Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 2 de maio de 2024
Guiné 61/74 - P25470: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (41): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: População recuperada ao PAIGC
"A MINHA IDA À GUERRA"
João Moreira
POPULAÇÃO RECUPERADA AO PAIGC
1970/ABRIL/23
- Emboscada a sul da antiga tabanca do Maqué.
RECUPERAMOS:
8 mulheres
2 crianças
1970/ABRIL/29
- Emboscada a sul da antiga tabanca do Maqué.
RECUPERAMOS:
2 mulheres
1 criança
1970/MAIO/14
- Emboscada em BINTA4B3 (2.º GCOMB)
RECUPERAMOS:
1 guerrilheiro ferido
1970/MAIO/26
- OPERAÇÃO "JAGUAR VERMELHO" - Bissancage (4.º GCOMB)
RECUPERAMOS:
1 guerrilheiro ferido
1970/JUNHO/28
- Emboscada no bico da bolanha Maqué/Bissajarindim
RECUPERAMOS:
1 homem
10 mulheres
3 crianças
1970/JUNHO/29
- Emboscada no bico da bolanha Maqué/Bissajarindim (noutro local)
RECUPERAMOS:
2 homens
1 mulher
1970/JULHO/08
- Patrulhamento a 2 GCOMB, a Iracunda e Manaca (1.º e 2.º GCOMB)
RECUPERAMOS:
2 homens
11 mulheres
4 crianças
1970/JULHO/13
- GOLPE DE MÃO A AMINA DALA = "OPERAÇÃO BACARÁ" (4.º e 1.º GCOMB)
RECUPERAMOS:
15 homens
5 mulheres
17 jovens e crianças
1970/AGOSTO/07
- OPERAÇÃO "ALMA MINHA"
RECUPERAMOS:
1 mulher
1970/NOVEMBRO/13
- RECUPERAMOS:
1 homem vindo do Senegal
1970/NOVEMBRO/14
- GOLPE DE MÃO A AMINA DALA = "OPERAÇÃO BRAIMA"
RECUPERAMOS:
1 homem
6 mulheres
8 crianças
1970/NOVEMBRO/19
- Apresentou-se 1 homem balanta com 1 PPSH
1970/DEZEMBRO/30
- GOLPE DE MÃO A CANJAJA UNHADA (2 GCOMB/CCAV 27212 + 2 GCOMB/CCP121 RECUPERAMOS:
1 homem
7 mulheres
6 crianças
1971/JANEIRO/31
- ACÇÃO "UMBELUZI", em Bissancage.
RECUPERAMOS:
1 homem
1971/FEVEREIRO/05
- OPERAÇÃO "URSO NEGRO", em Lubacunda e Bantasso.
RECUPERAMOS:
1 homem
2 - mulheres
1971/MARÇO/05
- GOLPE DE MÃO A CANTACÓ E BANTASSO.
RECUPERAMOS:
1 homem
9 mulheres
5 crianças
1971/ABRIL/01
- EMBOSCADA NA BOLANHA DO MAQUÉ
RECUPERAMOS:
1 mulher
1971/ABRIL/24
- PATRULHAMENTO A CANICÓ E SANSABATO
RECUPERAMOS:
2 homens
1971/MAIO/??
- PATRULHAMENTO OFENSIVO A MARECUNDA (1 GCOMB/CCAV 2721 + 2 GCOMB/CCAV 3378)
RECUPERAMOS:
4 mulheres
2 crianças
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 25 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25444: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (40): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Minas levantadas ou accionadas
Guiné 61/74 - P25469: Os 50 anos do 25 de Abril (16): O fotornalismo da guerra, que os senhores do lápis azul deixavam passar, às vezes, em revistas como a "Flama", órgão oficial da JEC-Juventude Escolar Católica (1937-1983)
"Flama", Ano XXIII, nº 1000, 5 de maio de 1967, pp. 78/79 (Cortesia de Hemeroteca Digital de Lisbia / Câmara Municipal de Lisboa).
(Adapt. livre de Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné... Com a devida vénia)
1. Era o "jornalismo" possível. Era o "fotojornalismo de guerra" possível... A "Flama", que se lia no ultramar, que chegava aos quartéis na Guiné, comemorava em 5 de maio de 1967 o seu nº 1000. Tinha nascido em 1937, da iniciativa de um grupo da JEC - Juventude Escolar Católica, com a benção de Salazar e do Cardela Cerejeira. Era então marcadamente masculina, e de teor religioso. Redefine-se a partir de 1944... Definia-se, ainda em 1967, como "um semanário de atualidades de inspiração cristã".... Era então uma das revistas portuguesas mais antigas. E é hoje considerada um marco importante na história do jornalismo português, e nomeadamente do jornalismo feito por mulheres e para as mulheres. Por ela passaram mulheres, jornalistas, como Maria Teresa Horta, Regina Louro, Edite Soeiro...
Nesse número especial, dezasseis páginas (num total de 116) eram dedicadas ao cinquentenário de Fátima, na véspera da visita do Papa Paulo VI. Na altura custava 5$00 o número avulso (equivalente hoje a 2 euros; em 3 de maio de 1974, já custava o dobro, 10$00, também 2 euros, a preços de hoje).
Duas páginas, cheias de fotos e sucintas legendas eram dedicadas à "Guiné: rostos de uma guerra". Evitando-se a propaganda mais descarada do regime. escreve-se:
- "a luta na Guné prossegue sem quartel";
- "militares de todos os ramos das forças armadas, generosos na sua juventude";
- " cumprem a sua comissão de serviço";
- "momentos dramáticos, arrancados ao quotidiano do soldados português";
- "o rosto do soldado indígena" (sic)...
Uma raridade, em todo o caso, na imprensa portuguesa da época, o aparecimento de fotos, com algum dramatismo, de militares portugueses em pleno teatro de operações da Guiné, já então o mais duro das "três frentes"....
Mas as fotos são provenientes dos... "fotocines"... no texto diz-se "amavelmente cedidas pelos repórteres dos Serviços Cartográficos do Exército" que eu, por exemplo, nunca vi, ao meu lado, em operações, no meu tempo (junho de 1969 / março de 1971). As legendas da "Flama" são obviamente escritas no conforto da redação... em Lisboa, e na ignorância do que era realmente uma guerra de guerrilha e contra-guerrilha ("subversiva e contra-subversiva", na linguagem da tropa de então). Por outro lado, havia o "Big Brother" da censura...
Mas é a "reportagem possível" de uma revista, respeitável, até "arejada", oroginalmenet ligada à Igreja Católica, e que, para além dos assinantes, tinha uma boa fonte de receita na publicidade (muita dela já virada, nos anos 60/70, para o público feminino).
O seu primeiro diretor foi o dr. António dos Reis Rodrigues (1918-2009), um dos homens mais influentes da hierarquia eclesiástica de então:
- assistente eclesiástico da Juventude Universitária Católica (JUC) (1947-1965);
- capelão (desde 1947) e professor da Academia Militar (onde leccionava Deontologia Militar e Ética);
- procurador da Câmara Corporativa, na VIII Legislatura (1961/65), como representante da Igreja Católica;
- responsável pelo programa religioso da RTP (até 1966);
- nomeado em 1966 bispo auxiliar de Lisboa, sob o título de Bispo de Madarsuma, com as funções de Capelão-mor das Forças Armadas (1967-1975);
- membro da Conferência Episcopal Portuguesa, onde desempenhou várias funções, sendo Secretário (1975-1981) e vice-presidente (1981-1984);
- vigário-geral do Patriarcado de Lisboa (1984)...
Esta última missa documentada por Idálio Reis contrasta com a 1ª missa, festejada por índios e pintada por artistas e documentada pela carta de Caminha. Quatro dias após ter chegado em Porto Seguro, no Domingo de Páscoa, em 26 de abril de 1500, Cabral determinou que se realizasse uma missa no ilhéu da Coroa Vermelha. Foi a Primeira Missa celebrada em solo brasileiro e o evento foi documentado pela Carta de Caminha. (...)
Foto (e legenda): © Idálio Reis (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Notas do editor:
(*) Vd. postes de:
17 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13616: Os nossos capelães (4): O bispo de Madarsuma, capelão-mor das Forças Armadas, em Gandembel, no natal de 1968 (Idálio Reis, ex-alf mil, CCAÇ 2317, Gandembel / Balana, 1968/69)(**) Último poste da série > 29 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25457: Os 50 anos do 25 de Abril (15): Exposição na Gare Marítima de Alcântara, Porto de Lisboa, até 26 de junho próximo, de 4ª feira a domingo, entre as 14h00 e as 20h00: "O Movimento das Forças Armadas e o 25 de Abril": curador, Pedro Lauret, Capitão-de-Mar-e-Guerra Ref
Guiné 61/74 - P25468: Notas de leitura (1687): "Poemas de Su Dongpo", introdução e notas de António Graça de Abreu (Lisboa, Grão-Falar, 2023, 177 pp.) Parte I
Último poste da série > 29 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25459: Notas de leitura (1686): O islamismo na Guiné Portuguesa, de José Júlio Gonçalves, edição de 1961 (Mário Beja Santos)
quarta-feira, 1 de maio de 2024
Guiné 61/74 - P25467: Historiografia da presença portuguesa em África (421): A Guiné e os tempos da Restauração da Independência, por Leite de Magalhães (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Novembro de 2023:
Queridos amigos,
O Coronel Leite Magalhães deixou um apontamento escorreito neste trabalho coletivo intitulado "A Restauração e o Império Colonial Português", que a Agência Geral das Colónias editou em 1940, no âmbito das comemorações do centenário. Ainda hoje se pode ler com agrado o que Damião Peres escreve sobre o império português na hora da Restauração ou a reconquista em terras brasileiras, trabalhos de Pedro Calmon e Hélio Viana. O antigo governador da Guiné entendeu espraiar-se pelos acontecimentos de Alcácer Quibir e as consequências decorrentes do desastre, descreve depois a Costa da Guiné até à dominação filipina, retrocede até ao programa do Infante D. Henrique, deixa-nos um esboço do que representou a fragilidade da presença portuguesa durante o período do domínio filipino na Costa da Guiné e a resposta dos Bragança para procurar reconquistar o Império, no caso da Costa da Guiné era já muitíssimo tarde, tínhamos ficado confinados entre o Casamansa e a Península de Cacine, escusado é dizer que foi presença ténue até às exigências impostas pela Conferência de Berlim.
Um abraço do
Mário
A Guiné e os tempos da Restauração da Independência, por Leite de Magalhães
Mário Beja Santos
Em 1940, a Comissão Executiva dos Centenários/Agência Geral das Colónias editou o volume A Restauração e o Império Colonial Português, nele colaboraram personalidades como Damião Peres, Pedro Calmon, Hélio Viana, António Leite de Magalhães e o general Ferreira Martins. A comunicação do coronel Leite de Magalhães prende-se com a costa da Guiné, introduz as consequências do desastre de Alcácer Quibir, aludes às Cortes de Almeirim e depois às Cortes de Tomar que consagram Filipe II de Espanha rei de Portugal, começa agora a sua extensa leitura dos acontecimentos da dominação filipina na costa de África. Inevitavelmente, retrocede ao plano henriquino, às viagens posteriores à passagem do Cabo Bojador, aos relatos que Zurara faz na sua Crónica da Guiné quanto à expedição de Lançarote de Lagos, Gonçalo de Sintra, Diogo Gomes e o mapeamento da costa, porque as viagens sucedem-se. Pouco antes da morte do Infante D. Henrique, Álvaro Fernandes, sobrinho de Gonçalves Zarco alargara os reconhecimentos chegando à ilha de Arguim. E depois da morte do Infante, escreve o antigo governador da Guiné, a Costa da Guiné estendeu-se na viagem de Rui Sequeira, em 1475, até ao Cabo Catarina. Foi este o último dos navegadores, que nos termos do contrato celebrado entre Fernão Gomes e D. Afonso V fizeram o descobrimento da costa desde o Cabo Mesurado – onde havia chegado Pedro de Sintra, após a morte do Infante, até ao extremo do golfo de Biafra. O autor passa naturalmente em revista a natureza do comércio e o tipo de presença que os portugueses iam estabelecendo em feitorias. Nada de especial vai acontecer nesta região até à ocupação de Lisboa pelas tropas do Duque de Alba, em 1580. As jurisdições da capitania de Arguim, para norte do rio Senegal, e a de Santiago de Cabo Verde, entre o rio Senegal e a Serra Leoa, e a da capitania de S. Jorge da Mina, desde a Serra Leoa até ao Rio Real, mantinham-se inalteradas.
Se era facto que Portugal já não tinha condições para impedir a concorrência estrangeira na região, a União Ibérica agravou, e muitíssimo, a situação. Os franceses intentavam uma expedição ao Castelo da Mina, os navios normandos desciam com cada vez mais frequência até à Costa da Guiné. É o próprio André Álvares de Almada que refere no Tratado Breve que ingleses e franceses são uma presença constante na região. Estes franceses e ingleses faziam comércio na Goreia, hoje Senegal, entendiam-se muito bem com os lançados portugueses. E, por isso, Almada escreve no seu Tratado Breve que os resgates na Costa do Cabo Verde até ao rio de Gâmbia estavam perdidos.
A derrocada do poderio português e do império sofre um rude golpe com as destruições da Invencível Armada, perderam-se 77 navios e cerca de 10 mil homens e mais de 100 milhões de ducados. Com o enfraquecimento da posição portuguesa intensificou-se o curso e é dado assente que a penetração inglesa na Costa da Guiné ganhou forma desde 1588. Os inimigos de Espanha eram os inimigos de Portugal. Filipe II obrigou Portugal a participar na luta que se tratava nos Países-Baixos, isto numa altura em que se formava a Companhia das Índias Orientais que passavam a ter um monopólio de comércio para além do Cabo da Boa Esperança. Tudo se vai tornando cada vez mais difícil para a presença portuguesa, assaltos ao Castelo de S. Jorge da Mina, a audácia da pirataria holandesa nas ilhas de Cabo Verde. Os franceses não ficaram atrás. Os traficantes de Dieppe e Ruão associaram-se em 1626 para a fundação da Compagnie Normande que passou a ter o privilégio de dez anos entre o Senegal e o rio Gâmbia. Na Goreia, os holandeses fizeram da ilha a sua base de operações. Os três fortes portugueses que havia ao longo da costa – Arguim, Axem e S. Jorge da Mina – tornaram-se o alvo da sua cupidez. Os holandeses movem-se por toda a parte, chegam ao Brasil, ali se implantam, o mesmo acontecerá com a fortaleza de S. Paulo de Luanda, em 1648.
Com a Restauração, apenas Axem ficara de pé, e o no cômputo geral do que fora a nossa presença na Costa da Guiné nada mais nos ficara de que um pequeno bocado compreendido entre o rio de Casamansa e Cacine. D. João IV tinha muito que acudir, desde a presença espanhola, a salvar o Brasil, a reconquistar a região de Angola. Para lutar contra a Espanha, o rei de Portugal firmou tratados de aliança com a França, a Holanda e a Inglaterra; no Brasil os holandeses vão conhecer reveses fatais, em África reconquista-se Angola. Faz-se um tratado de paz com Holanda, perde-se posição no Oriente. E de forma mitigada regressa-se a Cacheu, faz-se fortaleza, retomam-se outras feitorias, tudo modestamente.
Como observa no seu texto o coronel António Leite de Magalhães a presença portuguesa nessa velha Costa da Guiné ainda se ia mantendo e mantém-se as designações geográficas das terras que a pilhagem arrebatou; e nas populações cristãs que os seus missionários, tantas vezes ingloriamente, catequizaram; e até nas citrinas se deixou nome, mais tarde Teixeira da Mota e outros investigadores farão inventário dos nomes portugueses que constam na topografia da Costa da Guiné por onde cirandámos durante séculos, até se ter diluído a nossa presença.
É este em síntese o documento que Leite Magalhães, que foi governador da Guiné de 1924 a 1931 (afastado depois dos acontecimentos da Revolta Triunfante, pois na Guiné houve um golpe republicano que foi rapidamente jugulado, o governador é preso, afastado, regressará a Bolama por pouco tempo, até ser substituído) nos deixou no trabalho coletivo sobre a Restauração e o império colonial português.
Nota do editor
Último post da série de 24 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25440: Historiografia da presença portuguesa em África (420): Sim, Bissau teve uma capital de ficção antes de 1941 (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P25466: Fichas de unidade (35): BCAÇ 2856 (Bafatá, 1968/70)
Identificação: BCaç 2856
Unidade Mob: RI 2 - Abrantes
Cmdt: TCor Inf Jaime António Tavares Machado Banazol | 2.° Crndt: Maj Inf Virgílio Martins Raposo | OInfOp/Adj: Maj Inf Fernando Xavier Vidigal da Costa Cascais
CCS: Cap Inf Raúl Afonso Reis
Cap Art José Gamaliel Borges Alves
CCaç 2435: Cap Inf José António Rodrigues de Carvalho | Cap Inf Raúl Afonso Reis
CCaç 2436: Cap Inf José Rui Borges da Costa
CCaç 2437: Cap Mil Inf Celestino Castro Fontes
Divisa: "Nunca diga o inimigo não o vi"
Em 2nov68, rendendo o BCav 1905, assumiu a responsabilidade do Sector L2, com sede em Bafatá e abrangendo os subsectores de Fajonquito, Contuboel, Geba e Bafatá.
Desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamentos, reconhecimentos, emboscadas e batidas por forma a impedir a infiltração e fixação do inimigo na zona, exercer a vigilância e controlo dos itinerários e promover a autodefesa e segurança das populações. Nomeadamente em reacções a ataques aos aquartelamentos e nas operações "Vitória Certa", "Alerta", "Impacto" e "Infalível", entre outras, demonstrou excelente capacidade ofensiva e prontidão das subunidades utiliizadas.
Dentre o material capturado mais significativo, salienta-se: 9 pistolas-metralhadoras, 3 espingardas, 65 granadas de armas pesadas e 2135 munições de armas ligeiras.
Em 13ag070, foi rendido no sector pelo BArt 2920, recolhendo seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
Em 7dez68, foi substituída pela CCaç 1681 e seguiu para a zona Leste, a fim de render a CCav 1685, tendo assumido, em 14dez68, a responsabilidade do subsector de Fajonquito, com pelotões destacados em Cambajú e Sumbundo, este até finais de Jul69 e ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.
Em 20abr70, por troca com a CCaç 2436, assumiu a responsabilidade do subsector de Contuboel, com dois pelotões destacados em Sare Bacar.
Em 13go70, foi rendida pela CArt 2741, mantendo entretanto dois pelotões em Contuboel em reforço da guarnição local até meados de set70, tendo seguido para Bissau e depois para reforço do subsector de Nhacra.
Em 25set70, voltou a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 121/123.
Guiné 61/74 - P25465: 20.º aniversário do nosso blogue (13): Alguns dos melhores postes de sempre (IX): Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé): Spínola, o Desejado - II (e última) Parte
Foto (e legenda): © Cherno Baldé (2010).Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. No 25 de Abril de 1974, o Cherno Baldé estava em Fajonquito, com os seus 14 ou 15 anos (?) (nem ele sabe o ano exato em que nasceu, c. 1959/60/61) . Ficou, perplexo, como todos os "djubis", "cães rafeiros do quartel", sem poder (nem querer) acreditar nas vozes que repetiam "A guerra acabou!... A guerra acabou!"... Para logo se interrogar, com angústia: "E agora ?!... O que será de nós?!" (*)...
O sonho daqueles miúdos, fulas de Sancorlã, era virem a integrar os "Comandos Africanos", o Batalhão de Comandos da Guiné, "manga de ronco"...
Ele conta como foi, no poste P11008, de 26 de janeiro de 2013 (**), da sua excecional série, "Memórias do Chico, menino e moço" (uma série que, já o dissemos mais do queuma vez, merecia ser publica em livro)...
Em 1998, está em Bissau, a trabalhar como quadro superior na administração pública, mais exatamente no Ministério das Infraestruturas, Transportes e Comunicações onde exerce as funções de director do gabinete de estudos e planeamento. Vive em Brá, no chamado Bairro Militar, com algumas regalias.
No dia 7 de junho de 1998 é apanhado pelo golpe de Estado e a subsequente guerra civil de 1998/99. É obrigado a deixar a sua casa, no Bairro Militar, e sair de Bissau com a família (ele, a esposa, o filho de 3 anos e uma sobrinha de cinco ), mais a família da irmã da sua esposa, de nome Djenaba, num total de 10 pessoas (3 adultos e 7 crianças), refugiando-se na sua terra natal, Fajonquito, regulado de Sancorla, junto à fronteira com o Senegal.
Deixam a casa, em Bissau, no dia 11, chegam a Safim, procurando desesperadamente por um transporte que os leve para longe da guerra, para Fajonquito. Consegue, através dos seus conhecimentos, uma boleia para Mansoa, a 13 de junho, até apanhar um camião, que o leva ao seu "refúgio", em Fajonquito, aonde chega no dia seguinte, passando por Bambadinca e Bafatá. Nesta viagem faz também uma "retrospetiva" do seu passado recente (os anos passados em Bafatá, em 1975/79, e depois na URSS, 1986/90).
Em 2001/02, o Cherno viu-se na contingência de ter de emigrar para Portugal, onde trabalhou na construção civil, como simples "trolha" na construção do complexo Alvalade XXI. É sportinguista de coração.
A sua vida tem sido, afinal, uma dura pr"ova de obstáculos" que ele vai superando com fé , esperança, coragem, inteligência emocional, amor à família, lucidez e sentido de solidariedade.
Dr. Cherno Baldé, Bissau, foto atual |
MEMÓRIAS DO CHICO, MENINO E MOÇO (43) - O GENERAL SPÍNOLA E A POLITICA “POR UMA GUINÉ MELHOR” - II ( E ÚLTIMA) PARTE (*)
O CAPITÃO CARVALHO
Depois de algumas horas de aulas de manhã, e com o pretexto de ficar a ajudar o meu pai, conseguia esquivar-me dos trabalhos de campo e passar grande parte do tempo a espreitar o movimento da tropa dentro do quartel, usando o espaço da loja e a presença do meu pai como refúgio sempre que um ou outro elemento mais zeloso quisesse importunar-me. Gostava, sobretudo, de acompanhar o vaivém do Capitão no seu pequeno jipe de campanha donde sempre descia saltitando ao lado antes de este se imobilizar por completo. Eram imagens que me fascinavam.
Em Cambajú, onde estava estacionado um pelotão da mesma companhia (a CCAÇ 2435), não existia este fosso de separação entre brancos e pretos, militares e civis, e por isso, convivíamos de perto com a tropa portuguesa e com as milícias, inclusive já tivera a oportunidade de esfregar as minhas mãos na pele branca e gorda ou agarrar nos cabelos hirsutos das mãos e braços do nosso amigo, o furriel Libural (Liberal?), que frequentava assiduamente a nossa casa, não sabendo ao certo o que o atraía mais, se as simpáticas palavras do meu pai sempre cordial e respeitoso para com as autoridades, fossem elas civis ou militares (que o obrigava a tirar o chapéu da cabeça quando as cumprimentava e num excelente português nos apresentava dizendo “minha filho” quando queria dizer “meu filho”), ou se eram as minhas primas-irmãs com os seus sorrisos de dentes de marfim, nádegas bamboleantes e seios redondos brilhando em céu aberto.
Em nossa casa toda a gente gostava do furriel Liberal com seu ar bonacheirão que, muitas vezes, trazia consigo uma terrina cheia de comida do quartel para a meninada. Bem, para ser sincero, nem toda a gente apreciava as suas investidas dentro da nossa morança, arvorando os seus “bumdias e buatardes”, mesmo trazendo comida.
Em Fajonquito era diferente e, pela primeira vez, via um capitão assim de perto, o comandante dos brancos em pessoa. Muitas vezes, quando ele descia do seu jipe aproximava-me, discretamente, esperando dele um olhar, um sorriso ou um gesto de amizade que nunca aconteciam. Por isso, não me lembro da cor dos seus olhos, escondidos debaixo de umas sobrancelhas fartas, que fugiam do meu olhar, mas lembro-me, mesmo que vagamente, do seu rosto sempre hermético e impenetrável como que querendo dizer-me que não tinha tempo para crianças intrometidas.
O seu nome era capitão Carvalho, estatura baixa, andar pausado, pés firmes no chão, sentidos obscuros e como que carregados de uma missão impossível. Foi a sua companhia (CCAC 2435) que, de facto, construiu o aquartelamento de Fajonquito em 1969, com o reordenamento da aldeia e construção de um dispositivo de defesa que dizia aos inoportunos visitantes nocturnos:
− Olha, estamos aqui deste lado, para vos receber com metralha!.
Estes dispersaram-se indo para os lados de Oio e Joladu e nunca mais voltaram.
Ainda na metrópole, antes do embarque, que se esperava fosse tudo menos a Guiné, a divisa que tinham arranjado para a companhia, assim do jeito “pessoal manga-di-ronco”, era qualquer coisa que dizia assim: “Os tigres, juntos venceremos” e por cima destas palavras via-se a cabeça de um tigre ameaçador, mostrando seus dentes aguçados.
O CAPITÃO, SPÍNOLA E O DJINNE DJUNCORE
Devo esclarecer que, de todos os membros da família, o nosso avô materno era o mais bem informado sobre os aspetos bons da presença portuguesa e com ele mantinha um relacionamento íntimo e confidencial, tanto assim que seria dele a ideia magistral de infiltrar-se dentro do quartel com a missão bem definida de coletar uns pequenos pacotinhos de cor verde escura que eram distribuídos à tropa como ração de combate e que mais não eram senão o popular e vulgarmente conhecido caldo de galinha.
A missão foi bem sucedida porque juntava o útil ao agradável. O útil era os pacotinhos de caldo de carne que o velho caçador, especialista na arte de conserva e consumo de carnes secas, cego e sentado na sua varanda, tinha descoberto dentro do quartel e com o qual passou a melhorar, substancialmente, os ingredientes e o gosto do seu intragável prato de farinha de milho preto.
Mas, vamos deixar de lado o meu avô para lembrar que um dos ctos mais temerários, para além das suas frequentes saídas para as matas do Oio e Cola/Caresse por que ficou conhecido o capitão Carvalho, era o rebentamento de granadas. Sim, granadas lançadas a poucos metros de distância.
No meio dos nativos, muitos acreditavam que ele era invulnerável aos estilhaços das granadas. Na opinião de muitos, ele era detentor de um baki-tcham ou seja mesinha contra balas, para outros seria um protegido do próprio Djuncoré, o rei dos Djinnés que habitava o poilão luminoso da bolanha de Sunkudjumá, no prolongamento do rio Canjambari.
Naquele dia, estava no perímetro habitual, entretido a apanhar pequenas pedrinhas na estrada para as brincadeiras habituais, quando, de repente, começa um movimento de vaivém da tropa que ocupa o local para uma improvisada parada militar. Da pista de aviação, onde aterrou um ou dois helicópteros, chega um veículo que se imobiliza junto a parada, de onde descem algumas pessoas, dentre as quais um velho oficial em farda de camuflado, corpo ligeiramente dobrado à frente, qual imbondeiro fustigado pelos ventos tropicais, uma bengala na mão direita. Disseram-nos depois que era o general Spínola.
O que aconteceu a seguir foi rápido e indescritível, não me lembro de ter ouvido o som da corneta, não houve discursos para a ocasião e os militares da parada, provavelmente, teriam executado os habituais gestos teatrais que culminavam no “apresentar aaaaaaarma!”, prática marcial que o General não vira ou não tivera tempo de corresponder e, dirigindo-se ao capitão perfilado à sua frente, ter-lhe-ia assestado uma violenta bofetada para depois puxar dos seus ombros as patentes que este orgulhosamente ostentava.
Nunca antes, na minha vida, tinha assistido a uma cena tão comovente protagonizada por homens brancos e, como estavam de luto e não tinham nenhuma vontade de comer o guisado de carne de vaca que os esforçados cozinheiros nativos tinham preparado, um grupo de rafeiros famintos foi lá dar uma mãozinha, enchendo cada um a sua marmita bem àmedida.
"Por uma Guiné Melhor", ninguém podia fazer mais e melhor que este show-off público, em nome da justiça e da dignidade dos Guinéus, indiferentemente da cor da pele, da classe social ou do nível da patente militar. Os indígenas tinham ficado confusos e boquiabertos, pois desde os tempos de Mussa Molo que ninguém tinha visto um capitão do exército, português e branco, a sofrer uma tão humilhante afronta ao seu estatuto de oficial superior por causa de alegados atropelos aos direitos humanos do gentio rebelde e num território em guerra.
Os discursos vieram depois com a entrada em cena de Issufo Sandem, dos nossos vizinhos mandingas e ferreiro bem conhecido por sua eloquência verbal. Saindo do nada, gesticulando freneticamente as mãos e fazendo jus à sua cidadania, num bem aprimorado português, explicava para a curiosa multidão que entretanto se tinha juntado no local, sobre as atividades e os métodos usados pelo capitão nas sessões de tortura dos presos e que, por conseguinte, ficaria mui célebre:
Tá percebido?
De seguida, o grupo dos prisioneiros, que durante a visita do General tinha sido escondido no interior da tabanca, encabeçados por Tchamá ou Intchamá que, pela primeira vez, eram alvo de alguma atenção e envergando roupas mais ou menos decentes e sem o cheiro nauseabundo que lhes era característico, foram apresentados um a um como se fosse a primeira vez que eram vistos, quando na realidade, todos os dias e durante toda a fase da construção do aquartelamento, tinham sido utilizados como mão-de-obra nos trabalhos de escavação dos abrigos, valas, valetas e ainda na limpeza de toda a área que circundava o quartel e para onde estavam apontadas as metralhadoras que defendiam a aldeia.
Claro que aos olhos da população local, estrategicamente guiada e manipulada, tratava-se de turras, catalogados como IN e gente do mato que aterrorizava, matava e pilhava as nossas aldeias e, por isso, simplesmente, não podiam ter qualquer direito de existir e merecer a menor consideração e como tal eram simplesmente invisíveis. Era isto a realidade crua de uma guerra onde cada um tinha que escolher um dos lados, estivesse certo ou errado.
Voltando ao episódio de 69/70 com o capitão, é claro que não vamos aqui afirmar, sem cairmos no risco de um grande equivoco, que aquilo que aconteceu teria sido o mau desfecho de um sinistro contrato satânico, como pensava o Aliu Samba e os restantes indígenas da aldeia no delírio das suas mentes animistas, mas não deixa de provocar certa perplexidade o facto de que, depois deste fatídico acontecimento de mau agouro, não houve nenhum outro capitão que tivesse cumprido a sua missão até ao fim sem problemas, nesse subsector.
O primeiro a chegar, o cap Carlos Borges de Figueiredo (CART 2742, 1970/72), teve um fim trágico a escassos meses do fim da sua comissão, quando estava a trabalhar no gabinete que o próprio tinha construído no local, onde dois anos antes o cap Carvalho tinha perdido os seus galões.
O último, bem, o último tinha sido o cap Pedreiro Martins (2ª C / BCÇ 4514/72, Junho de 1974), a guerra já tinha chegado ao fim e de mais a mais, para uma companhia que tinha participado no trabalho titanesco de furar o cerco de Guidage e tinha depois passado algum tempo no inferno de Gadamael, os irãs, provavelmente, teriam concordado em poupá-los um pouco, deixando-os cumprir com pompa e circunstância a (des)honra que representou, para Portugal e os seus aliados fulas de Sancorlâ, a entrega final do aquartelamento de Fajonquito aos maquisards do PAIGC para que assim se cumprisse a profecia de Cabral e pudéssemos, finalmente, passar de “uma Guiné melhor” com roupagem e estilo neocolonial para “uma Guiné bem pior” revolucionária, conforme estava superiormente predestinado.
Mas, na opinião de Aliu Samba e dos seus conterrâneos, a situação era bem mais complexa que isso e, estavam convencidos que a extinção da luz do poilão luminoso do lago Djuncoré, significava o desaparecimento do rei dos Djinnés, no preciso momento em que o PAIGC teria penetrado no coração sagrado do recinto dos poilões de Canhámina, capital de Sancorlã, marcando assim o fim do regulado e de uma dinastia.
− Viva!!!
− Abaixo!!!
− Abaixo!!!
Bissau, 21 de Janeiro de 2013.
Cherno Baldé (Chico de Fajonquito)
Nota do autor
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 30 de abril de 2024 > Guiné 61/74 -. P25463: 20º aniversário do nosso blogue (13): Alguns dos melhores postes de sempre (VIII): Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé): Spínola, o Desejado - Parte I
(**) Vd. poste de 18 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4550: Tabanca Grande (153): Cherno Baldé (n. 1960), rafeiro de Fajonquito, hoje engenheiro em Bissau...
Guiné 61/74 - P25464: Parabéns a você (2266): Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703/BCAV 705 (Bissau, Cufar e Buruntuna, 1964/66)
Nota do editor
Último poste da série de 29 de Abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25456: Parabéns a Você (2265): Giselda Pessoa, ex-Sarg Enfermeira Paraquedista da BA 12 (Bissau, 1972/74)