sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19458: (In)citações (124): A Angola e os angolanos que eu conheci e que ficaram no meu coração: os nossos camaradas angolanos eram filhos do povo, do admirável e sofrido povo de Angola; (...) para a esmagadora maioria deles, foi só quando passaram a fazer parte da nossa companhia que eles puderam, pela primeira vez nas suas vidas, relacionar-se com brancos de igual para igual, olhos nos olhos, ombro com ombro, de homem para homem ... (Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535, 1972/74)

Fernando de Sousa Ribeiro. Vive no Porto.
Mss também gosta de Lisboa  onde viveu e trabalhou
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1. Mensagem de Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535 (Angola, 1972/74), membro da Tabanca Grande desde 11 de novembro de 2018_

Obrihgado, Luís, pelos votos e pelo vídeo.

Alguma coisa tem vindo a mudar em Angola desde que João Lourenço assumiu a presidência. Este vídeo [, em que o comandantenacional da política denuncia, publicamente, a corrupção na instituição e expulsa das suas suas fileiras alguns dos seus mais elementos] é uma demonstração real disso.

Mas as dificuldades que o João Lourenço está a enfrentar são provavelmente maiores do que as que ele esperava encontrar, sobretudo no que ao repatriamento de capitais desviados para os paraísos fiscais diz respeito.

Até agora, ele só tem ouvido palavras aparentemente muito simpáticas de vários governos e entidades internacionais, mas sem consequências práticas. O Reino Unido, então, já recusou repatriar os 500 Milhões  de dólares desviados do Fundo Soberano de Angola pelo filho mais novo do José Eduardo dos Santos, José Filomeno dos Santos, e sua quadrilha. É a pérfida Albion no seu "melhor".

De qualquer modo, o tempo parece estar a jogar a favor de João Lourenço, que vai consolidando o seu poder, mas também joga contra ele, porque a economia angolana não parece estar a "levantar voo", nem pouco mais ou menos. Espera-se que este ano a economia do país entre em recessão, o que é muito mau.

Esperemos para ver, desejando que as coisas melhorem, para bem de um povo que eu aprendi a amar, graças aos maravilhosos subordinados angolanos que tive o supremo privilégio de comandar e pelos quais choro copiosas lágrimas de saudade.

A este respeito, permito-me reproduzir as seguintes palavras que lhes dediquei no meu livro inédito de memórias da guerra, a que dei o título de "Dignidade e Ignomínia":


Sinto um orgulho enorme nos subordinados [portugueses e angolanos] que me coube comandar.

(...) Posso (...) afirmar categoricamente que fui um privilegiado por ter tido a meu lado companheiros dotados de uma tal fibra.

Fui ainda mais privilegiado porque entre eles havia angolanos, que foram das pessoas mais extraordinárias que conheci. Não há dinheiro no mundo que pague toda a sua sabedoria, toda a sua generosidade e toda a sua sensibilidade. Depois de os ter conhecido, nunca mais fui o mesmo.


Tenho os seus nomes escritos em letras de ouro no meu coração: Domingos Amado Neto, Silva Alfredo dos Santos, Domingos Cangúia, Diogo Manuel, Ramiro Elias da Silva, Domingos Jonas, Mateus Tchingúri, Jonas Vitorino, Lucas Quinta, Henrique Luneva, Raimundo Nunulo, Domingos Dala, Fortunato Francisco João Diogo e Simão João Leitão Cavaleiro. Nunca os esquecerei.

Os nossos camaradas angolanos eram filhos do povo. Do admirável e sofrido povo de Angola. Quer isto dizer que, para a esmagadora maioria deles, foi só quando passaram a fazer parte da nossa companhia que eles puderam, pela primeira vez nas suas vidas, relacionar-se com brancos de igual para igual. Olhos nos olhos, ombro com ombro, de homem para homem. E eles foram insuperáveis no companheirismo e na dignidade com que se relacionaram connosco, os europeus da companhia.


Encontrando-se na mesma situação que nós, os nossos camaradas angolanos não se limitaram a partilhar as suas vidas connosco no seio da companhia; eles fizeram parte integrante de nós mesmos, tanto quanto isto foi possível.


Eles travaram os mesmos combates que nós.


Eles caíram nas mesmas emboscadas que nós.


Eles enfrentaram as mesmas minas que nós.


Eles contornaram as mesmas "bocas‑de‑lobo" que nós.


Eles suaram os mesmos cansaços que nós.


Eles enjoaram as mesmas rações de combate que nós.


Eles dormiram debaixo da mesma chuva que nós.


Eles tremeram os mesmos medos que nós.


Eles riram as mesmas alegrias que nós.


Eles choraram as mesmas saudades que nós.


Eles acalentaram as mesmas esperanças que nós.


Eles foram nós. Todos fomos nós." (...)(**)
Um abraço

Fernando de Sousa Ribeiro
Porto, 12 de janeiro de 2019

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19457: Historiografia da presença portuguesa em África (148): O padrão, no Gabu, comemorativo do V Centenário da Descoberta da Guiné (1446-1946)



 Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Janeiro de 1968 > O Virgílio Teixeira junto a um padrão do V Centenário, localizado "perto de Nova Lamego, à saída para Bafatá".

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do nosso editor Luís Graça, na sequência do poste P19448 (*)

Virgílio e Valdemar:

Aparentemente, está desvendado o mistério da foto nº 7:  o "padrão", junto ao qual foi fotografado o meu "mano" Virgílio Teixeira, é o do V Centenário da Descoberta da Guiné, 1446-1946... Ampliei a foto, e consegui ler parte da inscrição na parte inferior: [cen]tenário e [19]46..

Devia haver vários padrões deste tipo, de estética estado-novista, espelhados pelo território da Guiné, provavelmente nas sedes das circunscrições ou concelhos  (Bafatá, Gabu, Cacheu, Bissorã, Mansoa, Farim, Teixeira Pinto, Fulacunda, Catió, Bolama, etc.). Foi obra do governador geral Sarmento Rodrigues, no âmbito das comemorções do V Centenário da Descoberta da Guiné...(**)

No nosso blogue, há imagens de pelo menos um padrão comemorativo da efeméride: estava (e está) em Portogole, na margem direita do Rio Geba... Mas a forma é diferente, é cilíndrica, uma coluna tal como os padrões, com as cinco quinas, que os nossos navegadores íam colocando, nas terras por si demandadas e "descobertas"... (**)

Também encontrámos um outro  nas imediações de Susana, no chão felupe: esse padrão é idêntico ao do Gabu e da mesma altura.... A inscrição na base não deixa dúvidas: "V Centenário 1446-1946"...

Em relaçãodrão do Gabu, ainda poderia, inicialmente,  haver um pequena dúvida: podia eventualmente  ao patratar-se de um  monumento comemorativo da morte do Infante Dom Henrique, o V Centenário do Infante Dom Henrique (1460-1960)... Há um monumento desses pelo menos no Cacheu.

Mas a dúvida, em relação à foto do Virgílio Teixeira,  dissipou-se: o algarismo que se lê na bse do monumento do Gabu  é [19]46 e não 1960... 


Guiné > Região do Cacheu > Cacheu > Março de 1972 > Monumento em homenagem do "V Centenário da Morte do Infante Dom Henrique [1460-1960]. Foto do Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73)

Foto e legenda): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementae: Blogue Luís Graç & Camaradas da Guiné]


Tudo indica, portanto, que este monumento, o do Gabu,  tenha sido inaugurado em 6/2/1947, quando o subsecretário de Estado das Colónias, engº Rui Sá Carneiro,  na companhia do governador geral Sarmento Rodrigues, passou pelo Gabu, no seu périplo pela Guiné. em representação do Governo Português, no âmbito das comemorações do V Centenário da Descoberta da Guiné (1446-1946). Na época o Gabu era Gabu, só mais tarde passou a designar-se por Nova Lamego.(****)



Guiné > Região de Cacheu  > Susana > Monumemto comemorativo do "V Centenário 1446-1946"... Homenagemm também ao mito felupe do primeiro casal felupe:  “Foi aqui que o primeiro Felupe ergueu a sua casa da tradição”... (**)  Segundo Lúcia Bayan, especialista da sociedade felupe,  doutoranda em estudos africanos, ISCTE - IUL, trata-se do mito fundador dos felupes de Susana, segundo o qual "Emit-ai (Deus) deitou à terra um casal felupe, que construiu a primeira casa felupe e deu origem à primeira tabanca felupe, denominada Sabotul. Situada perto de Suzana, Sabotul terá sido destruída, provavelmente no século XIX, por Ambona, o herói felupe que fundou Suzana"... O padrão do V Centenário não ficou no local da antiga Sabotul mas a alguns quilómetros antes.

Foto: Arquivo do Blogue Luís & Camaradas da Guiné [, em princípio os créditos fotográficos devem ser atribuídos a Lúcia Bayan; trata-se de um excerto de um texto desta que veio "colado" a um outro de Mário Beja Santos, certamente por lapso...]


Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > 2005 > Marco comemorativo do V Centenário da Descoberta da Guiné (1446-1946) > Porto Gole, na margem direita do Rio, na estrada Bissau - Nhacra - Mansoa - Porto Gole - Bafatá (interdita no meu tempo, 1969/71. L.G.).

A fotografia é do Jorge Neto (pseudónimo,. Jorge Rosmaninho, autor do blogue "Africanidades (Vivências, imagens, e relatos sobre o grande continente - África vista pelos olhos de um branco") que não já está ativo). 

Este monumento foi inaugurado em 8/2/1947 pelo subsecretário de Estado das Colónias, engº Rui Sá Carneiro, sendo governador geral Sarmento Rodrigues.

Foto: © Jorge Neto (2005).  Todos os direitos reservados {[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

28 de janeiro de  2019 > Guiné 61/74 - P19448: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXI: As colunas para o sudoeste do setor: Bafatá, Fá Mandinga e Bambadinca, eram mais de 200 km, ida e volta

(**) Vd, postes de:


quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19456: Blogoterapia (291): Graças à vida... e ao nosso blogue (Virgílio Teixeira / Luís Graça)

1. Comentário de Virgílio Teixeira [ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), nascido no Porto em 29 de janeiro de 1943; vive em Vila do Conde, economista e gestor reformado (*) 

Caros amigos, camaradas e membros do Blogue:

A todos os que leram este Poste, aos que comentaram esta data de aniversário, e a todos os outros que por razões, que a razão desconhece, não aparecem aqui, pela minha parte o meu muito sincero, obrigado.

Entro hoje no chamado quarto quadrante da vida, se tivermos como horizonte os 100 anos.

No 1º quadrante fomos crescendo, aprendemos a ler, chegamos a gente adulta, e fomos cumprir as nossas obrigações, enquanto cidadãos de Portugal.

No 2º quadrante formamos família, o objectivo da vida, e procuramos o nosso caminho.

No 3º quadrante, já instalados na nossa missão na terra, estamos na velocidade cruzeiro, e já pensamos que sabemos quase tudo.

No 4º quadrante, que começa no 1º dia dos 76 anos, vamos percorrer a parte mais difícil da nossa existência, lutando, agora não contra as minas e armadilhas, mas contra um inimigo implacável, a idade, o inicio da velhice que custa a convencer-nos, e o outro lado da batalha, a doença que nos vai levar, mais tarde ou mais cedo, a fazer parte da lista daqueles que da lei da morte se foram libertando – isto aprendi aqui no blogue, entre muitas outras verdades.

Quero aqui publicamente agradecer ao nosso editor, amigo e camarada, Luís Graça, a única pessoa que conheço que nasceu no meu dia, por me ter trazido para a companhia destes nossos tertulianos, cujo convívio, mesmo que virtual, deram um novo rumo à minha vida. 

Partilhando acontecimentos que julguei sempre que só tinham passado por mim, e que afinal, nos juntamos num núcleo de pessoas, que têm em comum mais do que terem passado pela guerra da Guiné, mas acima de tudo porque ficaram e estão marcados por esta vivência e não conseguem ver-se livres do «espírito e mistério» daquela terra, tão madrasta, para tanta gente, e que nos amarrou para toda a vida.

Obrigado por me terem aturado os meus maus momentos, e por tudo aquilo que escrevo e que não é do agrado de todos, mas são coisas que não consigo ultrapassar, estou bem assim e espero continuar por muito tempo, há aqui um espaço de escape, para partilhar com gente que sabe do que falo, pois hoje, é mais difícil encontrar alguém que entenda esta linguagem.

E agora comentando para o aniversariante Luís Graça, nos seus jovens 72 anos, que seja muito feliz, e que o País lhe pague por ter ‘montado’ este Blogue, narrando a nossa guerra, sem hipocrisia, sem preconceitos, sem politica, apenas a verdade nua e crua, quer se goste ou não, mas que ficará para sempre na nossa história, da nossa geração. Parabéns, Luís, e um Bom Dia junto daqueles que te são mais queridos. Virgílio Teixeira Vila do Conde, 29 de Janeiro de 2019

P.S. - Para quem não sabe: No dia 29 de Janeiro de 1943, estava eu a nascer, quando o General Nazi Paulus comunicou a Hitler que se ia render aos Russos na frente da batalha de Leninegrado, levando para a morte inglória, mais de 200 mil soldados.


2. Comentário de Luís Graça, ex-fur mil armas pesadas inf, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), nascido na Lourinhã, em 29 de janeiro de 1947; é sociólogo,  professor universitário reformado, vive entre a Lourinhã e Alfragide / Amadora:


Como já tive ocasião de te dizer pessoalmente ao telefone, fico feliz e sensibilizado por ler o teu sincero e emotivo comentário, para mais sendo tu um dos mais recentes, mas também dos mais ativos,  grã-tabanqueiros entrados há pouco mais de um ano...

Tens  já mais de 110 referências no nosso blogue, o que é obra!...  Tens um extenso álbum com um milhar de fotos a preto e branco e a cores, e uma memória notável dos temos e lugares da guerra da Guiné.

Gosto da tua franqueza e frontalidade, és tipicamente um homem do Norte. Fazes anos no mesmo dia que eu, por isso passei,  a partir de ontem, a tratar-te  também como "mano", além de amigo e camarada...

Só me lembro de um velho amigo, que já morreu há muito, que fazia anos no mesmo dia que eu: o tio João 'Moleiro', da Atalaia / Lourinhã... Moleiro de profissão... (E, mais recentemente, de um dos filhos do meu amigo Luís Morais, de Tomar, que eu ajudei a doutorar-se em saúde pública, e curiosamente filho de miliar, com vivências em Angola, na infância.)

Quando lá vivi, na Lourinhã, e sobretudo nos primeiros anos do meu regresso da Guiné, entre 1971 e 1974, ia sempre lá a casa dele, o ti João 'Moleiro', que sempre conheci 'enfarinhado',  beber um copo à sua/nossa saúde, nesse dia... Com o meu saudoso amigo, colega e primo João 'Patas' que, se não erro, era afilhado do ti João 'Moleiro' ... (Nas terras pequenas, na província, toda a gente tem alcunhas, muitas vezes ligadas às velhas profissões: moleiro, sapateiro, funileiro, mata-porcos, bate-chapas, sacristão, carteiro, canalizador, etc.)

E, ainda a propósito: descobri que o João 'Patas', meu colega nas finanças (, o meu emprego de ocasião...), era meu primo, depois de morrer, ainda novo, com filhas para criar, naquela idade em que devia ser proibido um homem morrer... Fez uma comissão em São Tomé e Príncipe, o João 'Patas', no início dos anos 60... Era do clã "Maçarico", de Ribamar, como eu... Os nossos bisavós eram irmãos, soube-o mais tarde, tarde de mais...

Virgílio, sei que não gostas de fazer anos... Afinal, quem gosta de envelhecer? É verdade,  hoje estamos um ano mais velhos, mas estamos vivos!... Em rigor, matematicamente falando, estamos 24 horas mais velhos do que ontem... É só isso.  E tivemos, os dois, que revalidar a carta de condução...

Mas demos graças à vida, por tudo o que a vida nos deu!... e nos vai continuar a dar... porque, modéstia à parte, a gente merece tudo... e mais qualquer coisinha!

Espero que tenhas tido, com a tua querida família, um belo jantar, em Vila do Conde... Como eu te dsse, se fosse mais perto, iria lá cravar-te um uísque... com água de Perrier... Sei que trouxeste uma boa garrafeira e ainda não a estafaste toda... Mas fica para a próxima! ... Afinal, Vila do Conde não fica longe dos sítios por onde páro quando vou ao Norte...

Espero poder, entretanto, dar-te um abraço ao vivo, em Monte Real, no dia 25 de maio.... Já temos marcado, para esse dia, o XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande... Vamos comemorar os 15 anos de existência deste espaço (único) que é o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, onde todos cabemos com tudo aquilo que nos une e até com aquilo que nos pode separar (a política partidária, a religião proselitista, o clubismo futebolístico...). 

E, mais uma vez,  obrigado pelo teu elogio ao blogue que foi pensado, justamente, para unir todos os camaradas que estiveram na Guiné, entre 1961 e 1974... Os vivos e os mortos...  Todos, mas todos, independemente da arma, da especialidade ou  do posto... E a única união possível é através da partilha das memórias (e dos afetos)... Um alfabravo, Luís.

PS - Blogoteria: substantivo feminino > Blogo (de blogue) + terapia > tratamento de 'doenças ou distúrbios' através da partilha de memórias e afetos (por exemplo, entre antigos combatentes ou camaradas de armas)... Ainda não vem nos dicionários... Mas há-de lá chegar.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 29 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19451: Parabéns a você (1569): Luís Graça, ex-Fur Mil Armas Pesadas Infantaria da CCAÇ 12, fundador e editor deste Blogue e Virgílio Teixeira, ex-Alf Mil SAM do BCAÇ 1933 (Guiné, 1967/69)

Guiné 61/74 - P19455: In Memoriam (337): José Arruda (1949-2019), presidente da direção nacional da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas: o corpo estará em câmara ardente com guarda de honra militar, na sede na associação, em Lisboa, a partir das 16h00 de amanhã, 5ª feira, sendo a última cerimónia fúnebre, 6ª feira, às 16h00, no crematório do cemitério dos Olivais


Lisboa > ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas > Av Padre Cruz > 17 de Novembro de 2009 > 18h > Lançamento do livro de Manuel Godinho Rebocho, "Elites Militares e a Guerra de África" (Lisboa, Editora Roma, Colecção Guerra Colonial, nº 8, 2009, 486 pp,).(*)

Na mesa, na sessão de apresentação do livro, estiveram presentes o  Dr. Manuel Joaquim Branco, o autor, Doutor Manuel Godinho Rebocho, o José Arruda (presidente da ADFA), a Prof Doutora Maria José Stock, da Universidade de Évora (e orientadora da tese de doutoramento em sociologia do nosso camarada Manuel Rebocho, discutida e aprovada em provas públicas, na Universidade de Évora, em 2005) e ainda  o editor Dr. José Vicente (Editora Roma).

Na foto acima, o presidente da Direcção Nacional da ADFA, José Eduardo Gaspar Arruda (1949-2019), antigo combatente no TO de Moçambique, e que tive o prazer de conhecer pessoalmente nessa ocasião, tendo-lhe apresentado as saudações de toda a nossa Tabanca Grande. (*)

 O  camarada Arruda convidou-me, por sua vez, para comparecer na festa dos 35 anos do jornal ELO, na segunda-feira seguinte, dia 20. Por razões da minha vida profissional, não pude infelizmente lá estar, nesse dia e hora. Mas não quero faltar, desta vez.  á derradeira despedida, da Terra da Alegria,  do nosso camarada José Arruda, em meu nome pessoal e dos demais membros da Tabanca Grande. (**)


Foto (e legenda): © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: BLogue Lu+is Graça & Camaradas da Guiné]




Honras Fúnebres ao Comendador José Eduardo Gaspar Arruda Presidente da Direção Nacional da ADFA

ADFA | 30 de janeiro 2019 [comunicado reproduzido com a devida vénia]


A Associação dos Deficientes das Forças Armadas – ADFA cumpre o doloroso dever de informar sobre as Cerimónias Protocolares e Honras Fúnebres que serão prestadas ao Senhor Comendador José Eduardo Gaspar Arruda, Presidente da Direção Nacional da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, no Auditório Jorge Maurício, na Sede Nacional da ADFA, em Lisboa.

O Comendador José Arruda estará em câmara ardente, com Guarda de Honra Militar, e será velado a partir das 16h00, até às 23h30, do dia 31 de janeiro, quinta-feira.Na sexta-feira, dia 1 de fevereiro, o Velório prosseguirá a partir das 10h00 até às 14h00, hora a que terá lugar a Cerimónia Fúnebre.


Nesta última homenagem intervirão o Presidente da Mesa da Assembleia-Geral Nacional da ADFA, Joaquim Mano Póvoas, e o associado António Calvinho. A Cerimónia Religiosa de Encomendação será presidida pelo Capelão-Chefe e Bispo das Forças Armadas, Dom Rui Valério. Seguidamente, a Família – filhos José Paulo e Bóris – deixará o seu testemunho e homenagem. Tem lugar depois um pequeno momento musical.

O Cortejo Fúnebre segue, pelas 16h00, até ao Crematório do Cemitério dos Olivais, para a prestação de Honras Militares.


O cerimonial de exéquias e honras militares foi definido de acordo com a vontade expressa da Família do Senhor Comendador José Arruda.

A ADFA reitera, neste último adeus ao seu Presidente, o profundo reconhecimento pela sua dádiva a Portugal e aos cidadãos portadores de deficiência, especialmente aos deficientes militares.

“Eu não canto o épico da guerra!
Não, Não canto!
Eu canto a agressão que fui e suportei!”

Capitão António Calvinho, “Trinta Facadas de Raiva”

A Direção Nacional da ADFA

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Notas do editor:

(*) Vd poste de 26 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5343: Bibliografia (31): Lançamento do livro de Manuel Rebocho, na ADFA, Lisboa, 17/11/09: Foto-reportagem

(**) Último poste da série > 27 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19446: In Memoriam (336): José Arruda (Movene, Moçambique, 1949 - Lisboa, 2019), líder histórico da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas

Guiné 61/74 - P19454: Historiografia da presença portuguesa em África (147): “As Colonias Portuguezas”, por Ernesto de Vasconcellos; A Editora, Lisboa, 2.ª edição, 1903 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Outubro de 2016:

Queridos amigos,
Datam da transição dos século XIX para o século XX alguns documentos de excecional valia sobre o conhecimento científico, em diferentes quadrantes, da colónia da Guiné. Tendo em conta o que escreve este professor da Escola Naval, oficial da armada e conceituado hidrógrafo, era muito rudimentar o conhecimento etnográfico, etnológico e antropológico; não se conhecia a superfície do território nem número de habitantes, faziam-se estimativas a olho ou porque disseram. Mas ao nível da hidrografia Ernesto Vasconcellos revela-se uma águia, quanto ao mais reconhece imensas potencialidades da Guiné para a agricultura. Não deixa de ser curioso que a omissão dos recursos piscícolas é clamorosa, parece que ninguém fazia ideia das riquezas daquelas águas da plataforma continental.

Um abraço do
Mário


A Guiné no livro "As Colonias Portuguezas", de Ernesto Vasconcellos

Beja Santos

Ninguém desconhece que a literatura divulgativa sobre o Império Português deu um salto enorme decorrente da Conferência de Berlim, da criação da Sociedade de Geografia de Lisboa, das expedições e missões científicas que permitiram o mapeamento e o melhor conhecimento dos territórios. Ernesto Vasconcellos, Capitão-de-Fragata, hidrógrafo e antigo lente da Escola Naval, deu à estampa na transição do século uma obra destinada a um melhor conhecimento das parcelas do império: “As Colonias Portuguezas”, A Editora, Lisboa, 2.ª edição, 1903. É desta obra que extraímos as considerações que o autor faz sobre a Guiné.

A situação geográfica: “A Guiné, também impropriamente chamada Senegâmbia Portuguesa, pois não fica entre os rios de Senegal e a Gâmbia, está situada na Costa Ocidental de África, entre as bacias hidrográficas dos rios Casamansa e Compony”.
E tece as seguintes observações sobre o termo Guiné: “A denominação de Guiné e a sua divisão em Guiné Superior e Inferior, aquém e além do Equador, caiu em desuso. O termo Guiné proviria primitivamente aos portugueses do termo Guini, que tinha a importante cidade da bacia hidrográfica do Jolibá e que era centro de grande comércio”.
Sinceramente, procurei Jolibá e nada encontrei de substantivo. Mais adiante o autor afirma que a superfície da colónia é de 11.384 quilómetros quadrados, o que dá conta que na transição do século, e mesmo depois da Convenção Luso-francesa de 1886, ninguém conhecia ao certo a superfície da Guiné. Como hidrógrafo, não perde oportunidade para mostrar os seus conhecimentos: “O Litoral da Guiné é formado por terras baixas, recortado por inúmeros cursos de água, esteiros ou braços de mar, deixando entre si várias ilhas e ilhetas no meio das quais se destaca o arquipélago de Bijagós, composto de muitas ilhas, sendo a maior de todas Orango. Uma densa mata cobre em geral as costas, tornando difícil a sua conhecença e dando às ilhas, quando vistas à distância, o aspecto de tufas de verdura, dispersos aqui e acolá, erguendo-se sobre as águas”.
E procede à exaltação da hidrografia: “É da máxima importância, a ponto de, quase só por si, constituir uma rede fluvial que põe em comunicação os principais centros da província. Esta rede divide-se, anastomosa-se por tal forma, cortando e separando as terras em outras tantas ilhas e ilhetas que, semelhantes a blocos dispersos, fazem com que os estuários da Guiné apresentem na sua parte inferior uma formação idêntica à dos fiordes das costas da Noruega, a ponto de se poderem considerar devidos à acção das geleiras que, na época glaciar, descessem das altas montanhas do Futa Djalon, depositando-se nas águas esparceladas (?) de entre o Gâmbia e a Costa da Malagueta, dando origem ao arquipélago dos Bijagós e outros".

Passando para a economia, revela-se minimamente informado: “Pode considerar-se uma região apta a largas plantações que a transformariam numa colónia de plantação e comércio. Arroz e milho são à base da alimentação de quase todas as tribos indígenas. É curioso e talvez único o sistema agrário da Guiné. O rendeiro ou proprietário contrata os homens para o amanho do seu terreno, empresta-lhes a semente e proporciona-lhes, por adiantamento, meios de vida durante o tempo em que se faz a germinação. Chegada a época da colheita, o trabalhador não tem que dar quota alguma dela, obriga-se apenas a vender ao proprietário o remanescente dessa colheita, depois de lhe pagar as despesas feitas durante o período de trabalho. O proprietário é portanto o comerciante, o engajado é que é o lavrador. Este sistema é principalmente usado para a cultura da mancarra, e o gentio que mais se engaja nela é o manjaco”.
Mas não deixa igualmente de observar que a Guiné possui terrenos apropriados para o cultivo do açúcar e do tabaco.

Quanto à fauna, destaca o gado vacum, o lanígero, o caprino e o suíno; nas planícies abundariam o antílope e o elefante e com alguma abundância o lobo, a pantera e os macacos.

Não esconde as dificuldades em conhecer ao certo a população guineense, alega a falta de elementos estatísticos, dizendo que há quem atribua uma população de 820 mil almas, baseando-se este cálculo nas informações de pessoas práticas do país. Para o autor este número era superior à população do Senegal e Rios do Sul e sem nos explicar qual o critério que levou à sua ponderação, fixa a população guineense em 67.165 habitantes, número que para ele não deve andar muito longe da verdade.
Será bom hidrógrafo mas os seus conhecimentos de etnografia eram muito rudimentares: “As raças que habitam a província são 10, que se subdividem em várias tribos. As mais fortes e mais distintas raças são Fulas, Mandingas e Beafadas, andam de há muito em lutas persistentes por causa da reivindicação dos territórios”.
A Guiné compunha-se de um concelho, o de Bolama, também sede do governo da província e havia comandos militares em Bissau, Cacheu, Geba e Cacine. Quanto às povoações mais importantes, avança com os seguintes nomes: Bolama, Bissau, Cacheu, Farim, Geba, Buba e Cacine.

É bom termos acesso a estes documentos, avivam-nos a convicção de como tão pouco sabiam da Guiné, da sua geografia, da sua etnografia, da sua antropologia, do número efetivo dos seus habitantes. Vão chegar neste período governadores que ensaiarão a pacificação e a ocupação do território que se consagrará mais tarde, depois de Teixeira Pinto. Investigadores como Marcelino Marques de Barros trazem a cultura guineense até Portugal, as etnias, as línguas, a realidade do crioulo. Os mapas vão melhorando e chegou o momento azado para vos mostrar os mapas que, por gentileza da Sociedade de Geografia de Lisboa, usei na capa e na contracapa do meu livro “História(s) da Guiné Portuguesa”. Trata-se da carta da Guiné Portuguesa datada de 1899 na escala de 1:500 000 e na contracapa um belíssimo carta holandesa do século XVIII.


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Nota do editor

Último poste da série de23 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19430: Historiografia da presença portuguesa em África (145): Meu Corubal, meu amor (5) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Giné 61/74 - P19453: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XI: cap cav António Lopo Machado Carmo (Coimbra, 1933 - São Domingos, Guiné, 1963), comandante da CCAV 252 (1961/63)





[O cap cav  António Lopo Machado Carmo era o comandante da CCAV 252, mobilizada pelo RC 3,  Estremoz, tendo esta subunidade partido para o TO da Guiné em 10/8/1961 e regressado a 6/11/1963; esteve sediada em Bissau, Bula, São Domingos e Bula; o infortunado cap cav Machado Carmo foi substituído pelo cap cav Luís Alberto do Paço Moura dos Santos; temos um camarada, na Tabanca Grande, que pertenceu a esta companhia, o "veteraníssimo" Mário Magalhães]

1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período de 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia)

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972. Foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar.
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Guiné 61/74 - P19452: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (13): António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor da CART 3493


Cobumba - António Eduardo Ferreira - Saída do abrigo, local que servia de sala de refeições.


1. Mensagem do nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga e Bissau, 1972/74) com data de 23 de Janeiro de 2019:

Amigo Carlos Vinhal

Faço votos para que te encontres de boa saúde junto dos que te são queridos, e que o novo ano te corra o melhor possível.
Apesar de continuar a ser leitor assíduo do blogue há já algum tempo que não dava notícias, mas um sonho e a data que foi marcante para mim levaram-me a escrever aproveitando para dizer que estou vivo

Recebe um Abraço
António Eduardo Ferreira

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As voltas que vida dá

Hoje tenho algumas dúvidas, se é o tempo que passa depressa ou se somos nós que passamos pelo tempo sem reparar na velocidade a que seguimos, e algumas vezes, sem saber muito bem por onde. Isto para vos dizer que faz amanhã, dia 24 de janeiro, quarenta e sete anos que viajei pela primeira vez de avião. Cerca das seis horas da manhã partimos de Figo Maduro rumo a essa terra desconhecida, para mim, e para quase todos os que seguíamos a bordo, a então província da Guiné. Estava muito frio, cerca de quatro graus em Lisboa, depois de uma breve paragem no aeroporto dos Pargos, em Cabo Verde, tinham passado cerca de nove horas quando chegámos a Bissau onde a temperatura rondava os trinta graus. Se o desnorte já era grande, é fácil de imaginar como fiquei, eu e os que pela primeira vez faziam aquela viagem.

Quando ouvimos algumas pessoas agora acharem estranho como as coisas aconteciam, assim com normalidade, entre os jovens da nossa geração no que diz respeito à nossa ida para a guerra, por vezes dá que pensar. Mas a esta distância no tempo, não admira que assim pensem. Embora, por vezes, nos custe a aceitar o desconhecimento que a esmagadora maioria demonstra em relação àquela época.

Também eu chego a dar comigo a pensar como era diferente a vida da nossa gente naquele tempo. O meu primeiro filho nasceu no dia vinte e dois de Janeiro, ficou no hospital com a mãe e, dois dias depois eu parti para a guerra…

Todos sabemos como é importante arrumar o passado de forma a não lhe tropeçar, sobretudo, naquilo que menos desejamos. Levei muito tempo a arrumar o meu, não foi fácil, mas consegui, o que não significa que por vezes não lhe tropece. Foi que aconteceu na noite passada, quando dei comigo a percorrer quase todos os sítios por onde andei na Guiné, e foram muitos, ao mesmo tempo a ver todos os ex-camaradas que me eram mais próximos e muitas das situações que por lá tivemos de viver… Fiquei triste ou aborrecido por ter feito essa viagem? Não! Antes pelo contrário. Foi a oportunidade de rever a imagem de alguns amigos que já não estão connosco, e ficar com a certeza que esse tempo já não me causa perturbações como durante muito tempo aconteceu.

Serve também este texto para fazer a minha prova de vida, e desejar a todos, um novo ano com tudo de bom, o que nem sempre acontece, mas isso também é normal. Já agora, quero desejar também o melhor tempo possível a todos os que estão a contas com a chamada doença prolongada, como muita gente gosta de lhe chamar, eu por mim prefiro chamar-lhe oncológica, talvez por estar habituado à sua companhia há já quinze anos…

Um abraço a todos
António Eduardo Ferreira

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2. Comentário do editor

Caro António Eduardo, muito obrigado pelo teu contacto, pois há bastante tempo que não sabíamos nada de ti.

Sabemos que desde há alguns anos tens lutado contra a doença, esperamos que estejas "por cima", o mesmo que dizer, que estejas bem tanto quanto é possível, já que o inimigo é difícil de combater.

Ficas intimado a, pelo menos de vez em quando, dares sinal de ti com ou sem os teus contributos para o Blogue.

Em nome dos editores e da tertúlia, deixo-te um abraço com os melhores votos de saúde.
CV
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19436: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (12): António Paulo Bastos, que andou em viagem pelas arábias, ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953 (Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)

Guiné 61/74 - P19451: Parabéns a você (1569): Luís Graça, ex-Fur Mil Armas Pesadas Infantaria da CCAÇ 12, fundador e editor deste Blogue e Virgílio Teixeira, ex-Alf Mil SAM do BCAÇ 1933 (Guiné, 1967/69)


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Nota do editor

Último poste da série de 27 de Janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19442: Parabéns a você (1568): Mário Serra de Oliveira, ex-1.º Cabo Escriturário da BA 12 (Guiné, 1967/68)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P1940: Manuscrito(s) (Luís Graça) (150): No país dos poetas...(Homenagem ao José António Paradela)

Em homenagem 
ao Zé António Paradela
que, além de português e ilhéu, de Ílhavo,
é arquiteto e poeta
(e portanto, triplamente louco).

Tem vindo a cumprir religiosamente 
o guião da sua história de vida: todos os anos, a 30 de outubro, faz anos
e, uns dias depois,
junta à volta da mesa
a família e os amigos
para celebrar a vida, o amor,
a amizade e a poesia.

Como ele faz o favor o ser meu amigo,
e, mais do que isso, é meu mano,
eu costumo todos os anos
escrever-lhe uns versinhos.
Este ano não saiu um “sorneto”, 
de chocolate e morango,
mas um poema livre,
que é também a minha/nossa dedicatória
à prenda que eu, a Alice, a Joana e o João, 
 lhe trouxemos,
o livro de Walth Whitman (1819-1892),
“Leaves of Grass”, “Folhas de Erva”,
numa primorosa tradução portuguesa.

O criador do poema livre,
o poeta maldito,
o grande poeta da democracia americana,
é urgente relê-lo,
numa época em que os pais fundadores  da América
correm o risco de morrer pela segunda vez.

Como eu gosto de dizer
aos meus velhos camaradas,
combatentes de múltiplas batalhas e guerras,
Zé António, até aos 100 
é sempre em frente,
só tens que ter cuidado…
com as minas e armadilhas!

Agora vamos lá ao poema
que eu escrevi a pensar em ti,
que também és poeta como eu,
mas vives em Mira Flores, em Oeiras,
sendo por isso freguês do Isaltino.




No país dos poetas

para o Zé António Que Faz Hoje anos



No país da poetas,
Os poetas não se vendem.
Leya-se (com ípsilon): 
A poesia não se vende,
Mas também já não morre em baús e gavetas. 

No país da poesia,
A poesia nunca está em crise.
Muito simplesmente 
Porque a poesia não entra
Para as contas... nacionais.

Antes a poesia ainda se vendia 
Com os jornais
E servia para embrulhar as castanhas assadas
No verão de São Martinho.
E mesmo assim tinha a concorrência, desleal,
Das "Páginas Amarelas".
Hoje, nem isso, 

A bem da saúde pública, diz a ASAE.

Já não há poesia em papel,
Muito menos de jornal.
A poesia agora é digital.

Mas nunca um ministro..., ai,

Das finanças
Disse, no parlamento, um poema, em excel, 
Sobre o défice orçamental,
A dívida pública
Ou a carga fiscal.
Muito menos ainda sobre
A diferença semântica e conceptual
Entre a banca e o bordel.

Dos poetas se diz que
Não reza a história,
Nem dos fracos.
E os historiadores avisam:
'Pocos… pero locos!'…

Ora mal vai a economia de um país
Quando os poetas se venderem,
Quando a poesia se vender,
Por grosso, atacado ou a retalho,
A par do lixo e da carne do talho. 
E passar a entrar para o cálculo
Do Produto Interno Bruto,
O nosso mágico e bem amado PIB
De todas as Bem-Aventuranças,
Que o melhor do mundo são as crianças.

Mas, porque não ?, dirão
Os econometristas, 
 
Se a poesia tiver cotação na Bolsa ?!

E se o país dos poetas 
For eleito, pelos turistas,
Como o melhor túnel do mundo
Com luzinha ao fundo?! 

Meus senhores, 

Por favor não sejam fundamentalistas,
Não façam, como de costume, 

A vossa cena, canalha,
Afinal, não é o povo mas o mercado
Quem mais...orden(h)a!



Mas, alguém que nos valha, 

Poeta, fraco ou louco,
Desde que saiba

Apontar o dedo a (e rir-se de)
O rei que vai... de tranças e de bibe.

E se o poeta, do escárnio e maldizer,
Ficar sem a cabeça,
Como foi o caso daquela rainha que se riu
Do rei que ia nu, todo ladino,

Do Paço ao Terreiro, 
Mostrando à arraia miúda 
O seu real traseiro ?

O que faremos, afinal, senhores deputados,
Com a cabeça dos poetas decepados ?
Olhem, façam estátuas
E ponham-nas no Parque dos Poetas…
Do Isaltino!



Alfragide, 30/10/2018, v2

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Guiné 61/74 - P19449: Notas de leitura (1145): Viagens de Luís de Cadamosto e de Pedro de Sintra (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Outubro de 2016:

Queridos amigos,
Cadamosto não engana ninguém, vinha à procura de fazer negócios, fareja ouro por tudo quanto é sítio, traz a bordo negros apresados noutras viagens, com o objetivo de comunicar com as populações nativas que encontram. Por vezes, o acolhimento é bárbaro, sente-se a hostilidade, a fama daqueles viajantes não é das melhores.
As duas viagens de Cadamosto, tendo a segunda sido acompanhada de uma caravela do Infante D. Henrique possibilitaram um texto carregado de interesse mas que é alvo de enorme e interminável discussão quanto ao facto de Cadamosto ter chegado ao arquipélago de Cabo Verde ou não.
Damião Peres, que comenta esta edição da Academia Portuguesa de História, deixa no ar a hipótese de Cadamosto ter estado nalgumas ilhas de Cabo Verde.

Um abraço do
Mário


Viagens de Luís de Cadamosto e de Pedro de Sintra (2)

Beja Santos

Luís de Cadamosto, ou Alvise da Ca da Mosto, viajou na região da Guiné em 1455 e 1456. Era um comerciante veneziano, foi atraído pelas riquezas, acabou seduzido pelo que encontrou, mal sabia a polémica que iria gerar a respeito de ter escrito que descobrira algumas ilhas de Cabo Verde. Na obra a que já fizemos referência, edição da Academia Portuguesa de História, edição comemorativa do V Centenário da Descoberta da Guiné, o autor confessa a sua motivação para a escrita:
“Tendo eu, Luís de Cadamosto, sido o primeiro que da nossa nobre cidade de Veneza se resolveu a navegar o Mar Oceano para fora do Estreito de Gibraltar, nas Terras dos Negros da Baixa Etiópia, nem por memória nem por escrituras nunca dantes navegado – e, neste meu itinerário havendo visto muitas coisas e dignas de algumas notícia, para que aqueles que de mim vierem a descender possam saber qual tenha sido o meu ânimo em haver-me posto a procurar diversas em vários lugares, determinei dar notícia disso”.

Cadamosto já negociou com Budamel, segue para a Gâmbia, tem notícia que aqui se encontrou grande quantidade de ouro. Passa junto a terra firme de nome Cabo Verde e revela que os primeiros que o acharam foram os portugueses talvez um ano antes de eu ir a essas partes, “o acharam inteiramente verde pelas grandes árvores que estão verdes todo o tempo do ano”.
E rende-se à pujança da paisagem:  
“Nunca vi mais bela costa do que esta que se me ofereceu; a qual é banhada por muitas ribeiras e rios pequenos e sem importância. Esta costa é habitada por dois povos: Barbacins e Sereros, também negros mas não sujeitos ao rei de Senega. São grandes idólatras, não têm nenhuma lei e são homens muito cruéis; empregam o arco e frechas, e atiram-nas com venenos. São homens muito pretos e bem encorpados. O seu país está cheio de mato, e é abundante em lagos e águas; e, por isso, se têm por muito seguros, porque lá não se pode entrar se não por passos estreitos e por isso não temem nenhum rei nem nenhum senhor das redondezas”.
A viagem prossegue aprazível e ele regista:  
“Correndo, com vento largo, pela dita costa, seguindo a nossa viagem para o Sul, descobrimos a boca de um rio, com a largura, talvez, de um tiro de arco, o qual rio se chama o rio dos Barbacins. E navegando chegámos à boca de um rio o qual mostrava não ser inferior ao sobredito rio de Senega. Lançámos ferro e deliberámos mandar a terra um dos nossos turgimãos, porque todos os nossos navios tinham turgimãos pretos, trazidos de Portugal, os quais turgimãos são escravos negros vendidos por aquele senhor de Senega aos primeiros cristãos portugueses que vieram descobrir o país dos Negros”.

O turgimão negro vai a terra e é morto à machadada, não houve conversas. Prosseguiu a viagem e chegaram à boca do rio de Gambra, é uma viagem cheia de peripécias rio acima, apercebem-se da hostilidade de quem os acompanha por terra.
E relata poeticamente:  
“Neste país, de manhã, ao romper do dia, não há nenhuma aurora com o nascer do Sol, assim que desaparece o negrume da noite, logo se vê o Sol. Por serem agentes do litoral tão rudes e selvagens, não pudemos vir à fala nem negociar coisa nenhuma. Não passámos mais para diante porque os nossos marinheiros não nos quiseram acompanhar. Pelo que, no ano seguinte armámos, mais uma vez, duas caravelas a fim de percorrer mais uma vez esse grande rio. Tendo ouvido dizer o senhor Infante D. Henrique sem licença do qual não podíamos ir, que tínhamos tomado esta deliberação, muito lhe aprouve; e armou uma caravela sua para que viesse a nossa companhia". 
Depois da Canária viajam sempre para o Sul e chegam ao Cabo Branco e então topou-se com terra. Terão descoberto ilhas, não lhes deram nome nem estão identificadas. Matam e cozinham tartarugas: “Pareceram-me bom manjar, quase tanto como carne branca de vitela”.

Cadamosto pensa ter chegado ao arquipélago de Cabo Verde, como escreverá Damião Peres nos comentários à obra o debate é interminável, as opiniões estão divididas mas não é de excluir que ele tenha aportado em algumas ilhas. Conseguem contactar com nativos no rio de Gambra, país de Gambra e o principal senhor da região que se chamava Farosangoli, que estava subordinado o imperador do Mali. Havia muitos senhores que viviam junto ao rio e em conversa com um negro este ofereceu-se para os levar a um desses senhores. Foi assim que chegaram ao lugar cujo nome era Bati Mansa. Descobriram que havia pouca quantidade de ouro. Cadamosto expende larga opinião sobre os idólatras e crentes de Maomé. Trouxeram uma pata e parte da tromba de um elefante ao Infante D. Henrique e assombraram-se com um bicho desconhecido a que puseram o nome de peixe-cavalo, não é mais do que o hipopótamo. E a viagem prosseguiu pelo Casamansa.

(Continua)


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Notas do editor

Poste anterior de 21 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19425: Notas de leitura (1143): Viagens de Luís de Cadamosto e de Pedro de Sintra (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de25 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19435: Notas de leitura (1144): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (70) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19448: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXI: As colunas para o sudoeste do setor: Bafatá, Fá Mandinga e Bambadinca, eram mais de 200 km, ida e volta


Foto nº 6A  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > c. set/out 1967 > Tabuleta com as indicações das distâncias, para Sul, Norte e Leste, localizada numa das saídas-entradas de Nova Lamego. Bafatá para sudoeste  a mais longa, com 53 kms, e temos de juntar mais cerca de 60 dali até ao porto fluvial e depósito da Intendência em Bambadinca [vd. mapa, em baixo].


Foto nº 1 >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Coluna  e de Nova Lamego e Bafatá, "no dia 29 de Janeiro de 1968, o meu aniversário de 25 anos".



Foto nº 9  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Novembro de 1967 >  Na estrada entre Gabu e Bafatá, protegendo-me do pó levantado pelos camiões da coluna da frente, com um lenço, tipo cowboy do Faroeste. 


Foto nº  12  > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69)  > Janeiro de 1968 > Eu, no jipe  com o condutor Pita, impedido do Major Henriques, Oficial de operações, no regresso da viagem a Bafatá e a caminho de Nova Lamego.  


Foto nº 2 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 >  Couna de Nova Lamego a Bambadinca >  Junto a um memorial, pela cruz, pode ser um local em que estivesse enterrado algum militar; foi uma paragem ocasional, ou para a fotografia, em que estou eu e os restantes são todos soldados condutores. 


Foto nº 3 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Novembro de 1967 > Na ponte de madeira que liga Bafatá a Fá Mandinga. 


Foto nº 4 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Outubro de 1967 >  Eu com um grupo de soldados CCAÇ 5, "Os Gatos Pretos", em Nova Lamego.


Foto nº 5 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 >Coluna deNova Lamego a Bambadinca > Paragem na estrada de Gabu para Bambadinca, numa coluna de reabastecimentos. Reconheço os nomes, em pé à esquerda o sempre presente e grande amigo, o soldado condutor o ‘Ermesinde’, Arlindo de seu nome. Do lado oposto, o Furriel Paiva Matos, o nosso vagomestre da CCS do Batalhão. Todos os restantes são reconhecidos, são condutores, quer da CCS do Batalhão ou da Companhia de Intervenção, CART 1742. 


Foto nº 6  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > c. set/out 1967 > Tabuleta com a indicação das distâncias entre Nova Lamego e outras povoações da região leste.


Foto nº 7  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Janeiro de 1968  >  Foto icónica, perto de Nova Lamego, à saída para Bafatá, junto a um Padrão dos Descobrimentos, do qual não anotei o seu nome ou significado. Uma saída a algum lado, em  Unimog Unimog.


 Foto nº 8  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Novembro de 1967  > O meu grupo no meio da ponte para Fá Mandinga. São todos soldados condutores, posso identificar os nomes de dois: o da ponta direita, o Bourbon, impedido do Major Américo Correia, e o Pita, impedido de Major Graciano Henriques. 



 Foto nº 10  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Outubro de 1967  > 'Simulação’ de uma emboscada, na estrada entre Gabu a caminho de Bambadinca, antes de chegar a Bafatá, no meio da mata. Os meus companheiros são todos ‘operacionais’ do volante. 



 Foto nº 11  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Dezembro de 1967  > Coluna a Bambadinca. Vista geral da estrada no troço entre Gabu e Bafatá, tirada a partir da primeira viatura da coluna. 



 Foto nº 13  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Dezembro de 1967  > Uma ‘brincadeira’ de guerra entre índios de arco e flecha. São os soldados condutores do meu Batalhão. Foto captada na estrada entre Gabu e Bafatá.


 Foto nº 14  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >  Dezembro de 1967  > Preparação de uma  coluna para Bafatá-Bambadinca, dentro do aquartelamento do Batalhão em Nova Lamego. Pode ver-se o Furriel Rocha,  o 'Algarvio’ e outros furriéis e milícias. 

 Foto nº 15  >  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) >   31 de Janeiro de 1968  > Vista aérea do aquartelamento de Nova Lamego, e a sua pista à distância. Foto aérea captada de um avião Dakota, pronto a aterrar na pista de Nova Lamego.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Nova Lamego.

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) (*)

 :
T061 – AS COLUNAS DE NOVA LAMEGO PARA SUDOESTE  DO SECTOR: BAFATÁ, FÀ MANDINGA; BAMBADINCA  



Tentei passar todas estas fotos para um ou dois Postes, mas eram tantas as fotos, que nunca foi editado, e ainda bem que não. Assim, reorganizei esta fase da minha estadia, isto é, as mais de 200 fotos, em vários Temas mais pequenos, que estão a ser numerados e legendados a partir do T060.

Este tema pretende mostrar alguma da minha actividade, extra minhas funções, que nunca me furtei de participar, quem em deslocações a vários aquartelamentos do sector, bem como às várias colunas que se faziam regularmente a Bambadinca, de reabastecimentos, que chegavam àquele porto fluvial, vindos pelo Rio Geba acima desde Bissau

O percurso era aproximadamente de 100 quilómetros, para baixo e outros tantos para cima, em estradas de terra batida e outras de alcatrão mal tratado. Tinha como ponto da passagem obrigatório a cidade de Bafatá, onde se concentrava o ‘Comando do Agrupamento’, e sendo assim era bem protegida, os perigos não eram previsíveis.

Por isso fui ‘nomeado’ várias vezes para ‘comandar’ estas colunas, com vários camiões e um Jeep, onde me deslocava. A maioria do pessoal que compunha estas colunas eram os condutores dos próprios camiões e Jeep, e alguns poucos militares ditos operacionais. A segurança seria uma dúvida, vendo agora à distância, mas naquela altura, na idade de vintes, não se pensava nisso, eu pelo menos não pensava, só queria era sair do mesmo sítio, que me sufocava, ver outras terras nem que fossem sempre as mesmas, mas mudar os horizontes.

Quando não era nomeado, eu próprio, podendo, metia-me no meio e lá ia sem ninguém saber, visto que tinha grande margem de manobra para gerir a minha função.

Conheci muitas aldeias e as cidades de Bafatá e Bambadinca, bem como Fa Mandinga. Nunca tivemos nenhum problema com a guerrilha, só com os macacos e outros animais que se atravessavam na estrada, e com os inúmeros montes da formiga ‘baga baga’ que eram verdadeiras fortificações e abrigos contra bombardeamentos.

Fazíamos a viagem, como se diz agora na gíria, sempre a abrir, os condutores eram doidos, davam o máximo nos camiões, felizmente nunca houve despistes, a sorte esteve sempre comigo e com os outros.

As paragens eram frequentes em qualquer lugar, o mato existia de um lado e de outro da estrada, mas era preciso fazer estas pausas para as necessidades de cada um, pois estas operações levavam um dia inteiro. Comia-se a ração de combate para todos

Acho que passei uma boa estadia, eu gostava daquilo que fazia, não ia contrariado em nada, fazia tudo por gosto, por aventura, pura adrenalina dos anos vintes. Por isso ainda aqui estou para poder recordar, mostrar e contar a minha história.

Não é para me enaltecer, mas a maioria dos oficiais milicianos do meu batalhão, não faziam estes serviços, nunca soube porquê, nem hoje me interessa, correu tudo bem, estou vivo.

As fotos foram selecionadas, muitas são de cenas ridículas, como ‘simular’ uma emboscada, e palhaçadas do género, fruto da idade, que apesar de tudo era maior do que todos os restantes.

Espero que sejam apreciadas pelos leitores, e que lembrem a alguns as suas memórias de 50 anos atrás.




Guiné > Mapa Geral da Província > 1961 > Escala 1/500 mil > Posição relativa de Bambadinca , Bafatá e Nova Lamego... A distância por estrada era de cerca de 110 km. Só o troço de Bambadinca-Bafatá é que era alcatroado no final de 1967. Na época o porto fluvial era muito movimentado, quer por embarcações civis quer da mrinha de guerra (, incluindo as LDG - Lanchas de Desembarque Grande)... Em 1969, as LDG já só ficavam no porto fluvial do Xime. A partir de 1972, há um nova estrada, alcatroada, que vai ser a espinha dorl da a região leste, do Xime até Piche e depois atá Buruntuma.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)


II – Legendagem das fotos:

F01 – Estrada entre Nova Lamego – Gabu – e Bafatá, a cerca de 60 quilómetros, a bordo do Jeep, com protecção contra o vento e poeiras. Foto captada na estrada entre Nova Lamego e Bafatá, no dia 29 de Janeiro de 1968, o meu aniversário de 25 anos.

F02 – Junto a um monumento, ou pela cruz, pode ser um local em que estivesse enterrado algum militar, falhou-me aqui tirar os apontamentos, mas não pode ser outra coisa senão um local de memorial. Foi uma paragem ocasional ou para a fotografia, em que estou eu e os restantes são todos soldados condutores. Foto captada na estrada entre Nova Lamego e Bambadinca, num dia de Dezembro de 1967.

F03 – Na ponte de madeira que liga Bafatá a Fá Mandinga. Foto captada na ponte para Fá Mandinga, num dia de Novembro de 1967.

F05 – Paragem na estrada de Gabu para Bambadinca, numa coluna de reabastecimentos. Reconheço os nomes, em pé à esquerda o sempre presente e grande amigo, o soldado condutor o ‘Ermesinde’, Arlindo de seu nome. Do lado oposto, o Furriel Paiva Matos, o nosso Vagomestre da CCS do Batalhão. Todos os restantes são reconhecidos, são condutores, quer da CCS do Batalhão ou da Companhia de Intervenção, CART1742. Foto captada na estrada entre Nova Lamego e Bambadinca, num dia de Dezembro de 1967.

F06 – Placard-Tabuletas com as indicações das distâncias, para Sul, Norte e Leste, localizada numa das saídas-entradas de Nova Lamego-Gabu. Bafatá para Sul é a mais longa, com 53 kms, e temos de juntar mais cerca de 60 dali até ao Porto e Depósito da Intendência em Bambadinca. Foto captada na saída de Gabu para Bafatá, em finais de Setembro de 1967. Provavelmente uma das primeiras fotos captadas em Nova Lamego, e por isso na Guiné, a quando da minha chegada solitária àquela terra.

F07 – Foto icónica, perto de Nova Lamego, à saída para Bafatá, junto a um Padrão dos Descobrimentos, do qual não anotei o seu nome ou significado. Uma saída a algures, num camião Unimog, e uma paragem para a fotografia. Foto captada na estrada entre Nova Lamego e Bafatá, num dia de Janeiro de 1968.

F08 – O meu grupo no meio da ponte para Fá Mandinga. São todos soldados condutores, posso identificar os nomes de dois: O da ponta direita, o Bourbon, impedido do Major Américo Correia, e o Pita, impedido de Major Graciano Henriques. Foto captada na ponte para Fá Mandinga, num dia de Novembro de 1967.

F09 – Na estrada entre Gabu e Bafatá, protegendo-me do pó levantado pelos camiões da coluna da frente, com um lenço, tipo cowboy do Faroeste. Foto captada na estrada entre Gabu e Bafatá, num dia de Novembro de 1967.

F10 – ‘Simulação’ de uma emboscada, na estrada entre Gabu a caminho de Bambadinca, antes de chegar a Bafatá, no meio da mata. Os meus companheiros são todos ‘operacionais’ do volante. Foto captada na estrada entre Gabu e Bafatá, num dia de Outubro de 1967. F11 – Vista geral da estrada entre Gabu – Bafatá- Bambadinca, tirada a partir da primeira viatura da coluna. Foto captada na estrada entre Gabu e Bafatá, num dia de Dezembro de 1967.

F12 – No Jeep com o condutor Pita, impedido do Major Henriques, Oficial de operações, no regresso da viagem a Bafatá e a caminho de Nova Lamego. Foto captada na estrada entre Bafatá e Gabu, num dia de Janeiro de 1968.

F13 – Uma ‘brincadeira’ de guerra entre Índios de arco e flecha. São os soldados condutores do meu Batalhão. Foto captada na estrada entre Gabu e Bafatá, num dia de Dezembro de 1967.

F14 – Preparação de uma ‘Coluna’ para Bafatá-Bambadinca, dentro do aquartelamento do Batalhão em Nova Lamego. Pode ver-se o Furriel Rocha ‘O Algarvio’ e outros furriéis e milícias. Foto captada na estrada entre Gabu e Bafatá, num dia de Dezembro de 1967. 


F15 – Vista aérea do aquartelamento de Nova Lamego, e a sua pista à distância. Foto aérea captada de um avião Dakota, pronto a aterrar na pista de Nova Lamego, em 31 Janeiro de 68.

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21Set67 a 04Ago69».

# As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir. Nada mais. #

Fotos legendadas em 2018-11-22. Texto acabado de ser alterado, novamente, hoje,

Em, 2019-01-06

Virgílio Teixeira

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Nota so edior:

Último poste da série > 16 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19407: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LX: A Casa Caeiro e os comerciantes libaneses de Nova Lamego