segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12672: Tabanca Grande (424): Carmelino Cardoso, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 2701/BCAÇ 2912, Condutor ao serviço do então Major Carlos Fabião, (QG/Bissau, 1970/72), grã-tabanqueiro n.º 644

1. Mensagem, de 27 de Janeiro de 2014, do nosso camarada e novo tertuliano Carmelino Cardoso, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 2701/BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72), que cumpriu a sua comissão de serviço no QG/Bissau como condutor do então Major Carlos Fabião:

Bom dia Luís Graça,

Só agora me é possível responder à tua satisfação e com razão, de me responderes, pois fui mais um militar que andava perdido e foi encontrado... e que tenho como me pedes muito para contar.

Vou então contar a razão porque fiquei sempre em Bissau.

Quando assentei praça no CICA 4 em Coimbra, todos nós, os 600 condutores, já sabíamos que íamos todos para o ultramar, razão pela qual um, mesmo na instrução, desertou.

Se fosse hoje eu fazia o mesmo, mas, naquela altura pensei que ele nunca mais via o sol se fosse descoberto. Puro engano porque logo a seguir veio o 25 de Abril.

Mas continuando, depois de ser incorporado na CCAÇ 2701/BCAÇ 2912, fui para a Guiné.
Éramos então 8 condutores na nossa Companhia e, já a caminho no barco Carvalho de Araújo, o nosso comandante de Companhia mandou formar a mesma para dos oito condutores tirar dois para ficarem em Bissau... Foi difícil escolhê-los porque eram todos casados.

O Comandante começa a coçar na cabeça e diz:
- Homens casados com um filho um passo em frente...

Demos todos. Mais coçou a cabeça como a querer arrancar os cabelos.
Repetiu:
- Homens casados com dois filhos um passo em frente...

Fui eu o único.
Fui então escolhido para ficar em Bissau por seis meses, mas depois de estar no quartel do Comando-Chefe, aqueles oficiais nunca me deixaram sair. Devido à minha prontidão e de ser muito prestável, eles tinham muito poder pois era dali que saíam todos os projetos para a guerra no mato..
Continuando... e ficou mais um condutor que era meio deficiente.

Quando chegámos a Bissau, e como era costume com todos os batalhões, fomos para o quartel dos Adidos, para as tendas, a fim de nos organizarmos e dali partirmos para o mato.

Entretanto o meu batalhão partiu para o mato e eu fiquei nos Adidos com as instruções de aguardar que alguém me fosse buscar. Fiquei por ali esquecido durante uns 5 dias, dormia em cima de um jipe e ia comer ao quartel mas ninguém sabia.

Ao sexto dia então lá aparece alguém a chamar pelo meu nome e fui para o QG que ficava no topo da rua de Santa Luzia. Dali fui escalado para o então Comando-Chefe que ficava na Amura, na Polícia Militar.

Bissau - Fortaleza D'Amura
Foto: Didinho.org, com a devida vénia

Estava na secretaria um capitão com apenas a 4.ª classe, a quem muito devo, que era quem dirigia a colocação de todos os condutores. Este capitão era alentejano e muito humano... muito bom para todos os militares. Enquanto for vivo nunca me esquecerei dele... e digo mais, quando me lembro dele vêm-me as lágrimas aos olhos. Eu devo-lhe muito... pois o que eu lá passei a ele lhe devo. Até me deu um louvor (uma viagem à metrópole no avião militar).

Continuando... depois de andar por ali uns seis messes, sem colocação... andava aos recados praticamente e quando algum condutor adoecia ia eu fazer o serviço, pois havia duas carrinhas para transportar os oficiais da messe para o quartel.

Em determinada altura o capitão chamou-me e disse-me com aquele tom calmante alentejano e a rir-se:
- O senhor Carmelino vai para condutor do nosso Governador, para o General Spínola.

Foi então que lhe pedi para não me escalar para tal e fui então para condutor do Sr. Major Fabião.

O meu trabalho era de todos os dias com um Volkswagen 1300 ir buscar o Major à messe e levá-lo para o quartel, tinha que fazer as compras alguns dias na semana com a esposa e tinha que lavar o carro todos os dias porque não podia andar sujo, enfim... trabalhos de um recruta.

Ao Major Carlos Fabião [foto à direita, ainda com o posto de Capitão], que Deus o tenha lá no paraíso, também devo muito...
Contei- lhe a minha precária vida de militar, com mulher e dois filhos na metrópole, e pedi se me dispensava do serviço todas as tardes e me dava autorização de conduzir um táxi, pois tinha lá tirado a carta profissional há pouco tempo.

Bom Major... aprontou-se logo... fiquei dispensado mas com a condição de cumprir a minha obrigação do dia a dia e o carro sempre limpo, tendo o cuidado de lhe entregar a chave com o carro sempre com gasolina suficiente, pois ele fazia muitas viagens para o aeroporto.

Fiquei então dispensado e conduzia o táxi das duas da tarde até à meia noite.
Eu era desarranchado, comia num restaurantezito na rua de Santa Luzia perto do QG e também dormia numa tabanca perto da porta de armas do QG. Ganhava 950 escudos por mês, mais 150 de prémio de condutor. O que me valia era o dinheiro que eu ganhava no táxi, pois só o comer na pensão era 950 escudos por mês.


Carmelino Cardoso junto ao Mercedes do COM-CHEFE, que conduziu durante algum tempo

Para finalizar, quero aqui referenciar, que enquanto for vivo, não esqueço quatro pessoas a quem eu devo muito... São elas o Capitão responsável pela distribuição das viaturas; O Sr. Major Fabião; um Alferes que estava na secretaria, que era daqui de Aveiro, cuja esposa era de Macau e tinham oito filhos que pareciam chineses. Tenho muita pena de nunca mais ter sabido nada dele nem dos filhos, pois ainda deve ser vivo. Apesar de me ter ajudado, eu também lhe fiz muitos favores porque os alferes não tinham direito a viatura mas eu também lhe levava os filhos à escola e ia buscar o comida à messe dos oficiais para todos eles. Era um jeito que eu fazia pois ficava a caminho.

Também nunca me esqueço do dono da tabanca onde eu dormia, chamava-se Manuel e tinha três mulheres... eles era de cor negra, respeitava-me muito e eu gostava dele porque era muito educado... aliás que me desculpem os meus camaradas, mas eu tenho um carinho muito especial por aquela gente da Guiné, que era uma gente muito humilde. Gente de Bissau, com quem eu falava muito quando ia às compras à praça, no pilão e até a João Landim, salvo erro era assim que se chamava esta terra que distancia uns 20 kms de Bissau, já que mais para a frente eu não ia porque tinha medo da Guerra.
De qualquer maneira, destas quatro pessoas, das que já morreram, que Deus atenda à minha súplica e as tenha no Céu, em paz e as recompense do bem que fizeram. Às que estão vivas, que devem de estar, este Alferes e os filhos, aqui vai um brande abraço de Aveiro.

Para o Manuel, dono da tabanca em Bissau, um grande abraço, gostava de visitar.

E para o governo português, que seja digno de recompensar com uma pensão vitalícia os veteranos de Guerra que deixaram mulher e filhos para ir defender aquilo que o próprio governo deu de mão beijada!
E para todos aqueles que lerem esta mensagem, um grande abraço, que que nunca esqueçam que é mais fácil ganhar uma guerra com uma psicologia do que com as armas!

Presentemente toco saxofone Alto e barítono na Mini-Banda da Silveira - Oiã - Aveiro e normalmente tocamos em festas aqui pelos arredores, como arruadas, missas e procissões, além de outros eventos. Daí a minha foto actual, também fardado.

Um abraço para vocês todos!
Carmelino Cardoso


2. Comentário do editor:

Caro camarada Carmelino,

Brilhante e completa apresentação nos fizeste tu.

Em tempos foi publicado um poste resultante de uma mensagem que nos mandaste (P12486) onde mostravas a tua revolta pelo facto de teres de deixar esposa e dois filhos para fazeres a guerra.
Se era difícil para quem era solteiro, imagino a dor e a mágoa de quem deixava uma família formada, temporariamente desorganizada, quando não para sempre.

Felizmente a sorte sorriu-te e fizeste a tua comissão em Bissau, longe do perigo e sem sobressaltos.
Nem tudo foi mau para ti.

Quanto ao reconhecimento monetário pelo nosso esforço no ultramar, caro amigo Carmelino, esquece e pede para que te tirem o menos possível daquilo que agora auferes.

Para me consolar, costumo pensar que não foram "estes" que nos mandaram para a guerra, foram os "outros".

Como parece que estás apto a mandares-nos os teus textos e fotos, já sabes que estamos ao teu dispor para os receber e publicar.

Em nome dos editores e da tertúlia, deixo-te um abraço de boas-vindas e os votos da melhor saúde para continuares a tua faceta cultural na música.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 31 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12658: Tabanca Grande (423): Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), natural da Lourinhã, a viver em Fafe, grã-tabanqueiro nº 643

Guiné 63/74 - P12671: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493) (8): Tempos de Bissau - Estórias opostas

1. Em mensagem do dia 30 de Janeiro de 2014, o nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, MansamboFá Mandinga eBissau, 1972/74), enviou-nos mais um Pedaço do seu tempo.

Amigo Carlos
Votos de boa saúde, é o que te deseja este teu camarigo.
Hoje envio-te um retrato… daquele que foi o nosso tempo de Bissau, com o fim da comissão a parecer cada vez mais distante. Se no mato foi difícil, na cidade para nós também não foi nada agradável.

Um abraço.
António Eduardo Ferreira


PEDAÇOS DE UM TEMPO

8 - TEMPOS DE BISSAU - ESTÓRIAS OPOSTAS

Nos últimos dias de Janeiro de 72, acabado de chegar a Bissau, e de me ter “instalado” nos Adidos, passou pouco tempo sem me arranjarem serviço, Cabo da Guarda, à movimentada porta de armas.

Autêntico corrupio de militares e viaturas a entrar e sair.
Na Metrópole nunca tal serviço tinha feito.
Um pouco atrapalhado mas lá me fui desenrascando. Ao início da tarde apareceu um casal e duas crianças num carro civil para entrar, pedi ao senhor para se identificar, ele mostrou-me o bilhete de identidade, onde se via alguém fardado com uma boina como usavam os sargentos e oficiais, quando vestiam aquela farda cinzenta… não cheguei a ler as informações que constavam no cartão, imediatamente fiquei com a ideia que era um sargento, pessoa que aparentava ter aí quarenta anos, bati-lhe a pala e mandei-o entrar.

Só depois comecei a pensar no disparate que tinha feito, seria mesmo militar? Seria polícia… Quem era não cheguei a saber, mas ninguém me exigiu qualquer explicação, tudo correu bem.
Já durante a noite, o furriel que estava de serviço chamou-me para ir com ele fazer a ronda, a arma que me tinham distribuído naquele dia era uma pistola com o carregador quase do tamanho do cano, a coronha, ou lá o que era aquilo era uma verguinha dobrada, eu nunca tinha pegado em tal coisa. Estava ali um militar bem preparado se tivesse que a utilizar, mas tal não foi necessário, tudo correu bem, depois de passarmos por dois postos de sentinela, o furriel disse-me que não era preciso continuar a ronda e voltamos para a porta de armas.

Porte de Armas dos Adidos
Foto: Rumo a Fulacunda, com a devida vénia

Se no início de setenta e dois a guerra ainda era “fora” de Bissau, já não era bem assim no início de setenta e quatro, quando a nossa companhia já se encontrava na cidade. O rebentamento de um engenho explosivo nas casas de banho do Quartel-General e um outro que rebentou no Café Ronda, onde fui algumas vezes.
Certa noite no Pilão houve tiroteio durante algumas horas, ao ponto da nossa companhia ter sido mobilizada com todo o pessoal disponível nas viaturas pronto a sair. Cerca da uma hora da noite a “festa" acabou e o nosso pessoal desmobilizou.

A insegurança e o medo teimavam em não nos deixar. Foi com esse ambiente que vivemos o resto da comissão em Bissau, onde foram vários os serviços que a nossa companhia teve de fazer: Guarda ao Palácio do Governo (à data o general Bettencourt Rodrigues era o Governador), patrulhamento apeado em grupos de três, de noite, nos arredores da cidade, serviço ao cais quando chegava algum barco da Metrópole, uma coluna a Farim, (o único serviço que os nossos condutores fizeram de condução durante o tempo que estivemos em Bissau), serviço no paiol, guarda aos depósitos de onde era feito o abastecimento de água, serviço ao arame que circundava alguns sítios da cidade, onde tivemos uma baixa por acidente, o furriel Trindade, etc.

Só os criptos e um ou dois elementos da secretaria continuavam o serviço normal, o resto do pessoal passou a fazer os mesmos serviços.
A nossa companhia, depois de vir de Cobumba, teve como prémio fazer todos estes serviços e, dois ou três dias antes de regressarmos à Metrópole ainda fomos escalados para fazer mais uma coluna a Farim. Depois de termos a coluna preparada para sair, onde iam todos os condutores que tivessem viatura, por volta da meia-noite fomos informados que afinal tínhamos sido dispensados. 

Certo dia calhou-me estar de Cabo da Guarda à entrada do paiol, onde existiam umas pequenas instalações para nos recolhermos quando não estávamos de serviço. Para além de um telefone interno havia também uma lista com os nomes das pessoas que estavam autorizadas a entrar.
A certa altura chega à entrada um jipe da PM com um furriel e três soldados, o furriel sai em passo acelerado e diz-me que ia falar com o furriel que estava de serviço no paiol. Mandei-o parar e perguntei-lhe se o nome dele contava da lista das pessoas que podiam entrar, disse-me que não.
- Então não entra sem eu falar com o furriel.
- Mas é costume eu entrar.
- Pois, mas hoje não entra.

Enquanto não recebi ordens para deixar entrar, o camarada da PM, visivelmente contrariado, esperou à porta.
Não sei se seria consequência de quase vinte e seis meses de Guiné ou por recordar ainda a situação que vivera há cerca dois anos, quando nos Adidos deixei entrar alguém só porque supus ser um sargento, ou então se foi mesmo por ser da PM.

Não tinha nada contra a PM, de que fazia parte um vizinho e meu amigo.
Numa das vezes que vim de férias à Metrópole andei duas horas no jipe com eles em patrulha, quem me visse no meio daquele pessoal, talvez pensasse que tinha sido apanhado a infringir as regras militares, mas não, andava a passear.

Alguns, talvez por desconhecerem o que era de facto viver a guerra no mato, tinham atitudes que os homens chegados do interior não apreciavam mesmo nada. Mas era também a missão que alguém lhes exigia, ainda que alguma vaidade por vezes os tornasse pessoas pouco recomendáveis.
Mas nem todos eram assim…

António Eduardo Ferreira
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12606: Pedaços de um tempo (António Eduardo Ferreira) (7): Estórias de Mansambo onde a guerra foi outra

Guiné 63/74 - P12670: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (8): Gadamael em julho de 1967 e em outubro de 1968



Guiné >  Região de Tombali > Gadamael Porto > CART 1659 (1967/68) > Cartão de boas festas relativo ao novo ano de 1968

Foto: © Mário Gaspar (2013). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de Mário Gaspar [, foto à esquerda], com data de 26 de janeiro último:

Caros Camaradas e Amigos

Envio para o Blogue uma foto inédita, eu possuía uma maior mas desapareceu, que mostra Gadamael em 1967. Deve ter sido tirada em Julho/Agosto de 1967.

A outra que enviei e está no Blogue, foi tirada mais ou menos do mesmo local, e com a mesma máquina - curiosamente comprada no destacamento de Ganturé - a um Alferes Miliciano que,  como era de rendição individual, ficou com a CART 1659 em Ganturé - e com quem muito falei. Foi ele que nos orientou. Um camarada de Gadamael da CCAÇ 798 informou-me que o nome do Alferes Miliciano é Santarém e não Coimbra,  como eu julgava.

Um abraço, Mário Vitorino Gaspar

2. Recordações de um "Zorba" > Gadamael Porto em em meados de 1967

Eu, Mário Vitorino Gaspar, ex Furriel Miliciano de Artilharia n.º 03163264, com a Especialidade de Explosivos de Minas e Armadilhas e também artista em fornilhos, da CART 1659 em Gadamael Porto e Ganturé, envio esta foto muito danificada, encontrada entre os destroços e tirada por mim, que serviu para que muitos “Zorbas” enviassem as “Boas Festas e Ano Novo Muito Feliz” em 1967.



Guiné >  Região de Tombali > Gadamael Porto > Aquartelamento e tabanca em meados de 1967,  à chegada da CART 1659

Foto: © Mário Gaspar (2013). Todos os direitos reservados.


Observando a foto com mais atenção:

(i)  Mesmo do lado direito está um casarão de antigos colonos, onde funcionava a Secretaria, a Messe de Sargentos e onde dormiam alguns Sargentos;

(ii) À esquerda do mesmo está aquilo que denominávamos a Oficina Auto, onde muita viatura na sucata foi recuperada, tirando peças de umas para outras;

(iii) Também no lado esquerdo, parecendo branco, funcionava aquilo a que chamávamos de Cantina;

(iv) Logo a seguir, do mesmo lado esquerdo está o barracão onde funcionava o “Refeitório” (?);

(v) No limite do canto superior esquerdo vê-se,  mal, um outro casarão dos colonos onde funcionava o Comando da Companhia;

(vi) Do lado direito ao fundo avistam-se as moranças.

Tudo foi melhorado pela CART 1659, e pode-se ver através de uma foto que está no Blogue que eu enviei.
            
Fico bastante admirado com Gadamael Porto posteriormente a Outubro de 1968.



Guiné > Região de Tombali > Gadamael Porto > CART 1659 (Gadamael e Ganturé, 1967/68) > Aquartelamento e tabanca no final da comissão, em 1968

Foto: © Mário Gaspar (2013). Todos os direitos reservados.


3. Mensagem de Mário Gaspar, enviada a 10 de janeiro último ao Manuel Vaz, com conhecimento aos editores do blogue:


Amigo Manuel Vaz e Luís Graça;

Eu, ex Furriel Miliciano de Artilharia n.º 03163264, que cumpri a Comissão de Serviço em Ganturé (de Janeiro a Julho de 67) e depois em Gadamael Porto até Outubro de 1968, estou imensamente interessado em conhecer o que foi Gadamael Porto depois desta data, até à Independência da Guiné.  Com certeza, esperando pelo "trabalho de pesquisa sobre os Pelotões Independentes (Pel Rec, Pel Art e Pel Can s/r) que passaram por Gadamael", que o camarada Manuel Vaz está a fazer.

Tenho muitas dificuldades em entender o que se passou depois dos finais de 68.

Eu não me encontro adormecido, estou muito interessado em conhecer a História de Gadamael Porto. Falei inclusive com alguns amigos que pisaram aqueles terrenos depois da comissão da CART 1659. Podes ver a foto de Gadamael que enviei para o blogue em 68 - tirada por mim - e fico pasmado com as fotos de Gadamael posteriores.

Decerto que muitas família da ex-República da Guiné Francesa se refugiaram naquele espaço. Gadamael parece quase uma cidade. E os abrigos? O arame farpado? A paliçada? Voltaram as valas, que a minha Companhia nem sequer conheceu? O terreno estava armadilhado?

São poucas, das muitas questões que eu gostava conhecer sobre Gadamael Porto.

Manuel Vaz, ficas com o meu gmail.  Um abraço para os camaradas da Tabanca Grande Manuel Vaz e Luís Graça.

Do camarada Mário Vitorino Gaspar

Nota: Com conhecimento ao camarada da Tabanca Grande Luís Graça

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12579: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (7): Adenda á minha história de "morto-vivo"

Guiné 63/74 - P12669: Notas de leitura (559): "Guerra Colonial - Uma História por contar", edição da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Externato Infante D. Henrique (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Agosto de 2013:

Queridos amigos,
É de todos sabido que o silêncio ou indiferença perante uma patranha de contornos revoltantes é manifestação de cobardia ou de espírito acomodatício a quem conhece o fundo e a forma da realidade infamada.
O assunto que vos ponho à reflexão é de como agir e denunciar uma declaração ignóbil, daquelas que serve de rastilho para olhar com preconceito o que foi a vida de um combatente em África.
A indignação, por si só, não leva a ponto nenhum. O que talvez fosse útil debater é como agir perante uma barbaridade como aquela que aqui vos conto.

Um abraço do
Mário


Guerra colonial: dissociar o fidedigno da patranha

Beja Santos

A Biblioteca da Liga dos Combatentes e a sua entusiasta responsável, a Teresa Almeida, é um local de grandes surpresas. Como esta publicação editada, em 1992, pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão.

Na época, uma das linhas de modernidade da reforma educativa passava pelos projetos didático-pedagógicos que contribuíssem para cimentar uma relação mais estreita entre a escola e a comunidade.
Como se pode ler na apresentação do Presidente da Câmara:
“A memória de uma comunidade não pode ser apagada. Tem de ser permanentemente redescoberta para que o futuro do progresso e bem-estar que desejamos esteja isento de traumas, dramas… e tragédias”.
O trabalho foi desenvolvido por alunos de Antropologia Cultural do Externato Infante D. Henrique.
O professor diretamente envolvido esclarece:
“Muitos dos alunos são filhos de ex-combatentes que viveram e conheceram situações particulares de verdadeiro drama, são descortinarem com clareza as razões deste corredor cinzento da nossa História (…) Este trabalho traduz uma perspetiva vivida pelos protagonistas e figurantes de um acontecimento que marcou a nossa memória coletiva recente”.

Foram inquiridos ex-combatentes, entregaram aos alunos fotografias das suas vivências e comentaram-nas. Escolhi exclusivamente as três imagens que se referem explicitamente à Guiné.

A primeira tem a ver com a ida de um contingente que ia construir um novo quartel em S. João, em frente a Bolama. No decurso de uma flagelação, um soldado deixou cair o capacete, na ânsia do apanhar desceu da viatura e uma granada de mão feriu-o gravemente da cintura para baixo.


A segunda refere o ataque de 17 de Outubro de 1968 à base de Bissalanca. O inquirido refere que se encontrava no centro de mensagens do quartel-general. Chegara uma mensagem zulu da região de Bafatá, estava ali a decorrer um grande ataque inimigo, foi necessário ir à base de Bissalanca. Quando aqui se dirigiu, assistiu ao forte ataque à base aérea. Refere que houve sete vítimas mortais, do nosso lado, que houve feridos graves.



A terceira imagem reproduz-se na íntegra, tal é o desconchavo do que ali se diz. O inquirido refere que atacaram uma base inimiga junto ao Senegal e que despacharam milhares de inimigos. Como é evidente, num trabalho desta natureza um professor não pode confrontar a verdade das afirmações, se se ia fazer um quartel em S. João, se houve um ataque à base aérea de Bissalanca. Mas, creio eu, não pode ficar insensível à afirmação de “despachámos milhares de inimigos”, coisa que nunca aconteceu em nenhum teatro de operações nem podia acontecer, atendendo à natureza daquela guerra. Vamos supor que ninguém deu pela barbaridade ou aceitou a informação como plausível. É de questionar como tal declaração é percecionada pela opinião pública e os preconceitos que pode suscitar a patranha ou farronca de quem, entrevistado por gente inocente, se julga à vontade para proferir pesporrência. Vamos admitir que se trata de um caso isolado. Mas ninguém leu esta brochura que foi distribuída por uma autarquia, ninguém reagiu, ninguém se consternou com a gravidade da declaração ofensiva?



Assunto que nos devia fazer pensar, tanto quanto me parece.
A quem de direito.
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de Janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12659: Notas de leitura (558): "Ideia Geral do Valor Estratégico do Conjunto Guiné-Cabo Verde e da Ilha de São Tomé", por Luís Maria da Câmara Pina (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12668: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (31): Natália Correia e os filhos dos retornados (vingativos)

1. Mais um apontamento do caderno de notas do nosso mais velho, António Rosinha [,  foto à esquerda; fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979: ou, como ele gosta de dizer com sentido de humor, colon, em Angola, de 1959 a 1974; cooperante na Guiné-Bissau, de  1979 a 1993; membro da nossa Tabanca Grande desde 29 de novembro de 2006]:


Penso que Natália teve um raciocínio correcto, mas que se pode aplicar menos em Portugal mas mais à França (pied-noir). (Paris de vez em quando já arde).

A insularidade (de Natália) pode levar a sentimentos de isolamento e claustrofobia, mas também a sentimentos de sossego, tranquilidade e comodidade e segurança- Mas também a insularidade pode levar a capacidades de auto-suficiência, de capacidade de sacrifícios e correr riscos e “fugir dalí para fora" e enfrentar todos os perigos.

Os insulares pensam mais e agem diferente de um continental.

Aqui em Portugal continental também somos muito pen-insulares, mas não dá para raciocinar como Natália Correia.

Os açoreanos têm muitos escritores, jornalistas e políticos que sempre sobressaíram, talvez por serem insulares. Exemplos como os primeiros presidentes da República e muitos deputados, e escritores como Vitorino Nemésio, Antero de Quental e Natália Correia.

Depois de 800 anos de monarquia só um insular podia imaginar-se presidente de uma República, da noite para o dia com o mesmo à vontade comque Natália se expunha na Assembleia da República, que pouco antes era só de homens. (Não digo que ilheus sejam loucos…mas).

Habituei-me a ouvir açoreanos, caboverdeanos e madeirenses, só não ouvi bijagós porque não falavam nem crioulo nem português nem eu bijagó.

Dizia no 26 de Abril um madeirense em Angola: é melhor fazermos as malas porque a partir de agora a guerra de Angola deixa de ser nossa, e já não temos Salazar.

Embora esse mesmo madeirense possa aventurar-se a permanecer, mas o raciocínio foi imediato. (Eu aproveitei o conselho do madeirense)

E nós portugueses quando nos metemos em assuntos da Europa, cada ministro devia ter um conselheiro ilhéu mesmo que fosse inglês, também ilheus.

Digo isto tudo porque Natália Correia, que era muito lida no tempo colonial em Angola, na revista “ Notícia”, escreveu sobre os filhos dos retornados algo que dificilmente um continental escreveria.

Quem tem divulgado muito as curiosidades de Natália Correia é um filho de retornado, Fernando Dacosta, no livro “Botequim da Liberdade”, e circula pela internet.

Também “filho de retornado” foram pessoas como oficiais do MFA (Otelo),  generais como o falecido Soares Carneiro, candidato a Presidente, do amigo de Natália, Sá Carneiro, do futebol Carlos Queiroz, e tudo o que se diz Peyroteo, dos jornais e televisão é melhor nem enumerar tal a quantidade de filhos e até netos de retornados.

Será que os filhos e netos de retornados podem vir a ser aquilo que diz Natália? Ela diz isto:

"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder.Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"

Pois bem, há filhos de retornados totalmente revoltados que circulam entre nós, que se negam a considerar-se igual a um qualquer “indígena” beirão, minhoto ou transmontano ou açoreano.

Muitos filhos e netos adultos, de retornados, no 25 de Abril nem todos se fixaram em Portugal, os mais preparados circularam como “cooperantes” pelas colónias e emigraram para o Brasil, Austrália, Canadá e mesmo para a Europa.

Em geral só se houve falar em gente dessa com sucesso na vida.

Só na Guiné Bissau eram retornados ou filhos deles, quase todos os engenheiros, mecânicos etc. que fizeram as obras maiores de Luís Cabral: na Tecnil, Soares da Costa, Somec, Visabeira etc.

Foram para o Brasil, filhos de retornados, para quem “ser português” nem querem que alguém pense tal coisa deles.

Este blog é para contar o que se viu e viveu, e como parte da minha vida foi trabalhar com retornados, filhos e netos dos mesmos, no Brasil, na Guiné, na Madeira, na Expô 98, dou muito sentido ao que diz Natália Correia. Só me pergunto onde é que ela se foi informar tanto.

Será que foi em viagens à França? É que em Portugal foi uma minoria que os nossos «pieds-noirs» [, pés negros, termo depreciativo, uasado em França, para os 'retornados da Argélia, L.G.] que ficaram por cá pois a maioria dispersou-se, ao passo que a França recolheu tudo e todos, e já se viu o efeito da transfiguração e africanização e islamização da França.

Só amenizo as afirmações de Natália, na medida em que nós próprios já em maioria somos bisnetos de retornados do Brasil, Angola, India, só que agora foi um retorno um pouco mais intenso, mas mesmo assim, reduzido.

Mas como há filhos de retornados que nos consideram “muito pequeninos”, para não dizer nomes que tive que ouvir, há muitos que estão integrados e nem ligam para «estas coisas» da Natália Correia.

Antº Rosinha

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Nota do editor:

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12667: Em busca de... (236): Pessoal da madeirense CCAÇ 4945/73, mobilizada no BII 19 do Funchal (Bernardino Laureano)

1. Mensagem do nosso camarada Bernardino Laureano, TCor Ref, que integrou a CCS/BCAV 3846, Ingoré, 1971/73, actualmente Presidente da Direcção do Núcleo do Funchal da Liga dos Combatentes, com data de 1 de Fevereiro de 2014:

Meu Caro Amigo e Sr. Luís Graça e claro Amigos Carlos Vinhal e Magalhães Ribeiro
Bom Dia e votos de saúde e de Bom Ano para Todos e Suas Exmas. Famílias.

Sou o Ten Cor Bernardino Laureano que em tempo já trocámos mensagens sobre a n/estadia na Guiné, aquela Guiné que ainda hoje temos bem gravada nos nossos pensamentos, por tudo o que lá passámos e pelas recordações que guardamos, algumas que nos deixam saudades, principalmente das gentes que estiveram sempre a nosso lado.

Integrei o BCav 3846 que esteve na Guiné desde Abril de 1971 e saiamos em Março de 1973. Pertenci à CCS e cumpri a minha Comissão no Ingoré, já que o Sector do Batalhão começava em Varela e se estendia a norte do Rio Cacheu até Barro.

Sou actualmente o Presidente da Direcção do Núcleo do Funchal da Liga dos Combatentes, funções que me ligam a um número muito grande de Camaradas que serviram as FA nos ex-Territórios Ultramarinos. Por outro lado, dadas as minhas funções tento apoiar todos os nossos Amigos que me solicitam ajuda, como é o caso que me leva até junto de vós e que passo a expor desde já:
Preciso de saber se a CCaç 4945/73 e o Comando de Agrupamento 6009, a primeira que esteve na Guiné desde Setembro de 1973 e regressou ao Continente em 9 de Setembro de l974, enquanto que o Cmd Agr 6009 chegou a Moçambique em Dezembro de 1973 e regressou no final de 1974, se costumam reunir em convívios e quais os contactos possíveis.

Em relação à Guiné creio que o meu pedido pode ser mais fácil na medida em que no vosso Blog de 22 de Janeiro de 2012, faz referência a Fernando Gomes Pinto da CCAÇ 4945/73 (Guiné, 1973/74), Alferes Mil Cmdt do 2.º Pelotão.

Esta minha solicitação insere-se no pedido de um ex-combatente de nome Sebastião da Silva de Freitas, pertencente ao 1.º Pelotão que tinha como seu Cmdt o Alferes Mil Valente.

Este Camarada quer reunir-com os seus antigos Companheiros ou no saber notícias deles.

Agradeço antecipadamente qualquer notícia possível e envio para Todos Vós um grande abraço de amizade, estima e consideração
Laureano


2. Comentário do Editor:

Caro TCor Bernardino Laureano, muito obrigado pelo seu contacto.

Em relação ao pedido que nos faz, a não ser publicá-lo aqui, esperando que alguém nos possa dar uma ajuda, nada mais podemos fazer uma vez que não há ninguém na tertúlia que tivesse integrado a CCAÇ 4945/73. Tentei encontrar nos nossos arquivos o endereço do camarada Fernando Gomes Pinto, que em tempo nos contactou, mas também não tive êxito.

Lamentando não podermos ajudar, ficamos contudo à sua disposição.

Receba os nossos cumprimentos
Carlos Vinhal

Sobre a CCAÇ 4945/73

Reprodução da página 429 do 7.º Volume - Fichas das Unidades - Tomo II - Guiné da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974)
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12636: Em busca de... (235): Nelson Silva, natural de Oliveira do Hospital, o qual terá pertencido a uma Companhia de Comandos, e que terá desertado (Rui Poeira)... Resposta do nosso colaborador José Martins

Guiné 63/74 - P12666: Fragmentos de Memórias (Veríssimo Ferreira) (12): Era uma vez...

1. Em mensagem do dia 31 de Janeiro de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) enviou-nos este comentário para integrar a sua série Fragmentos de Memórias.


FRAGMENTOS DE MEMÓRIAS

12 - ERA UMA VEZ...

Decidira ontem, não voltar a explorar a minha memória e até porque julgava eu que nada mais haveria para lembrar, só que hoje no post 12640, publicado na nossa Bíblia "Luís Graça & Camaradas das Guiné" li: "Eu Queria pra Brancos Voltar Governar Guiné de Novo".

Revolveu-se tudo cá dentro e então, cá venho incomodar-vos o intelecto.

E a esse propósito:
Vou-me encontrando de quando em vez, em convívios da Tabanca da Linha, com a rapaziada que esteve na Guiné e como não poderia deixar de ser a guerra vem sempre à baila, embora na maioria das vezes, relembrando locais por onde passámos.

Eu que vagar tenho, vou-me esforçando por entender o porquê daquele horror, que tantos mazelas custou a esta juventude, que nos anos 60 e 70 do Séc. XX teve de ir combater.
Refiro-me a mim próprio e aos bravos companheiros que partilhamos a mesa nos tais convívios atrás referidos e claro que a todos os que como nós estiveram depois, usufruindo daquelas férias em terras africanas.

Acontece que fui investigar e lá me apareceu um "austrolopithecus africanus", coisa assim mais macacal, do que dizem terem sido os nossos antepassados. Curiosamente os primeiros conhecidos teriam sido descobertos na África do Sul, afinal ali bem perto da nossa Guiné, (aqui no meu mapa está a 10 centímetros).
Posteriores estudos descobriram que na mesma época já existia uma raça melhor desenvolvida, inteligente e explorada, que ficou conhecida pelos "alentejanuspithecus", que personalizo e qu'até já utilizavam instrumentos para cavar a terra, tais como a enxada e o arado, coisas que permaneceram milhares d'anos, para proveito dos pobres patrões fascisantes. Entrementes agora, que estou a acender mais um cigarro cuido-me a ler: "Fumar pode reduzir o fluxo de sangue e provoca impotência".

Ora porra... e eu a julgar que era da idade, afinal parece que se deve ao facto de há 57 anos fumar.

Sim... porque comecei aos 14 com os "Provisórios", passando depois a meio do mês para os "mata ratos" e já mais no final do dito mês, até as barbas de milho ou folhas de balsa, devidamente moídas, serviam.

Mais tarde, (na minha Guiné) e somente a título informativo, passei para o "Paris"... "Três Vintes", logo após o que e considerando o invento dos filtros apensos à chucha, para o "SG Gigante" qu'era maior.

Nunca me deu muito jeito, confesso, foi o ter de embrulhar o conteúdo das onças de tabaco "francês" ou "superior", no papel "galo" ou "zig-zag" que no final, haveria de se lamber a mortalha e como uma vez cortei o lábio desisti dessa coisa do meter a língua de fora.

Bom... acho que me estou a afastar do tema.
Vamos lá regressar ao dito:
A afirmação desejo, que considero arrojada, dum jovem que poderá vir a ser alguém (assim o espero) não é inédita e outros já o tinham dito antes. Verdadeiramente e como disse um camarada combatente "ela já se deu... os brancos da droga já lá mandam".
De qualquer forma atrevo-me a propor que se consulte o seu povo através desta coisa nova a que chamam Referendo.
Tal já foi feito em países civilizados como na Austrália onde se perguntou se queriam ser independentes ou continuar ligados aos cinco tostões Britânicos. Preferiram a Coroa, por muito estranho que pareça e até mesmo ali em Gibraltar, local duma pedra grande, a população quis também ficar como nos antigamente.
Por isso digo: referendem e caso necessário, a gente volta sim senhor.

O IN sempre se fortaleceu com os nossos medos, só que agora o IN seríamos nós, eu pelo menos tenho-lhes umas ganas!!! Não para os combater, ou fazer qualquer mal, mas apenas para tentar educá-los, civilizacioná-los, ajudá-los enfim.

Em boa verdade, o que se está a passar lá, onde deixámos muito sangue suor e lágrimas e deste há muitos anos, ronda a bestialidade.
Bestialidade que usaram contra nós, só que a continuaram contra eles próprios, desde que lhes demos de mão beijada a independência. E não me venham com a história de que eles venceram, porque na verdade tal não aconteceu. Nós é que desistimos... nós oferecemos.

Nem vale a pena tentar tapar o sol c'a peneira pois que a verdade é só uma não duas ou três, como já tenho visto teóricos defenderem (sempre os mesmos que se escondiam debaixo dos GMC's e no ar condicionado).

(continua)

PS: - Continuarei a "estudar o porquê daquele horror... etc, etc, etc", prometendo-vos que de tal vos darei conhecimento.
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12638: Fragmentos de Memórias (Veríssimo Ferreira) (11): Março de 1967, aproximava-se o fim da comissão de serviço

Guiné 63/74 - P12665: Parabéns a você (686): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305 (Guiné, 1970/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12651: Parabéns a você (685): Luís Graça (Henriques), ex-Fur Mil Armas Pesadas da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71) e fundador e Editor principal deste Blogue

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12664: História de vida (37): O AVC é uma doença subtil que chega sem avisar (José Saúde)

JOSÉ SAÚDE NO PROGRAMA "CONSIGO" DA RTP2

Exemplo de vida de um velho combatente da Guiné

Fui, sou e serei sempre a mesma pessoa

A propósito da sua aparição, hoje, no programa "Consigo" da RTP2, recebemos esta mensagem do no nosso camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp da CCS do BART 6523, Nova Lamego, 1973/74:

Camaradas
Recuso, tal como sempre recusei, hastear uma bandeira que tentou limitar-me a liberdade.
Uma liberdade que muito prezo e que me faz reviver tempos áureos onde a minha força moral e anímica me catapultaram para espaços quiçá impensáveis.

Assumo:
Fui Ranger e antigo combatente na nossa Guiné.
O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, abriu-me uma janela que, na minha conceção, projetaram as minhas narrativas para um plano que hoje considero francamente divinal.

A madrugada do famigerado dia 26 de julho de 2006, carimbou-me com a chancela de acidentado, mais um, de AVC.
Recusei caminhar na fatídica viagem daqueles que nesse ano fizeram parte da estatística que partiram para a eternidade.
Segundo os dados oportunamente recolhidos junto a fontes fidedignas, 50 por cento morreram e os outros 50 por cento ficaram neste cosmos terrestre para contarem essa horrenda aventura.


"AVC NA PRIMEIRA PESSOA" foi uma obra por mim lançada a público e que refere na realidade um exemplo de vida deste velho combatente na sempre nossa Guiné.

Um exemplo que ficou explícito numa reportagem no Canal 2 da RTP, programa consigo, no pretérito sábado, 1 de fevereiro, e que mostrou à sociedade esta enorme força que existe no interior do meu ego.

Com a devida vénia ao Programa "Consigo" da RTP2 e um obrigado ao nosso camarada António da Rocha e Costa que partilhou este vídeo no seu facebook. Para ver clicar aqui

Este vídeo da reportagem enviado pelo meu/nosso camarada e amigo Carlos Vinhal, é, no fundo, também uma mensagem que deixo aos camaradas que cruzaram, tal como eu, transversalmente o território da Guiné, alertando-vos que o AVC é uma doença subtil e que chega inesperadamente sem avisar.

Vejam que o vosso camarada Zé Saúde, não obstante a sua debilidade física, é e será eternamente um amigo e com a minha mente sã.

Abraço, camaradas
Zé Saúde
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE SETEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10382: História de vida (36): Nha mininu Zé Manel - uma visita à escola do padrinho (Manuel Joaquim)

Guiné 63/74 - P12663: Agenda cultural (301): Tertúlia Fim do Império, dias 13 de Fevereiro, 13 de Março, 10 de Abril e 8 de Maio de 2014, às 15h00, na Messe de Oficiais, Praça da Batalha, Porto

1. Mensagem do Coronel Ref Manuel Barão da Cunha que foi CMDT da CCAV 704/BCAV 705, Guiné, 1964/66:

Caríssimos camaradas e amigos,
Anexo convite para 11.º ciclo da tertúlia «Fim do Império» no Porto, na Messe de Oficiais da Batalha, a iniciar já no dia 13, 15h00, sendo o livro apresentado pelo general Sousa Pinto, natural do Porto, com comissão na Guiné e presidente da Comissão Portuguesa de História Militar, esperando-se que também participe o co-editor dr António Carlos Azeredo.

Fiquem bem,
MBC

C O N V I T E

TERTÚLIA FIM DO IMPÉRIO

MESSE DE OFICIAIS - PRAÇA DA BATALHA - PORTO

DATAS: 13 DE FEVEREIRO, 13 DE MARÇO, 10 DE ABRIL E 8 DE MAIO DE 2014


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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12641: Agenda cultural (300): Noite Temática Guineense, dia 1 de Fevereiro de 2014, no Centro InterculturaCidade, a partir das 20,00 horas

Guiné 63/74 - P12662: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (15): Mafra, Tavira, Caldas, Santarém, Vendas Novas..., nos tornaram vítimas e agentes (Vasco Pires)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72) com data de 19 de Janeiro de 2014:

Caríssimo Luís, Como costumas dizer: ...as palavras são como as cerejas...
Aí já fui falando demais, e me comprometi com algo, que para tanto não tenho "nem engenho nem arte".

Quarenta anos depois, tentar falar do "choque", - sim como se fosse elétrico - da disciplina de Mafra, sobre a nossa inocente geração, é muita ousadia.

Na já remota década de 60, éramos uma ilha desinformada, apesar de muitos de nós se julgarem seres politizados. Muitos de nós tínhamos acabado de sair das "asas" paternas, e de sua extensão que era o Colégio local.

Lembra que naqueles tempos não tinha uma Universidade em cada esquina, ainda não tínhamos sido inundados por Escolas com cursos que para nada serviam senão como fábricas de Professores que ficariam necessariamente desempregados, somente Coimbra, Porto e Lisboa tinham Universidade.

E lá íamos nós, em busca de independência e informação, alguns de nós criavam a ilusão de serem bem informados só porque escutavam a BBC, a Rádio Argel ou a Rádio Moscovo, alguns outros de famílias de "Viúvas da Outra Senhora", diga-se República Velha, mais por crença e interesse do que por qualquer motivo mais nobre, formavam o dito na altura "Reviralho", mais à esquerda outros militantes alguns profissionais.

A já longa guerra nas, à altura ditas, Províncias Ultramarinas, as notícias do Maio de 68 em França, e da reação da juventude da classe média Americana à guerra do Vietnam, somaram-se para ajudar a criar um clima de agitação nas Escolas Portuguesas; eu, na altura estava em Coimbra, a Diretoria Eleita da Associação Académica já tinha sido compulsoriamente afastada, o clima era de agitação.

A nossa agitação era fruto de um caldo cultural diferente dos países ditos democráticos que tinham sofrido profundas mudanças estruturais e superestruturais como consequência direta da Segunda Grande Guerra; lembra que o Senhor António tinha livrado nossos pais desse horror! Muitos de nós se julgavam em processo de ruptura com ordem estabelecida, alguns libertários outros mais comedidos, quase todos "freudianamente" prontos para metafóricamente matar o Pai lá de Santa Comba.

Mas éramos todos muito inocentes, aí com facilidade o sistema nos enquadrava com um Tenente e dois Cabos Milicianos e às vezes, poucas, um Sargento.

Poucos dias depois receosos de perder o fim de semana, íamos-nos tornando instrumentos de um sistema que durante tantos anos (63 a 74), enquadrou uma geração de pouca sorte.


"Máfrica" - Vista aérea do Palácio de Mafra - Com a devida vénia a Google Earth


O processo começava aí: "Máfrica", Vendas Novas, Tavira, Caldas da Rainha...
E lá íamos nós, mais ou menos convencidos e eficientes agentes, enquadrar outros mais, pelos quartéis de Portugal e de África. Mafra e Tavira, eram o início de um processo de inserção no sistema de muitos milhares, que a propaganda chegou a fazer pensar, que estavam "dilatando a Fé e o Império". 

Mafra, Tavira, Caldas, Santarém, Vendas Novas..., nos tornaram vítimas e agentes.
Estão abertas as "hostilidades"...  Quanto aos números, "passo a bola" ao Camarada José Martins.

Forte abraço a todos
Vasco Pires
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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12649: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (14): As localidades por onde passei, sofri e amei - Conclusão (Veríssimo Ferreira)

Guiné 63/74 - P12661: Os nossos seres, saberes e lazeres (65): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (9) (Tony Borié)

1. Em mensagem do dia 26 de Janeiro de 2014, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos o 9.º episódio da narrativa da sua viagem/aventura de férias, num percurso de 7000 milhas (sensivelmente 11.265 quilómetros) através dos Estados Unidos da América, na companhia de sua esposa.




7000 MILHAS ATRAVÉS DOS USA - 9

Companheiros, cá vai a continuação da viagem, alguns de vós vão dizer que é mais longa que “a espada de D. Afonso Henriques”, outros até com toda a certeza dirão, “olha, mais americanisses” e, alguns até vão mais longe e dizem, “só dá Umbigo!

Bem, vamos continuar, os companheiros que gostarem, divirtam-se, os outros, tenham um pouco de paciência, passem à frente e, “suportem lá”, pois a intenção é só única e simplesmente, partilhar com todos vocês, informar-vos o que existe neste continente, como eu gostaria de saber o que vai pelas cidades, vilas ou aldeias do nosso Portugal, até do resto da Europa, da África ou da Austrália.    
Já chega de “blá, blá, blá”, cá vai.


Quase dormimos no hotel em Austinburg, no estado de Ohio, pois talvez alta madrugada, um camionista mais atrevido buzinou, talvez para acordar algum condutor que ia na sua frente devagar, ou qualquer outro motivo, e claro, acordou-me e, por mais voltas que desse “não preguei mais olho”, como é costume dizer-se, pois o barulho na estrada e na estação de serviço da área, mais o cheiro a “tabaco antigo”, que havia em todo a área dos aposentos, manteve-me “alerta”.
Vai daí acordo a minha companheira e esposa, dizendo-lhe que são horas de começar viajem, ela, um pouco aborrecida, lá se levantou, preparamos tudo e tomámos um café, tomando o rumo do leste na estrada número 90.

Um pouco de música, mas verdadeiramente só acordamos quando amanheceu, já íamos próximo da cidade de Erie, no estado de Pennsylvania, dizem que o nome foi dado a esta cidade por causa do grande lago com o mesmo nome, onde está localizada e, por uma tribo de nativos americanos, que por aqui viviam ao longo deste mesmo lago, até dizem que derivado à sua localização geográfica, é a quarta cidade maior do estado Pennsylvania, depois de Philadelphia, Pittsburgh e Allentown.

Milhares e milhares de pessoas visitam a cidade de Erie, para se divertirem e não só, no “Presque Isle State Park”, com atrações de casino e corrida de cavalos.


Aqui parámos, tomando alguma fruta e água, que sempre vai na caixa refrigeradora, continuando a nossa rota rumo ao Atlântico, entrando no estado de Nova Iorque.

O estado de Nova Iorque, não deve ser confundido com a cidade com o mesmo nome, localizada ao sul do estado, pois a cidade de Nova Iorque, além de ser a maior cidade do estado, com os seus 8,5 milhões de habitantes é também a cidade mais populosa dos Estados unidos. O cognome de Nova Iorque, é “Empire State”, e muita gente acredita que este apelido vêm de um comentário feito por George Washington, que uma vez disse, que Nova Iorque, era o “Centro do Império”.

Historiando um pouco, Nova Iorque, foi originalmente colonizada por holandeses, que logo chamaram à região, “Novos Países Baixos”, e também fundaram um assentamento na ilha de Manhattan, chamando Nova Amesterdã, mas quando a Inglaterra capturou o estado aos neerlandeses, deram o nome, tanto ao estado como à cidade, localizada em Manhattan, de Nova Yorque.


Continuando na rota rumo ao Atlântico, ao longo da estrada número 90, onde se paga portagem, havia alguma cultura de milho, videiras, algumas com uvas, ainda verdes, claro, passando pela cidade de Buffalo, era a vinte e poucas milhas de Niagara Falls, mas ainda era manhã cedo. Como já tínhamos visitado as “cataratas” algum tempo atrás, resolvemos andar em frente, já havia montanhas que se subiam e desciam, e como viajávamos em direcção ao leste, o sol que estava a começar a “despertar”, fazia desenhos no horizonte em cima de algumas cordilheiras de montanhas, um espectáculo único, que só se admira talvez uma vez na vida, fazendo-me a mim e à minha companheira e esposa, pensar que somos uns privilegiados, que o “Criador” às vezes contempla as pessoas. E, se pensarmos um pouco, verificamos que na nossa idade, pois já não somos “crianças”, não é preciso ter-se uma boa situação financeira para se viver neste mundo, basta controlar os fracos proventos angariados numa vida honesta, de trabalho, depois de algum sacrifício, preparando a educação dos filhos, para seguirem com as suas vidas, neste mundo de hoje, um pouco ingrato para alguns. Isto é verdade, mas seguindo um provérbio dos índios “Sioux”, que diz, “nascemos nus e nus havemos ir, só por cá passamos”, é preciso sim, ir tendo alguma saúde, irmo-nos alimentando, tanto física como espiritualmente, ter-se uma consciência limpa, andar de bem consigo mesmo, não fazer a alguém, aquilo que não queremos que nos façam a nós próprios, e admirar a natureza que esse tal “Criador” colocou ao dispor de todos nós.

Continuando, passamos pela cidade de Rochester, Syracuse, Utica, pois o nosso destino era a casa de um familiar nas montanhas do norte do estado de Nova Iorque, que era a aldeia de Northville, onde chegamos já passava do meio dia.


A aldeia de Northville foi fundada por volta de 1786, mas as áreas ao sul da aldeia foram ocupadas por volta de 1762. Todo este aglomerado de casas estava situado em terreno alto, na vertente da montanha, naquele vale, onde passava o rio Sacandaga. Quando o reservatório do Sacandaga foi inundado em 1930, o vale tornou-se num braço do “Grande Sacandaga Lake”, pois a Barragem Conklingville, que terminou em 1929, trouxe a expansão do Grande Lago Sacandaga para a borda da aldeia, onde hoje é o “paraíso” de centenas de pessoas que fazem de Northville a sua estância de férias na montanha.


E não fica muito longe da civilização, é mais ou menos a quatro horas de carro de Manhattan, que é o mais antigo e mais densamente povoado dos cinco bairros, freguesias ou distritos, depende de como lhe queiram chamar, que formam a cidade de Nova Iorque, e que fica na foz do rio Hudson.

Os familiares eram a nossa filha e o marido, onde passamos dois dias, viajando pelo lago, entre montanhas, onde ainda se pode beber água pura, nos riachos que correm do cimo.
Fizemos pequenas viagens pelos arredores, vimos alguns animais selvagens, como por exemplo ursos. Também visitamos a cidade de Saratoga, onde existe as famosas corridas de cavalos, e as pessoas, pelo menos foi o que nos deu a parecer, fazem uma vida muito estranha ao normal dos comuns. Aí passamos dois dias maravilhosos.

Este foi o resumo dos dias 9 e 10.
Tony Borie,
Agosto de 2013
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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12598: Os nossos seres, saberes e lazeres (64): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (8) (Tony Borié)

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12660: História da CCAÇ 2679 (66): "O Jagudi", o jornal de Bajocunda (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 29 de Janeiro de 2014:

Viva Carlos!
Hoje vou dar notícia do aparecimento de um jornal em Bajocunda.
Não farei a transcrição na íntegra, por motivos óbvios, talvez com excepção de uma ou outra peça, mas darei luz a assuntos ali tratados.

Um grande abraço que inclua o resto do tabancal
JD


HISTÓRIA DA CCAÇ 2679

Aperitivo para o que inspira o texto:

A Era do Abutre (1)
(Filii Negrantum Infernaliium)

A era do abutre abre os seus portões
De gelo, tormenta, trovão... Eu chamo a noite, sombras... mil sombras violam
A puta virgem... A execução em gargalhadas de aço e
Sangue, abraça a noite negra
Opressão, Tirania... Triunfará o mais forte
E nós, demónios, chupamos sangue, Fome de carne, fome de dor! E feiticeiras em escarlate
Coroam-me senhor (princípio da dor) infernal
O mal avança, chicote do espírito
Matéria, carne, monarca
Tiamat: Faz tremer o todo, Marte... Deus da guerra total (sempre imperial), 
O voo do abutre

(1) - Retirado da Wikipédia, autor não identificado

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66 - "O JAGUDI"

O abutre (Jagudi, sinónimo guineense), é uma ave de rapina necrófaga, voraz, pesada, de asas compridas, que se alimenta de restos de quaisquer animais mortos (o político abutre nunca se contenta com os ganhos).
Pode dizer-se que tem a função ecológica de limpar os locais onde existam cadáveres, ou moribundos. É frequente no continente africano, mas também aparece em Portugal, nas regiões fronteiriças do leste, desde Trás-os-Montes, até ao Algarve, com predominância nas regiões Marvão a Mértola.
Parece, mas não é o grifo. Trata-se do abutre-preto, ou abutre-egípcio, a maior ave planadora dos nossos céus, que chega a ter a envergadura três metros.

Em Junho de 1971, na localidade de Bajocunda, que fica no nordeste da Guiné, então província ultramarina portuguesa, soprada pelas brisas quentes oriundas do deserto, nasceu, novinho, esperançoso e prometedor, um orgão da comunicação social baptizado de "O JAGUDI, Jornal da C.Caç.2679".


Magnifico pela satisfação que transmitia depois de produzido no stencil e de agrafado num corpo mais ou menos coerente, que lhe conferia o pretensioso epíteto de jornal, com tiragens que se prometiam regulares, posso dizer que se tornou um elo de ligação entre a juventude que agregada sob aquela unidade militar, costumava deambular naquela terra, e uma vez por mês tinha acesso às fresquinhas ali publicadas.
Mesmo que não o lessem, era o jornal dos madeirenses.

Não era rigoroso, nem coerente, nem de combate, mas era conforme as ocasiões, naif e experimental, chegou a merecer especial atenção de S. Ex.ª o Comandante-Chefe, bem como do Jornal do Exército que destacou, publicando um artigo de opinião sobre a emigração e a relação com as sociedades que se desenvolviam na África portuguesa; para além da simpática leitura no Pifas de alguns dos textos publicados.

Não era, ao contrário do que pode inferir-se da nota aperitiva, um jornal inspirador de guerras e guerreiros, com carnes a sangrar alarvemente em festas inspiradas por Ares, Marte e Odin, tal como as mitologias grega, romana e nórdica, visíveis com luzes arrelampadas, que projectavam sombras em festins bárbaros, com música de rajadas em substituição das tubas.
Pelo contrário, era o panegírico da "amizade e expressão de camaradagem", e "um mensageiro da Paz", que o editorial do primeiro número garantia transmitir "a certeza de que a integridade da Nação é um facto irrefutável", conforme o atestava o Comandante da Companhia, sem qualquer pressão ou inibição da liberdade de expressão - que eu saiba.

O JAGUDI não nasceu em maternidade, mas carecia dos meios que só a Companhia podia garantir, a utilização do stencil e o uso de químicos e papel, do resto eu prestava-me a fazer, num esforço para aprender a escrever à máquina com dois dedos, muito mais fantástico do que os dactilógrafos profissionais, que o faziam com os cinco dedos de cada mão. Essa ocasião foi aproveitada pelos xicos, que pensaram tirar o melhor partido da iniciativa, tanto que o 1.º sargento, em carta aberta, fazia votos para que não fosse de "carácter puramente belicoso, mas que se torne motivo de distração e humorista". "Fartos de guerra andamos nós", perorava em tom de aviso, e imaginava-se o homem do lápis azul, enquanto prosseguia com determinação "procuraremos imprimir ao nosso jornal aquilo que já dissemos, sem descurar um instante o porquê da nossa estadia aqui".

E passava pelo lombo o discurso da admiração em termos de falsa admiração: "Pais, regozijai-vos... Podeis estar certos que eles perpetuarão... este Portugal quase milenar", cimentados em "laços de sangue ideológico".

E depois de se dirigir às mães e aos pais, não se esqueceu das noivas, e prognosticou que os desejados laços se fundirão para sempre perante Deus e a sua Igreja. Finalmente, dirigiu-se às esposas, garantindo que os pais dos filhos bem merecem "este encargo", para além "da sua integridade e fidelidade conjugais".

Portanto, e para que conste, não houve cenas voluptuosas durante a nossa permanência em Bajocunda, e quando ao fim da tarde, com o cigarro pendurado ao canto da boca, e umas coisitas debaixo do braço, o 1.º Sargento rumava à tabanca, infere-se que lá ia imbuído de espírito religioso apenas para ajudar a minorar a pobreza local.

Sob a designação de "Tema" também foi publicado um texto do Furmil Dinis, que equacionava a continuidade do jornalinho, dependendo do interesse dos leitores, quanto mais não fosse, "para um dia mais tarde ir ao fundo da arca buscar uns papéis amarelos, que de algum modo nos façam pensar no que somos, no que seremos (tínhamos 20 aninhos) e no correr do tempo e da vida", e adiantava que "F. não é mais diferente daquele outro, e através de uma página do jornal está a querer conversar com todos, a expor as suas convicções ou o que aprendeu, está a ser um amigo", no que parecia um convite à participação.

Além disto só houve lugar a distracções e uma página com publicidade, mediante um contrato firmado com a principal empresa de águas naquele território.

O jornal foi enviado para o ComChefe e para o Pifas que desde então passou a ler extractos da publicação.

Voltarei para dar notícia do n.º 2.

O abutre rima com Futre, nutre-se de cadáveres, tira proveito da desgraça alheia, mas o JAGUDI, sem conseguir evitar a lei dos abutres, tinha propósitos mais generosos, que porventura não terá atingido, em virtude da ambição condicionada.

JMMD
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12448: História da CCAÇ 2679 (65): Dia da Raça (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P12659: Notas de leitura (558): "Ideia Geral do Valor Estratégico do Conjunto Guiné-Cabo Verde e da Ilha de São Tomé", por Luís Maria da Câmara Pina (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Agosto de 2013:

Queridos amigos,
Não era sem tempo que se pegasse numa questão ideológica muito cara ao Estado Novo, no aceso da guerra colonial: a luta de Portugal em África era a luta do Ocidente contra a intromissão de Moscovo e companhia.
Esta lição do general Câmara Pina a que aqui se faz referência é um exemplo acabado de uma composição mitológica de que as rotas do Atlântico, vitais para a NATO, tornavam imprescindível o reconhecimento e o apoio declarado do Ocidente ao combate português pelas Áfricas.
A distância das décadas torna claro que qualquer propaganda, por muito bem oleada que seja, é tão precária quanto a consistência ideológica que lhe está por detrás.

Um abraço do
Mário


O valor estratégico do conjunto Guiné-Cabo Verde:
A argumentação do Estado Novo para cativar apoios no Ocidente

Beja Santos

Ninguém ignora que o regime de Salazar e Caetano usaram todos os meios suasórios nos canais da diplomacia para convencer os países ocidentais de que a defesa do Império português era, em primeira instância, a defesa do Ocidente, era um poderoso esteio contra o comunismo e que a independência das parcelas do Império, saldar-se-ia, inexoravelmente, no triunfo do comunismo em África. Além dos canais diplomáticos, procurou sugestionar as elites apoiantes e naturalmente os futuros quadros do regime.

Assim se poderá compreender na íntegra a substância da lição proferida pelo general Câmara Pina no curso de extensão universitária sobre Cabo Verde, Guiné e São Tomé e Príncipe, organizado pelo ISCSPU no ano letivo 1965-1966. Na lógica do oficial general, fazia-se avultar a questão geopolítica para assim se entender uma das leis da expansão dos Estados: todas as vezes que um poder forte consegue instalar-se num território, em posição central, é imperativo para a sua consolidação e segurança que rapidamente conquiste a liberdade da ação na periferia. Dito entre linhas, não bastaria a Moscovo dominar o centro do continente Africano, faltaria ganhar a batalha pelas saídas para o mar, pelos acessos, pelas posições periféricas. E o orador recordou a Conferência de Berlim de 1885, a questão do Congo: quem passasse a dominar o Congo iria dominar a África Negra. Só que, continuou o orador, o acordo a que se chegou na Conferência foi até certo ponto negativo: aceitou-se que um pequeno país, apenas nascido para a independência em 1831, a Bélgica, continuasse com a responsabilidade da administração do Congo, assegurando-se todavia a todas as potências, em igualdade, a liberdade de comércio, a utilização do rio Zaire e outras facilidades de trânsito. Veio à baila a Conferência de Berlim e o Congo para confirmar que a geopolítica é doutrina que rege a expansão de um Estado em confronto com outros Estados. Chegara a hora de entrar na propaganda a sério.

E daqui passou para Cabo Verde, Guiné e São Tomé. Não seria de excluir a hipótese de um ataque ao continente africano a partir de Cabo Verde, Guiné e São Tomé e teceu uma consideração catastrófica: se estas regiões se tornarem bases do inimigo, o Ocidente ameaçado terá que montar uma operação de reconquista ou criar condições para uma defensiva sem espírito de recuo. E para que a assistência ganhasse a perceção desse cenário de desastre, alertou que do Sal a Conacri eram três horas e meia de voo e de Bissau a Dakar uma hora, isto falando de tempos de voo calculados para o avião DC6. O auditório deverá ter ficado paralisado quando o orador prosseguiu com a necessidade de meios aéreos e navais poderosos para combater a virulência de uma intromissão de Moscovo e aliados:
“A hipótese de defesa implicará o apoio logístico e tático das forças terrestres empenhadas na Guiné e a neutralização ou flagelação de objetivos a norte e a sul da província, alguns dos quais são muito mais vulneráveis do que as bases de onde normalmente o adversário atuará.
Cabo Verde e a Guiné apoiam-se mutuamente e poderão conjugar ações. São Tomé integra-se com maior rendimento no sistema angolano e só excecionalmente terá possibilidade de cooperar com Cabo Verde ou Guiné: efetivamente, dista do Sal 9:30h em DC6 e 5:00h em jato, de Bissau 7:00h em DC6 e 3:45h em jato.
É sempre arriscado em questões de estratégia idealizar no espaço conceções vagas e definir abstratamente intenções e missões: de facto, não se prepara a guerra, prepara-se uma guerra. numa dada região, numa dada época, num dado enquadramento.
Mas é legítimo, didaticamente, avançar uma previsão.
A Guiné, além de manter em condições de funcionamento o porto de Bissau e o aeroporto de Bissalanca, terá a preocupação de unir todas as populações que a habitam na reação contra o presumível invasor e aproveitar as diferenças de religião, de costumes, de língua, das suas etnias para defender a manter a integridade do território.
Cabo Verde terá múltiplas missões à sua responsabilidade. As instalações portuárias de que dispõe, o seu magnífico aeroporto, os recursos das diversas ilhas, certa invulnerabilidade, permitem a maior flexibilidade dos meios navais, aéreos e terrestres. Constituirá a principal base de operações para o bloqueio ou para a reconquista de posições do litoral africano”.

É surpreendente como se pretende cativar o auditório iludindo, de facto, a natureza da guerra que se estava a travar na Guiné, não há uma menção sequer ao posicionamento já instalado do PAIGC, evidentemente com o suporte de Conacri e ainda tímido, à data, por parte de Dakar. O discurso é todo ele centrado em repelir um invasor instalado no continente. Mas a argumentação prossegue, insinua-se que as bases das Canárias são fundamentais para a operacionalidade da NATO, entre Cabo Verde e a Madeira, e atira-se para a assistência o valor estratégico da região que o PAIGC pretende libertar:
“A nossa linha de comunicações interessa muito vivamente a aliança militar do mundo ocidental. Na hipótese de ser fechado o canal de Suez, por acidente ou por acinte, ela constitui a única possibilidade de apoiar com eficácia a navegação para o Índico e para o extremo Oriente. Na roda de África, a estratégia do Ocidente só pode confiar nas bases portuguesas”. E para que não houvesse ilusões quanto ao malabarismo propagandístico, o orador questionou:
“Em face dos ataques terroristas contra os territórios portugueses tão consentidos por parte da opinião pública ocidental e até por vezes apoiados por algumas das suas poderosas organizações: estas bases tão importantes no futuro para a aliança militar do Ocidente – estarão elas mais seguras em outras mãos que não a dos portugueses?”.

A oração de sapiência caminhava para o fim, faltava ainda dizer que o limite da área da NATO devia ser repensado contando com as bases portuguesas, fundamentais para as missões de vigilância no Atlântico Sul e de proteção à navegação Europa-África que, asseverou o orador, passa em grande parte entre a Guiné e Cabo Verde. Acresce que a unidade nacional da Guiné era dada pelo português. Acontecia haver nativos que por pré-disposição racial ou por demonstração de virilidade eram atraídos por engajadores e conduzidos para campos de instrução estrangeiros. A batalha de terrorismo só poderia ser ganha, por um lado, pela ação militar, mas o resultado fundamental era a disseminação da língua portuguesa. Felizmente que os EUA já falavam na segurança global, havia de ter esperança que a análise estratégica de Cabo Verde, Guiné e São Tomé, no quadro de uma guerra Leste-Oeste só teria verdadeiramente sentido se fosse integrada no conceito geral da estratégia e da geopolítica da Nação Portuguesa. A panaceia estava à vista, como rematou o general Câmara Pina: “Os Açores e a Madeira aparecem-nos como sentinelas atlânticas avançadas, a metrópole, juntamente com uma Espanha amiga, a estabelecer a ligação dos aliados na América com os aliados na Europa e a colaborar na vigilâncias nas saídas do mediterrâneo e o rosário completo das bases portuguesas a rodear a África, com uma ponta atirada para a Oceânia, para a China e, querendo Deus, para Goa”.

Os ventos da História foram totalmente insensíveis ao chamamento estratégico do Estado Novo, Salazar também não tinha ilusões, por último ainda se agarrou à quimera de que o Império subsistiria depois da guerra entre os EUA e a URSS, que ele dava como praticamente certa, em data próxima
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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12644: Notas de leitura (557): "Rosas da Liberdade", por Manuel da Costa (Mário Beja Santos)