terça-feira, 19 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8134: Memórias de um ex-combatente (2): O desembarque, a viagem e a estadia no Cumeré (Manuel Sousa)

1. Segunda parte das Memórias de um ex-combatente, trabalho enviado pelo nosso camarada Manuel Sousa* (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74, Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma), enviado em mensagem do dia 15 de Abril de 2011:


MEMÓRIAS DE UM EX-COMBATENTE (2)

O desembarque e a viagem até ao Cumeré

Atracou o navio ao porto de Bissau no dia seguinte de manhã cedo, onde desembarcaram os contingentes militares.

O meu Batalhão, o 4512, seguiu em coluna de viaturas em direcção ao Cumeré, a cerca de 40 quilómetros, atravessando primeiro a cidade, passando pelo Hospital Militar, pelo aeroporto de Bissalanca, Safim, Nhacra, por aí fora e, ao longo do percurso, fui registando sensações que ainda hoje tenho bem presentes na memória:

As populações indígenas e os seus trajes, - ora já a trabalhar nas bolanhas ao longo da estrada, ora agrupadas na berma a verem passar a coluna - os seus instrumentos agrícolas, especialmente a sua inseparável catana, a terra vermelha e os baga-bagas, o cheiro a terra seca e a capim queimado (era a época seca), as rectas intermináveis e onduladas da estrada, a neblina do calor intenso que se começava a sentir, à medida que o sol se levantava no oriente, não obstante de manhã ter estado um pouco frio, o aparecimento aqui e ali dos primatas, a plumagem e o canto das aves, etc.

Enfim, era o primeiro contacto com terras e culturas diferentes.

Chegados ao Cumeré, ali junto ao rio Geba, fomos instalados no campo de futebol em tendas, por não haver instalações disponíveis, por estarem ocupadas por militares em fim de comissão a aguardarem transporte para a metrópole.

Era um calor insuportável que se tentava atenuar pela frescura de uma cerveja, mas que tão difícil era obtê-la em intermináveis filas para o bar.


O meu achado

Um dia ou dois depois, fui incluído num grupo de militares recém-chegados para proceder ao arrumo e limpeza de uma das casernas que entretanto ficou de vago.

A desordem e o desarrumo era total, provocadas pela compreensível efusiva alegria dos“velhinhos” na última noite que ali passaram antes de embarcarem rumo à metrópole, precisamente no paquete Uíge que nos tinha levado.

Ao varrer sob uma das camas, entre papéis e poeira, vislumbrei algo minúsculo que me despertou a atenção.

Apanhei então uma pequena medalha em ouro, normalmente usada num fio ao pescoço, que ainda hoje guardo como relíquia, com a inscrição “Deus te Guarde”.

Uma medalha que teve comissão dobrada. Guardou alguém antes e continuou a proteger-me a mim depois.


O primeiro Natal na Guiné

Cerca de dez dias depois aproximou-se o Natal.

Na noite de consoada, já durante a instrução do IAO, o meu Pelotão pernoitou no mato, entre o Cumeré e Nhacra, onde, ali naquela zona, o nosso principal inimigo eram os mosquitos, as chamadas melgas, que nos deixavam o corpo numa autêntica chaga, por muito repelente que se aplicasse nas zonas descobertas, nos braços e no rosto.

Regressámos ao quartel no dia de Natal de manhã.

À hora do almoço, reparei que nas paredes do refeitório estavam afixados alguns motivos de natal.

Que Natal tão estranho! Não era só por estar longe dos meus familiares, mas porque para mim o Natal estava associado ao frio. A 40 graus de temperatura, pensava eu, não podia ser Natal.


Os turnos do camarada “porquinha”

Numa das muitas noites que ficámos no mato ali nas imediações de Nhacra, no decorrer do IAO, embora não houvesse grande risco de contacto com o IN, eram levadas a preceito todas as regras de segurança do Pelotão, preparando-nos assim, no âmbito do referido IAO, para a realidade futura que nos esperava no local de destino operacional.

Durante a noite, para uns descansarem, em cada equipa de um Cabo e quatro Soldados, um avançava para a frente uns passos, cerca de 5 a 10 metros, no meio do mato, e ficava de vigia em turnos de duas horas.

No silêncio duma dessa noites, ouvindo-se apenas em fundo o som dos batuques das tabancas ali próximas, ficámos sobressaltados quando o camarada “porquinha”, o vigia àquela hora, se lançou literalmente sobre nós, numa espécie de vala onde descansávamos, de tal modo em pânico que mal podia gritar:

- Ai que aí vêm eles…, aí vêm eles.

Perante este alerta de desespero, todo o pelotão se movimentou rapidamente e tomou uma posição de defesa para o que desse e viesse.

Entretanto apercebemo-nos, de facto, da presença de alguns “turras”já em debandada, mas deu para perceber que eles estavam disfarçados de esquilos.

Conhecida a fraqueza do “porquinha”, num dos dias imediatamente a seguir, no mesmo local, a sua coragem foi posta de novo à prova:

À hora do turno dele, o Cabo da equipa, o Martins, pegou numa garrafa de cerveja vazia, que tinha acabado de beber a acompanhar a ração de combate e, já com a intenção de o assustar, arremessou a mesma garrafa para longe, sobre o local onde se encontrava o “porquinha” em cujo trajecto o gargalo da garrafa em contacto com o ar provocou um silvo característico.

Qual corredor de meia maratona seria tão rápido como o “porquinha” que imediatamente correu e se precipitou em pânico sobre nós, completamente gago.

Os risos duraram até de manhã.

Gostaria imenso de reencontrar esse meu camarada, de seu nome verdadeiro, Salvador Rodrigues da Costa. À parte os seus receios, era um bom companheiro.


A viagem em ziguezague

Próximo do fim do IAO, nos primeiros dias de Janeiro de 1973, o Comando facultou-nos a passagem de um dia de folga em Bissau, disponibilizando-nos o respectivo transporte.

Boina, camisa n.º 1, calções, meias até ao joelho e sapato era o fardamento obrigatório.

A mesma indumentária punha em evidência a brancura das nossas pernas que denunciava o nosso escasso tempo de Guiné, que nos conferia o estatuto de “periquitos” de que os “velhinhos” tanto gostavam de nos lembrar.

Como transporte, coube-me em sorte um Unimog 411, o chamado “burrinho do mato”, conduzido pelo Soldado da minha Companhia, o Fernandes.

Saímos a porta de armas do Cumeré com destino a Bissau e entrámos na tal estrada, cujo traçado, como acima referi, é de longas rectas.

Só que o unimog era tão velho, com tanta folga no volante, e o condutor tinha tão pouca experiência, que não conseguimos fazer a viagem, quer de ida, quer do regresso, alinhados na estrada.

Ora guinava para a esquerda até à berma, ora guinava para a direita até à outra berma, a estrada era toda nossa e, com o consequente desequilíbrio provocado pelo peso dos seis ou oito militares que seguiam nos bancos laterais a trás, várias vezes estivemos prestes a despistar-nos para fora da via.

Conclusão: Um dia de canseira e preocupação. Num percurso de cerca de 80 quilómetros, ida e volta, devíamos ter percorrido quase o dobro com todas aquelas curvas, com muitas paragens forçadas pelo meio para evitar o despiste.


Desabafos do “Rio Mau”

Albino de Lima e Sá na foto, o primeiro da esquerda na fila de trás.

Albino de Lima e Sá de seu nome completo, natural de uma localidade chamada Rio Mau, algures em Vila Verde ou Viana do Castelo, no alto Minho, também conhecido por “santa mãe”, pelos motivos que adiante vereis, integrava também o meu Pelotão.

Um militar alto, bem constituído, de semblante carregado, de voz grave.

Quer no decorrer do IAO no Cumeré, quer mais tarde em Jumbembém na nossa zona operacional, quando o Pelotão se encontrava no mato, e principalmente de noite, era-nos exigido o máximo silêncio para a nossa própria segurança.

Por diversas vezes o “Rio Mau”, provavelmente em momentos de nostalgia, quiçá de desânimo, quebrava todas as regras de segurança e, com aquela voz grave, profunda, que no silêncio da noite parecia a voz de um fantasma, desabafava:

- Ai sannnnnta mãeeee, caraaaaalho...

Este camarada ex-combatente foi, ou continua a ser, motorista de transportes públicos em Cascais.

Num dos encontros de convívio dos ex-combatentes, a única vez que ele compareceu, já tive oportunidade de lhe relembrar estes seus sentidos desabafos.

A 12 de Janeiro de 1973, terminado o IAO, o Batalhão seguiu para o seu destino operacional, Farim, cuja viagem foi relatada por mim em O MISTÉRIO DO RIO CACHEU*.
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Notas de CV:

Vd. poste anterior de 18 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8129: Memórias de um ex-combatente (1): O desenrasca e a chegada a Bissau (Manuel Sousa)

(*) Vd. poste de 31 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8020: Tabanca Grande (273): Manuel Luís Rodrigues Sousa, ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512 (Jumbembem, 1973/74)

Guiné 63/74 - P8133: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (5): A lepra (Rui Silva)

1. Mensagem de Rui Silva* (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), com data de 16 de Abril de 2011:

Caros amigos Luís e Vinhal.
Em anexo, envio mais um trabalho na sequência dos anteriores (“Doenças e outros problemas de saúde…”), desta vez sobre a Lepra (V).

Recebam um grande abraço mais votos da melhor saúde.
Rui Silva



2. Como sempre as minhas primeiras palavras são de saudação para todos os camaradas ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que de algum modo ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.

DOENÇAS E OUTROS PROBLEMAS DE SAÚDE (ou de integridade física) QUE A CCAÇ 816 TEVE DE ENFRENTAR DURANTE A SUA CAMPANHA NA GUINÉ PORTUGUESA (Bissorã – Olossato – Mansoa 1965/67)

(I) Paludismo (P7012)
(II) Matacanha (P7138)
(III) Formiga “baga-baga” (P7342)
(IV) Abelhas (P7674)
(V) Lepra
(VI) Doença do sono

Não é minha intenção ao “falar” aqui de doenças e outros problemas de saúde que afligiam os militares da 816 na ex-Guiné Portuguesa imiscuir-me em áreas para as quais não estou habilitado (áreas de Medicina Geral, Medicina Tropical, Biologia, etc.) mas, tão só, contar aquilo, como eu, e enquanto leigo em tais matérias, vi, ajuizei e senti.

Assim:
As 4 primeiras, a Companhia sentiu-as bem na pele (ou no corpo). As 2 últimas (Lepra e Doença do sono), embora as constatássemos - houve mesmo contactos directos de elementos da Companhia com leprosos (foram leprosos transportados às costas, do mato para Olossato nas tais operações de recolha de população acoitada no mato para as povoações com protecção de tropa) –, não houve qualquer caso com o pessoal da Companhia, ou porque estas doenças estavam em fase de erradicação (?), ou porque a higiene e a profilaxia praticadas pela Companhia eram o suficiente para as obstar.


LEPRA - V
Esta era a doença mais temível que sabíamos, ou pensávamos saber, existir na Guiné. Era a mais falada entre a malta quando ainda estávamos em Santa Margarida aonde a Companhia esteve algumas semanas antes de rumar ao cais de Alcântara para embarcar no Niassa para a Guiné. Ao falarmos das doenças que grassavam naquele território ultramarino, principalmente as contagiosas, e que teríamos de algum modo a estar expostos, a Lepra era aquela que mais temíamos, se bem que, camaradas antecessores, de nada falassem, ou até de que tivéssemos conhecimento de algum caso. Mas que ela existia sabíamos nós e, não menos, que era muito (?) contagiosa.

No entanto não conheci, nem conheço, embora leia ser uma doença de incubação muito longa, casos desta doença apanhada por militares que andaram pela Guiné, mas ela existia de facto e eu próprio vi muitos nativos, principalmente habitantes no interior do mato, que a tinham, principalmente nativos já com alguma idade avançada. Não tinham dedos nas mãos ou nos pés ou as duas coisas juntas como a foto seguinte ilustra. (Foto reproduzida com a devida vénia ao seu autor ou legítimo proprietário)

Os braços e as pernas acabavam em cotos, em alguns casos, embora não se vissem quaisquer feridas abertas ou úlceras.

Militares da 816 transportava-os às costas, quando trazíamos população encontrada isolada, nas chamadas operações de recolha de pessoal, algures no mato, para as povoações, (passava pelo trabalho da Companhia também esta tarefa de trazer gente do mato para as povoações, pois para além de ficarem sob a nossa jurisdição, portanto fora da alçada do inimigo, era ali que eles tinham meios de uma melhor sobrevivência e qualidade de vida, incluindo assistência médico-medicamentosa), no caso para Bissorã ou para o Olossato que foram, principalmente, as povoações aonde a Companhia esteve temporariamente aquartelada. Sabíamos também que estas povoações “clandestinas” colaboravam, obviamente, com o inimigo Ninguém era abandonado, quer fosse idoso, doente ou deficiente. Era ponto de honra para o Comandante da Companhia.

A miséria e a promiscuidade era muita, principalmente no interior e nas povoações, agora e para nós clandestinas, aonde a assistência sanitária era nula.

Embora nas povoações com tropa, aonde habitualmente havia uma enfermaria militar, os indígenas tinham medo ou relutância ou ainda por convicções religiosas de recorrer àquelas. Só à força ou à ordem do Chefe de Posto ou da Administração a isso os obrigava.

Lembro-me de ver um nativo à porta da enfermaria em Mansoa, que ali foi levado compulsivamente para ser tratado adequadamente, que tinha um buraco numa perna com o tamanho de uma bola de ténis.

O enfermeiro tirou daquele buraco toda a espécie de ervas e terra lamacenta.

Os nativos viam-se assim sujeitos a confiarem nas propriedades terapêuticas de ervas, mezinhas e outras coisas tais, que a natureza, pelo menos esta, lhes dava, embora não fosse bem para aquilo que o referido nativo necessitava para o seu caso.

Cozer um profundo golpe numa perna a um rapazinho nativo, em Bissorã, foi, para este e família, o fim do mundo, mas, passados uns dias, com uma leve cicatriz, ele já saltava com os outros ali mesmo na cara do enfermeiro milagreiro.

Afinal há pouco tempo é que soube, que a cerca de 10-12 quilómetros de Bissau existia uma Leprosaria, mais tarde assistida por abnegados missionários italianos, isto nos anos cinquenta e, depois, mais tarde, é então edificado um hospital, já nos anos 60.

Portanto a Lepra era uma doença na Guiné com assistência, no possível, para a época e no sítio que era, há mais de 50 anos.

Também sobre a Leprosaria de Bissau, o estimado camarigo Correia Nunes poderá acrescentar algo, pois colaborou lá na construção de uma Escola de Carpintaria para ensinar as crianças.

Posição geográfica de Cumura – entre Bissau e Prábis, a cerca de 12 quilómetros de Bissau.
Imagem do Google


Seguem dois interessantes artigos sobre a Leprosaria de Cumura. Um, o primeiro, reproduzido do site www.uniao-missionaria-franciscana.org e o outro, com data de 2009, também reproduzido, este da Gazeta de Notícias (www.gaznot.com).

Reproduções aqui feitas com a devida vénia para com tais entidades.

LEPROSARIA DE CUMURA

CUMURA: A Lepra não é maldição dos céus!

1. Local:

A 10 quilómetros de Bissau, na estrada de Prábis, situa-se a Missão Católica de Cumura, bem conhecida em toda a Guiné-Bissau, sobretudo pela sua leprosaria, que neste momento é referência única para o país de Amílcar Cabral e referência assinalada para alguns países vizinhos (Senegal, Guiné-Conakry, Gana), já que também de alguns deles acorrem doentes do Mal de Hansen a procurar tratamento conveniente.



2. Categoria da actividade:

Esta actividade enquadra-se na categoria de projectos de intervenção social na área da saúde, educação e formação.


3. Finalidades e objectivos:

A missão de Cumura tem uma actividade multi-facetada (leprosaria, hospital geral ambulatório, escolas primária e liceal, actividades paroquiais, etc.), mas é conhecida sobretudo pelo seu valioso trabalho com os leprosos. Este trabalho teve um salto qualitativo após a vinda dos Franciscanos italianos de Veneza (1955), que ampliaram em muito os inícios de assistência aos leprosos em Cumura, tentada pela administração colonial portuguesa.

Actualmente, a leprosaria de Cumura dispõe dum conveniente laboratório de análises, bem como dos serviços de fisioterapia, oftalmologia, lavandaria, sapataria, nutrição e dietética, sempre em ligação com as necessidades dos doentes hansenianos. Assiste uns 50 internados e trata em regime ambulatório muitas dezenas de doentes.

Por razões de caridade cristã, dada a insuficiência ou incapacidade dos serviços de Saúde pública, em Cumura começou também a dar-se assistência quer a doentes terminais de SIDA (cerca de 150 internados em 2006, uns 70 admitidos para antiretrovirais e cerca de 400 seguidos em ambulatório, no mesmo ano), quer a doentes de tuberculose (em 2006 houve internamento temporário de uns 45 doentes e tratamento ambulatório de 145 doentes).

De tal modo o trabalho assistencial de Cumura se impôs à população das redondezas, que à volta da missão-leprosaria se foi implantando uma nova povoação, já que as pessoas se sentiram protegidas pela presença missionária. Hoje Cumura tem duas aldeias, contíguas mas distintas: “Cumura Pepel e Cumura-Padres”! A fixação confiante da população à volta da missão é o melhor prémio para a acção missionária aí realizada e é também uma espécie de grito silencioso mas eloquente: “ A lepra tem cura, não é uma maldição dos céus contra ninguém”!


4. Responsável:

A Custódia de S.Francisco da Guiné com o seu Custódio Frei João Dias Vicente.


5. Donativos:

A União Missionária Franciscana abraçou esta projecto desde o início e são necessários apoios a nível monetário para suprir os investimentos que vão sendo feitos de forma a melhorar as condições de tratamento dos leprosos. Os contributos monetários a este projecto podem ser feitos em vale do correio/cheque ou por transferência bancária BPI : NIB 0010 0000 26140490002 14, indicando a que fim se destina (Leprosaria de Cumura). Todos os apoios cedidos gozam de dedução fiscal, ao abrigo da “lei do mecenato” (artigos 39.º e 40.º do código do IRC e do artigo 56.º do código do IRS).

Contacto:
União Missionária Franciscana (Leprosaria de Cumura)
Convento da Portela
Rua dos Mártires, 1
Apartado 1021
2401-801 Leiria

União Missionária Franciscana

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HOSPITAL DE CUMURA : CINQUENTA E CINCO ANOS AO SERVIÇO DO POVO

(20-7-2010) O Hospital de Cumura, na vanguarda da luta contra o mal de Hansen há mais de 55 anos, hoje na luta contra tuberculose e VIH-Sida, é das estruturas hospitalares mais conhecidas da Guiné-Bissau.

Situado a 12 quilómetros de Bissau, ao longo da sua existência tem acolhido doentes de todas as partes da Guiné-Bissau e além fronteiras. As suas actividades têm sido marcadas não só pela cura das pessoas afectadas pela lepra mas também em termos de assistência social prestada pelos missionários na sua recuperação e reintegração. O falecido Bispo D. Settimio Ferrazzetta foi dos missionários que trabalharam em Cumura logo após a sua chegada a Guiné nos anos 50.

“Os missionários chegaram em Cumura, na Guiné-Bissau em 1955, enviados pelo Papa PIO XII, para tomarem conta dos doentes de lepra que viviam isolados numa grande reserva chamada Cumura, mais ou menos abandonados a si mesmo”, começou por explicar a GN, a Irmã Valéria, administradora deste estabelecimento hospitalar muito procurado por doentes de todo o país.

Esta responsável explicou ainda que com a presença dos missionários e “muito devagar” foi se iniciando uma verdadeira cobertura ao serviço da lepra “e não muito tarde depois também ao serviço das famílias dos doentes de lepra. Logo sem grande demora, começamos a sentir a necessidade de servir e proteger os grupos mais vulneráveis da população entre as quais as crianças e as mulheres sobretudo em idade fértil ou durante o período da gestação, parto e pós-parto”.


Especialidades

Solicitada a falar sobre as especialidades que o hospital atende, a Irmã explicou que as suas intervenções são muito amplas.

“Como disse, tudo se iniciou em torno dos doentes de lepra que naquele tempo tinha uma incidência muito menor”, adiantando que devagar foi surgindo a necessidade da consulta geral aos adultos. Daí começaram a desenvolver a assistência pediátrica e assistência da maternidade, pré-natal e pós-parto.

Para responder a procura de que o hospital era alvo, foram criadas duas estruturas sanitárias, uma para atender a lepra e outra para a clínica geral “onde tínhamos a maternidade, a pediatria e algumas camas para adultos. Assim fomos adiante por algumas décadas.”

Na ultima década, 2000 para cá, quando foi avançando o VIH/Sida e a tuberculose, foram obrigados, de acordo com as necessidades das populações, a se abrirem para algumas emergências e uma melhor cobertura da maternidade.

A irmã Valéria assegurou no entanto que a assistência ao parto, pós-parto e pré-natal quadruplicou nos últimos anos, “ o que nos levou a organizar para dar assistência de guarda aos doentes de VIH/ Sida e da tuberculose.” Revelou que actualmente estão com um movimento “talvez seja o maior no país, que alberga doentes de sida seguidos regularmente em tratamento ambulatório e, igualmente, um grande número de doentes de tuberculose seguidos anualmente.”

Em primeiro plano, julgo tratar-se da irmã Valéria


No concernente ainda a matéria de HIV/sida, a Irmã explicou que vão se organizando na assistência as crianças com HIV/sida congénita e a tuberculose. Segundo esta responsável, “o serviço que está produzindo muito bons frutos é o PTNF (prevenção de transmissão vertical), na qual entram todos os gestantes diagnosticados como seropositivos que são colocados no programa de facilitação da defesa da criança de forma a não ser contaminada pelo HIV/sida. Esta intervenção vai de quatro meses da gestação até os dezoito meses depois do parto.”


Estrutura

Quando solicitada a falar da forma como se organizam para atender os pacientes e manter um funcionamento adequado às diferentes especialidades, a administradora do hospital de Cumura disse que “hoje o movimento é grande”, têm um grande volume “não só de doenças agudas como também de doenças crónicas” que exige uma verdadeira organização e seguimento bem conduzido. Por isso estruturaram o hospital da seguinte forma: direcção clínica, serviço da enfermagem e médica e o serviço de apoio e diagnóstico. Dentre eles figuram o laboratório de análise clínica, serviços da radiografia e da ecografia e a administração. Também contam com outros serviços de apoio como a lavandaria, serviços de refeições, limpeza e jardinagem.

“Todos são serviços correlatos a necessidade de uma organização de forma a oferecer as condições essenciais adequadas”, enfatizou.


Dificuldades

Instada a falar sobre os constrangimentos com que se deparam nas suas actividades, a Irmã foi peremptória: “é bom saber que há grandes dificuldades em se organizar, no controlo dos serviços sociais, mas à medida das necessidades, da saúde e a educação, por exemplo. É claro que não será possível levar adiante esta máquina com tantas dificuldades”.

Apontou que a primeira dificuldade é que não podem contar com o apoio das autoridades que não dão conta e não estão conseguindo enfrentar estas dificuldades nas estruturas hospitalares estatais muito menos nos privados.

Explicou que têm enormes dificuldades que vão desde os parcos recursos financeiros, materiais, até aos medicamentos. Adiantou que na Guiné-Bissau, as grandes dificuldades são de abastecimento a curto prazo. Para conseguir os materiais, têm que ter uma previsão de três, quatro a cinco meses. “É uma situação bastante difícil”, lamenta Irmã Valéria. “Procuramos nos organizar para podermos contar com os seguimentos necessários para garantir uma continuidade de assistência aos doentes” informa a Irmã para concluir que isso é lhes não permite ter uma “ruptura de stock”.

Quanto aos recursos financeiros, disse que contam bastante com os seus voluntários, com a Direcção-geral dos Padres Menores e também com Irmãs e alguns organismos.

Esta responsável sublinha que uma das organizações que tem “apoiado muito” o Hospital de Cumura é a Cooperação Portuguesa. No entanto aponta que “ao longo destes anos começa a se fazer presente com alguma ajuda, o Secretariado Nacional de Luta contra a Sida, com aquilo que se refere ao VIH/sida que hoje abrange a maior parte dos nossos serviços aqui em Cumura”.


Medicamentos

Actualmente o maior fornecedor de medicamentos a este hospital é a IDA Fundation da Holanda.


Evacuação

No tocante a evacuação dos doentes para o exterior do país, a Irmã Valéria conta que “nós não temos programas de evacuação dos pacientes. Particularmente, não trabalhamos com isso”.


Pessoal e camas

Falando dos recursos humanos, ela diz que “quanto ao número de pessoal, estamos com 110 elementos, contando com os profissionais dos serviços de apoio.”

Em termos de capacidade de internamento, a Irmã assegura que na primeira estrutura, que é o hospital do mal de Hansen (lepra), que hoje não é mais a leprosaria mas sim uma parte aberta aos doentes de lepra e que pode ser chamada também de estrutura ao serviço de doenças infecto-contagiosas, “estamos em torno de 90 camas”.

A segunda estrutura onde atendem o maior número de gestantes e crianças, tem 45 camas.

Nautaram Marcos Có
Gazeta de Notícias

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LEPRA - Explicação científica da doença
- extraído, com a devida vénia, de: www.manualmerck.net

A lepra (doença de Hansen) é uma infecção crónica, causada pela bactéria Micobacterium leprae, que lesa principalmente os nervos periféricos (aqueles nervos localizados fora do cérebro e da espinal medula), a pele, a menbrana mucosa do nariz, os testículos e os olhos.

A forma de transmissão da lepra não é conhecida. Quando um enfermo não tratado e gravemente doente espirra, as bactérias Mycobacterium leprae dispersam-se no ar. Cerca de metade das pessoas com lepra contraíram-na, provavelmente, através do contacto estreito com uma pessoa infectada. A infecção com Micobacterium leprae provavelmente também provirá da terra, do contacto com tatus e mesmo com mosquitos e percevejos.

Cerca de 95% dos indivíduos expostos ao Mycobacterium leprae não contraem a doença porque o seu sistema imunitário combate a infecção. Naqueles em que isso acontece, a infecção pode ser de carácter ligeiro (lepra tuberculóide) ou grave (lepra lepromatosa. A forma ligeira, ou seja a lepra tuberculóide, não é contagiosa.

Mais de 5 milhões de pessoas em todo o mundo estão infectadas pelo Mícrobacterium leprae. A lepra é mais frequente na Ásia, na África, na América Latina e nas ilhas do Pacífico. Muitos dos casos de lepra nos países desenvolvidos afectam pessoas que emigraram de países em vias de desenvolvimento. A infecção pode começar em qualquer idade, mais frequentemente entre os 20 e os 30 anos. A variedade de lepra grave, a chamada lepra lepromatosa, é duas vezes mais frequente entre os homens do que entre as mulheres, ao passo que a forma mais ligeira, denominada tuberculóide, é de igual frequência num e noutro sexo.


Sintomas

Devido ao facto de as bactérias causadoras da lepra se multiplicarem muito lentamente, os sintomas não começam habitualmente antes de um ano, pelo menos, após a pessoa se ter infectado; o usual é mesmo surgirem de 5 a 7 anos mais tarde e amiudadas vezes muitos anos depois. Os sinais e sintomas da lepra dependem da resposta imunológica do doente. O tipo de lepra determina o prognóstico a longo prazo, as possibilidades de complicações e a necessidade de um tratamento com antibióticos.

Na lepra tuberculóide, aparece uma erupção cutânea formada por uma ou várias zonas esbranquiçadas e achatadas. Estas áreas são insensíveis ao tacto porque as micobactérias lesaram os nervos.

Na lepra lepromatosa, aparecem sobre a pele pequenos nódulos ou erupções cutâneas salientes, de tamanho e forma variáveis. O revestimento piloso do corpo, incluindo as sobrancelhas e as pestanas, desaparece.

A lepra limítrofe (borderline) é uma situação instável que partilha características de ambas as formas. Nas pessoas com este tipo de lepra, a doença tanto pode melhorar, caso em que acaba por se parecer com a forma tuberculóide, como piorar, circunstância que resulta mais parecida com a forma lepromatosa.

Durante a evolução da lepra não tratada ou mesmo naquela que, pelo contrário, recebe tratamento, podem verificar-se certas reacções imunológicas que por vazes produzem febre e inflamação da pele, dos nervos periféricos e, com menor frequência, dos gânglios linfáticos, das articulações, dos testículos, dos rins e dos olhos. Dependendo do tipo de reacção e da sua intensidade, o tratamento com corticosteróides ou talidomida pode ser eficaz.

O Mycrobacterium leprae é a única bactéria que invade os nervos periféricos e quase todas as suas complicações são a consequência directa desta invasão. O cérebro e a espinal medula não são afectados. Devido ao facto de diminuir a capacidade de sentir o tacto, a dor, o frio e o calor, os doentes com lesão dos nervos periféricos podem queimar-se, cortar-se ou ferir-se sem se darem conta. Além disso, a lesão dos nervos periféricos pode causar debilidade muscular, o que por vezes faz com que os dedos adoptem a forma de garra e se verifique o fenómeno do “pé pendente”. Por tudo isso, os leprosos podem ficar desfigurados.

Os afectados por esta doença também podem ter úlceras nas plantas dos pés. A lesão que sofrem os canais nasais pode fazer com que o nariz esteja cronicamente congestionado. Em certos casos, as lesões oculares produzem cegueira. Os homens com lepra lepromatosa podem ficar impotentes e inférteis, porque a infecção reduz tanto a quantidade de testosterona como a de esperma produzido pelos testículos.


Diagnóstico

Certos sintomas, como as erupções cutâneas características que não desaparecem, a perda do sentido do tacto e as deformações particulares derivadas da debilidade muscular, constituem as chaves que permitem diagnosticar a lepra. O exame ao microscópio de uma amostra de tecido infectado confirma o diagnóstico. As análises de sangue e as culturas não se mostram úteis para estabelecer o diagnóstico.


Prevenção e tratamento

No passado, as deformações causadas pela lepra conduziam ao ostracismo e os doentes infectados costumavam ser isolados em instituições e colónias. Em alguns países esta prática continua a ser frequente. Apesar de o tratamento precoce poder evitar ou corrigir a maioria das deformações mais importantes, as pessoas com lepra estão propensas a sofrer de problemas psicológicos e sociais.

O isolamento, contudo, é desnecessário. A lepra só é contagiosa na forma lepromatosa quando não recebe tratamento, e mesmo nesses casos não se transmite facilmente. Além disso, a maioria das pessoas tem uma imunidade natural face à lepra e só aqueles que vivem próximo de um leproso durante muito tempo correm o risco de contrair a infecção. Os médicos e as enfermeiras que tratam dos doentes com lepra não parecem estar mais expostos do que as restantes pessoas.

Os antibióticos podem deter o avanço da lepra ou mesmo curá-la. Dado que algumas das micobactérias podem ser resistentes a determinados antibióticos, o médico pode prescrever mais do que um medicamento, em especial para os afectados pela lepra lepromatosa. A dapsona, o antibiótico mais frequentemente utilizado para tratar a lepra, tem um preço relativamente acessível e, em geral, não tem efeitos secundários; apenas em alguns casos produz erupções cutâneas de natureza alérgica e anemia. A rifampicina, que é mais cara, é inclusivamente mais forte que a dapsona; os seus efeitos colaterais mais graves são a lesão hepática e sintomas semelhantes aos da gripe. Outros antibióticos que podem ser administrados aos leprosos incluem a clofazimina, a etionamida, a minociclina, a claritromicina e a ofloxacina.

A antibioterapia deve ser continuada durante muito tempo, porque as bactérias são difíceis de erradicar. Dependendo da gravidade da infecção e da opinião do médico, o tratamento pode ser mantido por um período que oscila entre 6 meses e muitos anos. Muitas pessoas afectadas de lepra lepromatosa tomam dapsona o resto da sua vida.

Segue: Doença do Sono
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8073: Convívios (223): Pessoal da CCAÇ 816 (Bissorã, Olossato, e Mansoa, 1965/67) dia 7 de Maio de 2011 em Barcelos (Rui Silva)

Vd. último poste da série de 26 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7674: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (4): As abelhas (Rui Silva)

Guiné 63/74 - P8132: Parabéns a você (249): Augusto José Saraiva Vilaça, ex-Fur Mil da CART 1692/BART 1914 (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ

19 DE ABRIL DE 2011

AUGUSTO VILAÇA

Caro camarada Augusto Vilaça*, embora desconheçamos oficialmente a data do teu aniversário, fomos alertados pelo facebook.

Assim, vêm os Editores, em nome de toda a Tertúlia, desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos mais próximos.

Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que amas e prezas.

Na hora do brinde não esqueças os teus camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde e longevidade.
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Notas de CV:

(*) Augusto José Saraiva Vilaça foi Fur Mil na CART 1692/BART 1914 que esteve em Sangonhá e Cacoca nos anos de 1967/69.

Vd. último poste da série de 19 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8130: Parabéns a você (248): Victor Barata, ex-Especialista da FAP, DO 27, BA 12, 1971/73 (Tertúlia / Editores)

Guiné 63/74 - P8131: Álbum fotográfico do Hugo Costa (3): O Saltinho e o Corubal que nos continuam a fascinar... Assinalando o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, dedicado ao tema "Água: Cultura e Património"...






Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > 18 de Abril de 2006, dia 8 (da viagem Porto-Bissau) > 19h07 > Lavadeiras, ao fim da tarde...






Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > 18 de Abril de 2006, dia 8 (da viagem Porto-Bissau) > 19h06 > Ir lavar a louça ao rio, ao fim da tarde...



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > 18 de Abril de 2006, dia 8 (da viagem Porto-Bissau) > 19h16 > Os banhistas de fim da tarde (1)...






Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > 18 de Abril de 2006, dia 8 (da viagem Porto-Bissau) > 19h16 > Os banhistas de fim da tarde (2)...








Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > 18 de Abril de 2006, dia 8 (da viagem Porto-Bissau) > 15h17 >  O fotógrafo, em primeiro plano, com a ponte (ex-Craveiro Lopes) ao fundo... (Não sei como se chama agora a ponte, deve ter sido rebaptizada)... 


Junto á ponte há uma lápide, em bronze, evocativa da "visita, durante a construção" (sic) do então Chefe do Estado Português, general Francisco Higino Craveiro Lopes , acompanhado do Ministro do Ultramar, Capitão de Mar e Guerra Sarmento Rodrigues, em 8 de Maio de 1955. A ponte só iria ser inaugurada em 1958, ao tempo Governador (1957/58) Álvaro Rodrigues da Silva Tavares (n. 1915) e depois Alto Comissário e Governador de Angola (Janeiro de 1960 / Junho de 1961.



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > 18 de Abril de 2006, dia 8 (da viagem Porto-Bissau) > 15h17 >  A Inês, filha do Xico Alen, à esquerda, deitada, com a ponte ao fundo...






Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > 18 de Abril de 2006, dia 8 (da viagem Porto-Bissau) > 19h06 >   Todo o tráfego da Guiné, do norte para o sul, passa  por esta ponte, que é uma bela obra da engenharia portuguesa...






Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > 18 de Abril de 2006, dia 8 (da viagem Porto-Bissau) > 19h06 >   Passagem pedonal na ponte do Saltinho...




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > 18 de Abril de 2006, dia 8 (da viagem Porto-Bissau) > 19h06 >   Marco junto à ponte... Ano de 1948, o da construção da  "passagem submersível", em uso até 1955, e portanto anterior à actual ponte)...




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > 18 de Abril de 2008, dia 8 (da viagem Porto-Bissau > 19h50 >   Gente gira do Saltinho... Na foto de grupo, estão também o Hugo e a Inês...




Fotos e legendas: © Hugo Costa / Albano Costa (2006). Todos os direitos reservados




1. Já aqui publicámos belíssimas fotos do nosso amigo Hugo Costa (*), filho do nosso camarada Albano Costa,  documentando a viagem por terra, do Porto a Bissau, organizada pelo Xico Allen, em Abril de 2006, bem como a viagem pelo interior da Guiné-Bissau (que os levou a vários sítios, de norte a sul e de leste a oeste).  A caravana era constituída por um único... jipe, que levou sete pessoas (!): além do Xico e da Inês Allen, o Hugo Costa, o A. Marques Lopes, o Zé Teixeira, o Casimiro e o Manuel Costa.


Essa viagem ficou registada numa série de crónicas assinadas pelo A. Marques Lopes, na I série do nosso bogue, bem como em alguns apontamentos do Albano Costa (que, dessa vez, ficou na terra, em Guifões, Matosinhos, porque alguém tem de ganhar para a bucha...  recorde-se que ele é fotógrafo profissional)...


Desta vez, e aproveitando o facto de se ter celebrado ontem o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, dedicado ao tema "Água: Cultura e Património", lembrei-me de fazer uma pequena homenagem ao Rio Corubal e ao Saltinho que ainda hoje nos continuam a fascinar... e que são um dos ícones da Guiné-Bissau... O rio Corubal é verdadeiramente o único grande rio da Guiné (como escreveu algures Amílcar Cabral), já que os outros são rias ou braços de mar... Com uma extensão de 560 km, nasce nos montes Futa Djalon, na Guiné-Conacri e desagua no Rio Geba... Até hoje a Guiné-Bissau não soube aproveitar as suas potencialidades, turísticas, agrícolas e hidroelétricas... Claro que um dia destes os chineses vão construir a tão sonhada  barragem do Saltinho (mega ? média ? mini ?), e destuir toda aquela hamoniosa e fascinante beleza...


É também uma homenagem ao filho de um camarada nosso que já foi duas meses à Guiné-Bissau, uma com o pai em Novembro de 2000, e outra em Abril de 2006, sem o pai, mas levando sempre a máquina fotográfica e a câmara de vídeo.


Não tenho sabido nem de um nem de outro, mas espero que estejam bem. Daqui vai o meu abraço, do tamanho do Corubal, para Guifões, para o camarada Albano Costa e para o nosso jovem amigo Hugo Costa. (LG)
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Notas do editor:


(*) Último poste da série > 14 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3207: Álbum fotográfico do Hugo Costa (2): A viagem Porto-Bissau, de Abril de 2006, organizada pelo Xico Allen, em 15 fotos


(**) Vd. postes de:


17 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5288: Memória dos lugares (55): Pontes do Rio Corubal (Carlos Silva)


(...)  O rio Corubal nasce nos montes do Futa-Djalon na Guiné-Conakri, percorre uma grande extensão do território da Guiné-Bissau, passando pelo Cheche, [onde se deu o grande desastre, gravado na nossa memória, 47 mortos das NT]; Saltinho, Xitole, indo desaguar no rio Geba próximo da Ponta do Inglês, Ponta Varela.




1ª - Ponte Carmona que fica situada a 5 ou 6 kms a Sudoeste da povoação do Xitole.


2ª - Ponte Submersível a montante da Ponte Carmona e localizada nos rápidos do rio Corubal no Saltinho junto à povoação e posteriormente durante a Guerra Colonial junto do aquartelamento-destacamento militar, cuja construção foi iniciada em 1947, terminada e inaugurada em 1948.


3ª – Ponte Craveiro Lopes, a 80 ou 100 metros a jusante da Ponte Submersível, iniciada em 1955, terminada e inaugurada em 1958. (...)


12 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5260: Memória dos lugares (54): Uma ponte mágica, a do Saltinho, sobre o Rio Corubal (Mário Beja Santos)


(...) Segundo o Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, número 51, Julho de 1958, no acto inaugural, o Eng Abel Aires referiu-se a vários aspectos da construção iniciada em Abril de 1955. Trata-se de uma ponte constituída por quatro tramos de 35,5 metros entre eixos. Os tramos assentam sobre três pilares centrais construídos em betão ciclópico. O comprimento da ponte entre os seus eixos extremos é de 146 metros, com uma largura da faixa de rodagem de 6 metros.
 
Referia-se expressamente que a ponte, para além destas dimensões impressionantes, iria substituir satisfatoriamente a ponte Marechal Carmona, o administrador de Fulacunda disse expressamente no acto inaugural de 1958 que a ponte Marechal Carmona já não servia os interesses da população, não fiquei a perceber porquê.
 
É para mim uma ponte mágica, passei por lá sempre deslumbrado, quando ia levar abastecimentos ao Xitole, algumas vezes com o Luís Graça. (...)

Guiné 63/74 - P8130: Parabéns a você (248): Victor Barata, ex-Especialista da FAP, DO 27, BA 12, 1971/73 (Tertúlia / Editores)



PARABÉNS A VOCÊ

19 DE ABRIL DE 2011

VICTOR BARATA

Caro camarada Especial(ista) Victor Barata*, a Tabanca Grande está contigo nesta data festiva, principalmente porque hoje entras no grande grupo dos Sexas.

Assim, vêm os Editores, em nome de toda a Tertúlia, desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos mais próximos.

Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que amas e prezas.

Na hora do brinde não esqueças os teus camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde e longevidade.
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Notas de CV:

- Postal de aniversário de autoria do camarada Miguel Pessoa, Pilav da FAP.

- (*) Victor Barata foi Especialista da FAP, DO 27, BA 12, 1971/73.

- Vd. último poste da série de 18 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8121: Parabéns a você (247): Raul Brás, ex-Soldado Condutor Auto, CCAÇ 2381 "Os Maiorais", 1968/70, natural de Salavessa, Nisa (Tertúlia / Editores)

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8129: Memórias de um ex-combatente (1): O desenrasca e a chegada a Bissau (Manuel Sousa)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Sousa* (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74, Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma), com data de 15 de Abril de 2011:

Camarada Carlos Vinhal:
Envio-te em anexo, como tinha prometido, um bloco de memórias, desta vez colaterais à guerra da Guiné.
Junto também em anexo as duas fotografias que já estão inseridas nos textos, caso sejam úteis para uma melhor edição no blog.

Um abraço.
Manuel Sousa


MEMÓRIAS DE UM EX-COMBATENTE (1)

Por Manuel Luís Rodrigues Sousa, ex-Soldado do 3.º Pelotão da 2.ª Companhia (Jumbembém) do BCAÇ 4512 sediado em Farim 1973/1974.

Como introdução a este memorando de episódios colaterais à guerra da Guiné, queria aqui fazer referência a um tema tão actual na nossa sociedade, de que muito se fala, que é a “geração à rasca”.

Só para dizer que eu e os meus contemporâneos dos anos sessenta e setenta, com todas as dificuldades conhecidas da época, inclusive a obrigatoriedade de bater com os costados na guerra colonial, e comparando com as dos jovens de hoje, também pertencíamos, e de que maneira, a uma geração não menos “à rasca”.
Contudo, havia um vocábulo que toda a gente conhecia e o punha em prática e que era o antídoto para este mal: “o desenrasca”.
Então na tropa este conceito era um lema.


“O desenrasca” ( a minha recruta em Vila Real)

A 31 de Julho de 1972, apresentei-me no RI 13 em Vila Real, para frequentar a recruta.

Depois de me ser atribuído o número mecanográfico (09030772) e de ser indicada a 5.ª caserna como os meus futuros aposentos, impunha-se a atribuição de todo o fardamento.

O átrio de acesso à caserna era comum à arrecadação a cuja porta me dirigi, numa extensa fila e, chegada a minha vez, estenderam no chão um dos cobertores que me distribuíram, para onde foram atirando com todas as peças de fardamento e calçado sem qualquer critério em relação ao número dos tamanhos.

Uma vez a dotação completa, juntei as quatro pontas do cobertor, coloquei aquela trouxa às costas, que era maior do que eu, sem saber bem o que é que ia fazer a tudo aquilo, e dirigi-me para a caserna.

Fardei-me imediatamente, como nos foi ordenado, notando que as calças eram um pouco justas.
Depois de fardado foi-me dada a tarefa, juntamente com outros colegas, de varrer a caserna.

A caserna era muito grande com um corredor lateral, que dava acesso a vários compartimentos das camaratas.
Ao baixar-me para varrer sob uma das camas, as calças descoseram-se entre pernas, numa extensão de cerca de 20 centímetros.
Recorri então ao meu “kit de sobrevivência”, ao carrinho de linhas e uma agulha que a minha mãe me tinha metido na mala e sentei-me numa cama a coser as calças.

Confesso que não me estava a sair nada bem na minha aventura de iniciação ao corte e costura, porque lá em casa isto era tarefa da mãe e das irmãs.
Felizmente alguém lá ao fundo da caserna bradou:

- Quem quer trocar umas calças?

Respondi logo:

- Troco eu - tirando imediatamente a agulha e a linha das calças.

Concretizou-se rapidamente a troca e, prevendo já no que aquilo iria dar, vesti-me num ápice e regressei à tarefa da limpeza.

Volvidos alguns instantes, vem disparado corredor abaixo o tal militar com as calças na mão a vociferar, perguntando compartimento em compartimento quem lhe tinha acabado de trocar as calças, visto que não me conseguiu conhecer no meio de tanta farda verde.
Percorreu todos os compartimentos, mas como ninguém lhe respondeu, inclusivamente eu, o “criminoso”, indignado com a situação, berrou a plenos pulmões pelo corredor da caserna. “Quem foi o filho da puta que me trocou as calças”.


Foi nesta camarata que teve lugar a célebre troca das calças, as que uso nesta foto.

Quase de certeza que o militar a quem eu impingi as calças descosidas também é um dos ex-combatentes.
À pergunta que ele fez na altura estou-lhe a responder agora, 38 anos depois, embora não me identifique pelo “nome” que me chamou.
Seria interessante agora o contacto entre ambos para revivermos esse passado em que a tropa mandava desenrascar.


“Roubaram-me” a mala

Uma vez iniciada a recruta em Vila Real, à medida que os dias iam decorrendo, fui-me integrando na rotina do dia a dia.
Os meus aposentos eram na 5.ª caserna, situada entre a 4.ª e a 6.ª , ao lado da parada, gémeas umas das outras. Eram exactamente iguais.

Eu estava instalado no segundo compartimento, ao lado esquerdo do corredor, em relação à entrada, e partilhava o armário de chapa com outro militar.
Sobre as coisas do armário estava descansado, visto estar fechado a cadeado.
Quanto às que estavam na mala, que coloquei sobre o mesmo armário, não estava muito tranquilo, porque, embora também fechada à chave, estava mais vulnerável aos amigos do alheio que na tropa existiam, principalmente no inicio enquanto ninguém conhecia ninguém.

Preocupado, quando entrava na caserna, ao regressar da instrução, tinha o cuidado de olhar imediatamente para a mala, para me inteirar de que estava intacta.

Um dia entrei na caserna e reparei que a mala tinha desaparecido. Não estava sobre o armário.

Fiquei em estado de tensão com a preocupação e reparei que na caserna entraram militares que não era habitual vê-los por ali.
Deduzi logo que, provavelmente, tinha sido algum deles a furtar-me a mala.
Corri imediatamente para fora para me dirigir para a secretaria a comunicar o facto e fazer referência aos militares suspeitos.

Quando cheguei à rua, apercebi-me de que estava na caserna errada.
Estava na 6.ªcaserna.

Ufa! Que alívio!
Fiquei então mais tranquilo com o mistério desvendado e cheguei à conclusão que o único intruso na 6.ª caserna era eu.


A aventura da segunda refeição (no RI 2 em Abrantes)

Terminada a recruta no RI 13 em Vila Real, em finais de Setembro de 1972, fui transferido para o RI 2 em Abrantes, a fim de, como se dizia, tirar a Especialidade.

Dado o elevado número de militares ali concentrados, em instrução e a própria guarnição do quartel, o refeitório não comportava as refeições em simultâneo de todo o contingente, pelo que eram distribuídas por duas mesas.

Um dia, depois de ter tomado a refeição do almoço da primeira mesa, que não foi suficiente para saciar a voracidade provocada pelo esforço da instrução, um militar que integrava o meu círculo restrito de amigos sugeriu ao grupo para entrarmos na segunda mesa, para repetirmos a refeição.

Entrámos então, um grupo de quatro ou cinco, dispersos na fila que aguardava a entrada no refeitório, mas todos próximo uns dos outros.
O companheiro da sugestão era o primeiro dos “repetentes” e era uma das caras que não passava despercebida e lado nenhum, dada a sua irreverência, a que vulgarmente se chamava de “reguila”.

À porta do refeitório encontrava-se um aspirante ou um aferes, o oficial de dia, que controlava as entradas no refeitório, permitindo apenas a entrada de cada vez do número de militares para completar cada mesa.

Chegada a vez do primeiro “repetente” passar no “filtro”, reconhecido pelo oficial como intruso, ali mesmo, na nossa frente, foi esbofeteado e pontapeado e posto imediatamente na rua.

No meio da confusão, aos restantes só restava fugir para a frente.
Entrámos normalmente, com cara de sonsos, sem que ninguém nos tivesse reconhecido.
Confesso que pouco comi na segunda refeição, depois do calafrio porque passei..

Saliento a lealdade do camarada esbofeteado que não denunciou os restantes “repetentes”.
Recrimino a atitude do oficial em causa.

Não obstante a nossa atitude ter sido um acto reprovável, revelando até falta de ética, mas que com vinte anos não se tinha muito a noção disso, o mesmo oficial não deveria ter tido o despudor de desfeitear o militar daquela maneira. A aplicação de uns reforços ou de umas faxinas resolveria a situação e seria mais digno para ambas as partes.
Atenua-se, contudo, a sua atitude, também pela sua juventude, da nossa idade, também imaturo.


O embarque na metrópole e a chegada a Bissau

Ao romper da manhã do dia 6 de Dezembro de 1972 todo o Batalhão 4512 se deslocou em coluna de viaturas desde o quartel de Tomar, de onde era originário, até à estação local de Caminhos de Ferro, onde tomou um comboio especial com destino a Lisboa.

Na estação de Braço de Prata a agulha direccionou-o para a direita, passando por Campolide, Aqueduto das Águas Livres, terminando a viagem cerca das 11 horas no Cais da Rocha em Alcântara, defronte do paquete Uíge ali fundeado.

Durante a tarde decorreram ali cerimónias de despedida e, ao fim da tarde, num dia de chuva miudinha e nevoeiro, depois da emocionante despedida entre os militares e os familiares, zarpou do cais o Uíge, levando a bordo dois Batalhões, entre eles o 4512 a que eu pertencia, além de uma ou outra subunidade, rumo à Guiné.


O meu pelotão no paquete Uíge. Atrás, da esquerda para a direita, sou o 5.º
Fotografia cedida pelo ex-alferes Pedroso (a meio, de pé, de camisa clara).

Volvidos seis dias após a partida depois de uma viagem um pouco tormentosa devido ao mau estado do mar, entre enjoos e consequentes descargas no mar, principalmente para quem viajou nos porões como eu, a 12 de Dezembro de 1972 aproximou-se o paquete “Uíge” do cais de Bissau, ao cair da noite, ficando ao largo até ao dia seguinte de manhã.

Como horizonte de um dos lados, bem diante dos nossos olhos, via-se a iluminação da cidade de Bissau.
No convés tentava eu sintonizar o meu pequeno receptor de rádio, à procura de alguma emissão em português, já que na Onda Média apareciam algumas estações em língua francesa.

Procurei e fixei-me numa estação de sinal mais forte, que na altura transmitia música popular africana.
Aguardei pacientemente até que, terminado o trecho musical, ouvi a voz cristalina da locutora, como acordes de cordas de violino:

- Aqui Bissau, Portugal…!

É indescritível a sensação que tive, ao ouvir a língua de Camões na emissão, sabendo que já estava em terras de África.

(Continua)
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8084: Blogpoesia (143): Vila do Conde é um poema (Manuel Sousa)

Guiné 63/74 - P8128: Controvérsias (119): 10 de Junho: Ainda, o Dia dos Combatentes (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 14 de Abril de 2011:


O DIA DOS COMBATENTES

Tenho lido os textos e comentários que têm surgido, quer na Tabanca Grande, quer nos Especialistas da BA12, (muito franca adesão), quer no Facebook, etc.

Tenho presente o texto do António Martins Matos**, um “balde de água morna”, porque não foi nada que eu não esperasse.

E agora, o que fazer?

Muitos pretendem desfilar já este ano, (ainda não entendi muito bem como), o que de algum modo eu também apoiarei. Mas isto não se pode tratar de uma coisa efémera e sem continuação!

Assim decidi colocar à consideração de todos as ideias que fui alinhavando, continuando o trabalho iniciado pelo António M. Matos e continuado pela Carta Aberta ao P. R., que acredito irá ter resposta.

Assim, e salvo melhor opinião, vejo dois caminhos para se continuar a exigir um Dia dos Combatentes.


1 - Dia dos Combatentes no 10 de Junho

Começar já a trabalhar para que em 2012 o 10 de Junho seja um verdadeiro Dia dos Combatentes tal como expresso na Carta Aberta ao P. R. e comentários subsequentes.

Para tal proponho que se constitua uma “comissão de trabalho”, cuja liderança entregaria ao António Martins Matos. Disponibilizo-me para estar e ajudar na mesma. Nesta Comissão deveriam estar representados os diversos Ramos das Forças Armadas.

Esta nossa pretensão deveria ser divulgada junto dos outros combatentes de Angola, Moçambique, etc., que também integrariam a comissão, mas que nunca ultrapassasse como número total, as 5 ou 7 pessoas para ser possível tomar decisões em tempo útil.


2 – Dia dos Combatentes fora do 10 de Junho

Poderão dizer os juristas que temos como camarigos, mas julgo que a liberdade de manifestação, devidamente autorizada, é livre em Portugal.

Então, a tal Comissão “descrita” no ponto anterior, devidamente mandatada, (mais à frente darei pistas de reflexão para percebermos como), podia fazer o tal pedido de autorização de manifestação, marcando para tal um dia preciso, que passaria a ser o Dia dos Combatentes, todos os anos.

Como sugestão, a talhe de foice, lembraria o dia 6 de Novembro, dia de São Nuno de Santa Maria, (D. Nuno Álvares Pereira), o combatente mais ilustre da Nação Portuguesa.

A Comissão organizadora, que deveria mudar todos os anos, para além de tratar dos aspectos logísticos e divulgação, poderia fazer os convites às entidades que os combatentes julgassem importantes, tais como o Presidente da República, como Comandante Supremo das Forças Armadas.

Atenção!  Se fosse necessária esta segunda alternativa, por impossibilidade de os organizadores do 10 de Junho aderirem ao que pretendemos, é minha opinião que nenhum combatente deveria colocar mais os pés nessas cerimónias que passarão a ser apenas para “inglês ver”!


Sugestões de procedimentos

Poderia, como já alvitrei, constituir-se um blogue apenas para este efeito, onde todos os combatentes pudessem emitir as suas opiniões. Esse blogue abriria com o texto inicial do António M. Matos, já publicado na Tabanca Grande, bem como a Carta Aberta ao P. R. Seguir-se-ia um texto como este, explicando os passos que poderemos dar, para levar para a frente o Dia dos Combatentes.

Na Carta Aberta já escrita, ou noutro texto a escrever, os combatentes colocariam as suas assinaturas de concordância, o que em termos logísticos se pode tornar muito complicado.

Assim, essa Carta ou outro texto poderiam constituir a forma de Petição, (com prazo determinado), dando a possibilidade via Net de assinatura dos combatentes, com nome, nº do B.I e indicação da Unidade Militar em que combateram. Essa Petição seria depois enviada para a Presidência da República.

Outra forma seria, cada um imprimir a Carta ou o texto e enviá-lo via Net ou correio à Presidência da República, (durante um determinado prazo de tempo), dando conhecimento escrito à Comissão.

Tanto uma forma como outra, mediante as adesões, que acredito serão em grande número, essas assinaturas respaldarão a credibilidade da Comissão que assim pode agir em consonância.

Uma das atitudes que a Comissão pode tomar é pedir uma audiência ao P. R., para explicar de viva voz a situação e a vontade dos combatentes.

Apenas quero deixar aqui pistas de procedimentos, que serão com certeza enriquecidos com todos os comentários e sugestões que queriam deixar.


Notas finais

Percebemos pelos comentários tanto na Tabanca Grande como em Especialistas da BA 12, outros blogues e mails recebidos,  que a ideia despertou grande interesse e adesão, pelo que não devemos deixar morrer esta arrancada inicial, e prosseguirmos até levarmos a nossa avante.

Sabemos que muitos de nós estamos revoltados com o desprezo, a apatia, o desinteresse a que fomos votados pelas autoridades do nosso país.

Peço no entanto que não ponhamos a tónica dos nossos comentários nessa revolta, ficando apenas pelos protestos e pelo “pessimismo” de se dizer que nada se pode fazer.

Se aqueles que tinham mais responsabilidades para o fazerem, ou seja, as autoridades do País, não o fazem, mostremos-lhe então que somos capazes de nos unir e mostrar que ainda somos gente e que não deixamos os nossos créditos por mãos alheias.

Tenho a certeza de que somos capazes, e tenho a certeza que num momento em que a estima dos Portugueses está tão em baixo, a demonstração que os Portugueses se unem para homenagear Portugueses, será um bálsamo para muitos que não se revêem neste “cruzar de braços”.

Ao trabalho!
Todos não somos demais!

Monte Real, 14 de Abril de 2011
Joaquim Mexia Alves
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Notas de CV:

(*) vd. poste de 14 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8097: Convívios (225): 11º Encontro da Tabanca do Centro, dia 27 de Abril de 2011 em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

(**) Vd. poste de 2 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8034: Controvérsias (117): No rescaldo do Almoço da Tabanca do Centro, onde mais uma vez se falou do nosso dia, o dia dos ex-combatentes (António Martins de Matos)

Vd. último poste da série de 7 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8063: Controvérsias (118): 10 de Junho: “Passagem final pelas lápides”, ou “Desfile” (António Martins de Matos)

Guiné 63/74 - P8127: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (7): Estimado Blogue, passados apenas 7 anos acolhes quase 500 ex-combatentes (Manuel Marinho)

1. Mensagem de Manuel Marinho (1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74), com data de 14 de Abril de 2011:


O 7º ANIVERSÁRIO DO BLOGUE

Estimado BLOG amigo, vais fazer 7 anos de existência, e faço questão de não te esquecer, dirigindo-te umas pequenas palavras de reconhecimento pelo teu sucesso, que atingiu níveis que nem tu sequer imaginavas quando o teu autor Luís Graça te criou.

E tudo o que se diga de bom a teu respeito é pouco, muito e bem o mereces.

Afinal nunca pensaste que passados apenas 7 anos, hoje estarias a dar alojamento a quase 500 ex-combatentes, que te contam e confidenciam muitas das coisas, que a mais ninguém contaram.

Tens a virtude de aturar-lhes as manias e às vezes as más disposições que também fazem parte da vida, quando isso acontece é porque há pessoas que os insultam na sua dignidade de ex-combatentes, e julgam que podem apagar a História, a seu bel prazer.

E aí acolhes a justa e merecida indignação de muitos deles, és o amigo de sempre.

A tua hospitalidade, para com toda esta malta, requer organização, normas de convívio e a melhor das vontades, para zelar pela boa condução das mesmas.

Por isso tens como editores além do teu administrador Luís Graça, os camaradas Carlos Vinhal e Magalhães Ribeiro estes quase a tempo inteiro, e o Virgínio Briote em descanso, mas provavelmente muito atento.

E como cresceste de forma muito rápida na forma e no conteúdo, arranjaram-te um conjunto de excelentes colaboradores permanentes.

Espero que nunca te envaideças e continues a tratar todos estes ex-combatentes com a mesma simplicidade de sempre.

Mas também com o orgulho de acolheres no Blog esta geração que um dia combateu, e faz questão de Honra de não ser esquecida, e muito menos mal tratada.

Mas és um privilegiado porque recebes de todos eles as estórias que um dia vão fazer parte da História da Guerra Colonial na Guiné.

A maior parte delas são dolorosas, ou não se tivessem passado numa Guerra, mas não fiques com sentimentos de culpa, podes estar sossegado que os que te escrevem ficam-te com uma gratidão ilimitada, és o único confidente credível que arranjaram para dialogarem com a linguagem que só eles entendem.

És dono de uma riqueza sem igual, por teres adquirido informação que poucos ou quase nenhum Blog te poderá igualar.

E depois tens as escritas organizadas por temas, destaco duas por razões diferentes.

Blogpoesia;
A poesia não sendo o tipo de leitura que eu aprecie (sou um anarca nas minhas leituras), mas reconheço que nem todos podem ter essa capacidade de transmitir sentimentos pela escrita, como os nossos poetas e uma poetisa o têm feito para ti, com um crescimento que me apraz registar

Parabéns a você;
Nesta fico intrigado, e aqui tens de intervir pedindo a colaboração dos teus alojados ex-combatentes para que repartam equitativamente os votos de Parabéns, por achar que é um tema que deveria ser mais consensual.

Nunca percebi que uns tenham 30 ou 35 comentários e outros apenas metade, vê se consegues fazer com que todos recebam umas simples linhas de amizade que só uma vez por ano se dão, e que sabem bem a quem as recebe, ou não somos todos camaradas?

Por fim ao pedir-te alojamento, fiquei viciado nas visitas que te faço diariamente, acho que até por isso não poderia ficar bem sem te desejar a ti Blog, que continues em crescimento, acolhendo muito mais camaradas que por certo virão ter contigo.

E a todos os ex-combatentes que te continuam a mimosear com os seus escritos as maiores felicidades.

PARABÉNS BLOG!

Um grande abraço para todos vós
Manuel Marinho


2. Nota do editor de serviço:

Caro Manuel Marinho
Obrigado pelas tuas palavras que vão por inteiro para o Luís. Ele sim tem as costas largas para aguentar os nossos elogios.

Quanto à tua observação sobre o número de mensagens que os aniversariantes recebem, como compreendes não depende de nós. As mensagens enviadas/recebidas dependem de muitos factores, tais como, digo eu, a antiguidade no Blogue, a participação mais ou menos activa, pertencer a um ou outro grupo restrito de amigos (Tabancas, por exemplo), etc, etc.

No primeiro ano fizemos um tipo de postes onde praticamente voltámos a apresentar à tertúlia os aniversariantes, mas depois achamos exaustivo estar sempre a dizer a mesma coisa todos os anos. Interessa sim, lembrar cada aniversário porque é sinónimo de que estamos por aqui prontos para a luta diária, venham as dificuldades donde vierem. Cabe a cada camarada manifestar a sua solidariedade, enviando os parabéns ao aniversariante. Não esqueças, contudo, que há contactos directos que não contam para as estatísticas. Eu sou um dos que enviam os parabéns por mensagem ao próprio, como sabes.

Um abraço e muito obrigado pelas tuas observações sempre oportunas.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8067: (Ex)citações (135): Reflexão - Será que nos repetimos? (Manuel Marinho)

Vd. último poste da série de 18 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8122: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (6): Que rica é a nossa Tabanca (2) (Albino Silva)