terça-feira, 14 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3312: Unidades que passaram por Sedengal (José Martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Martins, ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5 - Gatos Pretos, Nova Lamego e Canjadude, 1968/70, com data de 10 de Outubro de 2008, com mais um valioso trabalho de pesquisa, que só a sua carolice permite concretizar:

Bom dia Camaradas
Em anexo segue a pesquisa sobre Sedengal

Um abraço e bom fim de semana.
José Martins

2. O presente texto teve início com a publicação do Post P3251 (*), publicado em 30 de Setembro de 2008, no blogueforanadaevaotres.blogspot.com, sob o tema “Notícias sobre o ataque a Sedengal em 21/12/1970".

O poste, da autoria do Coronel Matos Gomes, solicitava informações sobre o que escreveu Josep Sanches Cervelló, professor universitário em Tarragona, especialista em história sobre o 25 de Abril e a descolonização portuguesa.

Dia 21 de Dezembro de 1970, ataque do PAIGC ao aquartelamento Português de Sedengal, que causou onze mortos.

Pretendi colaborar nesta procura, tendo concluído que não só não havia registo do facto em si, mas também não constavam mortes neste dia, ocasionados por um ataque ao aquartelamento em questão.

Depois foi apenas necessário estender um pouco mais a pesquisa e, porque a história tem que ser contada por quem a viveu, aqui deixo a referência às unidades militares que passaram por Sedengal e, por arrastamento, àquelas que passaram por Ingoré que, questões de ordem militar, optaram por ser o local onde foi colocado, em tempo oportuno, a unidade que superintendia a acção das forças na zona.

Se observarmos o mapa da antiga Guiné Portuguesa, bem no norte junto à fronteira com o Senegal, nas coordenadas de 12º 24’ N e 15º 55’ W, encontramos Sedengal, cuja convenção nos indica ser Sede de Posto Administrativo, conforme carta geral da província, que pode ser observada no Blogue de Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Na mesma página da net, procurando a carta correspondente a Sedengal, elaborada com base numa fotografia aérea datada de Março de 1953, observamos tratar-se de uma localidade que possuía Posto Sanitário, Posto Telefónico e Posto Alfandegária, dada a sua localização junto à fronteira.

O registo mais antigo, na época contemporânea, da presença de forças militares naquela localidade reporta-se a 03 de Abril de 1961, ainda não se tinham iniciado as hostilidades na província, onde se encontrava um pelotão da 1.ª Companhia de Caçadores Indígenas, aquartelado em Nova Lamego, na zona leste.

A 1.ª Companhia de Caçadores Indígenas fazia parte do dispositivo militar da Guiné e era constituída por militares do recrutamento provincial, enquadrada por oficias, sargentos e praças especialistas oriundos da metrópole tendo existência anterior a Janeiro de 1961. Em 01 de Abril de 1967 foi redenominada CCaç 3, mantendo a mesma estrutura de comando.

A 23 de Agosto de 1961, é efectuada uma reestruturação no dispositivo militar existente, regressando esta companhia a Bissau, mas deslocando o pelotão de Sedengal para Ingoré.

Ingoré é considerada, nos mapas já referidos, como um centro comercial ou uma localidade de menor importância, tendo apenas um Posto Sanitário. Esta povoação localiza-se em 12º 23’ N e 15º 37’ W, ligando a Sedengal por uma estrada principal aberta, normalmente, todo o ano.


Foto Google

Nas pesquisas efectuadas não encontramos dados que nos permitam afirmar a continuidade de tropas em destacamento permanente, quer em Sedengal quer em Ingoré. Registamos que a CCaç 252 [mobilizada no RC 3 – Estremoz - embarque em 01 de Agosto de 1961 e regresso em 06 de Novembro de 1963] actuou em acções de soberania e de contacto com as populações, com efectivos e em períodos variáveis, na região de Ingoré.

Esta subunidade, CCav 252, que actuava sob a orientação do BCaç 239 [mobilizado no BC 9 – Viana do Castelo - embarque em 28 de Junho de 1961 e regresso em 24 de Julho de 1963] deixou Ingoré em 28 de Julho de 1963 por entrada em sector de outras unidades.

Nessa data, 28 de Julho de 1963, assumiu a responsabilidade do subsector de Ingoré, então criado, a CCaç 462 [mobilizada no BC 10 – Chaves - embarque em 14 de Julho de 1963 e regresso em 07 de Agosto de 1965], que destacou um pelotão para Sedengal. Esta subunidade estava integrada no dispositivo e manobra do BCaç 507 [mobilizado no RI 2 – Abrantes - embarque em 14 de Julho de 1963 e regresso em 29 de Abril de 1965].

A CCaç 462 é rendida, por troca em 12 de Novembro de 1964, pela CCav 567 [mobilizada no RC 3 – Estremoz - embarque em 29 de Outubro de 1963 e regresso em 27 de Outubro de 1965], que mantém um pelotão a guarnecer o destacamento de Sedengal

O Sector O1 (Oeste) com sede em Bula e a que pertence o subsector de Ingoré e, logicamente, o destacamento de Sedengal, está sub a responsabilidade do BCav 790 [mobilizado no RC 7 – Lisboa - embarque em 23 de Abril de 1965 e regresso 08 de Fevereiro de 1967], que, em 20 de Outubro de 1965 recebe, por troca com a CCav 567, uma das unidades pertencentes ao seu comando original, a CCav 788 [mobilizado no RC 7 – Lisboa - embarque em 23 de Abril de 1965 e regresso 08 de Fevereiro de 1967], que assume a responsabilidade do subsector de Ingoré e destaca forças para Sedengal.

Em 19 de Outubro de 1965 é criado o Sector O1-B, com sede em S. Domingos, que passa a abranger a área onde se encontra Ingoré e Sedengal, sendo o comando assumido pelo BCaç 1894 [mobilizado no RI 15 – Tomar - embarque em 30 de Julho de 1966 e regresso em 09 de Maio de 1968], para cuja dependência passa a CCav 788 até à sua substituição

Foto Google > Comando de Sector O1 Bula – coordenadas 12º 06’ N e 15º 42 W - Comando de Sector O1 B S. Domingos - coordenadas 12º 24’ N e 16º 12 W

A substituição da CCav 788 ocorreu em 11 de Janeiro de 1967, com a entrada no subsector da CCav 1482 [mobilizada no RC 7 – Lisboa - embarque em 20 de Outubro de 1965 e regresso em 27 de Julho de 1967], que assumiu o comando e enviou um pelotão para guarnecer Sedengal.

A CCaç 1590 [mobilizada no RI 15 – Tomar - embarque em 3 de Agosto de 1966 e regresso em 09 de Maio de 1968], que fazia parte do BCaç 1894 [mobilizada no RI 15 – Tomar - embarque em 30 de Julho de 1966 e regresso em 04 de Maio de 1968], é atribuída ao mesmo para reforço e execução de operações no seu sector, ficando instalada em Ingoré entre 03 de Dezembro de 1966 e 04 de 04 de Maio de 1967.

Mais tarde, em 13 de Julho de 1967, rende a CCav 1482 e assume a responsabilidade do subsector de Ingoré, com o destacamento de Sedengal, guarnecendo o mesmo com um pelotão.

Esta subunidade recebe a CCaç 1801, entre 04 de Novembro de 1967 e 11 de Dezembro de 1967, para efectuar a instrução de aperfeiçoamento operacional e operações sob a orientação do BCaç 1894.

A CCaç 1801 [mobilizada no BC 10 – Chaves - embarque em 26 de Outubro de 1967 e regresso em 20 de Agosto de 1969], regressa a Ingoré para reforçar o BCaç 1894, para actuação nas operações realizadas, e depois integrado no dispositiva de manobra do BCaç 1913 [mobilizada no RI 15 – Tomar - embarque em 27 de Setembro de 1967 e regresso em 16 de Maio de 1969], quando em 23 de Abril de 1968 assume a responsabilidade do subsector de Ingoré, destacando um pelotão para Sedengal.

A CCav 2540, pertencente ao BCav 2876 [mobilizadas no RC 3 – Estremoz - embarque em 19 de Julho de 1969 e regresso em 04 de Junho de 1971], entram em sector em 01 de Agosto de 1969, tendo a CCav 2540 sido destacada para Ingoré, com um pelotão destacado em Sedengal.

Em 10 de Maio de 1971, a CCav 3364, integrada no BCav 3846 [mobilizadas no RC 3 – Estremoz - embarque em 3 de Abril de 1969 e regresso em 08 de Março 1973], substituem no sector e subsector de Ingoré, as unidades antecedentes, sendo destacado, como do anterior, um pelotão para Sedengal da CCav 3364.

As unidades referidas no anterior, são substituídas pelo BArt 6522/72 e pela sua 3.ª Comp/BArt 6522/72 [mobilizadas no RAL 5 – Penafiel - embarque em 6 de Dezembro de 1972 [3.ª Companhia em 7, 11, 14 e 15 de Dezembro de 1972), por via aérea e regresso entre 30 De Agosto e 03 de Setembro de 1974], em Ingoré, a 13 de Fevereiro de 1972, depois de terem efectuado o treino operacional e a sobreposição. A 3.ª Comp/BArt 6522/72. Destacou um pelotão para Sedengal.

Em 13 de Março de 1973 a 3.ª Comp/BArt 6522/72 foi colocada em Sedengal, assumindo a responsabilidade do subsector, então criado, destacando dois pelotões para reforço de Ingoré.

Sedengal – Vista aérea actual - Foto Google

O destacamento de Sedengal foi desactivado e entregue ao PAIGC em 30 de Agosto de 1974, tendo as tropas regressado a Bissau para aguardar embarque de regresso.


José Martins
Fur Mil Trms Inf
CCaç 5 - Gatos Pretos
Nova Lamego e Canjadude
Junho de 1968 a Junho de 1970
CTI Guiné
______________

Nota de CV

(*) Vd. poste de 30 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3251: Em Busca de ... (41): Notícia sobre o ataque a Sedengal, em 21/12/1970 (Cor Carlos Matos Gomes)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3311: O Nosso Livro de Visitas (35): Fernando Nunes, ex-Fur Mil Art da CART 2732, Mansabá, 1970/72 (Carlos Vinhal)

1. Perdoem-me os camaradas por estar a utilizar abusivamente tempo de antena no nosso Blogue, mas fiquei cheio de contentamento quando vi um comentário ao meu poste 3293 (*), do meu camarada, amigo e companheiro do 3.º Pelotão da CART 2732, Fernando Nunes. Para completar a minha alegria só falta vir ao nosso contacto o outro camarada, o Correia que tinha (terá) morada em Lisboa.

Nos primeiros 5 ou 6 meses de comissão, não lhes fiz companhia no mato por estar impedido na Secretaria do Comando e, mesmo durante o resto do tempo que permanecemos em Mansabá, salvei-me de algumas operações em que o Nunes, o Correia, o Alf Bento e todos os bravos rapazes do meu Pelotão participaram estoicamente ao longo dos 22 meses ali passados.

Para não julgarem que eu era um desenfiado, esclareço que acumulava alguma actividade operacional, as minas e armadilhas da Companhia (com a colaboração do camarada Sousa), impedimento na Secretaria e gestão dos bares.

Aqui fica a transcrição do comentário do Nunes:

Amigo Vinhal... não dormiste descansado nessa noite de 21 de Abril de 1970... dizes tu...
E eu tambem não, claro!
Mal chegamos... nem nos deram tempo para respirar um pouco...
Mas o pior estava para vir... longos 23 meses... esses que passamos juntos.

Fernando Nunes
Ex-furriel miliciano ... do nosso 3.º pelotão.

Tantas histórias para contar!!! Verdadeiras histórias de um passado longínquo... mas tambem tão próximo!



GAG2 - Funchal - Madeira, 07ABR70 > Nunes, Vinhal e Correia, aquando da entrega do Guião da CART 2732

Guião da CART 2732, cuja divisa era "Nam Acham Quem Por Armas Lhe Resista"

Em minha casa > 28SET06 > O Nunes, à esquerda e o Ornelas, que vive no Porto Santo. Enquanto as mulheres dormitavam, falou-se de guerra até de madrugada.

CV
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Nota de CV

(*) Vd. poste de 11 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3293: O meu baptismo de fogo (7): Mansabá, 21 de Abril de 1970 (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P3310: Estórias de Mansambo I (Torcato Mendonça, CART 2339) (13): Encontro em Bissau: o nosso homem de Missirá...

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > O Alf Mil Torcato Mendonça... e o seu periquito de estimação.

Foto: © Torcato Mendonça (2007). Direitos reservados.

Texto enviado em 19 de Setembro de 2007, pelo Torcato Mendonça , Fundão. Faz parte de um lote de escritos, a que ele deu o nome de Estórias do José, o seu alter ego. Por razões de conveniência editorial, parte destas estórias estão a ser publicadas sob a série Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (1). Esta corresponde à nº 9 (Encontro com o homem de Missirá), das Estórias de José...

O Torcato Mendonça, juntamente com o Carlos Marques dos Santos, tem sido um dos incansáveis construtores do campo fortificado de Mansambo a alimentar o nosso blogue... Um especial Alfa Bravo para os dois: O Torcato, ou o José - já não sei muito bem - entrou na nossa Tabanca Grande pela mão do Carlos, tertuliano da primeira hora... Um e outro precisam agora de mais cuidados com a saúde. Alegra-me saber que os nossos dois amigos e camaradas estão bem e recomendam-se!...

2. Estórias de Mansambo > Encontro, em Bissau, com o homem de Missirá

por Torcato Mendonça Fim de Julho ou já início de Agosto [de 1968], eu e o Capitão Miliciano Vaz, do Xime (2), sentados a uma mesa do bar de Sta. Luzia, em Bissau, bebíamos algo matando a sede e desgastando, o mais possível, a passagem do tempo.

Íamos, dentro de breves dias, de férias.

Conversa trivial que não recordo. Talvez sobre fotografia. O Cap Vaz era excelente fotógrafo. Tive ocasião de o constatar quando a minha Companhia recebeu, da dele, o treino operacional. Fizemos várias operações juntos. De guerra não falávamos certamente, pois dessa, aos poucos, nos íamos tentando libertar.

Acalmávamos, assim, a ansiedade da partida próxima para a Metrópole. Se nessa altura soubéssemos as virtudes da água pú… De repente, aparece junto de nós um Alferes. Alto, aparência de recém-chegado à Guiné, cara de pouca barba, olhar por detrás de óculos de intelectual da época.

Disparou a pergunta, após o cumprimento:
- Estão na zona de Bambadinca?
- Estamos - respondeu o Capitão Vaz, convidando-o a sentar-se.

A conversa não foi longa. Ele ia para Bambadinca e queria informações. Gracejando, demos as informações possíveis. Ele agradeceu, despediu-se e saiu.

Olhamos um para o outro e nada dissemos. Volteamos os copos, pensando certamente nas nossas gentes lá no mato.

Quanto ao Alferes periquito, pareceu-me mais homem de secretária do que de combate.

Olhei para o Capitão e disse:
- Para onde irá? Creio que o Alferes do Pel Caç de Missirá/Finete acabou a comissão. Talvez o vá substituir. Está lá o Zacarias Saiegh.

Bom combatente, excelente condutor de homens, este guineense com sangue libanês era um Furriel Miliciano, nosso conhecido. Falei com ele várias vezes e fizemos operações juntos. Recordo uma na zona do Enxalé. Operação Gavião, juntamente com a 2338 e o Pel Caç Nat 53. Tratou-se da destruição Sinchã Camisa, Madina e Belel. As nossas tropas sofreram um morto, Tura Baldé, picador no Xime. O IN sofreu vários mortos confirmados. O pior, além das várias flagelações sofridas, foi os ataques de abelhas.
- Baguera, baguera!!! - era o grito a avisar a vinda dos terríveis insectos.

Com tecto baixo, não podia haver evacuações. Alguns militares estavam em perigo por alergia às picadas. Felizmente uma coluna auto, vinda do Enxalé, esperou-nos na zona de São Belchior. Assim foram transportados os feridos e os mais debilitados. Mais uma vez, no decurso desta operação, constatei a maneira de comandar e combater do Saiegh. Excelente (*).

Voltando a Bissau:

Passaram depressa os poucos dias e embarcámos para a Metrópole. Mais depressa me pareceram passar os dias de férias. A Bissau regressei e rapidamente fui para o mato.

Voltei a ver o tal Alferes. Estava em Missirá. Porte altivo, passada longa, meia verde por cima da calça camuflada, aspecto decidido. Não parecia o homem que encontrara em Bissau.

Falámos algumas vezes e fizemos operações juntos. Bom combatente, determinado a comandar os velhos militares do 52.

As aparências iludem.

Quase quarenta anos depois, volto a dele ouvir falar. Hoje, leio, e releio, o que ele escreve sobre a sua guerra e as leituras de então. Soube, agora, ter sido conhecido como Tigre de Missirá (3)...Oh Beja Santos, quem tal alcunha te deu lia Sandokan ou foi homenagem ao teu espírito e acção combativos? Os Espíritos do Cuor te protejam.

A minha Companhia acabou, tempos antes da chegada do Beja Santos a Missirá, com as idas ao Mato Cão e à margem direita da Geba. Concentrámo-nos mais com a intervenção e construção de Mansambo.

Sobre a margem esquerda, as populações do Nhabijões sempre jogaram com um pau de dois bicos, naquele tempo... Sabia-se e, se dúvidas hoje houverem, pergunte-se aos que ainda estão vivos. Será assunto a merecer outro tratamento. Claro que cambavam o rio e estavam bem informados.

Grande parte dos carregadores, da minha Companhia, na [Op] Lança Afiada (4) era balanta, dos Nhabijões. Contratados de propósito. Os Fulas não queriam. Mas eles foram. Caímos na primeira emboscada e ei-los, sem ordem de ninguém, a colocarem-se junto das armas cujas munições carregavam. Outros apontavam para certos locais… Bom treino recebido... das NT, não claro!

Relembro, tempos antes, uma ida minha lá. O velho chefe de aldeamento respondeu sempre em balanta, por dignidade, às questões por mim colocadas. Numa, se bem me lembro, dizia-me o intérprete:
- Ele diz : 'Se vem homem do mato e ele não deixa levar mantimentos ou avisa tropa, leva… Se tropa sabe, 'leva' também... Que fazias tu?
- Eu ? ...Bem...eu...

Eu parti cigarro com ele e…
______

(*) Nota do autor – O Zacarias Saiegh regressou a Bissau e continuou como militar. Mais tarde ingressou na 1ª Companhia de Comandos Africanos.

Era Capitão Comando do Exército Português, quando a Guiné se tornou independente. Acabou por ser fuzilado. A minha singela, mas sentida, homenagem a um Grande Combatente (5)
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Notas de L.G.:

(1) Vd. estórias já publicadas:

14 de Março de 2007> Guiné 63/74 - P1594: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (1): A dança dos capitães

16 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1666: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (2/3): O Zé e o postal da tropa

25 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1785: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 239) (4): Burontoni, mito ou realidade ?

27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1892: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (5): O Casadinho e o Bessa, os mortos do meu Gr Comb, os meus mortos

7 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1929: Estórias de Mansambo (6): Matilde

17 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2055: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça) (7): Eleições à vista...

21 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2122: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça) (8): Marcha, olha para mim, com ódio, peito erguido, cabeça levantada...

28 de Setembro de 2007 >Guiné 63/74 - P2139: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (9): Amigos mais velhos

15 de Dezembro de 2007 >Guiné 63/74 - P2353: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (10): Devolvam o bode ao dono... e às cabras de Fá Mandinga, terra de Cabrais

12 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2527: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (11): Na Bor, Rio Geba abaixo, com o Alferes Carvalho num caixão de pinho...

18 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2960: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (12): Eu, virgem, me confesso

(2) Cap Vaz, comandante da CART 1746 (1967/69) que será substituída, como unidade de quadrícula do Xime, pela CART 2520 (1969/1970), contemporânea da minha CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71).

Há tempos o Humberto Reis fez-me vir à memória a imagem desses velhinhos da CART 1746 que lá estavam lá, no cais do Xime, com um grande lençol branco onde estava escrito: "O que custa mais são os primeiros 21 meses"... Justamente quando nós - CCAÇ 12 e outros periquitos desembarcámos da LDG, na manhã de 2 de Junho de 1969)... Na mesma LDG, vinha a CART 2520 que veio substituir a CART 1746... (Gilberto Madaíl, uma conhecida figura pública ligada ao mundo do futebol, foi alferes milicianos nesta unidade).

(3) Sobre o Tigre de Missirá, vd. postes de:

26 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P911: Uma mina para o 'tigre de Missirá' (Luís Graça)

15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1076: O álbum das glórias (Beja Santos) (4): eu e o coronel Cunha Ribeiro, o nosso 'major eléctrico'

9 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1161: O nosso Major Eléctrico, 2º comandante do BCAÇ 2852 (Beja Santos)

28 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2138: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (3): Op Pato Rufia (Xime, Setembro de 1969)

(...) O actual Coronel na reforma Ângelo Augusto da Cunha Ribeiro, que foi segundo comandante do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), a partir de Setembro de 1969, altura em que substitui o major Viriato Amílcar Pires da Silva, transferido por motivos disciplinares, era um homem muito energético, hiperactivo, falador, conhecido, entre as NT, como o Major Eléctrico... Foi ele que deu o nome de guerra, Tigre de Missirá, ao Beja Santos (...).

(4) Total dos efectivos empregues (n=1291) na Op Lança Afiada, que decorreu durante 10 dias: a) Militares: 36 oficiais; 71 sargentos; 699 praças; b) Milícias: 106; c) Guias e carregadores 379. Comandante: Coronel Hélio Felgas.

Vd postes de:

15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli

9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXI: Op Lança Afiada (1969) : (ii) Pior do que o IN, só a sede e as abelhas

9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIII: Op Lança Afiada (1969): (iii) O 'tigre de papel' da mata do Fiofioli

14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal

(5) Sobre o malogrado Zacarias Saiegh:

Zacarias Saiegh, ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 52, ainda no tempo do Beja Santos, e depois Alferes, Tenente e Capitão da 1ª Companhia de Comandos Africanos. Participou no 25 de Abril de 1974. Mas foi posteriormente executado, no seu país, em Portogole, a 18 Dezembro de 1978, quatro anos depois da independência, segundo informações recolhidas no livro Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros, de Manuel Amaro Bernardo, Ed. Prefácio, 2007.

De origem sírio-libanesa, já foi aqui evocado várias vezes, nomeadamente pelo Mário Beja Santos que com ele privou, em Missirá, a par do Torcato Mendonça, entre outros:

Vd. posts de:15 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLIII: O Malan Mané estava vivo em Novembro de 1969 e eu abracei-o (Torcato Mendonça

(...) O Zacarias Saiegh [da 1ª Companhia de Comandos Africanos] foi meu amigo. Era um homem extraordinário, ele e outros que foram meus camaradas e foram fuzilados. Nunca os esqueço e não sei perdoar (...).

23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)

31 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1008: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (2): o saudoso Pimbas, 1º comandante do BCAÇ 2852

(...) Segundo informação do Beja Santos, o Pel Caç Nat 52 esteve um ano sem alferes, sendo comandado por Zacarias Saiegh, então furriel miliciano, que mais tarde ingressou na 1ª Companhia de Comandos Africanos, aonde chegou ao posto de capitão. Comandou esta lendária companhia, depois da morte em combate do Capitão João Bacar Jaló, tendo sido fuzilado pelo PAIGC após a independência: vd post de 23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)

19 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1038: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (6): Entre o Geba e o Oio, falando do Saiegh e dos meus livros

(...) Saiegh na véspera, depois do jantar, dera-me um sinal de cortesia levando-se ao seu abrigo para bebermos um uísque. Olhando à volta do seu ambiente privado, vi frascos que me lembraram aqueles que se encontram nos laboratórios de biologia. Vendo-me intrigado, sopesando as palavras mas atirando-as a frio, esclareceu-me:
- São restos dos meus despojos. Aproveito sobretudo orelhas.

Aclarei a voz e fui cortante:
- Saiegh, ainda nada sei desta guerra, mas asseguro-lhe que a partir de hoje não haverá despojos humanos, nem relíquias nem troféus. Não trago ódios nem os vou despertar. Recordo-lhe que esta disposição é irrevogável.

Os olhos de Saiegh cuspiram fogo, mas ele conteve a dimensão da chama. Com o tempo, virei a saber que este descendente de sírio-libaneses também se movia por razões raciais, independentemente dos seus interesses económicos têm sido profundamente afectados pela luta de guerrilhas. O nosso conflito estava armado, mas passados estes anos todos reconheço que ele me deu uma colaboração exemplar, apagando-se progressivamente do mando e da decisão militar. Irei chorar amargamente no dia em que soube do seu fuzilamento (...).


16 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1081: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (11): Matar ou morrer, Saiegh ?

(...) Em meados do mês de Agosto, regressávamos do abastecimento em Bambadinca quando o Saiegh me mostrou triunfante, enquanto esperávamos a piroga, as insígnias em plástico que ele concebera para o Pel Caç Nat 52: era uma coisa assim apiratada com caveira e tíbias, um verde fluorescente e a frase "Matar ou Morrer". O meu olhar gelou e o Saiegh não resistiu a dizer-me: - Já vi que não gosta. Será por a iniciativa ser minha? (...).

30 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2317: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (11): O fantasma de Infali Soncó

(...) O encontro com o Saiegh é muito agradável, tão agradável que vamos a pé pela estrada de Santa Luzia, onde nos despedimos prometendo eu uma visita a Fá, dentro de semanas. Tal nunca veio a acontecer, estou a despedir-me do Saiegh pela última vez, guardo o seu sorriso e a sinceridade da sua estima, tudo me vem à lembrança no dia em que soube do seu fuzilamento, oito anos depois (...)..

Guiné 63/74 - P3309: Em busca de... (44): Camaradas do BCAÇ 1861, Buba, 1965/67 (Boaventura Alves Videira)



1. Mensagem de Boaventura Alves Videira, Enf no BCAÇ 1861, Buba, 1965/67, com data de 9 de Outubro de 2008, enviada através do endereço do nosso camarada Júlio César.

Caros amigos

O meu nome é Boaventura Alves Videira, Enfermeiro do BCaç 1861, Buba, 1965/67.

Procuro ex-combatentes deste Batalhão de Caçadores para aumentar o número de camaradas nos nossos encontros anuais.

Se és do BCaç 1861, Buba 1965/67, entra em contacto comigo pelo seguinte endereço:

Boaventura Alves Videira
Praça da República, 26
4815-475 Vizela
Telemóvel 964 534 332

Junto uma foto daquele tempo para avivar algumas memórias.

2. Hoje, dia 13 de Outubro, foi enviada a seguinte mensagem à Tertúlia:

Caros camaradas e amigos tertulianos
O nosso camarada Boaventura Videira, procura companheiros do seu Batalhão (BCAÇ 1861) para participarem em futuros Encontros da Unidade.

Quem estiver em condições de dar pistas a este nosso amigo, poderá fazê-lo das formas solicitadas ou para o endereço do nosso tertuliano Júlio César. Como é natural, nós também podemos canalizar as vossas ajudas.

Votos de uma boa semana para todos.

Um abraço
Carlos

Guiné 63/74 - P3308: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte III) (Carlos Silva / Gabriel Moura)

1. Última parte do trabalho do nosso camarada Carlos Silva, ex-Fur Mil At Armas Pesadas da CCAÇ 2548, Jumbembem, 1969/71, baseado numa brochura do seu amigo e camarada Gabriel Moura, publicado no seu SITE http:/www.carlosilva-guine.com/


6.3 - Saída dos Militares do Aquartelamento para capturar os terroristas

por Gabriel Moura

Eram grupos sem qualquer comando organizado e preparado, por vezes, sem armas. Só quando estavam já no mato em perseguição dos atacantes é que se lembravam: Esqueci-me da G3?!... Eram os furriéis, os sargentos, os alferes, os tenentes, os cabos, os soldados, de cuecas, de chinelos, com armas ou com o "mata mosquitos"; todos procuravam, à medida que o tempo ia permitindo, abrir mais a "pestaninha", contra atacar, correndo com os atacantes, indo até às tabancas próximas à caça de muitos que na fuga e dispersão se desorganizaram ou ficaram feridos, com parte dos pés desfeitos, braços meios amputados, rostos semi desfigurados, barriga com as tripas na mão, etc... pelas balas ou granadas.

Eram apanhados às dezenas, escondidos no capim ou na palhota. Foi uma caça que se prolongou até de manhã, onde o nascer do dia permitiu seguir rastos de sangue e localizar os atacantes feridos e outros que foram capturados e levados para a prisão de Tite, que "encheu até ao tecto", só aos poucos foram "despachados" para Bissau e outros destinos, ilha das galinhas [era o que constava lá por Tite] no Arquipélago de Bijagós ou, quem sabe, nem lá chegaram! [é a vida! quando há guerra!!!]

Foi uma desorganização que "organizou" o maior e mais eficaz "contra-ataque" jamais pensado e daí ter-se conseguido dar uma "reviravolta à situação inicial" [que se não fosse eu ter aguentado os atacantes durante aquele tempo todo, não permitindo a concretização dos seus intentos, até à reacção destempada de alguns meus colegas, nada disto era possível. Teríamos sido, na maior parte mortos ou capturados com a maior das facilidades do mundo. Disto não tenham dúvida, e podem "puxar" por qualquer fio da meada que irá dar ao mesmo... sorte ou intervenção divina? medo? coragem? heroísmo? penso eu que!...].

Durante toda a manhã, a confusão foi grande, onde o Major Pina, nas suas funções de Comandante, começava a amealhar os "louros", pois era esta a sua grande preocupação, preparar terreno para justificar e arranjar todo o conjunto de situações que lhe dessem dividendos [a ele e a seus pares: capitão Barreiros, capitão Morgado, alguns tenentes, alferes e sargentos, furriéis e alguns "pinga amores", soldados, que na ajuda a "vestir as calças dos superiores" - que estavam muito transtornados, iriam receber também algumas benesses].

Uma das tarefas, ordenadas pelo Pina e seus pares, foi: encher sacos e mais sacos com terra [pois eles estavam na arrecadação vazios e dobradinhos, só sendo utilizados depois do ataque, como se costuma dizer: "depois da casa roubada, trancas na porta"] para fazer trincheira na frente do aquartelamento, principalmente, em frente da caserna dos oficiais e serviços do comando, camarata, etc... onde eles poderiam levar com um balázio na noite seguinte, pois agora já estavam a perceber que a "sorte lhes tinha desviado as balas", mas quem sabia que na próxima noite seria assim?

Tudo ficou a trabalhar com um frenesim incalculável levados pela mola do medo. Nem sequer foram capazes de avaliar a medida do ataque e do contra-ataque, pois logo viam que era impossível na próxima noite eles [nacionalistas] reunirem elementos que lhe permitisse novo ataque [embora que, se eles soubessem da nossa verdadeira realidade - meia dúzia de "chicos espertos" com armas brancas, num ataque relâmpago, capturavam o Pina e meia dúzia de oficiais, obrigando o aquartelamento e render-se].

Mas, quem "tem cu, tem medo", ainda bem para nós que também tínhamos cu!

Por outro lado, era simples perceber de que, ao ser o primeiro ataque ao exército português, eles, certamente, o PAIGC teve maior cuidado de preparar todos os seus melhores seguidores e em maior quantidade dessas forças, provavelmente agora muito desfalcada.

Guiné > Região de Quinara > Sector de Tite > 1961 > 1963 > 1964 > Mascote do BCaç 237 – Contemporâneos do Gabriel durante algum tempo

Foto: © Gabriel Moura

Os tempos que vieram a seguir demonstraram, exactamente, este raciocínio e todo um conjunto de premissas que levou a desencadear a luta terrorista na Guiné até 1974 [que o digam os militares que foram e estiveram em combate em diversos pontos da Guiné, nos anos de 1963/4/5 ... até 1974. Evidentemente, com envolventes específicas, atendendo a cada momento e situação. Relevo aqui, o Batalhão 237-599 - Tite, que nos foram substituir, não só porque "conviveram" com a realidade de Tite, região sul da Guiné, mas também, porque são "testemunhas directas" do palco de guerra e guerrilha em Tite, durante e após a nossa saída da Guiné, [até à nossa desmobilização, passaram 2 anos e 5 meses de serviço cumprido no Ultramar, a juntar ao tempo militar antes de embarcarmos, não esqueçam, no caso dos militares rasos, soldados e cabos, eram das recrutas de 1958, 59 e 60, o que faz, em tempo de serviço obrigatório, de mais de 6 anos, nalguns casos, saúde perdida, famílias desfeitas, sem trabalho, sem dinheiro, sem qualquer apoio social, até hoje!].

Quem Ganhou

Poesia - Gabriel Moura,1961/2/3

Eu, não sabia porquê, tinha um pressentimento. Seria medo, seria a força de uma certeza, onde a hora e o dia de um ataque dos "Terroristas" teria que acontecer.

Tite era a prisão e comando operacional do sul da Guiné - Bissau no período de 1961/63.

Todo aquele ataque, naquela madrugada, em noite escura, onde eu representava o destino de uma força colonial imposta contra uma força e resistência de um grito lançado por entre o capim seco, onde as chamas que o devoravam queimavam aqueles corpos cobertos de suor "catinga" se lançavam numa luta que iria marcar a sua história, onde o povo guineense seria devorado e ainda mais martirizado até a independência final.

Se os tiros me tivessem morto, eu não teria dado o alarme e resistido (pois era o único militar que patrulhava aquele caminho em frente do aquartelamento, estupidamente iluminado por luzes, onde só eu era visto e nada via para o mato ).

Que ganhei, comendo pó, debaixo do fogo vindo do mato ou, passado cerca de meia hora da minha resistência já com os carregadores descarregados, o fogo dos meus camaradas que na confusão e ainda sob os efeitos do sono disparavam para tudo que mexia no chão.

Tite não caiu. Mas quem ganhou ? Os Mortos ?!..


Até a nossa saída Outubro de 1963, onde no nosso aquartelamento passou de cento e poucos homens para três vezes mais, com a vinda do Tenente Coronel Hipólito e seus pares, reforço das Companhias Açorianas que vieram para participar em campanhas militares no sul da Guiné. [ver relação de alguns militares da Guiné Bat Caç 237 e Bat Caç 599, em anexo motivada pelos "encontros" na metrópole].

Ninguém poderá dizer, em verdade, que não fomos "corajosos" ao penetrar pelo mato dentro sem qualquer estratégia, sem munições [ou quase] sem armas [ou quase] desconhecendo por completo em que medida os atacantes tinham preparado o ataque [não porque não existisse armamento adequado, mas porque o terreno das bolanhas não permitia e, por outro lado, com a mente dos "leaders", com relevância para alferes Caetano, o dito comandante do Pelotão de Morteiros 19, achavam sempre que podiam resolver aquilo "à vassourada"].

Mas, o que estava em causa, e na mente de cada um de nós era a "força da razão", empurrando-nos para uma aventura em que eles, sob o efeito causado pelo choque, nem sequer tiveram tempo para reflectir sobre os diferentes cenários de guerra que poderiam envolver-nos, quando começaram a sair grupos de militares penetrando no mato em várias direcções.

É claro que, alguns oficiais e sargentos procuraram "conduzir" os militares, não só porque se armavam em mais espertos e conhecedores das "tácticas" de guerra [pois não eram eles que davam a recruta aos militares, transmitindo aqueles superiores conhecimentos?] Como a rígida estrutura hierárquica impunha, o major manda no capitão, o capitão manda no tenente....o furriel manda no cabo, o cabo manda no soldado, os militares rasos só servem para " carne de canhão", dizíamos nós.

Temos contudo de admitir, que nalguns casos, foram capazes de proporcionar alguma "ordem" na desordem e na euforia que grassava em todos, após o efeito do medo, e que todos estavam convencidos que aquilo era mesmo, como quem "limpava cus a meninos".

Por isso, alguns corriam pelo capim fora atrás dos pretos como quem anda a apanhar galinhas lá nos logradouros ou quinteiros da casa lá da terra.

Parecerá que foi uma situação caricata [e foi mesmo!.] mas temos que enquadrar todo este cenário de guerra numa situação que era nova quer para nós quer para os nacionalistas, onde a surpresa criou nas pessoas atitudes e comportamentos desviantes do previamente montado ou no nosso caso, podemos dizer que foi uma espécie de "teste anárquico" aos conhecimentos adquiridos e interiorizados na recruta [que para alguns já lá iam mais de dois anos ... militares de 1958/59/60 e graduados que apenas se lembravam da teoria e pouco mais. ]. Para alguns, a arma tremia mais do que o cigarro na boca, outros que só tinham ido em comissão de serviço para subir de posto ou sacar as vantagens de vária ordem.

Se conjugarmos isto com o pânico originado pelo ataque e na "estrita medida do tempo", originou reacções as mais díspares que se possa imaginar.

Viam-se militares que, no dia a dia, nos fomos habituando a catalogar de "enrascados", "medricas", "não faz mal a uma mosca", etc, o que no decorrer destas situações eram os que se portavam com mais "bravura e arrojo", em contra partida, outros que tinham criado a imagem do "mata sete e enterra oito", "a onça", os maus, alguns deles nem do aquartelamento saíram, que apesar de tudo sempre tinha algumas "chapas de zinco" no telhado, enquanto no mato, as árvores podiam ser refúgio não só de macacos, mas também de terroristas e lá fora era um frio de rachar! estão a perceber o trocadilho? e, se não for bem um trocadilho, pode ser visto como o "trocadilho" enfim, muitos arranjaram mil e uma desculpas de se porem ao fresco para Bissau ou até uma ida à metrópole ver a "família"...

O que se passou a seguir ao ataque ao aquartelamento de Tite foi como aquele ditado: " casa roubada, trancas à porta. ".

Foram uns dias carregados de uma forte emotividade, não só pelo nosso camarada morto e dos feridos mas, também, por tudo que envolvia as circunstâncias que estiveram na base deste desfecho e no que, de facto, representava em termos do perigo em que estivemos expostos.

É claro que, como de costume, o comandante e os outros oficiais mais responsáveis, ou não, "deram a volta ao texto", como se costuma dizer e passaram a actuar como se de facto tivessem sido eles os grandes "salvadores da pátria" e; por outro lado, aproveitaram-se para fazer com que os que não tinham culpa no cartório e foram os "únicos" a evitar um " massacre histórico ... " às tropas Portuguesas na Guiné-Bissau, ficassem comprometido e mais agradecidos, cegamente aos nossos superiores, por nos deixarem, pelo menos, trabalhar no arranjo e defesa do aquartelamento como "autênticos escravos", do medo e da ignorância.

Reforçaram-se as vedações, passou-se a patrulhar noite e dia, caminhos, tabancas, capim e tudo o que parecia suspeito [até debaixo da cama da Mariama, alguns procuraram encontrar o inimigo], foram montados pelos sapadores minas anti-pessoais e outras nos diversos pontos em volta do aquartelamento [que o diga o Jorge e todos que faziam parte dos sapadores].

Foram delineadas diversas estratégias de defesa e ataque e formas de actuar totalmente diferentes das que até ali se procediam. Os militares, em geral, como sempre não foram ouvidos nem achados sobre a forma, meios a utilizar no combate aos "terroristas".

A descrição do acto de despedida do corpo do Veríssimo para Bissau e a evacuação dos feridos, revestiu-se de carácter doloroso para todos, tendo sido, certamente, em particular para uns mais do que para outros, o que originou autênticos gestos de solidariedade e de revolta onde os extremos foram, de facto, sintomas de exagero no conceito de culpabilização sobre os "terroristas" que se tornaram para alguns ainda mais odiados do que a imagem incutida até aí.

É evidente que a relação destas emoções e reacções tenebrosas têm que ser entendidas no contexto, não só cultural das pessoas envolvidas mas, também, na formação e esclarecimento social e humano a que éramos excluídos. Por muito que se tente ver todo um conjunto de formas mais ou menos exageradas de procedimentos levados a cabo pelos militares contra os nacionalistas e populações autóctones, só pode ser vista à luz de todo um contexto de difícil discernimento, quer intencional, quer humano, quer circunstancial que nos envolveu.

Dizer que o militar A ou B tomou atitudes desumanas perante os Guineenses pode ser visto de forma a encontrar as explicações sobre esses comportamentos; quer no que já referi, quer no medo provocado pelos acontecimentos que de dia para dia iam aumentando o nível de guerrilha no mato.

A permanência em terras da Guiné era outro factor que nos arrastava para um stress, medo pelo não regresso à nossa pátria, à nossa família, etc ... Tudo isto conjugado com as reacções provocadas pelo dever e obrigação imposta pelos que detinham o poder e a conveniência da perpetuação das coisas e da "honra", fazia com que nos tornássemos ainda mais destituídos da "razão" [Movimento Nacional Feminino e outras acções que nos arrastavam como folhas secas caídas em capim].

Foram muitas as situações que se vão seguir até ao nosso embarque e saída no Paquete Índia, do Porto de Bissau com destino ao continente. A situação de guerra generalizada pelos nacionalistas Guineenses, tornou-se extremamente violenta, com emboscadas e ataques por todos os lados de norte a sul da Guiné ...

A vantagem que o Comando de Tite tinha sobre todas as outras tropas no terreno era o conhecimento que possuímos de muitas povoações, não só daquelas que fazia parte da quadrícula militar [a primeira conforme o Cor. Tavares de Pina refere, de todo o sul da Guiné] mas, também, outras povoações na Região Sul. Pois o Pina, como Comandante operacional da região Sul da Guiné e a sua "vocação psicossocial ", fez com que nós tivéssemos uma visão única no panorama da Guiné.
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A publicação do Gabriel Moura, pode ser consultada no Arquivo Histórico em Sta. Apolónia – Lisboa
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Ataque ao Aquartelamento de Tite – 23-01-1963

Referências Bibliográficas


Sobre o começo das hostilidades ou início da luta armada pelo PAIGC em 23-01-1963 com o ataque ao Aquartelamento de Tite, situado no Centro-Sul da Guiné, por estranho que pareça, não encontramos qualquer narração escrita de forma desenvolvida sobre os factos que se passaram, quer do lado português, quer do lado do movimento nacionalista.

Da bibliografia aqui indicada, apenas se encontram breves referências alusivas a tão importante facto histórico no seguinte sentido:

1 - ".... Em Janeiro de 1963, foi a sede do Batalhão atacada com armas automáticas e de repetição e granadas de mão. Deste ataque resultou 1 morto e 1 ferido das NT e 8 mortos confirmados e vários feridos graves IN. Depois deste ataque foram intensificados os patrulhamentos de que resultou a morte do Papa Leite, elemento IN que actuava na área e que facultou a recolha de valiosíssimos elementos da Ordem de Batalha IN..."

In, Carta de 7-07-1981 do Ten. Cor. Manuel José Morgado, enviada ao Director do Arquivo Histórico Militar, em resposta ao assunto " História das Unidades ".

Resumo da Actividade do BCaç. nº 237/BCaç. nº 599 - Maio de 1963 a Maio de 1965 [Caixa nº 123 - 2ª Div/4ª Sec., do AHM]


2 - A propósito da detenção de alguns dirigentes do PAIGC em Conakry, por alegado contrabando de armas, diz Luís Cabral:

“... O Aristides respondeu em poucas palavras, justificando o nosso acto pelo interesse da luta comum e pedindo-lhe [ao Ministro da Defesa da República da Guiné-Conakry, Keita Fode] que transmitisse o nosso reconhecimento ao presidente pela sua fraterna compreensão. Quanto ao regresso do Amílcar, falando com toda a franqueza, não acreditávamos que ela pudesse ter lugar antes da nossa libertação, mesmo com a mensagem.

Era lógico que ele fosse aconselhado a reflectir muito sobre a questão pois, se havia razões para estarmos ainda detidos, essas razões seriam certamente mais válidas em relação a ele, como primeiro dirigente do Partido.

Entretanto, nas diferentes zonas do interior do país, ao tomarem conhecimento da nossa detenção, os combatentes decidiram juntar o pouco material de que dispunham e agir prontamente contra as posições colonialistas, onde isso fosse possível.

A 23 de Janeiro era realizado o primeiro ataque das forças nacionalistas do PAIGC, contra o quartel de Tite, sede administrativa da circunscrição de Fulacunda...”

In, Cabral, Luís – Crónica da Libertação, O jornal, 1ª edição 1984, pág. 144

3 - ".... 23 Janeiro de 1963 - O PAIGC assalta o quartel de Tite e inicia a guerra na Guiné.

Cabral tentou ainda fazer-se ouvir, com apelos ao diálogo, mas é pelo efeito das armas que a minúscula Guiné se torna a segunda frente de contra-ataque português...."

In Antunes, José Freire, A Guerra de África 1961-1974, volume 1, Temas & Debates, Outubro de 1996, pág. 34.

4 - António E. Duarte Silva, citando Amílcar Cabral " O Desenvolvimento..." Cit. Obras...Vol. II, pág.37, sobre este facto salienta:

"...b) O início da luta armada

A luta armada de libertação nacional começou efectivamente em 23 de Janeiro de 1963 com o ataque, por uma centena de guerrilheiros ao quartel de Tite, na margem sul do Rio Geba, onde estava instalado o comando de um batalhão português:

"vindos das florestas, das zonas pantanosas e das tabancas distantes surgiam então os combatentes do nosso partido. Não vinham mais com as mãos vazias. Vinham armados com material eficiente, com uma coragem e uma disciplina a toda a prova, assim como do conhecimento das condições concretas e dos objectivos da nossa luta e, como sempre, com o apoio incondicional do nosso povo. (...)
Em Julho de 1963 a guerra atingiu as florestas de Oio, a norte do Geba, de modo que, ao chegar-se ao final de Agosto de 1963, a situação na enorme região que abrange Bissorã, Binar, Encheia, Mansoa, Mansabá e Olassato, não era muito diferente da existente em grande parte do sul da Província: populações fugidas, tabancas abandonadas ou destruídas, estradas obstruídas, a vida administrativa e actividade comercial profundamente afectada..."

In Silva, António E. Duarte, A Independência da Guiné-Bissau e a Descolonização Portuguesa, Edições Afrontamento, Março de 1997, pág. 47

5 - "... Na Guiné, as acções de guerrilha foram iniciadas pelo PAIGC em Janeiro de 1963, com um ataque ao quartel de Tite, a Sul de Bissau, junto ao rio Corubal [1], embora outras pequenas acções tivessem ocorrido antes. As operações estenderam-se rapidamente a quase todo o território, em contínuo crescendo de intensidade, que exigiu o empenhamento de efectivos portugueses cada vez mais numerosos..."

In Afonso, Aniceto, Gomes, Carlos Matos, Guerra Colonial - Angola, Guiné, Moçambique - Ed. Diário de Notícias, em fascículos.

[1] - Lapso dos Autores, porquanto, Tite situa-se a poucos quilómetros da margem esquerda do rio Geba. Enquanto o rio Corubal é um afluente da margem esquerda do rio Geba e desagua próximo das povoações de Ganjaurá, Ganturé e Ponta do Inglês, situadas a Norte de Fulacunda.

6 - ".... O Partido procurou, deste modo, responder às reivindicações destes estratos, que pretendiam ascender a um patamar superior na hierarquia social. A mobilização dos camponeses iniciou-se após os acontecimentos do Pidjiguiti, altura em que foi decidida a preparação para a luta armada.

O primeiro ataque armado eclodiu a 23 de Janeiro de 1963, contra as instalações de um aquartelamento das Forças Armadas Portuguesas, em Tite...."

In Pinto, Jorge, Paulo, Manuel, Duarte, Paula - Guiné Nô Pintcha! - Para uma análise Socio-económica da Guiné-Bissau, Edições Universitárias Lusófonas, Outubro de 1999, pág. 33

7 - ".... Em 23 de Janeiro de 1963, o PAIGC desencadeia a luta armada na Guiné-Bissau. Três dias depois, o governo de Salazar fixa os vencimentos dos elementos das Forças Armadas em serviço nas Províncias Ultramarinas.....

23 de Janeiro de 1963 - Início da luta armada, com ataque ao Quartel de Tite, no Sul da Guiné-Bissau. Chegam a Conakry os primeiros recrutas a fim de receberem treino militar..."

In Cabral, Amílcar - Sou um simples africano, Fundação Mário Soares, 2000, págs. 32 e 83.

8 - “ ... A Guiné apresentava características diferentes. De acordo com o censo de 1960, a sua população era de aproximadamente 500.000 habitantes, cerca de dez vezes menos do que a de Angola, estando concentrada no delta costeiro ocidental e dividida em vinte e oito grupos etnolinguísticos distintos. O PAIGC [Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde], fundado em Lisboa em 1956, arrancou para a luta armada em 23 de Janeiro de 1963 com um ataque ao Quartel de Tite.

O seu líder era Amílcar Cabral, engenheiro agrónomo licenciado em Lisboa e aí convertido à doutrina marxista-leninista.


As condições topográficas da província e o apoio de Conakry aos terroristas do PAIGC fizeram da guerrilha da Guiné a mais dura de todas as que se travaram nas frentes do Ultramar. Afectado por convulsões internas [como as que originaram o assassínio de Cabral em 1973], sem nunca ter conseguido resolver o problema da rivalidade existente entre guinéus e cabo-verdianos, o PAIGC, em 1974 e ao invés do que proclama a versão oficial estava disposto a entender-se com os portugueses e a abandonar o mato....”

In, Santos, Bruno Oliveira – Histórias Secretas da PIDE/DGS, Nova Arrancada, 2ª edi. 2000, pág. 93

9 - ".... O primeiro ataque armado eclodiu a 23 de Janeiro de 1963, contra as instalações de um aquartelamento das Forças Armadas Portuguesa, em Tite..."

In Atlas da Lusofonia, 1º Vol. – Guiné-Bissau, Ed. Instituto Português da Conjuntura Estratégica e do Instituto Geográfico do Exército, Maio 2001, pág. 25

10 - "....Bat. Caç. nº 237 - Síntese da Actividade Operacional

Após o início das primeiras acções contra as NT, com o ataque ao aquartelamento de Tite, em 23 Janeiro de 1963, comandou e coordenou a actividade operacional das suas forças numa série de acções ofensivas nas áreas do Quitifane, Cantanhez, Quinara e Jabadá - Gã Chiquinho."

In Estado-Maior do Exército - Comissão para o Estudo das Campanhas de África - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África [1961-1974] - 7º Volume - Fichas das Unidades - Tomo II - Guiné, 1ª edição, Lisboa 2002 - p. 40
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Nota de CV

Vd. postes de:

11 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3294: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte I) (Carlos Silva / Gabriel Moura )

12 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3298: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte II) (Carlos Silva / Gabriel Moura)

Guiné 63/74 - P3307: Convívios (89): Encontro anual dos Combatentes da Guiné da freguesia de Guifões, Matosinhos (Albano Costa)

1. Mensagem do nosso camarada Albano Costa, ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Cumeré, Bigene e Guidaje, 1973/74, com data de 9 de Outubro de 2008, dando notícia do Encontro Anual dos ex-Combatentes da Guiné da freguesia de Guifões, Matosinhos, uma freguesia e um concelho, erspoectivamente, que deram muitos combatentes, não só para a Guiné como para as outras frentes da guerra colonial/guerra do ultramar.

Caros tertulianos

O 5 de Outubro é sempre a data em que os guineenses de Guifões se juntam para celebrarem a sua passagem pela Guiné-Bissau. Este ano fizeram o seu XIII Encontro-Convívio e mais uma vez tiveram a companhia do Sr. Presidente da Junta de Freguesia, Carmin do Cabo, que fez a sua comissão em Angola, acompanhado de sua esposa.

Os ex-combatentes e respectivas famílias deslocaram-se, como já vem sendo hábito, em dois autocarros, num passeio agradável, para manter a coluna sempre bem unida, não fosse o IN obrigar ao teste do balão. (Nestes dias vai sempre mais um copo e não queriamos que a festa fosse estragada).

O almoço-convívio é sempre o ponto mais alto da confraternização e deu para sentir como todos desfrutaram das iguarias, assim como de um bom pé de conversa. O resto da tarde foi passada em franco convívio e ao final do dia foi distribuída uma lembrança pelo Sr. Presidente da Junta de Freguesia de Guifões a cada ex-combatente e uma rosa a cada senhora presente. Antes do regresso à base, foi servido um arroz de feijão vermelho com pataniscas de bacalhau e caldo verde. Para terminar, foi cantado o Hino Nacional, seguido do bolo e do respectivo champanhe.

Com a garantia de até para o ano.
Albano Costa

Foto 1 > O Joaquim D'Assunção Machado, ex-Pára-quedista da CCP 123, que fez parte da Operação Mar Verde, à conversa com o Presidente da Junta de Guifões, Sr. Carmin do Cabo

Foto 2 > O Joaquim Almeida (mais conhecido pelo Custóias) com o seu neto, que quis sentir de perto o que tem levado o avô a participar nestes encontros da Guiné. Ambos estiveram presentes no III Encontro Anual do Blogue, em Monte Real (2008). O Custóias é um frequentador assíduo dos encontros semanais da Tabanca de Matosinhos.

Foto 3 > O Albano Costa com a esposa, Eduarda, satisfeitos na companhia da família guineense

Foto 4 > Já a meio da tarde não podia faltar uma jogatana de cartas, em que participam, da esquerda: Laurindo (Sangonhá), D'Assunção Machado (ex-Pára-quedista, CCP123), Filipe (Bissau), Brás (Mansabá) e Vitor Alho (Jumbembem) que esteve no conflito de Maio de 1973 em Guidage, onde a companhia dele teve um morto, que teve de ser sepultado lá, o Geraldes.

Foto 5 > Foto de família, com os presentes no Encontro


Fotos e legendas: © Albano Costa (2008). Direitos reservados

Guiné 63/74 - P3306: O Nosso Livro de Visitas (34): Raul Freitas, ex-Fur Mil da Companhia Terminal, de Março de 1972 a Agosto de 1973


Guiné > Bissau > Antigas instalações da Casa Gouveia > Companhia Terminal > 5 de Março de 1973 > Raul Freitas à secretária

Fotos: © Raul Freitas (2008). Direitos reservados.


1. No dia de 12 de Setembro de 2008, no poste P3196 (*), o camarada Daniel Vieira, ex-Fur Mil, que fez parte da Companhia Terminal, sediada em Bissau, procurava pistas para encontrar os seus antigos camaradas.

O nosso camarada Manuel Oliveira Pereira, ex-Fur Mil da CCAÇ 3547/BCAÇ 3884, no poste P3264 (**) deu umas achegas ao Daniel.

No passado dia 8, recebemos uma mensagem de outro nosso camarada, desta feita, do Raul Freitas, ex-Fur Mil, que também andou pela Companhia Terminal (***).

Transcrevo a sua mensagem:

Guimarães, 08/10/2008

Caro camarada Luís Graça, ao passar os olhos pelo blogue que com tanta dedicação mantens, deparei com um apelo do Daniel Vieira (Fur Mil), que gostaria de contactar com os camaradas que estiveram na Companhia Terminal.

Pois já lhe telefonei a dar conta da minha existência e do entusiasmo que partilho com todos aqueles que passaram pela Guiné.

É verdade, embarquei no Niassa em Junho de 1971, em rendição individual.

Alguns dias em Bissau a aclimatar-me aos mosquitos, de quem fui um apetecido pitéu durante toda a comissão, estive cerca de 3 meses em Bolama a colaborar numa recruta de naturais.

Regressado a Bissau, fui mandado numa LDP durante dois ou três dias até Cacine. Esperava-me o destacamento de Cameconde, onde permaneci cerca de dois meses até que a CCAÇ 2726, maioritária de naturais dos Açores, regressou à Metrópole, em meados de Fevereiro de 1972.

No regresso de Cacine a Bissau, embarcados na LDG Montante, lembro com nostalgia uma paragem numa ilha paradisíaca cujo nome já não recordo. Fomos a nado da LDG até à ilha. Fabuloso.

Em Bissau, fui colocado na COMPANHIA TERMINAL em Março ou Abril de 1972.

Lembro-me perfeitamente do Capitão Schultz, de um Alferes, outro nome que não recordo, do Sargento Cebola, do Sargento Manuel Joaquim Folgôa, que há cerca de meia dúzia de anos visitei na sua casa de Belas (Sintra); recordo com saudade do Cabo Pedrosa (?) que estou convicto ser natural de Soure (Coimbra).

E dos civis guineenses? O Samba Baldé, o Cabral, o Chico e outro rapaz muito competente que trabalhava comigo no escritório da Companhia Terminal.

Lembro-me da pessoa, de momento não me lembro do nome, do chefe dos estivadores no cais do Pidjiguiti, um cabo-verdiano de meia-idade.

Nós fazíamos a contabilidade e a folha de pagamentos da mão-de-obra dos estivadores embarcados, para carga e descarga dos abastecimentos.

Espero que alguém me ajude a contactar com o Sousa (?), Fur Mil que trabalhava no QG, na contabilidade, que suponho ser natural de Seia.

Anexo algumas fotos minhas desses tempos; uma tirada à secretária onde trabalhava na Companhia Terminal, nas antigas instalações da Casa Gouveia, outra à porta da repartição. Para quem se lembrar segue a única foto que tenho do Samba Baldé.

Para ajudar à reconstituição da memória, lembro que o Capitão Schultz, simbolicamente plantou uma papaeira em Outubro de 1972 junto à soleira da repartição. Esta planta tinha a espessura de um dedo humano. Em Abril de 1973 já tinha dado frutos.

Em Agosto de 1973, regressei finalmente a casa.

Um grande abraço de saudade e de solidariedade para todos.

Raul Freitas
(ex Fur Mil)
Salgueiral
4835-091 Guimarães
Tlf: 253522030 / Tlm 917520977



Guiné > Bissau > Companhia Terminal > 5 de Março de 1973 > Raul Freitas à porta da Repartição

O Raul Freitas em Bissau

Foto de Samba Baldé, funcionário da Companhia Terminal
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Notas de CV:

(*) - Vd. poste de 12 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3196: Em busca de...(39): Companhia Terminal (Bissau, 1973/74) (Daniel Vieira)

(**) - Vd. poste de 2 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3264: A Companhia Terminal , Bissau, 1973/74 (Manuel Oliveira Pereira)

(***) - Vd. poste de 23 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3229: História resumida da Companhia de Terminal e do Batalhão de Intendência (José Martins)

Guiné 63/74 - P3305: O meu baptismo de fogo (8): Mansoa, 1 de Abril de 1971 (Germano Santos)

Guiné > Região do Óio > Mansoa > BCAÇ 2885 (1969/71) > Vista aérea do quartel.

Foto: © César Dias (2007) (Por cortesia do Carlos Fortunato, webmaster do Portal Guiné-Bissau e da página da CCAÇ 13, Guerra na Guiné - Os Leões Negros)

"Mansoa é uma linda vila, à qual o rio Mansoa empresta também os seus encantos, dando-lhe um verde imenso, e florido. A história da Guiné passa por Mansoa, não só por ser um importante centro de comércio, mas também por ser um centro militar de grande importância estratégica, pois era aqui que existia a única ponte que permitia o acesso a Bissau.

"Inserida na conflituosa região do Óio, e a poucos quilómetros da mítica mata do Morés, Mansoa foi sempre um palco importante na história da Guiné. A partir de 15/12/2003 a jangada que atravessava o rio rio Mansoa em Joladim [João Landim] , foi substituída por uma excelente ponte, passando a existir um segundo acesso a Bissau" (Carlos Fortunato, na sua excelente página sobre a Guiné-Bissau : vd. História > 1969/74, BCAÇ 2885; belas fotos do autor e do Césdar Dias; ambos são membros da nossa Tabanca Grande).


1. Mensagem do nosso camarada Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832 (*), Mansoa, com data de 4 de Outubro de 2008, com a sua contribuição para a série O meu baptismo de fogo (**):

Boa tarde e votos de um bom fim de semana para todos vós, Editores do blogue.

Correspondendo ao convite do Carlos Vinhal e para que a ideia não fique moribunda, vou dar o pontapé de saída (após o Briote) sobre o tema o meu PRIMEIRO ATAQUE.

Não, não é mentira. O meu primeiro ataque aconteceu no dia 1 de Abril de 1971.

Estávamos na Guiné há apenas três meses, e em Mansoa há cerca de dois. Foi ao fim da tarde, assim mais para o anoitecer, como posteriormente vim a verificar que era o habitual naquelas paragens.

Não vos vou falar de mortos nem de feridos, porque felizmente não os houve. Dir-vos-ei, isso sim, que para quase todos nós foi uma novidade, uma estreia e uma estreia em grande.

E porquê uma estreia em grande ? Em grande, porque o ataque foi todo ele de mísseis, os famosos foguetões 122.

Ainda hoje não sei o que senti naquele fim do dia. Em rigor, creio que não senti nada, dada a inconsciência completa em que me encontrava. Ou seria pânico ?

No momento do ataque eu estava sentado no Restaurante do Simões, na Praça principal de Mansoa. Estava sentado no seu interior ou a jantar ou a preparar-me para tal. O que recordo com alguma clareza é que, derivado do sopro de um dos mísseis que caíu perto do restaurante, mais precisamente no muro da escola primária, abanei eu e a cadeira onde me sentava.

Num lote de fotos que em tempos enviei ao Luis Graça, encontra-se uma fotografia (que eu nessa altura identifiquei com o n.º 18) em que me encontro junto a esse muro, parcialmente destruído.

Não é uma história dramática, lá isso não é, mas é a história do meu primeiro ataque.

Um abraço para todos os tertulianos.

Vamos lá dar asas à saga dos nossos primeiros ataques na Guiné.
Germano Santos


Germano Santos, de camuflado e óculos de sol, passeando por uma rua de Mansoa

Foto: © Germano Santos (2007). Direitos reservados.


Mansoa > Na Esplanada da Casa Simões, almoçam os furriéis César Dias e Caetano

Foto: © César Dias (2007). Direitos reservados.



2. Comentário de CV

Obrigado Germano pelo teu contributo. Não encontrei a foto de que falas. O Luís Graça deve tê-la algures pelos seu arquivos, mas como são milhares é quase impossível encontrá-la. Deixo uma tua e outra do camarada e amigo César Dias que palmilhou como nós o mesmo chão.
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Notas de CV

(*) Vd. postes de

4 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1814: Tabanca Grande (8): Apresenta-se o Operador Cripto da CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832 (Mansoa, 1970/73) , Germano Santos

11 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1835: Tabanca Grande (10): Germano Santos, ex-1º Cabo Op Cripto, CCAÇ 3305 / BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73

12 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1840: A trágica história dos sapadores Alho e Fernandes da CCS do BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73 (César Dias / Gerrmano Santos)

8 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1934: Mansoa era uma vila lindíssima, um jardim (Germano Santos)

18 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3071: Os nossos regressos (11): Guiné, 1970/73. Porra, é muito tempo. (Germano Santos).

(**) Vd. último poste da série, de 11 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3293: O meu baptismo de fogo (7): Mansabá, 21 de Abril de 1970 (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P3304: Álbum Fotográfico do J. Mexia Alves (1): CCAÇ 15, Mansoa, 1973

Guiné > Região do Óio > Mansoa > CCAÇ 15 > 1973 > A cortar o cabelo à porta dos nossos quartos.

Guiné > Região do Óio > Mansoa > CCAÇ 15 > 1973 > Quartel de Mansoa; ao fundo penso que seria a secretaria da CCaç 15.

Guiné > Região do Óio > Mansoa > 1973 > Jipe da CCAÇ 15.

Guiné > Região do Óio > Mansoa > 1973 > O Rio Mansoa.

Guiné > Região do Óio > Mansoa > CCAÇ 15 > 1973 > Ponte sobre o Rio Mansoa.

Guiné > Região do Óio > Mnsoa > CCAÇ 15 > 1973 > Ponte sobre o Rio Mansoa.

Guiné > Região do Óio > Mnsoa > CCAÇ 15 > 1973 > Formatura da CCaç 15 para o desfile.

Guiné > Região do Óio > Mansoa > CCAÇ 15 > 1973 > Cabeça do desfile.

Guiné > Região do Óio > Mnsoa > CCAÇ 15 > 1973 > Pelotão do Alf Mendes (salvo o erro).

Guiné > Região do Óio > Mnsoa > CCAÇ 15 > 1973 >1091 - Pelotão do Alf Nelson (salvo o erro).

Guiné > Região do Óio > Mnsoa > CCAÇ 15 > 1973 >1093 - Pelotão do Alf Rompante Ferreira (salvo o erro).

Guiné > Região do Óio > Mnsoa > CCAÇ 15 > 1973 > Pelotão deste vosso amigo, sem dúvidas!

Guiné > Região do Óio > Mansoa > CCAÇ 15 > 1973 > A caminho de Bissorã.

Guiné > Região do Óio > Mansoa > CCAÇ 15 > 1973 > A caminho de Bissorã.

Fotos (e legendas): © Joaquim Mexia Alves (2008). Direitos reservados

1. Mensagem do Joaquim Mexias Alves (*), com data de 29 de Setembro de 2008:

Meus caros Luís, Virigínio e Carlos:

Enviei hoje ao Henrique Cabral fotografias de Mansoa. Como a Tabanca Grande é a Casa Mãe envio-as também para vós para delas fazerem o que vos aprouver.

Chamo a atenção para as fotografias do desfile que foi feito para a recepção ao Gen Bettencourt Rodrigues (**), na sua primeira visita a Mansoa. Documento a manter!

Se for preciso darei mais explicações sobre as fotografias, se para tal tiver "engenho e arte" e sobretudo memória.

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Joaquim: O material pode ser de fraca qualidade, mesmo depois de editado... Mas, para mim, o mais importante das fotos do teu álbum é falarem de ti e revelarem também a ternura e a camaradagem com que ainda hoje falas dos teus antigos camaradas... Podemos não reconhecer, de todo, o Nelson, o Mendes, o Rompante Ferreira... mas a verdade é que eles passaram, como tu, pela CCAÇ 15 e os seus (e os teus) passos ecoaram pelo Mansoa e pelas suas bolanhas. Eu próprio, que só agora, em Março de 2008, conheci Mansoa, não deixei de me emocionar ao rever a velha ponte sobre o Rio, que ainda lá está, de pedra e cal...

Se quiseres acrescentar algo mais sobre a tua CCAÇ 15, dispõe deste espaço que é todo teu. Há mais fotos, tuas e dos teus, espalhadas pelo blogue, e que se calhar faz sentido juntarmos aqui no teu álbum fotográfico (Bolama, Xitole, Mato Cão...). Faz uma selecção...

___________

Notas de L.G.:

(*) O Joaquim Mexia Alves foi alferes miliciano de operações especiais, tendo passado, de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973, por três unidades no TO da Guiné: (i) pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas); (ii) ingressou depois no Pel Caç Nat 52 (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) ; e (iii) terminou a sua comissão na CCAÇ 15 (Mansoa).

(**) José Manuel Bettencourt Conceição Rodrigues - Bettencourt com dois tês - , tomou posse a 21 de Setembro como Novo Governador e Comandante-Chefe do CTIG, nomeado em substituição do carismático General Spínola (que cessara funções a 6 de Agosto). Anteriormente tinha sido ministro do Exército (1968-1970). Foi preso, no 26 de Abril de 1974, na Amura, pelos seus subordinados que faziam parte do MFA.

"(...) no dia 26 de Abril, onze oficiais dirigiram-se ao Gabinete do General Comandante e exigiram a sua demissão e o regresso a Lisboa. Foi um acto pacífico, civilizado, mas dramático. Com o General vieram também alguns oficiais que se lhe solidarizaram, nomeadamente o Brigadeiro Leitão Marques que o MFA julgava poder contar para o substituir".

Eis a lista dos oficiais revoltosos: Ten Cor Mateus da Silva, Eng Trms; Ten Cor Maia e Costa, Eng; Maj Folques, Cmd; Maj Mensurado, Pára; Cap Simões da Silva, Art; Cap Sales Golias, Eng Trms; Cap Matos Gomes, Cmd; Cap Batista da Silva, Cmd; Cap Saiegh, Cmd (Africano), Cap Ten Pessoa Brandão, Armada; Cap mil José Manuel Barroso.

Nasceu no Funchal em 1918. Passou pelo TO de Angola e da Guiné. Por despacho da Junta de Salvação Nacional, passou à situação de Reserva em 14 de Maio de 1974. É co-autor, juntamente com os generais J. da Luz Cunha, Kaúlza de Arriaga e Silvino Silvério Marques, do livro de depoimentos África, Vitória Traída (Intervenção, 1977).