É também uma forma de homenagear um camarada que, muito embora não tenha estado no TO da Guiné, muito tem feito pela pesquisa e divulgação das histórias de vida e das memórias de guerra de vários de nós, a começar pelos seus conterrâneos, do Seixal da Lourinhã, que amobilizados para Angola, Guiné e Moçambique (mais de 40).
Irei apresentá-lo à Tabanca Grande, muito em breve, talvez ainda hoje, se a minha agenda o permitir. Achei oportuno, por esse motivo, divulgar agora este texto que, não tendo, na altura, sido de imediato publicado, acabou por ficar no "limbo" do nosso blogue. Sempre me habituei a ver nele um homem de princípios e de valores. A sua presença muito me honra e me apraz, tratando-se além do mais de um lourinhanense e de um amigo de infância.
Luís, envio-te um texto de opinião sobre a “polémica” em volta dos 40º Aniversário da Independência da Guiné, comemoração organizada pela Associação dos Antigos Combatentes de Cubacaré [. Região de Tombali, Guiné-Bissau]. Se entenderes que é oportuno, agradecia que o colocasses no teu blogue.
Agradeço-te, também, o convite para fazer parte do vosso blogue. Penso enviar-te a foto que me pediste quando tiver algo de
concreto sobre a cerimónia de homenagem ao [José Henriques] Mateus, [da Areia Branca, Lourinhã, camarada desaparecido em combate].
Penso voltar ao Seixal para participar na caldeirada do dia 14 de outubro, em Ribamar, organizada pelo nosso amigo Eduardo Jorge. Nessa altura, farei o ponto da situação junto deles [, da comissão organização da homenagem ao Mateus,] e da Liga dos Combatentes. Igualmente irei enviar-te os cartazes da exposição dos combatentes do Seixal. (...)
2. Comentário de Jaime Silva [ou Jaime Bonifácio Marques da Silva, como ele é mais conhecido emtre a malta do seu tempo de tropa e na sua terra], ao poste P12073 (*):
Caro Luís Graça e camaradas combatentes da Guiné
Sou ex-combatente e cidadão atento à causa dos que lutaram na Guerra em África. Permitam-me, por esse facto, comentar o Poste colocado no Blogue a propósito do 40º Aniversário da Independência da Guiné, organizado pela Associação dos Antigos Combatentes de Cubacaré. (*)
Não combati na Guiné. Fui combatente em Angola no BCP21 (1.ª CCP). Comandei durante 28 meses um pelotão nas matas do norte e leste. Algumas destas operações (três) foram realizadas em conjunto com o meu camarada Tenente Miliciano e comandante do 1.º pelotão SNogueira que comenta, também, este poste. (*)
Tenho consciência que a guerra que enfrentámos em Angola não teve a mesma dimensão das dificuldades extremas que alguns de vocês enfrentaram, em determinado período, na Guiné (apesar da zona dos Dembos no norte de Angola e a norte do rio Cassai no leste serem, por vezes, deveras complicadotas!..).
Todos estamos de acordo, porque é uma evidência, que a nossa participação na guerra em África, em qualquer um dos três teatros de operações, teve um ponto comum e um objetivo que foi bem definido pelos decisores políticos da época quando lançarem este pobre país na guerra, ou seja, a nossa missão (por definição de guerra) era a destruição do “in”, “inimigo", “terrorista”, “turra” “filhos da puta”, “aqueles gajos querem roubar o que é nosso”. Foi para isto que o “velho” (Salazar), como lhe chamava o Prof. Adriano Moreira, nos enviou, primeiro, “Para Angola rapidamente e em força” e, depois, para a Guiné e Moçambique.
Mas, uma guerra (esta guerra) não se faz (fez) contra “Moinhos de Vento”. Uma guerra faz-se, sempre, por uma causa e contra alguém e, numa guerra, há sempre os dois lados da contenda. Sempre foi assim na história da humanidade e em África não fugimos à regra. Encontrámos e defrontámos um oponente que sabia o que queria e porque combatia. Os africanos que combatemos, entendiam que deviam ser senhores e donos dos seus destinos e da sua terra e nas emboscadas davam-nos conta disso e gritavam, também: “esta terra é nossa”, “vai para a tua terra, portuga de merda”, “tuga do caralho, vai para o Puto”, “vais morrer, filha da puta” (esta, era a frase que me soava pior, dava-me agoiro e, infelizmente, deixei lá um soldado e a perna de um outro).
Penso voltar ao Seixal para participar na caldeirada do dia 14 de outubro, em Ribamar, organizada pelo nosso amigo Eduardo Jorge. Nessa altura, farei o ponto da situação junto deles [, da comissão organização da homenagem ao Mateus,] e da Liga dos Combatentes. Igualmente irei enviar-te os cartazes da exposição dos combatentes do Seixal. (...)
2. Comentário de Jaime Silva [ou Jaime Bonifácio Marques da Silva, como ele é mais conhecido emtre a malta do seu tempo de tropa e na sua terra], ao poste P12073 (*):
Caro Luís Graça e camaradas combatentes da Guiné
Sou ex-combatente e cidadão atento à causa dos que lutaram na Guerra em África. Permitam-me, por esse facto, comentar o Poste colocado no Blogue a propósito do 40º Aniversário da Independência da Guiné, organizado pela Associação dos Antigos Combatentes de Cubacaré. (*)
Não combati na Guiné. Fui combatente em Angola no BCP21 (1.ª CCP). Comandei durante 28 meses um pelotão nas matas do norte e leste. Algumas destas operações (três) foram realizadas em conjunto com o meu camarada Tenente Miliciano e comandante do 1.º pelotão SNogueira que comenta, também, este poste. (*)
Tenho consciência que a guerra que enfrentámos em Angola não teve a mesma dimensão das dificuldades extremas que alguns de vocês enfrentaram, em determinado período, na Guiné (apesar da zona dos Dembos no norte de Angola e a norte do rio Cassai no leste serem, por vezes, deveras complicadotas!..).
Todos estamos de acordo, porque é uma evidência, que a nossa participação na guerra em África, em qualquer um dos três teatros de operações, teve um ponto comum e um objetivo que foi bem definido pelos decisores políticos da época quando lançarem este pobre país na guerra, ou seja, a nossa missão (por definição de guerra) era a destruição do “in”, “inimigo", “terrorista”, “turra” “filhos da puta”, “aqueles gajos querem roubar o que é nosso”. Foi para isto que o “velho” (Salazar), como lhe chamava o Prof. Adriano Moreira, nos enviou, primeiro, “Para Angola rapidamente e em força” e, depois, para a Guiné e Moçambique.
Mas, uma guerra (esta guerra) não se faz (fez) contra “Moinhos de Vento”. Uma guerra faz-se, sempre, por uma causa e contra alguém e, numa guerra, há sempre os dois lados da contenda. Sempre foi assim na história da humanidade e em África não fugimos à regra. Encontrámos e defrontámos um oponente que sabia o que queria e porque combatia. Os africanos que combatemos, entendiam que deviam ser senhores e donos dos seus destinos e da sua terra e nas emboscadas davam-nos conta disso e gritavam, também: “esta terra é nossa”, “vai para a tua terra, portuga de merda”, “tuga do caralho, vai para o Puto”, “vais morrer, filha da puta” (esta, era a frase que me soava pior, dava-me agoiro e, infelizmente, deixei lá um soldado e a perna de um outro).
Hoje, esta questão da pertença do território está resolvida, mas não está resolvida a questão da memória da nossa participação na guerra, porque essa nunca se apagará enquanto viver um combatente e, aliás, como não está resolvida a questão da reconciliação da Nação para com aqueles que a serviram (este é outro assunto de debate).
Muito menos está resolvida a questão da nossa “reconciliação" e do nosso “reconhecimento” de que do “outro lado da guerra” havia, também, homens que combatiam abnegadamente por um “ideal” e pela “sua terra” e é aqui, no meu entender, que está o pomo da discórdia entre alguns de nós! …
É, por isso, caro Luís Graça e camaradas responsáveis pelo blogue, que o vosso trabalho é um contributo importante e fundamental para a compreensão e preservação da memória da Guerra Colonial, particularmente na Guiné. Obrigado e continuai.
Este Poste, quanto a mim, tem essa virtude e insere-se, exatamente, na necessidade que temos de fazer um esforço para sermos capazes de “saber ver” os dois lados da Guerra.
Por isso, concordo e subscrevo, em absoluto, com os comentários dos camaradas de armas Luís Graça e Vasco Pires. [...] (*)
Saudações. (**)
Jaime Silva
Alf Mil Paraquedista (BCP21)
__________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 23 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12073: Notícia dos nossos amigos da AD-Bissau (29): Efeméride: Há 40 anos era proclamada, unilateralmente, a independência da Guiné-Bissau... (Não em Cubucaré, no sul, como estava inicialmente previsto, mas no leste, na região do Boé... E aqui não foi em Madina do Boé, nem em Lugajole, mas sim em... Vendu Leidi, um lugarejo fronteiriço)
(**) Último poste da série > Guiné 63/4 - P12090: (Ex)citações (225): O nosso blogue e o último dos nossos direitos como veteranos de guerra e cidadãos, o "jus esperniandi", o direito de espernear... (Vasco Pires, ex-cmdt, 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72; e português da diáspora no Brasil)
(*) Vd. poste de 23 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12073: Notícia dos nossos amigos da AD-Bissau (29): Efeméride: Há 40 anos era proclamada, unilateralmente, a independência da Guiné-Bissau... (Não em Cubucaré, no sul, como estava inicialmente previsto, mas no leste, na região do Boé... E aqui não foi em Madina do Boé, nem em Lugajole, mas sim em... Vendu Leidi, um lugarejo fronteiriço)