sábado, 20 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22020: Os nossos seres, saberes e lazeres (442): Convento de Jesus de Setúbal, com o restauro recente, ainda mais belo! (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Novembro de 2020:

Queridos amigos,
Arrebitou-me a orelha quando soube que o Convento de Jesus de Setúbal abrira ao público, depois de nova requalificação. É uma agradável surpresa que se pode agora contemplar depois de uma nova fase de trabalhos, a igreja e o convento têm a cara lavada e a harmonia do claustro desvanece-nos. Não há templo como este, e pode muito bem acontecer que o trabalho de Diogo Boitaca possa ser visto como o ensaio-geral do que irá acontecer nos Jerónimos e no Convento de Cristo em Tomar. O que acontece é a estreita harmonia que o arquiteto encontrou no rasgado das janelas, tira aquele ar sombrio que tantas vezes encontramos em templos parecidos.
Era inevitável a visita à Galeria Municipal, a obra-prima de Jorge Afonso e aquele retábulo de catorze quadros é um deslumbramento. Não percam.

Um abraço do
Mário


Convento de Jesus de Setúbal, com o restauro recente, ainda mais belo!

Mário Beja Santos

Confesso que esta igreja do antigo Mosteiro de Jesus ou Convento de Jesus de Setúbal sempre me fascinou, sempre que visitava a cidade era inevitável pôr-lhe os olhos em cima, contemplar esta delicadeza do que terá sido o ensaio geral do estilo manuelino que irá consagrar-se nos Jerónimos e no Convento de Cristo, em Tomar. Fiquei várias vezes à porta, a igreja conheceu os seus períodos de estaleiro, instâncias internacionais chegaram a alertar para o estado de degradação deste templo magnífico. Em outubro reabriu para nosso desfrute, convido todos a visitar a maravilha, foi desenhado por um nome sonante da época, Diogo Boitaca, estávamos em 1494, tudo começou por um voto da ama de D. Manuel I, freira que viveu em conúbio com um frade, até nasceu prole, em arrependimento nasceu este templo em brecha da Arrábida, que não tem rival. Proponho aos curiosos que cirandem antes de entrar, há outro olhar mais rasgado que agora o novo relvado permite, numa das últimas visitas que aqui fiz havia uma pista de skate, múltiplos grafitis, era um desconchavo na perspetiva, a bota não batia com a perdigota. O relvado, que se irá mostrar, harmoniza a aproximação e a despedida.

Dentro do restauro até o hornaveque foi reabilitado, por incultura fui ver o que era o hornaveque, pois fiquei a olhar para este belo pano da capela-mor e a sua aprimorada janela.
Hornaveque do Convento de Jesus
Entra-se numa porta de enorme sobriedade, estamos dentro de uma igreja-salão, janelas rasgadas para permitir uma luz homogénea, todo este interior é leve com os seus arcos de janelas e colunas torsas, tudo em brecha da Arrábida, o olhar sobe até às abóbodas e não deixa de surpreender o teto com as suas nervuras espiraladas. Diz a literatura a propósito que é o mais importante monumento nacional urbano de Setúbal e um dos mais relevantes exemplares da arquitetura manuelina ao sul do Rio Tejo. Impressiona pelas proporções, é evidente que se sente que falta qualquer coisa no altar-mor, lá iremos a outro local ver uma preciosidade restaurada, um dos retábulos mais audaciosos da nossa pintura religiosa.
Foi inicialmente ocupado por freiras Clarissas, melhor dito por um grupo de freiras Franciscanas da Ordem de Santa Clara. Rezam os cartapácios que é indiscutivelmente o primeiro ensaio em Portugal de uma igreja-salão, daí este pormenor de que o espaço é etéreo, houve o cuidado de Boitaca em pôr as três abóbadas à mesma altura.
A capela-mor é revestida de azulejos verdes e brancos datados do século XVI e nas paredes laterais podemos ver painéis de azulejos do século XVII. Quem aprecia azulejaria tem aqui muito para mirar e se deleitar, vejam estes detalhes.
A porta surpreende o visitante, parece inusitada, há para ali uma espécie de agressão ou intromissão fora do tempo, ou os azulejos foram partidos porque a porta veio depois, alguma coisa aconteceu. A menina que serve de rececionista explicou que por aquela escada o sacerdote subia até ao coro alto para dar a comunhão às monjas. É inusitado, mas regala o olhar. Feita a visita, sai-se para outra novidade, o Museu de Setúbal com diferentes núcleos, podemos visitar os chamados pintores de Setúbal, pintores portugueses do século XVI. Bem se procura na papelada consultada em que local se ratificou o Tratado de Tordesilhas, aquele em que dois monarcas peninsulares julgavam ser possível repartir o mundo. Tanto quanto me é dado lembrar, nunca visitei o claustro, e daí o meu embasbacamento. Foi-se à procura de notícia nos jornais sobre esta reabertura, e encontrou-se a saga. O convento fechou várias vezes nas últimas décadas, devido aos riscos de ruína. Teve obras de requalificação e reabriu em 2012, foi encerrado em 2015 para uma nova fase de trabalhos, que incluíram a recuperação da zona dos claustros, Sala do Capítulo, Coro Alto e espaço envolvente do convento, o tal hornaveque. Depois da abolição das ordens religiosos meteu-se aqui um hospital, com o nome de Espírito Santo, e funcionou até 1959. Veja-se agora o claustro e a harmonia do seu traço, mais brecha da Arrábida, oxalá que depois da pandemia aqui se encontre espaço para eventos culturais, é bem merecedor.
Estamos agora no Coro Alto, houve restauro da pintura, mais um acervo de beleza, é o culminar das obras de requalificação, ainda há muito para fazer, a presidente da Câmara de Setúbal numa entrevista disse que os contribuintes setubalenses já aqui investiram seis milhões de euros.
Depois do regalo à visita, um último olhar ao Convento de Jesus, a toda esta sensação de leveza, e de transporte para os céus, encontraram-se aqui soluções inovadoras para a época, como os arcos de volta perfeita, a abóbada assente sobre arcos abatidos e redes de nervuras, não sei ser mais encomiástico, procuro seduzir o leitor a arranjar oportunidade para me dar razão.
E daqui saio para a Galeria Municipal, sita na Avenida Luísa Todi, abriu ao público em 2013, o edifício foi a representação do Banco de Portugal em Setúbal entre 1917 e 1994, a traça é de Adães Bermudes, um dos sumo-sacerdotes da arquitetura da época, há ali linhas evocativas da Arte Nova, entra-se e chegou a altura de ver o belo retábulo do altar-mor do convento.
Tive direito a visita-guiada, a única dúvida que não vi resolvida é se estas catorze tábuas, uma das obras-primas da pintura religiosa portuguesa e seguramente o trabalho mais importante de Jorge Afonso, nome cimeiro da Arte Seiscentista, estavam no altar-mor, atenda-se à dimensão, para o caso não tem importância, se estou a incorrer num disparate alguém entendido que me corrija sobre a localização do retábulo. O fundamental é que se deve ter um guia de todos os pormenores das peças, saber um pouco da história religiosa e contemplar estas preciosidades dá mais sentido à fruição estética, o visitante que se previna, textos alusivos na internete não faltam.
Fachada da Galeria Municipal, traço Adães Bermudes
Parte do retábulo do altar-mor do Convento de Jesus, Galeria Municipal
Vista parcial das fabulosas pinturas do altar-mor do Convento de Jesus, na Galeria Municipal
Núcleo de Arte Sacra do Museu de Setúbal nas antigas instalações do Banco de Portugal

Daqui a um bocado vamos sentir o prenúncio do lusco-fusco, tenho procurado, devido à pandemia em viajar em sentido contrário às horas de ponta, gosto muito do meu passe de 20€ que me dá direito ir até Algés ou a Cascais, visitar Palmela ou Vila Franca de Xira, ou sair do comboio em Sintra e ir ver o mar. Despeço-me que ainda tenho uma boa caminhada pela frente até à estação da CP, e espero que gostem do relvado que substitui a pista de skate e que tanta harmonia traz a este esplendoroso monumento nacional.

Até à próxima.
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22012: Os nossos seres, saberes e lazeres (441): Vicente, o corvo do Parque da Cidade do Porto, que não empatiza por dádivas, mas somente por quem estiver na mesma onda (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)

sexta-feira, 19 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22019: Tabanca Grande (516): Joaquim da Silva Correia (Penalva do Castelo, 1946 - Oliveira de Azemeis, 2021), ex-1.º Cabo, Pel Mort 1242 (Buba, 1967/69): em sua memória, no dia do Pai (e em apreço ao gesto do seu filho, António Correia), reservamos o talhão n.º 838, sob o nosso simbólico poilão

Chaves > BC 10 > 1967 > Joaquim da Siva Correia (1946-2021)


S/l > 1967 > O Joaquim da Silva Correia, o terceiro a contar da esquerda na instrução da especialidade de armas pesadas de infantaria (na foto, um morteiro 81)
 

Guiné > Bissau > Outubro de 1967 > Render da guarda ao palácio do Governador > O 1º cabo Correia, na ponta esquerda, seguido de três praças


Guiné > Região de Quínara > Bula > Pel Mort 1242 (1967/69) >  O 1.º Cabo Correia, posando para a fotografia, a "tocar guitarra elétrica", frente ao espaldão do morteiro 81.


Guiné > Região de Quínara > Bula > Pel Mort 1242 (1967/69) > Um momento de confraternização: ao centro, na mesa, de camuflado, em segundo plano, reconhecemos a figura de um alferes, que seria o comandante do pelotão, ou o Clemente, ou o Simão. Pode ser o Simão, que deve ter rendido o Clemente (a avaliar pela lista gravada na "pedra de Buba").


Guiné > Região de Quínara > Bula > Pel Mort 1242 (1967/69) > Dois graduados do pelotão: o do lado esquerdo, deve ser o alf mil Simão, comandante do pelotão que deve ter rendido o Clemente, o outro deve ser um furriel, talvez o Albuquerque (, como na consta na "pedra de Buba").


S/l > S/d >  O Joaquim da Silva Correia, à civil, antes da tropa, presume-se

 
 
S/l > s/d > O Joaquim, já casado e pai de dois filhos, depois do regresso da Guiné
Fotos (e legendas) : © António Correia (2021). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O Joaquim da Silva Correia foi 1.º cabo, apontador de armas pesadas de infantaria, do Pel Mort 1242 (Bula, outubro de 1967 / agosto de 1969).  Acaba de morrer, de doença oncológica, no passado dia 11. Foi o seu filho, António Correia, quem nos deu  a triste notícia (*). 

Residia em Macieira de Sarnes, Oliveira de Azeméis, distrito de Aveiro, embora fosse natural de Penalva do Castelo, distrito de Viseu. Deixa viúva, dois anos mais velha, e três filhos; além do António, mais duas raparigas. Ia fazer 75 anos em 16 de junho.

Em conversa telefónica com o António Correia, prometi-lhe, em homenagem ao pai e por apreço pelo seu amor filial, integrar o nosso camarada a título póstumo na Tabanca Grande, se ele entretanto no mandasse, digitalizadas, algumas das fotos do álbum da Guiné. Foi o que ele fez, fotografando, cheio de boa vontade, com o telemóvel, diversas folhas, por inteiro,  com fotos do tempo da Guiné. A qualidade é fraca, e são raras as legendas, mas dá para recuperar algumas imagens. Ele prometeu-me mandar novos ficheiros com melhor resolução.

No dia do Pai, 19 de março de 2021, prestamos aqui a nossa pequena homenagem ao nosso infortunado camarada Joaquim da Silva Correia e, através dele,  ao seu valoroso Pel Mort 1242 que até agora não tinha ninguém que o representasse condignamente na nossa Tabanca Grande. Ele fica no lugar n.º 838. (**)

Recorde-se que o Pel Mort 1242 foi mobilizado pelo BC 10, Chaves, Esteve em Buba, desde outubro de 1967 até agosto de 1969, adido ao BART 1896 (Buba, 1966/68), e depois ao BCAÇ 2834 (Buba, 1968/70). Este pelotão deve ter tido esquadrões de morteiro 81 destacados noutros aquartelamentos, do sector de Buba, S2. Sabemos que regressou no T/T Uige, em 23/8/1969. Em 2013 havia, em Buba, ainda de pé um memorial com o brasão e a lista, gravada na pedra, de todo o pessoal do pelotão (*).

Como dissemos ao António Correia, os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são. Apreciamos o seu gesto, ao procurar, ainda em vida do pai, procurar camaradas do pelotão. Com pena, disse-nos que o só o ex-alferes mil Simão respondeu ao seu apelo, em tempo útil. Ele autoriza-nos, entretanto,  a publicitar aqui os seus contactos:

Telem: 919 966 724
Email: antonio.correia@live.com.pt


2. Na passada quarta-feira, dia 17, o António, mandou-nos a seguinte mensagem:

Olá, boa tarde, Sr Luís,

Desde já agradeço, da parte da minha família, pelo que fez pelo meu pai.

Hoje vim a casa da minha mãe e tirei umas fotos do álbum, amanhã digitalizo para ficar melhor.

Cumprimentos, 
António Correia.
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P22018: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (44): A funda que arremessa para o fundo da memória

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Março de 2021:

Queridos amigos,
Tudo leva a crer que os cinquentões enamorados tiveram umas férias da Páscoa a preceito. Houve mau tempo durante dois dias, mas não foi suficiente para os desmoralizar, foram ver exposições, andaram à cata de surpresas em alfarrabistas e adelos. Aqui não se fala numa reunião de trabalho onde houve discussão acalorada entre os diretores da associação, mais adiante se explicará porquê. Annette anda mordida pela curiosidade, pede imagens antigas, talvez seja uma forma de ela se querer identificar com coisas do passado neste amor transbordante. É ciosa em querer compreender tudo quanto está a pôr em ordem na comissão do Paulo, houve que remexer numa ferida, as dolorosas recordações de uma tragédia que ocorreu em Canturé, no regulado do Cuor, em 15 de outubro de 1969, tudo tão doloroso que ainda havia a mágoa de não ter agido com a devida solicitude em saber da sorte dos seus sinistrados depois da guerra, Paulo sente que falhou aos cânones da camaradagem, nunca nos largámos nas horas amargas, Paulo seguiu para a frente, e hoje continua a sofrer pela incúria praticada.

Um abraço do
Mário


Rua do Eclipse (44): A funda que arremessa para o fundo da memória

Mário Beja Santos

Annette adorée, a viagem para Lisboa correu lindamente e no horário previsto, vim diretamente para o trabalho, comi uma sopa e dois pães, não tive mãos a medir na elaboração de papelada e na organização da agenda para as próximas semanas. Por muito que te tenha agradecido as férias encantadoras que vivi a teu lado, quero deixar por escrito todo o meu sentimento de gratidão, o dia de Páscoa foi inesquecível, os teus filhos muito afáveis e adorei conhecer a tua irmã por adoção, os esclarecimentos que ela me deu sobre a tua infância e juventude enterneceram-me, bebi-lhe todas as palavras, assim se desenhou no meu espírito uma Annette voluntariosa, a lutar pela sua autonomia, conhecedora de um dom especial para as línguas e pelo gosto de viajar, algo que é obrigatório para ter sucesso na vida de intérprete internacional.

Cinjo-me, tão-só nesta carta, ao que tu me pediste quanto a fotografias espúrias do que era a minha vida profissional, que tipo de recordações te podia enviar sobre as minhas estadias em Bruxelas e mais adiante lembraste a necessidade de criar uma atmosfera para tudo quanto se passou depois da mina anticarro de Canturé, em 15 de outubro de 1969.

Vou tentar sumular os meus procedimentos de viagens a Bruxelas antes de te conhecer. Estive em Bruxelas pela primeira vez em 1978, Portugal batera à porta das Comunidades Europeias, logo estabeleceu que os diferentes ministérios enviariam peritos para ações de sensibilização. O ministro António Barreto, titular do Comércio e Turismo, que criara no ano anterior uma lei orgânica contemplando um departamento do consumidor, escolheu-me para o programa respetivo. Visitei os serviços da Comissão Europeia, então a funcionar na Rue Guimard, num local aprazível entre o Parque Real e a área do Parlamento Europeu. Depois de uma ensaboadela, fui lançado em serviços convergentes com política do consumidor, nomeadamente na área da Saúde e Ambiente. Tive reuniões de trabalho com as quatro associações europeias do tempo, e imediatamente encontrei afinidades com o dirigente das cooperativas europeias, Albrecht Schöne, e dos sindicatos socialistas, André Cornerotte, hoje uma amizade inquebrantável. Visitei igualmente organizações não-governamentais ligadas à defesa de direitos de cidadania e a vários lobbies empresariais acreditados pela Comissão Europeia, entre eles o da indústria farmacêutica.

Tive um dia de folga, de carta na mão palmilhei Bruxelas e comecei a interiorizá-la. Graças aos programas de televisão, entre 1979 e 1984, aqui vim a reuniões de autores e apresentadores de programas televisivos de consumidores, sempre à minha custa reservei um dia para curtas viagens na Flandres e na Valónia, aliás duas destas reuniões irão ocorrer em Paris e Veneza. Depois chegamos à adesão e com ela a participação em reuniões quer como funcionário público quer como membro da Confederação Europeia dos Sindicatos. Se na primeira condição a ajuda de custo era satisfatória, na segunda era quase simbólica e tive que me adaptar à escolha de modestos hotéis e mesmo de albergues, almoçava nas cantinas, havia por vezes jantares de trabalho e senti-me na obrigação de propor jantares com colegas, designadamente quando tínhamos tarefas em comum. Envio-te hoje um pequeno rol de papéis avulsos que falam de Bruxelas ou das reuniões em estações televisivas portuguesas, até descobri a imagem de um encontro internacional de educação do consumidor, que se realizou em Lisboa, meses antes de eu elaborara documentação para professores, este encontro servia igualmente para testar da validade na área de ensino, fiquei feliz com os elogios recebidos. Eu penso é que tu queres fotografias com o quarentão, encontrei uma de um colóquio em que participei com um investigador que admiro profundamente, o arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Teles, o programa não era fácil nem para ele nem para mim, tínhamos que discretear sobre os imbricamentos entre as políticas ambientais e as medidas de consumo, as formas de agir comum. O trabalho que tive nessa ocasião preparou-me para uma reflexão que mantenho em continuidade: como ultrapassar os compartimentos estanques das análises de ambientalistas e defensores de consumidores, os primeiros projetam o seu trabalho na produção e param no mercado, enquanto os defensores dos consumidores começam no mercado e dissecam a problemática do consumo, desde os direitos de informar e formar até às leis de proteção nesta vertente da cidadania no consumo.

Junto duas imagens referentes a duas recrutas que dei no regresso da guerra da Guiné, em Mafra, a futuros oficiais milicianos. Antes de partir para a guerra eu tinha como profissão a mecanografia, era devoradora de tempo, não podia imaginar ter meios para tirar rapidamente primeiro o bacharelato e depois a licenciatura, encontrei um expediente que foi um contrato até cinco anos com o Ministério do Exército, teria que dar recrutas durante um período e depois seria colocado em Lisboa, tive muitíssima sorte, depois de dar instrução fui colocado numa entidade chamada Agência Militar, um autêntico banco, era o oficial que ia buscar dinheiro aos milhões ao Banco de Portugal. Passei a ter tempo para estudar na biblioteca e voltar cedo para casa para continuar a estudar. Em cerca de três anos, e tendo repetido cadeiras para melhoria de nota, estava licenciado e fui mesmo colocado como professor na variante de História de Arte, veio o 25 de Abril e a minha vida mudou de rumo, o rumo em que nos descobrimos naquele acaso feliz da reunião na Rue Froissart, que mudou as nossas vidas, por sua vez.

Vamos agora para o que me pedes sobre a tragédia da mina anticarro, procurei dar-te elementos no dia em que almoçámos em Antuérpia, tive que amenizar o discurso quando vi muita mágoa no teu rosto enquanto te contava as peripécias vividas. Depois da explosão, verifiquei o caos à volta, havia um ferido grave, o condutor, e mais seis feridos, não era fácil avaliar o que era uma mera contusão de ferimentos graves. Senti angústia e perplexidade em quase todos os meus camaradas, recorri ao que estava mais sereno, Mamadu Djau, dei-lhe a incumbência de ir procurando tratar com primeiros-socorros quem deles necessitava e havendo condições arrumar os bidons de combustível, os sacos de arroz, as caixas, tudo quanto saltara da viatura com o impacto da explosão. Retirei-me sozinho e trouxe atrás de mim três crianças, na marcha senti dores excruciantes no joelho direito e pressenti que tinha perdido a visão do olho esquerdo, levara com uma lufada de terra e ácido ou talvez mesmo de explosivo, sentia tudo em carne viva. E assim chegámos a Finete onde Bacari Soncó me ajudou a lavar o rosto e percebi que não tinha perdido a visão completa do olho esquerdo. Formou-se um contingente para ir buscar os feridos, e lá fui aos tombos pela bolanha de Finete, o canoeiro atravessou o Geba, o comerciante José Maria andava ali perto e levou-me à sede do batalhão. Jantavam e conversavam acaloradamente na messe dos oficiais, quando me viram sentiram que tinha havido uma desgraça, quando se entra chamuscado e a coxear algo de sinistro aconteceu. O segundo comandante dirigiu logo as diligências necessárias para chegar rapidamente apoio a Finete, o médico levantou-se da mesa, mandou chamar o enfermeiro e dois maqueiros, em minutos estavam todos de mochila às costas. Este mesmo segundo comandante teve com os sinistrados uma afabilidade inesquecível: mandou recolher pedaços de bifes e meter em pães, arranjou-se um saco de fruta, achocolatados e outras atenções. E regressámos a Finete, o principal desvelo foi para o condutor, de nome Manuel Guerreiro Jorge, o estado era deplorável, não eram só as fraturas expostas, entrara em falência, cerca de uma hora depois de chegarmos a Finete o médico fechou-lhe os olhos. Havia soldados marcados por estilhaços, o estado de Cherno Suane era muito grave, um duplo traumatismo craniano, ele seguia no guincho e foi disparado para cima de um morro de bagabaga. O cabo Alcino Barbosa coxeava, veio-se a apurar que era uma fratura de calcâneo. Minha adorada Annette, quando tudo isto te contei naquele pequeno restaurante não longe da Catedral de Nossa Senhora em Antuérpia, envolvidos por uma temperatura amena, procurei não te incomodar muito, voltei a Missirá, conversei com o régulo em particular, e tive a única crise de choro convulsivo, limpei ao rosto e disse ao régulo que não se atormentasse, a vida recomeçaria, houvera um revés, mas eu continuava pronto para me manter no posto, ele iria ver em breve, só precisava de ir a Bissau tratar dos olhos e comprar óculos novos, viria rapidamente, muito antes de, a contragosto, partir de Missirá para Bambadinca.

Annette, por razões de pudor eu sou muito sumário nesta descrição, podia falar-te numa emboscada que aconteceu e muito mais. Como companheira que me estás destinada até ao fim dos meus dias quero que saibas do meu remorso em não ter acompanhado, como era meu dever, quando regressei a Portugal, os meus camaradas feridos, à semelhança do que pude fazer com os guineenses mutilados. É amargor que guardo e que te confesso.

Vou ter uns dias atribulados pela frente, mas prometo continuar à noite a juntar mais papéis para te enviar rapidamente. E quero falar das férias, pois claro, e terminar dizendo-te como me sinto muitíssimo bem na tua Bruxelas, se acaso for essa a decisão que tomarmos nos próximos anos. Bien à toi, Paulo.

(continua)

Não resisti a comprar este bilhete-postal de um jovem numa banheira com desentupidor na mão, em plena Feira da Ladra, indiferente ao bulício que por ali vai. Pena de não ter ido lá neste dia para ter sido eu a tirar esta imagem…
Quando olho estas imagens pergunto-me o que a vida trouxe de muito bom às suas vidas depois das guerras em que participaram. Só muito raramente encontro um ou outro dos meus instruendos. Um deles é o Dr. João Nabais, homem de museus, outro tem o nome épico de Vasco da Gama, homem da Figueira da Foz que já visitei. É mais uma lição da vida: a muito nos aproxima e com a mesma força nos afasta.
Estava feliz neste tempo, o meu livro sobre educação do consumidor custara-me os olhos da cara, mas ainda hoje é uma referência. Annette se olhares para o ano ali está escrito 1998, conheci-te no ano seguinte, só pasmo como a fotografia esconde os já inúmeros cabelos brancos

Referências de alojamentos pobretanas que me davam condições de trazer lembranças para os filhos
Os debates televisivos sobre consumo e qualidade de vida eram então frequentes. Fiz sempre o possível para nunca dizer não a quem me convidava
Gonçalo Ribeiro Telles tinha um dom muito especial na comunicação, era um encanto poder conversar com ele em colóquios ou sessões de trabalho. Era o exemplo vivo de que os sábios são intrinsecamente simples
Annette, pode ser que aconteça na nossa vida, irmos aos Bijagós, aqui te deixo uma recordação e um bilhete-postal de um pôr-do-sol na Ilha de Bubaque, com infinito amor
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21997: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (43): A funda que arremessa para o fundo da memória

Guiné 61/74 - P22017: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte II: Do seminário a Mafra [EPI], Beja e Lamego [CIOE]


Ministério do Exército > Praças nas Fileiras > EPI [, Escola Prática de Infantaria, Mafra] > Bilhete de Identidade militar do João Francisco Crisóstomo, soldado cadete nº 1064/64, emitido em 20 de abril de 1964. Nº de matrícula: E-86804. O Comandante, assinatura ilegível [, Manuel Ribeiro de Faria, foi cor inf, foi o comandante da EPI, de 8/1/1963 a 25/9/1969] [Anotações: Grupo sanguíneo B].


1. Continuação da publicação da série CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” como eu a lembro e vivi ( João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) (*)

O  João Crisóstomo é um luso-americano, natural de Paradas, A-dos-Cunhados,  Torres Vedras, conhecido ativista de causas que muito nos dizem, a nós, portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes... 

Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, foi alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque; é casado, em segundas núpcias, desde 2013, com a nossa amiga eslovena, Vilma Kracun]. Tem cerca de 135 referências no nosso blogue.


Parte II - Do convento franciscano a Mafra [EPI], 
Beja e Lamego [CIOE]


Depois de nove anos de preparação seminarística para uma  vida de “missionário" [, passando por Montariol, Varatojo e Leiria], cheguei à conclusão que não era  isso  o que queria para o resto da minha vida.  E com 19 anos ainda resolvi sair do convento e viver  o meu futuro como civil. 

Nessa altura Portugal  estava  já há vários anos  envolvido nas “guerras ultramarinas”,  sendo obrigatório o  serviço militar.  Quando saí,  a primeira coisa que experimentei foi a dificuldade de arranjar qualquer  trabalho. A resposta era sempre a mesma: "Temos com certeza  lugar para si, mas tem de fazer primeiro o seu serviço militar".

Eu teria que esperar para ser “chamado”, o que me diziam ia levar ainda de um a dois anos. Podia, assim  me foi dito, adiantar o meu ingresso, apresentando-me como “voluntário”. Não me apetecia estar a apresentar-me como voluntário,  mas a verdade é que  eu "não tinha meios” de subsistência  e não queria estar um ou dois anos  a depender de meu pais.  

Além disso, pensava eu com alguma acertada visão,  da maneira como as coisas se apresentavam,  quanto mais tarde eu fosse para a tropa, pior seria a situação. No quartel de Santarém, onde me fui  informar quando é que seria chamado, disseram-me que se eu quisesse apresentar-me como voluntário, eu podia  fazê-lo, mesmo sem a autorização escrita de meus pais. E foi então  isso o que resolvi fazer, contra a vontade de meus pais que, talvez esperançados nalgum milagre que me livrasse do serviço militar,  se recusaram a  dar-me por escrito o seu consentimento.


Notas da agenda do soldado-instruendo João 
Crisóstomo [dias 26 e 27 de janeiro  de 1964]

No dia 26 de Janeiro de 1964  cheguei  a Mafra,  por volta das  18 horas,  conforme instruções recebidas, mas só dei entrada na EPI às 11.30 da noite: lembro o entrar no portão,  a fila,  o “exame”... e depois  ter recebido um conjunto de “fardamento”...

E  lembro ,vagamente já,  o que foi depois durante seis meses  esse período de preparação. Não me lembro bem a ordem cronológica da minha estadia na tropa  antes de ir para a Madeira, mas creio que de Mafra fui para Beja onde passei uns meses, preparando um pelotão de recrutas. 


Mafra > EPI > COM > 1º Turno  > 3ª Companhia > 5º Pelotão > 27 de janeiro de 1964, dia de São João Crisóstomo > Cópia das notas da agenda do soldado cadete João Crisóstomo... Horário e descrição das actividades do  primeiro dia  onde começo por chegar atrasado ao pequeno almoço e apanhar   primeiro raspanete:  6,15 - Levantar |  7.10 - Pequeno almoço (atrasado) e 1º [raspanete] |  7.35 - 1ª instrução | 12.10 - 1º almoço (ótimo) | 13.20 - Instrução da tarde | 16.20 - Fim da instrução da tarde | 19.00 - Jantar (ótimo) | 21.30 - Cama.

No final do curso, como sucedia frequentemente, também  eu recebi um "presente” de despedida destes recrutas: ainda hoje conservo com muita estima um cartão assinado por todos e uma pequena salva de prata com os dizeres ” Recordação  dos recrutas do ano de 1964 do 2.º pelotão, "Os Terríveis”  Recordo-me  tê-los deixado escolher um apelido  e dentre os vários nomes propostos,— eu puxava por “Viriatos”--  foi o de “Terríveis” que se quiseram chamar.

Lamego:

Encontro com o Capitão Pires que viria a ser o comandante  da CCaç 1439.

 

 Não sei qual era o critério, mas sei que fui um dos escolhidos para  ir fazer um chamado "curso de Ranger" em Lamego, no CIOE [, Centro de Instrução de Operações Especiais].  E aqui valeu-me o facto de na minha caderneta constar a minha situação de ingressado no serviço militar como “voluntário”. 

Embora não fizesse nada por amor   à causa, eu estava bem consciente que me devia preparar e estar em boa forma para o que desse e viesse a seguir, fosse na metrópole  ou, quase certo, numa das nossas chamadas então províncias ultramarinas. E por isso fazia um esforço no sentido de preparação física, independentemente de os outros fazerem ou não o mesmo. E tinha satisfação em verificar que na maioria das ”provas" eu estava sempre entre os primeiros.

Excepto numa: a prova ou teste do “galho”: tínhamos de saltar de uma plataforma para um corte dum ramo duma árvore, a cerca de um metro de distância,  para provar a nossa ausência de medos e coisas assim.  Já me tinham falado neste "galho" e que havia muitos que tinham falhado essa prova e consequentemente tinham sido postos de lado para qualquer promoção.  

Era um dos exercícios a que éramos frequentemente sujeitos. A primeira vez que me vi em cima da plataforma,  tive medo, mas disse para mim mesmo que se os outros o faziam..., eu também  o podia fazer. Enchi-me de “coragem”  e lá me atirei  para o galho e daí deixei-me escorregar devagar  pelo tranco abaixo para o chão. E juntei-me aos outros que esperavam a sua vez .  

Só depois de, com sucesso ou não,  todos terem "feito o galho” é  que prosseguiamos para o próximo teste. Mas a seguir a mim  nem todos  tiveram a mesma sorte ou sucesso que eu tive:  houve um que não saltou o suficiente e, sem conseguir alcançar o galho,  caiu no meio do chão e aí ficou como se tivesse perdido os  sentidos; veio uma maca, levaram-no e nunca mais  ouvi falar dele. 

Um outro conseguiu agarrar-se ao galho, mas depois, ainda  agarrado ao galho,  começou a deitar espuma pela boca… Depois disso dois ou três recusaram-se a saltar...Mas como era a primeira vez nada lhes sucedeu, excepto de que “na próxima vez tinham de ter mais coragem”…    

Na tal próxima vez eu fui um dos que se  recusaram  a saltar, apesar das insistências do “chefe do grupo” , tanto mais que eu já o tinha feito na primeira vez.  

Nas  próximas vezes sucedeu o mesmo e passadas duas ou três semanas "fui chamado”: que eu estava a dar mau exemplo aos outros   e não sei que mais. Expliquei que a razão de eu me negar a saltar o galho,  não era pelo medo  de o fazer, mas  porque achava que era um exercício que não  ajudava nada o melhoramento das condições físicas de ninguém e era um grande perigo como tinha sido provado várias vezes. Mais: que se podia ver em todos os outros exercícios o meu esforço e empenho exemplar;  ao fim e ao cabo, disse eu, como pode ver "eu até sou 'voluntário' quando eu podia ter fugido para a França, como muitos estão a fazer".     

Na prova  final, afirmei que  eu "faria o galho" e,  se me recusasse  aceitaria as consequências. Não me chatearam  mais; e  parece-me que a mais ninguém quando se fazia o “galho”, deixando o saltar ou não ao alvitre de cada um; havia quem fizesse disso ocasião para mostrar  o seu machismo e  coragem invulgar.    

No dia da prova  final o alferes lá estava, papel na mão a notar e verificar quem  saltava… Quando foi a minha vez saltei e,  agarrado ao galho,  olhei  bem para ele, para que confirmasse o meu cumprimento do que eu tinha prometido fazer…

Deste curso guardei uma  foto  com todos os participantes. Junto-a pois talvez seja de interesse para muitos que  como eu foram para a Guiné.  Entre os que consigo recordar está (o primeiro da turma D)  o saudoso Furriel  [António dos Santos] Mano, (Post 15998 de 21 de Abril de 2016),  da minha companhia CCaç 1439, que viria a ser vítima duma mina a 6 de Outubro de 1966 (**).  

Nessa altura procurava-se uma foto dele que eu pude facilitar; a esta 1ª foto pode-se juntar esta 2ª foto  e outra em que ele também aparece, de fácil identificação.



 Madeira > Funchal > 1 de junho de 1965 > CCAÇ 1439 > Jantar de despedida na Feira do Marítimo > António Mano,  no lado esquerdo , de mão no queixo; no lado direito: eu, o furriel Lopes,  o furriel vagomestre, cujo nome me esqueci, e o furriel Bonifácio, meu  colega de seminário,  também quase vizinho, natural da Lourinhã.  

O outro acontecimento,  que lembro bem de Lamego  foi ter aqui encontrado um tenente muito simpático com quem eu e o meu colega Ilídio (, estávamos organizados em parelhas,)  falávamos  de vez em quando. E lembro que num dos dias  do "desenrasquem-se  como melhor puderem", este tenente,  também a fazer o curso de ranger,  penso eu,   apareceu com uma galinha, que eu não sei onde ele a arranjou... Só nos disse  que a “arranjássemos” e depois seria para os três… 

Foi nessa altura que nos foi dado a possibilidade de declararmos as nossas preferências ou  escolhas para onde gostaríamos de ser colocados.  Ainda hoje não sei  da importância dada à nossa escolha.  Mas sei que,   passados tempos, vim a saber que tinha sido colocado na Madeira, e o nosso comandante seria  o Capitão Amândio Pires (sic), o mesmo tenente  que eu conhecia e a quem eu  tinha ajudado  a assar a galinha no meio do campo , numa das nossos "exercícios de sobrevivência”. 

A viagem para a Madeira  foi no navio Funchal, novinho em folha,  parece, com estabilizadores, assim me explicaram, para menos balanços. E foi-nos dado viajar em "primeira classe”,  coisa que eu nunca tinha experimentado na vida… 

Sei que apesar de  toda esta última palavra em  “estabilização"   do  navio,  a maior  parte de nós, eu incluído, passamos a viagem "deitados de barriga para baixo” … só me levantei já perto do Funchal.


Lamego > CIOE > 1964 > Curso de Operações Especiais C1 > Fotos do pessoal das 4 turmas (A, B, C e D). Nesta  foto  é fácil reconhecer alguns indivíduos que serão mais tarde  camaradas da Guiné e  de outros TO.






Lamego > CIOE > 1964 > Curso de Operações Especiais C1 >
, CIOE > 1964 > Turma B  a que pertencia o João CRISÓSTOMO (, aqui assinalado com cercadura a vermelho). O furriel Mano pertencia à turma D (o primeiro de cima, a contar da esquerda também assinado com um rectângulo a vermelho).
 
As outras fotos  a seguir mostram alguns momentos da  minha vida de “ranger”  em Lamego. 





Lamego > CIOE > 1965 >  A condição de um candidato a "ranger", submetido a duras provas físicas, sob as mais diversas condições atmosféricas (desde o frio, a chuva e a neve)
 
Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

(Continua)
 

(**) Vd. postes de 21 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P15998: In Memoriam (253): António dos Santos Mano (Larinho, Torre de Moncorvo, 1943 - Estrada Missirá-Enxalé, 1966), fur mil op esp, CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá e Porto Gole, 1965/67) (Armando Gonçalves / Júlio Martins Pereira / Henrique Matos / João Crisóstomo)

quinta-feira, 18 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22016: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - Parte XIII: atividade operacional, dezembro de 1967 / janeiro de 1968, destaque para a Op Yungfrau, em Canjambari, Farim



Uma das armas pesadas apanhadas ao PAIGC pela 3ª CCmds na sua comissão de serviço no CTIG (1966/68)

Canhão S/R  (CSR) 82 B-10

Características desta arma segundo o nosso especialista de armamento, Luís Dias (ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74):

[Em inglês, B-10 recoilless rifle]

Tipo: Canhão Sem Recuo (CSR) B-10;
Origem: Ex-União Soviética:
Ano: 1954:
Calibre: 82 mm;
Comprimento: 1,660 m;
Peso: 85,3 Kg (71,7 Kg, sem rodas):
Elevação: -20º / +35°;
Alcance máximo: 4500 m;
Alcance prático: 400 m;
Capacidade de fogo : 5 granadas por minuto;
Guarnição: 4 elementos;
Alinhamento por aparelho de pontaria: Colocado do lado esquerdo da arma e a funcionar por sistema óptico;
Funcionamento: Percussão do cartucho, após carregamento por abertura da culatra;
Munição: Vários tipos de granada explosiva: por exemplo, BK-881 HEAT FS de 3,87 kg ou BK-881M HEAT-FS 4.11 kg (, velocidade de saída: 320 metros por segundo);
Velocidade de saída: dependia do tipo de granada (que podia penetrar até 240 mm de blindagem).



1. Começámos a publicar, em 17/11/2020, uma versão da História da 3ª Companhia de Comandos (Lamego e Guiné, 1966/68), a primeira, de origem metropolitana, a operar no CTIG. (Hão de seguir-se lhe, até 1974, mais as seguintes: 5ª, 15ª, 16ª, 26ª, 27ª, 35ª, 38ª e 4041ª CCmds.)

O documento mimeografado, de 42 pp., que nos chegou às mãos, é da autoria de João Borges, ex-fur mil comando, já falecido (em 2005), e que vivia em Ovar. Trata-se de um exemplar oferecido ao seu amigo José Lino Oliveira, com a seguinte dedicatória: Quanto mais falamos na guerra, mais desejamos a paz. Do amigo João Borges".

Uma cópia pelo José Lino foi entregue ao nosso blogue para publicação. (*)



História da 3ª Companhia de Comandos
(1966/68)

3ª CCmds
(Guiné, 1966/68) / João Borges

Parte XIII (pp. 32 - 33)

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