Quinquagésimo primeiro episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.
Guerra, guerra e guerra, lá vamos outra vez parar ao
interior da Guiné!
Vamos abrir aquele miserável diário, que não é diário
nenhum, é mais um amontoado de folhas, vejam lá que até lá estão uns pedacinhos de ferro, dentro de um plástico, que deviam ser
aqueles plásticos que vinham a embrulhar uma qualquer escova dos
dentes, que possivelmente o Cifra apanhou em algum lugar, pois
hoje não se lembra se alguma vez usou uma escova dos
dentes, durante a sua permanência lá naquele conflito. O Cifra nunca foi educado para usar
esse objecto, e creio mesmo que lhe
devia de fazer alguma confusão, e
até talvez “cócegas” na boca ao
esfregar com a referida escova e, o
álcool roubado ao “Pastilhas”,
lavava tudo até os órgãos
interiores do corpo, como por
exemplo o fígado.
Continuando, dentro desse
plástico, também lá vem um
papelinho dizendo
que são estilhaços de granada. Aqui já começa a ser “doença”...
guardar isto para quê? Bem, esse resumo será para outra conversa, hoje vamos abrir
umas tantas páginas e concentrar-nos no costume, que é quase
tudo aquilo que os seus companheiros do pelotão de morteiros e
não só, lhe relatavam, depois do seu regresso das patrulhas e
operações no “mato”. O mais
detalhado nos pormenores era o
Trinta e Seis, pois tinha fama de “não fala
mentira”, era responsável demais para a sua
idade, e às vezes o Cifra ficava
embaraçado, pois não
sabia se estava a falar para um
companheiro, ou para um irmão
mais velho, ou mesmo para um pai. Relatava ao Cifra as emboscadas,
as aflições, os momentos de
pânico, com alguns pormenores,
que faziam o Cifra às vezes ficar
com lágrimas nos olhos, mas vamos
avançar, o diário,
diz assim:
No dia 26 de Outubro, que
devia de ser de 1964 - Pela
manhã, houve uma festa de
despedida no aquartelamento de
duas Companhias que estavam
estacionadas na zona operacional do Oio, e actuavam sobre ordens
do Comando do Agrupamento a que o Cifra pertencia, estando parte
dos militares dessas Companhias estacionadas no
aquartelamento de Mansoa. Pararam as obras no aquartelamento,
houve rancho melhorado, cada um teve direito, em vez de um, a dois ou três
púcaros, (que também serviam o café pela manhã, e que se tiravam
da bacia de alumínio, que estava no meio da mesa, cheia de
vinho, que afinal era a mesma bacia, que às vezes servia o arroz
com peixe da bolanha), de vinho, houve “batuque”, fizeram-se discursos, houve sorrisos e algumas lágrimas,
seguindo as referidas Companhias em veículos militares para o
cais de embarque, na capital da província.
À noite, por volta das 23,30 horas, desenrolou-se um forte
ataque ao aquartelamento, que principiou com três ou quatro tiros
isolados, seguidos de rajadas de metralhadora. Começaram a cair
sobre o aquartelamento granadas de morteiro, ainda não havia
abrigos com eficiência, ainda estavam a começar a construir-se,
gerando-se algum pânico. Ficaram feridos cinco militares, uma
granada caiu, talvez a vinte metros do Cifra, que estava metido
no “abrigo do Olossato”, que era como o Cifra e alguns, camaradas lhe chamavam por ser parecido com os que foram construídos no Olossato, que fora construído na parte sul do
aquartelamento, junto do dormitório e com mais segurança. Nesse
momento o Cifra estava tolhido de medo, mas com o rosto de
fora, viu o clarão da explosão e andou com a cara vermelha
e queimada, os olhos também vermelhos, a ver e a ouvir com
dificuldade durante algum tempo.
Os militares saíram a bater a
zona, por sorte não foram para a estrada que seguia para
Mansabá, pois ao outro dia vieram avisar o aquartelamento de que
estava um fornilho montado com oito quilos de explosivos na
referida estrada, tendo vindo um grupo de militares especiais da
capital da província para o desmantelar. Houve depois
informações, que alguns dos africanos, que andaram no “batuque”,
pela manhã, eram guerrilheiros disfarçados, e sabiam que os
militares não tinham muita
segurança, pois estavam
desfalcados da presença de parte
dos militares que estavam
estacionados em Mansoa,
pertencentes às duas Companhias
que regressaram à capital da
província.
As explosões das
granadas destruíram parte das
obras.
Quando o Pastilhas, que
era o Cabo Enfermeiro, colocava
uma pomada branca na cara
inflamada do Cifra, em atitude
de brincadeira, dizia-lhe:
- Anda, vai para a Tabanca,
com esta pintura pareces um Balanta, numa cerimónia de “Choro”!
O Cifra vai fechar o diário, já chega de guerra.
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Nota do editor
Último poste da série de 29 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12912: Bom ou mau tempo na bolanha (50): Para onde se vá, existe um português (Tony Borié)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 5 de abril de 2014
Guiné 63/74 - P12935: Convívios (578): Almoço de confraternização do pessoal da CCAV 2748 (Canquelifá, 1970/72), dia 31 de Maio de 2014 em Almeirim (Francisco Palma)
1. Conforme solicitação do nosso camarada Francisco Palma (ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCAV 2748 / BCAV 2922, Canquelifá, 1970/72), damos conhecimento do próximo Almoço de Convívio do pessoal da sua Unidade.
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Nota do editor
Último poste da série de 3 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12926: Convívios (577): Encontro comemorativo do 47.º aniversário do regresso da CCAÇ 816, a realizar no próximo dia 10 de Maio de 2014 nas Caldas das Taipas (Rui Silva)
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Nota do editor
Último poste da série de 3 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12926: Convívios (577): Encontro comemorativo do 47.º aniversário do regresso da CCAÇ 816, a realizar no próximo dia 10 de Maio de 2014 nas Caldas das Taipas (Rui Silva)
Guiné 63/74 - P12934: Notícias do nosso editor Luís Graça (Carlos Vinhal)
1. Como a maioria da tertúlia deve saber, o nosso editor Luís Graça foi internado na passada terça-feira para na quarta lhe ser implantada uma prótese numa das ancas.
Até ontem tive notícias dele através da esposa, Alice Carneiro, mas ao fim da tarde telefonei-lhe, estava bem disposto, já fora da cama, e disse-me que no início da semana, talvez terça-feira, tenha alta.
Mesmo ali a sua preocupação com o Blogue é constante, tendo durante a tarde atendendo o telemóvel para atender solicitações.
Claro que não se esqueceu de mandar, através de mim, um abraço para a tertúlia.
Vamos dando notícias.
Carlos Vinhal
Guiné 63/74 - P12933: Em busca de... (239): Alfredo Custódio António, ex-Condutor Auto da CCAÇ 2660/BCAÇ 2905 (Teixeira Pinto, 1970/71) procura o seu camarada e amigo Silva de Lisboa
1. Mensagem de um nosso camarada da diáspora, que se chama Alfredo António, ex-Condutor Auto da CCAÇ 2660/BCAÇ 2905 que esteve no Sector 05 de Teixeira Pinto nos anos de 1970 a 1971.
Boa tarde Luís
O meu nome é Alfredo Custódio António e fiz parte da Companhia de Caçadores 2660 do Batalhão de Caçadores 2905 onde era Condutor Auto. Estive em Teixeira Pinto e terminei a comissão em 1971.
Vivo no Canadá há 42 anos, numa vila que se chama Laval, próximo de Montreal
Eu queria encontrar um colega meu que estava na Secretaria em Teixeira Pinto, que se chamava Silva e era de Lisboa.
Agradecia muito se me pudesse ajudar.
Visitei o Blogue da Tabanca Grande e fiquei muito contente com tudo o que encontrei. Muito obrigado pelo vosso trabalho.
Sem mais, muito obrigado
Alfredo António
1820 Louis Belanger
Laval Qc H7W 5K6
Canada
2. Comentário do editor:
Caro camarada Alfredo António, muito obrigado pelo teu contacto.
Vamos publicar o teu pedido para encontrar o teu camarada Silva que, embora não refiras, poderá ter sido Cabo Escriturário da CCS ou da tua CCAÇ 2660.
Era mais fácil chamar a atenção se tivesses mandado a tua foto de então e até do teu camarada.
Quanto às palavras que diriges ao nosso Blogue, muito obrigado.
Os nossos votos de que te sintas realizado nesse grande país que escolheste para viver praticamente desde que regressaste da Guiné.
Recebe um abraço da tertúlia com os votos de muitas felicidades.
Carlos Vinhal
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Nota do editor
Último poste da série de 22 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12758: Em busca de... (238): Gostaria de encontrar camaradas da CART 527 (Teixeira Pinto, Cacheu, Pelundo e Jolmete, 1963/63) (António Medina)
sexta-feira, 4 de abril de 2014
Guiné 63/74 - P12932: Notas de leitura (578): "Viagem à África Ocidental", por Vasco Callixto (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Outubro de 2013:
Queridos amigos,
O publicista, escritor e jornalista Vasco Callixto é um caso singular nas letras portuguesas, infatigável nos temas do turismo, desporto automóvel e história da aviação. Viajou por tudo quanto é mundo, tem uma bibliografia impressionante.
Em 1990, com múltiplos apoios, lançou-se numa viagem que abarcou a Guiné-Bissau, o Senegal e a Gâmbia. Encontrou potencialidades extraordinárias para o turismo, viu edifícios que já não existem, entristeceu-se com o descaminho dado ao património histórico luso-guineense. Regressou convicto que a Guiné iria conhecer um surto na procura turística, veio deslumbrado.
Aqui fica o seu registo.
Um abraço do
Mário
Viagem à Guiné de Vasco Callixto, em 1990
Beja Santos
Publicista com largas dezenas de obras publicadas, escritor de turismo, investigador nas áreas do automobilismo e da história da aviação, Vasco Callixto (1925) tem uma impressionante colaboração na imprensa desde a década de 40. É um viajante insaciável, não há continente ou recanto da terra que ele não procure. Tem um modo muito seu de organizar as suas expedições e a publicação dos seus textos. Por exemplo, de Setembro a Dezembro de 1990, publicou em vários jornais a sua "Viagem à África Ocidental" (concretamente à Guiné-Bissau, Senegal e Gâmbia). Procura apoios de toda a índole, é encarado como o embaixador do turismo e não esconde o prazer pelas edições de autor. Vamos ver o que ele viu e comentou nesta viagem à Guiné-Bissau em 1990, de que resultou o livro editado em 1991. O único senão ao longo da viagem da Guiné foi o troar dos canhões que ele bem ouviu em Cacheu, tratava-se de um momento de elevada tensão nas relações entre a Guiné-Bissau e o Senegal, incidente que custou 20 vidas, felizmente que tudo acabou rapidamente em bem, tratava-se de contenda fronteiriça, sabe-se lá se de movimentação impune de guerrilheiros do Casamansa no Norte da Guiné-Bissau.
Chega a Bissau no final de Abril de 1990, o seu carro de estimação, um Opel Kadett modelo Califórnia já fora despachado por barco num porta-contentores. Explica a história da Air Bissau e da Transinsular, a empresa que facilitou o transporte do Opoel Kadett. Faz uma breve apresentação da Guiné-Bissau, a seguir entra no Hotel 24 de Setembro, ao tempo dispunha de 14 quartos singles, 65 quartos twins e 24 suites, para além de salão-restaurante, grill-jardim, bar americano e uma sala de congressos e banquetes. Referencia os preços de tudo, fica-se com a convicção de que o livro também funciona como um guia para o potencial turista. Sente encanto por Bissau, vai a pé do hotel pela Estrada de Santa Luzia e Avenida Pansau Na Isna, há por ali várias embaixadas, chega à antiga Praça do Império e desce a Avenida Amílcar Cabral, anota os edifícios de todo o estilo, chama a atenção para a Pensão Central ou Pensão da D. Berta, “que continua a fornecer refeições bem à antiga portuguesa, composta por sopa, dois pratos, pão e fruta pela módica quantia de 390 escudos. E a sala está sempre cheia”. Estupefacto vai vendo que as estátuas foram apeadas, os pedestais não. Não entende porque é que não se pode visitar a Fortaleza da Amura. Ao tempo ainda existia o Grande Hotel e um pouco mais abaixo o Centro de Medicina Tropical, inaugurado em 1989 e brutalmente danificado no conflito político-militar 1998-1999. Apreciou o cemitério, com campas bem cuidadas, não houve por ali vandalização, guardam-se as placas e as memórias do passado. Impressionou-se com as instalações do “Pão de Açucar” e visitou o mercado de Bissau, anotou a atividade “bancária” ali desenvolvida com os cambistas a trabalhar com máquinas de calcular.
Bijagós ainda hoje é uma grande consigna que recorda o turismo, era uma visita inescapável a Vasco Callixto. Ficou surpreendido com Bubaque e a sua espetacular beleza, uma joia longe da civilização. Em todas as etapas desta viagem, em minucioso: “O Hotel Bijagós, na ilha de Bubaque, de que é proprietário o argelino Azzi Abdelaziz, está situado num palmeiral, frente ao mar, com o restaurante debruçado sobre a falésia”. Descreve toda a unidade hoteleira e não esquece a referência ao centro de pesca desportiva, ali bem perto. E na manhã seguinte parte para Bolama, novo resumo sobre a história da infausta cidade, agora reduzida a sombras, foi ponto de escala dos Clippers da Pan America, em Bolama aterraram os primeiros aviões portugueses que voaram para terras de África, entre outras páginas de glória. Passeia-se pelas ruínas, é impressionante o grau de destruição, interessa-se pelos monumentos que estão de pé, nomeadamente aquele que Mussolini ofereceu à cidade para perpetuar a morte de aviadores e tripulantes de dois aviões italianos que ali se acidentaram.
De Bolama foram até Farim, passam por Mansoa e Mansabá. Deixam uma nota histórica sobre Farim, com surpresa encontro ali um padrão evocativo das viagens henriquinas. E escreve: “Neste padrão de Farim faltam algarismos de duas datas e uma palavra. Mas toda a ornamentação superior, incluindo o escudo português, estava intacta. Os que pensaram as novas gerações que este monumento significa?” Regresso a Bissau, segue-se a viagem à Gâmbia e ao Senegal, saem por S. Domingos.
Voltam a entrar na Guiné pela região do Gabu, não encontram onde comer nem dormir. Indigna-se com a estátua caída por terra do antigo governador Oliveira Muzanty, um oficial português que conduziu algumas guerras de pacificação e que contribuiu para delimitar fronteiras. Também não havia onde comer e dormir em Bafatá, um padre italiano lá desenrascou uma sala de catequese, ali dormiram em placas de espuma. Em Bafatá teve uma agradável surpresa, encontrou gente da Amadora, terra natal e residência de Vasco Callixto. E partiram para o Cacheu, de Bafatá foram até Bambadinca, daqui a Mansoa, depois Bissorã, pelo caminho visitaram Bula. Nova explicação histórica, desta feita sobre Cacheu, seguem-se referências aos equipamentos turísticos. É aqui que começa a troar a artilharia, havia contenda fronteiriça, Nino Vieira voou para Paris e pediu a intervenção do presidente Mitterrand, foi bem-sucedido. Impressionou-se com as estátuas escaqueiradas dentro da fortaleza, Nuno Tristão, Diogo Gomes, Honório Pereira Barreto e Teixeira Pinto aos pedaços. E comenta: “É preciso dar um destino condigno a estas estátuas. Se o presidente Nino Vieira declarou que iriam ser colocadas de onde foram retiradas, assim se deverá fazer quanto antes, pois a História não pode apagar-se. Em último caso, deverão ficar naquela Fortaleza, mas recuperadas e colocadas com dignidade”.
Considera Cacheu uma cidade de beleza admirável, um filão para o turismo. Regresso a Bissau, chegou a hora de preparar o reembarque do Opel Kadett. No Centro Cultural Português prefere uma conferência sobre “As primeiras viagens aéreas entre Portugal e a Guiné”. A primeira viagem aérea Portugal-Guiné realizou-se em 1925 no avião Santa Filomena. A segunda viagem constitui a 1.ª Travessia Aérea Noturna do Atlântico Sul, em 1927, quando o hidroavião Argos, com o major Sarmento de Beires, o capitão Jorge de Castilho e o alferes Manuel Gouveia, efetuou a ligação Bubaque-Brasil. E mencionou outras viagens com destino a Angola e Moçambique e o denominado “Cruzeiro Aéreo às Colónias”, a viagem que encerrou o ciclo das grandes viagens aéreas da época do pioneirismo aéreo português.
No Hotel 24 de Setembro encontrou-se com o Eng.º Macário Correia, secretário de Estado do Ambiente (simples curiosidade, ia negociar a participação da Guiné na Cimeira da Terra e assinou um protocolo que me custou quatro meses passados na Guiné, em 1991, de saudosa e triste memória). E assim acabou a viagem à África Ocidental de Vasco Callixto.
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Nota do editor
Último poste da série de 31 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12917: Notas de leitura (577): "Eleições em tempo de cólera", por Onofre Santos (2) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
O publicista, escritor e jornalista Vasco Callixto é um caso singular nas letras portuguesas, infatigável nos temas do turismo, desporto automóvel e história da aviação. Viajou por tudo quanto é mundo, tem uma bibliografia impressionante.
Em 1990, com múltiplos apoios, lançou-se numa viagem que abarcou a Guiné-Bissau, o Senegal e a Gâmbia. Encontrou potencialidades extraordinárias para o turismo, viu edifícios que já não existem, entristeceu-se com o descaminho dado ao património histórico luso-guineense. Regressou convicto que a Guiné iria conhecer um surto na procura turística, veio deslumbrado.
Aqui fica o seu registo.
Um abraço do
Mário
Viagem à Guiné de Vasco Callixto, em 1990
Beja Santos
Publicista com largas dezenas de obras publicadas, escritor de turismo, investigador nas áreas do automobilismo e da história da aviação, Vasco Callixto (1925) tem uma impressionante colaboração na imprensa desde a década de 40. É um viajante insaciável, não há continente ou recanto da terra que ele não procure. Tem um modo muito seu de organizar as suas expedições e a publicação dos seus textos. Por exemplo, de Setembro a Dezembro de 1990, publicou em vários jornais a sua "Viagem à África Ocidental" (concretamente à Guiné-Bissau, Senegal e Gâmbia). Procura apoios de toda a índole, é encarado como o embaixador do turismo e não esconde o prazer pelas edições de autor. Vamos ver o que ele viu e comentou nesta viagem à Guiné-Bissau em 1990, de que resultou o livro editado em 1991. O único senão ao longo da viagem da Guiné foi o troar dos canhões que ele bem ouviu em Cacheu, tratava-se de um momento de elevada tensão nas relações entre a Guiné-Bissau e o Senegal, incidente que custou 20 vidas, felizmente que tudo acabou rapidamente em bem, tratava-se de contenda fronteiriça, sabe-se lá se de movimentação impune de guerrilheiros do Casamansa no Norte da Guiné-Bissau.
Chega a Bissau no final de Abril de 1990, o seu carro de estimação, um Opel Kadett modelo Califórnia já fora despachado por barco num porta-contentores. Explica a história da Air Bissau e da Transinsular, a empresa que facilitou o transporte do Opoel Kadett. Faz uma breve apresentação da Guiné-Bissau, a seguir entra no Hotel 24 de Setembro, ao tempo dispunha de 14 quartos singles, 65 quartos twins e 24 suites, para além de salão-restaurante, grill-jardim, bar americano e uma sala de congressos e banquetes. Referencia os preços de tudo, fica-se com a convicção de que o livro também funciona como um guia para o potencial turista. Sente encanto por Bissau, vai a pé do hotel pela Estrada de Santa Luzia e Avenida Pansau Na Isna, há por ali várias embaixadas, chega à antiga Praça do Império e desce a Avenida Amílcar Cabral, anota os edifícios de todo o estilo, chama a atenção para a Pensão Central ou Pensão da D. Berta, “que continua a fornecer refeições bem à antiga portuguesa, composta por sopa, dois pratos, pão e fruta pela módica quantia de 390 escudos. E a sala está sempre cheia”. Estupefacto vai vendo que as estátuas foram apeadas, os pedestais não. Não entende porque é que não se pode visitar a Fortaleza da Amura. Ao tempo ainda existia o Grande Hotel e um pouco mais abaixo o Centro de Medicina Tropical, inaugurado em 1989 e brutalmente danificado no conflito político-militar 1998-1999. Apreciou o cemitério, com campas bem cuidadas, não houve por ali vandalização, guardam-se as placas e as memórias do passado. Impressionou-se com as instalações do “Pão de Açucar” e visitou o mercado de Bissau, anotou a atividade “bancária” ali desenvolvida com os cambistas a trabalhar com máquinas de calcular.
Bijagós ainda hoje é uma grande consigna que recorda o turismo, era uma visita inescapável a Vasco Callixto. Ficou surpreendido com Bubaque e a sua espetacular beleza, uma joia longe da civilização. Em todas as etapas desta viagem, em minucioso: “O Hotel Bijagós, na ilha de Bubaque, de que é proprietário o argelino Azzi Abdelaziz, está situado num palmeiral, frente ao mar, com o restaurante debruçado sobre a falésia”. Descreve toda a unidade hoteleira e não esquece a referência ao centro de pesca desportiva, ali bem perto. E na manhã seguinte parte para Bolama, novo resumo sobre a história da infausta cidade, agora reduzida a sombras, foi ponto de escala dos Clippers da Pan America, em Bolama aterraram os primeiros aviões portugueses que voaram para terras de África, entre outras páginas de glória. Passeia-se pelas ruínas, é impressionante o grau de destruição, interessa-se pelos monumentos que estão de pé, nomeadamente aquele que Mussolini ofereceu à cidade para perpetuar a morte de aviadores e tripulantes de dois aviões italianos que ali se acidentaram.
De Bolama foram até Farim, passam por Mansoa e Mansabá. Deixam uma nota histórica sobre Farim, com surpresa encontro ali um padrão evocativo das viagens henriquinas. E escreve: “Neste padrão de Farim faltam algarismos de duas datas e uma palavra. Mas toda a ornamentação superior, incluindo o escudo português, estava intacta. Os que pensaram as novas gerações que este monumento significa?” Regresso a Bissau, segue-se a viagem à Gâmbia e ao Senegal, saem por S. Domingos.
Voltam a entrar na Guiné pela região do Gabu, não encontram onde comer nem dormir. Indigna-se com a estátua caída por terra do antigo governador Oliveira Muzanty, um oficial português que conduziu algumas guerras de pacificação e que contribuiu para delimitar fronteiras. Também não havia onde comer e dormir em Bafatá, um padre italiano lá desenrascou uma sala de catequese, ali dormiram em placas de espuma. Em Bafatá teve uma agradável surpresa, encontrou gente da Amadora, terra natal e residência de Vasco Callixto. E partiram para o Cacheu, de Bafatá foram até Bambadinca, daqui a Mansoa, depois Bissorã, pelo caminho visitaram Bula. Nova explicação histórica, desta feita sobre Cacheu, seguem-se referências aos equipamentos turísticos. É aqui que começa a troar a artilharia, havia contenda fronteiriça, Nino Vieira voou para Paris e pediu a intervenção do presidente Mitterrand, foi bem-sucedido. Impressionou-se com as estátuas escaqueiradas dentro da fortaleza, Nuno Tristão, Diogo Gomes, Honório Pereira Barreto e Teixeira Pinto aos pedaços. E comenta: “É preciso dar um destino condigno a estas estátuas. Se o presidente Nino Vieira declarou que iriam ser colocadas de onde foram retiradas, assim se deverá fazer quanto antes, pois a História não pode apagar-se. Em último caso, deverão ficar naquela Fortaleza, mas recuperadas e colocadas com dignidade”.
Considera Cacheu uma cidade de beleza admirável, um filão para o turismo. Regresso a Bissau, chegou a hora de preparar o reembarque do Opel Kadett. No Centro Cultural Português prefere uma conferência sobre “As primeiras viagens aéreas entre Portugal e a Guiné”. A primeira viagem aérea Portugal-Guiné realizou-se em 1925 no avião Santa Filomena. A segunda viagem constitui a 1.ª Travessia Aérea Noturna do Atlântico Sul, em 1927, quando o hidroavião Argos, com o major Sarmento de Beires, o capitão Jorge de Castilho e o alferes Manuel Gouveia, efetuou a ligação Bubaque-Brasil. E mencionou outras viagens com destino a Angola e Moçambique e o denominado “Cruzeiro Aéreo às Colónias”, a viagem que encerrou o ciclo das grandes viagens aéreas da época do pioneirismo aéreo português.
No Hotel 24 de Setembro encontrou-se com o Eng.º Macário Correia, secretário de Estado do Ambiente (simples curiosidade, ia negociar a participação da Guiné na Cimeira da Terra e assinou um protocolo que me custou quatro meses passados na Guiné, em 1991, de saudosa e triste memória). E assim acabou a viagem à África Ocidental de Vasco Callixto.
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Nota do editor
Último poste da série de 31 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12917: Notas de leitura (577): "Eleições em tempo de cólera", por Onofre Santos (2) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P12931: Os nossos seres, saberes e lazeres (69): Provérbios em crioulo (Enviado pelo Major OpEsp/RANGER - na situação de reforma -, Humberto Bordalo)
1. Camaradas, enviaram-me um e-mail com mais de 2 centenas de provérbios redigidos em linguagem crioula, de que desconheço a autoria, mas que, pelo seu grande interesse didáctico principalmente para aqueles que vão esquecendo o muito ou pouco que aprenderam daquele popular e usual dialecto da Guiné, aqui publico na íntegra tal como os recebi, com os devidos agradecimentos e vénia ao seu anónimo autor.
LISTA DE PROVÉRBIOS EM CRIOULO
NOTA: As seguintes letras têm valor especial: N = "ng" do inglês (como em "song"); c = "ch" em inglês (church); j = também como em inglês (judge); ñ = como no português "nh" ou "ñ" em espanhol; s = "s" mesmo (saco), nunca como [z] de "casa".
(2) Abo i rasa polon: si bu na kai, bu ka ta kai abo son (=você é como o poilão: se cair não cai sozinho)
(3) (i) Abo k' ten caga, bu ka ta sinti si ceru; (ii) Nunka algin ka ta fala kuma si caga na fedi (=você que tem ferida não sente o seu cheiro)
(4) Ami i lubu k' kema kosta (=eu sou a hiena que tem as costas queimadas)
(5) Ami i rasa papaia: N ka ta durmi na bariga di algin (=eu sou como o mamão: não fico parado na barriga de ninguém)
(6) Anduriña kuma i na pupu riba di kabesa di ñor deus, i ba kai riba di si kabesa (=a andorinha disse que caga na cabeça do senhor deus, mas caiu sobre sua própria cabeça)
(7) Baga baga i ka ten tarsadu, ma i ta korta paja (= o cupim não tem terçado, mas corta capim)
(8) (i) Baga baga ka ta kata iagu, ma i ta masa lama; (ii) Baga baga i ka ta kata iagu ma i ta masa lama (= o cupim não busca água, mas amassa o barro)
(9) Bagic ta masi ku si fortuda (= o hibisco cresce com sua sorte)
10) (i) Baka ki ka ten rabu, Deus ta banal; (ii) Baka ku ka ten rabu Deus ku ta banal (= à vaca que não tem rabo, abana-a Deus)
(11) (i) Baka misti korda, i ka tenel, kabra tenel, tok i na rasta; (ii) Kabra ten korda tok i na rastal; baka mistil, ma i ka ta oja; (iii) kabra tene korda i ta rastal, baka misti i ka ta oca (= a vaca quer corda mas não a tem; a cabra a tem mas a arrasta)
(12) (i) Bakia baka di kunankoi; (ii) Bakia baka di kunankoi: sin liti, sin nata; (iii) Bakia baka di kunankoi sin litti nin nata (= a boeira patoreia a vaca mas não aproveita nem o leite nem a nata)
(13) (i) Bardadi i suma malgeta: i ta iardi; (ii) Bardadi i malgos, ma i sertu (= a verdade é como a malaguete: ela arde)
(14) Bariga i ka ta kosadu ku laska di kana (= não se coça a barriga com lascas de cana)
(15) Bariga ka fila ku arus, ki-fadi miju (= barriga que não se dá bem com arroz, muito menos se dará bem com milho)
(16) Bariga pode debu o debu ma bu ka ta toma faka bu rumpil (= por pior que a barriga esteja, você não a corta com a faca)
(17) Bentana fiu na bida teña (= a carpa é feia mas vira tainha)
(18) (i) Bentana mora ku lagartu, si falau kuma lagartu ka ten uju, fia; (ii) Si bentana falau kuma lagartu fura uju, fia, pa bia elis ku ta kume lama juntu (= a carpa mora com o crocodilo: se ela lhe disser que ele não tem olho, acredite)
(19) (i) Bianda di kaleron ka ten dunu; (ii) Bianda, ora ki kusidu, i ka ten dunu (= comida na panela não tem dono)
(20) Bianda sabi ka ta tarda na kabas (= comida saborosa não demora muito na panela)
(21) Bias bu ta sibi dia di bai, ma bu ka ta sibi dia di riba (em viagem, só se sabe o dia de ir, mas não o de voltar)
(22) Bibidur di lagua ka ta dibi fabur (quem bebe água na lagoa não deve favor a ninguém)
(23) Bibus na cora, ki-fadi mortus (se os vivos choram, que dizer dos mortos)
(24) (i) Boka ficadu ka ta ientra moska; (ii) Na boka ficadu i ka ta ientra moska (= em boca fechada não entram moscas)
(25) Bolta di mundu i rabu di punba (=as voltas que o mundo dá são como as asas da pomba)
(26) Bon sapatu pe jingidu (= sapato bom em pé tordo)
(27) (i) Bu ka sibi si bu mama di bunda i gros, son ora k'i tene mandita; (ii) Bu ka ta sibi si bu mama di bunda gros, son ora ki tene mandita (= você não sabe se sua bunda é grande, a não ser quando ela tem furúnculo)
(28) Bu kunbidadu sala, bu ientra kuartu (= você é convidado para sala, você entra no quarto)
(29) Bu na duguña fundu, bu ka punta bentu (= você debulha muito sem perguntar ao vento)
(30) Bu na kuji manpatas, bu ka na jubi riba (= você apanha está colhendo mampatás sem olhar para cima)
(31) Bu na toka bu na baja (= você toca, você dança)
(32) Bunitasku di iagu salgadu i bunitu, ma i kansadu bibi (= a beleza da água salgada é grande, mas ela é desagradável para beber)
(33) Bu osa nomi suma lubu (= você desafia a sorte como a hiena)
(34) (i) Bu purba liti, bu pidi baka; (ii) Garandis kuma bu purba liti, bu pidi baka (= você provou o leite, você pediu a vaca)
(35) Burguñu i ma morti (=a vergonha é pior do que a morte)
(36) Buru tudu karga ki karga si ka sutadu i ka ta janti (= o burro, com pouca ou muita carga, se não é açoitado não anda)
(37) (i) Bu sai na pilon, bu kai na balai; (ii) I sai na pilon, i kai na balen (= você saiu do pilão, caiu no balaio)
(38) Bu sinta riba di baga-baga, bu na rui con (= você está sentado sobre a termiteira, e fala mal do chão)
(39) Bu ten kujer, bu na kume ku mon (= você tem colher, mas come com a mão)
(40) (i) Cuba cobi i oca kamiñu lalu; (ii) Cuba tarda, oca kamiñu lalu; (iii) Cuba tarda oca kamiñu latu (= a chova cai quando a estrada está molhada)
(41) (i) Cuba di Kabu Berdi, son di un banda; (ii) Anta, es cuba di Kabu Verdi? (= chuva de Cabo Verde, só em um lugar)
(42) Deus fala: pui mon, N judau (= Deus disse: faça sua marte que eu lhe ajudo)
(43) Deus ka ta sinta na rabada di ningin (= Deus não senta no traseiro de ninguém)
(44) Deus sibi ke k' manda iagu di mar salga (= Deus sabe porque a água do mar é salgada)
(45) Di li pa pó sinti, kabaku prumedu ku ta sinti (= para o tronco sentir, primeiro a casca tem que sentir)
(46) Dinti mora ku lingu, ma i ta daju i murdil (= os dentes moram com a língua, mas às vezes eles a mordem)
(47) (i) Dinti, tudu branku ki branku, i ka ta sai sangi; (ii) Garandis kuma dinti ka ten sangi (= os dentes, por mais brancos que sejam, não sangram)
(48) (i) Dun di boka i ka ta pirdi si kamiñu; (ii) Dun di boka ta tene pe; (iii) Dun di boka ka ta pirdi ku kamiñu (= quem tem boca não se perde no caminho)
(49) (i) Dun di boka mas di ke dun di fraskera; (ii) Dun du boka, mas dun du fraskera (= quem tem boca vale mais do que quem tem a carteira)
(50) Dun di kujer na kume ku mon (= tem colher, come com a mão)
(51) Dun di un uju ka ta brinka ku reia (quem tem olho não brinca com areia)
(52) (i) Dun du caga ka ta sinti fedos di si pe; (ii) Dun di mal ka ta obi si mal (= quem tem chulé não sente o cheiro do próprio pé)
(53) Dus galu ka ta kanta na un kapuera (= dois galos não cantam no mesmo terreiro)
(54) E fila suma gatu ku kacur (= eles se dão como gato e cachorro)
(55) (i) Faka di atorna ka ta moku, i ta moladu; (ii) Faka di atorna nunka i ka ta moku; (ii) Faka di atorna ka ta moku (= a faca da vingança não está sem corte, está afiada)
(56) (i) Fala di magru ka ta ciga na tabanka; (ii) Palabra di magru ka ta obidu na kau di fola baka; (iii) Kunbersa di magru ka ta obidu na kau di f ola baka (= palavra de magro não é ouvida no lugar de esfolar vaca)
(57) Falta di mame, bu ta mama dona (= na falta de mãe, mama-se na avó)
(58) Febri medi katar (= a febre tem medo do catarro)
(59) (i) Fiansa ta kebra kujer di prata; (ii) Fiansa ta kebra kujer di po (= confiança excessiva pode quebrar colher de prata)
(60) Fiju di gatu ta raña (= filho de gato arranha)
(61) Fiju di sinsibi ka ta maradu di kampaiña (= filho de se-eu-soubesse não traz amarrada em si a campainha)
(62) (i) Fiju ta padidu tras di si pape, ma i ka tras di si mame; (ii) Fiju ka ta padidu tra di si mame (= filho pode nascer longe do pai, mas não longe da mãe)
(63) Filanta ma panga uju (= combinar antes vale mais que que um piscar de olho)
(64) Firminga ka ta janti, ma i ta ciga (= a formiga não toma a dianteira, mas ela chega)
(65) Forsa di pis, iagu (= A força do peixe é a água)
(66) (i) Fulanu ten boka di sanbasuga: i ta murdi, i ta supra; (ii) Fulanu i tene boka di sanbasuga, i ta murdi i ta supra; (iii) Sanbasuga i ten dus boka, ma i ka ta murdi si kabesa
(= ele tem boca de sangu-suga: ele morde, ele sopra)
(= ele tem boca de sangu-suga: ele morde, ele sopra)
(67) Galiña garbatadur ta fas di kontra ku os di si mame o di si dona (= galinha esgaravatadora pode encontrar osso de sua mãe ou de sua avó)
(68) (i) Galiña kargadu ka sibi si kamiñu i lunju; (ii) Galiña ka konse si kamiñu lonji; (iii) Galiña pindradu ka ta sibi si kamiñu lunju (= galinha carregada não sabe se o caminho é longo)
(69) Galiña ta guarda si frangas bas di si asa, ma kil ku sta fora mañote ta rabatal (= a galinha proteje seus pintinhos debaixo das asas; aquele que escapa o milhafre o arrebata)
(70) (i) Garafa ka ta juntu na jugu di pedra; (ii) Garafa ka ta ientra na jugu di pedra; (iii) Garafa ka dibi di miti na jugu di pedra; (iv) Kin k' miti garafa na jugu di pedra, si ka kebra ki ba buska; (v) Ku mati garafa na jugu di pedra, si ka kebra ki misti? (= garrafa não se mete em jogo de pedras)
(71) (i) Garandi i polon, ma mancadu ta durbal; (ii) Polon podi grandi-o-grandi, ma macadu podi durbal; (iii) Po, tudu garandi ki garandi, mancadu ta durbal (= o poilão é grande, mas o machado o derruba)
(72) Garandi i puti di mesiñu (= o ancião é um pote de remédios)
(73) (i) Garandi ki jungutu, ta ma oja lunju di ke mininu ki sikidu; (ii) Beju ki jokoni ta ma uja lonji di ke mininu ki sikidu (= um ancião acocorado vê mais longe do que um menino em pé)
(74) Garandi ku firma ka pasa mandadu; (ii) Garandi en pe ka pasa mandadu (= ancião em pé pode ser incomodado)
(75) Garandis fala kuma: joia ku bu kuji na kau di baju, na kau di baju ki ta bin pirdi; (ii) Garandis fala kuma joia ku bu kuji na kau di baju, na kau di baju ki na bin pirdi (= os anciãos dizem que o que se ganha na festa, na festa se perde)
(76) (i) Garandis fala kuma manganas si ka hululidu i ka ta padi; (ii) Manganas si bu ka uli-ulil, i ka ta padi; (iii) Manganasa, si bu ka uli-ulil bunda i ka ta padi; (iv) Garandis fala kuma manganasa si ka ululidu i ka ta padi (= o manganás, se não chamuscado, não dá frutos)
(77) (i) Garandis fala kuma sen mantanpadas i ka sabi tama, ma i sabi konta; (ii) Sen mantanpada i ka sabi tama, ma i sabi konta (= os anciãos dizem que cem chibatadas não são agradáveis de tomar, mas de contar)
(78) (i) Garandis kuma kasa linpu ka ta somuna; (ii) Kasa linpu ka ta somna (= os anciãos dizem que em casa vazia não há barulho)
(79) (i) Garandis kuma kanua sin remu ka ta kanba mar; (ii) Kanua sin remu ka ta kamba mar (= os anciãos dizem que canoa sem remo não atravessa o mar)
(80) Gatu fartu ka ta montia (= gato farto não caça)
(81) (i) I ka ten sabi ku ka ta kaba; (ii) Puti di mel, i na sabi o sabi, mas i ta ten dia ki ta kaba (= não existe nada agradável que não acabe)
(82) I sabi moska, ki-fadi bagera (= isso agrada a mosca, que dizer da abelha)
(83) I sancu di dus matu (= é macaco de dois matos)
(84) Jisilin ka ta kema ku beja dus bias (= o gergelim não queima com vela duas vezes)
(85) (i) Jugude ka bai fanadu, ma i kunsi uju; (ii) Jugude ka bai fanadu, ma i kunsi uju
(= o abutre não foi à circuncisão, mas consegue ver as coisas)
(86) Jungutudu ka ta pui na ragas (= o acocorado não carrega nada no colo)
(87) Justu di bai cur, ka ciga karga don (= só ir ao velório não implica em chorar)
(88) (i) Kabra nunka i ka ta misa dianti di lubu; (ii) Kabra ka ta misa dianti di lubu (a cabra nunca mija perto da hiena)
(89) Kabra rispitadu pa bia di si barba (= o cabrito é respeitado por causa de sua barba)
(90) (i) Kabra tene barba, ma baka ki si garandi; (ii) Kabra tene barba, ma baka ki si pape
(= o cabrito tem barba, mas a vaca é sua anciã)
(= o cabrito tem barba, mas a vaca é sua anciã)
(91) (i) Kacur di mangu kuma pa kada kin sibi di si kabesa; (ii) Kacur di mangu konta kuma kada kin sibi di si kabesa (= o mangusto diz que cada um sabe de si)
(92) (i) Kacur endadur os o pankada; (ii) Kacur iandadur, os o pankada (= cachorro vadio encontra osso ou pauladas)
(93) Kacur ka ta tene kacur (= cachorro não tem cachorro)
(94) (i) Kacur, tudu brabu ki brabu, nunka i ka murdi si dunu ku ta dal di kume; (ii) Kacur, tudu brabu ki brabu, nunka i ka murdi si dunu (= o cachorro, por mais feroz que seja nunca morde quem lhe dá comida)
(95) Kal dia ku galiña di matu pistadu po di dismanca kabelu (= quando é que se emprestou o pau de arrumar o cabelo à pintada)
(96) Kal dia ku galiña di matu sinta na kapuera (= quando é que a pintada ficou no mato)
(97) (i) Kal dia ku lubu Ntergadu fumer; (ii) Jintis kuma kal dia ku lubu Ntergadu fumer (= quando é que se entregou o fumeiro à hiena)
(98) (i) Kal dia ku paja juntadu ku fugu si ka kema ki misti; (ii) Kal dia du paja i juntadu ku fugu si i ka kema ki misti (= quando é que se junta palha com fogo que não seja para queimar)
(99) (i) Kal dia ku sancu fala jugude manteña si ka pa rispitu di kacur; (ii) Kal dia ku sancu fala Sakala manteña si i ka na disgustu di kacur (= quando é que o macaco cumprimenta o abutre a não ser no velório do cachorro)
(100) (i) Kama ku bu ka dita nel, bu ka sibi si ten dabi; (ii) Dun du kama ki konse si dabi
(= você não pode saber que a cama em que não deitou tem percevejos)
(= você não pode saber que a cama em que não deitou tem percevejos)
(101) Kamalion kuma janti i ka nada, ciga ki tudu (= o camaleão diz que andar depressa não importa, o importante é chegar)
(102) (i) Kana seku i ka ta dobradu; (ii) kana seku ka ta dobra (= cana seca não se dobra)
(103) Karna di buru ta kumedu na tenpu di coba, di fugalgu na tenpu di seku (= carne de burro se come na estação, a de animal nobre na seca)
(104) Karu beju lestu dana (= carro velho estraga depressa)
(105) Kasa beju ka ta falta barata (em casa velha não faltam baratas)
(106) Kasamentu ta kaba, ma kuñadadia ka ta kaba (o casamento pode acabar, mas os laços familiares não)
(107) Kaska fison ka ta kontra ku uña kunpridu (= descascar feijão não combina com unhas grandes)
(108) Kau k'i kosau bu ta kosal; ma kau k'i ka kosau, ka bu kosal, pa bia, si bu kosal, i ta fola (= coce onde há coceira, onde não há coceira não coce, do contrário esfola)
(109) Ken ki basau iagu, son bu ferga kurpu pa i linpu (= se o puserem na água, você tem que esfregar o corpo para que fique limpo)
(110) Ken ki ka ta coranta si fiju, amaña si fiju ta corantal (= quem não faz seu filho chorar, fa-lo-á chorar seu filho)
(111) Ken ki ma bu leña, ta ma bu sinsa (= quem é mais lenha do que você é também mais cinza)
(112) Kil ku urdumuñu tisi na bu mon, bentu ku na bin lebal (= o que a tempestade lhe trouxe o vento levará)
(113) (i) Kin ku mata, i ta kabanta fola; (ii) Si bu misti forel, para balei (= quem mata, deve esfolar)
(114) (i) Kin ku misti forel, i ta para balen; (ii) Kin ku misti forel, ta para balei (= quem quer farelo apresente o balaio)
(115) (i) Kin ku misti pis, i ta ba moja rabada na iagu; (ii) Si bu misti pis, bu ten ku moja rabada (= quem quer peixe tem que molhar o traseiro na água)
(116) (i) Kin ku ta durmi ka ta paña pis; (ii) Kin ku ta durmi i ka ta paña pis (= quem dorme não apanha peixe)
(117) (i) Kin ku ta labra kifri, el prumeru ku ta fidi; (ii) Kin ku ta labra kifri, el prumeru ku ta fidi (= quem lavra o chifre é o primeiro a se ferir)
(118) Kin ku ten kabelu na pe, i ka ta kanba fugu (= quem tem pelo nas pernas não deve atravessar o fogo)
(119) Kobra kuma riba tras ka ta kebra kosta (= a cobra diz que dobrar-se para trás não quebra as costas)
(120) Kombe kuma i medi iagu salgadu ma la ki ta mora nel (= o combé diz que tem medo de água salgada, mas é nela que mora)
(121) (i) Kon kuma lebsimenti na rosta ki sta; (ii) Kon kuma lepsimentu i na uju; (iii) Kon kuma lebsimentu na uju ki sta nel (= o macaco-cão diz que a ofensa está no rosto)
(122) Konsiju di beja i misiñu (= conselho de anciã é remédio)
(123) Korda ta kansa kabra, ma i ka ta matal (= a corda cansa a cabra, mas não a mata)
(124) (i) Kunpra saniñu na koba; (ii) N ka ta kunpra saniñu na koba (= comprar saninho na toca)
(125) (i) Kuri ku kosa juju ka ta ndianta; (ii) Kuri ku kosa juju ka ta fila; (iii) Kore ku konsa juju, ka pode njenta (= correr e coçar o joelho não é possível)
(126) Kusa ki mankañ kuda, tarda ki lingron sibil (= o que faz o mancanha conhece-o há muito o lingueirão)
(127) Lagartisa ta bibi ku galiña (= a lagartixa bebe água da galinha)
(128) Lagartu ka ta sinadu murguja (= não se ensina o crocodilo a mergulhar)
(129) (i) Lanca fundiadu ka ta gaña freti; (ii) Lanca fundiadu ka ta gaña freti (= barco fundeado não ganha frete)
(130) (i) Lifanti ka pirgisa ku si dinti; (ii) Lifanti ka ta prgisa ku si dinti (= o elefante não se cansa com seu dente)
(131) Lifanti ka ta sinti si tuada (= o elefante não sente o próprio barulho)
(132) (i) Lifanti ki nguli kuku, i pa bia i fiansa na si bunda; (ii) Lifanti ki nguli kuku, i fiensa na si kadera; (iii) Si bu oja lifanti na Nguli kuku di sibi, bu ta sibi kuma i fiansa na si trasera
(= o elefante engole coco porque confia em seu cu)
(= o elefante engole coco porque confia em seu cu)
(133) Lifanti si na jubi tapada, te i ka entra, i pa bia i ka tene parenti dentru (= se o elefante vê uma cerca e não entra é porque não tem ninguém seu lá dentro)
(134) Lobu ki kema kosta, di sol ki sebedu (= a hiena que tem as costas queimada, é dela que se fala)
(135) Lubu kuma i ka son kusa sabi ki ta incisi bariga (= a hiena diz que não é só o que é saboroso que enche a barriga)
(136) Lubu kuma si sol mansi di repenti, i ka el son ku ta burguñu (= a hiena diz que se amanhecer de repente não é só ele que passará vergonha)
(137) Lubu nin ki bu negal, ka bu dal paja di bobra (= não dê folha de abóbora à hiena mesmo que não gostes dela)
(138) Lutu di mar ka ciga kuspi mon (= luta no mar não exige cuspir na mão)
(139) (i) Mandadu ta frianta pe, ma i ka ta frianta korson; (ii) Mandadu i ta frianta pe, ma i ka ta frianta korson (= mandar alguém dá descanso ao pé mas não ao coração)
(140) (i) Manpatas kru ta kai, kusidu ta kai; (ii) Manpatas ta kai kusidu, kai kru (= o fruto do mampatás cai tanto maduro quanto verde)
(141) Mentros ka ta sinti fedos di si boka (= o mentiroso não sente o mau cheiro da própria boca)
(142) (i) Mesiñu ki bu ka ta pui na bu caga, ka bu pul na caga di bu kunpañeru; (ii) Mesiñu ku bu sibi kuma bu ka na pul na bu caga ka bu pul na caga di utru (= curativo que você não põe em sua ferida, não o ponha na ferida do outro)
(143) (i) Mininu koredor, lebal na kabu di reia; (ii) Mininu kuridur lebal na ka u di reia (iii) Mininu si falau i ma bu kuri, lebal na kau di reia (= se o menino corre muito, é só levá-lo a terreno arenoso)
(144) Mursegu kuma i na misa Deus, riba di si kabesa k' si urina ta kai (= o morcego mija para cima, a urina cai em sua cabeça)
(145) Na no kombersa, ka bu pui boka, pui oreja (= em nossa conversa, não ponha a boca mas o ouvido)
(146) N dadu N da, N ka ta kria kacur (= se dou o que ganhei, não crio cachorro)
(147) Noba ka ta pidi pasaju (= novidades não pedem licença)
(148) Ñambi iasadu, i ka sabi sibi si ta kusidu (= nunca se sabe se o inhame assado está bem cozido)
(149) Ñulidura di pis ka ta tuji barku pasa (= o olhar de esguelha do peixe não impede que o barco passe)
(150) Onsa, tudu brabu ki brabu, i ka ta sibi pe di kabasera (= Por mais brava que seja a onça, não sobeno imbondeiro)
(151) Paja di kasa, tudu kunpridu ki kunpridu, i ka ta ciga di asna pa bas (= a palha do teto, por mais comprida que seja, não ultrapassa a asna)
(152) Palabra di tras, i uanjan di kosta (= palavras ditas na ausência de alguém ferem)
(153) Panela na fala kaleron: ka bu tisnan (a panela diz à caldeira: não me chamusque)
(154) Panga bariga ka ta kontra ku bunda largu (= caganeira nunca dá em quem tem cu grande)
(155) Papagaiu ta kume miju, pirikitu ta paga fama (= papagaio come milho, periquito leva a fama)
(156) Pati ku pati ka ta kria kacur (= dar e dar de novo não cria cachorro)
(157) Pekador pode kunpridu o kunpridu ma garafa mas iel (= por maior que o homem seja, a garrafa é sempre maior)
(158) Pekadur dalgadu i ta dana moransa (= alguém de maus costumes estraga toda a comunidade)
(159) Pinton cupti galiña, galiña ka paña raiba, pinton k' paña raiba (= o pintinho bica a galinha, que não se zanga; quem se zanga é ele)
(160) Piskadur k' torkia si kanua pa kabalu, i sibi ke k' manda (o pescador que troca a canoa por cavalo sabe porquê)
(161) (i) Po pudi tarda o tarda na iagu, i ka ta bida lagartu; (ii) Po, tudu tarda ki tarda na iagu, i ka ta bida lagartu (= por mais que fique na água, o pau não vira crocodilo)
(162) (i) Praga di buru ka ta subi na seu(ii) Praga di buru ka ta ciga na seu (= praga de burro não sobe ao céu)
(163) Puru ka ta kume si ramasa (= o nobre não come o que vomita)
(164) Puti furadu ka ta enci iagu (= pote furado não se enche de água)
(165) (i) Rabu di sancu i kunpridu, ma si bu rikitil i ta sinti dur; (ii) Rabu di sancu i kunpridu, ma si bu na rikitil i ta sinti (= o rabo do macaco é comprido, mas se você o beliscar ele sentirá)
(166) Ratu si ka fila ku si kunpeñeru, i ka ta cama gatu pa raparti elis (= se o rato não se entende com os companheiros, não chama o gato para intermediar)
(167) Ris di lokokon ta nobela ton (= a raiz do lokokon se enrola sobre si mesma)
(168) Riu ka ta inci mar, mar ku ta inci riu (= não é o rio que enche o mar, é o mar que enche o rio)
(169) Sabi di ordija kamiñu di fonti (= o caminho da fonte tem cheiro de rodilha)
(170) Saku linpu ka ta firma (= saco vazio não fica em pé)
(171) Sancu beju, gelgelidora ka ta manda i kuspi manpatas ki ieki (= o macaco velho, o coceguento não manda cuspir no mampatás que enche a boca)
(172) (i) Sancu ka ta fala kuma si fiju fiu; (ii) Tudu fiu ki fiu, nunka bu ka ta fala kuma bu fiju fiu; (iii) Tudu fiu ku bu fiu, bu ka ta fala kuma bu fiju fiu (= o macaco nunca diz que seu filho é feio)
(173) (i) Sancu ka ta jukta i fika si rabu; (ii) Sancu ka ta jukuta pa i fika si rabu (= o macaco não pula sem levar o rabo consigo)
(174) (i) Sancu kunsi po ki ta fural uju; (ii) Kon kuma i ka kunsi po ku ta matal, ma i kunsi kil ku ta fural uju (= o macaco conhece o pau que lhe furou o olho)
(175) Sancu nega papia pa ka paga dasa (= o macaco não fala para não pagar imposto)
(176) Saniñu dana lugar di mankara, ma i ka ta sinti kansera i regua (= o esquilo estragou a plantação de amendoim, mas teve o trabalho de regá-lo)
(177) Sapatu beju ka ta perta si dunu (= sapato velho não aperta o dono)
(178) Seta ka ta de kabesa (= aceitar não dói a cabeça)
(179) (i) Si bu banbu na kosta di lifanti, bu ka ta masa paja; (ii) Kin ku banbu na kosta di lifanti, i ka ta rosa urbaju; (iii) I bambu na kosta di lifanti (= quem anda nas costas do elefante não roça o orvalho)
(180) Si bu da tapada, ka bu suta kau ku bu bati pitu nel (= se você tropeçar, não bata o peito onde tropeçou)
(181) Si bu misti kanblec, bu na kebra kabas (= se você quer cacos, quebre a cabaça)
(182) (i) Si bu misti konta, bu ten ku misti liña; (ii) Bu misti konta, bu ten k' misti liña; (iii) Si bu misti konta bu ten ku misti liña, pa bia, si ka el, di bó i ta dana (= se você quer a conta tem que aceitar a linha)
(183) Si bu misti kume fruta, bu ten ku regua (=se você quer comer fruta, precisa regar [a planta])
(184) Si bu misti obi morna, suta fiju di kantadera (= se você quer ouvir morna, açoite o filho da cantadeira)
(185) Si bu misti obi pasada di bajudesa di bu mame, suta fiju di dona kasa (= se você quiser saber histórias do passado de sua mãe, bata no filho da dona da casa)
(186) Si bu na kuji manpatas, bu ta jubi riba prumedu, pa ka utru bin kai na bu kabesa (= se você colhe mampatás, olhe para cima primeiro a fim de não cair sobre sua cabeça)
(187) (i) Si bu oja dukut muri, dakat ku matal; (ii) Si bu oja kusa muri, sibi kusa ku matal (= se alguém morreu, alguém o matou)
(188) Si bu oja kabesa pirdi, punta bariga (= se a cabeça dói, pergunte à barriga)
(189) Si bu oja karna na pinga, sibi kuma i gurdu (= se você perceber que a caren respinga, saiba que é gorda)
(190) Si bu oja lebri brinka ku lubu, sibi kuma onsa sta pertu (= se você vê a lebre brincar com a hiena, saiba que a onça está por perto)
(191) Si bu oja sancu ba fonti, sibi kuma i ka leba kalma (= se você vir o macaco indo à fonte, saiba que não leva cabaça)
(192) (i) Si bu pidi galiña di matu siti, i ta falau pa bu jubi na si kabesa, si tene kabelu, i pa bia i tene siti; (ii) Galiña di matu kuma: ora ku bu na pidil siti, bu ta jubi prumedu na si metadi di kabesa; (iii) Galiña di matu kuma, antu di bu pidil siti, bu ta jobe nda si si kabisa moju; (iii) Galiña di matu kuma, ora ku bu na pidil siti, bu ta jubi prumedu na si metadi di kabesa (= se você pedir óleo de palma à galinha, ela diz para você olhar para a cabeça dela: se tiver penas é porque tem óleo)
(193) Si bu sibi kuma bu ka ten bon porta, ka bu Nguli kuku di tanbakunba (= se você sabe que não tem saída larga, não engula coco de tambacumba)
(194) Si bu sibi kuma bu tene karanga, ka bu bai na metadi di jinti (= se você sabe que tem piolho, não se misture com as pessoas)
(195) (i) Sigridu di boka nunka i ka ta kanba dinti; (ii) Sigridu di boka ka ta kanba dinti (= segredo de boca não deve ultrapassar os dentes)
(196) Sila ku Prera, dus kurpu nun korson (= Sila e Pereira, dois corpos em coração)
(197) Sintidu di minjer kurtu suma ponta di si mama (= a inteligência da mulher é curta como a ponta de seu seio)
(198) Siti riba con di bijago (= o óleo de palma volta à terra dos bijagós)
(199) Sonbra di pe di kuku, i ka ta taja si fiju (= a sombra do coqueiro não proteje seus filhos)
(200) (i) Sonbra di sibi ka ta sonbria bas del, son la fora; (ii) Sonbra di sibi ka ta sonbra bas del, son la fora (= a sombra do cibe não sombreia seu pé, mas fora dele)
(201) (i) Sorti na pe ki sta; (ii) Sorti di pekador sta na si sola di pe (= a sorte está no pé)
(202) (i) Sufridor ki ta padi fudalgu; (ii) Sufridur ta padi fidalgu (= o sofrimento nos faz nobres)
(203) Sukundi sukundi ka ta para na kamiñu (= o esconde-esconde não pára no caminho)
(204) Susa boka te bu ka kume siti (= sujar a boca com óleo de palma sem comê-lo)
(205) (i) Tapada ta tuji baka kume fison; (ii) Tapadu altu ta tuji baka kumi fison (= a cerca impede a vaca de comer o feijão)
(206) Tartaruga kuma kil ki na bin, sinta bu pera (= a tartaruga diz: sente-se e espere o que virá)
(207) (i) Tartaruga misti baja, ma rabada ka ten; (ii) Teteriga meste baja mas i ka tene rabada; (iii) Tataruga kuma i misti baja, ma i ka ten rabada (= a tartaruga quer dançar, mas não tem ancas)
(208) Tataruga kuma si pe i kurtu ma i ta lebal tudu kau ki misti (= a tartaruga diz que suas pernas são pequenas mas a levam onde ela quer)
(209) Teteriga tene kaska, ma e sabe kabu k' e ta morde Nutru (= as tartarugas têm casco, mas sabem onde morder umas às outras)
(210) (i) Tudu beju ku algin beju i ka ta mati bajudesa di si mame; (ii) Tudu beju ku [bu] beju, bu ka ta mati bajudesa di bu mame (= por mais velho que alguém seja, não alcança a juventude de sua mãe)
(211) Tudu jiru ku bu jiru bu ka ta pila iagu (= por mais esperto que você seja, não pode pilar a água)
(212) Tudu koitadi ku N koitadi nunka N ka ba parau pratu (= por mais pobre que eu seja, nunca lhe estendi o prato)
(213) Tudu riku ku bu riku bu ka pudi kunpu kasa di feru (= por mais rico que você seja, não pode construir uma casa de ferro)
(214) Uju di sancu dalgadu, ma ningen ka ta pui la dedu (= o olho do macaco é pequeno, mas ninguém põe o dedo nele)
(215) Uju ka ta kume, ma i kunsi kusa sabi (= o olho não come, mas sabe o que é saboroso)
(216) Uju sta burmeju, ma i ka ta kema lala (= o olho está vermelho, mas não queima a relva)
(217) (i) Un dedu un dedu i ta kaba puti di mel; (ii) Un dedu un dedu ta kaba puti di mel (= de dedada em dedada acaba o pote de mel)
(218) Un son mon ka ta toka palmu (= uma mão sozinha não bate palmas)
(Autor desconhecido)
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Nota de M.R.:
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
2 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12923: Os nossos seres, saberes e lazeres (68): O panelo de barro preto (Manuel Luís R. Sousa)
Guiné 63/74 - P12930: Parabéns a você (713): Agostinho Gaspar, ex-1.º Cabo Mecânico Auto do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74); António Dias, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2406 (Guiné, 1968/70); Hernâni Acácio Figueiredo, ex-Alf Mil TRMS do BCAÇ 2851 (Guiné, 1968/70) e José Eduardo Oliveira, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCAÇ 675 (Guiné, 1964/66)
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Nota do editor
Último poste da série de 3 de Abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12925: Parabéns a você (712): Álvaro Vasconcelos, ex-1.º Cabo TRMS do STM (Guiné, 1972/74)
quinta-feira, 3 de abril de 2014
Guiné 63/74 - P12929: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (46): Depois do ataque
BIM DJUBI ARAMI DI BRANKU... MININU
BIM DJUBI INVOLUCROS DE BALA... PIQUININU
BIM DJUBI, LA LUNDJU, DJITU MANSU DE CERKA FORONTA
BIM DJUBI, NA MATU SUKURO, N’DÊ KU HOMI NA MATA HOMI, KUMA PA BUSKA PAZ.(1)
Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé)
45 - DEPOIS DO ATAQUE
Depois do ataque amanheceu e, de repente, ficámos sem medo e podíamos caminhar para além da porta das nossas casas-abrigo. O dia clareou, a sensação da coragem voltou e podíamos olhar para além do cercado da nossa morança. Como sempre, apetecia-nos perguntar ao sol, nosso general, onde estava ele, ontem à noite, quando enfrentámos a certeza de morrer na escuridão que escondia os assaltantes, bandidos que vieram da barraca vizinha, do mato, lá longe, no intuito de matar, roubar e destruir a nossa aldeia. Depois, a tabanca acordou novamente, ao ritmo dos seus afazeres, como se nada tivesse acontecido, porque nem a morte nem os medos sofridos na escuridão da noite superam a vida.
NENÃ IAY KOLEÁ, BAHÃ IAY BIRRERÔ, MI ANDÁ KÔ WIRA-WIDE: UMMH... DJEURO MAY...(2)
Depois do ataque, fomos à procura dos vestígios a volta da tabanca. Por detrás de uma árvore gigante, encontrámos o cenário, já familiar, onde um ou vários homens armados lutaram, desesperadamente, durante várias horas, entre o desejo de matar e o medo de morrer. No chão, espalhados aqui e ali, pequenos invólucros de cor amarela. Sinais de mil pegadas sobrepostas uma sobre a outra, dança frenética de pés, pegadas de homens, indecifráveis como as motivações dos seus actos de desespero. No ar, o cheiro inconfundível de pólvora queimada.
A distância entre o local e a aldeia era razoável, no entanto, éramos capazes de jurar que estiveram a atirar muito perto da nossa casa. Se calhar era o eco dos zincos ou então o pulsar dos nossos corações aflitos, todavia, éramos capazes de jurar que ouvíramos as suas vozes, igualmente aflitas, na ânsia premente de matar ou morrer. Invadidos de medo repentino de gelar o corpo, fugimos de volta para casa, a tempo de seguir para o quartel onde nos esperava o resto do nosso grupo de rafeiros com as habituais latas nas mãos e a teimosia nos olhos.
No quartel situado dentro da aldeia, a azáfama era grande. De manhã cedo saiu uma coluna de soldados para parte incerta. Desde ontem à noite que a rádio não parou de chamar na sua linguagem de códigos secretos, símbolos da guerra que nos aflige: “ALFA BRAVO... ALFA BRAVO... AQUI CENTAURO... ESCUTO”. “ALFA BRAVO... ALFA BRAVO... AQUI CENTAURO... ESCUTO”. Os chefes entram e saem calados. Tratar-se-ia de mais um ataque numa aldeia vizinha. Do sitio onde estamos podemos ver a claridade provocada pelas chamas das casas incendiadas. O jovem Capitão e seus Furriéis não nos vêm e não nos conhecem, mas nós conhecemos os seus nomes e conseguimos ler a aflição dos seus rostos impassíveis de homens de guerra.
O movimento de carros e da tropa é ininterrupto. Não sabemos para onde vão nem quando termina esta guerra que consome a nossa alegria de viver. No quartel, todos os soldados são parecidos, na idade, na pressa do andar, nos camuflados. Só o primeiro Sargento destoa do conjunto, pelo andar vagaroso e os olhos cansados. Junto dos arames, uma criança está à espera do amigo e talvez dum pedaço de pão que tardam a chegar. Aos miúdos que aventuram lá dentro o destino é incerto, tanto podem conseguir um pedaço de pão com marmelada como levar um vigoroso pontapé nos seus traseiros de crianças intrometidas. É uma questão de sorte ou de azar, como sempre acontece na guerra e na vida. “ALFA BRAVO... ALFA BRAVO... AQUI CENTAURO... ESCUTO”.
De repente, o silencio é cortado pelo ruído ensurdecedor de helicópteros que chegam e trazem reforços. Os homens saltam e os engenhos continuam no seu vôo rasante. Não são muitos, os soldados, o Comandante é preto, alto e magro, olhos de lince, calças camuflado, camisola branca e boina de pára-comando, uma faca de mato, duas cartucheiras e uma arma de assalto. Força especial, a elite da elite, mistura de botas e plásticos, boinas vermelhas, verdes e chapéus cubanos. Buruntumá, Canquelifá, Cumbamori e Samba-Ulencunda. A guerra não pára, assim como as más línguas sobre a prática macabra de corte de orelhas, em guisa de troféus, no mato escuro, onde os homens se matam uns aos outros na procura impossível da paz e sossego que tardam a chegar.
Na aldeia o silêncio é total. Não sabemos se partimos ou ficamos. As mulheres estão à porta dos casebres com seus enormes embrulhos e os filhos que choram nas suas costas. O que levar e o que deixar? Os homens estão apressados, entram e saem das casas, olhando para o céu, nos seus preparativos habituais, as Mausers nas mãos trémulas. Cabisbaixos, os mais velhos sorriem, pois sabem que quem vai a guerra nunca estará preparado, o suficiente, para enfrentar a morte. Corpos amarfanhados de guardas e amuletos diversos, cem garrafas de “Nassy”(3) para lavar a cabeça e os membros, trinta e três surats do Profeta para superar as forças do imponderável.
O frenesim do dia termina com a chegada do crepúsculo e, com ele desaparecem, também, os sorrisos das crianças no meio da guerra. Mergulhamos de novo na escuridão da noite e ninguém sabe o que pode acontecer até o dia seguinte. As nossas vidas giram à volta deste medo quotidiano junto dos arames farpados e abrigos escuros, o vai-vem apressado dos carros da tropa, sempre na esperança de um novo dia que há-de chegar, não se sabe como nem quando. “ALFA BRAVO... ALFA BRAVO... AQUI CENTAURO... ESCUTO...”
Imagem retirada do P12872, de autoria de Joaquim L. Fernandes, ex-Alf Mil da CCAC 3461 -Teixeira Pinto e Bissau (1973-74) com o sugestivo titulo: “Acordar memorias, Porto do carro, a minha aldeia e Canchungo, ontem e hoje"; que me devolveu à memória alguns episódios e cenas vividos durante a guerra colonial na Guiné e serviu de inspiração para o presente texto.
Notas:
(1)
Venha ver os arames dos brancos, menino;
Venha ver os invólucros das balas, pequeninos;
Venha ver a luz que brilha lá longe, para afastar o medo;
Venha ver o mato escuro, onde os homens se matam à procura da paz.
(2)
“A minha mãe foi ao campo trabalhar e o meu pai foi ao Birré (casa de mato onde, antigamente, os homens bebiam vinho de palma) e não sei de quem é a voz que clama: Umh... Djeuro morreu”.
Trata-se de partes da canção muito popular de um conto iniciático em língua Fula que narra a coragem de uma criança, simbolizando a vida que, sozinha, conseguiu superar o medo e vencer a serpente, grande como a terra, que a queria engolir na ausência da mãe, sempre ocupada em trabalhos para o sustento da família, do pai ocioso e amante do vinho de palma e do irmão (Djeuro) que teria encontrado a morte ao tentar opor-se a serpente gigante.
(3)
Nassy = mistura de água perfumada e de versículos corânicos previamente escritos numa tábua de leitura, muito usada no seio da comunidade muçulmana da África ocidental em geral e entre os Fulas em particular, ao qual se atribui diferentes tipos de poderes.
Bissau, 27 de Março de 2014.
Cherno Abdulai Baldé (Chico de Fajonquito).
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Nota do editor
Último poste da série de 25 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11762: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (45): Horror e terror em Cuntima, em novembro de 1976: a revolta de um grupo de antigos milícias, a execução pública de Soarê Seidi e de Abbaro Candé, por ordem do histórico comandante do PAIGC, Quemo Mané (Recordações de Demburri Seidi, tradução e texto de Cherno Baldé)
Guiné 63/74 - P12928: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (12): Guerra copofónica
1. Em mensagem do dia 28 de Março de 2014, o nosso camarada Abílio Magro (ex-Fur Mil Amanuense. CSJD/QG/CTIG, 1973/74), reaparece com uma perigosa história de guerra (copofónica) vivida nas perigosas matas da cidade de Bissau.
Um Amanuense em terras de Kako Baldé
(Para quem não sabe, Kako Baldé era o nome por que era conhecido, entre a tropa, o General Spínola. Kako – (caco) lente que o General metia no olho. Baldé – Nome muito comum na Guiné)
12 - Guerra copofónica
Pelas tarefas que desempenhava na CSJD/QG/CTIG (Serviço de Justiça), fui-me apercebendo que muitas doenças, ferimentos e até mortes eram resultantes do abuso na ingestão de bebidas alcoólicas mas quem, durante a sua comissão, não apanhou a sua "tosgazita"?
Porém, quando estamos num TO e somos possuidores de uma arma de guerra, uns copitos com os camaradas e algum descontrolo, podem resultar em tragédia.
Este pequeno episódio que se passou comigo é bem elucidativo disso mesmo, e se o multiplicarmos por dezenas, ou até centenas (durante toda a guerra colonial, talvez milhares) e o transpusermos para uma qualquer Companhia do mato, não será difícil adivinhar a quantidade de incidentes com finais trágicos que ocorreram durante aquela guerra.
Numa das minhas muitas seguranças nocturnas que fiz às instalações da PIDE-DGS em Bissau, junto ao bairro do "Pilão", comandando um pequeno grupo de 6 ou 7 homens, deu-se um episódio que me deixou bastante incomodado e "acagaçado".
O pessoal que integrava estes pelotões pertencia à CCS/QG e apresentava-se à noite, para efectuar o "serviço", já bastante cansado das muitas picadas percorridas durante o dia entre gabinetes e, alguns, com muitas paragens para reabastecimento no Bar.
Por norma, estacionávamos numa pequena ruela, nas traseiras da DGS, que dava acesso ao Bairro do Cupilom e ali, junto a uma palhota, o pessoal "ferrava o galho" com uma "pinta do caraças"! Eu nunca dormia e não era por medo ..., não senhor! Era pelo meu elevado sentido de responsabilidade e pela obrigação moral de zelar pelo merecido descanso daqueles bravos militares.
Nessa noite, íamos talvez fazer o turno das 00h00 às 04h00 e tínhamos acabado de chegar ao "objectivo" quando entra na ruela um táxi conduzido por um negro e com um "pendura" negro também. De repente, um "fabiano" do pelotão manda parar o táxi, puxa a culatra atrás, e apontando a arma ao "pendura", indaga:
- Quem és tu, para onde vais!?
Oh balha-me Deus, carago, que é isto!? - Pergunto-me a mim próprio, completamente embasbacado.
Passados uns segundos logo me apercebi que o "fabiano" estava com uma valente "tosga", daquelas chamadas de "caixão à cova". Ai meu Deus se o gajo diapara aquela merda!
Com pinças e tentando manter a calma do "fabiano" (eu tremia todo e devia estar azul - ai s'aquilo dispara!), a muito custo, mas muito de levezinho, lá consegui retirar-lhe a arma e desarmá-la, apetecendo-me logo de seguida dar-lhe uma valente coronhada na "tola", mas lembrando-me de algumas "tosgas" próprias, lá pedi desculpas ao taxista & Cª e mandei-os seguir viagem.
Pelo "telemóvel" contactei o Alferes Miliciano de prevenção (um amigo dos tempos do QG de Lisboa) e, com receio de possíveis escutas, disse-lhe apenas que precisava da presença dele pois havia um pequeno problema.
Apareceu passado pouco tempo de Unimog e com mais um pelotão, meio embasbacado também por não perceber o que se estava a passar.
Chamei-o à parte e lá lhe contei o que acontecera. Substituiu-se o "fabiano" que seguiu de Unimog para o Quartel e tudo o resto decorreu normalmente.
Acordamos depois que não faríamos qualquer participação e o "fabiano" livrou-se duma valente "porrada".
Eu ..., apanhei mais um valente "cagaço".
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Nota do editor
Último poste da série de 24 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12080: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (11): Djassi, o ordenança
Um Amanuense em terras de Kako Baldé
(Para quem não sabe, Kako Baldé era o nome por que era conhecido, entre a tropa, o General Spínola. Kako – (caco) lente que o General metia no olho. Baldé – Nome muito comum na Guiné)
12 - Guerra copofónica
Pelas tarefas que desempenhava na CSJD/QG/CTIG (Serviço de Justiça), fui-me apercebendo que muitas doenças, ferimentos e até mortes eram resultantes do abuso na ingestão de bebidas alcoólicas mas quem, durante a sua comissão, não apanhou a sua "tosgazita"?
Porém, quando estamos num TO e somos possuidores de uma arma de guerra, uns copitos com os camaradas e algum descontrolo, podem resultar em tragédia.
Este pequeno episódio que se passou comigo é bem elucidativo disso mesmo, e se o multiplicarmos por dezenas, ou até centenas (durante toda a guerra colonial, talvez milhares) e o transpusermos para uma qualquer Companhia do mato, não será difícil adivinhar a quantidade de incidentes com finais trágicos que ocorreram durante aquela guerra.
Numa das minhas muitas seguranças nocturnas que fiz às instalações da PIDE-DGS em Bissau, junto ao bairro do "Pilão", comandando um pequeno grupo de 6 ou 7 homens, deu-se um episódio que me deixou bastante incomodado e "acagaçado".
O pessoal que integrava estes pelotões pertencia à CCS/QG e apresentava-se à noite, para efectuar o "serviço", já bastante cansado das muitas picadas percorridas durante o dia entre gabinetes e, alguns, com muitas paragens para reabastecimento no Bar.
Por norma, estacionávamos numa pequena ruela, nas traseiras da DGS, que dava acesso ao Bairro do Cupilom e ali, junto a uma palhota, o pessoal "ferrava o galho" com uma "pinta do caraças"! Eu nunca dormia e não era por medo ..., não senhor! Era pelo meu elevado sentido de responsabilidade e pela obrigação moral de zelar pelo merecido descanso daqueles bravos militares.
Nessa noite, íamos talvez fazer o turno das 00h00 às 04h00 e tínhamos acabado de chegar ao "objectivo" quando entra na ruela um táxi conduzido por um negro e com um "pendura" negro também. De repente, um "fabiano" do pelotão manda parar o táxi, puxa a culatra atrás, e apontando a arma ao "pendura", indaga:
- Quem és tu, para onde vais!?
Oh balha-me Deus, carago, que é isto!? - Pergunto-me a mim próprio, completamente embasbacado.
Passados uns segundos logo me apercebi que o "fabiano" estava com uma valente "tosga", daquelas chamadas de "caixão à cova". Ai meu Deus se o gajo diapara aquela merda!
Com pinças e tentando manter a calma do "fabiano" (eu tremia todo e devia estar azul - ai s'aquilo dispara!), a muito custo, mas muito de levezinho, lá consegui retirar-lhe a arma e desarmá-la, apetecendo-me logo de seguida dar-lhe uma valente coronhada na "tola", mas lembrando-me de algumas "tosgas" próprias, lá pedi desculpas ao taxista & Cª e mandei-os seguir viagem.
Pelo "telemóvel" contactei o Alferes Miliciano de prevenção (um amigo dos tempos do QG de Lisboa) e, com receio de possíveis escutas, disse-lhe apenas que precisava da presença dele pois havia um pequeno problema.
Apareceu passado pouco tempo de Unimog e com mais um pelotão, meio embasbacado também por não perceber o que se estava a passar.
Chamei-o à parte e lá lhe contei o que acontecera. Substituiu-se o "fabiano" que seguiu de Unimog para o Quartel e tudo o resto decorreu normalmente.
Acordamos depois que não faríamos qualquer participação e o "fabiano" livrou-se duma valente "porrada".
Eu ..., apanhei mais um valente "cagaço".
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Nota do editor
Último poste da série de 24 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12080: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (11): Djassi, o ordenança
Guiné 63/74 - P12927: O que é que a malta lia, nas horas vagas (28): Fotonovelas não temos, mas arranja-se Sigmund Freud (José Manuel Matos Dinis)
1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 27 de Março de 2014:
Viva Carlos,
Apesar da chuva desejo-te boa tarde.
Hoje, quando manuseava um dossier da Guiné, onde guardei uns apontamentos sobre Salazar, descobri o pequeno papelinho, que anexo, e pode muito bem enquadrar-se na rubrica do blogue, que acolhe os temas relacionados sobre as nossas leituras naquele espaço geográfico da antiga colónia, durante as nossas comissões militares.
Já anteriormente me pronunciei sobre coisas que me interessava ler. Referi que em Piche havia um acervo livreiro sobre, principalmente, temas romanceados, Lartéguy e Amado eram à farta. Mais tarde, em Bajocunda, já havia uma certa evolução gustativa, e o colectivo livreiro passou a integrar ensaios, poemas interventivos, e outras publicações de carácter político e contestatário.
Coisas que líamos na pacatez do lugar e dos "intervais" da guerra, sendo que uma ou outra poderia considerar-se "armadilhada".
Nunca houve azar, nunca irrompeu nos quartos qualquer brigada da secreta, nem consta, que tivesse havido bufaria, até porque o âmbito dos leitores mais atrevidos era bastante reduzido e circunspecto.
Em Piche, como já referi noutra ocasião, também tive o meu período "intelectual" dedicado às fotonovelas. Andei próximo de ficar apanhada, mas, ao que consta, o meu stress pós-traumático só tem a ver com a característica que me atribuem, de ser um bocadinho maluco dos cornos. Ou era, pois já me dou conta, de que, nesta idade, às vezes, convém ter travões.
Passemos então à matéria da relíquia, que não guarda rendas, nem odores de sedução, como a do Eça com todo o encanto da descrição que ele fez. Pelo contrário, até pode passar ao lado da curiosidade da maioria, e vou descrevê-la com a carga fictícia de quem já não se lembrava do assunto.
FOTONOVELAS NÃO TEMOS, MAS ARRANJA-SE SIGMUND FREUD
Um qualquer dia, de certeza em Bajocunda, algum funcionário ou militar terá sido portador do papelinho digitalizado, que "pede por favor" aos Srs Furriéis (com maiúscula, que o respeitinho é muito bonito), se podem emprestar fotonovelas ou foto Romances (?).
Acrescenta alguma coisa, que não se parece com nada, e assinou.
Igualmente, este teu amanuense deve ter sido o destinatário, ou um dos destinatários, mas de alguma maneira tornou-se personagem, quiçá a pensar produzir algum efeito especial num futuro blogue dedicado às coisas daquele tempo na Guiné.
Como o amanuense não morria de amores pelo capitão, que considerava descaracterizado, e o autor da missiva com interesses vastos pela leitura não teve em conta, por falta de destinatário expressamente indicado, que a mensagem poderia chegar ao IN, o referido amanuense ousou baralhar Sua Senhoria o capitão, e respondeu nas costas do instrumento mensageiro, que se lamentava a indisponibilidade do material pedido, mas, em alternativa, se assim o entendesse, subentende-se, poderia usufruir da leitura contida em "Psicopatologia da Vida Quotidiana", título perigosíssimo, por o conteúdo poder conter denúncias de certas práticas, associadas a patologias incuráveis nas bordinhas do deserto (Sahará).
E, como se sabe, ninguém gosta de tomar conhecimento de derivas no próprio estado de saúde. Por esta e por outras poderás avaliar como o amanuense nutria profunda estima pelo maioral, que retribuía (a ordem é indiferente), tanto quanto possível, na mesma moeda.
Iam-se gramando, até que deixaram de gramar-se. Mas não foi desta. Só não sei, por que raio de artes consegui ficar com a mensagem e a resposta, já que não era meu costume (ainda não é) devassar bens alheios.
Ou será que ele me devolveu o papel com alguma ironia ou ameaça?
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Nota do editor
Último poste da série de 22 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12882: O que é que a malta lia, nas horas vagas (27): Em Galomaro li "A Relíquia" e "O Primo Basílio" do Eça de Queirós, José Vilhena e outros autores, ouvi a Maria Turra e decifrei os escritos do 2.º CMDT do Batalhão (António Tavares)
Viva Carlos,
Apesar da chuva desejo-te boa tarde.
Hoje, quando manuseava um dossier da Guiné, onde guardei uns apontamentos sobre Salazar, descobri o pequeno papelinho, que anexo, e pode muito bem enquadrar-se na rubrica do blogue, que acolhe os temas relacionados sobre as nossas leituras naquele espaço geográfico da antiga colónia, durante as nossas comissões militares.
Já anteriormente me pronunciei sobre coisas que me interessava ler. Referi que em Piche havia um acervo livreiro sobre, principalmente, temas romanceados, Lartéguy e Amado eram à farta. Mais tarde, em Bajocunda, já havia uma certa evolução gustativa, e o colectivo livreiro passou a integrar ensaios, poemas interventivos, e outras publicações de carácter político e contestatário.
Coisas que líamos na pacatez do lugar e dos "intervais" da guerra, sendo que uma ou outra poderia considerar-se "armadilhada".
Nunca houve azar, nunca irrompeu nos quartos qualquer brigada da secreta, nem consta, que tivesse havido bufaria, até porque o âmbito dos leitores mais atrevidos era bastante reduzido e circunspecto.
Em Piche, como já referi noutra ocasião, também tive o meu período "intelectual" dedicado às fotonovelas. Andei próximo de ficar apanhada, mas, ao que consta, o meu stress pós-traumático só tem a ver com a característica que me atribuem, de ser um bocadinho maluco dos cornos. Ou era, pois já me dou conta, de que, nesta idade, às vezes, convém ter travões.
Passemos então à matéria da relíquia, que não guarda rendas, nem odores de sedução, como a do Eça com todo o encanto da descrição que ele fez. Pelo contrário, até pode passar ao lado da curiosidade da maioria, e vou descrevê-la com a carga fictícia de quem já não se lembrava do assunto.
FOTONOVELAS NÃO TEMOS, MAS ARRANJA-SE SIGMUND FREUD
Um qualquer dia, de certeza em Bajocunda, algum funcionário ou militar terá sido portador do papelinho digitalizado, que "pede por favor" aos Srs Furriéis (com maiúscula, que o respeitinho é muito bonito), se podem emprestar fotonovelas ou foto Romances (?).
Acrescenta alguma coisa, que não se parece com nada, e assinou.
Igualmente, este teu amanuense deve ter sido o destinatário, ou um dos destinatários, mas de alguma maneira tornou-se personagem, quiçá a pensar produzir algum efeito especial num futuro blogue dedicado às coisas daquele tempo na Guiné.
Como o amanuense não morria de amores pelo capitão, que considerava descaracterizado, e o autor da missiva com interesses vastos pela leitura não teve em conta, por falta de destinatário expressamente indicado, que a mensagem poderia chegar ao IN, o referido amanuense ousou baralhar Sua Senhoria o capitão, e respondeu nas costas do instrumento mensageiro, que se lamentava a indisponibilidade do material pedido, mas, em alternativa, se assim o entendesse, subentende-se, poderia usufruir da leitura contida em "Psicopatologia da Vida Quotidiana", título perigosíssimo, por o conteúdo poder conter denúncias de certas práticas, associadas a patologias incuráveis nas bordinhas do deserto (Sahará).
E, como se sabe, ninguém gosta de tomar conhecimento de derivas no próprio estado de saúde. Por esta e por outras poderás avaliar como o amanuense nutria profunda estima pelo maioral, que retribuía (a ordem é indiferente), tanto quanto possível, na mesma moeda.
Iam-se gramando, até que deixaram de gramar-se. Mas não foi desta. Só não sei, por que raio de artes consegui ficar com a mensagem e a resposta, já que não era meu costume (ainda não é) devassar bens alheios.
Ou será que ele me devolveu o papel com alguma ironia ou ameaça?
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Nota do editor
Último poste da série de 22 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12882: O que é que a malta lia, nas horas vagas (27): Em Galomaro li "A Relíquia" e "O Primo Basílio" do Eça de Queirós, José Vilhena e outros autores, ouvi a Maria Turra e decifrei os escritos do 2.º CMDT do Batalhão (António Tavares)
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