Guiné-Bissau > Bissau > 16 de abril de 2006 > "Voltar ou não voltar, eis a questão"...
Guiné-Bissau > Bissau > 21 de abril de 2006 > TAP-Air Portugal... "Partir ou não partir, eis a questão"...
Guiné-Bissau > Mansoa > 16 de abril de 2006 > O alfaiate de Mansoa... Ou imagens que perduram
Guiné-Bissau > Bissau > 13 de abril de 2006 > O pobre do Dari agrilhoado... Uma imagem com um grande carga emocional e simbólica...
Fotos: © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendas: L.G.]
Imagens, sempre belíssimas e cheias de simbolismo, do álbum do nosso amigo Hugo Costa, filho do nosso camarada Albano Costa, documentando a viagem por terra, do Porto a Bissau, organizada pelo Xico Allen, em Abril de 2006, bem como a viagem emocionante pelo interior da Guiné-Bissau, a partir de Bissau e do Saltinho (que os levou a vários sítios, de norte a sul e de leste a oeste: Bissau, Quinhamel, Mansoa, Mansambá, Barro, Bigene, Farim, Jumbembem, Canjambari, Xime, Fá Mandinga, Mansambo, Saltinho, Buba, Empada, Judugul, Bissau). A caravana era constituída por um único... jipe, que levou seis pessoas (!): além do Xico e da Inês Allen, o Hugo Costa, o A. Marques Lopes, o Armindo e o Manuel Costa.
Recorde-se que essa viagem ficou registada numa série de crónicas assinadas pelo A. Marques Lopes, na I série do nosso bogue (pelo menos, uns 26 postes: Do Porto a Bissau), bem como em alguns apontamentos do Albano Costa (que, dessa vez, ficou na terra, em Guifões, Matosinhos, onde é fotógrafo profissional)... Vd. também aqui um excelente vídeo feito recentemente pelo Hugo Costa em 2012, "A outra Guiné" (Ficha técnica: produção: Universidade do Porto, 2012; realização: Hugo Costa e Tiago Costa: diretor de fotografia: Hugo Costa; som: Hugo Costa... Duração: 9' 27'').
O Hugo Costa já tinha ido à Guiné, com o pai, em Novembro de 2000. Fica, mais uma vez, a nossa homenagem a ambos, pai e filho. (LG)
1. Resultados parcelares da resposta à sondagem em curso, no nosso blogue, a dois dias do encerramento... Até hoje, dia 28, às 13h45, tinham respondido 262 camaradas... A grande maioria (n=172) concorda com a proposição "Muito sinceramente, não gostaria de morrer, sem um dia ainda poder voltar à Guiné"... Estamos a falar de 68,3% do total de respondentes (n=262). Só uma pequena minoria (n=17), menos de 6,5%, manifesta desacordo explícito. Outros tantos (n=18)(7%) "não discordam nem concordam", ou seja, têm uma atitude "neutra"...
Os restantes respondentes (n=48) (18,3%) já voltaram à Guiné-Bissau, uma vez (n=28) (10,7%) ou mais vezes (n=20)(7,6%).
Conclusão: apesar do "sangue, suor e lágrimas", apesar da guerra, das mortes, dos feridos, das privações, do sofrimento, da distância, etc., a Guiné, ou uma certa Guiné, ficou no nosso imaginário, nas nossas memórias, enfim, não morreu no nosso coração.... É legítimo interpretar esses resultados desta maneira ?... (LG)
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SONDAGEM: "MUITO SINCERAMENTE, NÃO GOSTARIA DE MORRER, SEM UM DIA AINDA PODER VOLTAR À GUINÉ"...
Discordo totatmente > 9 (3%)
Discordo em parte > 4 (1%)
Discordo > 4 (1%)
Não discordo nem concordo > 18 (6%)
Concordo > 51 (19%)
Concordo em parte > 16 (6%)
Concordo totalmente > 112 (42%)
Não aplicável, já lá voltei uma vez > 28 (10%)
Não aplicável, já lá voltei mais do que uma vez > 20 (7%)
2. A propósito desta sondagem, o nosso camarada António J. Pereira da Costa [, cor art ref] fez, com toda a legitimidade, uma crítica metodológica ao "questionário", por meio de mensagem que nos chegou por mail, com data de ontem, às 22h44, e que passamos a transcrever:
Olá, Camarada.
Não tenho conhecimentos para apreciar um inquérito ao sentir ou às opiniões de um dado grupo. Contudo, este não me parece particularmente feliz e, por isso, permito-me uma crítica. E senão, vejamos:
O respondente é confrontado com uma afirmação: MUITO SINCERAMENTE, NÃO GOSTARIA DE MORRER, SEM UM DIA AINDA PODER VOLTAR À GUINÉ... e com qualquer afirmação ou se concorda ou não e nunca fará sentido perguntarmos se pouco sinceramente... ou até muito sinceramente. Ao inquérito presume-se que quem responde, responde sinceramente e só isso. Uma resposta dada pouco sinceramente não terá valor.
No que toca às respostas, creio que não se põe o problema de “discordar totalmente”, de “discordar em parte” ou de “discordar” (simplesmente). Qual a diferença entre as três hipóteses?
Com uma visita à Guiné, se se discorda é porque lá não se quer ir e nada se fará para tal. As graduações do tipo total, em parte ou nada não fazem sentido.
Aceito o “não discordo nem concordo”, ou seja, “a Guiné ficou para trás e hoje diz-me pouco ou nada” é o que se pretende dizer. Por isso, não é uma prioridade. Há outros destinos mais atraentes no mundo…
E há também a experiência do resto da vida de cada um que pode determinar que surjam muitos outros destinos mais significativos e por diversas razões.
Segue-se o “concordo” que faz todo o sentido. Alguém que por lá andou, gostava de voltar e até posso aceitar o "concordo totalmente", aplicável aos que têm muito desejo de voltar. Mas, sinceramente graduar a concordância também não faz sentido. Poderemos, quanto muito, admitir que quem gostar de voltar à Guiné poderá estar seriamente empenhado nisso e, nesse caso, concorde, mas nunca em parte. E porquê falar em concordar totalmente?
Quanto aos “não aplicável”, entendo-os, pois assim ficamos a saber quem já voltou uma ou mais vezes e isso tem interesse estatístico.
Um Abraço do
António Costa
Meu caro Tó Zé:
São bem vindas as tuas críticas à formulação da questão que é, esta semana, objeto da nossa sondagem, bem como à escala (chamada
"escala de Likert") que serve para obter as respostas. Curiosamente, o desenho, a redação, a validação e a aplicação de questionários e outros instrumentos para recolha de opiniões (por ex., escalas de atitudes) são matéria que eu ensino há anos, na universidade.
Trata-se de matéria complexa e difícil, e para a qual não há "receitas de cozinha" ou "dicas prontas a servir"... Claro que há uma longa experiência acumulada, há muitos manuais publicados, eu próprio tenho textos de apoio, para os meus alunos, sobre esta e outras matérias no âmbito do ensino da metodologia da investigação social e em saúde.
Vou começar por te dizer o que pretendi saber com mais esta sondagem. Sublinho, mais uma vez, que os resultados destas sondagens não podem ser extrapoladas para nenhuma população ou universo: por exemplo, o universo dos cerca de 150 mil combatentes que fizeram, do nosso lado, a guerra colonial na Guiné (. Trata-se de um estimativa, não sabemos ao certo se 150 mil, se são 200 mil). Se no final, no dia 30 do corrente, eu tiver atingido as 300 respostas, e se 20% responder que já voltou à Guiné, uma ou mais vezes, eu não poderei concluir que um em cada cinco dos nossos camaradas que passaram pela Guiné, entre 1961 e 1974, já la voltou... Seria abusivo, seria manipulação estatísticas... E porquê ?
Primeiro, o nosso blogue não representa o universo ou a população dos antigos combatentes. Terão passado pelo TO da Guiné cerca de mil unidades e subunidades, segundo as contas do José Martins... Nós só temos 642 membros registados e nem todos foram combatentes: há combatentes e amigos da Guié (deste naturais da Guiné a familiares de camaradas nossos, já falecidos)... Na melhor das hipóteses, temos em média 0,6 representantes por unidade ou subunidade... Em suma, o blogue só nos representa a nós, os 642 grã.tabanqueiros, dos quais 30 infelizmente já não são vivos... E os que estão representados no nosso blogue aderiram voluntariamente... Isto quer dizer, que os restantes 99,4 em cada 100 estão fora do baralho...
Por outro lado, o blogue tem um universo de visitantes (cerca de 2500 / dia, em média, neste momento) que nós não podemos, com rigor, caraterizar, em termos sociodemográficos....E não podemos impedir a votação de um não combatente (familiar de um camarada nosso, já falecido, por ex.). O que o software do Blogger nos garante é que só se pode votar uma única vez (a nível do mesmo computador), embora se possa mudar o voto durante o período de vigência da sondagem...
Vamos agora à questão: "MUITO SINCERAMENTE, NÃO GOSTARIA DE MORRER, SEM UM DIA AINDA PODER VOLTAR À GUINÉ"...
Trata-se de uma proposição, enfática, que funciona como "estimulo" para uma resposta de tipo: sim (concordo) ou não (discordo)...
(i) Quem responder "concordo", revela uma atitude "favorável" ao (ou o desejo de) regresso à Guiné-Bissau, antes de norrer;
(ii) Quem responder "discordo", revela uma atitude "desfavorável" à hipótese desse regresso (em termos de desejo ou vontade);
(iii) Atenção: não se pretende saber se essa hipótese tem muitas probabilidades de se concretizar; não confundir o "desejo" com a "realidade"; na maioria dos casos, esse desejo, essa vontade, essa atitude favorável a um regresso à Guiné, numa eventual "viagem de saudade", não se irá concretizar, por razões de oportunidade, de custo/benefício, etc., já que poderá naverá problemas financeiros, de saúde, de conjuntura, etc. ;
(iv) mas foi também por isso que, para além da opinião (positiva/negativa, favorável/desfavorável), quisemos saber a "intensidade da opinião"; daí o recurso à "escala de Likerk", que pode ter 5 ou 7 posições (ou graus ou níveis), indo do "discordo totalmente" ao "concordo totalmente"...
Tó Zé, o teu reparo em relação â questão formualda tem razão de ser: ela poderia ser mais curta, assertiva, e vir na voz ativa... São opções, com risco calculado. Quis dar uma certa carga emocional, quis implicar os respondentes... Claro que tu podes decompô-la em três partes:
Muito sinceramente + não gostaria de morrer + sem um dia ainda poder voltar à Guiné...
Ora a oração ou proposição tem que ser lida como um todo, sem separação, já que "muito sinceramente, eu não gostaria de morrer"...Acho que nenhum de nós "muito sinceramen te, gostaria de morrer"... Mas, antes de cumprir esse desígnio, inerente à nossa condição de seres vivos, finitos, mortais, podemos admitir a hipótese de alguns de nós, uma parte de nós ou até a maioria de nós, ter ainda a vontade ou o desejo de voltar ao "local do crime"... antes de "bater as botas".
A diferença semântica entre concordar/discordar "totalmente" ou "em parte" ? No meu entender, quer significar apenas isto: concordar/discordar "sem reservas" ou "com reservas"...
Enfim, não me quero alongar, mas há críticos, em relação à escala de Likert, que não entendem a distinção entre "concordar em parte" e "discordar em parte"... Seriam graus ou níveis equivalentes: quem concorda em parte, discorda em parte...
São subtilezas da língua: de qualquer modo, a "atitude" [, sentimento, emoção, distinta de "comportamento",] só pode ser inferida de uma "opinião", tendo um polo positivo ["Gostava de ir à Guiné"] e um polo negativo ["Não gostava de ir à Guiné"], e um polo neutro ["Não sei / É-me indiferente, ir ou não ir à Guiné"].
Um alfabravo. Luis Graça