Tavira > 2 de fevereiro de 2014 > Estação da CP
1. Julgo que não mudou muito, a estação da CP, no Largo de Santo Amaro, a escassas centenas de metros do quartel da Atalaia (onnde ficava o CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos)... Lá está o velho relógio para mostrar que o comboio nunca chega(va) à tabela, os azulejos, os bancos de madeira... Os carris são novos... Ronceiro é o comboio, ronceira era a vida da gente...
Levávamos um dia a chegar até aqui... Quem vinha da Oeste estremenho, como eu, das Caldas da Rainha, do Bombarral ou de Torres Vedras, apanhava a linha do Oeste, até Lisboa, estação do Rossio; depois um "cacilheiro" até ao Barreiro, linha do Alentejo, linha do sul, linha do Algarve... Não me perguntem as estações: sabia-lhas de cor e salteado quando fiz o exame da 4ª classe, na Lourinhã, e depois o exame de admissão ao liceu, em Lisboa ... As estações do caminho de ferro, os rios e os seus afluentes... O que eu já não me lembrava era do Rio Séqua que muda de nome para Rio Gilão ao chegar à ponte romana da cidade deTavira. Vem lá Serra do Caldeirão... Sabia, isso sim, que o Gilão desagua na Ria Formosa, no sítio das Quatro Águas, para onde fui/fomos muitas vezes em marchas forçadas, para chafurdar nas salinas, como parte do programa de instrução militar de qualquer valoroso e brioso miliciano, com altíssima probabilidade de ir molhar os "cueiros" às bolanhdas da Guiné...
O interior da estação tem um ar mais lavado, um painel de azulejos, pintados à mão, com a mítica ponta romana sobre o Rio Gilão cujo empredado também ajudámos a polir, e em segundo plano a bela Tavira do casario branco e das torres das igrejas... Destaque para a torre sineira da Igreja de Santa Maria do Castelo, construída no séc. XIII, no local da primitiva mesquita, no recinto amuralhado do velho castelo... Não tenho a certeza, mas paraceu-me que o gigantesco relógio, quando por lá passei, no largo do Abu-Otmane, estava parado desde esse longínquo dia em que deixei Tavira, a caminho de Castelo Branco, no BC6, já com o posto de 1º cabo miliciano, nos princípios do ano de 1969...
Lá fora, à saída da estação, um conjunto escultórico, em bronze, em forma de dois "cata-ventos": ele, o militar que diz adeus, talvez definitivo e com um nó na garganta; e ela, a linda morena de Tavira que ficava, em terra, e quem sabe,,, com uma sofrida história de amor para contar, 40 anos depois aos seus netos...
O trabalho artístico data de 2001 e é da autoria do artista belga Francis Tondeur. É uma homenagem do município de Tavira à "memória militar" da cidade cuja origem se perde nos tempos em que fenícios, e depois romanos, e depois mouros, e depois cristãos lhe deram corpo e alma... É uma belíssima e sentida homenagem ao "passado militar [mais recente] da cidade, embelezando com os cata-ventos que marcam o movimento, a luz e a dinâmica dos contactos desta terra"...
A Alice Carneiro e os meus cunhados Nitas (irmã da Alice) e Gusto acompanharam-me neste fim de semana de "regresso ao passado", às minhas já desfocadas recordações do tempo de tropa que aqui passei. Fiz, no quartel da Atalaia, no CISMI, a especialidade de armas pesadas de infantaria, no último trimestre de 1968... Fiz questão de redescobrir e revisitar o trajeto e os lugares...
Em Tavira já tinha passado algumas, em férias, como apressado turista, mas nunca com a intenção de revisitar os lugares da minha memória de miliciano... São memórias (manuscritas) que ficam para os próximos postes...
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Nota do editor: