terça-feira, 6 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16456: Agenda cultural (496): Rui Tavares apresenta, na FNAC Chiado, Lisboa, 5ª feira, dia 8, às 18h30, o livro "Os Quatro Cantos do Império", de André Canhoto Costa




Sinopse > " Esta é a história de um cão. E do pastor que visitou os quatro cantos do império português para o encontrar.
O século XV está a chegar ao fim. As cidades de Portugal fervilham de comércio, e por todo o lado, rugem as serras dos construtores navais.

Esta é a história de Lopo, um jovem pastor, com gosto simples e pensamento rápido. A sua felicidade está em levar as cabras ao monte e correr na praia com Guiomar, filha de um Conde. Lopo e Guiomar andam sempre na companhia do Latido, um magnífico cão de água. Até ao dia em que um capitão de caravela, ao regressar da Guiné, é recompensado pelo pai de Guiomar com a oferta do Latido. A perda do animal tira à jovem a vontade de viver. E Lopo decide seguir esse capitão para recuperar o cão e, com ele, o sorriso de Guiomar.

Da cidade de Lagos à praça de Ceuta, das praias de Calecute às florestas do Brasil, Lopo visita os quatro cantos do império, arrastado pela navegação oceânica, pelos desígnios dos almirantes, os caprichos dos capitães e os sonhos do rei de Portugal.

Depois do cárcere e da traição, da violência dos mamelucos e voluptuosidade dos hindus, da sobriedade dos nómadas e pureza canibal dos índios… será que Lopo regressará a Portugal?
E o que aconteceu com o Latido?"



1. Mensagem de Margarida Damião, da editora Saída de Emergência:


Data: 5 de setembro de 2016 às 16:43
Assunto: Rui Tavares apresenta "Os Quatro Cantos do Império",  de André Canhoto Costa


Boa tarde,

Esta quinta-feira Rui Tavares apresenta Os Quatro Cantos do Império de André Costa.

Um livro que nos transporta de Lagos até à Praça de Ceuta, das praias de Calecute às florestas de Brasil, os protagonistas da história visitam os quatros cantos do império , arrastados pela navegação oceânica, pelos desígnios dos almirantes, os caprichos dos capitães e o sonho do rei de Portugal.

Aproveite para falar com André Costa e conhecer esta aventura onde o cão Latido e jovem Lopo são os heróis desta história.


Obrigada!

Margarida Damião
Dir. de Comunicação
margarida@ed.saidadeemergencia.com
tel. 96 344 19 79


Taguspark, 
Rua Prof. Dr. Aníbal Cavaco Silva, 
Edifício Qualidade - Bloco B3, Piso 0, Porta B,
2740-296 Porto Salvo, Portugal
Tel: +351 21 458 3772 / www.sde.pt

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Nota do editor:

Último poste da série >  31 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16433: Agenda cultural (489): Amanhã, dia de 1 setembro, estreia nos cinemas o filme, de Ivo M. Ferreira, "Cartas da Guerra", baseado nas cartas de amor e guerra de António Lobo Antunes, ex-alf mil médico, da CART 3313 (Angola, 1971/73). Descontos especiais para grupos de ex-combatentes e séniores

Guiné 63/74 - P16455: Álbum fotográfico de Adelaide Barata Carrêlo, a filha do ten SGE Barata (CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71): um regresso emocionado - Parte IX: "Bafatá: Este sol que nos enche a alma, / numa terra escura em que a noite nos abraça, se deita connosco até de manhã, / sonhei que te guardava só para mim. / Quando acordei, gritei, chamei por ti / e tu continuaste a viver, sempre linda e bela"




Guiné-Bissau > Bafatá > Outubro de 2015 > Pôr do sol


Fotos: © Adelaide Barata Carrêlo (2016) Todos os direitos reservados.
[Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


A Adelaide, com 7 anos,
em Lamego, em 1970
1. Mensagem de Adelaide Barata Carrelo,  com data de 29 de agosto último:


Bafatá

Este sol que nos enche a alma,
numa terra escura em que a noite nos abraça, 
se deita connosco até de manhã,
sonhei que te guardava só para mim.
Quando acordei, gritei, chamei por ti 
e tu continuaste a viver,  sempre linda e bela.


Adelaide Barata
29-08-2016

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Guiné 63/74 - P16454: Convívios (767): XXVII Encontro do pessoal da Magnífica Tabanca da Linha, dia 22 de Setembro de 2016, em Carcavelos (Manuel Resende, ex-Alf Mil Art da CCAÇ 2585)



27.º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha

Hotel Riviera - Carcavelos

22 Setembro de 2016

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Resende (ex-Alf Mil Art da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71), com data de hoje, 6 de Setembro de 2016:

Caros amigos e magníficos tabanqueiros
Estamos no mês de Setembro, mês de mais um convívio.

Assim no dia 22, quinta-feira, estaremos todos convidados para o “HOTEL RIVIERA”, no Junqueiro, em Carcavelos, ali próximo da praia com o mesmo nome. Já lá estivemos em Janeiro. Creio que foi do agrado geral.

Iremos repetir mas com uma variante será servido à mesa e o prato principal será "BACALHAU À LAGAREIRO".

Inscrições para:
Jorge Rosales – 914 421 882; jorge.v.rosales@gmail.com
Manuel Resende – 919 458 210; manuel.resende8@gmail.com

Dia 20, terça-feira, é o último dia para inscrições

Ementa: Serviço à Mesa:
1 - Saladas Simples e Compostas (4 variedades de cada à consideração do nosso Chefe)
2 - Salgados Miniaturas de rissóis, croquetes e chamuças
3 - Sopa Creme de Abóbora com Queijo Fresco
4 - Prato Quente Lascas de bacalhau à lagareiro
5 - Sobremesas Arroz Doce Salada de Fruta
6 - Bebidas Vinho branco e tinto (da casa) – Douro Águas Minerais, Sumos, Refrigerantes
7 - Café

Preço por pessoa: 20.00 €

E PRONTO... CÁ VOS ESPERAMOS.

Coordenadas GPS do Hotel: 
38º - 41’ - 05.27” Norte - 9º - 20’ - 35.11” Oeste
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de Agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16428: Convívios (766): Os "tugas" de Bafatá... Agosto de 2016, restaurante "Ponto de Encontro", do casal Célia e João Dinis a quem prestamos uma emocionada homenagem (Patrício Ribeiro, Impar Lda)

Guiné 63/74 - P16453: Memórias de um médico em campanha (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547) (6): Pequenas Grandes Verdades



1. Mais um belíssimo texto enviado pelo nosso camarada Adão Pinho da Cruz, Médico Cardiologista, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), este com pequenas grandes verdades.


MEMÓRIAS DE UM MÉDICO EM CAMPANHA


6 - Pequenas Grandes Verdades

Fiquei sempre com esta paradigmática sensação desde que, por volta de 1970, encontrei no átrio da Faculdade de Medicina da Salpêtrière, em Paris, um busto holográfico de Hipócrates que parecia dizer-me: Mon fils, la vie est le chemin pour la rencontre de nous-mêmes [, "Meu filho, a vida é o reencontro de nós mesmos"]. Mas já muito antes, na guerra colonial, as longas horas a olhar para o vazio se enchiam inesperadamente de pequenas explosões, não de granadas, mas de pequenas grandes verdades de um pensamento acorrentado à la rencontre de nous-mêmes.

Sentado numa pedra junto à margem, no meio do dilema entre vida e suicídio, depois de encontrar um dedo humano na boca do peixe-serra, que tinha um fígado de um metro quadrado, dizia o filósofo, condenado a mais nove meses de mato por tentar embarcar para a metrópole uma G3, com o fim de matar o sogro que lhe havia violado a mulher:
– Este é um sítio porreiro para alguém se suicidar, não acham?

Mas não havia ninguém à volta para receber a pergunta. Concluiu que falava para si mesmo:
- Ora merda, ninguém me ouve. Mas têm de concordar que é um poço fundo, tão fundo que não dá tempo para chegar vivo lá abaixo.
– A verdade procura sempre o amor na densidade dos processos e na empatia do sofrimento. – clamava bem alto o meu amigo arquitecto, pés bem assentes no escuro do pequeno cais de madeira, entre a amplidão do espaço de uma noite estrelada e os limites das margens do Cacheu.
– Muito se tem falado sobre o facto de umas coisas da vida imitarem as outras ou não coincidirem com as outras. Não se trata de uma questão de imitação ou discordância, mas de procurar saber o que acontece quando duas coisas se juntam, naturalmente, para criar algo de novo, isto é, saber o que acontece se ambas descobrem a verdade absoluta ou se a verdade absoluta não é mais do que a verdade relativa e circunstancial dos momentos das nossas vidas.

Não entendi muito bem, mas compreendi perfeitamente porque é que ele trazia debaixo do braço meia dúzia de discos de Beethoven, em vez da espingarda.

Assim que for dia, se dia chegar a ser nesta escura paisagem, lembraremos o amigo que na véspera escrevia versos com sangue da primeira bala, com a força da vida que cedo se apagou na segunda bala, gritando entre sonhos para os jagudis que o miravam e esperavam comer-lhe o corpo:
– O valor simbólico da percepção da vida está para além das filosofias baratas, e lembra que entre as grandes verdades da vida, outras mais pequenas se encontram a uni-las, como o amor, a poesia… e a morte.

A lua ia já muito alta, e caía a pique nas águas fundas do Cacheu. Eu e o padre capelão embarcávamos numa LDM [, Lancha de Desembarque Média,] , semelhante às que fizeram o desembarque da Normandia, em direcção a Binta, que ficava vinte milhas a norte. Ele levava como missão confortar as almas e eu levava como missão tratar uma caganeira geral do pelotão que ali se encontrava. A margem esquerda do Rio Cacheu, o Oio, era uma mata completamente cerrada de tarrafe, e território dos guerrilheiros.

A meio do caminho, nas entranhas do mais absoluto silêncio, apenas apunhalado pelo arrepiante pio de alguma ave nocturna, o padre perguntou-me:
 –  O que é para si a verdade?

E eu respondi:
– Neste momento, para mim, a verdade não é esta enorme lua andar à volta da terra, mas as bazucas que, eventualmente, estarão por trás do tarrafe e nos farão mergulhar no fundo do rio, onde uma legião de jacarés esfomeados nos espera. A verdade para mim, caro padre, está no facto de estarmos aqui os dois, no coração da selva, sem termos a coragem de confessarmos um ao outro que não nos cabe um feijão no cu. O senhor com o Breviário e eu com Les Damnés de la Terre [, "Os Condenados da Terra", de Frantz Fanon], duas realidades completamente diferentes, unidas pela força de uma pequena verdade circunstancial, o cagaço.

E o Padre, com duas lanchas no fundo do rio [, possível referência à LDM 302,] desde há dois meses, ancoradas na sua cabeça, pedia explicações não se sabe a quem:
– Alguém tem de me indicar a saída da noite sem regresso, não pode haver quem não saiba o caminho da derradeira fome, do calor do resto de lume do último verso, não acha,  caro doutor?

E eu respondi:
– Já viu estes passarinhos fritos, amavelmente e inesperadamente oferecidos por dois fuzileiros, no meio do rio Cacheu, noite fora, nos confins da selva? Somos quatro dentro de uma lancha perdida no tempo, meu amigo, dois fuzileiros, um crente e um ateu. Enquanto deus anda à deriva, esta metralhadora com balas do tamanho de um palmo, não.

Os gritos sem voz das mães dos filhos que por aqui ficaram, nem sequer beliscavam o silêncio. Não havia mães nem filhos, nem momentos de aflição. Apenas medo. A sensação de que o tempo era de morte, e a superfície espelhada do rio como um vidro vermelho de sangue deram para conversar:
– A noite e o vazio estão na origem cosmológica do mundo. Sofrer pode ser apenas sorrir. A pequena grande verdade do ser dissolve-se na tensão interna de quem ama a vida. Não será verdade?

E o fuzileiro, ainda com alguns passarinhos na sertã de meio metro de diâmetro,  avançou:
– Já fiz muitas missões por este rio fora, mas nunca com um padre e um médico. Uma bênção e um privilégio, mas que, nem por sombras me dão a segurança desta Browning.

E deu um beijo na metralhadora.

Já a lua se havia sumido e o sol faiscava nas três ou quatro garrafas vazias, quando abrimos os olhos, estendidos no convés. Ainda ecoavam nos ouvidos as pequenas grandes verdades, libertadas pelo estimulante whisky que os dois fuzileiros conseguiram no contrabando:
– Parecendo às vezes um lago tranquilo de um qualquer paraíso  – diz o segundo fuzileiro–  … e embora os rios corram para o mar, este parece nascer do mar, avançando sobre nós e tentando afogar-nos como aconteceu no último afundamento da lancha.
– Pois é – comenta o padre–, parece uma blasfémia, mas os desígnios de Deus nada mais são do que interacções sensoriais e perceptivas entre realidades virtuais e realidades reais, indispensáveis à compreensão da vida e do papel do ser humano.

Esta grande verdade nada mais produziu nos presentes do que um eructante soluço.

Não se riam. Assim como a dor transforma em humilde ignorante todo o que a sofre, também a mente humana, no meio do cagaço, discorre sabiamente sobre todas as filosofias, respondi eu, com as palavras ainda envoltas em vapores etílicos: nada se confunde plenamente, nada se distingue de forma absoluta, mas toda a nossa vida comporta áreas de intersecção muito importantes. Na relação gemelar entre os seres humanos, só a queda da hegemonia dos disparates torna possível as pequenas verdades da simplicidade da vida, no seu sentido antropológico.

Ao fim de dois dias, estancada a diarreia e reacesa a luz do Espírito Santo, alguém levantou, mais ou menos a despropósito, não o modus faciendi do seguimento para norte, mas a questão da transdisciplinaridade da vida, relação profunda e não superficial entre os saberes, uma das atitudes e estratégias fundamentais no avanço do conhecimento para a justiça, para a ética, para a solidariedade e cidadania, a fim de acabar com a puta da guerra. Dizia o alferes, já no fundo da garrafa de bagaço que trouxera de férias:
– Ainda há quem pense que existe um qualquer tipo de antagonismo entre imaginação de natureza poética, política, e bélica, mas não há. O que há é uma relação podre entre a razão e anti-razão, levando à morte das pequenas verdades e à destruição do ser humano.

Ora, nada destas filosofias tinha a ver com a terrível picada de vinte quilómetros que tínhamos pela frente, através da selva, durante sete horas, entre Binta e Guidage, já na fronteira do Senegal, onde íamos tentar acalmar alguns apanhados da cuca, pertencentes ao pelotão que lá se encontrava desterrado. O ataque de um enxame de abelhas selvagens a meio do caminho, ataque mais temido do que uma emboscada, foi uma daquelas pequenas grandes verdades que se agarram como crude ao caminho da memória. Como não havia qualquer deus na farda do padre capelão a receber as angústias dos homens, concedi a mim mesmo a difícil tarefa de ser eu o senhor e dono do nosso desígnio. Com muita sorte e pequenas verdades dentro de uma caixa de ampolas de hidrocortisona, conseguimos reverter dois graves choques anafilácticos.

– Diga-me lá meu caro padre, de que nos servem as grandes verdades?
– Servem para lhe pagar, com todo o gosto, a pequena verdade de uma cerveja, quando chegarmos a Guidage.

As pequenas grandes verdades da vida continuam a dizer-me que a relação do Homem com os inúmeros fenómenos que o rodeiam, com tudo o que vê e ouve, com tudo o que entende e não entende, é a mais poderosa essência da vida. A razão do Homem, fruto da obediência ao facto de existir… é um facto.

Três perguntas:
– Não será esta cerveja, saída do fundo do bidon de gelo para uma goela a quarenta graus, um milagre?
– Acha que, algum dia, a terra engolirá os exércitos genocidas que se empanturram de vidas e se embebedam de sangue para glória do Senhor dos Exércitos?
– Há alguma razão para andar com um colar de orelhas ao pescoço ou dar um sabonete Lux às bajudas e fuzilá-las de seguida?

O capelão, com um pé no Senegal e outro na Guiné – a fronteira era o caminho da fonte – encolheu os ombros, sorriu e sentenciou:
– Sempre haverá espinhos nos olhos e aguilhões nos flancos da vida.
– Sim – respondi– , sempre haverá grandes verdades na noite do Homem, a tapar as pequenas verdades do nascer do sol.
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Nota do editor

Poste anterior de 16 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16392: Memórias de um médico em campanha (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547) (5): O diagnóstico

Guiné 63/74 - P16452: Tabanca Grande (493): Augusto Mota, grã-tabanqueiro nº 726... Especialista em material de segurança cripto (Quartel General, CTIG, Bissau, 1963/66), gerente comercial da Casa Campião em Bissau, agente do Totobola (SCML), agente e correspondente do "Expresso" e de outros jornais e revistas, livreiro, animador cultural, português da diáspora a viver no Brasil há mais de 40 anos...


Foto nº 1 > 

Emblema da CCAV 488, desenhado com "garrafas de cerveja" (?).. O Augusto Mota, pelas funções no QG, nunca saiu de Bissau... Tinha um amigo na CCAV 488 (Bissau e Jumbembem, 1963/65) a quem enviava jornais e revistas.


Foto nº 2: Equipa de futebol... O Augusto Mota, na primeira fila, é o quinto da esquerda para a direita.




Foto nº 2A  > Augusto Mota, assinalado a amarelo, integrando uma equipa de futebol (presume-se que seja de militares do QG).




Foto nº 3 > Uma brincadeira com as "marmitas",,,  O Augusto Mota é o segundo da direita para a esquerda, assinalado a amarelo.


Foto nº 4 > Trabalhos de construção ... Não sabemos onde...


Foto nº 5 > Cartune: "Na Guiné todos os bichos... picam!" ... Repare-se no quadro, na parede: "Sociedade  Protectora dos Maçaricos"... Nessa época, os novatos eram "maçaricos" (como em Angola), só mais tarde, provavelmente, é que se popularizou o vocábulo "periquito"... E nos aquartelamentos ainda não haveria geradores, por volta de 1963, a malta deitava-se à luz da vela... Era assim, camaradas veteranos ?

Fotos: © Augusto Mota  (2016). Todos os direitos reservados


1. Tudo começou com uma mensagem de Augusto Mota, enviando-nos uma cópia de uma "preciosidade", o programa das comemorações do 45º aniversário da UDIB, Bissau, em 28/6/1974. O endereço de email que usa é brasileiro:

Assunto: PROGRAMA UDIB 29.06.1974

Caríssimo Luís Graça,
Remexendo em coisas antigas, que em casa guardo ciosamente, encontrei o "PROGRAMA" em anexo que, no mínimo, é uma raridade. Como ignoro onde encontrar o Valdemar Rocha [, poeta do grupo do caderno de poesias "Poilão"] mas estou seguro de que gostará de receber, agradeço lhe remeta o referido documento.
Antecipadamente grato.

Atentamente,
Augusto Mota




2. Resposta do editor em 4 de agosto último:

Caríssimo Augusto: Vamos ver se o Valdemar Rocha ("Nobre Luso") te reconhece... bem como o resto da malta do "Poilão" (Albano Matos, Luís Jales de Oliveiora...) (*)... Vamos ficar em contacto, estou de férias, com menos disponibilidade para o blogue... Ab, Luís Graça


3. Novo mail do Augusto Mota, de 23 de agosto

Caríssimo Luís Graça:

Já vai sendo tempo de corresponder à sua curiosidade:

As minhas atividades na UDIB se resumiram ao sarau inerente aos JOGOS FLORAIS.

Na época era proprietário de uma livraria, representante da Santa Casa da Misericórdia (totobola), abastecia a província de jornais e revistas e era representante/correspondente do EXPRESSO, outros jornais e revistas.

Fui para a Guiné como militar, no período de 63/66, compondo o primeiro GRUPO DE MATERIAL E SEGURANÇA CRIPTO.

Regressei ao continente e voltei para a Guiné como gerente comercial (Casa Campião) [, fundada em Lisboa em 1840 por Pedro José Pereira Campião, sendo hoje a casa de lotarias mais antiga do mundo, como tal registada no Guiness Book of World Records.]

Presentemente encontro-me no Brasil (há mais de 40 anos), como funcionário público. Estou aposentado.

Tenho centenas de fotos e estou anexando algumas.

Aplausos para o blog. É bom para que a turma recorde os caminhos traçados... para mim não, que já não tenho memória.

Um abraço para todos vocês.
Augusto Mota

PS: Em "marmita" [. foto nº 3,] sou o segundo da direita para a esquerda; no futebol [, foto nº 2,] , estou na fila dos abaixados. Sou o quinto da esquerda para a direita.


4. Comentário do editor:

Augusto, temos poucos veteranos como tu, da época de 1963/65... Mas, pegando nas tuas palavras, mal de nós quando deixarmos de ter memória...

Pois muito bem, procurando interpretar a tua vontade, passas a honrar-nos com a tua presença na Tabanca Grande... Contigo passamos a ser 726 membros da Tabanca Grande, entre vivos e mortos. Somos uma espécie em vias de extinção. Espero que o Valdemar Rocha ("Nobre Luso") nos dê notícias em breve e aceite o nosso convite para se juntar a ti e a nós, neste espaço dos camaradas e amigos da Guiné,

Da CCAV 488, onde tinhas um amigo, fez parte o nosso camarada, grã-tabanqueiro, natural de Águeda,  Armor Pires Mota  [ex-alf mil  CCAV 488/BCAV 490, Bissau e Jumbembem, 1963/65; escritor, autor dos livros, entre outros, o "Tarrafo", 1965 (com edição facsimilada, com as anotações do "lápis azul" dos censores, em 2013); "Guiné, Sol e Sangue, 1968; "Cabo Donato, Pastor de Raparigas", 1991; "Estranha Noiva de Guerra", 1995: e a "Cubana que dançava flamenco", 2008].(**)

Lembras-te dele? E de mais camaradas?

Se puderes manda uma foto atual da tua pessoa. E, claro, manda as fotos que quiseres do teu tempo de militar e civil na Guiné... Com boa resolução (c. 400/600 DPI)... Muita saúde e longa vida. que os camaradas da Guiné merecem tudo!
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de agosto 2016 > Guiné 63/74 - P16360: Memória dos lugares (341): UDIB, Bissau, II Jogos Florais, Programa, 28 de junho de 1974 (Augusto Mota)

(**) Sobre as CCVAV 488 (Bissau e Jumbembem, 1963/65), vd. os seguintes postes de Armor Pires Mota:

25 de novembro  2013 > Guiné 63/74 - P12341: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (1): Diário de bordo - A primeira grande desilusão

27 de Novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12351: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (2): Diário de bordo - Ó mar salgado!

29 de Novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12360: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (3): Diário de bordo - Manhã azul e Deus ao leme

2 de dezembro  de 2013 > Guiné 63/74 - P12378: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (4): Cinco dias no Niassa; A primeira grande experiência e Dois alferes de uma só vez

4 de dezembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12386: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (5): Ilha do Como - Operação Tridente

6 de Dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12397: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (6): O casamento do Jaime e da Manuela, A macaca ciumenta e O dia de santo avião

9 de dezembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12419: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (7): Os macacos vermelhos

11 de dezembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12432: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (8): Aerogramas para a Lili (1)

13 de dezembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12444: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (9): Aerogramas para a Lili (2)

16 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12458: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (10): Crónicas (ausentes) de "Tarrafo" (1): Bandeira branca, O Vicente e Palhota sem luz

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16451: Consultório militar do José Martins (19): Notícia da criação da "Agência de Leiria" da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, em 12 de abril de 1924, sendo seu presidente o cor inf Francisco de Lacerda e Oliveira, comandante do RI 7









1. Mensagem de José Martins [, ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70, ,foto atual à direita,] com data de 25 de agosto último:

Boa tarde

Nas minhas idas aos ATL (leia-se: Arquivos, Bibliotecas, Etc), encontrei este "documento" que parece indicar que é um dos primeiros, senão o primeiro, da Agência de Leiria da Liga dos Combatentes da Grande Guerra. 


A Liga dos Combatentes, inicialmente designada por Liga dos Combatentes da Grande Guerra, foi fundada em 1923 e oficializada pela Portaria n.º 3888, de 29 de janeiro de 1924. Vd. aqui resenha histórica do Núcleo de Leiria

A primeira ata da Assembleia Geral foi redigida  aos dezoito dias do mês de fevereiro de 1925, na sala de Oficiais no Regimento de Infantaria nº 7, em que foram eleitos os primeiros corpos gerentes da Assembleia Geral e da Direcção. O presidente da Assembleia Geral era o então cor inf Francisco Lacerda e Oliveira (1874-1946) que assina o comunicado, de 12 de abril de 1924, acima reproduzido.

Fica para memória futura.

Abraço

Zé Martins


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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de fevereiro de  2016 >ência Forças Militares Portuguesas que passaram por Empada

Guiné 63/74 - P16450: Notas de leitura (877): Ida à Feira da Ladra, sábado, 27 de Agosto: a Guiné estava à minha espera, antes, durante e depois da guerra (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Agosto de 2016:

Queridos amigos,
Há largos anos que andava na peugada de "O descascar da pele", de Sérgio Matos Ferreira, um furriel artilheiro que andou por Buruntuma, Dara e Mansabá, entre 1972 e 1974. Trata-se de uma pesquisa na arquitetura literária com reminiscências acentuadas do novo romance, do surrealismo e do construtivismo. Foi processo literário de pouca dura, os escritores mais persistentes, entre as décadas de 1970 e 1980 viram-se forçados à reconversão.
Destino esta pesquisa a um ajuntamento o mais completo quanto possível de tudo quanto se escreveu sobre a guerra e a despeito da profunda deceção que a leitura me provocou sinto-me contente de constar no blogue mais esta referência.

Um abraço do
Mário


Ida à Feira da Ladra, sábado, 27 de Agosto: a Guiné estava à minha espera, antes, durante e depois da guerra (2)(*)

Beja Santos

“O descascar da pele”, por Sérgio Matos Ferreira, Coleção O Chão da Palavra, Veja, 1982, aparece referido em “Os anos da guerra”, de João de Melo, na obra se inclui o seguinte texto deste autor que foi furriel de artilharia de campanha, na Guiné, entre 1972 e 1974 e a assistiu à transmissão de poderes:
“A bandeira arpoada num falo direito, rijo, dedilhava palavras surdas auxiliada por um sorriso fraco de vento, que acordado em sobressaltos estrebuchava soluços de pano bicolor, murcho, à espera da estocada final. Num berro sem esforço o clarim tocou firme e um pulsar de cascata segredou no sangue que o colonialismo se dissolvia, o sopro de metal continuou pleno de satisfação vibrando nas lâminas quentes do dia o tom do sentido, e sentimos na mais escondida célula que a salada da guerra se fechava na caixa da memória. A bandeira escorregava lentamente pelo fio da história em pequenas convulsões, hesitando, agarrando-se em jeito de lapa à madeira inchada e sem resistência poisou suavemente numas mãos esburacadas, ansiosas de remendar essa prisão de mato com a sombra do seu país. Esticada, dobrada em guardanapo aconchegou-se, isolada, entre a camisa e as costelas da fome de um militar que num estilo impecável deu meia-volta, arrumando-se no seu lugar estudado há longos meses. Agora África subia sem dificuldade pelo poste de braços abertos, hélice de espigas doiradas a cuspirem sementes, catana vigorosa de carne a cortar o último nó do cordão umbilical. És independente, meu nervo, Guiné de todos”.

Intrigava-me o texto, chegara finalmente a ocasião de ler a obra na íntegra, ademais a Coleção O Chão da Palavra irrompera no início de 1980 com um conjunto de livros que fazem hoje parte da história da literatura, basta pensar em Memória de Elefante, Os Cus de Judas, Conhecimento do Inferno e Explicação dos Pássaros, de António Lobo Antunes e Contos da Sétima Esfera, de Mário de Carvalho.

A escrita de Sérgio Matos Ferreira é vibrátil, sensorial, dominada por laivos poéticos, tem uma arquitetura afim do novo romance, trata-se de uma sequência de textos encadeados, mas encontramos outras referências na obra como o surrealismo, o expressionismo e o construtivismo. Isto para significar que há uma inegável pesquisa laboratorial, hoje completamente datada e fora de uso. Procura exemplificar:
“Bissau, miscelânea de idiomas a saltitar e de carne saturada do protecionismo, saboreava o andar quente da mulher, destapava o homem a amarrotar o tempo encostado à maresia, rasgava o sorriso manchado do puto meio nu, a correr pelo chão amarelo com tiras de barro, esburacado, solto pelo vento húmido que borrifava as mudanças e ameaçava os músculos baratos na arquitetura pesada, colonial, enquadrada por ruas adobadas de saibro, cortadas em ângulos de fraco recorte ou espalhadas em tímidas películas de alcatrão. A avenida principal, larga, arejada, símbolo da presença portuguesa com o Palácio do Governador, escorregava de cafés sufocados de militares a devorar a sede, vendia distrações empacotadas em filmes pensados, medidos, tragados num cinema de idade insuspeita. Trituravam-se algumas ideias retrógradas auxiliadas no ambiente fresco, requintado, caro do melhor restaurante”.

O destino do artilheiro foi inicialmente Buruntuma, partiu de Nova Lamego e fez a quilometragem passando por Piche e Camajabá. Vai situar o espaço da sua primeira morada de combate:
“Cavalgando para poente, nascia a porta de armas, marco parado no tempo, ferida aberta na nossa imaginação. Nadando para Norte ou remando para Sul, espelho direto da mesma intenção, arame torcido para torcer a vida, espaço partido no intervalo da morte para conter os assaltos de África…"

Contempla o duche, descreve o abrigo, a vida na messe, os jogos de cartas, solta-se o jargão da caserna, não se esquecem os assaltos constantes dos mosquitos e a ansiedade pela chegada do fogo inimigo, como observa:
“Quando a tarde estava lançada e o sopro morno tateava as nossas emoções, o PAIGC penava e muito bem bater a zona com os potentosos morteiros 120 e 82 mm, ou dar um ar da sua graça mostrando a eficácia do canhão 85 mm”.

Deu aulas regimentais da primeira à quarta classe aos africanos que pertenciam ao pelotão. Não esquece o rebentamento de minas, as informações que circulam entre aquele ponto ermo separado por uma bolanha da República da Guiné Conacri. De Buruntuma segue para Dara, nova escala. Daqui ouvem-se os ataques a Canquelifá e Copá. Mais tarde, dão-lhe como destino Mansabá. E um dia chega o 25 de Abril, segue-se Bissau e um transporte aéreo para Lisboa. Foi aquela guerra que lhe descascou a pele, daí o sensorial de toda esta prosa poética, o retorcer e quase apedrejar as palavras, a cuidada escolha que faz em posicionar-se como observador, o vestir a farda do anti-herói, e o seu regresso à procura de apaziguamento, como ele desenha a sua chegada a casa:
“Fechei a porta, tirei a mala tuberculosa do porta-bagagens, subi nervosamente as escadas do prédio, desenrolhei as chaves e respirei as paredes numa só golfada. Liguei para a companheira, não estava, sentei-me no quarto e repousei a vista na janela, quadro aberto na recordação a salpicar cones de luz ainda frescos que estalavam nos ouvidos e saltavam para a minha frente em movimentos de som e imagens de cor”.

É a procura do repouso do combatente, a memória precisa de ganhar alguma distância, a literatura virá depois. Tomou-se esta escrita de Sérgio Matos Ferreira como um anúncio de inovação literária. Não foi o que aconteceu, a porta que abriu este experimentalismo cedo se fechou. Há limites para a prosa poética e acontece que naquela década de 1980 parturejavam-se obras de inolvidável interesse, assinadas por Cristóvão de Aguiar, Álamo de Oliveira e José Brás, referências obrigatórias da literatura da guerra da Guiné. Nestas coisas da escrita, há uma regra implacável em que o que promete ser novo se torna em pouco tempo num irremediável tecido velho e imprestável. Li e reli este “O descascar da pele” e só encontrei um processo literário fora do mundo.

(Continua)
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Notas do editor:

(*) Poste anterior de 2 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16439: Notas de leitura (875): Ida à Feira da Ladra, sábado, 27 de Agosto: a Guiné estava à minha espera, antes, durante e depois da guerra (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 2 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16441: Notas de leitura (874): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte IX: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (V): Finalmente o regresso a casa, depois do pesadelo do Fiofioli, na margem direita do Rio Corubal... Este homem, hoje professor universitário (?), tem histórias para contar aos netos...

Guiné 63/74 - P16449: Recortes de imprensa (81): " As pessoas não falavam da guerra na guerra. Foi das primeiras coisas que eu percebi. Nem hoje eles falam na guerra. Eles [, os ex-combatentes, ] fazem almoços todos os anos e não falam nisso uns com os outros": entrevista de Ivo M. Ferreira, realizador das "Cartas da Guerra", à Rádio Renascença, em 1 do corrente


Rádio Renascença > 1 de setembro de 2016 > Entrevista, à Renascença, do realizador de cinema Ivo M. Ferreira, cujo filme "Cartas da Guerra" está agora, finalmente, em exibilção nos cinemas portugueses (*)



1. Obrigado ao nosso camarada Carlos Pinheiro, por estar atento ao que se passa na comunicação social e pode interessar aos leitores do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné que há mais de 12 anos, e em contracorrente,  falam todos os dias, da e sobre a guerra colonial... Eis um excerto da entrevista do Ivo M. Ferreira, com a devida vénia à Rádio Renascença (**):



Capa do livro, editado em 2005
pela Dom Quixote
"As pessoas não falavam da guerra na guerra. Nem depois"


(...) Há muito que o realizador queria tratar o tema da Guerra Colonial, "mas nunca tinha encontrado uma forma". Até que tropeçou nas cartas que o jovem António Lobo Antunes escreveu à mulher durante uma comissão de serviço em Angola, entre 1971 e 1973 (tinham sido organizadas pelas filhas de ambos e publicadas no livro "Deste Viver Aqui Neste Papel Descripto: Cartas d[a] Guerra", em 2005).

Um dia ouviu a mulher (Margarida Vila-Nova, que interpreta a mulher de Lobo Antunes no filme) ler o livro para a barriga onde crescia o filho de ambos e a ideia plantou-se. "Em termos históricos, de documento de guerra, em termos biográficos e de uma história de amor fantástica, havia uma série de elementos que me permitiam pensar que daria um bom filme." Escreveu o argumento com Edgar Medina em pouco mais de quatro meses.

(...) A pesquisa para o filme passou não só por outros escritos e livros de Lobo Antunes, como "Os Cus de Judas" ou "Memória de Elefante", mas também por conversas com outros antigos combatentes. Ouviu muitas vezes reacções. Como esta: "Mas por que caraças é que tu queres falar nisto?".

"As pessoas não falavam da guerra na guerra. Foi das primeiras coisas que eu percebi. Nem hoje eles falam na guerra. Eles [ex-combatentes] fazem almoços todos os anos e não falam nisso uns com os outros", diz.

Ivo M. Ferreira percebeu que muita coisa que ficou enterrada, "atirada para o mesmo canto do fascismo" para nunca mais se revisitar. Todo um período de "anseios e medos que não eram revelados nem à família nem aos colegas", que criou "um aquartelamento de silêncio muito mais forte do que o que eles tinham enquanto lá estavam".

Por isto tudo, Ivo não podia ter ficado mais surpreendido com as reacções que tem tido. "Sinto que este filme tem funcionado para fazer um desfolhar da cebola que, se calhar, também só podia acontecer agora, quando as pessoas estão naturalmente a desaparecer."

Agora que o filme finalmente chega às salas, trouxe uma surpresa para Ivo M. Ferreira. "Pensei sempre que as mulheres, as filhas, os filhos é que iriam ver o filme. As pessoas que os viram voltar diferentes. Mas de repente sei que há excursões de ex-combatentes, que é uma coisa que eu nunca pensei." (...)


Fonte: A entrevista, conduzida por Catarina Santos,. pode ser lida na íntegra, aqui,  no sítio da Rádio Renascença

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

31 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16433: Agenda cultural (489): Amanhã, dia de 1 setembro, estreia nos cinemas o filme, de Ivo M. Ferreira, "Cartas da Guerra", baseado nas cartas de amor e guerra de António Lobo Antunes, ex-alf mil médico, da CART 3313 (Angola, 1971/73). Descontos especiais para grupos de ex-combatentes e séniores

7 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16281: Agenda cultural (488): O filme "Cartas da Guerra", de Ivo M. Ferreira, baseado na obra de António Lobo Antunes, tem estreia comercial em 1 de setembro próximo


(**) Último poste da série > 27 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16423: Recortes de imprensa (80): Os "últimos tugas" de Bafatá: João e Célia Dinis, entrevistados pelo "Público", em 13/4/2013... O nosso camarada João Dinis, hoje empresário, vive na Guiné desde 1963. Pertenceu à CART 496 (Cacine e Cameconde, 1963/65)

Guiné 63/74 - P16448: Parabéns a você (1132): José Marcelino Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de setembro de  2016 > Guiné 63/74 P16443: Parabéns a você (1131): Armor Pires Mota, ex-Alf Mil Cav da CCAV 488 (Guiné, 1963/65); José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Guiné, 1971/73); e Torcato Mendonça, ex-Alf Mil Art da CART 2339 (Guiné, 1968/69)

domingo, 4 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16447: Efemérides (234): Cerimónia de imposição de Medalhas Comemorativas das Campanhas a Combatentes da Guerra do Ultramar, levada a efeito no passado dia 21 de Abril de 2016 no Regimento de Transmissões do Porto (José Firmino, ex-Soldaddo At da CCAÇ 2585)

Vista panorâmica do Regimento de Transmissões do Porto


1. Mensagem do nosso camarada José Firmino (ex-Soldado Atirador da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884, Jolmete, 1969/71) com data de 22 de Agosto de 2016:

Teve lugar no passado dia 21 de Abril do ano 2016, no Regimento de Transmissões – Porto, a entrega tardia, mas diz o ditado que vale mais tarde que nunca, da entrega de diversas Medalhas Comemorativas de Campanha com Legenda, na qual eu também marquei presença para receber aquilo que há muito tinha direito.

Numa cerimónia bonita e bem conduzida, onde não faltou a presença do Exmo. Comandante da Unidade, acompanhado por diversos oficiais, sargentos e praças.

Depois de impostas as respetivas medalhas, seguiu-se o desfile das tropas em parada, com a fanfarra à frente, e ai senti como que um arrepio, lembrando outros tempos que já lá vão e em que gostei de ser militar, defender o meu País e honrar a nossa bandeira.

Finda a cerimónia, seguiu-se uma visita guiada ao Museu da Unidade. Sem dúvida, gostei de rever por lá algum material de transmissões que também usámos no cumprimento da nossa comissão de serviço.

Cumprimentos a todos os ex-Combatentes, familiares e amigos.
José Rodrigues Firmino.
Ex-Soldado Atirador da CCAÇ 2585/BCaç 2884
Jolmete, Guiné
1969/1971


Compasso de espera

Preparativos

Alinhados já em formatura

Comportamento à altura dos acontecimentos

Ponto mais alto

Já com as Medalhas impostas

O Comandante da Unidade, Senhor Coronel de Transmissões Carlos Jorge de Oliveira Ribeiro, a dirigir palavra aos medalhados

Foto de família


Equipamentos de Transmissões em exposição

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2. Comentário do editor

Diz o camarada Firmino que recebeu tardiamente a sua Medalha, tem razão, mas não há alternativa se não fazer o requerimento para a receber, já que ninguém sabe se ainda somos vivos e onde moramos.
Há ainda a opção de a comprar nos estabelecimentos da especialidade, tendo para o efeito de ser apresentada a Caderneta Militar, onde consta a OS da atribuição da Medalha e da respectiva legenda.
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16305: Efemérides (233): 15 de novembro de 1970, às 11 da noite, o quartel e a vila de Nova Lamego são violentamente flagelados com fogo de 4 morteiros 82, durante 35 minutos... 3 mortos entre as NT, 4 feridos graves, 8 ligeiros; 8 mortos entre a população, 50 feridos graves, 30 ligeiros... Valeram-nos os Fiat G-91 estacionados em Bafatá... Spínola mandou construir um quartel novo, fora da vila, inaugurado em 31/1/1971 (Tino Neves, ex-1º cabo escriturário, CCS/BCAÇ 2893, 1969/71)

Guiné 63/74 - P16446: Banco do Afecto contra a Solidão (17): Regressei do Lar de Runa... Um lar é um lar, por muito bom que seja... Aquilo para mim era já Gadamael (Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)


Instituto de Ação Social das Forças Armadas > Centro de Apoio Social de Runa (CASR), Runa, Torres Vedras


Foto: © Mário Gaspar  (2016). Todos os direitos reservados



1. Duas mensagens de hoje, do Mário Gaspra, enviadas às 3 e tal da manhã:

[foto à esquerda, Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68]


(i) Assunto - Regressei do lar de Runa

Caros Camaradas

Mário Vitorino Gaspar regressou de Runa. Estou em Lisboa,  o Lar Militar em Runa fazia-me lembrar a Guiné.

Julgo estarem a confundir tudo. Sempre julguei que todos fossemos capazes de fazer um pouco de História – neste caso da guerra na Guiné – mas é mentira.

Cada um conta a sua verdade, parece mais que o Blogue não é necessário. Tenho a certeza que todos temos necessidade da importância do mesmo. Não pode ser um meio de se entreterem. Estive no Lar em Runa, sem computador e praticamente sem  contactos.

Quando uma parte se afasta há uma “história” ou “estória” mais, e cometem-se erros, para não dizer que se deturpa a verdade. O Camarada Coutinho e Lima tem razão, em Gadamael antes da CART 1659 tiveram a sua História a CART 494 e CCAÇ 798.

A CART 1659 era comandada pelo Capitão de Infantaria – e não de Artilharia, como alguém afirmou – Manuel F. F. de Mansilha.

A foto que consta do mesmo a cortar o bolo no Almoço de Confraternização na Batalha foi por mim enviada. Assim como o emblema da CART 1659 também fui eu que o fiz chegar ao Blogue.

Para saberem algo mais sobre o período de Janeiro de 1967 a Outubro de 1968, podem ler o meu livro “O Corredor da Morte”, estou a tratar de terminar uma 2.ª  edição, onde não vão existir omissões – omitir é mentir – não sou mentiroso…

Voltarei… Cumprimentos


(ii) Assunto: Um lar é... para além de tudo, um lar  – ou devia ser


Caros Camaradas e Amigos

Decerto não interessa a ninguém o que se passa num Lar. Eu estaria sempre interessado, sou curioso.

Podem crer ser pior um Lar – seja ele o melhor, tenha tudo aquilo que julgamos ser do melhor – só o sabemos quando lá estivemos.

O pessoal, todo ele compreensível, educado, trabalhador, simpático… Não tenho adjectivos para descrever, não existem palavras, mas é um Lar. Um Lar não pode ser isolado e afastado. Tem de possuir movimento de pessoas e movimentação.

Runa para mim já era Gadamael, na Guiné, no mato. Até os amigos se esquecem que existimos.

Falarei do assunto noutra altura.

Um abraço

Mário Vitorino Gaspar
_________________

Nota do editor: 

Guiné 63/74 - P16445: Blogpoesia (467): "Bom dia, Sol" e "O despertar do dia", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Belíssimos poemas do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), dos que nos vai enviando ao longo da semana, e que nós publicamos com prazer:


Bom dia, Sol!

Bom dia, Sol apaziguador e vivificante desta Terra triste!
Te vejo a nascer em glória.
Que fulgor tem tua majestade poderosa.

Consegues dum só clarão iluminar o mundo.
Jorras força e alegria em labaredas.
Consegues serenar os mares em fúria
Com teu brando ceptro.

És meigo e terno como a brisa.
Semeias cores como um pintor divino.
São belas todas as tuas telas.
Te repartes igual por toda a parte.
Tudo fecundas de força e vida.

Derretes o gelo na devida conta.
Alimentas os mares e os rios
Como prados vivos.

Só te vais embora
Quando todo o mundo dorme…

Mafra, 4 de Setembro de 2016
7h43m

Vendo nascer o Sol

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O despertar do dia

Fruto da luz, chegaram os traços e formas dos corpos.
Depois veio o movimento colorido que os pegou em carrossel.
Cada qual no seu papel, segue a marcha no seu caminho.

Travam-se confrontos e atropelos,
como se o espaço imenso lhes escasseie.

Se evitam os cruzamentos de dois sentidos.
Se ocultam, à cautela, nas sombras que os rodeiam.
Reina o medo e a vontade de sobreviver.

Só a gravidade firme lhes prende os pés ao chão.
Mesmo assim os alados se desprendem e vagueiam livres pelo ar.
Enquanto as árvores se despem das suas folhas secas que só pesam.
Os répteis ápodos e oblongos serpenteiam velozes sobre os folhedos.

Até as nuvens, em constante desassossego,
se afligem com as temíveis forças das ventanias.

É esta a paz da natureza.

Tapada de Mafra, 26 de Agosto de 2016
9h40m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16410: Blogpoesia (466): "De negro a noite", "A revolta dos fragmentos" e "A Natureza", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16444: Manuscrito(s) (Luís Graça) (95): Por aqui passou Mamadu Indjai, o terrível


Por aqui passou
Mamadu Indjai, o terrível



por Luís Graça


E de repente
tudo te é estranho,
o muro que corta, rente,
a brisa da manhã,
a fonte onde ainda ontem
os djubis tomavam banho,
o portentoso poilão aonde ias rezar,
à tua maneira, ao teu irã,
a ponta onde colhias a manga e o abacaxi,
o macaco-cão que chora e que ri…

D
e repente
não sabes donde vens,
não sabes o que és,
aqui de camuflado e de G-3,
nem a verdadeira razão para matar e morrer,
não sabes o que fazes neste lugar,

muito longe da tua terra,
abaixo do Trópico de Câncer,
a 11 graus e tal de latitude norte.

M
al reconheces, pobre periquito,  

os sinais da guerra,
o combate em noite de luar,
o cavalo de frisa esventrado,
os pássaros de morte,
os jagudis no alto da árvore descarnada,
a terra revolta, ensanguentada,
o arame farpado, 

aqui e acolá cortado,
o colmo das moranças, 

carbonizado,
o medo que não se vê mas se pressente, 

num olhar de relance, breve,
sobre a tabanca que quiseram riscar do mapa, 
as cápsulas de 12.7 da metralhadora pesada Degtyarev,
um par de chinelos,
os caracteres chineses dos invólucros, amarelos,
das granadas de RPG…


Um triste cão, vadio e louco, ladra
ao cacimbo fumegante
e o seu latido lancinante
ecoa pela bolanha fora.
A seu lado, a única velha,
que não se foi embora,
com a sua máscara impassível
de séculos de dor,
de seu nome, Satu.

Mais tarde, saberás tu,
saberão de cor,
os jovens pioneiros,
os "blufos", do PAIGC,
que por aqui passou Mamadu Indjai, o terrível,
hoje valoroso,
amanhã insidioso,
combatente da liberdade da pátria,
hoje herói,
amanhã traidor,
que nunca conhecerá a glória nem a honra
do Forte da Amura,
transformado em Panteão Nacional.

Diz-me tu, Satu, mãe e pitonisa,
onde estão as mulheres da tua tabanca,

com os balaios à cabeça
e os seus filhos às costas ?
Onde estão as tuas gentis bajudas,
de mama firme, 

cujo sorriso nos climatizava os nossos pesadelos ?
Onde estão o régulo e os suas valentes milícias ?
Para que lado corre o Rio Corubal
e donde vêm aqueles sons, ambivalentes, de bombolon?


Diz-me tu, homem grande, 
onde fica o Futa Djalon ?
E de que ponto cardeal
sopram os ventos da história, afinal ?


Dizes-me onde fica Meca, meu irmão ?
E, no seu conciliábulo,
os nossos deuses, o meu e o teu,
o que sobre nós decidirão, cinicamente ?


Diz-me onde está o velho cego, 
mandinga,
a quem demos boleia,
que tocava kora
e nos contava a história
de velhos e altivos senhores
agora servos no seu chão ?

P
assei na madrugada
de um final de mês de julho de 1969,
pela tua tabanca, abandonada,
do triste regulado do Corubal,
de que já não guardo o nome,
na memória:

Sinchã qualquer coisa,
Sinchã-a-ferro-e-fogo, 
Afiá ou Candamã ?
Que importa, minha irmã,
o topónimo para a história?!...

V
enho apenas em teu socorro,
meu irmãozinho,
quando as cinzas ainda estão quentes
no forno da tua morança,
da morança que fora também minha…

R
aiva, sim, meu camarada,
Abibo Jau, meu bom gigante,
que serás mais tarde fuzilado em Madina Colhido
com o teu comandante Jamanca,
como eu te compreendo!…
Mas vingança, para quê ?
De guerra em guerra se chega ao nada!



A um espelho partido me estou vendo,
e a mim mesmo me pergunto 

quem sou eu,
triste tuga entre tristes fulas, ai!,
para te dar lições de história ?!


Saberei apenas, 
muito anos depois,
que, julgado e condenado em Conacri,
fuzilaram o Mamadu Indjai,
no Boé, 

que diziam ser região libertada da Guiné…

O
mesmo Mamadu Indjai 
(*),
acrescente-se, 
fero e bravo comandante,
que ferimos gravemente
no decurso da operação Nada Consta,
o mesmo Mamadu Indjai,
que, três anos e meio depois,

chefe das "secretas",
será o Judas de Amílcar Cabral.


Versão 10, Lourinhã, 11  agosto de  2016 (**)

___________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16441: Notas de leitura (874): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte IX: o caso do clínico geral Amado Alfonso Delgado (V): Finalmente o regresso a casa, depois do pesadelo do Fiofioli, na margem direita do Rio Corubal... Este homem, hoje professor universitário (?), tem histórias para
contar aos netos...

(...) Comentário de Tabanca Grande [LG]:

(...) Neste tempo /1968/70), no nosso setor L1 (Bambadinca), ao longo da margem direita do Rio Corubal, o PAIGC teria 5 bigrupos (Um bigrupo, eraconstituído por 40/50 guerrilheiros), em cinco zonas: Poidom/Ponta do Inglês/Baio Buruntoni, Ponta Luis Dias, Mina/Fiofioli (2), e Galo Corubal, ou seja entre 200 e 250 homens em armas, mais um 1 grupo de artilharia (morteiro 82, canhão s/r 75 e 82) + 1 grupo especial de bazuqueiros (RGP) (em Mangai). A principal "base" era Mina / Fiofioli, uma mata densa, de floresta-galeria... Não estava ao alcance da artilharia do Xime... Em 1969. o comandante era o Mamadu Indjai.

No meu tempo a mata do Fiofioli era vista como um "mito", infundindo muito respeito às NT... Nos últimos da guerra (e nomeadamente em 1973), o PAIGC retirou forças desta região...

Estranha-se que o médico cubano Amado Alfonso Delgado tenha omitido o importantre revés que foi para o PAIGC a baixa do comandante Mamadu Indjai, gravemente ferido pelas NT no decurso da Op Nada Consta, em agosto de 1969

Vd. poste de 7 de setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6948: A minha CCAÇ 12 (6): Agosto de 1969: As desventuras de Malan Mané e de Mamadu Indjai nas matas do Rio Biesse... (Luís Graça)

Este Mamadu Indjai é o mesmo que fez parte do complô contra Amílcar Cabral em 1973, em Conacri... Será julgado (?) e fuzilado... Era de etnia mandinga.

Temos dez referências no blogue sobre este homem...que pôs o lado meridional do chão fula a ferro e ferro.


(**) Último poste da série > 31 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16432: Manuscrito(s) (Luís Graça) (94): Salvé, minha safada, pequena, bela Helena, hiena, de Bafatá!