: 
- Então agora que ele se habituou a não comer é que morre ?!... Tenho que treinar outro cão...

Havia muitas histórias do Honorio lá na Praia.

Ele tinha um feitio que não se explica muito bem... Foi o único filho e muito mimado. Depois deixou Cabo Verde para ir para a Escola Agrícola. Como sabemos, la há bom vinho e presunto... Pois também se contam muitas histórias da sua estadia lá em Santarém...

Pois se esta informação pode ser acrescentada lá na sua página,  pode elucidar alguma gente do tempo da guerra. Mas não ponha lá esta história toda...

Albertino da Silva
West Palm Beach, Florida, USA
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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12306: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (25): O Honório e a minha cabeçada no painel de instrumentos, no T6, que fazia a proteção à coluna logística que ia para Beli... (Vítor Oliveira, ex-1º cabo melec, BA 12, Bissalanca, 1967/69)

domingo, 13 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13396: Ser solidário (161): Uma assinatura pode fazer uma grande diferença - Assinem a petição "Emissão da RDP África no Porto"


Mensagem de Liliana Granja com data de 9 de Julho de 2014

Assunto: RDP África | Uma assinatura pode fazer uma grande diferença!

Boa tarde,
Conforme será de vosso conhecimento, a emissão da rádio RDP África foi transmitida em Portugal durante muito tempo apenas em Lisboa, passando depois a ser ouvida em Faro e em Coimbra. Infelizmente, e incompreensivelmente, a emissão não foi ainda alargada ao Grande Porto. Nesse sentido, foi criada a petição «Emissão da RDP África no Porto» e o caminho que está a ser traçado é a recolha de assinaturas.

Neste momento, mais de 400 pessoas já assinaram a petição "Emissão da RDP África no Porto"!
A quem já assinou a petição, o nosso MUITO OBRIGADO!
A quem ainda não assinou... pode fazê-lo aqui agora mesmo! Não custa, nem demora nada... é só uma assinatura, que pode fazer uma grande diferença!

O próximo passo é DIVULGAR!!! Só com a ajuda de todos será possível e pedimos o favor de divulgarem entre os vossos contactos, para conseguirmos atingir as tão ambicionadas MIL assinaturas!

As pessoas que não tenham BI ou Cartão de Cidadão podem colocar o Passaporte. Foi criado este campo especial para que as pessoas dos PALOP não fiquem impossibilitadas de assinar.

Gostaríamos também de informar que estamos a efectuar a recolha de assinaturas em formato papel. Caso pretendam algum esclarecimento ou desejem partilhar alguma sugestão/opinião, pedimos o favor de nos contactar através do email granjap@gmail.com.

Em breve contamos trazer-vos boas novas sobre este assunto!
Até lá... por favor DIVULGUEM!

Juntos, levaremos a RDP África a bom Porto!

Link directo para a petição: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT73372
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13270: Ser solidário (160): Petição: Parem imediatamente o tráfico ilegal de madeira na Guiné-Bissau!... (Patrício Ribeiro / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P13395: (De) Caras (19): O comerciante Jamil Nasser, libanês, com casa e loja no Xitole, que eu conheci no início da década de 1970 (Joaquim Mexia Alves, José Zeferino e Paulo Santiago)

1. Mensagem do nosso camarada José Zeferino [, ex-alf mil da 2ª CCAÇ / BCAÇ 4616, Xitole, 1973/74; foto à esquerda],  com data de hoje:

Ainda o Jamil (*)

Já me tinha referido ao Jamil anteriormente e realmente ele tinha contactos com o PAIGC: pelo menos um comandante de canhões deles, que vim a conhecer mesmo na sua casa, tinha sido empregado dele em lojas que tinha na zona de Mina [, na margem direita do Rio Corubal], antes da guerra.

Na primeira vez que foi ao Xitole depois da guerra,  foi logo cumprimentá-lo em sua casa. Foi quando o conheci pois estava a bebericar uns scotchs com o Jamil.

O cozinheiro chamava-se Suri e tive o prazer de provar a sua "galinha de mancarra" por duas vezes: uma de oferta do Jamil e outra de encomenda nossa. Espectaculares. Mas precisavam de várias horas de preparação. O Suri tinha um problema de saúde-um testículo enorme que o atrapalhava nos movimentos-seria elefantíase?

O Jamil, libanês, era o mais velho da sua família, e sei que tinha personagens influentes e em cargos políticos em vários países africanos e no próprio Líbano,como parentes.

Abraços para todos

José A.S. Zeferino

2. Comentários do editor L.G. (*):


 A conversa aqui é como as cerejas... Ainda a propósito do "mensageiro" do Xitole (que levou à tropa a notícia do 25 de abril!) (*), há um comentário do Paulo Santiago, no blogue da Tabanca do Centro, que eu tomo a liberdade de a seguir  reproduzir.

Pessoalmente, não o conheci, ao Jamil Nasser, embora tenha ideia de o ter visto, no decurso das nossas colunas logísticas Bambadinca- Mansambo - Xitole - Saltinho, no tempo do BCAÇ 2852 e da CCAÇ 12, no 2º semestre de 1969... Como os demais comerciantes da Guiné, tinha fama, se calhar injustamente, de dar-se bem com os "dois lados"...

Não sabia que era tio do jornalista (e compositor) brasileiro David Nasser (1917-1980), um homem influente no seu tempo, no Brasil e em Portugal.
3. Comentário de Paulo Santiago [, com data de 10 de julho de 2012, em poste publicado no blogue da Tabanca do Centro,] e republicado no nosso blogue, no poste P13378 (*) ...


[Foto à direita: Paulo Santiago, Pombal, 2007; ex-alf mil, cmdt, Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72]


Estou a ver o Jamil com um lenço entre o colarinho e o pescoço para absorver o suor enquanto o nível do whisky ía baixando na garrafa .

Foi com ele que conheci essa do tomate com whisky...sabia bem !!!

Comi alguns almoços em casa dele,o "criado" era um excelente cozinheiro e o "chabéu" óptimo...

Aos Domingos, no tempo da CCAÇ 2701, o Jamil ía com frequência almoçar ao Saltinho,e após almoço eram umas duas garrafas de scotch e uns quantos tomates a serem aviados.

O Jamil era tio de um jornalista da revista Manchete, muito conhecido no Brasil,e também em Portugal,chamado David Nasser.

Xitole, c. 1971/72 > O Jamil Nasser com o alf mil op esp
Joaquim Mexia Alves, da CART 3492
4. O Jamil Nasser, na evocação feita pelo Joaquim Mexia Alves  [, texto originalmente publicado no blogue da Tabanca do Centro, em 10/7/2012, e aqui  reproduzido com a devida vénia (**)

Recordações da memória – o Jamil

por Joaquim Mexia Alves 

[, à esquerda uma  rara foto do Jamil Nasser, com o nosso camarigo Joaquim Mexia Alves;   cortesia do autor] (**)

Na Guiné, que me lembre, tive apenas um amigo civil, com quem partilhei longas conversas e uma amizade sincera.

Tratava-se do Jamil Nasser, comerciante libanês no Xitole, com quem logo desde o início da minha estadia de “férias” naquele lugar, estabeleci relações de companheirismo e amizade.

Assim, era muito rara a tarde em que ao fim do dia não me dirigia para sua casa, para, no alpendre/varanda que dava para a estrada Bambadinca/Xitole, beber com ele uns “uísques”, acompanhados de pedaços de tomate vermelho salpicados com sal grosso.
Poder-se-ia pensar que tal ligação não combinava, mas digo-vos que era uma coisa de se lhe “tirar o chapéu”.

Ali estávamos, uma ou duas horas, conversando e ouvindo as noticias em árabe, o que, como podem calcular, a mim me dava imenso jeito!!!

O Jamil, se bem me lembro, era o primogénito de uma grande família libanesa, de posses, mas que tudo perdeu na guerra daquele país.
Para que os seus irmãos mais novos pudessem estudar, o Jamil demandou terras da Guiné, onde se estabeleceu no Xitole, enviando dinheiro para os seus irmãos no Líbano.
Um dos seus irmãos chegou mesmo a Ministro dos Negócios Estrangeiros do Líbano, (segundo sua informação), e embora já estivessem todos bem, o Jamil, habituado à Guiné, já não quis regressar à sua terra natal.

A fotografia aqui colocada, foi tirada no fim de um almoço que o Jamil ofereceu na sua casa, em Abril de 1972, (julgo que tendo como “desculpa” o meu aniversário), cuja ementa foi um saborosíssimo chabéu, coisa que eu nunca tinha comido na minha vida.

Lembro-me que uns dias antes o Jamil me pediu para o ajudar a carregar a arca frigorifica com garrafas de vinho branco, para ser mais preciso duas caixas de 12, e eu lhe ter dito que era demais, pois eramos cerca de 12 pessoas!
Ele respondeu que se beberia tudo e se calhar não chegava!

Percebi depois porquê, porque ao meter a primeira garfada do chabéu à boca, pareceu-me que tinha engolido uma fogueira!
O Jamil disse para insistir, porque depois das três ou quatro primeiras garfadas, a boca se habituava ao picante e depois é que se podia saborear o chabéu.
E assim foi, sem dúvida, pois não me lembro de comer outro tão bom como este!

É curioso que por vezes tenho saudades desses fins de 
tarde no Xitole! Hei-de voltar ao Jamil Nasser e a 
outras histórias com ele.(***)

Monte Real, 10 de Julho de 2012
Joaquim Mexia Alves [, foto atual à direita]

[ex-alf mil op esp, CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73]
 ________________

Notas do editor:


(**) Vd. blogue Tabanca do Cnetro >  10 de Julho de 2012 > Recordações da memória – o Jamil [, por Joaquim Mexia Alves]

Guiné 63/74 - P13394: Memória dos lugares (270): Bafatá: o Sporting Club Bafatá, a piscina, o mercado, a Casa Gouveia, a estátua de Oliveira Muzanty... (Fotos de Benjamim Durães, ex-fur mil op esp, Pel Rec Info, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970  > Sede do Sporting Club Bafatá


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970  > Mercado (1)


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970  > Mercado (2)



Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970 > Piscina  (1)


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970 > Piscina (2)


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970 > Parque  da cidade com a estátrua de Oliveirz Muzanty e ao fundo a Casa Gouveia


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970  > Parque  da cidade com a estátrua de Oliveirz Muzanty, junbto ao Rio Geba


Fotos do álbum de Benjamim Durães, ex-fur mil op esp,  Pel Rec Info, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).


Fotos: © Benjamim Durães (2011). Todos os direitos reservados [Edição: LG]
________________

Nota do editor:

Último poste da série > 26 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13332: Memória dos lugares (269): Bissorã, Casa Gardete, do dr. Manuel Gardete Correia (1928-2009), autoridade mundial no combate à doença do sono, a única casa de pedra e tijolo da vila, construída por seu pai José Gardete Correia, comerciante, natural de Rosmaninhal, Idanha-a-Nova (Armando Pires / Fernando Cristo)

Guiné 63/74 - P13393: Parabéns a você (762): António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72) e Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2658 (Guiné, 1970/71)


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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13391: Parabéns a você (761): António Dâmaso, Sargento-Mor Paraquedista Reformado (Guiné, CCP 122 e 123 / BCP 12)

sábado, 12 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13392: Manuscritos(s) (Luís Graça) (36): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte VII): O melhor edifício da cidade, a Associação Comercial, hoje sede do PAIGC, projeto do arquiteto Jorge Chaves, de 1949-1952

.


Guiné > Bissau > s/d > Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bissau. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 144". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal).

Foto: © Agostinho Gaspar / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine (2010). Todos os direitios reservados [Edução: LG]




Foto: © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados



1. Manuscrito(s) (Luís Graça)

Nota de leitura > Ana Vaz Milheiro – Guiné-Bissau: 2011. Lisboa, Circo de ideias, 2012, 52 pp. (Viagens, 5)

Parte VII (*)

Continuação das nossas notas de leitura desta brochura da investigadora e professora do ISCTE -IUL, Ana Vaz Milheiro (que é também crítica do jornal "Público" e que, sabemo-lo,  utilliza
igualmente o nosso blogue como fonte de informação e conhecimento, graças ao seu valioso espólio documental sobre a ex-Guiné portuguesa).

Como temos referido em postes anteriores desta série, este livrinho, profusamente ilustrado com fotografias da autora, a cores, resulta de uma singular viagem à Guiné-Bissau, durante 10 dias, de 2 a 10 de outubro de 2011, .feita por ela e por outro colega arquiteto, bem como pelo antropólogo Eduardo Costa Dias, nosso grã-tabanqueiro.

Ironia da história (ou talvez não, os “vencedores”, em todas as guerras, ficam sempre com os melhores despojos…): “o melhor edifício” de Bissau, na opinião qualificada da nossa cicerone e especialista em arquitetura colonial estadonovista,. Ana Vaz Milheiro, é(era) a sede da nossa conhecida Associação Comercial. Industrial e Agrícola da Guiné, junto ao palácio do governador...

O propjeto é de um jovem arquitecto de Lisboa, Jorge Chaves, e a remonta a 1959-1953. Depois da saída dos portugueses em setembro de 1974,a sede da Associação Comercial  passará a ser, muito naturalmente, a sede do PAIGC, ou sejas. dos novos senhores do território, com Luís Cabral, irmão de Amílcar Cabral (1923-1973), como primeiro presidente da jovem república da Guiné-Bissau.

Mas quem era Jorge Chaves ? Um jovem (e ainda relativamente pouco conhecido) arquiteto de Lisboa que não pertencia ao Gabinete de Urbanização Colonial. Nasceu em 1920 e morreu em 1981. Seu nome completo: Jorge Ribeiro Ferreira Chaves

 (…) “Activo profissionalmente entre 1941 e 1981, é considerado um dos mais perfeccionistas arquitectos portugueses.

Realiza, em atelier próprio, desde 1946, várias dezenas de projectos, para Portugal continental, Madeira, Guiné e Angola, dos quais se destacam a Pastelaria Mexicana, a loja Palissi Galvani, os Laboratórios Cannobio, um edifício de habitação na Rua Ilha do Príncipe e o Hotel Florida, em Lisboa, o Hotel Garbe, o Hotel da Baleeira e o Hotel Globo, no Algarve, a Câmara de Comércio de Bissau e a Caixa Geral de Depósitos de S. Pedro do Sul.” (..)
(Fonte: Jorge Ferreira Chaves, Wikipédia)

Nascido em Cabo Verde, Jorge Chaves fixou-se definitivamente em Lisboa a partir de 1931.  Mas deixemos à Ana Vaz Milheiro a apresentação do edício:

(…) “O projeto é escolhido em concurso lançado em Lisboa, no Porto e em Bissau, em 1949. O representante do Sindicato Nacional dos Arquitectos no júri é então João Simões, arquitecto experimentado em projetos para os Trópicos. De estrutura pavilhonar, em L, o edifício do PAIGC introduz uma qualidade de desenho que será difícil igualar em outros momentos da cultura arquitectónica luso-guineense. No interior o programa de decoração deve ter contado com a colaboração de Luís Possolo, arquitecto do Gabinete, ainda que treinado na Architectural Association, em Londres, No início dos anos cinquenta, a resposta portuguesa a uma arquitectura tropical encontra aqui, portanto, a sua melhor expressão” (p. 26).

Na opinião de outros arquitectos de renome que trabalharam para África, o edifício desenhado por Jorge Chaves (com murais de José Escada), pelo arrojo das suas linhas, conforto, mordernidade e até riqueza, não ficava atrás da arquitectura de Brasília, por exemplo, e era unanimemente considerado como o melhor edifício que nós deixámos em Bissau, do ponto de vista arquitectónico.

Jorge Chaves não pertencia ao Gabinete de Urbanização Colonial (ou do Ultramar, como passou a ser chamado, a partir de 1951), e daí talvez a razão do projeto ter uma modernidade que não seria possível dentro do paradigma da arquitectura colonial de então, marcado pelos constrangimentos da funcionalidade, adaptação ao clima, resistência e uso de materiais de baixo custo de manutenção.

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Guiné 63/74 - P13391: Parabéns a você (761): António Dâmaso, Sargento-Mor Paraquedista Reformado (Guiné, CCP 122 e 123 / BCP 12)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13379: Parabéns a você (760): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2412 (Guiné, 1968/70); Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Joaquim Carlos Peixoto, ex-Fur Mil da CCAÇ 3414 (Guiné, 1971/73)