sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)




Guiné-Bissau> Região de Gabu > Picada de Cheche-Gabu > 1998 > Trinta anos depois ainda eram ainda  brutalmenmte vísiveis os sinais das emboscadas e das minas que fizeram do triângulo do Boé (Cheche, Beli e Madina) um verdadeiuro cemitério para os homens e as suas máquinas...

Fotos (e legenf: © Francisco Allen / Albano M. Costa (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Gabu > Setor de Boé > Algures junto à fronteira, a 40 km de Madina do Boé > 24 de Setembro de 1973 > O PAIG proclama unilateralmente a independência. 

Fonte: PAIGC (?). Foto tentilmente cedida por Jorge Santos (reproduzida de: Guerra Colonial: Chaimite o Último Ciclo do Império. Lisboa: Museu República e Resistência. 1999).


1. Texto do José Martins (ex-furriel miliciano trms, CCAÇ 5 - Gatos Pretos, Canjadude , 1968/70).

II Parte da série Madina do Boé: Contributos para a Sua História (1)

Quando escrevemos o texto Madina do Boé: Contributos paraa sua história, entre Janeiro e Maio de 2006, pretendíamos homenagear aqueles que, no fatídico dia 6 de Fevereiro de 1969, perderam a vida na simples travessia de um rio (2).

No entanto, continuámos a pesquisar os factos que se ligavam a este local mítico para ambos os lados do conflito: as NT queriam manter a todo o custo este local sob o seu controle, enquanto as forças do PAIGC queriam proclamá-lo, o mais rápido possível, como zona libertada.

Mas a história não se esgota em si mesma, e não passa de um livro aberto onde se vai escrevendo um facto novo, ou até então não revelado. Só com a colaboração de quem por lá andou é possível juntar os pequenos factos que, em conjunto, fazem a História.

Assim o fez o Coronel Marques Lopes, que foi Alferes Miliciano da CART 1690, que me telefonou e enviou um mail datado de 16 de Outubro de 2006, após ter lido o texto na revista Combatente, que transcrevo:

“Aqui vai o acrescento: Tomou parte em Operações realizadas nas zonas de Ganguiró, Canjadude, Cabuca e Sincha Jobel (aqui em conjunto com a CART 1690, nas Operações INVISIVEL em 19DEZ69 e INVISIVEL II em 21DEZ69). Acho importante a colocação do teu artigo no blogue (Luís Graça & Camaradas da Guiné).
Abraços. A. Marques Lopes”.

Além dos militares que pereceram no desastre do Cheche, muitos outros tombaram em combates, quer nos aquartelamentos donde as nossas tropas retiraram ou no itinerário para aqueles locais ou, ainda, na zona a Sul de Canjadude, onde o IN passou andar com maior liberdade de movimentos, apesar das diversas incursões, não só das forças do Exército, mas também da Força Aérea.

Assim, é de toda a justiça recordar aqueles que, na defesa dos aquartelamentos ou patrulhas de combate ou colunas logísticas, pertencendo às Unidades referidas na primeira parte do artigo e já publicado a que se juntam outras então não referidas, tombando por ferimentos em combate, deram a sua vida ao Serviço da Pátria:

De 6 de Março de 1963 até 6 de Fevereiro de 1969

3ª Companhia de Caçadores Indígenas

• Braima Baldé, Soldado Atirador, natural de Santa Isabel / Gabu, inumado no cemitério de Nova Lamego, tombou em Madina do Boé em 30 de Janeiro de 1965;

• Martinho Gramunha Marques, Alferes Miliciano Comando, natural de Cabeço de Vide / Fronteira, inumado no cemitério de Cabeço de Vide, tombou em Madina do Boé em 30 de Janeiro de 1965;

• Bifa Insiga, Soldado Comando, natural de Encheia / Bissorá, inumado no cemitério de Madina do Boé - Guiné, tombou em Madina do Boé em 28 de Abril de 1965;

Companhia de Caçadores 727

• António Gonçalves da Silva, Furriel Miliciano Atirador, natural de Penude / Lamego, inumado no cemitério da Sé em Lamego, tombou em Madina do Boé, em 29 de Novembro de 1964;

• António Angelino Teixeira Xavier, Alferes Miliciano de Infantaria, natural de Carrazedo de Montenegro / Valpaços, inumado no cemitério de Carrazedo de Montenegro, tombou na estrada de Madina do Boé – Gobije, em 30 de Janeiro de 1965;

• António Joaquim Graças Viegas, Soldado Atirador, natural de Moncarapacho / Olhão, inumado no cemitério de Nova Lamego, tombou na estrada de Madina do Boé – Gobije, em 30 de Janeiro de 1965;

• Avelino Martins António, 1º Cabo atirador, natural de Alperce / Monchique, inumado no cemitério de Nova Lamego - Guiné, tombou na estrada de Madina do Boé – Gobije, em 30 de Janeiro de 1965;

• Domingos Moreira Leite, Furriel Miliciano Atirador, natural de Rebordosa / Paredes, inumado no cemitério de Rebordosa, tombou na estrada de Madina do Boé – Gobije, em 30 de Janeiro de 1965;

• José Pires da Cruz, Soldado Condutor Auto Rodas, natural de Cernache / Coimbra, inumado no cemitério de Nova Lamego - Guiné, tombou na estrada de Madina do Boé – Gobije, em 30 de Janeiro de 1965;

• Leonel Guerreiro Francisco, 1º Cabo Atirador, natural de Alte / Loulé, inumado no cemitério de Nova Lamego - Guiné, tombou na estrada de Madina do Boé – Gobije, em 30 de Janeiro de 1965;

• José Maximiano Duarte, Soldado Atirador, natural de Monchique, inumado no cemitério de Monchique, faleceu em 31 de Janeiro de 1965 em consequência dos ferimentos recebidos no combate na estrada de Madina do Boé – Gobije em 30 de Janeiro de 1965.


Emblema do Grupo de Comandos Os Fantasmas (1965/66). Foto:Tantas Vidas, blogue de Virgínio Briote (com a devida vénia).

Grupo Comandos Os Fantasmas

• António Joaquim Vieira Pereira, 1º Cabo Corneteiro Comando, natural de Santa Leocádia / Baião, inumado no cemitério de Santa Leocádia, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de Novembro de 1964;

• Artur Pereira Pires, Furriel Miliciano Comando, natural de S. Sebastião da Pedreira / Lisboa, inumado no cemitério da Ajuda em Lisboa, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de Novembro de 1964;

• Braima Seidi, 1º Cabo Comando natural de Buba / Fulacunda, inumado no Cemitério de Bissau – Guiné, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de Novembro de 1964;

• Eugénio Campos Ferreira, Soldado Condutor Auto Comando, natural de Vila Frescaínha (São Pedro) / Barcelos, e inumado no cemitério de Vila Frescaínha, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de Novembro de 1964;

• João Ramos Godinho, Soldado Condutor Auto Comando, natural de Valverde / Coruche, e inumado no cemitério de Coruche, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de Novembro de 1964;

• José da Rocha Moreira, Soldado Condutor Auto Comendo, natural de Arcozelo 7/7 Vila Nova de Gaia, inumado no cemitério de Arcozelo, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de Novembro de 1964;

• Manuel Couto Narciso, Soldado Condutor Auto Comendo, natural de Santa Catarina / Caldas da Rainha, inumado no cemitério de Bissau – Guiné, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de Novembro de 1964;

• Ramiro de Jesus Silva, 1º Cabo Condutor Auto Comando, natural de Valongo (Colmeias) / Leiria, inumado no cemitério de Bissau – Guiné, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de Novembro de 1964;

• Artur Mateus Martins, Soldado Cozinheiro Comando, natural de Olhão, inumado no cemitério do Alto de S. João - Lisboa, faleceu, no Hospital Militar Principal (Lisboa), vítima de ferimentos recebidos em combate em 28 de Novembro de 1964, no contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em
8 de Dezembro de 1965;

Companhia de Cavalaria 702 [CCAV 702]

• Jorge Coli Seidi, Alferes de 2ª Linha, Comandante da Policia Administrativa do Boé ao serviço desta Unidade, inumado em local não referenciado, tombou na tabanda de Bombocuro em Madina do Boé em 22 de Junho de 1965;

• Malan Seidi, Polícia Administrativo ao serviço desta Unidade, inumado em local não referenciado, tombou na zona de Madina do Boé – Che-che, em 15 de Abril de 1966;

• Braima Balde, Policia Administrativo ao serviço desta Unidade, natural de Sincha Carima / Regulado de Sama, inumado em local não referenciado, tombou em Biondo - Madina do Boé em 22 de Abril de 1966;

• Joaquim Valadas Pereira, Soldado Atirador, natural de Valada / Cartaxo, inumado no cemitério de Vala da do Ribatejo, tombou em Madina do Boé em 22 de Abril de 1966;

Companhia de Caçadores 1416 [CCAÇ 1416]

• Augusto Reis Ferreira, Soldado Atirador, natural de Montargil / Ponte de Sôr, inumado no cemitério de Ponte de Sôr, tombou no ataque a Madina do Boé em 22 de Julho de 1966;

• Carlos Manuel Santos Martins, Soldado Atirador, natural de Cova da Piedade / Almada, inumado no cemitério de Almada, tombou no ataque a Madina do Boé em 22 de Julho de 1966;

• Rogério Lopes, 1º Cabo Atirador, natural de Chão de Couce / Ancião, inumado no cemitério de Chão de Couce, tombou no ataque a Madina do Boé em 22 de Julho de 1966;

Batalhão de Caçadores 1856 / Companhia de Comando e Serviços [CCS/BCAÇ 1856]

• António Zulmiro Gonçalves, Soldado Condutor Auto Rodas, natural de S. Mamade de Infesta / Matosinhos, inumado no cemitério de S. Mamade de Infesta, tombou durante uma coluna de reabastecimento na estrada entre Nova Lamego e Madina do Boé em 10 de Fevereiro de 1967;

Companhia de Caçadores 1546 [CCAÇ 1546]

• Francisco António Roberto Hipotecas, Soldado Condutor Auto Rodas, natural de São Vicente / Cuba, inumado no cemitério de Cuba, tombou numa coluna auto para Beli, em 11 de Junho de 1966;

• José da Silva Marques, Furriel Miliciano Enfermeiro, natural de Alvaiázere / Leiria, inumado no cemitério de Alvaiázere, faleceu no Hospital Militar 241 em Bissau, em consequência de ferimentos em combate, numa coluna auto para Beli, em 11 de Junho de 1966.

Batalhão de Engenharia 447 [BENG 447]

• Álvaro Ferreira Caneira, 1º Cabo Pontoneiro, natural de Silvalde / Espinho, inumado no cemitério de Espinho, tombou durante um ataque ao Aquartelamento do Che-che, onde se encontrava em diligência, em 12 de Novembro de 1966;

Companhia de Caçadores 1586 [CCAÇ 1586]

• António Armando Almeida Oliveira, Furriel Miliciano Atirador, natural de Barroca / Fundão, inumado no cemitério do Alto de S. João em Lisboa, tombou na Rocha de Diquel, a Sul do Che-che, durante uma coluna de reabastecimento, em 28 de Dezembro de 1966;

• Manuel Duarte, 1º Cabo Atirador, natural de Gosende / Castro d’Aire, inumado no cemitério de Gosende, tombou na Rocha de Diquel, a Sul do Cheche, durante uma coluna de reabastecimento, em 28 de Dezembro de 1966;

• Alfredo Augusto, Soldado Atirador, natural de Natural de Olgas-Frestinha / Mirandela, inumado no cemitério de Mirandela, tombou no itinerário de Nova Lamego a Madina do Boé, durante uma coluna de reabastecimento, em 10 de Fevereiro de 1967;

• António Carlos Viegas, Soldado Condutor Auto Rodas, natural de Guardião / Tondela, inumado no cemitério do Alto de S. João em Lisboa, tombou no itinerário de Nova Lamego a Madina do Boé, durante uma coluna de reabastecimento, em 10 de Fevereiro de 1967;

• Joaquim Martins Pires, Soldado Atirador, natural de Vascoveiro / Pinhel, inumado no cemitério de Vascoveiro, tombou no itinerário de Nova Lamego a Madina do Boé, durante uma coluna de reabastecimento, em 10 de Fevereiro de 1967;

• Manuel do Nascimento Pires, Soldado Atirador, natural de Babe / Bragança, inumado no cemitério de Veigas, tombou no itinerário de Nova Lamego a Madina do Boé, durante uma coluna de reabastecimento, em 10 de Fevereiro de 1967;

• Raul de Aquino, 1º Cabo Atirador, natural de Quintães de Baixo-Linhares / Celorico da Beira, inumado no cemitério de Linhares, tombou no itinerário de Nova Lamego a Madina do Boé, durante uma coluna de reabastecimento, em 10 de Fevereiro de 1967; <

• António Zulmiro Gonçalves, Soldado Condutor Auto Rodas, natural de S. Mamede de Infesta / Matosinhos, inumado no cemitério de S. Mamede de Infesta, tombou no itinerário de Nova Lamego a Madina do Boé, durante uma coluna de reabastecimento, em 10 de Fevereiro de 1967;

• Intumbo Quasse, Soldado Atirador, natural de Santa Ana / Mansoa, inumado no cemitério de Nova Lamego - Guiné, tombou no itinerário de Nova Lamego ao Cheche em 24 de Janeiro de 1968;

• Mário Augusto da Silva, Soldado Atirador, natural de Vilarinho – Parada do Pinhão / Sabrosa, inumado no cemitério de Parada do Pinhão, tombou no itinerário de Nova Lamego ao Cheche em 24 de Janeiro de 1968;

Esquadrão de Reconhecimento 1578 [EREC 1578]

• José Ferreira Alves, 1º Cabo Radiotelegrafista, natural de São Frutuoso – Ceira / Coimbra, inumado no cemitério de Ceira, tombou junto a Uelingará, durante uma coluna no itinerário Nova Lamego a Canjadude, em 14 de Dezembro de 1967;

Companhia de Caçadores 1589 [CCAÇ 1589]

• Ilídio Bonito Claro, Soldado de Transmissões, natural de Montemor-o-Velho, inumado no cemitério da Torre em Montemor-o-Velho, faleceu no Hospital Militar 241, vítima de ferimentos em combate durante um patrulhamento na região de Madina do Boé, em 4 de Janeiro de 1968;

Companhia de Cavalaria 1662  [CCAV 1662]

• Manuel Correia, Soldado Atirador, natural de Trevões / São João da Pesqueira, inumado no cemitério do Estoril, tombou num acidente com arma de fogo em Coaina, na estrada Nova Lamego a Madina do Boé em 29 de Maio de 1968;

Companhia de Cavalaria 1693 [CCAV 1693]

• António da Silva Domingos, 1º Cabo Atirador, natural de Vaqueiros / Alcoutim, inumado no cemitério de Bissau - Guiné, tombou na zona de Andebe, estrada do Che-che a Canjadude, durante uma coluna de reabastecimento em 21 de Junho de 1967;

Companhia de Artilharia 1742 [CART 1742]


• Manuel Gaio Neto, Soldado Atirador, natural de Prado-Santa Maria / Vila Verde, inumado no cemitério de Prado, tombou em Ganguiró, no itinerário entre Che-che e Canjadude, em 08 de Novembro de 1967;

Chefia do Serviço de Material / QG-CTIG

• Luís Vasco da Veiga Ferreira Pedras, Major do Serviço de Material, natural de São João das Caldas / Guimarães, inumado no cemitério do Alto de S. João em Lisboa, foi vítima , em 13JAN68, de ferimentos recebidos em combate junto a Fariná, durante uma coluna no itinerário Canjadude ao Che-che, vindo a falecer no Hospital Militar 241 em 15 de Janeiro de 1968;

Pelotão de Milícias 161 [Pel MIl 161]

• Mamadu Bá, Alferes de 2ª Linha, natural de Cassama / Pita, inumado no cemitério de Nova Lamego – Guiné, tombou vítima de mina anti pessoal, junto à tabanca de Ganguiró, no itinerário de Canjadude – Che-che, em 30 de Novembro de 1967;


• Sana Queta, Soldado Milícia, natural de Ganguiró / Gabú, inumado no cemitério de Nova Lamego – Guiné, tombou vítima de uma mina anti pessoal durante uma coluna no itinerário de Canjadude ao Che-che, em 13 de Jasneiro de 1968.

Pelotão de Reconhecimento 1129  [Pel Rec Daimler 1129]

• Paulo Lima, Soldado Condutor Auto Metralhadora Daimler, natural de Cepões / Lamego, inumado no cemitério de Santa Cruz em Lamego, tombou em consequência de ferimentos com uma mina anticarro, na estrada do Cheche a Nova Lamego, em 12 de Fevereiro de 1968;


Companhia de Caçadores 1790 [CCAÇ 1790]

• Aruna Mané, Soldado Atirador, natural de Sedengal-Nossa Senhora da Cruz / São Domingos, inumado no cemitério de Madina do Boé - Guiné, tombou durante um ataque ao Aquartelamento de Madina do Boé em 18 de Abril de 1968;

• Pedro Fernandes, Soldado Atirador, natural de Binar-Santa Ana / Mansoa, inumado no cemitério de Madina do Boé - Guiné, tombou durante um ataque ao Aquartelamento de Madina do Boé em 18 de Abril de 1968;

• Uri Será, Soldado Milícia, natural de Béli / Gabú, inumado no cemitério de Madina do Boé – Guiné, tombou num ataque IN ao Aquartelamento de Madina do Boé em 20 de Junho de 1968;

• Adulai Silva, Soldado Milícia do Pelotão de Milícias 149 ao serviço desta Unidade, natural de Sutumaca / Gabu, cujo corpo não foi recuperado, faleceu no desastre do Che-che, em 6 de Fevereiro de 1969. Na primeira parte do texto consta como civil não identificado;

• Alfa Jau, Soldado Milícia do Pelotão de Milícias 149 ao serviço desta Unidade, natural de Santa Isabel / Gabú, cujo corpo não foi recuperado, faleceu no desastre do Che-che em 6 de Fevereiro de 1969. Na primeira parte do texto consta como sendo soldado da C.Caç 179 e natural da Guiné;

Pelotão de Caçadores Nativos 65 [Pel Caç Nat 65]

• Mamadu Só, Soldado Atirador, natural de Piche / Gabú, inumado no cemitério de Nova Lamego - Guiné, tombou na zona de Canjadude em 6 de Maio de 1968;

Batalhão de Caçadores 2835 [BCAÇ 2835]

• Adriano Moreira, Soldado Condutor Auto Rodas, natural de Sobrado / Castelo de Paiva, inumado no cemitério de Sobrado, tombou vítima de uma mina anti carro no itinerário de Béli a Canjadude em 18 de Maio de 1968;

Companhia de Artilharia 2338 [CART 2338]

• Rogério Nunes de Carvalho, Alferes Miliciano de Artilharia, natural de Pêga / Guarda, inumado no cemitério de Pêga, tombou vítima do rebentamento de uma mina antipessoal na estrada do Cheche a Canjadude, em 17 de Abril de 1968;

Companhia de Caçadores 5 [CCAÇ 5]

• Riga Fechena, Soldado Maqueiro, natural de Binar-Santa Ana / Mansoa, inumado no cemitério de Madina do Boé - Guiné, tombou na zona de Ganguiró, no itinerário entre Canjadude e Cheche em 20 de Setembro de 1967;

• Chimatam Baldé, Soldado Atirador, natural de Sonaco / Gabú, inumado no cemitério de Nova Lamego - Guiné, tombou na estrada entre Nova Lamego e Cheche em 24 de Janeiro de 1968;

• Jaime Vinhais Teixeira, 1º Cabo Atirador, natural de São Julião / Chaves, inumado no cemitério de Limãos – São Julião, tombou na estrada entre Nova Lamego e Cheche em 24 de Janeiro de 1968;

• Mussa Baldé, Soldado Atirador, natural de Cossé / Bafatá, inumado no cemitério de Nova Lamego - Guiné, tombou na estrada entre Nova Lamego e Cheche em 24 de Janeiro de 1968;

(Continua)

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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1369: Estórias cabralianas (16): As bagas afrodisíacas do Sambaro e o estoicismo do Sousa

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Fá Mandinga > 1969 ou 1970 > "O 1º Cabo Monteiro. Às costas um pequenino Alfero Cabral " (JC)... A par da tragédia, a guerra da Guiné foi também um peça do Teatro do Absurdo... Jorge Cabral tem o grande talento e o especial mérito de nos mostrar, com um toque de genial humor, esse outro lado da guerra, que era o nosso quotidiano de gente saudavelmente louca, que hoje é vencedora porque sobreviveu (LG)...

Foto : © Jorge Cabral (2006). Direitos reservados.



Mais uma estória, pouco ... natalícia mas divertida, do Jorge Cabral, ex-Alferes Miliciano de Artilharia, comandante do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71 (1).

Comentário do editor do blogue: É caso para dizer que ninguém podia invejar o lugar de comandante deste tipo de destacamentos, isolados, na linha de fronteira, na terra de ninguém, guarnecido por pelotões de caçadores nativos, mais uns tantos milícias com a família às costas e mais meia dúzia de quadros e especialistas de origem metropolitano, à beira do abismo, esquecidos e abandonados...

Amigos e camaradas da Guiné: não vejam nestas estórias cabralianas qualquer propósito de ofender a instituição militar, mas tão apenas o relato das manifestações de uma saudável loucura, própria dos seres humanos que são postos à prova em situações-limite...

Contrariamente a qualquer bestiário da guerra, as estórias cabralianas são um hino à idiossincrasia lusitana, à plasticidade comportamental dos nossos soldados, à enorme capacidade de resistência, de imaginação e de adaptação da nossa gente...

Eu sei que as estórias do Jorge têm fãs e detractores... Eu, que estou do lado dos fãs, tiro-lhe o quico, e espero que ele não esgote este filão: ele é um grande observador da natureza humana e consegue também, em duas pinceladas, criar personagens e mostrar aquilo que é o único na espécie humana que é a compaixão (no seu sentido etimológico cum + passio > sofrimento comum, comunidade de sentimentos, partilha da dor).

O Jorge, que enquanto estudante universitário devorou o Ionesco e o teatro do absurdo, não se coloca na situção, confortável, do marionetista... Ele faz parte, de alma e coração, da peça e do cenário...

Querido amigo e camarada: Não precisas de bagas do Sambaro no teu sapatinho para nos pores a sorrir e a pensar... Mas que o talento não te falte no Novo Ano que - dizem - aí vem, cheio de promessas, de ilusões e de ameaças como os todos os Novos Anos que já vivemos... L.G.
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Amigo Luís,

Cá continuo relembrando a vida nos Destacamentos, com a ajuda dos Amigos que me acompanhavam, e que me contam extraordinárias peripécias, algumas das quais eu já havia esquecido.

Num Destacamento isolado como era Missirá, a forma de estar e de viver dependia muito da personalidade do respectivo Comandante, suas capacidades, limitações e peculiaridades. Até porque as funções que lhe eram atribuídas, excediam a mera chefia militar. Médico, Psicólogo, Juiz, Conselheiro, superentendia em todos os assuntos, e do seu carácter podia resultar um férreo ambiente prisional, ou uma agradável comunidade de afectos, como creio ter sido o meu caso.

Claro que estávamos todos apanhados, mas numa loucura amena e saudável, que nos divertia e nos ajudava a mascarar a tristíssima rotina.

Todos, metropolitanos e africanos, alinhavam na imaginação do alferes que cada dia surgia com uma nova ideia. É por isso que devo ter material para centenas de estórias, desde a comemoração de São Mamadu, até o ter colocado as mulheres de sentinela…

As decisões mais difíceis aconteciam com as evacuações por doença, principalmente porque o meu enfermeiro, o maqueiro Alpiarça, quando não estava bêbado, para lá caminhava…
A estória que hoje remeto, descreve, precisamente, uma situação em que tive muitas dúvidas. Felizmente, o Sousa recuperou…

Bom Natal, Amigo! Grande Abraço!
Jorge

Das bagas do Sambaro, às agruras do Sousa. Viagra (?) em Missirá
por Jorge Cabral

Aos Domingos vestíamo-nos à paisana e dávamos longos passeios à volta da parada, imaginando praças, avenidas, ruas, adros de igreja e até estações de comboio. Depois entrávamos na Cantina e invariavelmente pedíamos Um fino e tremoços.

Não havendo tremoços, triplicávamos a cerveja, não sem o Pechirra, o nosso motorista, explicar a importância do acompanhamento em falta, o qual segundo ele possuía um monumental efeito afrodisíaco, pois… e lá contava uma delirante estória das suas proezas sexuais. Só os soldados africanos e algum adido metropolitano periquito, ainda o escutavam, embora o seu calão portuense fosse dificilmente traduzível.

Uma vez o bazuqueiro Sambaro anunciou, que possuía umas bagas suma tremoço tão boas que um homem podia estar toda a noite… Achei piada. À basófia tripeira respondia a basófia fula… Afinal as diferenças não eram assim tão grandes…

O certo é que Sambaro foi buscar as tais bagas, e calhou ao Sousa experimentar. Ao fim de uma hora resultou. Passadas quatro horas continuava a resultar. Oito horas depois o Sousa uivava de dor, e suplicava-me a sua evacuação. Que fazer?

Reuni com os furriéis. Podia eu lá evacuar um soldado com aquele motivo ?! Que escreveria na mensagem? Ataque de te…? Pragmático o Amaral sentenciava:
- O que sobe, desce - e o Branquinho acrescentava:
- Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe.- E quanto ao Pires inventava:
- A curiosidade não matou, inchou o gato.

Tomada a decisão, o pobre do Sousa aguentou três dias, como um herói.

Quando terminei a comissão, deixei-lhe proposto um louvor “porque durante setenta e duas horas suportou com estoicismo a dor resultante de fogo interno, devendo ser apontado como exemplo da virilidade lusitana"...

Parece que o Polidoro (2) não concordou. Enfim, injustiças…

Jorge Cabral
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Notas de L.G.:

(1) Vd. últimpo post > 6 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1344: Estórias cabralianas (15): Hortelão e talhante: a frustração do Amaral (Jorge Cabral)

(2) Último comandante do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72). Substituiu o tenente-coronel Magalhães Filipe, se a memória não me engana.

Guiné 63/74 - P1368: Concurso O Melhor Bagabaga (4): Có (1969) (João Varanda)





João Varanda, em Có, de pé e sentado num enorme bagabaga (ou termiteira) (duas primeiras fotos) e num postod e vigia, localizado num poilão (terceiro e última foto)...

O João Varanda, residente em Coimbra, foi furriel miliciano na açoriana CCAÇ 2636, que esteve na região do Cacheu: Có/Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/70) e depois mudou-se para a zona leste (Bafatá, Saré Bacar e Pirada, 1970/71) (1).

Estas fotos foram seleccionadas pelo editor do blogue para o Concurso O Melhor Bagabaga

Fotos: © João Varanda (2005). Direitos reservados.

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Notas de L.G.:

(1) Sobre a história da CCAÇ 2636(Có, 1969/71), vd posts do João Varanda:

22 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLIII: Notícias da açoreana CCAÇ 2636 (Bafatá, Contuboel, Saré Bacar, Pirada)

15 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCI: CCAÇ 2636 (Có, 1969/71) (1): De Santa Margarida ao Cupilom... (João Varanda)

16 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCIII: CCAÇ 2636 (Có, 1969/71) (2): "Periquito vai no mato, que a velhice vai p'ra Bissau"... (João Varanda)

26 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXIV: CCAÇ 2636 (Có, 1969/71) (3): O espírito de grupo (João Varanda)

26 Novembro 2005 > Guiné 63/74 - CCCXV: CCAÇ 2636 (Có, 1969/71) (4): A acção psicossocial (João Varanda)

19 Dezembro 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXXIX: CCAÇ 2636 (Có, 1969/70) (5): Gastando o primeiro par de botas e as letras do alfabeto (João Varanda)

19 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXC: CCAÇ 2636 (Bafatá, 1970/71) (6): Mimos do PAIGC em Mansomine (João Varanda)

(2) Vd. posts anteriores:

7 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1347: Concurso O Melhor Bagabaga (1): Bambadinca (Humberto Reis / Luís Graça)

7 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1348: Concurso O Melhor Bagabaga (2): Bissau (David Guimarães)

14 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1367: Concurso O Melhor Bagabaga (3): Fajonquito (1964) (Tino Neves)

Guiné 63/74 - P1367: Concurso O Melhor Bagabaga (3): Fajonquito (1964) (Tino Neves)

Guiné > Zona Leste > Fajonquito > 1964 > Um poilão...

Guiné > Zona Leste > Fajonquito > 1964 > Um bagabaga...

O Tino Neves manda-nos duas fotos tiradas em Fajonquito, no já distante ano de 1964... Nas duas aparece o seu irmão (que presumimos ter feito a sua comissão militar na Guiné nessa época).

Trata-se de dois monumentos nacionais da Guiné, diz ele: Um bagaga (1) e um poilão.
Fajonquito pertencia ainda à Zona Leste (hoje, região de Bafatá): fica a meio caminho entre Contuboel e a fronteira (norte) com o Senegal: vd carta de Colina do Norte.

Fotos: © Tino Neves (2006). Direitos reservados (2).

_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores sobre o Concurso O Melhor Bagabaga:

7 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1347: Concurso O Melhor Bagabaga (1): Bambadinca (Humberto Reis / Luís Graça)

7 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1348: Concurso O Melhor Bagabaga (2): Bissau (David Guimarães)

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1366: A galeria dos meus heróis (6): Por este rio acima, com o Bolha d'Água, o Furriel Enfermeiro Martins (Luís Graça)

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Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Natal de 1969 > Sargentos e furriéis da CCAÇ 12 (1969/71) e da CCS do BCAÇ 2852 (1968/70).

Legenda: (i) da esquerda para a direita, na 1ª fila: o Jaime Soares Santos (Fur Mil SAM, vulgo vagomestre); o António Eugénio da Silva Lezinho, Fur Mil At Inf; o António M. M. Branquinho, Fur Mil At Inf; o Humberto Simões dos Reis, Fur Mil Op Esp; o Joaquim A. M. Fernandes, Fur Mil At Inf);
(ii) da esquerda para a direita, 2ª fila, de pé: 2º Sargento Inf José Martins Rosado Piça; o Fur Mil Armas Pesadas Inf Luís Manuel da Graça Henriques; um 2º sargento, de cujo nome não me lembro; o 1º Sargento Cav Fernando Aires Fragata; o Fur Mil Enfermeiro João Carreiro Martins; e um outro 1º sargento de cujo nome também já não me lembro mas que julgo ser da CCS do BCAÇ 2852... (LG)


Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.




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Guiné > Rio Geba > LDG Bombarda > A caminho do Xime > 2 de Junho de 1969 > O Fur Mil Ap Arm Pes Inf Henriques, da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12),  um periquito a bordo... Destino: Contuboel (em coluna auto a partir do Xime, com passagem por Bambadinca e Bafatá)...

Foto: ©
Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados reservados.

O cruzeiro das nossas vidas (1): do Niassa à LDG Bombarda ou o meu primeiro herói, o Pastilhas da CCAÇ 12 (2)

por Luís Graça



(i) A bordo do Niassa. 28 de Maio de 1969

Eis-me nos tristes trópicos, parafraseando o título brasileiro do livro de viagens e de etnografia do Lévi-Strauss que levo na babagem que está no porão. Atravessei hoje o Trópico de Câncer, com velocíssimos peixes voadores e alguns alegres golfinhos a acompanhar-nos. Lembrei-me do romance escaldante do Henry Miller que li em tempos, em edição brasileira, mais tarde proibida pela ditadura militar.

Lembrei-me sobretudo do meu velhote, que esteve em Cabo Verde, como expedicionário (adoro a palavra!), com o posto de 1º cabo, em plena II Guerra Mundial. E das histórias de tubarões que ele me contava, quando criança. Ele gostava de fazer mergulho e nadar, na baía do Mindelo, mas tinha medo que se pelava dos tubarões! (3).

Cabo Verde > Ilha de São Vicnete > Mindelo > 1943 > 1º Cabo Inf Luís Henriques

Legenda: "No dia em que fiz 22 anos tirei esta fotografia em Mindelo, celebrando as minhas vinte e duas primaveras felizes. Luis Henriques. Em 19/8/943. S. Vicente, C. Verde. Senti neste dia muitas saudades dos meus, dos amigos e também da minha terra [, Lourinhã]. Luís".


Foto: © Luís Graça (2005). Todo os direitos reservados.




Do fundo da memória, vêm à superfície fotos amareladas de barcos e tubarões. Barcos ingleses, italianos, alemães, portugueses, ancorados na baía do Mindelo, ou ao largo, numa entente cordiale... Lembrei-me de um deles, o Mouzinho de Albuquerque, que tomou o nome de um trágico herói colonial... Dizem que o Mouzinho, o herói de Chaimite, se suicidou por não suportar o boato que corria nos mentideros de Lisboa de que era o amante da rainha Dona Amélia, fidelíssima esposa do seu amado rei D. Carlos...


A bordo do Niassa perguntava-me a mim próprio:

- E se Cabo Verde tivesse sido invadido, em 1941, 42 ou 43, como ao que parece chegou a estar nos planos dos Aliados ou até das potências do Eixo ? Muito provavelmente eu nunca teria nascido, ou se tivesse nascido falaria alemão,  e não estaria agora a caminho da Guiné, a bordo do Niassa, um navio da carreira colonial fretado pelo exército…



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1942 > O Paquete Mouzinho.

Foto: ©
Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados.


Alguém se lembrou, entretanto, de abrir uma garrafa de champagne (um espumantezeco nacional, de cabaré) como se tivéssemos atravessado o Equador em alegre cruzeiro de meninos ricos de colégio fino pelo Atlântico Sul. Com um sorriso verde-amarelo, também participei neste ritual de iniciação, erguendo a minha taça:

- Afinal, estamos todos no mesmo barco! – comentei para o meu parceiro do lado, o Furriel Miliciano Enfermeiro Martins.

Não sei se ele terá percebido o meu humor negro. Não era tipo para achar piada ao meu sentido de humor. Recordo-o, ainda hoje, como um homem simples, sensível, tímido, reservado, com ar bonacheirão mas assustado, a par de uma calvície precocemente galopante:

- Estamos todos no mesmo barco, Martins!... Quero eu dizer: estamos fodidos, quilhados, embarcados numa aventura que pode ser sem regresso… - repetia-lhe eu, em vão.

Eu que me julgava um tipo bem educado e civilizado, comecei a falar mal desde que soube da minha mobilização para a Guiné, em finais de 1969. A falar mal, a beber e a fumar. Falava-se mal, na tropa. Bebia-se e fumava-se, em demasia, no meu tempo de tropa. Como se o Niassa fosse uma extensão marítima do Cais do Sodré e das suas espeluncas. O Martins era incapaz de dizer uma asneira: constava-se que já era enfermeiro na vida civil… Mas eu sabia pouco ou nada dele. Sabíamos muito pouco uns dos outros.

A bordo comia-se e bebia-se o dia todo para matar o tédio, para suportar a angústia da viagem, para fazer lastro e sobretudo para não dar parte de fraco e andar a chamar pelo Gregório pelos cantos do navio. Não há gajas, queixava-se o Videira, 2º sargento do quadro, que à última hora ainda desafiou a malta para ir fazer a despedida ao Bairro Alto.

Era a velha tradição das rotas da navegação colonial. Havia os viciados da lerpa e do king. Como haveria depois, no teatro de operações da Guiné (no TO da Guiné, para utilizar a nossa linguagem de código), os viciados do álcool, da comida, do sexo, da caça, da guerra, da escrita diária de aerogramas às madrinhas de guerra…


Os oficiais superiores, esses, divertiam-se com o tiro ao alvo na popa do navio, enquanto a malta da turística escrevia cartas, aos pais, namoradas, noivas e mulheres, cartas que eu imaginava já molhadas de lágrimas salgadas e de saudades.

As praças, essas, vomitavam nos porões. Um riacho de água verde-escura escorria pelo convés. Todo o navio fedia, tresandava a merda,  e no meio do cheiro nauseabundo havia um desgraçado de um desertor que ia a ferros, qual gado levado para feira. Diziam que fora apanhado pela Pide na fronteira de Vilar Formoso, e recambiado para Santa Margarida, ainda a tempo de apanhar o comboio-fantasma até ao Cais da Rocha Conde de Óbidos onde o esperava o Niassa.

- De mal o menos, ia como básico, para a Guiné. Melhor do que ser atirador ou ficar a apodrecer no presídio militar…- pensava eu.

O pobre do desertor era alvo da chacota da maralha: alguém insinuara que o gajo era maricas e que não teve tomates para ir para a guerra… Era um velho truque da velha instituição militar que das tripas sabia fazer coração, que da merda fazia nervos de aço... Só para manter o moral das tropas, só para aguentar a guerra…

- Até quando ? - interrogava-me eu, em silêncio.

- Lembrem-se, seus cabrões, que vocês são a fina flor da nação! – massacrava-nos o tenente Esteves, na parada em Tavira, no Curso de Sargentos Milicianos…

Dentro de um dia desembarcaríamos na Guiné da qual espantosamente eu não sabia nada a não ser aquilo que me haviam impingido nos bancos da minha velha escola do Conde de Ferreira e que eu teria reproduzido, como um papagaio, no exame da 4ª classe ou da admissão:
- Descoberta pelo navegador português Nuno Tristão, que viria a ser morto pelos indígenas ao tentar desembarcar numa das ilhas do arquipélago dos Bijagós, a Guiné tem mais do que um terço da superfície de Portugal Continental...

E acrescentava, de acordo com o livro de leitura:

- O clima é tropical húmido, e o território muito plano e baixo, com vastas regiões alagadiças e pantanosas, o que torna difícil a adaptação do europeu. Quanto à vegetação, predomina a floresta tropical e a savana arbustiva. A população – um pouco mais de meio milhão de almas – divide-se por uma grande variedade de grupos da raça negra, sendo os mais importantes os balantas, animistas, e os fulas, islamizados.


E finalizava com a informação sobre a econonomia da província:Desde que deixáramos as Canárias, que eu não suportava aquele calor pegajoso, aquela angústia difusa que destilava através dos poros da pele. Tinha sintomas de febre e já não sabia distinguir onde acabava a realidade e começava o delírio.

De facto tudo fora tão brutal: a ordem de mobilização recebida em Castelo Branco; a ressaca dos primeiros copos na noite do tremor de terra; a apresentação em Santa Margarida, a Escola Preparatória de Quadros e a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO)  com os rocambolescos assaltos nocturnos aos bivaques do inimigo para sacar tudo o que fosse bebível e comestível; os breves dias, tristes, de licença antes do embarque; a viagem directa, nocturna, quase clandestina, em comboio especial até ao cais de embarque, no porto de Lisboa; os capacetes brancos dos polícias militares; os nossos familiares e amigos de rosto tenso, alguns de gravata preta; as gaivotas estranhamente pousadas nos mastros dos navios; as fragatas do Tejo, silenciosas mas tensas; os guindastes, o Tejo, a ponte que, de Almada, eu vira elevar-se das águas nos primeiros anos de 60; o Cristo-Rei, de braços abertos como um espanta-pardais numa tela de Dali; o apito breve mas pungente do navio, breve como um tiro, arrepiante como o sentimento indefinível de quem em Lisboa partia e de quem em Lisboa ficava; o marinheiro que soltava as amarras, um vulto, uma mão, um lenço…

E, já no mar alto, ao largo dos Açores, eu próprio tivera a sensação de ter atravessado o pórtico do tempo e entrado num barco-fantasma, sobrevivente da odisseia dos antigos nautas, à deriva nos medonhos mares de que nos falavam as velhas histórias trágico-marítimas…

Que fazia eu, que fazíamos nós – o Martins, o Videira, o Piça, o Tony, o Humberto Reis, o Fernandes, o Luciano, o Sousa, o Marques, o Arménio, o Gabriel , o Abel, o Carlão, o Moreira e tantos outros, centenas e centenas de homens, milicianos ou do contigente geral -, acondicionados como gado em porões nauseabundos, ali naquele barco da carreira colonial, vogando fora do tempo e do espaço, como se Gil Eanes nunca tivesse dobrado o temido Cabo Bojador, desfeitas as lendas do Mar Tenebroso e assim aberto o caminho marítimo para o longínquo sul, para o fim do mundo, e para os eldorados que havia por achar?!...

- Duplamente embarcado, meu velho. Fodido, quilhado! – repetia eu, de novo para o Martins, ao avistarmos ao longe a luz trémula do farol da
Ilhéu dos Pássaros, à entrada do Porto de Bissau, e ao ouvirmos pela primeira vez uma tempestade tropical que, no meio do alvoroço provocado pelo grito Terra à Vista!, alguém confundira com o tão temido ribombar dos canhões.

- As principais exportações são o amendoim, o coconote, as madeiras exóticas e o óleo de palma. A capital e a residência do Governador é a linda e moderna Bisssau.

Foi a pensar nas zonas pantanosas e alagadiças da Guiné, nos seus mil e rios e braços de mar, nas suas margens lodosas, nos seus tentáculos traiçoeiras, que eu encomendei ao meu velho, pomposamente colectado nas finanças como industrial de sapateiro, um par de botas de cano alto, à cavaleiro... Julgava eu, na minha santa ignorância ou ingenuidade, que ficaria melhor protegido contra as temíveis sanguessugas e víboras... Felizmente, tive o bom senso de cancelar a encomenda à última hora, com as medidas e a forma do pé já nas mãos de um dos oficiais de sapateiro que trabalhavam para o meu pai...


- Tite, Fulacunda, Buba! - alguém alvitrava nomes, como se fosse o cicerone daquele estranho tour by ngiht de aproximação à capital de um país em guerra...



(ii) Bissau. 29 de Maio de 1969

No dia seguinte, de manhã, desembarcávamos numa cidadezinha térrea, de casas térreas, de adobe, rachas de cibe e chapas de zinco, com quintais cheios de mangueiras, e onde em dois ou três quarteirões feitos a régua e esquadro se concentrava a administração, o comércio e a tropa (4).

Nas ruas, sujas das primeiras enxurradas de Maio, putos vendiam mancarra e eu começava a aprender as minhas primeiras palavras de crioulo. Gilas, de balandrau branco, óculos de sol e transistor a tiracolo, mercadejavam bugigangas de contrabando, falando um estranha mistura de francês, crioulo e dialectos locais (5). Os sons, os sabores e as cores de África baralhavam-me os sentidos e as emoções.


Nunca esquecerei aquela baforada de ar quente quando, nos primeiros dias, saímos dos Adidos e púnhamos o pé em cima da terra vermelha escaldante ou do asfalto quase líquido... E dos primeiros pesos gastos em bebidas de latas bem geladinhas... Foi em Bissau - creio eu - que eu pela primeira vez vi bebidas em lata que se bebiam dum sorvo, à sombra de uma magueira ou debaixo de uma ronceira ventoínha... Foi em Bissau que descobri a Seven-Up, a Orange ou a Coca-Cola, em lata...

Em relação à Cola-Cola, devo confessar que não me tornei fã, talvez por uma razão tão esrtúpida como  político-ideológico: partilhava dos preconceitos da época segundo a qual a Coca-Cola era a água suja do imperialismo norte-americano...

As imagens que eu tenho de Bissau, entre 30 de Maio e 2 de Junho de 1969, são fugidias, impressionistas, estereotipadas... Logo de manhãzinha, já as esplanadas estavam cheias de tropa à civil, beberricando cerveja, enquanto no mastro da fortaleza oitocentista da Amura flutuava uma descolorida bandeira verde-rubra. Indiferente aos velhos canhões de bronze, uma mulher passava com o filho às costas e um balaio à cabeça. Canoas talhadas em grossos troncos de poilão partiam do mítico cais do Pijiguiti, sulcando as águas lamacentas da Ria, em busca de mafé. Ronceiros aviões levantavam voo de Bissalanca e, no meio da praça do Império, em cima de um Unimog, de pé e de braços abertos, alguém de nós, militar, exclamava:
- Camaradas, cinco séculos de história vos contemplam!


(iii) Pelo Geba acima, na LDG Bombarda

Três dias depois iriam dar-nos uma G-3, novinha em folha, e uma ração de combate, para de seguida nos porem no fundo duma LDG, a caminho do Leste, Rio Geba acima, escoltados por uma equipa de fuzileiros navais que, à medida que o ri estreitava, batiam com fogo de morteirete a cerrada vegetação das margens (o tarrafe) até às proximidades do Xime…

Íamos dois, eu e o Martins, sentados em cima de uns colchões de espuma, empilhados numa Berliet… O fogo de morteirete dos fuzileiros apanhou-nos de surpresa… Qual não é o meu espanto quando o Martins, à saída da primeira granada se lançou de cabeça para o fundo da LDG!… Eu, que era de armas pesadas de infantaria, não tive felizmente reflexos tão rápidos como os do Martins que, na queda, acabou por ser a nossa primeira vítima na Guiné.

Com um olho à Belenenses e com contusões no rosto, o pobre do Martins, por ironia enfermeiro, foi o primeiro de nós a testar a competência dos nossos cabos maqueiros, seus subordinados dos serviços de saúde militar, que, noutras circunstâncias bem mais dramáticas, irão salvar a vida a alguns de nós…
- Como um cão apanhado na rede! - resmungava eu sentado na capota da Berliet, prescrutando a linha do horizonte, a bordo da LDG Bombarda...

Pobre Bolha d’Água, pobre Pastilhas!... A alcunha, as alcunhas, ficaram-lhe para sempre coladas à pele. Hoje, reconstituindo os acontecimentos em retrospectiva, penso que ele foi o meu primeiro herói, ou melhor, o meu primeiro anti-herói: nunca o vi a pegar uma arma, duvido até que fosse capaz de pôr a G-3 em posição de tiro; nunca alinhou connosco em operações, mesmo nas grandes operações; recordo-o sempre de bata branca, na palhota que servia de enfermaria, no posto médico de Bambadinca, e onde todos os dias uma interminável fila de mulheres, crianças e velhos aguardava a sua consulta de enfermagem (alguns seguramente gente de Nhabijões, quiçá até vivendo no mato, sob controlo do PAIGC...


Como enfermeiro, era um tipo competente, despachado, lesto, e a quem de resto recorríamos, com frequência, para picar as nossas bolhas de água nos pés, curar os nossos esquentamentos, com umas valentes doses de penicilina, ou aliviar os febrões do nosso paludismo..

Ele foi o mais útil de todos nós, soube cuidar de nós e da população local... Em contrapartida, gostávamos de lhe pregar partidas, algumas de mau gosto, gratuitas e até perigosas: recordo-me de um dia - às tantas da noite, no regresso de uma emboscada - o termos acordado, com uma pistola Walther apontada à cabeça; ou de o termos obrigado, com a cumplicidade do comandante da CCAÇ 12, já na parte final da comissão, a vestir no camuflado, a pegar na G-3 e a pôr ao ombro a mochila dos primeiros socorros... Simulámos uma ida ao mato, soprando-lhe ao ouvido um temível nome como Ponta Varela, Poindão ou Ponta do Inglês... Dissemos-lhe que ele não nunca poderia voltar connosco a Lisboa, virgem, sem o baptismo de fogo...

Cinquenta metros depois de termos passado a porta de armas a caminho do objectivo, o Martins teve um colapso, um ataque de pânico, vomitou por cima e por baixo, acabou por ser ele a pregar-nos um grande susto... Levámo-lhe de urgência ao posto médico...

No dia seguinte lá estava ele a servir as suas pastilhas aos doentes africanos, de Bambadinca, Bambadincazinha e tabancas dos arredores... Era aí que ele se sentia gente, e sobretudo enfermeiro a tempo inteiro... Um homem absolutamente deslocado na tropa e na guerra...

Voltei a encontrá-lo, muitos anos mais tarde - vinte anos depois - , numa situação algo insólita: era enfermeiro chefe no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, e estava a agora a frequentar um curso de administração de serviços de enfermagem, na Escola Superior de Enfermagem Maria Resende. Os nossos papéis agora eram outros: ele, aluno; eu, professor...

Sei que ele hoje está reformado... Voltei a encontrá-lo mais tarde e lembro-me de ele me ter falado, com muito orgulho, com um brilhozinho nos olhos, dos seus seus dois filhos, agora médicos... Perdi-lhe depois o rasto, mas confesso que gostaria de voltar a encontrá-lo, em Lisboa, ou aqui na nossa tertúlia, para lhe dizer que ele agora faz parte da minha de galeria de heróis e também para lhe pedir desculpa de algumas das nossas brincadeiras mais estúpidas que o terão magoado...

A guerra é cruel, e torna os homens estúpidos e cruéis. E o homem - primata social, territorial e predador - tem, além disso, a particularidade comportamental de ser o único animal do mundo que mata ou humilha as suas presas por mero prazer, usando a violência gratuitamente, sem necessidade...

O Martins teve o azar de ter sido marcado, desde muito cedo, como alguém que parecia transmitir medo, fraqueza, vulnerabilidade, insegurança - sinais a que qualquer predador está atento, quando observa uma potencial presa. O Martins era um verdadeiro animal acossado nos primeiras semanas ou meses de Bambadinca: ainda antes do lusco-fusco era frequente vê-lo a rondar os abrigos como se estivessemos na iminência de um ataque... Ora no tempo dele, no nosso tempo, nunca houve felizmente uma ataque directo ao aquartelamento de Bambadinca...

Por outro lado, ele cometera em Contuboel (onde estivemos um mês e meio, no início da comissão) um erro tático ao relacionar-se, de maneira preferencial, com o grupinho do 1º Sargento Fragata, com quem de resto tinha mais afinidades... Os milicianos, sobretudo os operacionais, em conflito com o Fragata, marcaram o Martins e às vezes faziam-lhe a vida negra...

Meu caro Martins: neste Natal de 2006 desejo-te longa vida e muita saúde, contrariando o provérbio popular que garante Muita saúde, pouca vida, que Deus não dá tudo... Se leres esta mensagem, contacta-me por favor... Há uma conversa que começámos no Niassa e que ficou por terminar...
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Notas de L.G.:

(1) Vd. postes de:

21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1301: O cruzeiro das nossas vidas (4): Uíge, a viagem nº 127 (Victor Condeço, CCS/BART 1913)

21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1300: O cruzeiro das nossas vidas (3): um submarino por baixo do TT Niassa (Pedro Lauret)

19 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1296: O cruzeiro das nossas vidas (2): A Bem da História: a partida do Uíge (Paulo Raposo / Rui Felício, CCAÇ 2405)


12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)

(2) Sobre a série Galeria dos meus heróis, vd posts de:

13 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXXVIII: A galeria dos meus heróis (1): o Campanhã (Luís Graça)

14 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLII: A galeria dos meus heróis (2): Iero Jau (Luís Graça)

12 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXLIV: A galeria dos meus heróis (3): A Helena de Bafatá (Luís Graça)

1 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1011: A galeria dos meus heróis (4): o infortunado 'turra' Malan Mané (Luís Graça)

1 de Agosto de 2006> Guiné 63/74 - P1014: A galeria dos meus heróis (5): Ó Pimbas, não tenhas medo! (Luís Graça)

(3) Sobre o meu pai, Luís Henriques, 1º cabo de infantaria, expedicionário em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, Mindelo (1941/43), vd. posts de:

12 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIV: Cabo Verde (1941/43) (1): os mortos e os esquecidos do império (Luís Graça)

26 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXVI: Cabo Verde (1941/1943) (2): esperando os invasores (Luís Graça)

22 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLIV: Cabo Verde (1941/43) (3): sodade di Son Vicente

4 Dezembro 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXXV: Cabo Verde (1941/43) (4): Mindelo, terra de B.Leza e de Cesária Évora (Luís Graça)


(4) Vd. série Estórias de Bissau:

11 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): Cabrito pé de rocha, manga di sabe (Vitor Junqueira)

11 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1267: Estórias de Bissau (2): A minha primeira máquina fotográfica (Humberto Reis); as minhas tainadas (A. Marques Lopes)


14 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1278: Estórias de Bissau (3): éramos todos bons rapazes (A.Marques Lopes / Torcato Mendonça)

17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1286: Estórias de Bissau (4): A economia de guerra (Carlos Vinhal)

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1288: Estórias de Bissau (5): saudosimos (Sousa de Castro)

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1289: Estórias de Bissau (6): os prazeres... da memória (Torcato Mendonça)


18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1290: Estórias de Bissau (7): Pilão, os dez quartos (Jorge Cabral)

24 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1314: Estórias de Bissau (8): Roteiro da noite: Orion, Chez Toi, Pilão (Paulo Santiago)

(5) Alguns termos do crioulo da Guiné:

Balaio=cesto grande;
Cibe=palmeira;
Gilas (lê-se: djilas)= vendedores ambulantes;
Mafé= peixe, conduto que acompanha o arroz, base da alimentação da população local;
Mancarra=amendoim.
Peso= unidade da moeda local (mais ou menos equivalente ao escudo)

Guiné 63/74 - P1365: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (24): Discutindo os destinos do Cuor com o Coronel Hélio Felgas

Capa do romance de André Gide, Sinfonia Pastoral, publicado pelos Livros do Brasil, Lisboa, s/d, na sua famosaa colecção Miniatura (nº 56). Ilustração: Bernardo Marques. André Gide (1869 -1951), escritor francês, recebeu o Prémio da Literatura em 1947.

Foto: © Beja Santos (2006). Direitos reservados.



T/T Uíge > Julho de 1968 > O Alf Mil Beja Santos a caminho da Guiné. Foto gentilmente cedida, para digitalização, pelas suas filhas.

Foto: © Beja Santos (2006). Direitos reservados.

Texto enviado em 15 de Novembro de 2006. Continuação da publicação das memórias do Mário Beja Santos, ex-comandante do Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1).


Meu caro Luís, aqui vai a prestação semanal. Espero poder coincidir o período natalício com as páginas referentes ao meu Natal de Missirá. Telefonei hoje ao Cherno Suane [, meu antigo guarda-costas,] que está em Missirá e pedi-lhe fotografias, bem como do régulo.

Obviamente falámos por telemóvel, o régulo emociona-se e paralisa-lhe a fala. Estou a ganhar a coragem para escrever com olhos daquele tempo o Presépio de Chicri. Continuo com sorte e comprei mais livros que li naquele tempo. Hoje mandei-te pelo correio uma fotografia e um livro do André Gide Sinfonia Pastoral com uma belíssima ilustração do Bernardo Marques. Obrigado por todo o teu esforço a dar imagem aos meus textos e aguardo que marques para Dezembro o nosso almoço. Um abraço do Mário.

Comentário do editor do blogue:

Mário: Como as nossas comunicações, no blogue, andam atrasadas, tenho que dizer, em plena caserna, que o almoço estava óptimo, no Institut Franco-Portugais, no dia 5 de Dezembro passado. Foi um prazer rever-te, desde o verão passado. Aproveito para esclarecer os nossos amigos e camaradas da Guiné, que lêem o nosso blogue e em especial os teus posts, que as tuas frescas memórias do Cuor não são apenas fruto de uma prodigiosa memória de elefante, mas também e sobretudo da tua aturada pesquisa documental (escrevias todos os dias à tua namarada e futura esposa Cristina, tendo conseguido reaver e juntar toda essa correspondência tiveste a gentileza de ma confiar) e das longas conversas que tens mantido, ao longo destes anos todos, com os homens que comandaste na Guiné...

Não se pense, pois, que a Operação Macaréu à Vista é ficção: bem, pelo contrário, são as tuas memórias vivas - sujeitas à crítica dos teus contemporâneos que passram na mesma altura pelo Sector L1 da Zona leste - e espero que no fim, delas possam resultar um grande blook, um livro de referência sobre o nosso quotidiano na guerra da Guiné.

Quero aproveitar para esclarecer que a maior parte dos títulos e subtítulos dos teus posts são da minha responsabilidade, embora eu tenha sempre a preocupação de respeitar o conteúdo e a forma dos teus escritos. Espero até ao Natal poder pôr a tua escrita em dia... Um abraço de amizade e camaradagem. Obrigado pelos livros que me ofereceste como prenda de Natal, e em especial o exemplar nº 1, autografado, do teu último livro Este Consumo que nos Consome (Campo das Letras, Porto, 2006). Luís


Em Bafatá, para discutir os destinos do Cuor

por Beja Santos


Seriam três da manhã quando o Teixeira das transmissões bateu à porta da minha morança. Estava ainda no torpor do primeiro sono e perguntei automatizado:
- A que horas é que eu cavalgo para Berlim?

Durante aquele mês de Novembro o código fixara a expressão Cavalgar Berlim como ida a Mato de Cão. O Teixeira trazia a mensagem decifrada e simplificou-me a vida:
- Apresentar hoje manhã cedo este urgente.

Voltei a adormecer a pensar a que Buruntoni iria desta vez. E com o primeiro orvalho do raiar do dia partimos para Finete e daqui para a cambança do Geba. Apanhei o Pimbas a tomar o pequeno almoço e mandou-me sentar, explicando a situação:
- Como sabes, estamos a pôr tabancas em autodefesa no propósito de reorganizar todo o sector. Na reunião que tive com o nosso Coronel Felgas, ele quer saber se devemos dar vencimento à proposta do régulo do Cuor que é trazer população de Canturé que está presentemente a viver no Cossé. Segues já de viatura e vais falar com ele a Bafatá. Ele está à tua espera. O plano do nosso sector tem que ficar pronto até ao fim da tarde para ser analisado em Bissau com o Comandante Militar da Guiné.


Com o Hélio Felgas, comandante do Agrupamento 2957 (2)

E lá fui até Bafatá encontrar-me com o Coronel Hélio Felgas, que ainda não conhecia. Recordo um gabinete enorme e austero, um homem magro, de cabelo embranquecido e um olhar de lâmina a faíscar pelas lentes. Mandou-me sentar e foi direito ao assunto:
- Pretendo saber a verdade sobre o que se está a passar no Cuor, o que há lá e se é possível introduzirmos mais população. Desde Outubro que estamos a trabalhar com régulos e chefes de tabanca para se encontrar um novo alinhamento do sistema de autodefesa, criação de forças de milícia e uma reorganização que impeça as situações ambíguas de populações permanentemente sujeitas à pressão do inimigo. Diga-me o que acha que podemos fazer.

Tivera a viagem para organizar a minha apresentação, tal como se seguiu:
- Meu Comandante, se reparar bem no mapa a defesa do Cuor é um exclusivo pretexto para garantirmos a navegação do Geba e segurança de Bambadinca. O meu aquartelamento em Missirá é uma perfeita ruína, com metralhadoras do tempo de Hitler e Mussolini. Só agora é que tenho um morteiro 81. A população civil vive praticamente misturada com os caçadores nativos e os milícias. As milícias estão muito mal preparadas e tenho uma secção em Galomaro. Diariamente, uma a duas vezes patrulhamos até Mato de Cão. Estou a esticar a corda com patrulhamentos para identificar a presença dos rebeldes. Finete está numa lástima e há mais espingardas Mauser do que G3. Estamos agora a melhorar os abrigos, a preparar apontadores de diagrama, vai chegar um morteiro 60. O inimigo passeia-se em praticamente todo o Cuor. Se me permite a opinião, a separação entre Missirá e o Enxalé não é boa para ninguém. Nós não temos meios a não ser para emboscar e aterrorizar em regiões que permitam a retirada rápida. Por isso embosco à volta de Missirá e Finete, perto de Mato de Cão e frente a Mero, pois aqui sabemos que existem comunicações e troca de abastecimentos. Introduzir população em Canturé parece-me uma excelente ideia desde que haja tropa, um sistema de autodefesa a sério, armamento para civis e preparação paramilitar que lhes dê confiança. Tenho duas viaturas permanentemente avariadas, os caçadores nativos estão exaustos, aproveito a oportunidade para lhe pedir que se reconsidere na necessidade de definir uma melhor logística para estes dois quartéis. Tenho 5 petromaxes em Missirá e outros tantos em Finete. Sem eles, viveríamos às escuras e completamente à mercê das flagelações. Se quiser pôr população em Canturé, por favor atenda a estas realidades. Estamos numa ponta do regulado e quem o controla é o inimigo. É indispensável articular o meu trabalho com Porto Gole e Enxalé, para melhorar a segurança do Geba e criar mais intranquilidade em Madina/Belel.

O Coronel escutava-me sem nenhuma interrupção e ergueu-se ágil e decidido:
- Você trazia a lição bem estudada e sabe pedir. Tenho pouco para dar, já que o Cuor não é prioritário neste momento. Lamento, mas não tenho mais tropas e a reorganização dos Nhabijões, no Cossé, no Xitoli e Mansambo é da maior importância. Em princípio vai ficar tudo como estava. Bom dia. Espero que continue a combater já que as informações não são más nesse sentido.

Munições esgotadas em Finete

Regressei, e de facto tudo continuou na mesma: Mato de Cão, o Ramadão, a tropa doente, os melhoramentos, o permanente pedinchar materiais junto da CCS de Bambadinca. Depois da emboscada em Chicri prevíamos uma qualquer retaliação, como veio a acontecer.

A 16 de Novembro, eu escrevia uma carta para Lisboa:

São 10 horas de uma bela noite equatorial. Em derredor deste arame farpado onde despontam flores silvestres, o céu do Cuor tem tonalidades de azeitona escura, sente-se o perfume dos cajueiros e mangueiros, saí há pouco pelo cavalo de frisa e estive a olhar o caminho sulcado que vai para Sancorlã. Agradeço-te a tua bela carta e a companhia que me trouxe.

Nisto, uma sucessão de estampidos anuncia uma flagelação a escassos quilómetros. Subo para o posto de vigilância onde está Quetá Baldé. Com aquela voz de quem está permanentemente a pedir desculpa, ele aponta para Finete. Fogachos meteóricos cruzam-se nos céus, ribombam as explosões num som cavo mas intermitente. Foram 15 minutos infernais e depois um silêncio total. Conversei com os furriéis, ficámos em estado de alerta e saí com 20 homens numa progressão lenta a flanquear as picadas principais.

Pelas 3 da manhã, depois de tornear as bolanhas em direcção a Bambadinca anunciámos a nossa presença a Finete. Ainda hoje guardo o calor do abraço de Bacari Soncó quando chegamos. Felizmente, fora só uma flagelação com dois feridos ligeiros mas aonde se provou a suprema vulnerabilidade de Finete: as munições estavam praticamente esgotadas, desde cartuchos a granadas de mão.

Percorrendo a tabanca a contabilizar os estragos pensei no que nos estaria reservado caso aparecesse uma autotabanca em defesa de Canturé. Dando garantias que no dia seguinte Bambadinca abriria o cordão à bolsa no tocante a munições, dormitei duas horas e regressei a Missirá, onde andamos a capinar na estrada de Missirá-Morucunda-Canturé-Gambana.

O Casanova continua a tratar do pequeno Braima e ao mesmo tempo reconstrói o seu abrigo enquanto o Adão enfermeiro (trolha em Almargem do Bispo) estampa cimento nas paredes térreas e o Barbosa faz nova porta.

Para quem combateu neste sector, o mês de Novembro ficou associado a emboscadas à companhia do Xime, a ataques a Mansambo e ao Saltinho, uma flagelação feroz que ia tirando Demba Taco do mapa. Embora privados dos rigores do jejum, os soldados comparecem aos ofícios das seis a das nove da noite. Cheio de projectos, escrevo noutra carta:

Nunca dei um tamanho agrado ao tempo e à vida como agora.

Sinto que a minha visão do cristianismo evolui inexoravelmente e sem retorno e leio Jean Guitton:

Ensina-me a imaginar o futuro sem me desolar, com a ideia de que ele não seja como eu o imagino - ensina-me a unificar a lentidão e a pressa, a serenidade e o fervor, o zelo e a paz. E sobretudo, enche tu mesmo, Senhor, o vazio das minhas obras.

Meu alferes, nunca vi uma coisa assim...


Demba, o filho de 6 anos de Malã Soncó, está atacado de tracoma, o David Payne tenta um tratamento assíduo que expurgue as infecções. Hoje Ieró Baldé (conhecido na gíria por Nova Lamego), o meu guarda costas, pregou-me um grande susto. Notei-o arredio e confuso a dizer que já não sabia se devia casar, estava cheio de febre e doiam-lhe as partes. Pedi para ir falar com o Adão. Arrumava papéis e facturas quando o Adão me entrou aos repelões com Nova Lamego pelo braço:
- Meu alferes, nunca vi uma coisa destas, juro que nunca vi. Eh pá baixa as calças.

Ieró, com o olhar apontado para o tecto mostrou-nos o seu cancro mole, um sexo purulento. Propus-lhe que fosse a Bambadinca com urgência, que adiasse o casamento, preparei uma carta para o David Payne pedindo-lhe mais um gesto de desvelo, a juntar a muitos mais.

Esta tarde convidei Lânsana Soncó para beber chá e ouvirmos música. Lembro-me perfeitamente: Mr Nice, por Cliff Richard. Escrevi aos meus soldados da CCAÇ 2402 que ia pedir autorização para ir visitar a Có, onde eles também sofrem aflições. A todos aqueles que partiram para férias e que vão chegar até 15 de Outubro levam a incumbência de trazer vitualhas natalícias: fritos, figos, ameixas e outra fruta cristalizada, tudo aquilo que sirva para adornar o nosso Natal em Missirá. A todo em Lisboa peço ajuda, nada me foi recusado.


Cardoso Pires e Anrdé Gide em Missirá

Amanhã regresso a Chicri. Pretendo continuar a fazer pressão, vou patrulhar em Sinchã Corubal, descer o rio de Ganturandi, até S. Belchior. Tenho o corpo moído e releeio O Delfim, obra prima absoluta. Creio que já vos disse que tudo não passa de uma metáfora nesta obra: o caçador é o disfarce do narrador, liga tudo, apresenta os locais e os personagens. A Gafeira e a Lagoa são Portugal e quem tenha dúvidas escute o que diz o autor:

Lagoa, para a gente daqui, quer dizer coração, refúgio da abundância. Odre. Ilha. Ilha de água cercada de terra pro todos os lados e por espingardas de lei. Mas ilha, odre, coroa de fumos ou constelação de aves, é a partir dela que uma comunidade de camponeses-operários, mede o universo; não a partir da fábrica onde trabalha, nem da horta que cultiva nas horas livres. Daí que os gafeirenses lhe conheçam tão bem os ciclos, as estações, os animais que as frequentam e as armadilhas de que dispõem- as dela e as dos guardas (páginas 129 e 130 desta edição de Outubro de 1968, que folheio com veneração pelo bem que me fez e por ser a última recordação da biblioteca devorada pelo fogo).

Obra prima absoluta pelo retrato em agonia do marialvismo, em sintonia com o fim do poder agrícola; pela trama de mistério que acompanha o desmoronamento dos Palma Bravo, o fim da Maria das Mercês e a morte de Domingos; uma lagoa que hiberna e que espera como todo o país que vive adormecido. A literatura portuguesa mudou com esta obra, é um anúncio de liberdade, de modernidade no estilo e na forma, uma trombeta que anuncia os novos poderes políticos depois da queda dos valores que o engenheiro Palma Bravo personificava. O Delfim é o momento exemplar antes das portas abertas pelo 25 de Abril.

Folheio ainda, a chamar o sono, uma outra obra prima convocada, Sinfonia Pastoral, por André Gide. Para quem leu Os Moedeiros Falsos, esta novela é surpreendente. Gide que era descrente e cosmopolita fala de um pastor suíço com vida familiar completamene estabilizada que se apaixona por uma jovem cega. O que era inadmissível para um espírito puritano torna-se viável, a ponto de uma paixão cega lançar uma família na perturbação e o pastor na solidão absoluta, tudo isto descrito numa narrativa ultra-romântica, cerebral mas igualmente falando do inquietante silêncio de Deus, já paradigmático para a sociedade em que Gide viveu.

Adormeço e amanhã será o último adolescente da minha vida. Amanhã em Chicri vou conhecer a cor da morte. Juro que não tenho coragem em contar.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 5 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1341: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (23): Alah Mariu Mansô (Deus é todo poderoso, em mandinga)

(2) O Agrupamento 2957, com sede em Bafatá, abarcava toda a Zona Leste, sendo constituído por cinco sectores. O de Bambadinca era o L1. Este agrupamento, comandado pelo Coronel Hélio Felgas, deu origem mais tarde ao CAOP 2.Sobre a figura deste oficial superior, que se reformou como brigadeiro, há vários posts no nosso blogue:

24 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCIX: O Hélio Felgas do nosso tempo (A. Marques Lopes)

23 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCVIII: Antologia (27): depoimento do brigadeiro Hélio Felgas (1): os aquartelamentos

25 de Novembro de 20065 > Guiné 63/74 - CCCXII: Antologia (28): depoimento de Hélio Felgas (2): as emboscadas

29 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXIII: Antologia (29): depoimento de Hélio Felgas (3): os ataques aos acampamentos do IN

9 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLIII: Antologia (32): depoimento de Hélio Felgas (4): "Ou se faz a guerra ou se acaba com ela"

O coronel Hélio Fellgas comandou a Op Lança Afiada bem como a retirada de Madina do Boé:

Sobre a Op Lança Afiada, vd posts:

14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal

9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIII: Op Lança Afiada (1969): (iii) O 'tigre de papel' da mata do Fiofioli

9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXI: Op Lança Afiada (1969) : (ii) Pior do que o IN, só a sede e as abelhas

15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli

Guiné 63/74 - P1364: Palmeirim de Catió emboscado em Berlim (Mendes Gomes)


Berlim > Novembro de 2005 > Restos do tristemente famoso muro de Berlim que até cair em 1989 dividiu em dois a cidade, a Alemanha, a Europa, e até o mundo... A nova ordem internacional do pós-guerra ditou também a sorte do nosso Império... Daí que o mundo de Berlim e a guerra colonial da Guiné, a milhares de quilómetros de distância, não pudessem ser abordados e analisados separadamente...

Curiosamente foi também em Berlim que, em 1884/85, se realizou - por proposta de Portugal - a célebre Conferência de Berlim que ditou as regras da ocupação de África pelas potências coloniais europeias.

Fotos: © João Graça (2005). Direitos reservados.



Mensagem do Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins (Catió, 1964/66).


Caro Luís:

Acabo de ler o 5º extracto das minhas crónicas (1). Como sempre, fiquei feliz. A vida é como um rio: quando nasce, todos sabem para onde corre... ninguém, por onde vai.

Quem me diria, há 4 longas dezenas de anos, que, pelo prodígio da técnica, ia ver publicada a memória sobre o meu baptismo de fogo, no caminho de Cufar, aqui em Berlim!..e, sobretudo, graças ao teu inestimável, engenhoso e empenhado Blogue...

Desta vez, por uma excelente e inefável causa: vim montar uma emboscadaexactamente no coração de Berlim, no Das Mite (2), ao meu 3º neto que pode nascer a todo o momento. É a Sara Joana.

Por essa razão, se Deus quiser, vou ter um Natal duplamente feliz. E, por isso também, aproveito para desejar a ti e tua familia, aos nossos amigos tertulianos e, claro, aos meus amigos Palmeirins, um Natal igualmente muito feliz e um Bom Ano.

Com um enorme abraço
Mendes Gomes

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 11 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1359: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (5): Baptismo de fogo a 12 km de Cufar

(2) O centro de Berlim