Deste nosso camarada foi já publicado o poste 7075* com o relato da sua passagem pela Guiné, publicado no Correio da Manhã, na série de Domingo "A minha guerra", profusamente ilustrado com as suas fotos.
Do referido poste, destacamos estas suas palavras:
Alberto José dos Santos Antunes, 63 anos de idade, natural de Coimbra a residir actualmente em Ançã, Concelho de Cantanhede, Distrito de Coimbra, casado, dois filhos e duas netas, Ex-Furriel Miliciano de Transmissões de Infantaria, actualmente Engenheiro aposentado do Departamento de Física Universidade de Coimbra.
Em 8 de Janeiro de 1969 fui forçado a abandonar os estudos em Coimbra, para frequentar o 1.º ciclo do Curso de Sargentos Milicianos, na Escola Prática de Cavalaria em Santarém.
Após tirar a Especialidade de Transmissões de Infantaria em Tavira fui colocado RAL 2 em Coimbra, mas por razões que até hoje não consegui apurar (fui parar) ao RI 8 em Braga para dar instrução a recrutas do contingente geral.
Fui mobilizado para a Guiné, sem destino definido, quando ainda me encontrava no RI 8 em Braga.
Marcado o embarque para antes do Natal de 1969, adiado para depois do Natal desse ano, embarquei no Navio Mercante Arraiolos que dispunha de sete camarotes e transportava material de guerra, tendo sido promovido a Furriel Miliciano à data de embarque, fiz a viagem com mais seis elementos da classe de sargentos.
A chegada à Guiné não foi muito surpreendente pois nunca tive ideia de encontrar uma província desenvolvida.
Tinha um lema que era “viver um dia de cada vez e pensar que o dia seguinte seria melhor que o anterior ” o que me ajudou a passar o melhor possível os 2 anos e seis dias de comissão.
[...]
Não pretendo dizer que sou melhor ou pior que os outros pois cada um tem a sua maneira de sentir as situações, e perante certas situações uns choram outros riem e outros ainda não choram nem riem.
Considero que fiz amizades que ainda hoje perduram, e quando se fala com alguém que já não se vê há quase 40 anos e se consegue manter um diálogo e dar um abraço, é porque algo existe entre essas pessoas.
Nunca iria voluntário para uma guerra destas, mas depois de lá estar teria que fazer o meu melhor, pois de mim dependia muita gente.
Claro que tinha um grupo de homens bons, de que muitos não se podem orgulhar, mas esses homem tem que ter confiança em quem o chefia, tentei e tenho a certeza que consegui.
2. Comentário de CV:
Caro Alberto Antunes, bem-vindo à tabanca. Estás oficialmente apresentado à tertúlia.
Pelo que me foi dado perceber pela tua narrativa, foste mais um dos que sentiram o curso normal da sua vida alterado profundamente. Todos nós, uns mais que outros, sofremos essa perturbação nos nossos estudos e/ou na vida profissional. Quando voltávamos à vida civil, ou os currículos escolares estavam desactualizados, e quantas vezes era necessário voltar ao princípio, ou tínhamos estagnado nas carreiras profissionais, sendo por vezes ultrapassados pelos mais novos.
Agora que te juntaste a nós, esperamos pelas tuas histórias, e fotos referentes a um período da vida que não quisemos, mas, que como bem dizes, não rejeitámos, porque a responsabilidade exigia fazermos o melhor para salvaguardar a vida daqueles que estavam à nossa responsabilidade.
Recebe um abraço de boas-vindas da tertúlia e dos editores deste Blogue.
O camarada e amigo
Carlos Vinhal
__________
(*) Vd. poste de 3 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7075: Recortes de imprensa (33): A guerra do Alberto José dos Santos Antunes, ex-Fur Mil da CCaç 5 (Correio da Manhã)
Vd. último poste da série de 30 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7060: Tabanca Grande (246): Gil Moutinho, ex-Fur Mil Pil Av, BA12 (Guiné, 1972/73)