quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7746: Blogues da nossa blogosfera (41): Blogue e Nova Tabanca de Avintes (Antero Santos)

1. O nosso Camarada Antero Santos (ex-Fur Mil Atirador/Minas e Armadilhas da CCAÇ 3566 e da CCAÇ 18 - - Empada e Aldeia Formosa -, 1972/74), enviou-nos, em 5 de Fevereiro de 2011, notícias da nova Tabanca de Avintes e do respectivo link para o seu blogue:


Combatentes de Avintes

Caro Amigo Luís Graça,
O nosso blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, para além de todas as notas positivas que nos transmite quase diariamente, serviu-me de incentivo para me atirar de cabeça na criação de um blogue sobre os Combatentes de Avintes. Baseado na filosofia do LG e Camaradas da Guiné, espero conseguir fazer uma "mesa redonda" com todos os Combatentes da minha terra.
Para a "inauguração" consegui que o primeiro militar de Avintes que partiu para África contasse uma pequena estória.
Estou a tentar conseguir o mesmo do único militar que tivemos na Índia - o João Marques de Oliveira - e que acabou feito prisioneiro.
Solicito a divulgação deste blogue no vosso/nosso LG e Camaradas da Guiné:




Obrigado
Abraço
Antero Santos
Fur Mil da CCAÇ 3566 e CCAÇ 18

__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

6 de Dezembro de 2010 >
Guiné 63/74 - P7391: Blogues da nossa blogosfera (40): Amadu Bailo Djaló, agora em Londres: Guineense, Comando, Português (Idriça Djaló)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7745: Tabanca Grande (265): José Figueiral, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (Bedanda, 1970/72)

1. Mensagem de José Figueiral, ex-Alf Mil da CCÇ 6, Bedanda, 1970/72, com data de 6 de Fevereiro de 2011:

Amigo Luís Graça,

Soube da Tabanca Grande, foi grande a minha emoção ao rever tantos amigos da "guerra" nas fotografias e aqui estou a apresentar-me:

José Conde Figueiral, antigo Alf Mil de Infantaria na CCAÇ6, em Bedanda, desde 29 de Dezembro de 1970 a 4 de Novembro de 1972.

Entre outros amigos, que nunca mais vi, menciono o Cap Cav Ayala Botto (bom militar e bom homem, a quem substituí no comando da CCAÇ6, quando foi chamado para Ajudante de Campo do General Spínola), Alf Médicos Amaral Bernardo e Mário Bravo, Alferes Silva, Borges, Teixeira, Carvalho, Rocha (o dos obuses) e outros de que me não lembro o nome.

Resido em Viseu, onde fui Prof. Ensino Secundário, estando aposentado desde Agosto de 2010.

Tenho muitas fotos, mas sou "periquito" nestas coisas dos blogues.

Hoje envio só algumas (tive de pedir ajuda), mas, em breve, enviarei outras.


Nesta foto, por ser diferente a farda, identifico, da esquerda para a direita, Alf Mil Figueiral, Médico Amaral Bernardo (que me coseu o nariz e também é de Viseu), Cap Ayala Botto, não me lembro do nome do seguinte, Alf Mil Rocha (Artilharia) e Alf Mil Silva.

Digam lá se esta farda não era mais catita!


O Alf Mil Médico Mário Bravo e Alf Mil Figueiral com o pelotão de juvenis.


O Médico Mário Bravo parece não estar a gostar da minha brincadeira!


Os Alf Mil Borges e Figueiral, depois de um patrulhamento nas bolanhas. É caso para dizer que nos chegava aos... calções!



Da esquerda para a direita, identifico o Cap Gastão Silva, a quem entreguei o comando da CCAÇ 6, o "homem grande", Alf Mil Teixeira (de cócoras). Do lado direito para a esquerda, estão o Médico Pignateli, Alf Mil Baltasar (que é de Esposende) e Alf Mil Figueiral.


Um abraço,
José Conde Figueiral


2. Comentário de CV:

Caro José Figueiral, muito obrigado pela tua adesão à nossa Tabanca Grande. Estás formalmente apresentado, pelo que a partir de hoje tens mais uma preocupação que é ler e participar na feitura do nosso Blogue.

Parece que há um movimento pró-Bedanda, tal o número de camaradas que se vão contactando através da internete. Aproveita a onda, manda as tuas fotos para publicação e conta as tuas histórias.

Referes algumas dificuldades na informática, mas com um pouco de treino ficas mestre em pouco tempo.

Uma vez que resides na linda cidade do Viriato, esperamos vir a conhecer-te pessoalmente em Monte Real no próximo Encontro da Tertúlia.

Até lá fica com um abraço virtual de boas-vindas que te envio em nome da tertúlia e dos editores.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 2 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7709: O Nosso Livro de Visitas (105): José Figueiral, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (Bedanda)

Vd. último poste da série de 6 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7735: Tabanca Grande (264): António Cunha, ex-1.º Cabo da CCAÇ 763 “Os Lassas” – Cufar 1965/66 (Mário Fitas/António Cunha)

Guiné 63/74 - P7744: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (12): Os guineenses apenas assumem o idioma português como lingua oficial

1. Mais um texto do nosso camarada e amigo António Rosinha, enviado em mensagem do dia 4 de Fevereiro de 2011


Caderno de notas de um Mais Velho -12

Os guineenses apenas assumem o idioma português como língua oficial


Caros editores, para publicação se houver espaço.

Sou a favor do acordo ortográfico, e que esse acordo ortográfico seja democraticamente aceite após discussão pública por estudiosos, ou seja, a maioria de estudiosos decide.

Tanto portugueses como angolanos emitem opinião sobre o acordo, tanto a favor como contra. No entanto é difícil ouvir opinião de guineenses ou mesmo de cabo-verdianos.

Os angolanos que viviam em maioria em regiões isoladas sem escolas nem contactos com missões religiosas nem islâmicas, existia apenas a tribo com sua língua e seus usos e costumes, ouviam a língua portuguesa apenas quando iam ao comerciante branco ou mestiço mais próximo, comprar o sal e os seus panos.

No entanto os estudantes citadinos angolanos antigos (1950/60), discutiam com qualquer beirão, minhoto ou algarvio que o português de Luanda era mais perfeito e correto que qualquer outro da metrópole.

Os brasileiros também se consideram mais bem falantes do português, que nós portugas.

Embora com várias explicações possíveis, os guineenses mais falantes de crioulo, francês e as próprias línguas maternas, tomam a língua portuguesa apenas como língua oficial.

Enquanto em Angola já se vê o uso do português com o mesmo àvontade com que fazem os brasileiros, já criam palavras, frases, termos e sotaques que mais não é que enriquecimento da língua portuguesa, na Guiné, e mesmo Cabo Verde, o uso do português é feito por uma minoria, e mesmo essa minoria o usa apenas "oficialmente".
Gostaria de estar enganado nesta opinião que estou a emitir, mas é um sentimento que não me sai da cabeça, que uma das muitas razões que explicam o fraco uso do idioma português tanto na Guiné como em Cabo Verde faz parte ainda de um já gasto mas necessário e oportuno sentimento anti-colonial.

Claro que a desorganização política da Guiné destes anos afastou para o exterior os cidadãos mais bem preparados e mais letrados, o que também explica o fraco uso da língua portuguesa.

Mas custa a compreender, como os políticos guineenses conseguiram matar tantas ajudas, portuguesas e suecas, para o ensino escolar, e outras áreas.

Talvez tenham aprendido connosco que, como dizem quase todos os nossos ex-colonizados, que os portugueses foram bons mestres, apenas no que é negativo.

Evidentemente que o acordo ortográfico pouco conta para a nossa geração, mas se houver de facto uma uniformização aprovada cientificamente por maioria, vai ajudar a manutenção e divulgação do português pelos quatro cantos do mundo lusófono, o que será para os mais novos uma herança para a qual a nossa geração contribuiu com alguns anos da nossa juventude e muitas famílias perderam parentes.

Sou daqueles que não concordava em 1961 com a solução do Kennedy como hoje dizem muitos historiadores, pois que os americanos já tinham feito as Coreias, já estava incendiado o Zaire e surgiu o Vietname. No caso das colónias portuguesas era para ficar tudo em pó sob os pés de Kennedy e Brejnev.

E aí, da língua e da presença portuguesa, nem com velas como as de Timor salvavam fosse o que fosse.

Um abraço para todos
Antº Rosinha
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7454: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (11): O PAIGC que nos saiu na rifa, a Portugal e à Guiné: Cumbe di Baguera / Ninho de abelhas

Guiné 63/74 - P7743: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (58): Na Kontra Ka Kontra: 22.º episódio




1. Vigésimo segundo episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 7 de Fevereiro de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


22º EPISÓDIO

Esta pequena operação decorreu sem a detecção de qualquer indício o que lhe aumentou a sensação de bem estar. O nosso Alferes, ao passar pelas sentinelas que estavam na mata para os lados de Padada aproveitou para as posicionar melhor, no sentido de terem um melhor campo de visão através da mata, que por ali era bastante aberta.

Chega para o almoço, dorme uma sesta, como já não acontecia há dias e ainda procura ver a Asmau para saber como ela tinha reagido ao “pedido de casamento”. Não demora a vê-la passar por entre as moranças. Dirige-se ao seu encontro.

O Alferes ia falar para a sua bajuda mas não foi necessário. O seu olhar e o seu sorriso diziam tudo o que era preciso dizer. Como muitas vezes acontece nestes casamentos arranjados, a noiva não gostando do noivo, embora aceitando o que lhe impõem, nunca olharia olhos nos olhos como agora a Asmau faz.

Neste caso era evidente o acordo da bajuda. Perante aquele sim, sem nada dizer, o nosso Alferes vai parar às nuvens.

Para tudo isto acontecer deve ter contribuído muito o facto de a Asmau ser um pouco evoluída. Saiu da tabanca para ir à escola, contrariamente à maioria das mulheres que nunca saíram de Madina Xaquili. Tinha ido várias vezes com o pai a Bafata. Tinha pois contactado com brancos o que a levaria a não excluir a hipótese de um dia um homem branco a querer. Aparecer assim um militar e logo oficial, era para ela como encontrar um príncipe encantado.

Também a ele, ela lhe parece uma princesa. Já se tinha imaginado na Metrópole, depois de terminada a comissão, acompanhado de uma mulher de fazer inveja a muitas brancas. O seu amor pela Asmau é puro e sincero.

Estão por largos momentos de olhares cruzados, sem nada dizerem. Desta vez ela não vem com o peito descoberto. Talvez já esteja a assumir a condição de “prometida” ao Alferes. Traz uma espécie de blusa, curta, sem mangas mas totalmente aberta à frente. Conforme se vai mexendo os seios ora aparecem ora se escondem como que de um jogo de sedução se tratasse, mas não, tudo isso nela é de uma naturalidade angelical.

O Alferes, tal como da primeira vez que esteve com ela, passa-lhe a mão ao longo do braço. Chegado ao pulso agarrou-lho pensando que ela se poderia querer afastar como da outra vez. Repara que não reage, antes com a outra mão agarra também a mão do Alferes. Mais uns momentos se passam em silêncio. Os olhares dizem tudo.

Acabam por conversar assim enlaçados, como se o mundo tivesse acabado. Naquele momento não há tabanca, não há tropa, muito menos guerrilha. Num acto cavalheiresco o Alferes pergunta-lhe se o casamento poderá ser daí a uns dias. Ela diz que não pode ser antes de uns cinco dias, o que o Alferes facilmente compreende e aceita.

Ele ainda lhe diz que a quer fazer muito feliz e que espera ir brevemente para Bafata levando-a com ele. Que lá terão uma casa só para eles. E mais:

- Asmau, quando acabar a minha comissão vais comigo para a metrópole. Vais ver coisas que nunca viste.

Por via do acordo pré-nupcial o Alferes sabe que não pode “avançar” mais, pelo que é melhor afastar-se dela rapidamente com medo de não conseguir conter-se. Apreciando novamente a pele sedosa, agora dos dois braços, conseguiu num acto de estoicismo, de militar que era, afastar-se ao mesmo tempo que lhe diz:

- Asmau, vamos ter muito tempo para conversar sobre o nosso futuro. Agora, deves ter coisas a tratar, assim como eu.

Nos dias seguintes o Alferes continua a fazer os patrulhamentos diários à volta da tabanca, cada vez mais longe. O não aparecimento de vestígios do inimigo é um bom presságio para o casamento. Durante os percursos vai sempre pensando como resolver os problemas que daí podiam resultar. Decide que no próprio dia reforçará as sentinelas metidas na mata. Morança tinha a sua, que chegava perfeitamente. É preciso arranjar uma cama para colocar ao lado da sua onde se deitará a Asmau… para dormir. Com toda a certeza ela trará a sua. Passa-lhe pela cabeça a ideia de continuar com a mesma lavadeira, que além de lavar a sua roupa lavaria também a da sua princesa, pois princesas não lavam roupa. Rapidamente chega à conclusão que seria uma péssima ideia colocar a Asmau sem nada que fazer. A própria deverá querer, à boa maneira africana, tratar da roupa do seu homem.

Durante outro patrulhamento.

Tudo parece que se está a resolver de forma simples para o nosso Alferes. Está a esquecer-se dum “pequeno pormenor” que só detectará depois do dia do casamento.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7739: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (57): Na Kontra Ka Kontra: 21.º episódio

Guiné 63/74 - P7742: O Nosso Livro de Visitas (106): José Fernando Estima, natural de Águeda, ex-Fur Mil, CCAÇ 3546/BCAÇ 3883, Piche, Cambor (1972/74)


Guiné > Zona Leste > Carta de Piche (1957) > Escala 1/50000 > Pormenor da posição relativa de Piche, Cambor (na estrada Piche-Canquelifá) e Ponte Caium (na estrada Piche-Buruntuma)...


Telefonou-me há dias o José Fernando Estima, morador em Espinhel, Rua Cabo do Lugar, nº 140, 3750 Águeda.


Foi Furriel Miliciano da CCAÇ 3546/BCAÇ 3883, a mesma subunidade do Jacinto Cristina e do Carlos Alexandre, dois bravos da Ponte de Caium. Pertencia ao 2º Gr Comb. Esteve em Piche, em Camajabá e em Cambor, a norte de Piche, na estrada para Canquelifá: no destacamento de Cambor passou mais de um ano, enquanto o 3º Gr Comb estava na Ponte Caium (havia um outro grupo em Buruntuma). Fiquei com a ideia de que também terá estado em Canquelifá...

Desse tempo lembra-se do Cap Cristo (Cap Mil Inf Fernando Peixinho de Cristo, comandante da CCAÇ 3545, sediada em Canquelifá)… Lembra-se de passar pela Ponte Caium… (Falámos do monumento, desenhado pelo Carlos Alexandre e construído pela malta do 3º Gr Comb, os "Fantasmas do leste"...mas não tenho a certeza de ele ter uma ideia precisa desse monummento)...


Lembra-se do Cristina… E lembra-se de ter voltado ao Xime (a 1ª vez, desembarcou lá, vindo de LGD, de Bissau, em Março de 1972)… Da segunda vez, lembra-se de ter encontrado um 1º cabo da sua terra, que levava 11 urnas para Bissau… (Este episódio deve ter ocorrido em Abril de 1972, e deve estar relacionado com a emboscada no Quirafo, de 17 de Abril de 1972)... Lembra-se de ter feito a viagem de regresso, com os seus camaradas, desarmados, à civil, de Piche ao Xime (ou a Lamego ?), com "segurança" do PAIGC ao longo da estrada...

O nosso camarada Estima trabalha em Aguada de Cima, Águeda, mesmo junto ao Restaurante Vidal, um dos restaurantes de referência dos apreciadores de leitão (Dizem que serviu em 1996 três leitões para um banquete da Rainha Isabel II)… Não conhece o Paulo Santiago, em contrapartida é amigo (ou conhecido) do Victor Tavares, nosso camarigo, ex-1º Cabo pára-quedista da CCP 121/BCP 12 (Bissalanca, BA 12, 1972/74).

O Estima pediu a sua entrada formal na nossa Tabanca Grande. Ficou de pedir ajuda,  a um dos seus filhos ou filhas,   para digitalizar fotos do seu álbum. Pediu-me para mandar um abraço à malta da sua companhia e do seu batalhão, extensivo a toda a Tabanca Grande.

Recorde-se aqui o historial da CCAÇ 3546/BCAÇ 3883:

(i) O BCAÇ 3883 foi mobilizado pelo RI 2, tendo partido para a Guiné, de avião, em Março de 1972 ( o comando e a CCS em 19/3/1972; a CCAÇ 3544, a 20; a CCAÇ 3545, a 22; e a CCAÇ 3546 a 23); (ii) A CSS ficou sediada em Piche; (iii) O comandante era o Ten Cor Inf Manuel António Dantas; (iv)  O comandante da CCAÇ 3546 (Piche, Cambor, Ponte Caium e Camajabá) era o Cap QEO José Carlos Duarte Ferreira; (v) As outras companhias do BCAÇ 3883 eram a CCAÇ 3544 (Buruntuma e Piche; teve dois comandantes: Cap Mil Inf Luís Manuel Teixeira Neves de Carvalho; Cap Mil Inf José Carlos Guerra Nunes) e a CCAÇ 3545 (Canquelifá e Piche; comandante, Cap Mil Inf Fernando Peixinho de Cristo);   (vi) O batalhão regressou a casa, de avião, em Junho de 1974.
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Nota de L.G.:

Último poste da série > 2 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7709: O Nosso Livro de Visitas (105): José Figueiral, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (Bedanda)

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7741: Agradecimentos à Tertúlia (Fernando Franco / Ana Duarte)

1. Mensagem do nosso camarada Fernando Franco* (ex-1.º Cabo Caixeiro do PINT 9288, Guiné, 1973/74), com data de 6 de Fevereiro de 2011:

AGRADECIMENTO

Utilizando este excelente meio de comunicação, quero agradecer aos camaradas e amigos que deixaram no poste 7729 as suas mensagens de felicitações a propósito do meu aniversário, assim como aos que se me dirigiram directamente por mail ou telefone. Aos que não puderam manifestar os seus votos agradeço na mesma, pois sei que nestes dias nos sentimos todos muito mais próximos, mesmo que tal não manifestemos.

Aproveito ainda para felicitar nossa amiga Ana Duarte que esteve também de parabéns ontem, a quem eu não contactei directamente.

Um forte abraço a todos e obrigado.
Fernando Franco


2. Mensagem da nossa amiga Ana Duarte* com data de  7 de Fevereiro de 2011:

Caros Amigos
Obrigada a todos no geral e mais ainda aqueles que me enviram mensagens pessoais.
Aliás obrigada por tudo porque vocês ainda são dos que me fazem vir as lágrimas aos olhos de emoção (boa).

Graças ao blogue eu tenho tido apoio e amigos, porque "só quem não é filho de boa gente, não sente" e eu sou e sinto solidariedade e carinho de muitos, através do blogue já conheci dois pessoalmente (um no Porto outro em Lisboa) .

Peço desculpa a todos os que estiveram no funeral e na missa do 7.º dia porque penso que mesmo que os veja já não sei quem são.

Através do blogue, eu fui encontrar ex-combatentes no facebook e continuo a ouvir falar dos ex-combatentes e de vez enquanto a opinar.

Peço desculpa de nunca mais ter entrado em contacto com o blogue mas estes ultimos tempos foram muito complicados e estava a ver que tinha de ir fazer greve de fome para receber a pensão a que tenho direito . Finalmente recebi o papel a dizer o que vou receber, estou à espera este mês (um ano depois inacreditável!) .

Tenho recebido mais do blogue do que dado, mas ainda hei-de fazer uma Palhotinha (moçambicano=tabanca) aqui em minha casa.

Já agora quase todos têm duas fotos uma de antes e outra depois, envio uma foto mais actual, porque a outra além de parecer uma senhora com um ar muito zangado (não gosto de cerimónias oficiais), já tem uns bons anos. Já tenho cabelos brancos e a idade é um posto, além de estar mais eu e também estou bem acompanhada com o Sr Tenente Coronel Marcelino da Mata.

Um bem-hajam para todos e um grande xi-coração
Ana Duarte

P.S - Segundo a familia do Marcelino vou ser processada porque quando o Sr Tenente Coronel vê a máquina fotográfica faz logo cara de militar (séria), o Humberto era a mesma coisa .
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7729: Parabéns a você (213): Ana Duarte, Fernando Franco e Hugo Moura Ferreira (Tertúlia e Editores)

Guiné 63/74 - P7740: Blogpoesia (110): No dia em que fiz 65 anos (José Teixeira)

1. Mensagem de José Teixeira* (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), com data de 6 de Fevereiro de 2011:

Ao ler tantas mensagens de carinho, deixei falar o coração.
Tenho de ter algum cuidado por como está perto da boca, por vezes atraiçoa.
Desta vez passei ao papel o que o coração me queria dizer.

Aqui vai como profundo agradecimento a todos quantos se lembraram de mim neste dia, muito em especial ao Miguel Pessoa e ao Peixoto.

José Teixeira


O Tempo que passou pela minha vida

O tempo devora-nos em cada dia que passa.
Vai comendo pouco a pouca a vida.
Quantas vezes tão suavemente, qual traça,
Que a madeira corrói.
Tão suavemente,
Que quase não se sente…
Não dói.
Sente-se sim.
Quando paramos e para trás olhamos.
Há tempos em que a ânsia de viver nos inebria.
Cega nossos olhos,
Abafa a ação do tempo, do dia-a-dia.
Há momentos no tempo que me apetece gritar.
Oh tempo pára. És tão belo!
Esse é o tempo o sonho e da criação,
Do amor e da beleza. DoaçãoTempo da liberdade.
Tempo.
Fugaz momento que nos transporta à eternidade,
Alegremente.
É, nesse instante do tempo, que o tempo ganha sentido
E merece ser vivido. Plenamente.
Até a angústia da morte, que com o tempo caminha.
Se ajoelha perante a vida,
Lhe canta um hino, uma ladainha..
Outros tempos há,
Em que o tempo atua com tal dureza.
Rapa, da vida toda a beleza.
Tempo do futuro, que vai passando.
Tempo que me consome, caminhando.
Tempo dum presente que não existe.
Já passou.
Tempo de um passado que me vai matando
Tempo do tempo que meus sonhos levou,
E me deixou penando.
Tantos anos que o tempo me açambarcou…
Quero conjugar o tempo.
No passado,
No presente e no futuro.
No passado, que deixa saudades.
Passado sem saudosismo.
“Antigamente é que era bom”
Um passado que se ausentou,
Mas… lições de vida me deixou.
Passado, onde assenta o tempo construtor,
De um futuro promissor.
Com o que ficou,
Quero construir o presente.
Presente a que se segue sempre,
Outro presente.
Quero vivê-lo intensamente.
Fazer com ele um pacto de amor,
Combater a sua ânsia de me devorar,
Que provoca sofrimento, dor.
Presente que já passou.
Presente que um pouco da vida me levou.
Quero no presente aprender com o passado.
Projetar o meu futuro,
Com a vida que sobrou.
Esperemos, não seja tão duro,
Como o tentam espelhar,
Quero acreditar que é só para assustar.
Tempo que se espalha no horizonte,
Como a água fresca e pura que brota da fonte.
Se “perde” na seca e árida terra,
Transformando-a em vida.
Ato de Amor.
Beleza.
Aprazível lugar.
Espelho.
Que o futuro projeta sem temor.
Ah quanto eu quero parar no tempo!
Absorver do tempo o seu eterno sabor…

No dia em que fiz 65 anos.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7730: Parabéns a você (214): José Teixeira, ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381 (Tertúlia e Editores)

Vd. último poste da série de 17 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7627: Blogpoesia (109): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (10) (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P7739: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (57): Na Kontra Ka Kontra: 21.º episódio




1. Vigésimo primeiro episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 6 de Fevereiro de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


21º EPISÓDIO

Quase todo o pessoal continuou por algum tempo à mesa, comentando a visita do Comandante de Bafata. Todos manifestaram a ideia que o tinham achado um homem duro, distante e até ríspido de mais para com o Alferes. Este explicou que era a maneira de ser do Coronel mas quem o conhecia bem, como ele próprio, o achava cordial e principalmente um homem justo, com quem se podia contar.

Todos continuam a conversar menos o Alferes que se cala ficando pensativo. Passados poucos minutos levanta-se e sem sequer se despedir, contrariamente aos seus hábitos, dirige-se à sua morança. Entra, sai, vai ao “quarto de banho”, sai, vai carreiro abaixo em direcção à fonte, pára, volta para trás, entra novamente na sua morança, tira a roupa e deita-se.

Efectivamente está nervoso. O adiamento da conversa com o pai da Asmau deixa-o assim. Sabe que também os africanos se recolhem nas horas de maior calor, pois no princípio da época das chuvas, a temperatura chega muitas vezes aos quarenta e cinco graus à sombra. Um verdadeiro inferno. Só quando chove, o que acontece quase todos os dias, se sente um certo alívio. Tem que rapidamente falar com o Chefe de Tabanca mas terá que esperar pelo fim da tarde.

Tenta dormir mas não consegue. Deixa passar umas três horas. Apesar de o pai da Asmau já saber do pedido, o Alferes não o quer incomodar pois ele ainda pode estar a dormir. Também não fez falta ao seu pessoal pois o Furriel dirige os trabalhos.

Levanta-se, passa um pouco de água pela cara, veste-se e não espera mais tempo. Como se de um acto de guerra se tratasse, resolve “atacar”. Com o pacote de cola que o João lhe tinha emprestado, desta vez não vai a eito, feito autómato, nem tão pouco pelo carreiro mais directo para a morança do Adramane. Vai em zig-zag pelos carreiros de forma a demorar mais tempo. Nunca era demais pensar bem no que iria dizer ao pai da Asmau. Embora já se tivesse aconselhado com o João e este lhe tivesse dito que se o pai de uma bajuda aceitar o casamento, tudo se resolve com “um toma lá dá cá”, também lhe tinha dito que faz parte conversarem durante bastante tempo para dar ideia a quem está cá fora, que o “negócio” foi difícil. Desta vez até iria ser. Chegado ao seu destino chama como da vez anterior:

- Adramane, Adramane.

O Chefe de Tabanca vem à porta e como já sabe ao que o Alferes vem, manda-o entrar.

Não se sabendo o que se passou dentro da morança, é fácil imaginar, tendo em conta a expressão de satisfação do Alferes, ao sair.

Mais tarde, já sentados à mesa para o jantar, o Alferes Magalhães comunica que se vai casar com a bajuda Asmau e que o casamento será daí a três ou quatro dias, o tempo necessário para se preparar a festa. Irá haver cabritos e galinhas para todos tirarem a barriga de misérias. Para o nosso Alferes não só a barriga mas também o… coração. Foram-se levantando da mesa, ficando só o Furriel e o Alferes. É então que este tem o desabafo:

- Quero dizer-lhe que não foi difícil conseguir a Asmau mas, contrariamente ao que me tinha dito o João, que com uma vaca e uns cabritos já se conseguia uma bajuda, neste caso o pai não “abriu mão” dela a não ser por duas vacas mais os cabritos. Claro que não me custou a desembolsar o dobro do que pensava. Mal ele sabia que eu estava disposto a dar três ou mais vacas. O Adramane não sabe o que ali tem, ou só sabe em parte.

- Só lhe posso dar os parabéns, meu Alferes.

No dia seguinte não teve que se preocupar muito com os preparativos da festa. Apesar de também lhe competir a sua parte, como ali é costume, os pais da Asmau, compreendendo a situação, assumem quase tudo. Cai na realidade. Pensa que para além da alegria que sente por ir desposar aquela maravilhosa bajuda, também está em guerra e não pode agora permitir que o PAIGC vá ofuscar a sua felicidade.

Estar com a Asmau a sós não pode, por força do acordo feito com o pai dela. Assim, e depois de escolher um grupo de homens, brancos e africanos como era costume, vai fazer um patrulhamento de uns quilómetros à volta da tabanca. Além de conhecer melhor as imediações, a principal razão era ver se eram detectados vestígios da passagem de algum elemento da guerrilha.

A saída para mais um patrulhamento.

Esta pequena operação decorreu sem a detecção de qualquer indício o que lhe aumentou a sensação de bem estar. O nosso Alferes, ao passar pelas sentinelas que estavam na mata para os lados de Padada aproveitou para as posicionar melhor, no sentido de terem um melhor campo de visão através da mata, que por ali era bastante aberta.

Chega para o almoço, dorme uma sesta, como já não acontecia há dias e ainda procura ver a Asmau para saber como ela tinha reagido ao “pedido de casamento”. Não demora a vê-la passar por entre as moranças. Dirige-se ao seu encontro.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7719: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (56): Na Kontra Ka Kontra: 20.º episódio

Guiné 63/74 - P7738: (Ex)citações (128): Coisas mais importantes da vida do que a questão do sexo dos anjos (José Brás)



1. Mensagem de José Brás (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 6 de Fevereiro de 2011:

Carlos, meu amigo
Com um abraço e consciente de que estou a amolar-te o juízo.

Um abração
José Brás




VAMPIROS

Nunca direi que não me agrada uma boa discussão à volta de coisas mais importantes da vida do que a questão do sexo dos anjos.

Me chamariam logo mentiroso se o dissesse, e eu não teria senão que aceitar o epíteto, sem garantir mesmo que não tenho enfiado já a minha peta por aí, coisitas pequenas e sem influências na vida de cada um e por isso, na verdade, pode dizer-se que mentiroso não sou.

Fartos de saber que troco um dia de vida por uma boa polémica, estão vocês todos, os que concordam com o que eu digo ...e os que não.

E até diria, sem qualquer preconceito ou complexo, sem medos de acusações de fora ou insinuações de insanidade, ou de pelo menos, de não ter os alqueires certos, direi que, uma vez ou outra, até eu discordo de mim.

Não riam porque o assunto é mais sério do que possa parecer e acho mesmo que ser gente obriga ao exercício de cada um de se contestar, de se experimentar, de se contrastar consigo próprio de vez em quando, na busca do caminho que lhe parece o mais certo, que oi seja ou não porque isto de caminhos está o mundo cruzado por biliões e se calhar são todos certos e todos errados.

Já aqui disse uma vez em forma de interrogação para dentro de mim que "se não discutir com os amigos discutirei com quem" e o Luís fez dessa pergunta a frase de uma semana.

Repito que gosto de polemizar com os amigos, tendo que avisar que meu amigo pode ser quase qualquer um. Quase, repito.

Sem dúvidas que tenho no blogue muitos amigos, a maior parte deles discordando de mim muitas vezes, concordando outras, já se vê, numa salutar forma de convívio que tem por chapéu a certeza de que há coisas fundamentais com as quais comungamos sem constrangimentos e que são o direito de qualquer cidadão à vida desde que nasce até que morra; o direito ao livre pensamento; o direito à dignidade e ao respeito; o direito à família; o direito à liberdade, o direito a deus... o dever do respeito pela identidade do outro; o dever de aceitar regras de convívio social escolhidas em liberdade; o dever do trabalho na multiplicação dos bens da comunidade, tudo isto em total entendimento que não há raças nem credos nem ideologias que possam pôr em causa o profundo sentimento de que o homem é uno e múltiplo e assim deve continuar a ser para bem do mundo.

Descendo um pouco mais à terra, porque isto de listar direitos e deveres é o mais fácil do exercício, não apontarei exemplos de tal discordância salutar, por não me parecer necessário de tão evidentes as diferenças e porque sei que os próprios também sabem.

Não estorvam o abraço, nem a mim, nem aos diferentes, sempre que nos encontramos, porque a certeza de que a diferença se constrói em nós naqueles princípios e na realidade que deu forma a cada um, crescendo cada qual em seu ambiente social e cultural, formando olhares sobre os fenómenos da vida e valores diversos, mas mantendo esse profundo respeito pela coisa sagrada que é a humanidade.

Discutirei com alguma satisfação, com os que acham que a descolonização foi mal feita, que houve graves e pressas demasiadas, e, talvez mesmo algumas traições, quando sei que os adversários de discussão, estão de acordo com a sua inevitabilidade histórica.

Poderei mesmo discutir sem azedumes que restem, com os que ainda lamentam a perda do império, embora me custe mais o debate aí, na remissão a que não consigo fugir de outros impérios que atravessaram a história do homem com devastações, com massacres, com aniquilação de povos inteiros, Unos, de Bizâncios, de Cartagos, de Romanos, e mais modernamente, de Castelhanos, de Britânicos, de Russos e o famigerado Austro-Húngaro do pintor de tabuletas.

Mas enfim, faço o esforço porque reconheço que um ou outro camarada tome o imperialismo português apenas como a natural expansão de um povo apertado entre Castela e o mar, pensando com alguma simplicidade que as terras onde os nossos heróicos navegadores semearam cruzeiros, onde tantos portugueses deram o seu sangue e o seu sonho, passaram de direito a ser portuguesas.

Evidentemente, não tenho ilusões sobre as extremidades que a própria humanidade pode assumir, criando e desenvolvendo criaturas que se destacam em santidade ou em monstruosidade.

Não falo de santos porque sobre eles assumo que não há divisão.

Falo dos outros, embora garanta que com eles não discutirei porque com eles não há nada que discutir. Podem vir ao quintal sem portões largar o veneno, ao pinhal do rei provocar, trazer falas antigas e tácticas da velha pide, dos tribunais plenários, do medo nocturno que espalhavam no outro tempo e gostariam de recuperar, ameaças de palhaço, burra inversão de valores pondo ao contrario conceitos como independência, autonomia de pensamento, liberdade, noção de pátria e de povo, que de mim não terão qualquer resposta.

Sei que me liquidariam de facto ou de alma, se pudessem; que me proibiriam o pensamento, que me colocariam em grades e em tortura, que perseguiriam a minha família, que me abririam fichas e me investigariam os passos, tal qual fizeram nos longos anos de escuridão e de atraso deste País.

E apenas porque esta macaqueação de democracia invadiu o mundo e a nossa terra de imbecis e de ladrões, de incompetentes e abusadores, de insatisfação e de dificuldades, pensam que o seu tempo, a sua noite, pode voltar.

Poisam nos prédios e nas calçadas, provavelmente organizam-se e, se puderem, abrirão feridas.
Mas já não senhores do "mundo" nem mandadores sem lei.

Os despojos antigos que trazem apodreceram e saem-lhe da boca em mau hálito... apenas.

Não os temo como não temi antes.

Não tenho que conviver com eles enquanto tiver espaços plurais onde respirar.

Entendem?

José Brás
____________

Nota de CV:

Último poste da série > 23 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7662: (Ex)citações (127): Um lição de artilharia... A propósito do obus 14, de Bedanda, bem como dos artilheiros e infantes... (C. Martins)

Guiné 63/74 - P7737: A Guerra Colonial e a extinção da tradições portuguesas: o dia de 'ir às sortes' na minha terra, Sabugal (José Corceiro)

1. Mensagem de José Corceiro* (ex-1.º Cabo TRMS, CCaç 5 - Gatos Pretos , Canjadude, 1969/71), com data de 5 de Fevereiro de 2011:

Caros amigos, Luís Graça, Carlos Vinhal, E. Magalhães.
Atendendo ao facto de terem passado 50 anos desde o início da Guerra Colonial, recordei-me hoje, duma consequência nefasta, que esse trágico acontecimento que foi a guerra, teve no acelerar a morte duma tradição na minha terra, que com tanta intensidade era vivida pelo povo da minha aldeia, Vale de Espinho - Sabugal.

Deixo ao vosso critério a publicação.

Um abraço
José Corceiro


A GUERRA COLONIAL E A EXTINÇÃO DE TRADIÇÕES PORTUGUESAS

O assalto à Prisão de Luanda ocorreu no dia 4 de Fevereiro de 1961, data que marcou o início da Guerra Colonial, ou do Ultramar, como se queira apelidar, sendo que para mim é a Guerra onde eu andei.

A Guerra Colonial tirou a vida a milhares e milhares de pessoas, deixando outras tantas estropiadas até ao fim dos seus dias. O fenómeno da Guerra foi também um factor influente que contribuiu para desvanecer algumas tradições e costumes, que estavam enraizados na cultura do povo português.

Tanto quanto me lembro desde a minha meninice, que na minha aldeia, Vale de Espinho – Sabugal, o dia da inspecção militar ou sortes era um dia festivo para toda a povoação, mas com proeminente destaque para os mancebos naturais da aldeia, que completassem nesse ano o 20.º aniversário, pois a festa era deles. Nos anos 1950 e princípios de 1960, na minha aldeia, o grupo de rapazes que iam anualmente a dar o nome para a tropa ultrapassavam sempre as duas dezenas, ou bem mais, e era raríssimo que quando chegasse o dia das sortes algum deles faltasse. O dia da inspecção revestia-se dum certo ritual, tradicional típico, que continha valor e particularidades para um estudo etnográfico.

Os preparativos para o esperado dia iniciavam-se com algum tempo de antecedência, pois era determinante que no dia da festa tudo corresse de feição. Sempre foram perceptíveis ao longo dos anos, explícitos laivos de ciúme, meio encapotado é certo, mas que levava alguns dos ex-inspeccionados a vangloriar-se ao dizer que a festa deles tinha sido a melhor. Ora, este espírito de geração competitiva, impulsionava a rapaziada a um apego de brio viril, que os empenhava em melhorar a sua festa em comparação com as dos anos anteriores.

Para muitos dos jovens, o dia da inspecção seria também a primeira vez que iriam estrear um fato novo, composto por calças, casaco e colete (terno), pois até ao presente não tinham tido a possibilidades de comprar o tecido e mandá-lo confeccionar no alfaiate da terra, visto ser escasso o suporte económico da família. Era também provável que a partir dessa data, o jovem pudesse começar a amealhar um pezinho de meia, fruto de algum trabalho que executasse com direito a remuneração, jornal ou a passar contrabando, pois até esta altura tudo o que tinha ganho reverteu a favor do agregado familiar.

Quando o esperado dia chegava, nada podia falhar.
O fato estava à espera de ser vestido…

Os foguetes já tinham sido comprados e entregues ao mestre-de-cerimónias, que os utilizava conforme a mensagem que queria anunciar, lançando-os para estoirar no ar. A primeira mensagem é logo cedinho, às 05h00, a lembrar que é preciso deixar a cama e levantar, para aqueles que nela se deitaram, nessa noite, porque alguns fizeram directa. Pois têm que se apressar, ainda há um percurso longo de 16 quilómetros que é preciso trilhar, sempre a cavalgar, até chegar ao Sabugal, concelho da freguesia, onde tem lugar a inspecção.

Foto 1 - Briosos mancebos inspeccionados em 1968, com saudosismo do passado. Foto tirada no dia da inspecção, no Sabugal, junto ao antigo edifício camarário onde teve lugar a inspecção. É também visível o edifício da antiga prisão.

O cavalo, adereçado com os seus melhores arreios estava pronto e à espera. Ricamente aparelhado. A sela, a cinta, o cabresto, as rédeas e o freio foram diligentemente limpos e engraxados, as fivelas e os estribos foram polidos até ficarem a brilhar, sem esquecer as patas do equídeo que foram aparadas, limadas e convenientemente ferradas, pois há mais de 30 quilómetros para calcorrear, ida e regresso, com o mancebo sempre montado e a espicaçar, e quiçá poderá surgir algum amigo mais íntimo que o queira apadrinhar e arrisque a boleia no lugar da garupa, e o ritmo tem que ser constantemente a trotear.

O acordeonista foi atempadamente contratado, personagem aglutinadora e imprescindível, que nunca pode faltar esperando-se sempre dele alguma novidade musical, para excitar o bailarico e a festa abrilhantar.

Os vitelos ou cabritos, cuja quantidade depende do número de mancebos e seus convidados, foram antecipadamente encomendados ao açougueiro, e já estão prontos e preparados com algum tempero à espera para se dar início ao apetecido assado, realizado sempre em local aprazível, junto à margem do rio Côa e por tradição no sítio do Freixial.

Foto 2 - Largo das Eiras, no centro da aldeia de Vale de Espinho. Nas redondezas não havia outra povoação que tivesse um largo tão grande, embora já tenha sido roubado pelas construções da estrada, escola, lar de idosos, junta de freguesia etc.

Por volta do meio-dia o povo aguardava impacientemente, no Largo das Eiras, a chegada do mensageiro, que se antecipava ao regresso dos mancebos. O arauto açoitando o seu cavalo incutia-lhe celeridade, para se adiantar e mais rápido chegar para a notícia poder dar, metia-se por atalhos e veredas para o caminho encurtar, e lá chegava ele ofegante à freguesia onde revelava, com voz de pregão, os nomes dos mancebos que ficaram livres e os que foram apurados para o serviço militar. Quando se ouvia o nome dum mancebo que ficou apurado era sempre um momento de regozijo, algazarra geral, com aplausos, acompanhados de vivas e parabenização à família, contrastando com o comportamento da multidão, que ao ouvir o nome do mancebo que ficou livre, reagia com tristeza e constrangimento, sobretudo os seus parentes.

Mais uma largada de foguetes, anunciavam que a comitiva dos heróis estava prestes a chegar. A multidão eufórica, que não tinha arredado pé do Largo das Eiras, estava curiosa e queria ver ao vivo a chegada dos briosos mancebos. Uns ostentavam com orgulho e altivez na lapela do casaco a insígnia, fita verde, que os declarava aptos para o serviço militar. Esta distinção podia ser um trampolim para uma vida melhor, com mais possibilidades para um emprego, quiçá Polícia, Guarda-Fiscal ou Republicana, ou Exército, ou alguma Repartição Estatal. A fita vermelha era colocada nos inaptos, e notava-se neles um ar de acanhamento, quase vergonha, por suportar na lapela o estigma que os remetia para a exclusão de prestar serviço militar, era como que o apontarem-lhes que eram débeis, ou tinham uma deficiência física, e isso não era tranquilizante para o seu ego.

Depois de dadas as boas-vindas, procedia-se a mais uma largada de foguetes, a convidar toda a povoação para que houvesse união e acompanhassem festivamente os mancebos, que iriam desfilar montados nos seus cavalos, ao som da concertina, pelas ruas da procissão. Findo esse percurso, duma maneira geral, toda a juventude se dirigia para o local onde os esperava o assado, já devidamente confeccionado.

Foto 3 - Tirada em 1968, no Freixial, junto ao rio Côa, durante o assado, onde estão a meia dezena de mancebos que foram nesse dia à inspecção, juntamente com juventude convidada e onde não podia faltar o meu professor da 4.ª cCasse, Zé André, que está de pé no canto direito da foto, com camisa preta.

Manjar ansiosamente esperado, a desejada carne grelhada era um pitéu divinal. A carne é seleccionada, excelentemente grelhada com apuro na brasa, bastante condimentada com um molho assaz apimentado, comida acompanhada de batata bem apaladada acabada de tirar da terra e assada na borralheira, tudo regado convenientemente com molho, iguaria que provoca no mais prudente dos mortais anseios que o incitam a deixar-se seduzir, e a exagerar no beber a boa pinga, que inebria qualquer convidado fazendo-o esquecer as amarguras do dia-a-dia, até surgir um comensal mais inspirado, que se encoraja e ousa desafiar a qualquer um para uma salutar desgarrada… e a partir daqui tudo incita a que a folia seja inflamada!

E toda a tarde era passada em farra agitada, sempre regada de boa pinga em ambiente de animado bailarico, onde não era permitido a nenhuma moça recusar dançar com qualquer que fosse o mancebo dos inspeccionados, uma recusa dessas, era interpretada como ofensa familiar.

Com o surgir da guerra nos anos 1961/1962, a juventude da minha terra abandona a aldeia, em massa, e vai a salto para o estrangeiro. O número dos mancebos que anualmente iam a dar o nome para a tropa caiu das duas ou três dezenas que eram habituais, para menos de meia dúzia.

Foto 4 - Castelo Branco, Dezembro de 1968.

O início da Guerra Colonial praticamente acabou com a tradição festiva do dia da inspecção. Provocou uma reviravolta de 180 graus no valor do conceito de apto e inapto para o serviço militar. É surpreendente, que no espaço de dois ou três anos o conceito de opinião que se tinha da selecção de apto, que era considerado o boníssimo, se tenha invertido o valor, e o apto passou a ser o maligno, pois a partir do início da guerra o que se valoriza, no querer dos familiares e mancebos, é que fiquem inaptos para o serviço militar, a condição de inapto passou a ser o óptimo! São os dinamismos sociais da adaptação dos interesses!

Continuaram-se a comprar vitelos, cabritos e até porcos inteiros, para satisfazer a gula dos falsos profetas que só anunciavam desgraça e tinham bem estudada a arte da mentira, pois aos crédulos muito prometiam, mas nada faziam. Convenciam os inocentes que lhes livravam os filhos da guerra, e alguns caíram na ratoeira, mas cedo se convenceram que nada lhes tinha sido feito. E lá vinham a terreiro os profetas com argumentações abonatórias, utilizando desculpas esfarrapadas…

PS: - Significado do termo “Sortes” aqui utilizado, que creio estar certo, pela ideia que me ficou segundo aquilo que ouvi noutros tempos:

Antigamente, devido ao grande número de jovens que se apresentavam à inspecção, eram muitos os que ficavam aptos, e para os aptos não havia lugar para todos no serviço militar. Para solucionar o excesso dos já seleccionados, procedia-se a um sorteio aleatório entre os que tinham ficado aptos, para assim se apurar aos que cabia a sorte de cumprir o serviço militar.

Um abraço e boa saúde, para todos.
José Corceiro
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7678: Casos de azar e sorte (1): Camarada ferido pelo impacto de granada que não explodiu (José Corceiro)

Guiné 63/74 - P7736: O Alenquer retoma o contacto (3): Actividades do Pel Rec Fox 42 em Janeiro e Fevereiro de 1963 (Armando Fonseca)



1. Mensagem de Armando Fonseca (ex-Soldado Condutor do Pel Rec Fox 42, Guileje e Aldeia Formosa, 1962/64), com data de 5 de Fevereiro de 2011:

Caro camarigo Carlos Vinhal
Aqui estou para descrever mais um capítulo dos meus arquivos; se acharem por bem publiquem para conhecimento de todos os camarigos da Tabanca.

Armando Fonseca


O Alenquer retoma o contacto (3)

Actividades do Pel Rec Fox 42 em Janeiro e Fevereiro de 1964

Autometralhadora


No dia 21 de Janeiro pelas 07h30 o Pelotão FOX 42 saiu de Bissau, com destino indefinido, passando por Mansoa, Mansabá foi chegar a Bafatá por volta das 17h30.

A marcha foi vagarosa e cheia de precauções devido às possibilidades de sofrer emboscadas ou de encontrar minas, mas chegamos sem anormalidades, pernoitando aí para prosseguir no dia seguinte.


No dia seguinte às 07h30 lá seguimos rumo a Sul agora acompanhados por pessoal da CCav 154 que estava sediada em Bafatá, chegando ao Saltinho pela hora do almoço. O percurso foi muito vagaroso visto seguirem à frente dos carros camaradas a pé com detectores de minas e até picando a estrada com sabres para ser certificada a ausência de minas, entretanto a meio do percurso houve um pequeno ataque seguido por largada de abelhas que deixou todos desnorteados uns para cada lado e ainda houve camaradas mordidos pelas abelhas, mas, depois de tudo reorganizado seguimos a viagem.

Depois do almoço saímos do Saltinho com destino a Aldeia Formosa e, entretanto veio ao nosso encontro o Pelotão de Reconhecimento Fox 888 que estava sediado naquela localidade junto com uma companhia de caçadores da qual não me lembro o número.

À nossa chegada não havia pão e muito menos vinho, mas lá comemos qualquer coisa e fomos procurar acomodarmo-nos para aí permanecer algum tempo.

Mas no dia 23 logo pelas 07h45 lá íamos outra vez, agora a caminho de Buba para aí pernoitar. Durante a tarde foram feitas duas saídas aos arredores em reconhecimento e no dia seguinte foi então o regresso a Aldeia Formosa com mantimentos para aquele destacamento, visto que o transporte era feito de barco até Buba e depois por terra para abastecer os destacamentos daí dependentes.

Durante as saídas para de reconhecimentos nos arredores de Buba, o alferes de minas e armadilhas aproveitou para efectuar algumas operações nos caminhos que se julgava serem percorridos pelo IN.

A dormida em Buba foi no chão com uma manta por colchão, visto aquele destacamento não estar preparado para receber mais um pelotão e os condutores das viaturas que se destinavam a trazer as cargas.

Durante os dois dias que se seguiram não houve nenhuma saída mas no dia 27 lá fomos até Guileje fazer um reconhecimento, onde nada existia além de laranjeiras carregadas de frutos e algumas bananeiras com bananas que mesmo muito verdes, depois de uns dias embrulhadas em papel dentro da mala do carro, já marchavam.

Havia também alguns ananases mas muito poucos. Nesta altura Guileje não passava de um matagal com algumas árvores de fruto pelo meio.

Foram passando os dias com algumas saídas a Buba escoltar as viaturas que iam buscar mantimentos até que; no dia 4 de Fevereiro pelas 02h30 da manhã lá vamos a caminho de Guileje agora para montar um aquartelamento onde ia ficar instalado um pelotão de caçadores e alguns milícias fulas com as suas famílias.

Nos dias que se seguiram foi a preparação do aquartelamento a capinagem a montagem de tendas e depois o inicio das construções e a preparação dos terrenos onde mais tarde foi feita a pista para as avionetas aterrarem e levantarem voo.

Durante esta permanência no dia 13 foi o meu Pelotão deslocado a Bedanda para deitar fogo através das balas incendiarias, das metralhadoras instaladas no meu carro, a umas casas de mato que se encontravam muito perto do rio que separava a zona onde estavam as nossas tropas e o reduto do IN. O rio era a baliza, nem os militares passavam para lá nem o IN se aventurava a passar para cá, no entanto, haviam constantes ataques a morteiro de ambas as partes.

Os dias foram passando com algumas idas a Aldeia Formosa e a Buba e a partir de certa altura chegou informação de que o IN iria dinamitar a ponte sobre o rio Balana e então nunca mais se juntaram os dois pelotões Fox do mesmo lado do rio; quando nós passávamos para um lado o pelotão 888 passava para o outro.

Já veio descrito em postes anteriores o trágico final do destacamento de Guilege e aparece agora descrito o início da formação deste mesmo destacamento.





Segue-se depois Gantoré e Gadamael mas fica para um próximo episódio.

Com um abraço para todos
Armando Fonseca
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7668: O Alenquer retoma o contacto (2): Os primeiros grandes sustos (Armando Fonseca)

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7735: Tabanca Grande (264): António Cunha, ex-1.º Cabo da CCAÇ 763 “Os Lassas” – Cufar 1965/66 (Mário Fitas/António Cunha)


1. O nosso camarada Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763, “Os Lassas”, Cufar, 1965/66, reenviou-nos uma mensagem com a apresentação de mais um nosso Camarada, da sua CCAÇ 763, que se junta a nós nesta Tabanca Grande – o ex-1º Cabo António Cunha -, com data de 30 de Janeiro de 2011, que o Mário muito bem complementou com a informação que podemos ver no ponto 2:

Olá Mário, tudo bem?
Aqui esta o texto que disse que enviava.

Cufar, 24-2-1966 dia em que eu fiz 23 anos. Foi nesse dia que a CCAÇ 763 e outra (de que eu não recordo no número), saímos para montar segurança aos sapadores que iam limpar a estrada de Bedanda.
Parecia uma tarefa fácil, mas não foi, porque eram 04h00 da manhã quando fomos emboscados até as 08h00. O nosso camarada e grande amigo Fur. Mil. Humberto Gonçalves Vaz, natural de Viana do Castelo, tombou ali morto junto a nós.

Aqui vão as fotografia que combinamos (uma actual e outra militar), para colocar no blogue.

Se achares que o texto não está bem, compõe a tua maneira.
Um abraço, deste grande amigo,
António Cunha.
1º Cabo da CCAÇ 763

2. Camaradas, este foi um dos e-mails que estiveram aqui parados no meu correio, por causa do meu “gripanço” (ver poste anterior P7733).

Dada a minha amizade com o 1º. cabo António Cunha e ao meu grande companheiro Humberto Vaz, aliás como todos os soldados da C.CAÇ. 763, permitam-me que transcreva da história da CCAÇ 763 o relatório da referida operação:

"24 - A Companhia a 3 GCOMB tomou parte na operação TESTE que visava a abertura da estrada Catió - Cobumba. A Companhia tinha como missão instalar-se na estrada a fim de impedir o acesso do IN da região de Cabolol e garantir a segurança de uma coluna auto que se deslocaria de Catió para Cobumba.

A Companhia saiu do aquartelamento pelas 00H30 progredindo pela estrada com a CCAÇ 1500 à sua retaguarda.

Cerca das 04H00 a testa da Companhia atingiu o caminho para Cabolol Nalu, região onde as NT se deveriam instalar.

No momento em que a Companhia se preparava para proceder à sua instalação foi violentamente emboscada pelo IN que abriu fogo ao longo da estrada na direcção norte-sul batendo também o flanco direito da Companhia.

O IN enfiou ambos os lados da estrada com 2 MP 12,7 com balas tracejantes; atacou o flanco direito da Companhia com armas automáticas e MP; bateu o troço da estrada onde a Companhia se encontrava com LGF e Mort. 82 mm; atacou a testa da coluna com granadas de mão; colocou toda a Companhia na zona de morte.

A intensidade de fogo do IN manteve-se cerca de 50 minutos ao fim dos quais sofreu um decréscimo; nesta ocasião e após o lançamento de diversos verilaites de cor verde sobre a zona de acção foi avistado um helicóptero voando no sentido Cansala - Cabolol Nalu tendo aterrado nesta região não foi possível alveja-lo por se ter oculto por detrás do arvoredo.

Após o aparecimento do helicóptero cessou por alguns minutos o tiroteio, o qual cerca das 05H15 recrudesceu com grande intensidade de fogo de LGF e Mort. 82 mm.

As NT reagiram eficazmente tendo conseguido silenciar o IN pouco depois das 06H30.

Em virtude da intensidade de fogo desencadeado pelo IN as NT sofreram 2 mortos 1 desaparecido e 17 feridos, sendo um dos mortos Furriel Miliciano Humberto Gonçalves Vaz.

Considerando o grande número de feridos e a necessidade de de remuniciamento da Companhia cerca das 07H00 acompanhada da CCAÇ 1500 deslocou-se na direcção Camaiupa a fim de procurar um local propício para as evacuações.

Cerca das 07H35 a Companhia contactou na estrada com a CCAÇ 728 que se deslocava para o norte escoltando a coluna auto.

As NT instalaram-se junto à mata de Camaiupa onde se procedeu à evacuação dos mortos e feridos e remuniciamento.

Pelas 08H20 e considerando o grande número de baixas sofridas e o grande esgotamento do pessoal a operação foi dada por terminada.

Estiveram no aquartelamento no decorrer da operação TESTE o Comandante do Agrupamento 17, o Com. do BCAÇ 1858, acompanhados dos oficiais de operações, do oficial de transmissões do médico e capelão.

O médico do B.CAÇ. 1858 manteve-se em Cufar."

Eu e o Humberto Vaz (de óculos escuros)
Mário Fitas
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
5 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7723: Tabanca Grande (263): João Pinho dos Santos, ex-Alf Mil da CCAÇ 618/BCAÇ 619 (Susana e Binar, 1964/66)

Guiné 63/74 - P7734: Agenda cultural (107): Hoje, na SIC, Grande Reportagem, às 21h15, retoma-se um episódio bem amargado da guerra na Guiné, já tratado exaustivamente no nosso blogue há mais de 3 anos...





Guiné > Região do Cacheu > Bula > CAV 2487/BCAV 2862 (1969/70) > Sábado, 18 de Outubro de 1969 > Dois mortos e um ferido no final da Op Ostra Amarga (também ironicamente conhecida como Op Paris Match)... As NT (2 Gr Comb da CCAV 2487, comandadas pelo Cap Cav Sentieiro, hoje Coronel), caiem num emboscada do PAIGC... O combate é presenciado por jornalistas estrangeiros e registado em filme por uma equipa da televisão francesa, "embebbed" nas NT...  Entre esses jornalistas estava Geneviève Chauvel (na foto, em primeiro plano, sentada e, em segundo plano,  o Cap Cav  Sentieiro, no rescaldo da emboscada).  


Foto: © José Sentieiro (2007) (Gentilmente cediada ao nosso co-editor, Virgínio Briote).


1. A SIC, no seu programa Grande Reportagem, na edição de hoje, às 21h15, dedicada ao início da guerra colonial há 50 anos, em Angola (4 de Fevereiro de 1961), diz no seu sítio que o episódio de hoje, "A Emboscada", conta a história de um ataque a uma patrulha portuguesa na Guiné... E garante: "Imagens inéditas... A guerra colonial como nunca a viu" (*)... 


Na realidade, este episódio já foi aqui tratado por nós há mais de 3 anos, de maneira exaustiva e com grande profissionalismo, graças sobretudo à competência e ao empenhamento do nosso co-editor Virgínio Briote... Não sabemos se há ou não factos novos na apresentação e análise deste episódio de guerra (ocorrido no sector de Bula, num sábado, 18 de Outubro de 1969, no ano em que o homem pôs o pé na lua...), por parte da equipa da Grande Reportagem (no vídeo de menos de 4 minutos que está disponível do sítio da SIC > Grande Reportagem,  há apenas curtas intervenções do Cor Cav Ref José Sentieiro, da ex-enfermeira pára-quedista e membro da nossa Tabanca Grande, Rosa Serra, e ainda e do nosso camarada, natural de Peniche, Leonel Martins, que viu morrer a seus pés o seu amigo e conterrâneo Henrique Ferreira da Costa; o outro morto foi o António da Silva Capela, de Ponte de Lima; as NT pertenciam à  CCAV2487 / BCAV 2862, Bula, 1969/70)...


Mesmo que a televisão trate, em geral,  com superficialidade este e outros acontecimentos da nossa história contemporânea, já recomendámos aos nossos leitores a atenção para a emissão da Grande Reportagem de hoje... Mas não se diga que as imagens são "inéditas" (sic): o trabalho da SIC utiliza excertos do vídeo produzido pela equipa da televisão francesa, ORTF (**), e já amplamente divulgado e enquadrado por diversos postes nossos em Novembro e Dezembro de 2007, portanto há mais de 3 anos... 


Também Diana Andringa e Flora Gomes, no seu documentário As Duas Faces da Guerra (2007), já haviam utilizado excertos desse vídeo, francês, de 14 minutos... No filme, já eram entrevistados o Cor Cav Ref José Sentieiro e outros dois  protagonistas dos acontecimentos,  o Leonel Martins e o Pedro Gomes (este entretanto falecido).


Não sei se a equipa da Grande Reportagem conseguiu contactar, como pretendia, alguns dos jornalistas franceses que iam "embebbed" na coluna emboscada (antes de se tornar moda)... Como dissemos na altura, havia pelo menos uma mulher, uma jornalista francesa (hoje, escritora, autora de romances históricos,  Geneviève Chauvel , de seu nome)... Ela terá sido uma das raras mulheres, jornalistas, estrangeiras, a testemunhar uma cena de combate no TO da Guiné, no período da guerra colonial, no decurso da Op Ostra Amarga (também designada ironicamente por Op Paris Match) (***).

Recorde-se aqui o excelente trabalho dessenvolvido pelo Virgínio Briote (VB): Na sequência de contactos com Cor Cav Ref José Sentieiro, a viver em Torres Novas, o nosso co-editor localizou, na Internet, a bela e misteriosa jornalista francesa e correspondeu-se com ela...

Já demos conta desse aventura... à procura do tempo perdido, publicando parte da correspondência entre ambos...

Como editor do blogue, manifestei, na altura,  o meu grande apreço pelas diligências feitas pelo VB, a sua persistência, a sua inteligência emocional, a capacidade de utilização da sua rede de contactos sociais (ou não tivesse sido ele um homem do marketing farmacêutico, a par de um grande operacional, comando, na Guiné)...







Guiné > Região do Cacheu > Bula > BCAV 2862 (1969/70) > Sábado, 18 de Outubro de 1969 >  Spínola, que dera cobertura à operação jornalística, apressa-se a aparecer no local, acompanhado pelo seu ajudante de campo, Almeida Bruno bem como pelo comandante do BCAV 2862, Ten Cor Morgado... Na foto, de costas, o Cap Cav José Maria Sentieiro, comandante da CCAV 2485, que por impedimento do comandante da CCAV 2487, foi encarregado de dirigir este patrulhamento. ~


Imagem obtida no rescaldo da emboscada que custou dois mortos à CCAV 2487. Cópia da imagem do Paris-Match.






O General Spínola, ladeado pelo Major Alameida Bruno (de G3 e luvas), Major João Marcelino (2º Comandante do BCAV 2868, então em Bissau e que apanhou boleia no heli) e o Ten Cor Alves Morgado, Comandante do BCAV 2868 que acompanhou o desenrolar da acção. Foto tirada no  local, no rescaldo após a emboscada. Imagem extraída da edição do Paris-Match nº 1071, de 15 de Novembro de 1969.




2. Sobre o General Spínola, escreveu Chauvel no semanário Paris-Match, quase um mês depois da emboscada:

Monóculo no olho, apoiando-se no seu pingalim, este oficial parece surgir de um filme dos anos 30. Não é o Pierre Renoir de 'La Bandera', nem o Von Stroheim de 'La Grande Illusion'. O general português Spínola faz verdadeiramente a guerra. Na Guiné. Imagem soberba e irrisória: um pequeno país que possuía, há quatrocentos anos, um império imenso, sobre o qual o sol nunca se escondia, esgota-se hoje no último combate colonial do século.



Entre a Gâmbia e a Guiné de Sékou Touré, a Guiné Portuguesa conta com um punhado de colonos, face a meio milhão de autóctones, num território do tamanho de um departamento francês. De há oito anos a esta parte está transformado num campo de batalha. A guerrilha dos rebeldes, armados pela China e muito organizados – revistas, instrução política, jornais de propaganda – absorve cada vez mais as tropas portuguesas.
Lançados num país muito quente, com uma vegetação muito densa, vigiados pelo inferno das emboscadas, os camponeses de Beja, os pescadores da Nazaré ou os estudantes de Coimbra cuidam da sua elegância, a exemplo do seu comandante-em-chefe: “Mais vale ir para o céu com um uniforme como deve ser”. 


Fonte: Paris-Match, nº 1071, L’étranger, pp. 30 e 31, texto de Geneviève Chauvel-Gamma. Tradução livre de V. Briote. (Com a devida vénia...).(****)


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Notas de L.G.:


(*) Vd. poste de 26 de Janeiro de 2011 >Guiné 63/74 - P7679: Agenda cultural (103): Programa na SIC com o Cor. Sentieiro - o Capitão da "Ostra Amarga" – 6 Fevereiro 2011 (Virgínio Briote)

(**) 8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)


(***) Vd poste de 15 de Dezembro de 2007 >Guiné 63/74 - P2351: Vídeos da Guerra (6): Uma Huître Amère para a jornalista francesa Geneviève Chauvel (Virgínio Briote / Luís Graça)


Vd. também os postes de:


8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís Graça)


11 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2256: Vídeos da guerra (4): Ainda nos bastidores da Operação Paris Match (Torcato Mendonça / Luís Graça / Diana Andringa)


13 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2261: Vídeos da guerra (5): Nos bastidores da Op Paris Match: as (in)confidências de Marcelo Caetano (Manuel Domingues)