1. Mensagem de Armandino Alves, ex-1.º Cabo Auxilitar de Enfermagem da CCAÇ 1589, Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, 1966/68, com data de 14 de Outubro de 2009:
O nosso Camarada Armandino Alves enviou-me um e-mail, no passado dia 14 de Outubro, colocando-me algumas questões muito lógicas e pertinentes, pelo que, pelo seu interesse, lhe solicitei a devida permissão para publicação no blogue.
O Armandino, anuiu com algumas reticências, dado algum desconforto da sua parte, face a recentes críticas que ele considera injustas e um tanto abusivas, sobre alguns factos que ele relatou em postes anteriores.
A sua mensagem dizia o seguinte:
Amigo e Camarada Magalhães Ribeiro,
Há certas coisas que estão embutidas em nós, que é difícil as pessoas livrarem-se delas. Mas com o tempo a gente vai-se tentando corrigir.
Quanto a publicares no Blogue o que te escrevi faz o que quiseres. Já sei que vou ser bombardeado, mas já estou vacinado contra isso, desde que as “bombas” sejam, pelo menos, bem educadas.
Gostava de saber pelo Patrício Ribeiro, se quando ele foi a Lugajole haviam vestígios de alguma pista de aviação, pois, em caso afirmativo, era sinal que ali houvera uma base do IN e que o objecto que víamos voar ia para lá.
Creio que, mesmo que houvesse nesse tempo algo parecido, passados estes 40 anos já deviam ter desaparecido todas as evidências.
Eu falo por Béli, pois a foto que ele mandou, se não fosse o abrigo do morteiro 81, eu não reconhecia nada nela, pois naquele local não havia vegetação, nem árvores, estava tudo limpinho e em terra batida.
Tínhamos uma pista de aviação a que pusemos o nome de Bélissalanca.
Era muito mais fácil a deslocação do IN para atacar Béli e Medina, pois ficava mais ao menos a meia distância.
Eu não me acredito que o inimigo viesse do lado de lá da fronteira, para dar meia dúzia de tiros e depois andarem cerca de cem quilómetros para regressar.
E mais, para terem instalada toda aquela mobília para o pessoal que assistiu à proclamação, tinham que estar lá há muito tempo e saberem que o nosso pessoal desconhecia por completo aqueles lugares.
A nossa aviação teve tempo para destruir aquilo tudo antes da proclamação, pois enquanto montavam os cenários, não havia dignitários de outras potências.
Já aqui li trocas de acusações de traição, entre nós - os “pequenos” -, pois, para mim, os verdadeiros traidores foram os que nos obrigaram a ir para a guerra e depois aqueles que decidiram entregar as ex-Colónias de mão beijada, e, ainda por cima, pedirem desculpa por qualquer “coisinha”.
Isto já vai extenso mas há coisas que custa a engolir.
Vou então às causas que me levaram a escrever hoje:
- 2. Depois de ler a matéria que tem sido publicada no blogue, que tinha sido em Lugajole e não em Madina do Boé, como sendo o local onde foi declarada a independência da Guiné e que Lugajole ficava junto de Béli, resolvi consultar o mapa da Guiné no Google e fiquei admirado com o que constatei.
Afinal, além de Béli, o que tínhamos: do lado esquerdo – Pataque -, em frente e no caminho da Fronteira, surge-nos Ucha, Guissem e Balandugo e mais à direita, Lugajole, Dinguirai e Vendu Leidi (mesmo em cima da fronteira).
Eu hoje pergunto:
- Estes sítios eram habitados? E por quem?
Enquanto estive em Béli, todos os ataques que sofremos vieram do lado esquerdo, com uma única excepção do lado direito.
Como nós não saíamos do aquartelamento, todo o terreno, em frente e nos arredores, era considerado como “terra de ninguém”.
Como também de Madina do Boé, as operações eram lavadas a efeito pela NT num raio restrito, todo o território que se situava em frente e nos arredores era, do mesmo modo, considerado “terra de ninguém”.
E chegado aqui pergunto:
- E Lugajole não teria sido uma base do IN, que estava perfeitamente à vontade, pois, assim ninguém o incomodava?
Tenho lido muito sobre as grandes operações militares em vários locais da Guiné, e também intervi em algumas, mas, que eu saiba, nenhuma delas decorreu na região de Madina do Boé. E era uma região com centenas de quilómetros quadrados ao abandono.
- 3. Agora falando do héli silencioso, de que já vos dei conta em anterior poste, depois de muito matutar e tendo em atenção, que se isso fosse verdade, eu teria que ouvir um ruído semelhante ao que, por exemplo, oiço, hoje, emitido pelos hélis do SNS e da Protecção Civil.
Mas que andava alguma “coisa” no ar, isso é uma verdade indesmentível e reportada identicamente por vários camaradas a estes anos de distância. Por isso, continuei a pensar sobre o que é que andaria lá em cima a voar, movimentando-se com uma luz vermelha e que deslizava silenciosamente.
Um destes dias veio-me à memória a 2ª Grande Guerra e os filmes, que todos nós já vimos mais do que uma vez, e reparei nos planadores que eram rebocados por um avião convencional, e que depois de atingirem uma certa altura e velocidade eram largados, e iam aterrar atrás das linhas inimigas, transportando tropas, equipamentos e munições, para reforçarem e reabastecerem as suas tropas da retaguarda.
Será que o mesmo não teria acontecido na Guiné?
A luz que se via deveria servir para que o pessoal em terra, que os esperava iluminasse o local da aterragem.
Reparem que isto é minha mera suposição, pessoal, reforçada, porque tenho em conta a localização de Lugajole e a rota que a “coisa” voadora levava.
Não me admira nada que fosse para lá, levando abastecimentos e, como a distância até ao raio de captação dos radares de Bissau era muito grande, nunca os detectaram.
Mas tudo isto são conclusões minhas e, que eu saiba, nada está escrito para corroborar estas ilações pessoais.
Um cordial abraço,
Armandino Alves
1º Cabo Enf CCAÇ 1589
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Notas de M.R.:
(*) Vd. último poste da série em:
7 de Outubro de 2009 >