1. A propósito da apresentação do livro "A Retirada de Guileje" feita pelo seu autor, Coronel Reformado Alexandre da Costa Coutinho e Lima, integrado no 2.º Ciclo de Conferências "Memórias Literárias da Guerra Colonial", no dia 14 de Maio na Biblioteca-Museu República e Resistência/Grandela, o nosso camarada José Martins (*) envou-nos este trabalho para publicação.
Conferência sobre a Retirada de Guilege
Apresentação do conferencista pelo anfitrião José Paulo Sousa, da Biblioteca-Museu República e Resistência, Espaço Grandela.
© Foto José Martins
Durante esta segunda fase de conferências sobre literatura da guerra colonial, coube a apresentação do livro "A RETIRADA DE GUILEJE", da autoria do Coronel de Artilharia, na reforma, Alexandre da Costa Coutinho e Lima.
Como referiu o anfitrião José Paulo, não se trata de um livro de ficção, mas de um documento histórico, não só vivido pelo autor, mas pelas duas centenas de homens que, na altura, constituíam a guarnição de Guileje.
Como é meu hábito, não faço comentários a escritos dos camaradas de armas. Cada vivência é uma vivência e, cada soldado é um soldado, por detrás do qual se esconde um Homem, que tem reacções e sentimentos diferentes, o que proporciona o grande conjunto que todos somos. Prefiro referir factos, que por si mesmos, revelam ou, ajudam a revelar, o que cada um sentiu ao envergar uma farda, tenha sido do quadro ou conscrito, tenha sido profissional ou alistado.
Coutinho e Lima foi um dos poucos militares profissionais que, durante o período em que decorreu a guerra, cumpriu todas as suas comissões de serviço na Guiné.
No seu livro, 1.ª edição a páginas 15, escreve:
- Na 1.ª comissão, no período de 63/65, como Capitão, fui Comandante da Companhia de Artilharia n.º 494 (CART 494), que passou a maior parte do tempo em GADAMAEL (DEZ63 a MAI65), foi a primeira Companhia que esteve aquartelada nesta localidade.
Sobre a CART 494, passamos a referir alguns factos, conjugando a Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África – 1961/1974:
A Companhia de Artilharia n.º 494, foi mobilizada no Regimento de Artilharia Pesada n.º 2, na Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia.
Quase até ao momento do embarque, a subunidade estava destinada à região de Montepuez, na província de Moçambique. Foi porém desviada e, em 17 de Julho de 1963 embarca em Lisboa, rumo à Guiné, chegando a Bissau em 22 desse mesmo mês.
Fica estacionada em Bissau, após o que se dirige para Ganjola em 15 de Setembro de 1963, para ocupação da localidade e efectuar operações nas regiões de Tombali e Cubucaré.
No período de 17 de Setembro a 15 de Dezembro de 1963, fica integrada no dispositivo do Batalhão de Caçadores 356.
Com a criação do subsector de Gadamael, criado em 19 de Dezembro de 1963, assume a responsabilidade deste subsector, na dependência e dispositivo do Batalhão de Caçadores n.º 513, tendo sido substituído, em Ganjola, por um pelotão da Companhia de Caçadores n.º 414.
Realiza várias operações na área Bomane e Sangonhá, destacando-se as operações “Toca” e “Jacaré”, onde captura material e provoca baixas ao inimigo, sendo de referir, também, uma reacção a um ataque a Gadamael.
É neste período que regista as seguintes baixas:
- Manuel Tavares da Costa, Alferes Miliciano de Artilharia, falecido em 26 de Janeiro de 1964, por ferimentos em combate em Gadamael-Porto, tendo sido inumado no Cemitério de Alvarenga;
- Albino Mendes Carvalho, Soldado Atirador, falecido em 23 de Outubro de 1964, vítima de afogamento, tendo sido inumado no Cemitério de Bissau, campa nº 1280;
- Armando Barreiro de Amorim, Soldado Atirador, falecido no Hospital Militar Principal, em Lisboa, em 23 de Outubro de 1964, depois de ter sido ferido em combate na região de Gadamael, tendo sido inumado no Cemitério de Arcos de Valdevez.
Inicia o deslocamento para Bissau em 16 de Maio, por troca com a Companhia de Caçadores n.º 798, tendo terminado o deslocamento em 28 de Maio de 1965.
Em 29 de Maio de 1965 passa a integrar o dispositivo de manobra do Batalhão de Caçadores n.º 513 e depois o do Batalhão de Caçadores n.º 1857, tendo ficado com a missão de segurança e defesa das instalações e população da área de Bissau.
Entre 27 de Julho e meados de Agosto de 1965, desloca, temporariamente, dois pelotões para Gadamael e Ganturé, em reforço das guarnições locais.
É rendida pela Companhia de Caçadores n.º 1426 em 24 de Agosto de 1965, para efectuar o embarque de regresso.
Aspecto da sala no inicio da sessão.
© Foto José Martins
Na segunda comissão, também cumprida na Guiné, exerceu a sua especialidade de Observador Aéreo de Artilharia, especialidade que tem desde 1957, ano em que terminou a sua passagem pela Escola do Exército, hoje, Academia Militar de Artilharia, tendo sido colocado no Quartel-General, em Bissau.
Na página, acima referida do seu livro, escreve sobre esta comissão:
- Na 2.ª Comissão, no período de 68/70, ainda Capitão, desempenhei as funções de Adjunto da Repartição de Operações do Quartel-General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné (QG/CCFAG). A minha colocação deveu-se ao facto de ser Observador Aéreo de Artilharia, que era Especialidade de Mobilização.
O conferencista ouvindo a apresentação do anfitrião.
© Foto José Martins
Recorrendo, de novo, a introdução do livro "A RETIRADA DE GUILEJE", na página 15, transcrevemos a referência sobre a última comissão:
- Na 3.ª Comissão, no período de 72/74, com o posto de Major, fui mobilizado em rendição individual e colocado, inicialmente, no Centro de Instrução Militar (CIM) em Bolama; nomeado Comandante do COP 5, desempenhei as funções desde 22JAB73 até 22MAI73. Na sequência da decisão que tomei de RETIRAR DE GUILEJE, passei à situação de prisão preventiva, desde 22MAI73 até 12MAI74, enquanto me foi instaurado um Auto de Corpo de Delito.
A “ala” feminina – Uma professora do ISCTE e duas enfermeiras paraquedistas.
© Foto José Martins
Na sala, sobre cada uma das cadeiras, podia ver-se um folheto, que abaixo reproduzimos, fazendo uma súmula do livro que ia ser apresentado, para os visitantes do blogue, que ainda não tenham tido a oportunidade de ler o livro, tenham uma pequena visão deste acontecimento histórico, em que um Comandante/Homem, praticamente sozinho, tem que tomar uma decisão, sobre a sorte de centenas de pessoas que lhe estavam confiadas.
Apresentação do livro “A RETIRADA DE GUILEJE” – 14MAI2009
Biblioteca-Museu República e Resistência – Espaço Grandela
Em 04SET72, com o posto de Major, iniciei a terceira comissão por imposição, na Guiné.
Em 08JAN73 fui nomeado, pelo Sr. Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, Sr. General ANTÓNIO DE SPÍNOLA, Comandante do Comando Operacional n.º 5 (COP 5), com sede em Guileje. Na zona de Acção do COP 5 passava o Corredor de GUILEJE, através do qual o PAIGC introduzia 70 a 80% dos abastecimentos (armas, munições e outros), para todo o território da GUINÉ.
Em 25MAR73, foi abatido na região de GUILEJE o primeiro avião a jacto FIAT G-91, atingido por um missel terra-ar STRELA; o piloto foi recuperado com um pé partido. O aparecimento destes mísseis provocou grandes alterações e limitações no emprego da nossa Força Aérea.
Em 18MAI73 pelas 7:00 horas, 2 Grupos de Combate e 1 Pelotão de Milícias, saídos de GUILEJE, foram emboscados por um grupo Inimigo (IN) estimado em 100 elementos; as Nossas Tropas (NT) sofreram 1 Morto, 7 feridos graves (um dos quais veio a falecer 4 horas mais tarde por falta de evacuação) e 4 feridos ligeiros. Em 11MAI73, o Sr. General SPÍNOLA, na sua última visita a GUILEJE, afirmara, perante a formatura geral de todos os militares que, não obstante os condicionamentos da actuação da Força Aérea, esta faria a evacuação dos feridos graves; esta promessa não foi cumprida.
Face à situação, solicitei a ida a GUILEJE da Delegados da Repartição de Operações e da Força Aérea; porque estes não apareceram, desloquei-me no dia seguinte (19MAI73) a CACINE, comandando a evacuação das baixas da emboscada, através do rio; esperava lá encontrar os Delegados referidos. No dia 20MAI, ao fim da tarde, fui transportado de helicóptero a BISSAU, onde apresentei ao Sr. General SPÍNOLA, a necessidade de reforços, já solicitada antes por mensagem; respondeu-me que não me dava qualquer reforço, que devia regressar na manhã seguinte a GUILEJE e que ia mandar para lá o Sr. Coronel Pára-quedista RAFAEL DURÃO, passando eu a 2.º Comandante.
Cheguei a GUILEJE ao fim do dia 21MAI, depois de me ter deslocado de sintex (barco com motor fora de borda) de CACINE (onde a Força Aérea me deixou) para GADAMAEL; o percurso de Gadamael para GUILEJE foi feito em coluna apeada, utilizando um trilho da população, durante o trajecto, ouvimos a flagelação que GUILEJE estava a sofrer, a mais violenta de todas, que provocou a morte de um Furriel Miliciano e vários estragos materiais, entre os quais a destruição total do Centro de Comunicações, incluindo as antenas, o que impedia a ligação rádio com qualquer entidade.
Face à forte pressão do IN, à não atribuição de reforços e a outros factores (falta de água no quartel, escassez de munições de artilharia, não evacuação de feridos, etc) decidi retirar para GADAMAEL, no dia seguinte ao romper do dia, todos os militares (cerca de 200) e toda a população (cerca de 500 elementos), por considerar a posição insustentável. A alternativa era aguardar a chegada do Sr. Coronel Durão, que eu não sabia quando se iria verificar e que, em minha opinião, não resolveria a situação, porque, seguramente, não viria acompanhado de reforços, nem tão pouco tinha condições para solucionar os factores atrás referidos e, principalmente, a forte pressão do IN, que cada vez era mais acentuada.
Desde as 20:00 horas do dia 18MAI até às 4:00 horas do dia 22MAI (80 horas), GUILEJE sofreu 37 flagelações. A retirada efectuou-se, em coluna apeada, com pleno êxito, tendo surpreendido totalmente o IN, que continuou a bombardear GUILEJE, onde só entrou em 25MAI73
O Sr. General SPÍNOLA não sancionou a decisão, ordenando a minha prisão preventiva e a instauração de um Auto de Corpo de Delito; estive preso em BISSAU, desde 27MAI73 a 12MAI74. Como consequência do 25ABR74, os crimes que supostamente me eram imputados, foram amnistiados por Decreto-Lei da Junta de Salvação Nacional e o processo foi arquivado.
Os factos descritos são relatados, no livro que agora foi publicado; o processo é, também analisado e criticado, com pormenor; a última parte do livro trata do Simpósio Internacional de GUILEJE, realizado em BISSAU, de 1 a 6 de Março de 2008, em que participei.
O livro “A RETIRADA DE GUILEJE” não está à venda nas livrarias; estou disponível para o enviar, pelo correio, para qualquer parte do MUNDO. Os meus contactos são:
Rua Tomás Figueiredo, n.º 2 – 2.º Esq.
1500-599 Lisboa
Telefone: 217 608 243
Telemóvel: 917 931 226
Email: icoutinholima@gmail.com
Aspecto da sala © Foto José Martins
Com a afabilidade a que me habituou, nos encontros que com o Coronel Coutinho e Lima tive, de pronto me forneceu cópia da cábula que elaborou para desenvolver a sua apresentação. Dela damos nota a seguir:
01. Introdução
02. Nomeação para o COP 5; nenhum reforço
03. Primeiras medidas tomadas em Guileje
. Obras
. Substituição material Artilharia
. Reforços (GC Cacine, Pel Rec Fox e Pel Mil)
04. Abate do 1.º FIAT – 25MAR73
. Restrições de Apoio Aéreo
05. Deserção do Milícia ALIU BARI
06. Última visita do General Comandante-Chefe - 11MAR73
07. Inicio da acção em força sobre Guileje – 18MAI73
08. Período 18/22MAI73 (57 mensagens – pag 45 a 70 do livro)
09. Ida a Bissau – 20MAI73
10. Regresso a Guileje (21MAI73); situação encontrada
11. Factores considerados na decisão da Retirada
12. Preparação da Retirada
13. Chegada a Gadamael; mensagens do Coronel Durão
14. Ida para Bissau; prisão; processo.
O Alferes Miliciano Seabra, comentando os acontecimentos que também viveu na Guiné, nos longínquos anos de 1973. Na foto vê-se o Alberto Branquinho, um dos próximos conferencista destes colóquios
© Foto José Martins
(*) José Martins, ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4394: Bibliografia de uma guerra (46): "Diário da Guiné, Lama, Sangue e Água Pura" - Comentário de Fátima Teixeira
Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Guiné 63/74 - P4421: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (2): O IAO em Santa Margarida
1. Mensagem de José da Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73, com data de 25 de Maio de 2009:
Olá Carlos,
Em anexo encontrarás a continuação da minha experiência militar.
Como sempre deixo-te à vontade para fazeres com ela o que muito bem de aprouver.
Um abraço do
José Câmara
Memórias e histórias minhas
2 - O IAO em Santa Margarida
Três apitos! Saudação tradicional de despedida dos barcos que aproavam à Ilha das Flores. A âncora começou a subir na proa do n/m Ponta Delgada. Extremeci. O coração apertou… de ternura! Por uma lágrima que quisera saborear. Comigo, bem escondido no meu coração, levava uma linda recordação.
Olhei a minha ilha uma vez mais. Relutantemente, as costas lhe fui virando…
Um aspecto da linda ilha das Flores, Açores
Juntei-me aos outros camaradas oriundos das ilhas das Flores e Corvo que, tal como eu, estavam mobilizados, e íam juntar-se às suas Companhias, incluindo a CCaç 3327. Na chegada à Terceira, um piquete militar esperava por nós. Guias de marcha em ordem, passagens confirmadas. De repente, sem esperar, o som inconfundível de calcanhares à posição de sentido. O Aspirante de serviço, com a dignidade própria de um camarada de armas, estendeu a mão num cumprimento, desejou-nos boa sorte. Jamais esqueci esse gesto simples, mas cheio de um sigificado muito especial. Afinal eramos todos irmãos.
Ao largo, majestosamente boiando na baía de Angra, o luxuoso paquete Funchal esperava por nós. Esse navio, no seu giro tradicional, passaria pela Horta, Ponta Delgada, Funchal e Lisboa. Aqui, em perfeito contraste com o que se tinha passado na Terceira, não havia piquete, estafeta ou qualquer outro tipo de apoio militar. De malas às costas lá segui com os outros militares que me acompanhavam para o Depósito Geral de Adidos. Ali deparei com outro desastre, ou melhor, com uma afronta: não sabiam da chegada dos militares, mas sabiam que íamos para Santa Margarida no dia seguinte. Desenrasquem-se, foi a palavra de ordem. Foi isso que se fez, até à hora de tomar o combóio, no dia seguinte para Santa Margarida.
12/1970 – José Câmara a bordo do n/m Funchal, em frente à cidade com o mesmo nome, a caminho do IAO
A chegada àquele campo militar trouxe um pouco de comoção. Os meus camaradas desdobravam-se a contarem as suas experiências do IAO. Porém, não foi o retrato da instrução o que mais mexeu comigo. A grande notícia no campo militar era a deserção de três oficiais mobilizados para a Guiné. O madeirense Gonçalves, Aspirante a Oficial Miliciano, Comandante do 3.º GComb da CCaç 3327, era um dos oficiais desertores. Servi, ainda na Terceira, durante algum tempo debaixo do seu comando. Considerava-o um bom oficial, e nunca pensei ser capaz (e desejoso) de dar o salto. Enganei-me! A atitude daquele oficial trouxe-me a certeza de uma outra realidade: eu nunca seria capaz de abandonar os meus soldados, que treinei e que confiavam em mim para os guiar em terras da Guiné.
O IAO não teve, em mim, quaisquer proveitos práticos. Porque cheguei mais tarde, e porque no pouco tempo que estive em Santa Margarida, não me apercebi de nada ser diferente daquilo que já se fazia no Monte Brasil, Ilha Terceira. Os exercícios com o apoio de helicópteros foi a novidade programada mas, até isso, foi cancelado. Passavamos o tempo em exercícios de ginástica e ordem unida, treinos de penetração, progressão, patrulhamentos, emboscadas, e pouco mais. O mais importante, para mim, foi a manutenção do poder físico e da disciplina militar. Foi num desses exercícios que conheci o distinto e prestigiado coronel Maçanita, Comandante do campo militar. Observou o meu Grupo durante algum alguns exercícios, fez alguns comentários, desejou-nos sorte e prosseguiu a sua vistoria.
12/1970 – José Câmara no IAO, Santa Margarida
Mas nem tudo foi monótono no IAO. Três eventos muito importantes marcaram a minha estadia em Santa Margarida: a visita ao Santuário de Fátima, as festas de Natal e Ano Novo, e o festival da Batatada entre açorianos e madeirenses.
A visita que a Companhia fez ao Santuário de Fátima, foi o evento mais importante do IAO. Para os açorianos, profundamente religiosos, essa visita acabou por ser uma autêntica peregrinação de fé cristã. A magnitude do lugar, o silêncio, o simbolismo e as manifestações de fé que constantemente se podem observar são deveras impressionantes. Nesta visita ao Santuário, com cerca de quatro contos que conseguimos juntar entre os militares da Companhia, foi adequirida e abençoada uma linda imagem do Sagrado Coração de Maria, que nos acompanhou e protegeu durante toda a comissão. Hoje, a imagem, como muitas outras imagens que fizeram comissão no ultramar, faz parte do espólio religioso da igreja de São João Batptista, que se encontra edificada no Castelo, em Angra do Heroísmo.
Outro evento importante, para nós açorianos, foi a celebração do Natal de 1970 e a passagem de ano em terras de Santa Margarida. Para muitos soldados açorianos foi a primeira vez que o fizeram longe do aconchego familiar. Foi um Natal passado com saudades, tristeza e resignação. Para mim era a segunda vez que me acontecia. Mas tive uma consolação: voluntáriamente, estive de serviço contítuo à Companhia, permitindo, assim, que os meus camaradas continentais pudessem disfrutar, mais uma vez, do calor familiar, e das alegrias próprias que embelezam a época de Natal. Nunca me arrependi de o ter feito. A minha família, naquele momento, eram os militares da CCaç 3327.
Natal 1970 – Caserna da CCaç 3327 - Armas ensarilhadas e imaginação. José Câmara junto da árvore de Natal
Natal 1970 – José Câmara (Em pé – Primeiro da direita) – CCaç 3327 - A minha família
As Companhias em exercícios de IAO eram as CCaç 3325, do BII19, Funchal e as açorianas 3326, que foi para Mampatá, a 3327 (a minha) que ficou, no príncipio, em Bissau e a 3328 que foi para Bula. Com as férias de mobilização dos graduados continentais, essas Companhias ficaram decapitadas pela ausência de commandos a todos os níveis. Apenas sargentos de dia se encontravam presentes. As relações entre açorianos e madeirenses, que usufruiam do mesmo refeitório, começaram a azedar com a recusa dos madeirenses em descascar as suas batatas.
Pelo facto de ser açoriano, julgo eu, a minha ajuda foi solicitada, para ajudar a resolver o problema das batatas, ou melhor, da recusa pelos militares madeirenses em descascar as suas batatas. Em voz bem alta, e para que não houvesse dúvidas, dei ordem para que as batatas descascadas e por descascar fossem depositadas no mesmo caldeiro, cozidas e servidas ao jantar. Seguidamente, e com os sargentos de dia das outras Companhias, saí do refeitório, e fechei a porta. Nunca soube o que se passou a seguir. Ao jantar as batatas foram servidas descascadas, havia sorrisos, e, por incrível que pareça, vi açorianos e madeirenses sentados na mesma mesa. Tenho que confessar: o Sagrado Coração de Maria tinha feito o seu primeiro milagre: tinha tornado uma ordem muito perigosa em remédio santo. Julgo que Lhe agradeci
No príncipio do mês de Janeiro o frio começou a apertar, e apareceram os primeiros flocos de neve. Os exercícios de IAO cessaram e, começamos a contagem dos dias para a partida para a Guiné. Soubemos que o embarque estava marcado para o dia 5 de Janeiro de 1971. Por razões que desconheço só veio a acontecer no dia 21 de Janeiro de 1971.
Entretanto, mais uma surpresa me estava reservada. Fui nomeado, conjuntamente com o Aspirante Francisco João Magalhães, para fazer a vistoria do barco que nos levaria à Guiné. No dia da minha partida para Lisboa o Comandante da Companhia, Cap. Mil. Rogério Rebocho Alves, chamou-me ao seu gabinete, e mandou-me por as divisas de Furriel. Excusado será dizer que, ainda hoje, o braço direito me doi de responder a tanta pala feita com a mão esquerda: o gozo normal, nestas circunstâncias, dos meus camaradas. Porém, quando em frente do espelho as vi nos meus ombros, aquilo que podia ter sido um sentimento de honra e orgulho, foi substituído pelo peso acrescido das responsabilidades que se advinhavam: comandar tropas no teatro de guerra: a Guiné!
A 19 de Janeiro eu deixava Santa Margarida com destino a Lisboa no cumprimento da minha missão: vistoriar as acomodações do n/m Angra do Heroísmo, da Empresa Insulana de Navegação, que iria fazer, segundo se dizia, a sua viagem inaugural como navio transporte de tropas. O resto da Companhia chegaria a Lisboa dois dias depois.
NAVIO ANGRA DO HEROISMO
Tipo... Navio de passageiros de 1 hélice
Construtor... Deutsche Werft A.G. (construção número 690)
Local construção... Hamburgo
Ano de construção... 1954-55
Ano de abate... 1974
Porto de registo... Lisboa
Número de registo... I 358
Indicativo de chamada... C S B P
Comprimento ff... 152,71 m
Comprimento pp... 138,34 m
Boca... 19,87 m
Pontal... 11,00 m
Calado máximo... 8,71 m
Capacidade de carga... 4 porões com capacidade para 9.019 m3 de carga, incluíndo 536 m3 de carga frigorífica
Tonelagem... 10.187 TAB, 6.230 TAL, 6.870 TPB, 13.900 T deslocamento
Aparelho propulsor... Um grupo de turbinas a vapor AEG, construídas em Berlim Ocidental, por Allgemeine Electric Gesellschft, 2 caldeiras.
Potência... 11.500 shp a 119 r.p.m.
Velocidade máxima... 19 nós
Velocidade normal... 18 nós
Classificação... +100A1 LRS
Passageiros... Alojamentos para 80 em primeira classe, 43 em turistica A, 80 turistica B e 120 em turistica C, no total de 323 passageiros.
Tripulantes... 139
Photo and Copyright Carlos Russo Belohttp://navios.no.sapo.pt/angrah.html
O resto da Companhia chegaria a Lisboa dois dias depois.
José Câmara
__________
Nota de CV:
Vd. primeiro poste da série de 16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4353: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (1): O início do Serviço Militar
Em tempo:
Poste rectificado em 29 de Maio por ter sido publicado originalmente com parte do texto suprimido.
As minhas desculpas ao José da Câmara
CV
Olá Carlos,
Em anexo encontrarás a continuação da minha experiência militar.
Como sempre deixo-te à vontade para fazeres com ela o que muito bem de aprouver.
Um abraço do
José Câmara
Memórias e histórias minhas
2 - O IAO em Santa Margarida
Três apitos! Saudação tradicional de despedida dos barcos que aproavam à Ilha das Flores. A âncora começou a subir na proa do n/m Ponta Delgada. Extremeci. O coração apertou… de ternura! Por uma lágrima que quisera saborear. Comigo, bem escondido no meu coração, levava uma linda recordação.
Olhei a minha ilha uma vez mais. Relutantemente, as costas lhe fui virando…
Um aspecto da linda ilha das Flores, Açores
Juntei-me aos outros camaradas oriundos das ilhas das Flores e Corvo que, tal como eu, estavam mobilizados, e íam juntar-se às suas Companhias, incluindo a CCaç 3327. Na chegada à Terceira, um piquete militar esperava por nós. Guias de marcha em ordem, passagens confirmadas. De repente, sem esperar, o som inconfundível de calcanhares à posição de sentido. O Aspirante de serviço, com a dignidade própria de um camarada de armas, estendeu a mão num cumprimento, desejou-nos boa sorte. Jamais esqueci esse gesto simples, mas cheio de um sigificado muito especial. Afinal eramos todos irmãos.
Ao largo, majestosamente boiando na baía de Angra, o luxuoso paquete Funchal esperava por nós. Esse navio, no seu giro tradicional, passaria pela Horta, Ponta Delgada, Funchal e Lisboa. Aqui, em perfeito contraste com o que se tinha passado na Terceira, não havia piquete, estafeta ou qualquer outro tipo de apoio militar. De malas às costas lá segui com os outros militares que me acompanhavam para o Depósito Geral de Adidos. Ali deparei com outro desastre, ou melhor, com uma afronta: não sabiam da chegada dos militares, mas sabiam que íamos para Santa Margarida no dia seguinte. Desenrasquem-se, foi a palavra de ordem. Foi isso que se fez, até à hora de tomar o combóio, no dia seguinte para Santa Margarida.
12/1970 – José Câmara a bordo do n/m Funchal, em frente à cidade com o mesmo nome, a caminho do IAO
A chegada àquele campo militar trouxe um pouco de comoção. Os meus camaradas desdobravam-se a contarem as suas experiências do IAO. Porém, não foi o retrato da instrução o que mais mexeu comigo. A grande notícia no campo militar era a deserção de três oficiais mobilizados para a Guiné. O madeirense Gonçalves, Aspirante a Oficial Miliciano, Comandante do 3.º GComb da CCaç 3327, era um dos oficiais desertores. Servi, ainda na Terceira, durante algum tempo debaixo do seu comando. Considerava-o um bom oficial, e nunca pensei ser capaz (e desejoso) de dar o salto. Enganei-me! A atitude daquele oficial trouxe-me a certeza de uma outra realidade: eu nunca seria capaz de abandonar os meus soldados, que treinei e que confiavam em mim para os guiar em terras da Guiné.
O IAO não teve, em mim, quaisquer proveitos práticos. Porque cheguei mais tarde, e porque no pouco tempo que estive em Santa Margarida, não me apercebi de nada ser diferente daquilo que já se fazia no Monte Brasil, Ilha Terceira. Os exercícios com o apoio de helicópteros foi a novidade programada mas, até isso, foi cancelado. Passavamos o tempo em exercícios de ginástica e ordem unida, treinos de penetração, progressão, patrulhamentos, emboscadas, e pouco mais. O mais importante, para mim, foi a manutenção do poder físico e da disciplina militar. Foi num desses exercícios que conheci o distinto e prestigiado coronel Maçanita, Comandante do campo militar. Observou o meu Grupo durante algum alguns exercícios, fez alguns comentários, desejou-nos sorte e prosseguiu a sua vistoria.
12/1970 – José Câmara no IAO, Santa Margarida
Mas nem tudo foi monótono no IAO. Três eventos muito importantes marcaram a minha estadia em Santa Margarida: a visita ao Santuário de Fátima, as festas de Natal e Ano Novo, e o festival da Batatada entre açorianos e madeirenses.
A visita que a Companhia fez ao Santuário de Fátima, foi o evento mais importante do IAO. Para os açorianos, profundamente religiosos, essa visita acabou por ser uma autêntica peregrinação de fé cristã. A magnitude do lugar, o silêncio, o simbolismo e as manifestações de fé que constantemente se podem observar são deveras impressionantes. Nesta visita ao Santuário, com cerca de quatro contos que conseguimos juntar entre os militares da Companhia, foi adequirida e abençoada uma linda imagem do Sagrado Coração de Maria, que nos acompanhou e protegeu durante toda a comissão. Hoje, a imagem, como muitas outras imagens que fizeram comissão no ultramar, faz parte do espólio religioso da igreja de São João Batptista, que se encontra edificada no Castelo, em Angra do Heroísmo.
Outro evento importante, para nós açorianos, foi a celebração do Natal de 1970 e a passagem de ano em terras de Santa Margarida. Para muitos soldados açorianos foi a primeira vez que o fizeram longe do aconchego familiar. Foi um Natal passado com saudades, tristeza e resignação. Para mim era a segunda vez que me acontecia. Mas tive uma consolação: voluntáriamente, estive de serviço contítuo à Companhia, permitindo, assim, que os meus camaradas continentais pudessem disfrutar, mais uma vez, do calor familiar, e das alegrias próprias que embelezam a época de Natal. Nunca me arrependi de o ter feito. A minha família, naquele momento, eram os militares da CCaç 3327.
Natal 1970 – Caserna da CCaç 3327 - Armas ensarilhadas e imaginação. José Câmara junto da árvore de Natal
Natal 1970 – José Câmara (Em pé – Primeiro da direita) – CCaç 3327 - A minha família
As Companhias em exercícios de IAO eram as CCaç 3325, do BII19, Funchal e as açorianas 3326, que foi para Mampatá, a 3327 (a minha) que ficou, no príncipio, em Bissau e a 3328 que foi para Bula. Com as férias de mobilização dos graduados continentais, essas Companhias ficaram decapitadas pela ausência de commandos a todos os níveis. Apenas sargentos de dia se encontravam presentes. As relações entre açorianos e madeirenses, que usufruiam do mesmo refeitório, começaram a azedar com a recusa dos madeirenses em descascar as suas batatas.
Pelo facto de ser açoriano, julgo eu, a minha ajuda foi solicitada, para ajudar a resolver o problema das batatas, ou melhor, da recusa pelos militares madeirenses em descascar as suas batatas. Em voz bem alta, e para que não houvesse dúvidas, dei ordem para que as batatas descascadas e por descascar fossem depositadas no mesmo caldeiro, cozidas e servidas ao jantar. Seguidamente, e com os sargentos de dia das outras Companhias, saí do refeitório, e fechei a porta. Nunca soube o que se passou a seguir. Ao jantar as batatas foram servidas descascadas, havia sorrisos, e, por incrível que pareça, vi açorianos e madeirenses sentados na mesma mesa. Tenho que confessar: o Sagrado Coração de Maria tinha feito o seu primeiro milagre: tinha tornado uma ordem muito perigosa em remédio santo. Julgo que Lhe agradeci
No príncipio do mês de Janeiro o frio começou a apertar, e apareceram os primeiros flocos de neve. Os exercícios de IAO cessaram e, começamos a contagem dos dias para a partida para a Guiné. Soubemos que o embarque estava marcado para o dia 5 de Janeiro de 1971. Por razões que desconheço só veio a acontecer no dia 21 de Janeiro de 1971.
Entretanto, mais uma surpresa me estava reservada. Fui nomeado, conjuntamente com o Aspirante Francisco João Magalhães, para fazer a vistoria do barco que nos levaria à Guiné. No dia da minha partida para Lisboa o Comandante da Companhia, Cap. Mil. Rogério Rebocho Alves, chamou-me ao seu gabinete, e mandou-me por as divisas de Furriel. Excusado será dizer que, ainda hoje, o braço direito me doi de responder a tanta pala feita com a mão esquerda: o gozo normal, nestas circunstâncias, dos meus camaradas. Porém, quando em frente do espelho as vi nos meus ombros, aquilo que podia ter sido um sentimento de honra e orgulho, foi substituído pelo peso acrescido das responsabilidades que se advinhavam: comandar tropas no teatro de guerra: a Guiné!
A 19 de Janeiro eu deixava Santa Margarida com destino a Lisboa no cumprimento da minha missão: vistoriar as acomodações do n/m Angra do Heroísmo, da Empresa Insulana de Navegação, que iria fazer, segundo se dizia, a sua viagem inaugural como navio transporte de tropas. O resto da Companhia chegaria a Lisboa dois dias depois.
NAVIO ANGRA DO HEROISMO
Tipo... Navio de passageiros de 1 hélice
Construtor... Deutsche Werft A.G. (construção número 690)
Local construção... Hamburgo
Ano de construção... 1954-55
Ano de abate... 1974
Porto de registo... Lisboa
Número de registo... I 358
Indicativo de chamada... C S B P
Comprimento ff... 152,71 m
Comprimento pp... 138,34 m
Boca... 19,87 m
Pontal... 11,00 m
Calado máximo... 8,71 m
Capacidade de carga... 4 porões com capacidade para 9.019 m3 de carga, incluíndo 536 m3 de carga frigorífica
Tonelagem... 10.187 TAB, 6.230 TAL, 6.870 TPB, 13.900 T deslocamento
Aparelho propulsor... Um grupo de turbinas a vapor AEG, construídas em Berlim Ocidental, por Allgemeine Electric Gesellschft, 2 caldeiras.
Potência... 11.500 shp a 119 r.p.m.
Velocidade máxima... 19 nós
Velocidade normal... 18 nós
Classificação... +100A1 LRS
Passageiros... Alojamentos para 80 em primeira classe, 43 em turistica A, 80 turistica B e 120 em turistica C, no total de 323 passageiros.
Tripulantes... 139
Photo and Copyright Carlos Russo Belohttp://navios.no.sapo.pt/angrah.html
O resto da Companhia chegaria a Lisboa dois dias depois.
José Câmara
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Nota de CV:
Vd. primeiro poste da série de 16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4353: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (1): O início do Serviço Militar
Em tempo:
Poste rectificado em 29 de Maio por ter sido publicado originalmente com parte do texto suprimido.
As minhas desculpas ao José da Câmara
CV
terça-feira, 26 de maio de 2009
Guiné 63/74 - P4420: Meu pai, meu velho, meu camarada (5): A minha família e o RAP2 (Vila Nova de Gaia) (David Guimarães)
Foto: David Guimarães, à esquerda; e seu pai, também David Guimarães, 2º Sargento de Artilharia e Herói da I Grande Guerra, França, 1917-1918 - foto, à direita, tirada em Macau, em 1933.
Texto que o David Guimarães reformulou, a pedido do L.G., para esta nova série ("Meu,pai, meu velho, meu camarada") (*)
Xitole 1970/72
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Texto que o David Guimarães reformulou, a pedido do L.G., para esta nova série ("Meu,pai, meu velho, meu camarada") (*)
O RAP 2 (Gaia) fez parte da minha família
Texto e fotos: David Guimarães (2009). Direitos reservados
Sempre me preocupei, durante a guerra, em contar cá para a Metrópole (era assim que então se dizia), não propriamente as peripécias da nossa vida militar mas as coisas mais belas que encontrava na Guiné: os mangueiros carregados de mangas, os milhares de morcegos que povoavam o céu ao escurecer e ao amanhecer e que dormiam nas árvores, os macacos, as galinhas de mato, etc.
Eu achava que deveria poupar a minha família e que esta não teria que ouvir e até viver a guerra em directo: bastava para isso o sofrimento de saber que eu andava por lá...
Foi assim que eu senti e vivi a guerra. Lembro-me um dia, quando alguém me disse:
- Guimarães, este batalhão vai para a Guiné ...
Ainda estávamos no RAP 2 em Gaia...E eu exclamei:
- Ainda bem, é a província mais próxima de Portugal para vir de férias...
- Ainda bem, é a província mais próxima de Portugal para vir de férias...
Não será aqui o sítio certo para falar do RAP 2. Mas na minha vida pessoal foi um marco importante. Foi de lá que foi mobilizado o meu pai, militar de carreira, para ir servir em França… na 1ª Grande Guerra (Ele nasceu em 1893 e eu nasci quando ele tinha 54). É de lá mobilizado o meu irmão que parte, com o BART 525, para Angola... E sou eu mobilizado, no BART 2917, para servir na Guiné...
Ironias do destino ou coincidências de graus de parentesco... É que, entre o meu irmão e o meu pai, também é mobilizado para África um primo meu, em 1º grau. Não há dúvida, aquele Regimento entrou na nossa casa, muito antes de eu ter nascido... Se fosse isto um romance serviria para dizer que a minha existência como que começou ali. Mas isto é outra história que, não sendo menos curiosa, não vem agora a propósito.
Não pensem que há algum anacronismo quando eu refiro que o meu pai foi mobilizado, pelo RAP 2, para servir a Pátria, em França, em 1917... O meu pai nasceu em 1893 e eu em 1947, o que quer dizer que nos separam, portanto, 54 anos... 2º Sargento de Artilharia de Campanha, segue para França integrado no Corpo expedicionário, comandado pelo General Gomes da Costa.
Como mera curiosidade, sou eu que tenho a caderneta militar e as condecorações de meu pai: guardo com toda a estima sete medalhas, sendo uma delas a da Vitória... Por outro lado, e como sabem, nós estivemos na 1ª Guerra Mundial e não na 2ª...
Um grande abraço,
David Guimarães
Ex-Fur Mi Atirador Arr e Minas
Ex-Fur Mi Atirador Arr e Minas
NOTA - Envio por aqui as fotografias e são três de meu falecido pai - 2º Sargento de Artilharia, em Macau 1933. Por coincidência, ele nasceu em 1893.
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Nota de MR:
Vd. último poste desta série em:
Guiné 63/74 - P4419: Convívios (137): O pessoal da CART 3331 (Cuntima, 1970/72), convive em Vila Nova de Famalicão, dia 6 de Junho (Manuel Correia)
CART 3331
Da Olga Oliveira, filha do nosso camarada de armas (ainda não tertuliano) Manuel Correia, recebemos o seguinte pedido:
Bom dia!
Chamo-me Olga Oliveira e sou filha de um ex-militar da CART 3331.
Coube ao meu pai Manuel Correia (Manuel Rodrigues Correia de Oliveira, mais conhecido como Manuel Correia, 1º Cabo Enfermeiro) organizar, este ano, o convívio da sua CART 3331, pelo que venho pedir-vos que divulguem no vosso blogue este evento, que se realizará no próximo dia 6 de Junho, em Vila Nova de Famalicão.
Na vossa tertúlia do blogue encontra-se já o colega do meu pai, o 1º Cabo Vítor Silva, a quem o meu pai, aproveitando esta oportunidade, envia um abraço.
O programa da festa (sábado dia 6 de Junho de 2009) é o seguinte:
10h00 - Encontro em S.Tiago da Cruz, Vila Nova de Famalicão;
11h30 - Missa em homenagem aos militares falecidos, na Capela do Sr. dos Aflitos, em S.Tiago da Cruz - V. N. de Famalicão;
13h00 - Almoço convívio no Restaurante Outeirinho - Louro - , V. N. de Famalicão.
O número de telemóvel do Manuel Correia para qualquer esclarecimento é o 913 913 983.
Desde já agradeço a disponibilidade.
Com os melhores cumprimentos,
(Olga Oliveira)
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Nota de MR:
Vd. último poste desta série em:
22 de Maio de 2009> Guiné 63/74 - P4402: Convívios (133): BCAÇ 2879 e Outras Unidades (Farim, 1969/71), convivem em Castelo Branco, 30 de Maio (Carlos Silva)
Guiné 63/74 - P4418: O poder aéreo no CTIG: uma pesquisa de Matthew M. Hurley, Ten Cor, USAF: Trad. de Miguel Pessoa (1): Parte I
A. Mensagem, de 19 do corrente, de Miguel Pessoa, membro da nossa Tabanca Grande, coplaborador assíduo do nosso blogue, antigo Ten Pilav no CTIG (1972/74), sobrevivente da queda de um FiatG-91, abatido em 25 de Março de 1973 por um impío Grail:
Caros Luís e Carlos:
Terminei a minha parte da tarefa que me propus com a inserção de algumas correcções propostas por alguns bloguistas de nomeada (leia-se: João Seabra, Vasco da Gama, Alberto Branquinho) à tradução que tinha feito da súmula do trabalho do Matt Hurley.
Fica à vossa consideração e discernimento o modo como vão integrar este rolo no blogue - a versão original em inglês e a respectiva tradução para português. Lembro o que o Matt escreveu quando me enviou o texto:
"Here it is! If you find the document acceptable within the spirit of Luis' blog, then you have my permission to publish it. Please include the bibliography, too - I am very interested in learning of new sources from your former comrades (or adversaries) in Guinea.
But please let your comrades know that I understand, fully, that I was not there; I am only a student of this war, not a participant. Our perspectives will differ on many issues. Some may call it 'bias' or 'naivete', but we academics try to achieve 'objectivity'.
[Tradução Inglês-Português:
"Aqui está! Se achares o documento aceitável dentro do espírito do blogue do Luís, então tens a minha autorização para publicá-lo. Inclui também a bibliografia - Estou muito interessado em conhecer novas fontes dos teus companheiros (ou adversários) na guerra da Guiné.
"Mas, por favor deixa-me dizer aos teus companheiros que eu quero que eles saibam que eu que não estive lá, no teatro de operações, que eu sou apenas um estudioso dessa guerra, não um participante. Os nossos pontos de visto podem diferir em muitas questões. Alguns podem chamar a isso 'viés' ou 'ingenuidade ', mas nós, académicos, procuramos alcançar a 'objectividade'" . ]
Este trabalho foi feito por carolice e não pretendo retirar créditos dele (isto, se a tradução merecesse algum crédito...), por isso divulguem-no como um trabalho produzido para o blogue por um grupo de tabanqueiros - o que, na prática, acabou por ser verdade. Estou convencido que os nossos camaradas, cujos nomes já indiquei atrás, não se importarão de permanecer no anonimato, como eu. Mas poderão perguntar isso mesmo aos próprios.
Abraço. Miguel
B. Esta colaboração entre o Ten Cor da Força Aérea dos EUA, Matt Hurley (foto , à esquerda), e o nosso blogue, começou com um mail enviado por ele, em 12 de Março de 2009, em português:
Exmo. Senhor Luís Graça
Chamo-me Matthew Hurley e sou Ten Cor na USAF. Estou neste momento a fazer uma dissertação em História sobre a guerra aérea na Guiné no período de 1963-1974.
Sobre um post a respeito de uma comunicação de Miguel Pessoa, será que me podia facultar o e-mail dele de forma a eu pedir autorização ao visado para reproduzir as suas declarações na minha tese? Ou então será que podia dirigir o meu pedido ao próprio?
Obrigado por tudo fico a aguardar uma resposta.
Lt Col Matt 'Liz' Hurley, USAF
"Those whom the gods would destroy, they first make proud"
A história já aqui foi sumariamente contada (*), e apresentado o nosso camarada norte-americano (duplo camarada, tropa e das lides académicas), estudioso da guerra colonial na Guiné, no que diz respeito ao poder aéreo, de um lado (NT) e do outro (PAIGC).
À revelia do poder democrático, o Miguel Pessoa foi rapidamente promovido, pelo nosso blogmaster a oficial de ligação, diplomata, public relations, consultor para as questões do ar (ou ,melhor, air power) e tradutor, múltiplas tarefas essas de que se está a sair tão bem como (ou melhor do que) no tempo em que era o senhor dos céus do CTIG, enquanto jovem Ten Pilav (Guiné, BA 12, Bissalanca, 1972/74), aos comandos do seu Fiat G-91... até ao dia em que atropelou um jagudi em peno voo...
Agradeço aos todos os membros do nosso blogue que deram uma mãozinha ao Miguel na tradução deste resumo do projecto de investigação do Matt Hurley (elaborado para efeitos de obtenção do grau de Doutor em História pela Universidade do Estado de Ohio) (**).
O nosso blogue, incluindo editores e demais pessoal da nossa Tabanca Grande, sente-se honrado pelo pedido de colaboração do Matt Hurley, bem como pela credibilidade que este investigador nos atribui.
Faremos o nosso melhor, lutando pela nossa dama e apoiando em especial os nossos camaradas que serviram a FAP no CTIG, os quais que podem (e devem) ser fontes de informação privilegiada para o tema em investigação, com destaque, para já, para o nosso sempre Miguel Pessoa que tem mantido uma constante correspondência com o investigador (A talhe de foice, dga-se que o Miguel, a modéstia em pessoa, é muito avesso às luzes da ribalta, um problema do foro da alergologia ou talvez até da oftalmologia)....
Apesr de cultivar um low profile, o nome do Miguel tem que ser aqui citado, e desta vez em primeiro lugar... Espero que outros ex-pilotos e ex-especialistas da FAP possam seguir o exemplo do Miguel, colaborando neste estudo académico, cujas conclusões também nos interessam, a nós, portugueses, veteranos da guerra da Guiné (bem como aos guineenses que nos combatíam)... Contamos, nomeadamente, com o apoio dos nossos camaradas do blogue do Victor Barata, Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74, quanto mais não seja para lhes sacar umas chapas relacionadas com o air power (que é uma coisa que os infantes não têm, coitados).
Vamos publicar, em português e em inglês, a primeira parte do paper que o nosso doutorando nos enviou... Aproveito para mandar ao Matt as minhas saudações pessoais e os meus parabéns pela sua festa de casamento, no dia 2 de Maio do corrente (Na América, os miliares também têm direito a constituir família)...
Para além da nossa disponibilidade para colaborar contigo, my dear Matt, queria também convidar-te para integrar o nosso blogue, na qualidade de estudioso da guerra da Guiné, o que faz de ti automaticamente um amigo e camarada da Guiné, com direito a sentar-se debaixo do nosso poilão... (Isto dito em crioulo, é intraduzível para inglês)...
C. Súmula da tese de doutoramento de Matthew M. Hurley,Ten Cor da Força Aérea dos EUA:
Departamento de História
Universidade do Estado de Ohio
Data: 23 de Fevereiro de 2009
Orientador: Prof Guilmartin John F., Jr.
Título do Trabalho: O "ímpio Grail: O Poder Aéreo do Governo e a Defesa Aérea dos revoltosos na Guiné Portuguesa, 1963-1974".
Tradução: Miguel Pessoa & Partners...
1. Tema e sua importância.
O tema da insurreição tem atraído cada vez mais atenção no decurso dos nossos actuais conflitos no Iraque e no Afeganistão, tanto nos fóruns políticos como nos meios académicos. Muita dessa atenção tem sido dedicada à análise de insurreições e contra-insurreições numa tentativa de reunir lições práticas retiradas de exemplos históricos.
Nesse sentido, as campanhas dos EUA na América Latina e no Vietname, a experiência britânica na Malásia e as operações francesas na Argélia e na Indochina tornaram-se referências icónicas durante as discussões sobre insurreição, nos dias de hoje.
Independentemente do mérito de tais tentativas, o critério histórico, tal como construído actualmente, permanece lamentavelmente incompleto. Decididamente, não há colóquios, manuais doutrinários ou cursos de história militar que possam esperar cobrir todos os exemplos relevantes de contra-insurreições anteriores; até mesmo estudos de sub-domínios especializados, tais como operações aéreas de contra-insurreição, devem ser baseados numa amostragem adequada de registos históricos relevantes.
A este respeito, contudo, quer os estudiosos quer os profissionais do poder aéreo têm constantemente ignorado um caso quase perfeito do uso e das vulnerabilidades da componente aérea na contra-insurreição: as operações da Força Aérea Portuguesa (FAP) na Guiné-Bissau, de 1963 a 1974.
A campanha da FAP na Guiné-Bissau oferece muitas lições úteis e duradouras aos analistas e também aos operacionais. As operações aéreas portuguesas cobriram todo o espectro de papéis e missões do poder aéreo, desde os ataques de bombardeamento até às evacuações médicas e voos de presença e de boa vontade.
Os seus oponentes, entretanto, executaram uma vasta gama de tácticas e operações para combater o poder aéreo português, desde medidas passivas de ocultação até à execução de raides contra bases aéreas portuguesas. As operações da FAP e a resposta dos insurrectos demonstram claramente o impacto quer da liderança quer da tecnologia, bem como a interacção das duas.
Além disso, ambas as operações - da FAP e dos insurrectos - apresentavam um carácter marcadamente assimétrico, cada lado tentando usar todos e quaisquer dos seus pontos fortes contra os pontos fracos do inimigo.
Esta assimetria, por sua vez, conduz a uma demonstração evidente da não-linearidade na guerra; de facto, neste conflito as operações efectuadas a uma escala relativamente pequena e os seus efeitos imediatos tiveram um impacto desproporcionadamente elevado, apesar da coragem, competência e resistência da FAP e dos insurrectos.
Essencialmente, a FAP era extremamente eficaz na luta contra a guerrilha - talvez demasiado eficaz. Por exemplo, num determinado momento as actividades de umas poucas dezenas de aeronaves esteve perto de fazer colapsar o esforço de guerra do PAIGC. A minha pesquisa sugere fortemente que, uma vez que a FAP era tão boa no seu trabalho, as forças no terreno tornaram-se excessivamente dependentes do poder aéreo; consequentemente, o PAIGC elegeu a defesa aérea como uma das suas principais prioridades. O esforço da guerrilha incidiu em armas de defesa aérea cada vez mais eficazes, culminando com a utilização do míssil de origem soviética ZPRK Strela-2M (Código NATO SA-7 Grail), míssil portátil terra-ar, que foi responsável pelo abate de cinco aviões da Força Aérea Portuguesa entre 25 de Março e 6 de Abril de 1973.
No imediato, esta significativa quantidade de perdas num período de duas semanas confundiu temporariamente o esforço aéreo Português na Guiné-Bissau. Dado o limitado número de meios aéreos da FAP na Guiné-Bissau e as fracas perspectivas de aquisição de aeronaves adicionais, as perdas devidas à utilização do Strela forçaram a FAP a adoptar tácticas defensivas que afectaram severamente a eficácia operacional. Após a perda de três aviões num único dia, a FAP cessou mesmo as suas operações durante alguns dias.
Esta evolução resultou na intensificação de uma escalada de efeitos, a começar nas forças no terreno. Inúmeros relatos em primeira mão de veteranos do Exército na guerra na Guiné relatam que o apoio aéreo, que anteriormente era praticamente garantido, se tornou irregular, e quando prestado, as novas tácticas, mais restritivas, ainda mais atenuaram o efeito dos ataques aéreos.
Do mesmo modo, as missões de transporte aéreo, de reconhecimento e de evacuação médica foram reduzidas devido à ameaça dos mísseis. De acordo com os relatos, isto, por seu turno, afectou o moral dos portugueses, já desgastado pelos efeitos de uma década de dura campanha na Guiné-Bissau. O que contribuiu para - e, em alguns aspectos precipitou - a formação de um movimento dissidente no seio das Forças Armadas e o golpe de 1974 que custou a Portugal a guerra, as suas possessões africanas, bem como o futuro do regime do Estado Novo.
Esta representa então a minha tese fundamental: A crescente capacidade de defesa aérea dos insurrectos na Guiné-Bissau - a que tinha sido dada prioridade devido à eficácia do poder aéreo português - em última análise, despojou decisivamente Portugal da superioridade aérea, a sua maior e mais efectiva vantagem militar neste conflito.
Forçados, por limitação de recursos e restrições externas, a reduzir as operações aéreas e adoptar tácticas restritivas, a FAP viu-se assim incapaz de responder adequadamente às necessidades de apoio aéreo sentidas pelas forças no terreno. O moral e a capacidade de combate das forças terrestres decaíram proporcionalmente, sendo o catalisador final para a Revolta dos Capitães em Abril de 1974, que derrubou o regime autoritário existente em Portugal e levou à descolonização da África Portuguesa.
É possível que a guerra na Guiné-Bissau não tenha sido tida em conta nos estudos de contra-insurreição, porque foi um caso relativamente pequeno quando comparado com outros episódios como a Argélia ou o Vietname. A então Guiné Portuguesa era uma pequena província, a presença portuguesa era menor do que em Angola ou Moçambique, e o esforço de guerra da sua aviação não envolveu em qualquer momento mais do que 50 aeronaves (incluindo helicópteros).
No entanto, a pequena dimensão deste esforço ilustra claramente o efeito que até uma presença mesmo limitada de forças no ar pode atingir num contexto de contra-insurreição - uma lição valiosa para os empreendimentos militares do USA, agora virados para uma implantação maciça de Forças Aéreas Expedicionárias para combater inimigos similares.
Mais provavelmente, porém, o esforço aéreo português na Guiné-Bissau passou despercebido porque são escassos os registos publicados noutros idiomas que não o português. Com base na minha pesquisa, até à data, seria então esta a primeira investigação completa focada na campanha aérea na Guiné-Bissau, em Inglês ou qualquer outro idioma.
2. Situação da literatura disponível
A saga colonial de Portugal e subsequente guerra ultramarina em África têm sido objecto de considerável atenção académica e jornalística desde a década de 1960. Literalmente milhares de obras estão disponíveis sobre o assunto na sua generalidade, a grande maioria em Português.
A maior parte das obras disponíveis em Inglês são relativamente antigas, embora essa maioria não seja de modo nenhum esmagadora; de facto, desde o início dos anos 90 tem sido publicada uma série de livros importantes sobre a insurreição na Guiné-Bissau e à contra-insurreição Portuguesa. Estes incluem:
- Amílcar Cabral: Revolutionary Leadership and People's War (2003), de Patrick Chabal;
- Worriers at Work: How Guinea-Bissau Was Really Set Free(1993), de Mustafah Dhada;
- e Counterinsurgency in Africa: The Portuguese Way of War, 1961-1974 (1998), de John P. Cann.
Contudo, a maioria das obras em língua Inglesa relativas a esta ou a qualquer "luta de libertação" tendem a ser polémicas ou romanceadas, com forte inclinação para um ou para o outro antagonista (isto é particularmente verdade no caso dos livros publicados no decorrer do conflito).
Será difícil, mas não impossível, que venham a aparecer estudos verdadeiramente objectivos e imparciais sobre esta matéria. Um bom exemplo de um trabalho assim é uma obra constituída por relatos na primeira pessoa, feitos por intervenientes fundamentais nos três Teatros de Operações de Portugal em África, uma obra em dois volumes, A Guerra de África (1961-1974) (1996), ´de José Freire Antunes.
A parcialidade inerente à maioria dos trabalhos aconselha no entanto grande cautela na avaliação dos níveis de motivação, métodos e eficácia relativamente às duas partes em confronto na guerra guineense.
Começou a aparecer na década passada um crescente número de memórias de militares e relatos na primeira pessoa, sobretudo de antigo pessoal do Exército Português, pessoal, onde se inclui Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura, de António Graça de Abreu, Guiné 1968-1973: Soldados uma vez, Sempre Soldados, de Nuno Mira Vaz, ambos tratando especificamente da guerra na Guiné-Bissau.
Embora tais trabalhos nos dêem relatos reveladores, na primeira pessoa, de operações aéreas específicas ou do seu impacto na guerra terrestre, há poucos trabalhos focando o próprio Poder Aéreo em si. Na verdade, de cerca de 5.000 fontes pesquisadas que trataram as guerras coloniais de Portugal, apenas três livros focam questões do Poder Aéreo, nenhum deles se debruçando especificamente sobre o caso da Guiné-Bissau.
As publicações periódicas sãoes pouco melhor - depois de dois anos de pesquisa activa, deparei com dois ensaios académicos tratando especificamente da campanha aérea de Portugal na Guiné-Bissau, juntamente com cerca de vinte artigos sobre o assunto em várias edições da Revista Mais Alto (a publicação oficial da FAP).
A grande maioria das fontes, em qualquer idioma, trata a campanha aérea na Guiné-Bissau com visível superficialidade e/ou parcialidade, embora nenhum trabalho em inglês aborde exclusivamente as questões do Poder Aéreo (Nota: O Prof. John P.Cann está presentemente a trabalhar num livro com essas características, com o título provisório de "O Plano de Voo Africano: A Força Aérea Portuguesa na Guerra").
Partes das diversas obras editadas ajudam a corrigir esta lacuna, onde se inclui o ensaio "A Força Aérea Portuguesa nas Guerras de África de 1961-1974", de Tomás George Conceição na Ed. de John P. Cann, "Memories of Portugal's African Wars", bem como vários capítulos de "A Guerra de África", de Freire Antunes.
Globalmente, contudo, embora a literatura existente seja suficiente para realizar um estudo geral das operações da FAP na Guiné-Bissau e no resto da África, é insuficiente para a investigação aprofundada que me proponho realizar. Para continuar a recolher provas para a minha tese, é necessária uma investigação considerável de arquivos.
NOTA SUBSEQUENTE: Visitei o Arquivo Histórico da Força Aérea em Março de 2009, e obtive informação muito relevante e útil! Além disso, a equipa liderada pelo Cor. Ismael Alves provou ser extremamente útil e cooperante.
3. Material disponível para investigação.
Felizmente, as fontes primárias adequadas existem numa grande variedade de arquivos por todo o mundo. Para além das muitas colecções de obras de Amílcar Cabral publicadas, está disponível na colecção Ronald CHILCOTE (no Instituto Hoover da Universidade de Stanford , Califórnia) um manancial de fontes primárias do PAIGC, o grupo insurrecto que se opôs ao domínio de Portugal na Guiné-Bissau.
Em combinação com os recursos (particularmente traduções de imprensa) existentes na Air University Library, no Alabama, esta colecção tem vindo a fornecer-me uma compilação tão completa como prática de documentação do PAIGC - comunicados, instruções e publicações propagandísticas relativas à resposta dos insurrectos contra o Poder Aéreo português.
Preferencialmente teria gostado de me deslocar a Bissau para consultar a documentação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), os arquivos nacionais da Guiné-Bissau. No entanto, a eclosão da guerra civil em 1998 quase destruiu essa instituição. Situado a menos de um quilómetro da linha de frente, o INEP foi requisitado como um quartel para as tropas de intervenção senegalesas e foi repetidamente bombardeado. As "necessidades militares" e os danos na cobertura do edifício expuseram aos elementos a documentação existente no INEP e a grande maioria foi destruída.
Além disso, como os E.U.A. ainda não tinham reocupado a sua embaixada em Bissau, a minha unidade recusou deixar-me viajar para o país. Dado que a Guiné-Bissau presentemente não tem embaixada aberta nos E.U.A., teria sido também um desafio considerável reunir os vistos necessários. Felizmente, a atenção dada à guerra, enquanto ela prosseguia, resultou na localização de colecções "satélite" adequadas, como a colecção CHILCOTE já descrita acima.
Consegui obter a autorização do Gabinete do Chefe de Estado Maior da Força Aérea Portuguesa para visitar os arquivos da FAP (do Arquivo Histórico de Força Aérea, ou AHFA), em Lisboa, e irei viajar para lá em 20 de Março de 2009.
Embora o AFHA não seja aberto ao público, a correspondência com o seu director indica-me que ele e a sua equipa serão úteis e cooperantes na minha pesquisa. O director já dispõe da lista das minhas prioridades na investigação e comprometeu-se a informar-me se surgirem quaisquer potenciais assuntos de interesse. De realçar que o AFHA sofreu uma significativa expansão na década de 1970 para abarcar a grande quantidade de documentação trazida das várias Bases existentes em África, no fim dos conflitos.
Uma vez que grande parte da minha discussão se prende com a finalidade dos sistemas de defesa aérea, as suas características técnicas e sua utilização em campanhas contemporâneas, vou continuar a basear-me em informações recolhidas na Air Force Historical Research Agency (AFHRA), no Alabama. A AFHRA dispõe de uma colecção impressionante de documentos relativos ao desenvolvimento inicial de mísseis de defesa aérea que remonta a 1945; além disso, a sua actividade de recolha de histórias orais reuniu as recordações de pessoal da Força Aérea dos EUA que defrontou o míssil de defesa aérea SA-7 no Vietname. Esse mesmo míssil iria igualmente, no início de 1973, afectar grandemente as operações da FAP na Guiné-Bissau.
Além disso, relatos alargados da época de operações aéreas da FAP e de actividades de defesa aérea do PAIGC estão disponíveis em salas de leitura on-line em vários FOIA - US Government Freedom of Information Act - em especial os disponíveis através de sítios na Internet do Departamento de Estado e da CIA (Central Intelligence Agency).
Ambos possuem uma série de registos de comentários sinceros e reveladores por parte de ministros, diplomatas, e líderes militares portugueses quanto ao impacto das acções de defesa aérea do PAIGC, o que contribui para os meus esforços para provar a minha tese central.
Finalmente, existe em sítios da Internet um número considerável de depoimentos e testemunhos de veteranos de ambos os lados do conflito, com detalhes das operações aéreas, de um lado, e das acções de Defesa Aérea, do outro. O mais notável é o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, de Luís Graça, que apresenta um grande número de relatos das actividades militares na Guiné, a maioria dos quais pode ser corroborada por outras fontes. Algumas das pessoas que contribuem para este site - e há centenas delas - manifestaram a sua disponibilidade para dar resposta a novas investigações, se for necessário.
[Continua]
Dissertation Prospectus for Matthew M. Hurley, Department of History, The Ohio State University
Date: 23 February 2009
Advisor: Prof. John F. Guilmartin, Jr.
Working Title: The “Unholy GRAIL: Government Airpower and Insurgent Air Defense in Portuguese Guinea, 1963-1974.”
Topic and Significance.
The subject of insurgency has attracted dramatically increased attention during the course of our current conflicts in Iraq and Afghanistan, within both policy forums and academic circles. Much of this attention has been devoted to analyzing past insurgencies and counterinsurgencies in an attempt to glean applicable “lessons” from historical examples. In this respect, US campaigns in Latin America and Vietnam, the British experience in Malaya, and French operations in Algeria and Indochina have become iconic references during discussions of insurgency today.
Regardless of the merits of such attempts, the historical canon as currently constructed remains woefully incomplete. Granted, no conference, doctrine manual, or military history course could ever hope to cover every relevant example of previous counterinsurgencies; even studies of specialized sub-fields, such as counterinsurgency air operations, must be based on an appropriate sample of the relevant historical record. In this respect, however, both students and practitioners of airpower have consistently ignored a near-textbook case of the uses and vulnerabilities of the air arm in counterinsurgency: the operations of the Portuguese Air Force (Força Aérea Portuguesa, or FAP) in Guinea-Bissau from 1963 to 1974.
The FAP’s campaign in Guinea-Bissau offers many lessons of enduring utility to analysts and operators alike. Portuguese air operations covered the entire spectrum of airpower roles and missions, from bombing attacks to medical evacuation and goodwill “presence” flights. Their insurgent opponents, meanwhile, executed a wide range of tactics and operations to combat Portuguese airpower, from passive concealment measures to commando raids against Portuguese air bases. The FAP’s operations, and the insurgent response, vividly demonstrate the impact of both leadership and technology, as well as the interplay between the two. Furthermore, both FAP and insurgent operations manifested a distinctly asymmetric character, with each side attempting to pit any and all of its strengths against the enemy’s weaknesses. This asymmetry, in turn, leads to a revealing demonstration of nonlinearity in warfare; indeed, in this conflict relatively small-scale operations and their immediate effects had profoundly disproportionate “Nth-order” impact, despite the courage, skill and resilience of the FAP and its insurgent foes.
Essentially, the FAP was extremely affective in the counter-Guerrilla fight—perhaps too effective. For example, at one point the activities of a few dozen aircraft came close to collapsing the PAIGC’s war effort. My research strongly suggests that, because the FAP was so good at its job, the ground forces became overly dependent on airpower; consequently, the PAIGC made air defense one of their main priorities. The guerrilla effort included increasingly effective air defense weaponry, culminating with the use of the Soviet-made ZPRK Strela-2M (NATO SA-7 “GRAIL”) manportable surface-to-air missile, which was responsible for downing five Portuguese aircraft between 22 March and 6 April 1973.
At the first level of impact, this comparative handful of losses over a two-week period temporarily crippled the Portuguese air effort in Guinea-Bissau. Given the limited FAP inventory in Guinea-Bissau—and the dim prospects of acquiring additional aircraft—the losses due to Strela use forced the FAP to adopt defensive tactics that severely hindered operational effectiveness. Following the loss of three aircraft in a single day, the FAP even ceased operations altogether for a few days.
These developments resulted in an intensifying cascade of effects, first on the ground forces. Numerous firsthand accounts by Portuguese Army veterans of the war in Guinea-Bissau recount that air support, previously virtually guaranteed, became irregular; when provided, the FAP’s new restrictive tactics further mitigated the effect of air-delivered fires. Similarly, airborne transport, reconnaissance, and medical evacuation missions were curtailed due to the missile threat. This, in turn, reportedly eroded Portuguese morale, already worn by the effects of a decade’s worth of hard campaigning in Guinea-Bissau. This contributed to—and in some respects precipitated—the formation of a dissident movement within the armed forces and the 1974 coup that cost Portugal the war, its African possessions, and the future of its Novo Estado regime.
This, then, represents my fundamental thesis: The increasing air defense capability of the insurgents in Guinea-Bissau—given top priority due to the effectiveness of Portuguese airpower—ultimately stripped Portugal of air superiority, its greatest and most effective military advantage in that conflict. Forced by limited resources and external restrictions to curtail air operations and adopt restrictive tactics, the FAP thus found itself unable to adequately respond to the ground forces’ air support requirements. Morale and combat effectiveness within the ground forces correspondingly suffered, providing the final catalyst for the April 1974 “Captains’ Revolt” that overthrew Portugal’s authoritarian regime and led to the decolonization of Portuguese Africa.
It is possible that the war in Guinea-Bissau has been discounted within counterinsurgency deliberations because it was a relatively small affair compared to other episodes, such as Algeria or Vietnam. Then-Portuguese Guinea was a small province; the Portuguese presence was smaller than that in Angola or Mozambique; and the entire air effort involved no more than 50 aircraft at any one time (including helicopters). Yet the small scale of this effort dramatically illustrates the effect that even a limited air presence can achieve in a counterinsurgency context—a valuable lesson for a US military establishment now in the habit of deploying massive “Air Expeditionary Forces” to contend with similar foes. More likely, however, the Portuguese air effort in Guinea-Bissau has gone unnoticed because the published record is so sparse in any language other than Portuguese. Based on my research to date, this would then be the first full investigation focused on the air campaign in Guinea-Bissau, in English or any language.
Status of Existing Literature.
Portugal’s colonial enterprise and the subsequent “Ultramar Wars” in Africa have been the subject of considerable academic and journalistic attention since the 1960s. Literally thousands of works are available on the overall subject, most by far in Portuguese. The majority of the works available in English are relatively dated, although that “majority” is by no means overwhelming; in fact, since the early 1990s a number of important books regarding insurgency in Guinea-Bissau and the Portuguese counterinsurgency effort have been published. These include Patrick Chabal’s Amílcar Cabral: Revolutionary Leadership and People’s War (2003), Mustafah Dhada’s Warriors at Work: How Guinea-Bissau Was Really Set Free (1993), and John P. Cann’s Counterinsurgency in Africa: The Portuguese Way of War, 1961-1974 (1998).
However, most English-language works regarding this or any other “liberation struggle” tend to be polemical or romanticized, heavily tilted in sentiment towards one or the other antagonist (this is particularly true of books published while the conflict continued). Truly objective and even-handed studies have proven much more difficult, but not impossible, to come by. A fine example of such a work is a compendium of first-person accounts related by key players in all three of Portugal’s African wars, José Freire Antunes’ two-volume A Guerra de África (1961-1974) (1996). The bias inherent in most works, however, mandates great caution when evaluating claims of motivation, method, and effectiveness relative to the two sides of the Guinean war.
A growing number of military memoirs and first-person accounts, particularly by former Portuguese Army personnel, have also begun to appear in the past decade, including António Graça de Abreu’s Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura, and Nuno Mira Vaz’ Guiné 1968-1973: Soldados uma Vez, Sempre Soldados, each of which deals specifically with the war in Guinea-Bissau.
Although such works offer revealing first-person accounts of specific air operations or their impact on the ground war, there have been few works focusing on airpower itself. In fact, of nearly 5000 surveyed sources dealing with Portugal’s colonial wars, only three books focus on airpower matters, and none specifically treat the case of Guinea-Bissau. The periodical literature fares little better—after two years of actively searching, I have come across exactly two scholarly essays dealing specifically with Portugual’s air campaign in Guinea-Bissau, along with some twenty articles on the subject in various editions of Mais Alto (the FAP’s official journal).
The vast majority of sources, in any language, treat the air campaign in Guinea-Bissau with palpable superficiality and/or bias, while no single work in English addresses airpower issues exclusively. (Note: Prof. John P. Cann is currently working on such a book, tentatively titled African Flight Plan: The Portuguese Air Force at War) Elements of various edited works help to rectify this shortfall, including Tomás George Conceição’s essay “The Portuguese Air Force in the African Wars of 1961-1974,” in John P. Cann, ed., Memories of Portugal’s African Wars, as well as various chapters in Antunes’ A Guerra de África. Overall, however, while the existing published literature is adequate for undertaking a general study of FAP operations in Guinea-Bissau and elsewhere in Africa, it is insufficient for the detailed investigation I propose to undertake. To continue gathering evidence for my thesis, considerable archival research is required.
SUBSEQUENT NOTE: I did visit the Arquivo Histórico da Força Aérea in March 2009, and acquired much relevant and useful information! Also, the staff—led by Cor. Ismael Alves—proved to be both helpful and incredibly friendly.
Materials Available for Investigation.
Fortunately, adequate primary sources exist in a variety of different archives around the world. In addition to the many published collections of Ámilcar Cabral’s works, a wealth of primary sources from the PAIGC—the insurgent group opposing Portugal’s domination of Guinea-Bissau—are available in the Ronald Chilcote Collection at the Hoover Institute at Stanford University, California. Combined with the resources (notably press translations) at the Air University Library in Alabama, this collection has provided me with as complete as practical a compilation of PAIGC communiqués, instructions, and propaganda releases regarding insurgent reactions to Portuguese airpower.
Ideally, I would have liked to travel to Bissau to consult the holdings of the Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), Guinea-Bissau’s national archives. However, the outbreak of civil war in 1998 very nearly destroyed that institution. Situated less than a kilometer from the front lines, INEP was requisitioned as a barracks for intervening Senegalese troops and was repeatedly shelled.
Both “military necessity” and damage to the roofs exposed most of INEP’s documentary holdings to the elements, and the great majority was destroyed. Further, as the United States has not yet reoccupied its embassy in Bissau, my parent unit has denied travel to the country. Furthermore, given that Guinea-Bissau currently has no open embassy in the US, meeting visa requirements would have also been a considerable challenge. Fortunately, the attention given the war while it continued has resulted in the location of adequate “satellite” collections, such as the Chilcote collection described above.
I have successfully gained approval from the FAP Chief of Staff’s office to visit the FAP archives (the Arquivo Histórico de Força Aérea, or AHFA) in Lisbon, and I will be traveling there on 20 March 2009. Though AFHA is not open to the public, correspondence with the AFHA director has suggested he and his staff will be both helpful and accommodating in my research. The director has my research priorities, and has promised to inform me if there are any potential issues. Of note, the AFHA underwent a significant expansion in the 1970s to contend with the large amount of documentation returning from FAP’s various African bases after the conclusion of their conflicts there.
Since much of my discussion relates to the intended purpose of air defense systems, their technical characteristics, and their use in contemporaneous campaigns, I will continue to rely on information collected from the Air Force Historical Research Agency (AFHRA) in Alabama. AFHRA features an impressive collection of documents regarding the early development of air defense missiles dating back to 1945; in addition, their oral history activities have gathered the recollections of US Air Force personnel who encountered the SA-7 air defense missile in Vietnam. That same missile would, beginning in 1973, greatly affect FAP operations in Guinea-Bissau as well.
Additionally, extensive contemporaneous accounts of FAP air operations and PAIGC air defense activities are available in the various US Government Freedom of Information Act (FOIA) on-line reading rooms, particularly those available through the Department of State and Central Intelligence Agency internet sites. Both feature a number of candid and revealing comments by Portuguese Ministers, diplomats, and military leaders regarding the impact of PAIGC air defenses, which contributes to my efforts to prove my core thesis.
Finally, there exist a considerable number of internet testimonials and accounts by veterans on both sides of the conflict, offering further details of air operations and air defense engagements. Most notable is Luis Graça’s “Camaradas da Guiné” website, which features a great many accounts of military activities in Guinea, most of which can be corroborated by other sources. Some of the individuals contributing to this site—and there are hundreds of them—have indicated their willingness to provide answers to further inquiries, if required.
[To be continued]
_____
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 16 de Abril de 2009 >Guiné 63/74 - P4197: FAP (23): O poder aéreo no CTIG, 'case study' numa tese de doutoramento nos EUA (Matt Hurley / Luís Graça)
(**) Encontrei na Net um artigo do Mattew M. Hurley, publicado em espanhol:
Matthew M. Hurley, Sub-Teniente, USAF - Saddam Hussein y el poder aéreo iraquí:tener una fuerza aérea no es suficiente. Air Power Journal. Edición hispanoamericana. Otoño trimestre 1993.
Caros Luís e Carlos:
Terminei a minha parte da tarefa que me propus com a inserção de algumas correcções propostas por alguns bloguistas de nomeada (leia-se: João Seabra, Vasco da Gama, Alberto Branquinho) à tradução que tinha feito da súmula do trabalho do Matt Hurley.
Fica à vossa consideração e discernimento o modo como vão integrar este rolo no blogue - a versão original em inglês e a respectiva tradução para português. Lembro o que o Matt escreveu quando me enviou o texto:
"Here it is! If you find the document acceptable within the spirit of Luis' blog, then you have my permission to publish it. Please include the bibliography, too - I am very interested in learning of new sources from your former comrades (or adversaries) in Guinea.
But please let your comrades know that I understand, fully, that I was not there; I am only a student of this war, not a participant. Our perspectives will differ on many issues. Some may call it 'bias' or 'naivete', but we academics try to achieve 'objectivity'.
[Tradução Inglês-Português:
"Aqui está! Se achares o documento aceitável dentro do espírito do blogue do Luís, então tens a minha autorização para publicá-lo. Inclui também a bibliografia - Estou muito interessado em conhecer novas fontes dos teus companheiros (ou adversários) na guerra da Guiné.
"Mas, por favor deixa-me dizer aos teus companheiros que eu quero que eles saibam que eu que não estive lá, no teatro de operações, que eu sou apenas um estudioso dessa guerra, não um participante. Os nossos pontos de visto podem diferir em muitas questões. Alguns podem chamar a isso 'viés' ou 'ingenuidade ', mas nós, académicos, procuramos alcançar a 'objectividade'" . ]
Este trabalho foi feito por carolice e não pretendo retirar créditos dele (isto, se a tradução merecesse algum crédito...), por isso divulguem-no como um trabalho produzido para o blogue por um grupo de tabanqueiros - o que, na prática, acabou por ser verdade. Estou convencido que os nossos camaradas, cujos nomes já indiquei atrás, não se importarão de permanecer no anonimato, como eu. Mas poderão perguntar isso mesmo aos próprios.
Abraço. Miguel
B. Esta colaboração entre o Ten Cor da Força Aérea dos EUA, Matt Hurley (foto , à esquerda), e o nosso blogue, começou com um mail enviado por ele, em 12 de Março de 2009, em português:
Exmo. Senhor Luís Graça
Chamo-me Matthew Hurley e sou Ten Cor na USAF. Estou neste momento a fazer uma dissertação em História sobre a guerra aérea na Guiné no período de 1963-1974.
Sobre um post a respeito de uma comunicação de Miguel Pessoa, será que me podia facultar o e-mail dele de forma a eu pedir autorização ao visado para reproduzir as suas declarações na minha tese? Ou então será que podia dirigir o meu pedido ao próprio?
Obrigado por tudo fico a aguardar uma resposta.
Lt Col Matt 'Liz' Hurley, USAF
"Those whom the gods would destroy, they first make proud"
A história já aqui foi sumariamente contada (*), e apresentado o nosso camarada norte-americano (duplo camarada, tropa e das lides académicas), estudioso da guerra colonial na Guiné, no que diz respeito ao poder aéreo, de um lado (NT) e do outro (PAIGC).
À revelia do poder democrático, o Miguel Pessoa foi rapidamente promovido, pelo nosso blogmaster a oficial de ligação, diplomata, public relations, consultor para as questões do ar (ou ,melhor, air power) e tradutor, múltiplas tarefas essas de que se está a sair tão bem como (ou melhor do que) no tempo em que era o senhor dos céus do CTIG, enquanto jovem Ten Pilav (Guiné, BA 12, Bissalanca, 1972/74), aos comandos do seu Fiat G-91... até ao dia em que atropelou um jagudi em peno voo...
Agradeço aos todos os membros do nosso blogue que deram uma mãozinha ao Miguel na tradução deste resumo do projecto de investigação do Matt Hurley (elaborado para efeitos de obtenção do grau de Doutor em História pela Universidade do Estado de Ohio) (**).
O nosso blogue, incluindo editores e demais pessoal da nossa Tabanca Grande, sente-se honrado pelo pedido de colaboração do Matt Hurley, bem como pela credibilidade que este investigador nos atribui.
Faremos o nosso melhor, lutando pela nossa dama e apoiando em especial os nossos camaradas que serviram a FAP no CTIG, os quais que podem (e devem) ser fontes de informação privilegiada para o tema em investigação, com destaque, para já, para o nosso sempre Miguel Pessoa que tem mantido uma constante correspondência com o investigador (A talhe de foice, dga-se que o Miguel, a modéstia em pessoa, é muito avesso às luzes da ribalta, um problema do foro da alergologia ou talvez até da oftalmologia)....
Apesr de cultivar um low profile, o nome do Miguel tem que ser aqui citado, e desta vez em primeiro lugar... Espero que outros ex-pilotos e ex-especialistas da FAP possam seguir o exemplo do Miguel, colaborando neste estudo académico, cujas conclusões também nos interessam, a nós, portugueses, veteranos da guerra da Guiné (bem como aos guineenses que nos combatíam)... Contamos, nomeadamente, com o apoio dos nossos camaradas do blogue do Victor Barata, Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74, quanto mais não seja para lhes sacar umas chapas relacionadas com o air power (que é uma coisa que os infantes não têm, coitados).
Vamos publicar, em português e em inglês, a primeira parte do paper que o nosso doutorando nos enviou... Aproveito para mandar ao Matt as minhas saudações pessoais e os meus parabéns pela sua festa de casamento, no dia 2 de Maio do corrente (Na América, os miliares também têm direito a constituir família)...
Para além da nossa disponibilidade para colaborar contigo, my dear Matt, queria também convidar-te para integrar o nosso blogue, na qualidade de estudioso da guerra da Guiné, o que faz de ti automaticamente um amigo e camarada da Guiné, com direito a sentar-se debaixo do nosso poilão... (Isto dito em crioulo, é intraduzível para inglês)...
C. Súmula da tese de doutoramento de Matthew M. Hurley,Ten Cor da Força Aérea dos EUA:
Departamento de História
Universidade do Estado de Ohio
Data: 23 de Fevereiro de 2009
Orientador: Prof Guilmartin John F., Jr.
Título do Trabalho: O "ímpio Grail: O Poder Aéreo do Governo e a Defesa Aérea dos revoltosos na Guiné Portuguesa, 1963-1974".
Tradução: Miguel Pessoa & Partners...
1. Tema e sua importância.
O tema da insurreição tem atraído cada vez mais atenção no decurso dos nossos actuais conflitos no Iraque e no Afeganistão, tanto nos fóruns políticos como nos meios académicos. Muita dessa atenção tem sido dedicada à análise de insurreições e contra-insurreições numa tentativa de reunir lições práticas retiradas de exemplos históricos.
Nesse sentido, as campanhas dos EUA na América Latina e no Vietname, a experiência britânica na Malásia e as operações francesas na Argélia e na Indochina tornaram-se referências icónicas durante as discussões sobre insurreição, nos dias de hoje.
Independentemente do mérito de tais tentativas, o critério histórico, tal como construído actualmente, permanece lamentavelmente incompleto. Decididamente, não há colóquios, manuais doutrinários ou cursos de história militar que possam esperar cobrir todos os exemplos relevantes de contra-insurreições anteriores; até mesmo estudos de sub-domínios especializados, tais como operações aéreas de contra-insurreição, devem ser baseados numa amostragem adequada de registos históricos relevantes.
A este respeito, contudo, quer os estudiosos quer os profissionais do poder aéreo têm constantemente ignorado um caso quase perfeito do uso e das vulnerabilidades da componente aérea na contra-insurreição: as operações da Força Aérea Portuguesa (FAP) na Guiné-Bissau, de 1963 a 1974.
A campanha da FAP na Guiné-Bissau oferece muitas lições úteis e duradouras aos analistas e também aos operacionais. As operações aéreas portuguesas cobriram todo o espectro de papéis e missões do poder aéreo, desde os ataques de bombardeamento até às evacuações médicas e voos de presença e de boa vontade.
Os seus oponentes, entretanto, executaram uma vasta gama de tácticas e operações para combater o poder aéreo português, desde medidas passivas de ocultação até à execução de raides contra bases aéreas portuguesas. As operações da FAP e a resposta dos insurrectos demonstram claramente o impacto quer da liderança quer da tecnologia, bem como a interacção das duas.
Além disso, ambas as operações - da FAP e dos insurrectos - apresentavam um carácter marcadamente assimétrico, cada lado tentando usar todos e quaisquer dos seus pontos fortes contra os pontos fracos do inimigo.
Esta assimetria, por sua vez, conduz a uma demonstração evidente da não-linearidade na guerra; de facto, neste conflito as operações efectuadas a uma escala relativamente pequena e os seus efeitos imediatos tiveram um impacto desproporcionadamente elevado, apesar da coragem, competência e resistência da FAP e dos insurrectos.
Essencialmente, a FAP era extremamente eficaz na luta contra a guerrilha - talvez demasiado eficaz. Por exemplo, num determinado momento as actividades de umas poucas dezenas de aeronaves esteve perto de fazer colapsar o esforço de guerra do PAIGC. A minha pesquisa sugere fortemente que, uma vez que a FAP era tão boa no seu trabalho, as forças no terreno tornaram-se excessivamente dependentes do poder aéreo; consequentemente, o PAIGC elegeu a defesa aérea como uma das suas principais prioridades. O esforço da guerrilha incidiu em armas de defesa aérea cada vez mais eficazes, culminando com a utilização do míssil de origem soviética ZPRK Strela-2M (Código NATO SA-7 Grail), míssil portátil terra-ar, que foi responsável pelo abate de cinco aviões da Força Aérea Portuguesa entre 25 de Março e 6 de Abril de 1973.
No imediato, esta significativa quantidade de perdas num período de duas semanas confundiu temporariamente o esforço aéreo Português na Guiné-Bissau. Dado o limitado número de meios aéreos da FAP na Guiné-Bissau e as fracas perspectivas de aquisição de aeronaves adicionais, as perdas devidas à utilização do Strela forçaram a FAP a adoptar tácticas defensivas que afectaram severamente a eficácia operacional. Após a perda de três aviões num único dia, a FAP cessou mesmo as suas operações durante alguns dias.
Esta evolução resultou na intensificação de uma escalada de efeitos, a começar nas forças no terreno. Inúmeros relatos em primeira mão de veteranos do Exército na guerra na Guiné relatam que o apoio aéreo, que anteriormente era praticamente garantido, se tornou irregular, e quando prestado, as novas tácticas, mais restritivas, ainda mais atenuaram o efeito dos ataques aéreos.
Do mesmo modo, as missões de transporte aéreo, de reconhecimento e de evacuação médica foram reduzidas devido à ameaça dos mísseis. De acordo com os relatos, isto, por seu turno, afectou o moral dos portugueses, já desgastado pelos efeitos de uma década de dura campanha na Guiné-Bissau. O que contribuiu para - e, em alguns aspectos precipitou - a formação de um movimento dissidente no seio das Forças Armadas e o golpe de 1974 que custou a Portugal a guerra, as suas possessões africanas, bem como o futuro do regime do Estado Novo.
Esta representa então a minha tese fundamental: A crescente capacidade de defesa aérea dos insurrectos na Guiné-Bissau - a que tinha sido dada prioridade devido à eficácia do poder aéreo português - em última análise, despojou decisivamente Portugal da superioridade aérea, a sua maior e mais efectiva vantagem militar neste conflito.
Forçados, por limitação de recursos e restrições externas, a reduzir as operações aéreas e adoptar tácticas restritivas, a FAP viu-se assim incapaz de responder adequadamente às necessidades de apoio aéreo sentidas pelas forças no terreno. O moral e a capacidade de combate das forças terrestres decaíram proporcionalmente, sendo o catalisador final para a Revolta dos Capitães em Abril de 1974, que derrubou o regime autoritário existente em Portugal e levou à descolonização da África Portuguesa.
É possível que a guerra na Guiné-Bissau não tenha sido tida em conta nos estudos de contra-insurreição, porque foi um caso relativamente pequeno quando comparado com outros episódios como a Argélia ou o Vietname. A então Guiné Portuguesa era uma pequena província, a presença portuguesa era menor do que em Angola ou Moçambique, e o esforço de guerra da sua aviação não envolveu em qualquer momento mais do que 50 aeronaves (incluindo helicópteros).
No entanto, a pequena dimensão deste esforço ilustra claramente o efeito que até uma presença mesmo limitada de forças no ar pode atingir num contexto de contra-insurreição - uma lição valiosa para os empreendimentos militares do USA, agora virados para uma implantação maciça de Forças Aéreas Expedicionárias para combater inimigos similares.
Mais provavelmente, porém, o esforço aéreo português na Guiné-Bissau passou despercebido porque são escassos os registos publicados noutros idiomas que não o português. Com base na minha pesquisa, até à data, seria então esta a primeira investigação completa focada na campanha aérea na Guiné-Bissau, em Inglês ou qualquer outro idioma.
2. Situação da literatura disponível
A saga colonial de Portugal e subsequente guerra ultramarina em África têm sido objecto de considerável atenção académica e jornalística desde a década de 1960. Literalmente milhares de obras estão disponíveis sobre o assunto na sua generalidade, a grande maioria em Português.
A maior parte das obras disponíveis em Inglês são relativamente antigas, embora essa maioria não seja de modo nenhum esmagadora; de facto, desde o início dos anos 90 tem sido publicada uma série de livros importantes sobre a insurreição na Guiné-Bissau e à contra-insurreição Portuguesa. Estes incluem:
- Amílcar Cabral: Revolutionary Leadership and People's War (2003), de Patrick Chabal;
- Worriers at Work: How Guinea-Bissau Was Really Set Free(1993), de Mustafah Dhada;
- e Counterinsurgency in Africa: The Portuguese Way of War, 1961-1974 (1998), de John P. Cann.
Contudo, a maioria das obras em língua Inglesa relativas a esta ou a qualquer "luta de libertação" tendem a ser polémicas ou romanceadas, com forte inclinação para um ou para o outro antagonista (isto é particularmente verdade no caso dos livros publicados no decorrer do conflito).
Será difícil, mas não impossível, que venham a aparecer estudos verdadeiramente objectivos e imparciais sobre esta matéria. Um bom exemplo de um trabalho assim é uma obra constituída por relatos na primeira pessoa, feitos por intervenientes fundamentais nos três Teatros de Operações de Portugal em África, uma obra em dois volumes, A Guerra de África (1961-1974) (1996), ´de José Freire Antunes.
A parcialidade inerente à maioria dos trabalhos aconselha no entanto grande cautela na avaliação dos níveis de motivação, métodos e eficácia relativamente às duas partes em confronto na guerra guineense.
Começou a aparecer na década passada um crescente número de memórias de militares e relatos na primeira pessoa, sobretudo de antigo pessoal do Exército Português, pessoal, onde se inclui Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura, de António Graça de Abreu, Guiné 1968-1973: Soldados uma vez, Sempre Soldados, de Nuno Mira Vaz, ambos tratando especificamente da guerra na Guiné-Bissau.
Embora tais trabalhos nos dêem relatos reveladores, na primeira pessoa, de operações aéreas específicas ou do seu impacto na guerra terrestre, há poucos trabalhos focando o próprio Poder Aéreo em si. Na verdade, de cerca de 5.000 fontes pesquisadas que trataram as guerras coloniais de Portugal, apenas três livros focam questões do Poder Aéreo, nenhum deles se debruçando especificamente sobre o caso da Guiné-Bissau.
As publicações periódicas sãoes pouco melhor - depois de dois anos de pesquisa activa, deparei com dois ensaios académicos tratando especificamente da campanha aérea de Portugal na Guiné-Bissau, juntamente com cerca de vinte artigos sobre o assunto em várias edições da Revista Mais Alto (a publicação oficial da FAP).
A grande maioria das fontes, em qualquer idioma, trata a campanha aérea na Guiné-Bissau com visível superficialidade e/ou parcialidade, embora nenhum trabalho em inglês aborde exclusivamente as questões do Poder Aéreo (Nota: O Prof. John P.Cann está presentemente a trabalhar num livro com essas características, com o título provisório de "O Plano de Voo Africano: A Força Aérea Portuguesa na Guerra").
Partes das diversas obras editadas ajudam a corrigir esta lacuna, onde se inclui o ensaio "A Força Aérea Portuguesa nas Guerras de África de 1961-1974", de Tomás George Conceição na Ed. de John P. Cann, "Memories of Portugal's African Wars", bem como vários capítulos de "A Guerra de África", de Freire Antunes.
Globalmente, contudo, embora a literatura existente seja suficiente para realizar um estudo geral das operações da FAP na Guiné-Bissau e no resto da África, é insuficiente para a investigação aprofundada que me proponho realizar. Para continuar a recolher provas para a minha tese, é necessária uma investigação considerável de arquivos.
NOTA SUBSEQUENTE: Visitei o Arquivo Histórico da Força Aérea em Março de 2009, e obtive informação muito relevante e útil! Além disso, a equipa liderada pelo Cor. Ismael Alves provou ser extremamente útil e cooperante.
3. Material disponível para investigação.
Felizmente, as fontes primárias adequadas existem numa grande variedade de arquivos por todo o mundo. Para além das muitas colecções de obras de Amílcar Cabral publicadas, está disponível na colecção Ronald CHILCOTE (no Instituto Hoover da Universidade de Stanford , Califórnia) um manancial de fontes primárias do PAIGC, o grupo insurrecto que se opôs ao domínio de Portugal na Guiné-Bissau.
Em combinação com os recursos (particularmente traduções de imprensa) existentes na Air University Library, no Alabama, esta colecção tem vindo a fornecer-me uma compilação tão completa como prática de documentação do PAIGC - comunicados, instruções e publicações propagandísticas relativas à resposta dos insurrectos contra o Poder Aéreo português.
Preferencialmente teria gostado de me deslocar a Bissau para consultar a documentação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), os arquivos nacionais da Guiné-Bissau. No entanto, a eclosão da guerra civil em 1998 quase destruiu essa instituição. Situado a menos de um quilómetro da linha de frente, o INEP foi requisitado como um quartel para as tropas de intervenção senegalesas e foi repetidamente bombardeado. As "necessidades militares" e os danos na cobertura do edifício expuseram aos elementos a documentação existente no INEP e a grande maioria foi destruída.
Além disso, como os E.U.A. ainda não tinham reocupado a sua embaixada em Bissau, a minha unidade recusou deixar-me viajar para o país. Dado que a Guiné-Bissau presentemente não tem embaixada aberta nos E.U.A., teria sido também um desafio considerável reunir os vistos necessários. Felizmente, a atenção dada à guerra, enquanto ela prosseguia, resultou na localização de colecções "satélite" adequadas, como a colecção CHILCOTE já descrita acima.
Consegui obter a autorização do Gabinete do Chefe de Estado Maior da Força Aérea Portuguesa para visitar os arquivos da FAP (do Arquivo Histórico de Força Aérea, ou AHFA), em Lisboa, e irei viajar para lá em 20 de Março de 2009.
Embora o AFHA não seja aberto ao público, a correspondência com o seu director indica-me que ele e a sua equipa serão úteis e cooperantes na minha pesquisa. O director já dispõe da lista das minhas prioridades na investigação e comprometeu-se a informar-me se surgirem quaisquer potenciais assuntos de interesse. De realçar que o AFHA sofreu uma significativa expansão na década de 1970 para abarcar a grande quantidade de documentação trazida das várias Bases existentes em África, no fim dos conflitos.
Uma vez que grande parte da minha discussão se prende com a finalidade dos sistemas de defesa aérea, as suas características técnicas e sua utilização em campanhas contemporâneas, vou continuar a basear-me em informações recolhidas na Air Force Historical Research Agency (AFHRA), no Alabama. A AFHRA dispõe de uma colecção impressionante de documentos relativos ao desenvolvimento inicial de mísseis de defesa aérea que remonta a 1945; além disso, a sua actividade de recolha de histórias orais reuniu as recordações de pessoal da Força Aérea dos EUA que defrontou o míssil de defesa aérea SA-7 no Vietname. Esse mesmo míssil iria igualmente, no início de 1973, afectar grandemente as operações da FAP na Guiné-Bissau.
Além disso, relatos alargados da época de operações aéreas da FAP e de actividades de defesa aérea do PAIGC estão disponíveis em salas de leitura on-line em vários FOIA - US Government Freedom of Information Act - em especial os disponíveis através de sítios na Internet do Departamento de Estado e da CIA (Central Intelligence Agency).
Ambos possuem uma série de registos de comentários sinceros e reveladores por parte de ministros, diplomatas, e líderes militares portugueses quanto ao impacto das acções de defesa aérea do PAIGC, o que contribui para os meus esforços para provar a minha tese central.
Finalmente, existe em sítios da Internet um número considerável de depoimentos e testemunhos de veteranos de ambos os lados do conflito, com detalhes das operações aéreas, de um lado, e das acções de Defesa Aérea, do outro. O mais notável é o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, de Luís Graça, que apresenta um grande número de relatos das actividades militares na Guiné, a maioria dos quais pode ser corroborada por outras fontes. Algumas das pessoas que contribuem para este site - e há centenas delas - manifestaram a sua disponibilidade para dar resposta a novas investigações, se for necessário.
[Continua]
Dissertation Prospectus for Matthew M. Hurley, Department of History, The Ohio State University
Date: 23 February 2009
Advisor: Prof. John F. Guilmartin, Jr.
Working Title: The “Unholy GRAIL: Government Airpower and Insurgent Air Defense in Portuguese Guinea, 1963-1974.”
Topic and Significance.
The subject of insurgency has attracted dramatically increased attention during the course of our current conflicts in Iraq and Afghanistan, within both policy forums and academic circles. Much of this attention has been devoted to analyzing past insurgencies and counterinsurgencies in an attempt to glean applicable “lessons” from historical examples. In this respect, US campaigns in Latin America and Vietnam, the British experience in Malaya, and French operations in Algeria and Indochina have become iconic references during discussions of insurgency today.
Regardless of the merits of such attempts, the historical canon as currently constructed remains woefully incomplete. Granted, no conference, doctrine manual, or military history course could ever hope to cover every relevant example of previous counterinsurgencies; even studies of specialized sub-fields, such as counterinsurgency air operations, must be based on an appropriate sample of the relevant historical record. In this respect, however, both students and practitioners of airpower have consistently ignored a near-textbook case of the uses and vulnerabilities of the air arm in counterinsurgency: the operations of the Portuguese Air Force (Força Aérea Portuguesa, or FAP) in Guinea-Bissau from 1963 to 1974.
The FAP’s campaign in Guinea-Bissau offers many lessons of enduring utility to analysts and operators alike. Portuguese air operations covered the entire spectrum of airpower roles and missions, from bombing attacks to medical evacuation and goodwill “presence” flights. Their insurgent opponents, meanwhile, executed a wide range of tactics and operations to combat Portuguese airpower, from passive concealment measures to commando raids against Portuguese air bases. The FAP’s operations, and the insurgent response, vividly demonstrate the impact of both leadership and technology, as well as the interplay between the two. Furthermore, both FAP and insurgent operations manifested a distinctly asymmetric character, with each side attempting to pit any and all of its strengths against the enemy’s weaknesses. This asymmetry, in turn, leads to a revealing demonstration of nonlinearity in warfare; indeed, in this conflict relatively small-scale operations and their immediate effects had profoundly disproportionate “Nth-order” impact, despite the courage, skill and resilience of the FAP and its insurgent foes.
Essentially, the FAP was extremely affective in the counter-Guerrilla fight—perhaps too effective. For example, at one point the activities of a few dozen aircraft came close to collapsing the PAIGC’s war effort. My research strongly suggests that, because the FAP was so good at its job, the ground forces became overly dependent on airpower; consequently, the PAIGC made air defense one of their main priorities. The guerrilla effort included increasingly effective air defense weaponry, culminating with the use of the Soviet-made ZPRK Strela-2M (NATO SA-7 “GRAIL”) manportable surface-to-air missile, which was responsible for downing five Portuguese aircraft between 22 March and 6 April 1973.
At the first level of impact, this comparative handful of losses over a two-week period temporarily crippled the Portuguese air effort in Guinea-Bissau. Given the limited FAP inventory in Guinea-Bissau—and the dim prospects of acquiring additional aircraft—the losses due to Strela use forced the FAP to adopt defensive tactics that severely hindered operational effectiveness. Following the loss of three aircraft in a single day, the FAP even ceased operations altogether for a few days.
These developments resulted in an intensifying cascade of effects, first on the ground forces. Numerous firsthand accounts by Portuguese Army veterans of the war in Guinea-Bissau recount that air support, previously virtually guaranteed, became irregular; when provided, the FAP’s new restrictive tactics further mitigated the effect of air-delivered fires. Similarly, airborne transport, reconnaissance, and medical evacuation missions were curtailed due to the missile threat. This, in turn, reportedly eroded Portuguese morale, already worn by the effects of a decade’s worth of hard campaigning in Guinea-Bissau. This contributed to—and in some respects precipitated—the formation of a dissident movement within the armed forces and the 1974 coup that cost Portugal the war, its African possessions, and the future of its Novo Estado regime.
This, then, represents my fundamental thesis: The increasing air defense capability of the insurgents in Guinea-Bissau—given top priority due to the effectiveness of Portuguese airpower—ultimately stripped Portugal of air superiority, its greatest and most effective military advantage in that conflict. Forced by limited resources and external restrictions to curtail air operations and adopt restrictive tactics, the FAP thus found itself unable to adequately respond to the ground forces’ air support requirements. Morale and combat effectiveness within the ground forces correspondingly suffered, providing the final catalyst for the April 1974 “Captains’ Revolt” that overthrew Portugal’s authoritarian regime and led to the decolonization of Portuguese Africa.
It is possible that the war in Guinea-Bissau has been discounted within counterinsurgency deliberations because it was a relatively small affair compared to other episodes, such as Algeria or Vietnam. Then-Portuguese Guinea was a small province; the Portuguese presence was smaller than that in Angola or Mozambique; and the entire air effort involved no more than 50 aircraft at any one time (including helicopters). Yet the small scale of this effort dramatically illustrates the effect that even a limited air presence can achieve in a counterinsurgency context—a valuable lesson for a US military establishment now in the habit of deploying massive “Air Expeditionary Forces” to contend with similar foes. More likely, however, the Portuguese air effort in Guinea-Bissau has gone unnoticed because the published record is so sparse in any language other than Portuguese. Based on my research to date, this would then be the first full investigation focused on the air campaign in Guinea-Bissau, in English or any language.
Status of Existing Literature.
Portugal’s colonial enterprise and the subsequent “Ultramar Wars” in Africa have been the subject of considerable academic and journalistic attention since the 1960s. Literally thousands of works are available on the overall subject, most by far in Portuguese. The majority of the works available in English are relatively dated, although that “majority” is by no means overwhelming; in fact, since the early 1990s a number of important books regarding insurgency in Guinea-Bissau and the Portuguese counterinsurgency effort have been published. These include Patrick Chabal’s Amílcar Cabral: Revolutionary Leadership and People’s War (2003), Mustafah Dhada’s Warriors at Work: How Guinea-Bissau Was Really Set Free (1993), and John P. Cann’s Counterinsurgency in Africa: The Portuguese Way of War, 1961-1974 (1998).
However, most English-language works regarding this or any other “liberation struggle” tend to be polemical or romanticized, heavily tilted in sentiment towards one or the other antagonist (this is particularly true of books published while the conflict continued). Truly objective and even-handed studies have proven much more difficult, but not impossible, to come by. A fine example of such a work is a compendium of first-person accounts related by key players in all three of Portugal’s African wars, José Freire Antunes’ two-volume A Guerra de África (1961-1974) (1996). The bias inherent in most works, however, mandates great caution when evaluating claims of motivation, method, and effectiveness relative to the two sides of the Guinean war.
A growing number of military memoirs and first-person accounts, particularly by former Portuguese Army personnel, have also begun to appear in the past decade, including António Graça de Abreu’s Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura, and Nuno Mira Vaz’ Guiné 1968-1973: Soldados uma Vez, Sempre Soldados, each of which deals specifically with the war in Guinea-Bissau.
Although such works offer revealing first-person accounts of specific air operations or their impact on the ground war, there have been few works focusing on airpower itself. In fact, of nearly 5000 surveyed sources dealing with Portugal’s colonial wars, only three books focus on airpower matters, and none specifically treat the case of Guinea-Bissau. The periodical literature fares little better—after two years of actively searching, I have come across exactly two scholarly essays dealing specifically with Portugual’s air campaign in Guinea-Bissau, along with some twenty articles on the subject in various editions of Mais Alto (the FAP’s official journal).
The vast majority of sources, in any language, treat the air campaign in Guinea-Bissau with palpable superficiality and/or bias, while no single work in English addresses airpower issues exclusively. (Note: Prof. John P. Cann is currently working on such a book, tentatively titled African Flight Plan: The Portuguese Air Force at War) Elements of various edited works help to rectify this shortfall, including Tomás George Conceição’s essay “The Portuguese Air Force in the African Wars of 1961-1974,” in John P. Cann, ed., Memories of Portugal’s African Wars, as well as various chapters in Antunes’ A Guerra de África. Overall, however, while the existing published literature is adequate for undertaking a general study of FAP operations in Guinea-Bissau and elsewhere in Africa, it is insufficient for the detailed investigation I propose to undertake. To continue gathering evidence for my thesis, considerable archival research is required.
SUBSEQUENT NOTE: I did visit the Arquivo Histórico da Força Aérea in March 2009, and acquired much relevant and useful information! Also, the staff—led by Cor. Ismael Alves—proved to be both helpful and incredibly friendly.
Materials Available for Investigation.
Fortunately, adequate primary sources exist in a variety of different archives around the world. In addition to the many published collections of Ámilcar Cabral’s works, a wealth of primary sources from the PAIGC—the insurgent group opposing Portugal’s domination of Guinea-Bissau—are available in the Ronald Chilcote Collection at the Hoover Institute at Stanford University, California. Combined with the resources (notably press translations) at the Air University Library in Alabama, this collection has provided me with as complete as practical a compilation of PAIGC communiqués, instructions, and propaganda releases regarding insurgent reactions to Portuguese airpower.
Ideally, I would have liked to travel to Bissau to consult the holdings of the Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), Guinea-Bissau’s national archives. However, the outbreak of civil war in 1998 very nearly destroyed that institution. Situated less than a kilometer from the front lines, INEP was requisitioned as a barracks for intervening Senegalese troops and was repeatedly shelled.
Both “military necessity” and damage to the roofs exposed most of INEP’s documentary holdings to the elements, and the great majority was destroyed. Further, as the United States has not yet reoccupied its embassy in Bissau, my parent unit has denied travel to the country. Furthermore, given that Guinea-Bissau currently has no open embassy in the US, meeting visa requirements would have also been a considerable challenge. Fortunately, the attention given the war while it continued has resulted in the location of adequate “satellite” collections, such as the Chilcote collection described above.
I have successfully gained approval from the FAP Chief of Staff’s office to visit the FAP archives (the Arquivo Histórico de Força Aérea, or AHFA) in Lisbon, and I will be traveling there on 20 March 2009. Though AFHA is not open to the public, correspondence with the AFHA director has suggested he and his staff will be both helpful and accommodating in my research. The director has my research priorities, and has promised to inform me if there are any potential issues. Of note, the AFHA underwent a significant expansion in the 1970s to contend with the large amount of documentation returning from FAP’s various African bases after the conclusion of their conflicts there.
Since much of my discussion relates to the intended purpose of air defense systems, their technical characteristics, and their use in contemporaneous campaigns, I will continue to rely on information collected from the Air Force Historical Research Agency (AFHRA) in Alabama. AFHRA features an impressive collection of documents regarding the early development of air defense missiles dating back to 1945; in addition, their oral history activities have gathered the recollections of US Air Force personnel who encountered the SA-7 air defense missile in Vietnam. That same missile would, beginning in 1973, greatly affect FAP operations in Guinea-Bissau as well.
Additionally, extensive contemporaneous accounts of FAP air operations and PAIGC air defense activities are available in the various US Government Freedom of Information Act (FOIA) on-line reading rooms, particularly those available through the Department of State and Central Intelligence Agency internet sites. Both feature a number of candid and revealing comments by Portuguese Ministers, diplomats, and military leaders regarding the impact of PAIGC air defenses, which contributes to my efforts to prove my core thesis.
Finally, there exist a considerable number of internet testimonials and accounts by veterans on both sides of the conflict, offering further details of air operations and air defense engagements. Most notable is Luis Graça’s “Camaradas da Guiné” website, which features a great many accounts of military activities in Guinea, most of which can be corroborated by other sources. Some of the individuals contributing to this site—and there are hundreds of them—have indicated their willingness to provide answers to further inquiries, if required.
[To be continued]
_____
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 16 de Abril de 2009 >Guiné 63/74 - P4197: FAP (23): O poder aéreo no CTIG, 'case study' numa tese de doutoramento nos EUA (Matt Hurley / Luís Graça)
(**) Encontrei na Net um artigo do Mattew M. Hurley, publicado em espanhol:
Matthew M. Hurley, Sub-Teniente, USAF - Saddam Hussein y el poder aéreo iraquí:tener una fuerza aérea no es suficiente. Air Power Journal. Edición hispanoamericana. Otoño trimestre 1993.
Guiné 63/74 - P4417: Tabanca Grande (148): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil da CART 2412, Bigene, Guidage e Barro (1968/70)
1. Mensagem de Jorge Teixeira, um outro Jorge Teixeira e novo tertuliano que quer atabancar na nossa Caserna Virtual, com data de 24 de Maio de 2009:
Caro Carlos Vinhal,
Camarada
Sou Jorge Teixeira, (jteix- veterano de guerra), ex-Furriel Milº Art da CART 2412 -1968/70, em Bigene - Guidage - Barro, no CTIG.
Para não me confundirem com o outro Jorge Teixeira, membro das duas Tabancas, me intitulo sómente por J.TEIXEIRA. Esse outro Teixeira é do meu curso e fizemos praticamente o mesmo trajecto até à Guiné, ou seja RI5 - EPA - GACA3 - CTIG.
Já que falo em Teixeira's, ainda há um outro, o Zé fermero como ele diz, que fomos e espero continuar a ser, amigos, (e camaradas), mas do tempo em que éramos adolescentes, jovens e bons rapazes, na mesma freguesia, aqui na Invicta cidade do Porto, de que me orgulho pertencer.
Vem esta conversa toda a propósito, de que aqui há tempos ao ver o vosso/nosso blogue, me apareceram escarrapachadas as fotos destes dois meliantes, que já não via há 40 anos. Vai daí pus-me a pesquisar, e até ir almoçar ao Milho Rei, foi um passo.
Nesse almoço, ostentava como habitualmente, na lapela do casaco (vidé foto), uma barreta que representa a medalha atribuída aos ex-combatentes no fim da comissão, nas campanhas, neste caso no Ultramar.
Quando me perguntaram o porquê, expliquei-lhes que era a melhor forma que tinha encontrado para me identificar perante desconhecidos e a quem interessar, como um ex-combatente, veterano de guerra e dar-me a conhecer como tal.
Alguns, acharam a ideia interessante e o Portojo (Teixeira) até sugeriu que elaborasse um texto para ser publicado no blogue da Tabanca de Matosinhos, o que de facto veio a acontecer no P134 (*). O dito Teixeira, o outro, que o publicou, achou que poderia ter mais impacto e divulgação, se fosse publicado na Tabanca Grande.
Que o levasse à vossa apreciação e consideração, disse.
É o que agora estou a fazer, se acharem que tem algum interesse publicar para divulgar.
Então o texto dizia assim:
Quantas vezes nos cruzamos na rua com alguém que julgamos conhecer,
ou nos faz lembrar algum camarada dos tempos da guerra já longínqua, mas sempre presente?
Passados 30/40 anos, é natural a dúvida, já temos uma barriguinha a mais, uns cabelos brancos, quando os há, etc,etc... estamos diferentes, mas... quase, quase parecidos.
Quantas vezes temos vontade de o abordar para esclarecer, mas faltou-nos a coragem?
A dúvida persiste e... subsiste e perde-se a oportunidade.
Mas, e se o contactamos e é engano? Pode haver má interpretação e até desconfiança.
Nunca vos aconteceu? A mim já.
É frequente ver na roupa dos homens (e das mulheres também), emblemas, (agora diz-se pin's) do clube a ou b, até do partido y ou z, emblemas quadrados, redondos, assim, assim, laços, fitas e até a marca da camisa ou da camisola e que pagamos para fazer propaganda... de borla.
E vem esta lenga-lenga toda, a propósito de quê, perguntam vocês? Vá lá, perguntem?
O que é que isto tem a ver com VETERANOS DE GUERRA, ex-Combatentes?
Este gajo já está apanhado do clima, é o stress pós... qualquer coisa, querem ver.
Vá lá, então, perguntem?
Pronto, pronto eu digo:
Porque não haver algo, que nos identifique como VETERANOS de GUERRA, para que quando nos cruzamos com alguém e nos faça lembrar algum dos nossos, não haver dúvidas?
-Olha ali vai mais um camarada (já há poucos), ex-combatente... e já é veterano.
-Olá estás bom? Então, a que BANDO pertencias? Em que Bu...rako... o que fazias...?
Lembram-se da estória publicada no P4368 Raízes (**), que mete tatuagens? Nem de propósito.
-É pá, estiveste no mesmo sitio que eu, só que...
Ou simplesmente... bom dia camarada, ou boa tarde muito prazer. Bô note, dá-me lume se faz chavor?
Eureka!!!
Mas nós temos uma identificação, e práticamente só nós, que estivemos no Ultramar, a conhecemos.
Lembram-se das "barretas" (parece que é assim que se chamam, vidé foto) que recebemos no fim da comissão e que são representativas das medalhas(que não recebemos) atribuídas aos militares que estiveram em campanha, neste caso em África?
Pois bem, e porque não usá-las? Assim era fácil sabermos quem somos e quantos ainda somos.
Assim até facilitava aos políticos saberem de nós, para nos darem caneladas mais certeiras.
Quanto mais não seja para que saibam que ainda cá vamos andando,... só para chatear.
Olha e já agora me lembrei doutra:
O senhor general assim, já podia desabafar:
- Cambada, mais um que pertencia ao BANDO do arame
Eu, já a uso há algum tempo (vidé foto) e curiosamente já fui abordado por vários camaradas desconhecidos e até por alguns amigos, que já não se lembravam que além de amigos também temos em comum ser ex-Combatentes, embora nalguns casos, em sítios, províncias e alturas diferentes.
Por isso "CAMARAADASS" é só ir à caixinha das lembranças (todos temos uma, ou não, se calhar sou o único, querem ver?) e USÁ-LA. Se porventura já não sabem onde está, no Costa Braga, no Porto (passe a publicidade), custa 1,95€. Só para quem tiver orgulho em a exibir.
USA-A - IDENTIFICA-TE
... e é só, (só???), fica à vossa consideração o que acharem por bem.
2. Já agora aproveito para pedir a minha inscrição na Tabanca Grande, se acharem que mereço.
Já tenho participado com alguns comentários no blogue, só falta a história, (ou mais uma estória?).
Para o caso de ser aceite, aí vão os meus dados e respectivas fotos:
J.TEIXEIRA (só) para não me confundirem com o outro o dito cujo, meu/nosso camarada e amigo
ex-Fur Mil Art - veterano de guerra
Nascido a 26 Novembro 1945
Natural de CERVA - Ribeira de Pena - Vila Real (com dupla naturalidade, sou do PORTO)
A morar no PORTO (querido, como diz o Portojo) há mais de 63 anos, ou seja quase nasci aqui, por isso sou portuense de alma e coração, não confundir com portista (mas gosto), na Rua da Alegria
Casado (Gina), pai de dois filhos (Filipe e Daniela)
Técnico de Vendas (há 38 anos)
Reformado
...e que mais?...
Serviço Militar Obrigatório
Obrigatório e comprido, 37 mesitos (só?)
- Recruta: CSM, RI5, Caldas Rainha, 2.º Turno de 1967, dia 11 de Abril de 1967
- Especialidade, EPA, Vendas Novas, dia 25 de Junho de 1967
- 1.º Cabo Mil.º no GACA3, Espinho, dia 25 de Setembro de 1967
- Curso CIOE Lamego, dia 02 de Janeiro de 1968
- Formar CART 2412 no RAP2 Vila Nona de Gaia (Março de 1968)
- Embarque para Guiné no Uige, no dia 11 de Agosto de 1968
- Desembarque em Bissau, no dia 16 de Agosto de 1968
No CTIG a CART 2412 (e eu) esteve colocada em:
- Brá, de 16 a 29 de Agosto de 1968
- Bigene (TO/COP3), de 31 de Agosto a 14 de Outubro de 1968
- Guidage, com destacamento em Binta, de 15 de Outubro de 1968 a 08 de Março de 1969
- Barro, de 09 de Março de 1969 a Maio de 1970
- Embarque para regresso no Carvalho Araújo (ia de lado) em 05 de Maio de 1970
- Desembarque em Lisboa no dia 14 de Maio de 1970
- Passagem à peluda em 06 de Junho de 1970
...e esta é a história da minha ida à guerra, 1968/70.
Um abraço... e desculpa qualquer coisinha.
Cumprimentos
jteix-veterano de guerra
ex-Fur Mil Art
CART 2412-68/70
Bigene-Guidage-Barro
3. Comentário de CV:
Caro Jorge Teixeira, outro, o novo, o não Portojo.
Bem-vindo à Tabanca
Ficamos radiantes quando contribuímos para o reencontro de camaradas e mais ainda quando se trata de amigos de longa data, separados neste caminhar pela vida.
Quando foste ao Encontro das quartas-feiras da Tabanca de Matosinhos, foste, como dizer... à catedral. Esta tertúlia é impar, contagiando tudo e todos. Ninguém fica indiferente àquele ambiente genuíno e informal, onde quem chega, se sente em minutos, como fazendo parte da família há muito tempo.
Vamos ao que importa, porque a Tabanca de Matosinhos não precisa de elogios.
Quanto à tua ideia, sim senhor, é de apresentar à tertúlia e, por que não, de seguir. Eu, zeloso dos meus farrapitos, só ponho um senão que é o alfinete estragar o casaco do fatinho de marujo, ou como também se diz, da comunhão ou ainda de ir ver a Joana. A barreta que tenho exibe cá um alfinete que até assusta. Há algum meio menos destrutivo para fixar a dita, à roupa. E se pedíssemos conselho ao AB que é um expert na matéria?
Quanto à tua integração na nossa Tabanca Grande, está oficializada, a partir de hoje. Podes e deves é começar a trabalhar já, enviando as tuas histórias e as tuas fotografias legendadas. Andaste lá por cima pelo Norte da Guiné, relativamente perto dos locais por onde eu também andei. Bons ares, boas instalações, que mais queríamos nós? Paz e sossego que até aborrecia. Era mesmo intediosa aquela vida dentro do arame farpado, tirando algumas escaramuças, quando eles, os outros, se lembravam de nos ir despejar em cima, munições que tinham além do stock estabelecido.
Não pode faltar o abraço de boas-vindas em nome dos editores e tertúlia em geral. Não esqueças poderás conhecer alguns dos camaradas do Blogue no dia 20 de Junho no nosso próximo Encontro. Vamos ter muita gente nova presente.
Já agora vamos combinar que o Jorge Teixeira mais velhote fica a ser conhecido por Jorge Teixeira (Portojo) e tu só por Jorge Teixeira. Assim evitam-se as confusões.
Recebe um abraço do camarada
Carlos Vinhal
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste da Tabanca de Matosinhos com data de 2 de Abril de 2009 > P134-Uma ideia...com pernas para andar
(**) Vd. poste de 18 de Maio de 2009 >
Guiné 63/74 - P4368: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (17): Raízes...
Vd. último poste da série de 24 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4406: Tabanca Grande (147): António Rodrigues, ex-Soldado Condutor Auto Rodas do BCAV 8323, Copá, 1973/74
Caro Carlos Vinhal,
Camarada
Sou Jorge Teixeira, (jteix- veterano de guerra), ex-Furriel Milº Art da CART 2412 -1968/70, em Bigene - Guidage - Barro, no CTIG.
Para não me confundirem com o outro Jorge Teixeira, membro das duas Tabancas, me intitulo sómente por J.TEIXEIRA. Esse outro Teixeira é do meu curso e fizemos praticamente o mesmo trajecto até à Guiné, ou seja RI5 - EPA - GACA3 - CTIG.
Já que falo em Teixeira's, ainda há um outro, o Zé fermero como ele diz, que fomos e espero continuar a ser, amigos, (e camaradas), mas do tempo em que éramos adolescentes, jovens e bons rapazes, na mesma freguesia, aqui na Invicta cidade do Porto, de que me orgulho pertencer.
Vem esta conversa toda a propósito, de que aqui há tempos ao ver o vosso/nosso blogue, me apareceram escarrapachadas as fotos destes dois meliantes, que já não via há 40 anos. Vai daí pus-me a pesquisar, e até ir almoçar ao Milho Rei, foi um passo.
Nesse almoço, ostentava como habitualmente, na lapela do casaco (vidé foto), uma barreta que representa a medalha atribuída aos ex-combatentes no fim da comissão, nas campanhas, neste caso no Ultramar.
Quando me perguntaram o porquê, expliquei-lhes que era a melhor forma que tinha encontrado para me identificar perante desconhecidos e a quem interessar, como um ex-combatente, veterano de guerra e dar-me a conhecer como tal.
Alguns, acharam a ideia interessante e o Portojo (Teixeira) até sugeriu que elaborasse um texto para ser publicado no blogue da Tabanca de Matosinhos, o que de facto veio a acontecer no P134 (*). O dito Teixeira, o outro, que o publicou, achou que poderia ter mais impacto e divulgação, se fosse publicado na Tabanca Grande.
Que o levasse à vossa apreciação e consideração, disse.
É o que agora estou a fazer, se acharem que tem algum interesse publicar para divulgar.
Então o texto dizia assim:
Quantas vezes nos cruzamos na rua com alguém que julgamos conhecer,
ou nos faz lembrar algum camarada dos tempos da guerra já longínqua, mas sempre presente?
Passados 30/40 anos, é natural a dúvida, já temos uma barriguinha a mais, uns cabelos brancos, quando os há, etc,etc... estamos diferentes, mas... quase, quase parecidos.
Quantas vezes temos vontade de o abordar para esclarecer, mas faltou-nos a coragem?
A dúvida persiste e... subsiste e perde-se a oportunidade.
Mas, e se o contactamos e é engano? Pode haver má interpretação e até desconfiança.
Nunca vos aconteceu? A mim já.
É frequente ver na roupa dos homens (e das mulheres também), emblemas, (agora diz-se pin's) do clube a ou b, até do partido y ou z, emblemas quadrados, redondos, assim, assim, laços, fitas e até a marca da camisa ou da camisola e que pagamos para fazer propaganda... de borla.
E vem esta lenga-lenga toda, a propósito de quê, perguntam vocês? Vá lá, perguntem?
O que é que isto tem a ver com VETERANOS DE GUERRA, ex-Combatentes?
Este gajo já está apanhado do clima, é o stress pós... qualquer coisa, querem ver.
Vá lá, então, perguntem?
Pronto, pronto eu digo:
Porque não haver algo, que nos identifique como VETERANOS de GUERRA, para que quando nos cruzamos com alguém e nos faça lembrar algum dos nossos, não haver dúvidas?
-Olha ali vai mais um camarada (já há poucos), ex-combatente... e já é veterano.
-Olá estás bom? Então, a que BANDO pertencias? Em que Bu...rako... o que fazias...?
Lembram-se da estória publicada no P4368 Raízes (**), que mete tatuagens? Nem de propósito.
-É pá, estiveste no mesmo sitio que eu, só que...
Ou simplesmente... bom dia camarada, ou boa tarde muito prazer. Bô note, dá-me lume se faz chavor?
Eureka!!!
Mas nós temos uma identificação, e práticamente só nós, que estivemos no Ultramar, a conhecemos.
Lembram-se das "barretas" (parece que é assim que se chamam, vidé foto) que recebemos no fim da comissão e que são representativas das medalhas(que não recebemos) atribuídas aos militares que estiveram em campanha, neste caso em África?
Pois bem, e porque não usá-las? Assim era fácil sabermos quem somos e quantos ainda somos.
Assim até facilitava aos políticos saberem de nós, para nos darem caneladas mais certeiras.
Quanto mais não seja para que saibam que ainda cá vamos andando,... só para chatear.
Olha e já agora me lembrei doutra:
O senhor general assim, já podia desabafar:
- Cambada, mais um que pertencia ao BANDO do arame
Eu, já a uso há algum tempo (vidé foto) e curiosamente já fui abordado por vários camaradas desconhecidos e até por alguns amigos, que já não se lembravam que além de amigos também temos em comum ser ex-Combatentes, embora nalguns casos, em sítios, províncias e alturas diferentes.
Por isso "CAMARAADASS" é só ir à caixinha das lembranças (todos temos uma, ou não, se calhar sou o único, querem ver?) e USÁ-LA. Se porventura já não sabem onde está, no Costa Braga, no Porto (passe a publicidade), custa 1,95€. Só para quem tiver orgulho em a exibir.
USA-A - IDENTIFICA-TE
... e é só, (só???), fica à vossa consideração o que acharem por bem.
2. Já agora aproveito para pedir a minha inscrição na Tabanca Grande, se acharem que mereço.
Já tenho participado com alguns comentários no blogue, só falta a história, (ou mais uma estória?).
Para o caso de ser aceite, aí vão os meus dados e respectivas fotos:
J.TEIXEIRA (só) para não me confundirem com o outro o dito cujo, meu/nosso camarada e amigo
ex-Fur Mil Art - veterano de guerra
Nascido a 26 Novembro 1945
Natural de CERVA - Ribeira de Pena - Vila Real (com dupla naturalidade, sou do PORTO)
A morar no PORTO (querido, como diz o Portojo) há mais de 63 anos, ou seja quase nasci aqui, por isso sou portuense de alma e coração, não confundir com portista (mas gosto), na Rua da Alegria
Casado (Gina), pai de dois filhos (Filipe e Daniela)
Técnico de Vendas (há 38 anos)
Reformado
...e que mais?...
Serviço Militar Obrigatório
Obrigatório e comprido, 37 mesitos (só?)
- Recruta: CSM, RI5, Caldas Rainha, 2.º Turno de 1967, dia 11 de Abril de 1967
- Especialidade, EPA, Vendas Novas, dia 25 de Junho de 1967
- 1.º Cabo Mil.º no GACA3, Espinho, dia 25 de Setembro de 1967
- Curso CIOE Lamego, dia 02 de Janeiro de 1968
- Formar CART 2412 no RAP2 Vila Nona de Gaia (Março de 1968)
- Embarque para Guiné no Uige, no dia 11 de Agosto de 1968
- Desembarque em Bissau, no dia 16 de Agosto de 1968
No CTIG a CART 2412 (e eu) esteve colocada em:
- Brá, de 16 a 29 de Agosto de 1968
- Bigene (TO/COP3), de 31 de Agosto a 14 de Outubro de 1968
- Guidage, com destacamento em Binta, de 15 de Outubro de 1968 a 08 de Março de 1969
- Barro, de 09 de Março de 1969 a Maio de 1970
- Embarque para regresso no Carvalho Araújo (ia de lado) em 05 de Maio de 1970
- Desembarque em Lisboa no dia 14 de Maio de 1970
- Passagem à peluda em 06 de Junho de 1970
...e esta é a história da minha ida à guerra, 1968/70.
Um abraço... e desculpa qualquer coisinha.
Cumprimentos
jteix-veterano de guerra
ex-Fur Mil Art
CART 2412-68/70
Bigene-Guidage-Barro
3. Comentário de CV:
Caro Jorge Teixeira, outro, o novo, o não Portojo.
Bem-vindo à Tabanca
Ficamos radiantes quando contribuímos para o reencontro de camaradas e mais ainda quando se trata de amigos de longa data, separados neste caminhar pela vida.
Quando foste ao Encontro das quartas-feiras da Tabanca de Matosinhos, foste, como dizer... à catedral. Esta tertúlia é impar, contagiando tudo e todos. Ninguém fica indiferente àquele ambiente genuíno e informal, onde quem chega, se sente em minutos, como fazendo parte da família há muito tempo.
Vamos ao que importa, porque a Tabanca de Matosinhos não precisa de elogios.
Quanto à tua ideia, sim senhor, é de apresentar à tertúlia e, por que não, de seguir. Eu, zeloso dos meus farrapitos, só ponho um senão que é o alfinete estragar o casaco do fatinho de marujo, ou como também se diz, da comunhão ou ainda de ir ver a Joana. A barreta que tenho exibe cá um alfinete que até assusta. Há algum meio menos destrutivo para fixar a dita, à roupa. E se pedíssemos conselho ao AB que é um expert na matéria?
Quanto à tua integração na nossa Tabanca Grande, está oficializada, a partir de hoje. Podes e deves é começar a trabalhar já, enviando as tuas histórias e as tuas fotografias legendadas. Andaste lá por cima pelo Norte da Guiné, relativamente perto dos locais por onde eu também andei. Bons ares, boas instalações, que mais queríamos nós? Paz e sossego que até aborrecia. Era mesmo intediosa aquela vida dentro do arame farpado, tirando algumas escaramuças, quando eles, os outros, se lembravam de nos ir despejar em cima, munições que tinham além do stock estabelecido.
Não pode faltar o abraço de boas-vindas em nome dos editores e tertúlia em geral. Não esqueças poderás conhecer alguns dos camaradas do Blogue no dia 20 de Junho no nosso próximo Encontro. Vamos ter muita gente nova presente.
Já agora vamos combinar que o Jorge Teixeira mais velhote fica a ser conhecido por Jorge Teixeira (Portojo) e tu só por Jorge Teixeira. Assim evitam-se as confusões.
Recebe um abraço do camarada
Carlos Vinhal
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste da Tabanca de Matosinhos com data de 2 de Abril de 2009 > P134-Uma ideia...com pernas para andar
(**) Vd. poste de 18 de Maio de 2009 >
Guiné 63/74 - P4368: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (17): Raízes...
Vd. último poste da série de 24 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4406: Tabanca Grande (147): António Rodrigues, ex-Soldado Condutor Auto Rodas do BCAV 8323, Copá, 1973/74
Guiné 63/74 - P4416: Memória dos lugares (26): Bambadinca, CCS/BART 2917, 1970/72 (Arsénio Puim, ex-capelão)
1. Mensagem do Benjamim Durães, que vive em Palmela e tem sido o grande dinamizador dos convívios da malta da CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e undidades adidas (já vão em três edições: Setúbal, 2007; Viseu, 2008; Viana do Castelo, 2009):
Luís,
Depois de ler este teu poste (*), recordei-me de um E-Mail que o Puim me enviou em 31de Maio de 2007 pelas 22,25 horas, e que passo a transcrever:
Amigo Durães
Na impossibilidade de estar presente, este ano, no encontro da Companhia[, em Setúbal] (**), envio-lhe uma pequena mensagem, como lhe havia dito, que gostaria fosse apresentada na reunião em Setúbal.
Cumprimentos sinceros – Arsénio Puim
VILA FRANCA DO CAMPO / AÇORES
QUINTA-FEIRA, 31 DE MAIO DE 2007 - 22:25:04
Ainda não é neste 36.º ano depois da minha saída da Guiné, [em Maio de 1971,] que tenho a alegria de voltar a encontrar-me com os soldados da minha CCS. Será num próximo ano, se Deus quiser.
Não quero, porém, deixar de estar presente no vosso encontro, enviando-vos uma saudação especial e dando-vos também algumas notícias da minha parte.
Desde [Maio de] 1970, Bambadinca passou a ser, sem dúvida para nós todos, uma referência geográfica e vivencial inapagável e, em certa medida, determinante. Recordo-a com agrado:
o quartel,
a igreja da Missão,
a tabanca,
o Geba,
o macaréu,
os tornados e as trovoadas,
alguns nativos, etc.
Recordo-vos com muita simpatia e tenho muita honra em ter sido o vosso capelão desde a serra do Pilar até ao planalto de Bambadinca, embora considere que ser capelão militar em situação de guerra é a função mais complexa e difícil de exercer no Exército, como também na Igreja.
Conservo, porém, muitas recordações boas da nossa vivência em comum no dia a dia, a vossa alegria, lembro as nossas festas, os nossos convívios e serões musicais, estou mesmo a ouvir ainda o Povo que lavas no rio, admiravelmente cantado pelo então grande sargento Brito [, o 1º sargento da CCS, hoje major reformado] (***) .
Entre as memórias gratificantes relacionadas com a minha estadia na Guiné, destaco também uma cena que se passou numa altura em que algumas mulheres nativas, com os seus meninos, foram capturadas e estiveram retidas no quartel, junto da Administração (*).
Eu aparecia por lá ás vezes e levava leite e bolachas aos miúdos - o mais novo tinha apenas cinco dias.
Quando foram libertadas, manifestaram ter qualquer coisas para me dizer. Dispostas em fila, com os meninos junto de si, uma delas, com aquela solenidade africana muito própria, tomou a palavra e o cipaio foi traduzindo: Que estavam muito contentes com o "alfero”, porque o “alfero é amigo dos mininos”, e que iam pedir aos irãs para darem ao “alfero” tudo na vida.
Sem dúvida, foi mais uma bênção que me tem acompanhado no meu trajecto de vida até hoje.
Pós Bambadinca e pós breve estadia em Bissau e em Lisboa, voltei à paz da minha pequena ilha de Santa Maria e exerci ainda o sacerdócio por algum tempo. Tirei, entretanto, o curso de enfermagem, com a intenção de ser padre profissionalizado.
Acabei, porém, por requerer a redução ao estado laical e casar, em 1979, com Maria Leonor, também enfermeira.
Temos dois filhos, que estão a estudar em Lisboa.
Há mais de vinte anos vivemos na ilha de São Miguel, na localidade de Vila Franca do Campo, estando eu já aposentado, com o bonito rol de 71 anos de idade.
Daqui, quero expressar, neste momento, a minha homenagem respeitosa a todos os nossos companheiros do Batalhão que encontraram a morte tanto no exercício da sua comissão de serviço na Guiné, como já depois do regresso a Portugal.
Finalmente, para a nossa CCS um grande abraço, com amizade, com os melhores votos, com a minha gratidão! (****)
Arsénio Chaves Puim
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 25 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4412: Dando a mão à palmatória (20): O Arsénio Puim, capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), só foi expulso em Maio de 1971
(**) Vd. poste de 13 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1843: Convívios (16): O 1º encontro da CCS do BART 2917, em Setúbal, 9 de Junho de 2007 (Jorge Cabral)
(***) Vd. poste de 7 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3582: Cancioneiro de Bambadinca (2): Brito, que és militar... (Gabriel Gonçalves, ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 12, 1969/71)
(****) Vd. último poste da série > 20 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4387: Memória dos lugares (25): Bafatá (Fernando Gouveia)
Luís,
Depois de ler este teu poste (*), recordei-me de um E-Mail que o Puim me enviou em 31de Maio de 2007 pelas 22,25 horas, e que passo a transcrever:
Amigo Durães
Na impossibilidade de estar presente, este ano, no encontro da Companhia[, em Setúbal] (**), envio-lhe uma pequena mensagem, como lhe havia dito, que gostaria fosse apresentada na reunião em Setúbal.
Cumprimentos sinceros – Arsénio Puim
VILA FRANCA DO CAMPO / AÇORES
QUINTA-FEIRA, 31 DE MAIO DE 2007 - 22:25:04
Ainda não é neste 36.º ano depois da minha saída da Guiné, [em Maio de 1971,] que tenho a alegria de voltar a encontrar-me com os soldados da minha CCS. Será num próximo ano, se Deus quiser.
Não quero, porém, deixar de estar presente no vosso encontro, enviando-vos uma saudação especial e dando-vos também algumas notícias da minha parte.
Desde [Maio de] 1970, Bambadinca passou a ser, sem dúvida para nós todos, uma referência geográfica e vivencial inapagável e, em certa medida, determinante. Recordo-a com agrado:
o quartel,
a igreja da Missão,
a tabanca,
o Geba,
o macaréu,
os tornados e as trovoadas,
alguns nativos, etc.
Recordo-vos com muita simpatia e tenho muita honra em ter sido o vosso capelão desde a serra do Pilar até ao planalto de Bambadinca, embora considere que ser capelão militar em situação de guerra é a função mais complexa e difícil de exercer no Exército, como também na Igreja.
Conservo, porém, muitas recordações boas da nossa vivência em comum no dia a dia, a vossa alegria, lembro as nossas festas, os nossos convívios e serões musicais, estou mesmo a ouvir ainda o Povo que lavas no rio, admiravelmente cantado pelo então grande sargento Brito [, o 1º sargento da CCS, hoje major reformado] (***) .
Entre as memórias gratificantes relacionadas com a minha estadia na Guiné, destaco também uma cena que se passou numa altura em que algumas mulheres nativas, com os seus meninos, foram capturadas e estiveram retidas no quartel, junto da Administração (*).
Eu aparecia por lá ás vezes e levava leite e bolachas aos miúdos - o mais novo tinha apenas cinco dias.
Quando foram libertadas, manifestaram ter qualquer coisas para me dizer. Dispostas em fila, com os meninos junto de si, uma delas, com aquela solenidade africana muito própria, tomou a palavra e o cipaio foi traduzindo: Que estavam muito contentes com o "alfero”, porque o “alfero é amigo dos mininos”, e que iam pedir aos irãs para darem ao “alfero” tudo na vida.
Sem dúvida, foi mais uma bênção que me tem acompanhado no meu trajecto de vida até hoje.
Pós Bambadinca e pós breve estadia em Bissau e em Lisboa, voltei à paz da minha pequena ilha de Santa Maria e exerci ainda o sacerdócio por algum tempo. Tirei, entretanto, o curso de enfermagem, com a intenção de ser padre profissionalizado.
Acabei, porém, por requerer a redução ao estado laical e casar, em 1979, com Maria Leonor, também enfermeira.
Temos dois filhos, que estão a estudar em Lisboa.
Há mais de vinte anos vivemos na ilha de São Miguel, na localidade de Vila Franca do Campo, estando eu já aposentado, com o bonito rol de 71 anos de idade.
Daqui, quero expressar, neste momento, a minha homenagem respeitosa a todos os nossos companheiros do Batalhão que encontraram a morte tanto no exercício da sua comissão de serviço na Guiné, como já depois do regresso a Portugal.
Finalmente, para a nossa CCS um grande abraço, com amizade, com os melhores votos, com a minha gratidão! (****)
Arsénio Chaves Puim
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 25 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4412: Dando a mão à palmatória (20): O Arsénio Puim, capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), só foi expulso em Maio de 1971
(**) Vd. poste de 13 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1843: Convívios (16): O 1º encontro da CCS do BART 2917, em Setúbal, 9 de Junho de 2007 (Jorge Cabral)
(***) Vd. poste de 7 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3582: Cancioneiro de Bambadinca (2): Brito, que és militar... (Gabriel Gonçalves, ex-1º Cabo Cripto, CCAÇ 12, 1969/71)
(****) Vd. último poste da série > 20 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4387: Memória dos lugares (25): Bafatá (Fernando Gouveia)
Guiné 63/74 - P4415: (Ex)citações (29): A Guiné que todos temos um pouco na alma (João Lourenço)
1. Mensagem de João Lourenço (*), ex-Alf Mil do PINT 9288, Cufar, 1973/74, com data de 24 de Maio de 2009:
Assunto: P4393 (**)
Li o artigo enviado pelo nosso companheiro Eduardo Alves, sobre a visita que fez à Guiné-Bissau....
Ao contrário de alguns, nada me choca na mensagem que o nativo de Pirada fez passar, ao dizer: - "Sim é a Guiné Portuguesa"... Eles são seres pensantes, podem não ter instrução nos nossos moldes, mas a cor da pele não lhes retira a capacidade de pensar, temos caucasianos que se esquecem mais fácilmente do que é importante para as pessoas... são vulgarmente conhecidos por políticos profissionais... não se lhes conhece emprego... só o de político...
Mas ainda a propósito deste encontro, relato um pequeno episódio, tenho mais, acontecido na Guiné no pós 25/04/1974.
Fiquei de conserva até 5/10/1974, dia em que me virei para o Cap. Clemente e disse:
- Tou farto desta m... vou-me embora. Comprei um bilhete de ida na TAP com o meu dinheiro e dei de frosques com uma guia passada à pressa no BIG.
Assim e entre muitas deslocações que fiz, esta é a parte interessante, estive em Farim a fazer a liquidatária. A dada altura um soldado do PAIGC veio cumprimentar-me, vinha fardado com o que restava de um camuflado nosso, chamou-me pelo meu posto e nome, tinha desertado havia uns meses do BIG ou de Cufar, não me lembro ao certo, e apresentou-me seu Comandante e legitimo representante do Povo da Guiné-Bissau... tudo bem, estávamos em paz. Dirigiu-se a mim com pose militar e disse-me:
- Coment sa vá?... Bien?
Fiquei siderado..., falo algum francês, melhor do que escrevo, e daí em diante foi a língua possível entre nós, porque nem crioulo falava. Penso que este episódio se encaixa na verdade escondida do que era e ainda é hoje a pobre Guiné-Bissau, de que todos nós trouxemos um pouco na alma.
Até dia 20.
Um abraço e publica o que achares interessante deste meu contributo para o blogue.
João Lourenço
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4377: Tabanca Grande (145): João Lourenço, ex-Alf Mil do PINT 9288 (Cufar, 1973/74)
(**) Vd. poste de 21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4393: Tabanca Grande (146): Eduardo Alves, ex-Soldado Condutor Auto da CART 6250 (Mampatá, 1972/74)
Vd. último poste de 20 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4389: (Ex)citações (28): Ah! Grande Lourenço ou… confessando os nossos pecadilhos de Cufar 1973/74 (António Graça Abreu)
Assunto: P4393 (**)
Li o artigo enviado pelo nosso companheiro Eduardo Alves, sobre a visita que fez à Guiné-Bissau....
Ao contrário de alguns, nada me choca na mensagem que o nativo de Pirada fez passar, ao dizer: - "Sim é a Guiné Portuguesa"... Eles são seres pensantes, podem não ter instrução nos nossos moldes, mas a cor da pele não lhes retira a capacidade de pensar, temos caucasianos que se esquecem mais fácilmente do que é importante para as pessoas... são vulgarmente conhecidos por políticos profissionais... não se lhes conhece emprego... só o de político...
Mas ainda a propósito deste encontro, relato um pequeno episódio, tenho mais, acontecido na Guiné no pós 25/04/1974.
Fiquei de conserva até 5/10/1974, dia em que me virei para o Cap. Clemente e disse:
- Tou farto desta m... vou-me embora. Comprei um bilhete de ida na TAP com o meu dinheiro e dei de frosques com uma guia passada à pressa no BIG.
Assim e entre muitas deslocações que fiz, esta é a parte interessante, estive em Farim a fazer a liquidatária. A dada altura um soldado do PAIGC veio cumprimentar-me, vinha fardado com o que restava de um camuflado nosso, chamou-me pelo meu posto e nome, tinha desertado havia uns meses do BIG ou de Cufar, não me lembro ao certo, e apresentou-me seu Comandante e legitimo representante do Povo da Guiné-Bissau... tudo bem, estávamos em paz. Dirigiu-se a mim com pose militar e disse-me:
- Coment sa vá?... Bien?
Fiquei siderado..., falo algum francês, melhor do que escrevo, e daí em diante foi a língua possível entre nós, porque nem crioulo falava. Penso que este episódio se encaixa na verdade escondida do que era e ainda é hoje a pobre Guiné-Bissau, de que todos nós trouxemos um pouco na alma.
Até dia 20.
Um abraço e publica o que achares interessante deste meu contributo para o blogue.
João Lourenço
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4377: Tabanca Grande (145): João Lourenço, ex-Alf Mil do PINT 9288 (Cufar, 1973/74)
(**) Vd. poste de 21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4393: Tabanca Grande (146): Eduardo Alves, ex-Soldado Condutor Auto da CART 6250 (Mampatá, 1972/74)
Vd. último poste de 20 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4389: (Ex)citações (28): Ah! Grande Lourenço ou… confessando os nossos pecadilhos de Cufar 1973/74 (António Graça Abreu)
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