Guíné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) > O RPG 2 , uma das temíveis armas usadas pela guerrilha no Sector... Parte do armamento apreendido, era usado depois pelos Pelotões de Milícia... Segundo o autor das fotos, o Benjamim Durães, Fur Mil Op Esp, Pel Rec Inf, "o guineense, de óculos escuros, é um soldado milícia, de nome Demba Baldé, que era filho do Régulo do Xitole, pertencia à Companhia de Milícias e foi adstrito ao Pel Rec da CCS; os militares brancos são todos do Pelotão de Sapadores da CCS; os africanos ao fundo são da população de Amedelai; o Capitão é o Passos Marques, da CCS [e membro da nossa Tabanca Grande].... As fotos foram tiradas em Amedelai, numa vistoria ao armamento"...
Fotos: © Benjamim Durães (2010). Direitos reservados
[Continuação da publicação de excertos do Cap II da História do BART 2917, Bambadinca, 1970/72 - Documento classificado como "reservado" - , segundo versão policopiada gentilmente cedida ao nosso blogue pelo ex-Fur Mil Trms Inf, José Armando Ferreira de Almeida, CCS/ BART 2917, Bambadinca, 1970/72, membro da nossa Tabanca Grande; cotejada igualmente com a versão, em suporte digital, corrigida e melhorada pelo Benjamim Durães; é um excerto desta última versão que se publica aqui hoje. Fixação / revisão de texto / bold a cores / título: L.G.] (*)
Fonte: BART 2917. HU- Cap II, pp. 5 a 10A.
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Situação Geral
a) Terreno (...)
b) Aglomerados populacionais (...)
3) – POVOAÇÕES SOB O CONTROLO IN
- Os aglomerados populacionais que a seguir se indicam são os que, existindo antes do início de subversão, se localizam na área sob controlo IN e são os de maior população, o número de habitantes que para cada um se indicam foi estimado com base em relatórios de notícias, relatórios de interrogatórios e RVIS.
- MADINA
-Localizada em (
MAMBONCÓ 8G-1), estima-se possuir 1.500 habitantes
- CANCODEA BEAFADA
-Localizada em (
XIME 1G-2) com uma população estimada em 500 habitantes
- CANCODEA BALANTA
-Localizada em (
XIME 1F-3) com uma população estimada em 500 habitantes.
- MINA
-Localizada em (
XIME 1I-6) com uma população estimada em 100 habitantes.
Há referências de ali se localizar o Comando do Sector 2.
- PONTA JOÃO DA SILVA
-Localizada em (
FULACUNDA 8I-5) com uma população estimada em 1.000 habitantes.
- PONTA LUÍS DIAS
-Localizada em (
FULACUNDA 8G-3) com uma população estimada em 1.000 habitantes.
- SATECUTA
-Localizada em (
XIME 4E-1) com uma população estimada em 300 habitantes.
- MANGAI
-Localizada em (
FULACUNDA 7G-8) com uma população estimada em 700 habitantes.
- BANIR
-Localizada em (
MAMBONCÓ 8H-9) com uma população estimada em 400 habitantes.
c) - RECURSOS
- Os principais recursos económicos do SECTOR são:
- FLORESTAS
- Com o fornecimento de madeira (na área do XITOLE há grande quantidade de bissilon) e coconote.
- Antes do início do terrorismo a madeira era muito explorada, existindo várias serrações que, hoje em dia, com excepção da serração de BAMBADINCA, se encontram abandonadas. Presentemente apenas são exploradas as rachas de cibe.
- AGRICULTURA
- Esta é, de um modo geral, de subsistência (arroz, milho e funcho), com excepção de cana-de-açúcar e da mancara.
- DESTILARIAS
- Presentemente só existem duas destilarias de cana-de-açúcar no SECTOR DO BART, uma em BAMBADINCA e uma outra em PONTA BRANDÃO.
- SOLO
- Na área do SECTOR DO BART existem muitas bolanhas ricas, verificando-se no entanto que estas, com excepção das do ENXALÉ, NHABIJÕES e FINENTE, ou estão abandonadas (SAMBA SILATE, SÃO BELCHIOR, SALIQUINHÉ, etc.) ou são exploradas por populações sob controlo IN (todas as bolanhas da margem direita do RIO CORUBAL e margens do RIO MALAFO).
- CRIAÇÃO DE GADO
- Embora haja em certa quantidade gado bovino este no entanto, no SECTOR não pode ser considerado um recurso económico na medida em que não é explorado. É considerado sinónimo de riqueza, avaliando-se a riqueza da família pelo número de cabeças que possui. Somente em certas ocasiões especiais como por exemplo, “choros”, é que uma ou mais reses são abatidas para consumo.
- Existe no entanto outro tipo de gado, porcos, cabritos e galinhas que é explorado economicamente, sendo por conseguinte considerado como fonte de receita.
Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) >
Destacamento da Ponte do Rio Udunduma > Uma manada de vacas, cambando o Rio Udunduma... Possivelmente pertencentes a uma notável fula da região (Amedalai, por exemplo, que era a tabanca mais perto)... Só com muita relutância os fulas vendiam cabeças de gado à tropa...´O gado era, tradicionalmente, um "sinal exterior de riqueza", um símbolo de "status" social...
Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados
d) – CONDIÇÕES CLIMÁTICAS E METEOROLÓGICAS
- A zona de acção do BART 2917, como todo a Província da GUINÉ, tem um clima quente e húmido característico das regiões tropicais em que apenas se assinalam duas estações, a “quente” ou das “chuvas”, que começa em meados de MAIO e se estende até meados de NOVEMBRO, e a estação a “seca” e “fresca”, durante o restante período do ano.
- Na época das chuvas a humidade atmosférica é bastante elevada e a temperatura média, à sombra, oscila entre 26 e 28 graus centígrados.
- A pluviosidade é superior em média a 2.000 m/m, sendo os meses de JULHO e AGOSTO, os que registam maior número de dias de chuva. A pluviosidade na ZONA DE ACÇÃO é menor do que no litoral e sul da Província.
- As temperaturas médias da época seca não vão além de 24 graus centígrados sendo meses mais frescos os de DEZEMBRO e JANEIRO.
- No que respeita a temperaturas, podemos dividir o ano nos seguintes quatros períodos:
- PERÍODO FRESCO
- No qual se verificam amplitudes térmicas elevadas e que abrange os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro.
- PRIMEIRO PERÍODO QUENTE
- Durante os meses de Março, Abril e Maio, em que as variações térmicas são ainda de certo vulto especialmente nos meses de Março e Abril.
- PERÍODO DAS CHUVAS
- Que se estende pelos meses de Junho, Julho, Agosto e Setembro.
- SEGUNDO PERÍODO QUENTE
- Abrange os meses de Outubro, Abril e Novembro.
- A época das chuvas faz-se anunciar pelos chamados “TORNADOS”, característicos pela grande velocidade do vento enorme turbulência, que quase sempre provocam estragos avultados descobrido edifícios, inutilizando instalações eléctricas, derrubando antenas de rádio, etc..
- Nos meses “frios” do ano – Dezembro e Janeiro – as cerradas neblinas matinais prolongam-se normalmente até à 10,00 horas.
2 - INIMIGO
a) – FORMAS DE ACTUAÇÃO
- O IN tem actuado ofensivamente sobre as NT minando os itinerários e flagelando os aquartelamentos, tabancas em A/D (Auto Defesa) e meios navais que se deslocam no RIO GEBA nas áreas de PONTA VARELA e MATO DE CÃO. De um modo geral todas as flagelações têm demorado cerca de 5 minutos, são feitas a horas que não permitem, ou dificultam a intervenção das F. A., e nelas o IN tem demonstrado fraca agressividade.
Pelo contrário, tem-se mostrado fortemente aguerrido quando as NT penetram nos seus redutos, quer emboscando-as nos seus acessos, quer armadilhando-os, quer flagelando intensamente as NT.
- Admite-se que tenha uma rede de informadores no seio da população por nós controlada.
- Não há indícios que o IN tenha feito colectas entre a população que controlamos embora seja de admitir a sua “colaboração” nos “choros” de familiares realizados nas zonas sob controlo IN.
b) - ORGANIZAÇÃO
- Parte do Sector L-1, com excepção do Regulado do ENXALÉ e da parte Oeste do Regulado do CUOR,
corresponde na divisão territorial do IN ao Sector 02, também conhecido por
região do XITOLE (hoje incluída na Frente XITOLE/BAFATÁ) e cujo comando está localizado na área de MINA.
Nesta região o IN mantém uma estrutura político-administrativa organizada, numa vasta área correspondente aos Regulados do XIME e BISSARI, a partir donde irradia a sua actividade de guerrilha que se caracteriza por ataques e flagelações aos aquartelamentos e destacamentos das NT, às tabancas em A/D, e aos meios navais no RIO GEBA “estreito”, emboscadas e colocação de engenhos explosivos nos itinerários.
- A Zona do Sector L-1 que engloba o Regulado do ENXALÉ e a parte Oeste do Regulado do CUOR, está incluída na
Frente MORÉS-NHACRA.
Nesta zona a actividade IN está principalmente orientada para as áreas fora dos limites do Batalhão, embora ultimamente se tivesse manifestado sobre o CUOR, nomeadamente em MATO DE CÃO.
c) – EIXOS OU LIMITES DE INFILTRAÇÃO
- Podem-se considerar os seguintes:
1) – Do exterior para o interior do SECTOR;
- Corredor de GUILEGE / CANTURÉ / FIOFIOLI
- Corredor de GUILEGE / FARENÁ BALANTA / FIOFIOLI
- Corredor de GUILEGÉ / UANÁ PORTO / PONTA LUÍS DIAS
- Corredor de MANTÉM / QUEBÁ JILÃ / MANSONA / MANSOMINE
- Corredor de CHÃO NALU / GANTURÉ / RIO MALAFO / CHEREL / BUMAL / LAMEL ou SITATÓ
- Corredor de QUIRAFO/DUÁ/CULOBO/GALO e CORUBAL/MINA
2) – No interior do SECTOR
- Corredor de MINA / GÃ JÚLIO / GALO CORUBAL / ZONA DO XITOLE
- Corredor de MINA / GÃ JÚLIO / BIRO / MANSAMBO
- Corredor de MINA / GONEGE / MANSAMBO
- Corredor de BURUNTONI / GONEGE / BOLÓ / MORICANHE
- Corredor de BURUNTONI / CHICAMIEL / DEMBA TACÓ / BADORA
- Corredor de BURUNTONI / CHICAMIEL / TAIBATÁ / BADORA
- Corredor de BURUNTONI / CHACALI / AMEDALAI / BAMBADINCA
- Corredor de BURUNTONI / MADINA COLHIDO / XIME
- Corredor de BURUNTONI / CHACALI / AMEDALAI / BAMBADINCA
- Corredor de BURUNTONI / CHACALI / PONTA COLI
- Corredor de BURUNTONI / GUNDAGUÊ BEAFADA / PONTA VARELA
- Corredor de PONTA JOÃO DA SILVA / PONTA DO INGLÊS / POINDON
- Corredor de MADINA / CABUCA / PONTA LUÍS / ENXALÉ
- Corredor de MADINA / SINCHÃ CORUBAL / MATO CÃO / FINETE
- Corredor de BANIR / QUEBÁ JILÃ / SANCORLÃ / MISSIRÁ / FINETE
- Corredor de MADINA / IARICUNDA / SÃO BELCHIOR.
d) – DISPOSITIVO DO IN
- Nas zonas que o IN efectivamente controla no SECTOR, implantou uma organização e hierarquias paralelas Administrativa-Militar cuja estrutura em pormenor é ainda mal conhecida.
Na primeira, definida pelo RIO CORUBAL, entre a foz do RIO BURUNTONI e RIO PULON, por uma linha imaginária que une a foz deste último à nascente do RIO BURUNTONI e por este rio até à sua foz,
está referenciada a existência do Comissário Político PEDRO LANDIM que com as FARL controla toda a população civil, sendo JORGE JOÃO BICO aparentemente o Comandante Militar da mesma Zona, esta está, dentro da organização IN, incluída na
FRENTE BAFATÁ-XITOLE, SECTOR 02, e dispõe dos seguintes efectivos:
- Um Grupo, Comandado por MAMADU TURÉ na área de TUBACUTA.
- Um Grupo, Comandado por INCUDE na área de GÃ JÚLIO.
- Um Grupo, Comandado por MÁRIO MENDES (**) na área de SATECUTA.
- Estes quatros Grupos permutam entre sí com frequência as áreas em que actuam.
- Dispõe o IN ainda na zona, em permanência, de um Grupo Especial de Bazookas comandado por VITORINO COLUNA COSTA, normalmente estacionado na área de GÃ JOÃO e de um Grupo de Sapadores comandado por MÁRIO NANCASSA.
Frequentemente o IN balanceia os meios da Frente BAFATÁ-XITOLE com os da Frente do QUINARA pelo que na situação de esforço sobre a Frente BAFATÁ-XITOLE (incluí toda a zona do Sector L-1 a sul do RIO GEBA) os efectivos indicados podem ser substancialmente reforçados.
- Na segunda área que compreende a área do REGULADO DO CUOR a norte dos RIO QUEBÁ JILÃ e RIO PASSA, e a área do REGULADO DO ENXALÉ para Oeste da linha ENXALÉ-MADINA,
está referenciado o Comissário Politico LOURENÇO, e o Comandante Militar OSVALDO MÁXIMO VIEIRA que aparentemente, como membro do BUREAU do Partido, exerce o controlo de cúpula, em ambas as hierarquias Militar e Civil.Esta área está dentro da
Frente MORÉS-NHACRA em que se situa toda a Zona do SECTOR L-1 a Norte do RIO GEBA e além dos diversos elementos da FAL dispõe em permanência dos seguintes núcleos das FARP:
- Um Bi-Grupo na área de MADINA-ENXALÉ comandada por IMBADE.
- Um Grupo destinado a atacar barcos e possivelmente localizado no CUOR.
- Dois Morteiros da Bateria de BESSUNHA.
- Um Grupo de Sapadores comandados pelo ARMANDO.
- Ainda nesta Frente, mas fora da Zona de Acção do Batalhão e com possibilidade de nele intervir, dentro do normal balanceamento de efectivos que o IN utiliza, estão referenciados os seguintes Grupos:
- Um Bi-Grupo comandado por FAI TURÉ.
- Um Bi-Grupo comandado por CAMARÁ.
- Um Bi-Grupo comandado por INFANDA NAMENA.
- Uma Bateria não identificada.
- Um Grupo de Foguetões comandado por AGNELO DANTAS.
- Todos estes efectivos pertencem ao C.E. 199 C/70 das FARP.
e) – POSSIBILIDADES
- O IN tem as seguintes possibilidades no SECTOR L-1:
1 – Reforçar os efectivos existentes na região XIME / BISSARI com unidades vindas da frente Sul especialmente da região do QUINARA.
2 – Reforçar os efectivos existentes na área MADINA / BELEL por unidades da região de SARA/SARAUOL região a que se encontra intimamente ligada operacional e logisticamente.
3 – Prover às necessidades de alimentação com os produtos cultivados pela população, nas bolanhas situadas na área que domina.
4 – Obter reabastecimentos
5 – Obter informações.
6 – Recrutamento de pessoal destinados aos Grupos Armados.
7 – Executar acções de terrorismo (sabotagem e destruições).
8 – Manter as acções de fogo sobre os aquartelamento das NT sobre os quais vem actuando do antecedente e orientar a sua acção a novas povoações.
9 – Utilizar novas linhas de infiltração que:
- Do BOÉ conduzam aos Regulados do XIME e BADORA através da faixa Norte do Regulado do CORUBAL.
- Da área do XIME/BISSARI conduzam à Estrada BAMBADINCA/BAFATÁ.
10 – Efectuar acções de barragem à navegação dos RIO CORUBAL e RIO GEBA em especial a W do XIME, na área de PONTA VARELA.
11 – Resistir nos seus redutos quando atacados pelas NT.
12 – Armadilhar e emboscar os acessos aos seus acampamentos.
13 – Colocar engenhos explosivos nos itinerários mais frequentemente utilizados pelas NT.
f) – AGRESSIVIDADE
- É aguerrido quando atacado nos seus redutos e é apoiado por grande potência de fogo. No entanto as suas acções ofensivas não se caracterizam por uma grande agressividade, sendo em geral pouco duradoiras.
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Notas de L.G:
(*) Vd. postes anteriores da série:
17 de Maio de 2010 >
Guiné 63/74 - P6413: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (1): Populações controladas pelas NT e pelo PAIGC, ao tempo do BART 2917 (1970/72) (José Armando F. de Almeida / Luís Graça)
20 de Maio de 2010 >
Guiné 63/74 - P6437: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (2): O Fula, a sua lealdade,o seu preço (José Armando F. de Almeida / Luís Graça)
30 de Maio de 2010 >
Guiné 63/74 - P6499: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (3): Quando Mandinga já não quer dizer turra, mas quando ainda não se esquecem os desmandos feitos pelas NT no início da guerra (J Armando F. Almeida / Luís Graça)
2 de Junho de 2010 >
Guiné 63/74 - P6519: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (4): Os balantas; as diversas individualidades (J. Armando F. Almeida / Luís Graça)
8 de Junho de 2010 >
Guiné 63/74 - P6557: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (5): A zona de acção do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e os seus principais aglomerados populacionais (Benjamim Durães / J. Armando F. Almeida / Luíos Graça)
(**) Segundo informação do
António Duarte (da 3ª terceira geração de quadros metropolitanos da CCAÇ 12, e membro da nossa Tabanca Grande), o "Mário Mendes, comandante de bi-grupo na zona do Xime, foi morto numa acção da CCaç 12 no final de 1972: numa deslocação feita para lá de Madina Colhido, foi abatido pelo apontador de HK21 do 4º pelotão".
Comentário do poste de 24 de Fevereiro de 2010 >
Guiné 63/74 - P5878: PAIGC: um curioso croquis do Sector 2, área do Xime, desenhado e legendado por Amílcar Cabral (c. 1968) (Luís Graça)