1. Continuação do "Diário da CART 1742" de autoria de Mário dos Anjos Teixeira Alves, 1.º Cabo Corneteiro, enviado ao Blogue pelo nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69).
Diário da CART 1742
Autoria de Mário dos Anjos Teixeira Alves
1.º Cabo Corneteiro
Guiné, 1967/1969
Este diário foi oferecido aos camaradas presentes no 9.º convívio da
Companhia de Artilharia 1742, em Campeã - Vila Real de Trás-os-Montes em
25 de Maio de 2013.
Eis a razão
Dos momentos
Da nossa indisposição,
Mandaram-nos para a guerra
Sem a nossa opinião.
Por isso o Salazar
Não terá o nosso perdão.
FEVEREIRO 68
Dia 1 - quinta-feira, às 16h:
Ouvi um
alarido e saí para ver o que se passava. Era a arrecadação de géneros e a
enfermaria a arder. Vieram os carros de água do Batalhão, mas não
conseguiram apagá-lo, pois a cobertura era de capim.
Dia 2 - sexta-feira:
O pessoal na limpeza ao espaço que ardeu.
Dia 3 - sábado:
De
manhã estivemos a preparar o material, e à tarde foi entregue aos
pelotões que vão montar segurança em redor de Nova Lamego ao presidente
Américo Tomás, mas houve camaradas que passaram a noite todos
encharcados, já que na travessia de um riacho desequilibraram-se do
tronco de uma árvore que fazia de ponte, e um deles foi o Abel Santos.
Até as ruas estão todas enfeitadas para ele pensar que isto é um
paraíso.
Dia 4 - domingo, às 8h
Chegou o tal
presidente da República Américo Tomás, mas nós não podíamos sair, para estarmos preparados para algo de estranho, mas correu tudo
bem.
Às 13h3o chegaram os pelotões que tinham ido montar segurança.
Dia 6 - terça-feira:
Chegaram
os furriéis com o armamento do Batalhão para o prepararmos, a companhia
ia sair no dia seguinte, e nós tivemos de fazer serão a introduzir
munições nos carregadores e a pôr o material todo em ordem.
Dia 7 - quarta-feira de manhã:
Estivemos a entregar o material aos pelotões que vão fazer escolta a Béli
Dia 12 - segunda-feira, às 16h:
Chegou a companhia da escolta a Béli que fica na zona de Madina.
No regresso hoje de manhã, entre o Che-Che e Canjadude, uma mina rebentou
debaixo de uma das Daimler. Morreu o condutor, e o apontador ficou
gravemente ferido, eram do pelotão Daimler, que estavam prestes a ir
embora.
O IN não ataca a escolta, porque a aviação faz segurança voando
sobre o trajecto que era percorrido pela companhia, por isso só com
minas os cobardes faziam asneiras.
Foto da Daimler
Dia 21 - quarta-feira:
Chegou
o furriel Nogueira para darmos material ao pelotão dele porque ia sair,
mas depois houve novas ordens: já não era preciso e voltaram a entregar
o material.
Dia 22 - quinta-feira, das 20h às 23h:
Estivemos a ver cinema cá no destacamento, veio cá o furriel Foto-Cine a pedido dos nossos furriéis e oficiais.
Dia 23 - sexta-feira:
Houve correio e voltámos a ver cinema à mesma hora de ontem.
Dia 25 - domingo:
Carnaval em Portugal, mas aqui contínua tudo mais ou menos o mesmo continuando assim segunda e terça-feira de carnaval.
Dia 28 - quarta-feira:
Parte do dia estive a preparar material, porque a companhia vai sair.
Dia 29 - quinta-feira de manhã:
Entregámos o material à companhia que saiu às 7h30 para fazer mais uma escolta a Madina do Boé.
MARÇO 68
Dia 1- sexta-feira:
Dia de correio e, como sempre quando a companhia sai nós temos que fazer de cabos de dia, da guarda e reforços etc.
Dia 2 - sábado:
Recebi uma encomenda que os meus pais me mandaram. O restante tudo normal.
Dia 4 - segunda-feira, às 15h:
Chegou
o pessoal da escolta a Madina, em que houve grande azar, além de terem
levantado quatro minas, uma rebentou numa viatura que ficou danificada,
mas só o alferes Cruz é que ficou com uns ligeiros ferimentos com as
areias felizmente.
Tudo normal.
Dia 6 - quarta-feira:
Na formatura do almoço esteve cá o comandante do Batalhão a dar um elogio ao bom comportamento da nossa companhia.
Dia 7 - quinta-feira de manhã:
Entregámos material a um pelotão que saiu de tarde, esteve cá o sargento Ribeiro e estivemos a conferir material.
Dia 8 - sexta de manhã:
Demos material a dois pelotões que saíram, e a seguir continuámos a conferir material com o sargento Ribeiro.
Dia 10 - domingo de tarde:
Os
fulas fizeram uma festa com o batuque deles em frente ao destacamento,
tirando isso tudo normal, e assim continuou até ao dia 15, dia em que
chegou o correio.
À tarde pelas 18h fui á missa em honra do furriel que
morreu em Buruntuma.
Dia
19 - terça-feira de manhã:
Estivemos eu e o Oliveira como sempre, a preparar o armamento a municiar
os carregadores da Drayse e fitas da MG42 etc.
De tarde fizemos a
entrega do material à companhia que amanhã vai fazer mais uma escolta a
Béli, e depois do jantar distribuímos mantas ao pelotão de Canquelifá,
que vem para nos ajudar a fazer a segurança cá no destacamento, como
sempre.
Dia 20 - quarta-feira, às 5h da manhã:
Chegou
o nosso capitão e um condutor para carregar as munições, e continuámos a
dar o restante material, o que ainda era necessário, e lá partiram às
6h.
À tarde estivemos a arrecadar o material da companhia de Fá, que
ficam cá hoje, para irem amanhã fazer uma operação.
Dia 21- quinta-feira, às 3h da manhã:
Veio
a companhia de Fá levantar o material que nós guardámos ontem.
Às 7h30
chegou uma GMC com material da mesma companhia, pois quando caminharam a
pé, não o puderam levar todo e deixaram-no aqui guardado.
Também foi
dia de correio.
Dia 22 - sexta-feira:
Faz oito meses que embarcámos em Lisboa.
De dia tudo normal, mas à noite
não havia pessoal para fazer reforço. Depois resolveram que seria o
pelotão de Canquelifá a fazê-lo, os quais normalmente só estão de
prevenção.
Dia 23 - sábado, às 21h45:
Chegou a companhia de Fá e estivemos a arrecadar o material deles. Eles disseram-nos que tinha corrido tudo bem.
Dia 24 - domingo, às 17h30:
Chegou
a nossa companhia da escolta a Béli. Correu tudo bem felizmente, e
assim estivemos a receber o material, e depois distribuir mantas ao
pelotão de Fá que esteve de serviço.
Dia 26 - terça-feira, de manhã:
Demos
material a diversos da companhia para irem fazer algumas demonstrações
para filmar, e às 18h30 vieram entregar esse material.
Dia 27 - quarta-feira:
De manhã estivemos a fazer limpeza a algum material, de tarde tudo normal.
Dia 28 - quinta feira, às 13h:
Houve
ordens para a companhia sair imediatamente e estivemos a entregar-lhe o
material, às 17h30 chegaram novamente.
A operação que foram fazer foi
em perseguição a um grupo IN, mas como não os encontraram, não demoraram
muito.
Dia 29 - sexta-feira:
Dia de correio, e depois tudo normal tal como no dia 30 e 31, em que termina mais um mesito.
ABRIL 68
Dia 1 - segunda-feira de manhã:
Estivemos
a descarregar os carregadores das Drayses, que são armas para entregar
ao Batalhão.
Às 10h recebemos o pré que habitualmente se recebe no dia 1
de cada mês.
Às 16h estivemos a distribuir material a todos os pelotões
da companhia, que amanhã vão fazer uma operação.
Dia 2 - terça-feira:
Sai a companhia para a dita operação.
Dia 3 - quarta-feira, às 17h30:
Chegou
a companhia da operação que haviam feito e tudo correu bem felizmente.
E
assim tudo continuou normal até ao dia 7 domingo, dia em que o Oliveira
partiu no Dacota para Bissau, para ir passar férias em Portugal.
Dia 10 - quarta-feira, de manhã:
Estive
a encaixotar material para levarmos a um novo destacamento que segundo
dizem, será Buruntuma. E assim tudo normal até ao dia 12, em que às 16h
formou a companhia, e dois pelotões receberam ordens para preparar tudo,
para amanhã irem para o nosso novo destacamento: Buruntuma.
Dia 13 - sábado, às 5h da manhã:
Vieram
os dois pelotões levantar as armas pesadas para levar, e entregar o
resto do material que fica nesta arrecadação, também foi outro pelotão
escoltá-los, o qual chegou às 13h30.
À noite chegou a companhia
PIRIQUITA que nos vem substituir.
Dia 14 - domingo, dia de Páscoa na Metrópole:
Continuei
a receber material que era para ficar e, distribui mantas ao nosso
pessoal para dormir, porque a caserna foi entregue à nova companhia.
Dia 15 - segunda-feira:
Após
o café estive a receber as mantas do nosso pessoal, as quais voltei a
entregar à noite, visto que ainda cá continuámos, entreguei também
material à companhia nova para amanhã irem fazer uma escolta a Madina.
Dia 17 - quarta-feira, das 5h30 às 7h30:
Estivemos
a carregar material para o primeiro pelotão levar para Buruntuma. O
sargento Ribeiro foi levantar à arrecadação de lá, e eu fiquei a
entregar nesta.
Junto com o furriel Carrola, às 10h, começámos a conferir o
material com o 1.º sargento da nova companhia mas de tarde
interrompemos por termos recebido a notícia que na escolta a Madina
rebentou uma mina, tendo morrido um alferes, e um cabo ficou sem uma
perna, e o 1.º sargento deles teve de tratar desses assuntos, mau começo
para esses rapazes.
Dia 18 - quinta-feira:
Eu e o
quarteleiro da nova companhia continuámos a conferir o material e, no
dia 19 prosseguimos com a ajuda do 1.º sargento e do furriel Carrola e
assim continuámos no dia 20.
Dia 21 - domingo:
Continuámos
no mesmo trabalho e, às17h chegou a companhia PIRA da escolta a Madina, que no regresso foram atacados ao atravessar na jangada o rio Corubal
no Che-Che. Houve um soldado e um 1.º cabo, que eram da CCS, que
ficaram afogados no rio e não mais apareceram.
Dia 22 - segunda-feira:
Continuámos
a conferir o material, quando acabámos o 1º sargento abriu a cantina e
pagou umas cervejas ao quarteleiro dele, a mim e ao furriel Carrola.
Dia 23-terça feira:
Depois
das 6h andei a carregar o que me competia trazer, a própria bagagem,
etc.
Às 7h30 iniciámos a viagem para Buruntuma onde chegámos às 11h30 e,
assim tomei conta da nova arrecadação.
Dia 24 - quarta-feira:
Andei
a arrumar o material que veio de Nova Lamego e à noite fiz uma hora de
reforço, o que irá acontecer todos os dias, visto que as secções dos
pelotões estão distribuídas cada uma em seu abrigo, e dá para todos
fazerem uma hora por noite.
Dia 26 - sexta-feira, de manhã:
A companhia que vai embora, esteve a carregar o material para estarem prontos para irem manhã cedo.
Dia 27 - sábado:
Às
5h a companhia velha partiu para a Peluda e, foi um pelotão nosso
montar segurança e, levou algum material para o destacamento de Camajabá
e ponte do rio Caium, onde temos pessoal, instalado.
Dia 30 - terça-feira:
De
tarde houve correio e pré, o nosso capitão mesmo aqui no cúmulo do mato
e, na fronteira com a Guiné Conacri, exigiu que fossemos receber
devidamente fardados.
MAIO 68
Dia 5 - domingo:
Após
o meio-dia chegou a coluna com os géneros e o correio e, voltou
novamente outro pelotão em outra coluna, para trazer mais géneros, para
evitar que aconteça termos só bianda (arroz) para o pessoal comer, como
andámos já há bastantes dias.
E assim continua tudo normal até ao dia
10.
Dia 10 - sexta-feira:
Dia em que houve correio,
que é sempre um dia especial.
E assim tudo continuou bem até dia 14, em
que o capitão me mandou chamar cedo para lhe entregar material, para a
companhia sair para uma pequena operação.
Chegaram às 11h30, tendo
corrido tudo bem.
Até ao dia 16 tudo normal.
Dia 17 - sexta-feira:
Às 5h estive a entregar material à companhia, pois iam fazer uma coluna para reabastecimento de géneros e não só.
Dia 18 -s ábado:
Chegou a coluna com toda a normalidade e, assim tudo normal até ao dia 21.
Dia 22 - quarta-feira:
Faz 10 meses que correspondem a 10 anos, que embarcámos em Lisboa.
Dia 23 - quinta-feira:
Começamos
com o arranjo do nosso abrigo (7), que estava a abater. Os abrigos são
cobertos por troncos de árvores grossas, colocadas lado a lado, e a
seguir levam chapas de bidões abertos e, por cima algum cimento com
areia. Por fim uma boa altura de terra para estarmos mais abrigados das
granadas e morteiradas do IN.
Dia 24 - sexta-feira:
Fomos arrastar troncos até dia 26.
Dia 27 - segunda-feira:
Chegou
o Oliveira (colega da arrecadação) de gozar a licença em Portugal, mas
os trabalhos no abrigo continuam e assim até ao dia 30.
Dia 31- sexta-feira:
Término dos trabalhos no abrigo.
JUNHO 68
Dia 5 - quarta-feira:
Ao meio-dia chegaram os camaradas que foram ajudar a fazer a escolta a Madina e, trouxeram o correio.
Dia 8 - sábado de manhã:
Estivemos a
dar material à companhia que foi a Bambadinca aos géneros, os quais
chegaram dia 9 às 13h. Também trouxeram correio, tendo sido assim um bom
domingo para todos.
Dia 10 - segunda-feira, de manhã:
Recebemos o material de aquartelamento, da secção que vai para Béli
juntar-se ao pelotão que já se encontra em Madina do Boé há alguns dias,
mantendo-se a normalidade até ao dia 14.
Dia 15 - sábado de manhã:
Estivemos a dar material aos que vão fazer a coluna a Bambadinca.
Dia 16 - domingo de tarde:
Vieram cá os de Canquelifá e, trouxeram o correio, até ao dia 21 tudo normal.
Dia 22 - sábado:
Faz
onze meses que deixámos Portugal.
Depois ao meio dia veio cá o nosso
Governador e Comandante-Chefe, o que para nós foi muito agradável.
Dia 26 - quarta-feira:
Hoje saiu a companhia para fazer a operação mensal, tendo corrido tudo normalmente. Prolongando-se assim até ao dia 29.
Fim do mês.
JULHO 68
Dia 1-segunda feira:
É dia de pré e restante tudo normal até ao dia 6.
Dia 7 - domingo:
De
manhã os oficiais e sargentos tiveram uma festa de anos, e o nosso
capitão queria que eu fosse tocar o clarim para hastear a bandeira, mas
os mesmos não estavam em condições, não podendo assim satisfazer-lhe a
vontade.
Ao meio-dia chegou o pelotão que tinha ido para Madina, tendo
estado ultimamente, no Che-Che.
O pelotão que estava cá que era de Piche
regressou à companhia.
E por cá correu tudo dentro da normalidade até
ao dia 10.
Dia 11 - quinta-feira:
Às 11h saiu uma
coluna para a Bambadinca buscar géneros, e fui também com eles, para ir a
Nova Lamego ao médico, derivado a uma fístula.
Ao
chegar a Nova lamego, o Moura atropelou uma criança que acabou por
morrer.
Quando chegámos o médico já não me consultou por ser tarde, e
então ficamos lá.
No dia seguinte às 6h, fui com o meu pessoal a
Bambadinca carregar as viaturas. No regresso avariaram algumas e só
chegamos a Nova Lamego de noite, onde pernoitamos.
Dia 13 - sábado:
De
manhã, a coluna não podia esperar que eu fosse ao médico, então eu
regressei com eles mesmo sem ter sido consultado.
As coisas foram
correndo bem até ao dia 16.
Dia 17 - quarta-feira:
De tarde veio cá a avioneta e trouxe correio.
Dia 20 - sábado:
Às
10h o furriel enfermeiro veio avisar-me que vai uma escolta a
Bambadinca perguntando-me se eu queria ir ao médico, e eu respondi-lhe
que desta vez não vinha embora sem ser consultado, aproveitei e partimos
ao meio-dia e trinta, chegando a Nova Lamego às 16h, onde fomos logo à
consulta, passando cá a noite.
Dia 21 - domingo:
Às
6h30 continuámos a viagem para Bambadinca onde chegámos às 10h30, e
ainda assistimos à missa que estava a ser celebrada na capela.
Às 14h30
já os carros estavam carregados e começámos a viagem de regresso.
Depois
de Bafatá, o Matos que era o condutor da viatura em que eu seguia,
deixou-a encostar demasiado à berma e eu, que trazia o joelho da perna
esquerda um pouco saliente, ao chocar com o taipal com uma árvore pensei
ter fracturado o mesmo, mas felizmente só ficou pisado.
Ao chegar a
Nova Lamego fui à enfermaria, e fizeram-me o curativo.
Dia 22 - segunda:
Às
7h30 iniciamos a viagem a caminho de Buruntuma onde chegámos às 11h30.
De tarde fui à enfermaria fazer o curativo à perna.
A seguir os furriéis
e o alferes Cruz - que é provisoriamente o comandante da companhia
enquanto o capitão está um mês de férias em Portugal - junto com alguns
soldados e levaram o bombo e alguns clarins mesmo danificados. Só não
levaram as caixas porque não têm conserto. Então com o Pereiro, com o
acordeão que mandou o Movimento Nacional Feminino, foram fazer ronco (festa) em
volta dos abrigos, a festejar um ano de Guiné, ou que partimos de
Lisboa.
Nos dois dias seguintes tudo normal.
Dia 25 - quinta-feira:
Já
de noite, quando o Penafiel me chamou, comecei a ouvir rebentamentos
que vinham de Camajabá, era o IN que fez uma visita à malta.
Dia 26 - sexta-feira:
Logo pela manhã foi-nos dado conhecimento que as nossas tropas de Camajabá não sofreram baixas nem feridos graves.
Dia 27 - sábado:
Saiu uma escolta para Nova Lamego. Restante dia tudo normal.
Dia 28 - domingo:
Às
19h15 fomos surpreendidos por uma grande descarga de fogo do IN, e eu, o
Oliveira e o Lemos que estava connosco, corremos para o abrigo do
primeiro socorro, onde já estava o 1.º sargento Bonito.
Era um estrondo
ensurdecedor, pela quantidade de granadas e rajadas de armas ligeiras
que caíam cá no destacamento. Só quando o nosso pessoal reagiu abrindo
fogo, e umas morteiradas foram lançadas é que eles abrandaram, e foram
corridos dali graças à nossa pronta intervenção.
Às 20h20 demos por
terminado o ataque ao aquartelamento.
Foi então averiguado o que tinha
acontecido ao nosso pessoal, e foi-nos dito que o apontador do morteiro
81, o Bagaço, nome pelo qual era conhecido, ficou gravemente ferido.
Eu e
o Oliveira fomos dormir à tabanca dos mecânicos, por ser o abrigo mais
próximo.
Dia 29 - segunda-feira:
Bem cedo, foi-nos
dado a fraca notícia que o Bagaço acabou por morrer à meia-noite, a
seguir andámos a ver os estragos que os morteiros e os roquetes fizeram.
Eu e o Oliveira tínhamos um cão que apesar de pequeno, ficou quase
desfeito à porta da arrecadação.
Às 7h30 chegaram duas avionetas para
levarem os feridos e o falecido mas, mas como não cabiam todos, e foram
os de maior gravidade, e às 18h30 voltaram novamente para levar os
restantes todos negros, e só aí foi o falecido.
Também faleceu um negro,
mas esse foi enterrado pelos familiares.
Dia 30 - terça-feira:
De manhã começamos a renovar o abrigo que fica entre a secretaria e a arrecadação, e foi-nos dito que na noite passada no abrigo 9 ia um indivíduo a rastejar em direcção à sentinela, o qual ao dar conta lhe deu um tiro mas não o atingiu e o tipo fugiu por entre as tabancas sem deixar rasto.
De agora em diante para prevenir, o reforço será dois a dois, evidentemente que faremos o dobro do tempo.
Dia 31 - quarta-feira:
Mais um final de mês, que só deixa más recordações.
(Continua)
____________
Nota do editor
Vd. primeiro poste da série de 24 de Julho de 2014 >
Guiné 63/74 - P13434: Diário da CART 1742 (Mário Alves, 1.º Cabo Corneteiro) (1): Período entre Agosto de 1967 e Janeiro de 1968 (Abel Santos)