1. Mensagem do nosso camarada António Santos Dias, ex-Fur Mil da
CTransp 9040/72 (Bissau, 1974), com data de 11 de Dezembro de 2014, correspondendo ao nosso desafia de se juntar à tertúlia no Poste 13998(*):
Boa noite,
Camarada e amigo Vinhal,
Confirmo a minha adesão à tertúlia da nossa Tabanca Grande e respondo de seguida às questões que me colocaste:
P - Regressaste à Metrópole em Setembro ou em Outubro de 1974?
R - Regressei em Setembro.
P - No tempo em que lá estiveste fizeram muitas colunas para o interior?
R - Muitas, e uma das últimas foi trazer para Bissau a CART 6251 de Mansabá.
Já agora para tua curiosidade, envio-te em anexo o modelo da guia de marcha da coluna.
P - Transportaram para Bissau pessoal e equipamento das quadrículas que entretanto iam sendo abandonadas?
R - Transportávamos principalmente pessoal e parte do equipamento que não ficava para o PAIGC.
P - Qual o ambiente de ambos os lados?
R - Quase sempre em ambiente de "camaradagem", pelo menos nas colunas auto em que eu era o responsável.
Enquanto estava a pensar nas respostas, lembrei-me que pertenceram também à 9040 o Furriel Meireles que já estava de saída e o Furriel Miranda de Sousa, ambos da zona do Porto.
O Miranda de Sousa vivia em Vila Nova de Gaia, foi árbitro de futebol a nível nacional e penso que já faleceu e foi dos dois o que mais tempo ficou na 9040.
Abraço e Boas Festas,
António Dias
2. Recordando o que escreveu o António Dias Santos em 1 de Dezembro quando se nos dirigiu:
Camarada,
Aterrei em Bissalanca na madrugada de 16 de março de 1974, com destino à Comp.Transp 9040.
Andei a levar um baile de 1 alferes que
era cabo e de 1 soldado que era furriel, brincadeira que me custou a aceitar, mas depois passou.
Foi o batismo por camaradas que seriam a minha companhia até ao fim da comissão.
Um abraço
António Santos Dias
Mealhada
3. Comentário do editor
Camarada António Santos Dias, sê então bem-vindo à tertúlia já que anuiste à nossa sugestão de te juntares a nós. És o Grã-Tabanqueiro 676.
Os documentos que nos enviaste são já parte da história da guerra da Guiné. Se tiveres mais documentos ou fotos da época, por favor, vai mandando para publicarmos. Poderás também escrever o que recordas das, julgo que muitas, colunas auto por estradas e picadas. Com certeza que tiveste a oportunidade de fazer colunas por toda a Guiné, com maiores ou menores dificuldades consoante o estado das picadas e o clima, nomeadamente no tempo das chuvas.
Respondeste sucintamente às perguntas que te formulei, mas poderás futuramente desenvolver os vários temas: colunas, o que transportavam e o ambiente que se vivia.
Recebe um abraço de boas vindas da tertúlia e dos editores.
Carlos Vinhal
____________
Nota do editor
(*) Vd poste de 9 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13998: O nosso livro de visitas (180): António Santos Dias, ex-Fur Mil da CTransp 9040/72 (Guiné, 1974)
Último poste da série de 13 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14022: Tabanca Grande (453): Luciano José Marcelino Jesus, ex-Furriel Mil. Art., CART 3494 (Xime-Enxalé-Mansambo, 1971/1974)
Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
Guiné 63/74 - P14082: Notas de leitura (660): “Crepúsculo de Sangue”, de Nelson Leal, Lugar da Palavra Editora, 2013 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Abril de 2014:
Queridos amigos,
A trama desta obra literária centra-se no stresse pós-traumático. É uma escrita muito cortante, muito económica, situa dois camaradas da guerra e dois palcos onde terão havido excessos que irão pesar na mente de um deles, até o destruir.
Nelson Leal desenha o percurso da doença, numa atmosfera que vai da guerra, passa pelo regime democrático e finda numa celebração em dia de Natal, os protagonistas ajustam contas com a ideologia em que acreditaram e que agora abominam. Nessa vozearia, João Manilha revive todo as imagens fantasmáticas que o perseguem, que continuam vivas na sua cabeça.
Pode não ser uma obra exemplar, mas confronta-nos sem tibiezas sobre a dor que ainda persegue muitos dos nossos camaradas.
Um abraço do
Mário
Um romance sobre o stresse pós-traumático: Crepúsculo de sangue, de Nelson Leal
Beja Santos
“Crepúsculo de Sangue”, de Nelson Leal, Lugar da Palavra Editora, 2013, é um romance de um oficial da Armada, muito ligado ao jornalismo que resolveu centrar-se no stresse pós-traumático. O primeiro episódio impressivo passa-se com a coluna que avança para Nambuangongo. Os rebeldes ainda resistem, cada vez mais timidamente. E logo uma descrição truculenta, o cabo Meireles manda cortar a cabeça a um rebelde morto: “O Frinchas, de olhos marejados, retirou, a custo, a catana da mão do negro e, num guinchar de raiva, lançou-a sobre o pescoço do cadáver… A cabeça do negro, indiferente à dor do colono, sorria de troça. E foi com ar de troça que se manteve, espetada num pau, junto à picada. Um troféu que a nossa exibia aos bacongos, que acreditavam que o guerrilheiro morto ressuscitaria, desde que mantivesse a cabeça”. Estamos no Norte de Angola, na Terra dos Dembos, o BCAÇ 96, do tenente-coronel Maçanita, tivera a sua primeira baixa. A operação Viriato está no auge. O nome do alferes Toscano aparece pela primeira vez. Maçanita quer a tudo o custo ser o primeiro a entrar em Nambuangongo. As tropas movimentam-se. O furriel João Manilha a tudo assiste, em silêncio. Como numa recapitulação histórica, assiste-se ao desenvolvimento da operação: “Avançaram baterias de artilharia, armadas de obuses 8,8 e 10,5. Avançou o tenente-coronel Armando Maçanita, de pistola em punho, no seu jipe trepidante, a ignorar os sobressaltos do terreno, de peito alçado. A coluna avança, alguns militares matam indiscriminadamente, incendeia-se Quicangassala… Algumas cabeças decepadas ergueram-se em estacas, a celebrar a vitória”. João Manilha está em estado de choque. E assim entra em Nambuangongo, enquanto o corpo de paraquedistas foi lançado em Quipedro, base de guerrilha, próxima de Nambuangongo.
Toscano e Manilha fizeram amizade, estamos nos fins dos anos 60, em Coimbra, Toscano enamora-se de Carminda e João Manilha de Giesta Maria. A guerra para eles continua. Toscano é oficial dos comandos, Manilha também faz parte das forças especiais. Dá sinais de depressão, Giesta afasta-se, Manilha insiste, é demasiado tarde, Giesta deu coração a outro.
E passamos para o massacre de Wiriyamu, dezembro de 1972, 6.ª Companhia de Comandos, operação Marosca, procura-se à viva força capturar o guerrilheiro Raimundo que anda a incomodar a região de Tete. As hélices dos helis troam pela savana, frenéticos, os Comandos tomam posição: “Um sujo véu castanho ia cobrindo os soldados da 6.ª Companhia, que formigavam entre as naves, a despejar armas, cantis, mochilas, rações, lonas. E as ténues silhuetas dos Comandos, de G3 em riste, agachados, em passo de corrida, foram, pouco a pouco, desaparecendo, tragadas na poeira. Wiriyamu esperava-os”.
Entretanto Mário Toscano trabalha para Jorge Jardim, está no seu exército particular, o SEI. Fala-se dos ataques da FRELIMO à via-férrea de Tete e das sortidas na estrada de Zobué, cresce a inquietação à volta da cidade da Beira. Jorge Jardim confia no êxito da Marosca. Começa o ataque a Wiriyamu, os habitantes são metidos nas suas palhotas e queimados, algumas mulheres violadas e depois abatidas. E o autor explica como irá ter lugar a denúncia do massacre de Wiriyamu, os rolos fotográficos e o relato das barbaridades chegou às mãos do padre Hastings, que os recambiou para Londres, serão publicados no jornal The Times, em julho de 1973. Mais uma dor de cabeça na política diplomática de Marcello Caetano.
João Manilha adoece em Tete, a depressão aprofunda-se, Mário Toscano visita-o. Dorme mal, tem pesadelos tenebrosos, as imagens dos massacres regressam em força.
E passamos para um de maio de 1974. Toscano tornou-se revolucionário, vive com Carminda junto a Cacilhas, convidou Manilha para jantar. Manilha descobre que Giesta Maria perdeu o marido na guerra da Guiné. Irá a Coimbra bater-lhe à porta, os seus afetos recuperam-se. Na aldeia os pais de João Manilha empurram-no para Luísa do Monte, após peripécias que envolvem as duas famílias, chega-se ao acordo para o contrato nupcial. Só que João Manilha não selará o contrato, irá casar com Giesta Maria.
Toscano vive a febre revolucionária, é membro do PCP, é convidado a dar informação do que se passa no Regimento dos Comandos, recusa-se, começa a rutura.
Os anos passam, João Manilha está a ler o Diário de Notícias na praia, na companhia da enteada e do filho, lê e relê uma reportagem sobre a guerra de Angola, a guerra civil está ao rubro. O stresse pós-traumático eclode: “Já não é a praia que ele vê, é a selva imensa de África, é a guerra, é o João que tropeça, que cambaleia, que cai e que se levanta, regressam as hélices dos helis, ele sente as metralhadoras a matraquear, tem um desmaio".
Irá ser tratado no Hospital Militar Principal, vai a uma consulta de psiquiatria, e daqui partirá para uma Junta Médica, é considerado incapaz para todo o serviço. “Reformou-se numa quarta-feira de março de 1988. Vestiu-se de luto, porque percebeu que morrera, ainda novo. Perdeu amigos, perdeu companheiros, perdeu escalas, perdeu serviços, perdeu bares, perdeu noitadas, perdeu borgas, perdeu sonhos. Reformou-se com 45 anos e com 27 anos de serviço. Com uma miséria no bolso e com dois filhos ainda por criar”. E rumam para Águeda, Giesta arranjou colocação numa Escola Preparatória, João Manilha procura integrar-se. Caminhamos para a atualidade. Diogo Toscano enamora-se de Joana Palla, em agosto de 2000 teremos casamento de muita e uma cerca circunstância, Diogo quer singrar na vida, é simplesmente filho de um capitão, e Joana é filha de um responsável socialista, com muitas conexões, o autor dá-nos uma imagem de Diogo servil e estúpido, mas capaz de tudo para ter um lugar ao sol. João Manilha está em casa e a empregadita são-tomense ciranda por ali, crepita a chuva, um vento enfurecido não dá tréguas, ressoou um trovão, João atira-se à jovem. Mas ele já deixara de ser velho. Ele voltara a ser o Furriel João Manilha e ela era aquela negra de África. Puxou-lhe as roupas num frenesim, como se fosse um ritual, atirou-a para o sofá, como se fosse um fardo e olhou, com os olhos perdidos, aquele corpo por cumprir, aquele ventre de ébano e aquele púbis encaracolado. É desta que João Manilha tem um AVC.
Na boa tradição da literatura e do cinema, haverá um almoço onde toda esta gente se irá reencontrar. Mário Toscano está no campo ideológico oposto ao que tivera a seguir ao 25 de abril, tem o filho bem instalado, há por ali comentários insultos de vária ordem, há mesmo uma atmosfera de derrisão em que o Manifesto Anti Dantas, de Almada Negreiros transforma-se numa catilinária à geração dos coelhos. Manilha está presente mas ausente, tem reminiscência duma cacofonia de canhangulos e carabinas, em desconcerto, a acordar o matorral. As balas, desencontradas, a silvarem traços de morte à sua volta, ceifando o chão e cravejando o arvoredo. À mesa, todos discutem, entusiasmado. A enteada de João Manilha vê duas gotas a escorrerem nas faces de João Manilha. Este está sozinho na guerra, vai matando, vai incendiando, está em Nambuangongo e salta para Wiriyamu, a menina grita: “Acudam, que o pai está mal! Depressa! Ai, que ele ainda morre!”.
“Crepúsculo de Sangue” pode não ser uma jóia literária mas reconduz-nos ao inferno da doença não tratada, vai ao coração do trauma da guerra e alerta-nos para um sofrimento que ainda devasta muitos antigos combatentes.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 22 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14064: Notas de leitura (659): “Cabo Verde e Guiné-Bissau: Da democracia revolucionária à democracia liberal”, por Fafali Koudawo, INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, 2001 (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
A trama desta obra literária centra-se no stresse pós-traumático. É uma escrita muito cortante, muito económica, situa dois camaradas da guerra e dois palcos onde terão havido excessos que irão pesar na mente de um deles, até o destruir.
Nelson Leal desenha o percurso da doença, numa atmosfera que vai da guerra, passa pelo regime democrático e finda numa celebração em dia de Natal, os protagonistas ajustam contas com a ideologia em que acreditaram e que agora abominam. Nessa vozearia, João Manilha revive todo as imagens fantasmáticas que o perseguem, que continuam vivas na sua cabeça.
Pode não ser uma obra exemplar, mas confronta-nos sem tibiezas sobre a dor que ainda persegue muitos dos nossos camaradas.
Um abraço do
Mário
Um romance sobre o stresse pós-traumático: Crepúsculo de sangue, de Nelson Leal
Beja Santos
“Crepúsculo de Sangue”, de Nelson Leal, Lugar da Palavra Editora, 2013, é um romance de um oficial da Armada, muito ligado ao jornalismo que resolveu centrar-se no stresse pós-traumático. O primeiro episódio impressivo passa-se com a coluna que avança para Nambuangongo. Os rebeldes ainda resistem, cada vez mais timidamente. E logo uma descrição truculenta, o cabo Meireles manda cortar a cabeça a um rebelde morto: “O Frinchas, de olhos marejados, retirou, a custo, a catana da mão do negro e, num guinchar de raiva, lançou-a sobre o pescoço do cadáver… A cabeça do negro, indiferente à dor do colono, sorria de troça. E foi com ar de troça que se manteve, espetada num pau, junto à picada. Um troféu que a nossa exibia aos bacongos, que acreditavam que o guerrilheiro morto ressuscitaria, desde que mantivesse a cabeça”. Estamos no Norte de Angola, na Terra dos Dembos, o BCAÇ 96, do tenente-coronel Maçanita, tivera a sua primeira baixa. A operação Viriato está no auge. O nome do alferes Toscano aparece pela primeira vez. Maçanita quer a tudo o custo ser o primeiro a entrar em Nambuangongo. As tropas movimentam-se. O furriel João Manilha a tudo assiste, em silêncio. Como numa recapitulação histórica, assiste-se ao desenvolvimento da operação: “Avançaram baterias de artilharia, armadas de obuses 8,8 e 10,5. Avançou o tenente-coronel Armando Maçanita, de pistola em punho, no seu jipe trepidante, a ignorar os sobressaltos do terreno, de peito alçado. A coluna avança, alguns militares matam indiscriminadamente, incendeia-se Quicangassala… Algumas cabeças decepadas ergueram-se em estacas, a celebrar a vitória”. João Manilha está em estado de choque. E assim entra em Nambuangongo, enquanto o corpo de paraquedistas foi lançado em Quipedro, base de guerrilha, próxima de Nambuangongo.
Toscano e Manilha fizeram amizade, estamos nos fins dos anos 60, em Coimbra, Toscano enamora-se de Carminda e João Manilha de Giesta Maria. A guerra para eles continua. Toscano é oficial dos comandos, Manilha também faz parte das forças especiais. Dá sinais de depressão, Giesta afasta-se, Manilha insiste, é demasiado tarde, Giesta deu coração a outro.
E passamos para o massacre de Wiriyamu, dezembro de 1972, 6.ª Companhia de Comandos, operação Marosca, procura-se à viva força capturar o guerrilheiro Raimundo que anda a incomodar a região de Tete. As hélices dos helis troam pela savana, frenéticos, os Comandos tomam posição: “Um sujo véu castanho ia cobrindo os soldados da 6.ª Companhia, que formigavam entre as naves, a despejar armas, cantis, mochilas, rações, lonas. E as ténues silhuetas dos Comandos, de G3 em riste, agachados, em passo de corrida, foram, pouco a pouco, desaparecendo, tragadas na poeira. Wiriyamu esperava-os”.
Entretanto Mário Toscano trabalha para Jorge Jardim, está no seu exército particular, o SEI. Fala-se dos ataques da FRELIMO à via-férrea de Tete e das sortidas na estrada de Zobué, cresce a inquietação à volta da cidade da Beira. Jorge Jardim confia no êxito da Marosca. Começa o ataque a Wiriyamu, os habitantes são metidos nas suas palhotas e queimados, algumas mulheres violadas e depois abatidas. E o autor explica como irá ter lugar a denúncia do massacre de Wiriyamu, os rolos fotográficos e o relato das barbaridades chegou às mãos do padre Hastings, que os recambiou para Londres, serão publicados no jornal The Times, em julho de 1973. Mais uma dor de cabeça na política diplomática de Marcello Caetano.
João Manilha adoece em Tete, a depressão aprofunda-se, Mário Toscano visita-o. Dorme mal, tem pesadelos tenebrosos, as imagens dos massacres regressam em força.
E passamos para um de maio de 1974. Toscano tornou-se revolucionário, vive com Carminda junto a Cacilhas, convidou Manilha para jantar. Manilha descobre que Giesta Maria perdeu o marido na guerra da Guiné. Irá a Coimbra bater-lhe à porta, os seus afetos recuperam-se. Na aldeia os pais de João Manilha empurram-no para Luísa do Monte, após peripécias que envolvem as duas famílias, chega-se ao acordo para o contrato nupcial. Só que João Manilha não selará o contrato, irá casar com Giesta Maria.
Toscano vive a febre revolucionária, é membro do PCP, é convidado a dar informação do que se passa no Regimento dos Comandos, recusa-se, começa a rutura.
Os anos passam, João Manilha está a ler o Diário de Notícias na praia, na companhia da enteada e do filho, lê e relê uma reportagem sobre a guerra de Angola, a guerra civil está ao rubro. O stresse pós-traumático eclode: “Já não é a praia que ele vê, é a selva imensa de África, é a guerra, é o João que tropeça, que cambaleia, que cai e que se levanta, regressam as hélices dos helis, ele sente as metralhadoras a matraquear, tem um desmaio".
Irá ser tratado no Hospital Militar Principal, vai a uma consulta de psiquiatria, e daqui partirá para uma Junta Médica, é considerado incapaz para todo o serviço. “Reformou-se numa quarta-feira de março de 1988. Vestiu-se de luto, porque percebeu que morrera, ainda novo. Perdeu amigos, perdeu companheiros, perdeu escalas, perdeu serviços, perdeu bares, perdeu noitadas, perdeu borgas, perdeu sonhos. Reformou-se com 45 anos e com 27 anos de serviço. Com uma miséria no bolso e com dois filhos ainda por criar”. E rumam para Águeda, Giesta arranjou colocação numa Escola Preparatória, João Manilha procura integrar-se. Caminhamos para a atualidade. Diogo Toscano enamora-se de Joana Palla, em agosto de 2000 teremos casamento de muita e uma cerca circunstância, Diogo quer singrar na vida, é simplesmente filho de um capitão, e Joana é filha de um responsável socialista, com muitas conexões, o autor dá-nos uma imagem de Diogo servil e estúpido, mas capaz de tudo para ter um lugar ao sol. João Manilha está em casa e a empregadita são-tomense ciranda por ali, crepita a chuva, um vento enfurecido não dá tréguas, ressoou um trovão, João atira-se à jovem. Mas ele já deixara de ser velho. Ele voltara a ser o Furriel João Manilha e ela era aquela negra de África. Puxou-lhe as roupas num frenesim, como se fosse um ritual, atirou-a para o sofá, como se fosse um fardo e olhou, com os olhos perdidos, aquele corpo por cumprir, aquele ventre de ébano e aquele púbis encaracolado. É desta que João Manilha tem um AVC.
Na boa tradição da literatura e do cinema, haverá um almoço onde toda esta gente se irá reencontrar. Mário Toscano está no campo ideológico oposto ao que tivera a seguir ao 25 de abril, tem o filho bem instalado, há por ali comentários insultos de vária ordem, há mesmo uma atmosfera de derrisão em que o Manifesto Anti Dantas, de Almada Negreiros transforma-se numa catilinária à geração dos coelhos. Manilha está presente mas ausente, tem reminiscência duma cacofonia de canhangulos e carabinas, em desconcerto, a acordar o matorral. As balas, desencontradas, a silvarem traços de morte à sua volta, ceifando o chão e cravejando o arvoredo. À mesa, todos discutem, entusiasmado. A enteada de João Manilha vê duas gotas a escorrerem nas faces de João Manilha. Este está sozinho na guerra, vai matando, vai incendiando, está em Nambuangongo e salta para Wiriyamu, a menina grita: “Acudam, que o pai está mal! Depressa! Ai, que ele ainda morre!”.
“Crepúsculo de Sangue” pode não ser uma jóia literária mas reconduz-nos ao inferno da doença não tratada, vai ao coração do trauma da guerra e alerta-nos para um sofrimento que ainda devasta muitos antigos combatentes.
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Nota do editor
Último poste da série de 22 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14064: Notas de leitura (659): “Cabo Verde e Guiné-Bissau: Da democracia revolucionária à democracia liberal”, por Fafali Koudawo, INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, 2001 (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P14081: (Ex)citações (257): A misteriosa cruz branca de Samba Silate... (António J. Pereira da Costa / A. M. Sucena Rodrigues / Luís Graça)
Guiné > Zona leste < Setor L1 (Bambadinca) Xime > CCAÇ 12 (1973/74) > Samba Silate > Pós 25 de abril de 1974 > Ruinas da casa onde nasceu o guerrilheiro referido por A. M. Sucena Rodrigues no poste P14055 (*). Ao fundo, à direita, devidamente sinalizada a vermelho, pode ver-se a cruz que, segundo o guerrilheiro, foi erigida antes da guerra [, nos anos 50,], por um tal missionário que lá viveu e que ele chamava padre António [Grillo, acrescentei eu, LG].
Foto: © A. M. Sucena Rodrigues (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]
1. Comentário de António José Pereira da Costa, cor art ref, ao poste P14065 (**):
Olá, Camarada
Nunca tinha visto a tal cruz que mostraste numa das tuas fotos. Era fora do arame? A que se destinava?
Manda-me uma cópia, por favor.
Nunca me falaram do padre Grillo.
Recebi, sim, um pedido de uma família italiana - os Riciulli - que pretendia tomar posse das instalações que a companhia ocupava em Samba Silate (abusivamente de acordo com o seu ponto de vista). Ficou tudo para decisão dos "Nossos Maiores" e, conforme as instruções, eu entregaria as instalações (...).
Olá, Camarada
Nunca tinha visto a tal cruz que mostraste numa das tuas fotos. Era fora do arame? A que se destinava?
Manda-me uma cópia, por favor.
Nunca me falaram do padre Grillo.
Recebi, sim, um pedido de uma família italiana - os Riciulli - que pretendia tomar posse das instalações que a companhia ocupava em Samba Silate (abusivamente de acordo com o seu ponto de vista). Ficou tudo para decisão dos "Nossos Maiores" e, conforme as instruções, eu entregaria as instalações (...).
A.M. Sucena Rodrigues, fur mil, CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1972/74) |
2. Mensagem de António Manuel Sucena Rodrigues, em resposta ao António J. Pereira da Costa [quem, como se sabe, foi comandante da CART 3494, no Xime, entre agosto e novembro de 1973, pertencendo Samba Silate ao subsetor do Xime]
Data: 23 de dezembro de 2014 às 20:01
Assunto: A Cruz da Samba Silate
Olá Camarada, António José Pereira da Costa
A cruz que se vê na foto era em Samba Silate e não no Xime ou em Bambadinca. A tabanca de Samba Silate e nesta época (Maio de 74) não tinha qualquer cerca de arame farpado, assim como não tinha qualquer sistema de autodefesa.
Como expliquei no texto (*), era considerada como segura relativamente à possibilidade de ser "incomodada" pela guerrilha, dada a sua localização. Por isso era enviada para lá a população que fugia das chamadas zonas libertadas.
Também, conforme referi no texto, foi a primeiro e única vez que fui a Samba Silate e estava ali tão perto [, no Xime], por isso não sei se, no passado, alguma vez esteve cercada de arame farpado.
Já agora, camarada, pela tua questão presumo que lá tenhas estado ou lá perto. Em que época foi e em que companhia ?
Um abraço. Bom Natal e Bom Ano.
A. M. Sucena Rodrigues
Ex-fur mil da CCaç 12, 1972/74
Bambadinca e Xime
3. Entre as histórias contadas pelo padre Grillo, Paolo Grappassoni (que esteve na Guiné-Bissau em finais de 1988 e princípios de 1989, em visita a missões católicas italianas) escolheu algumas publicadas na revista “Venga il tuo Regno”. E eu selecionei e traduzi e adaptei esta, que tem a ver com a cruz de cimento que existia (e existe) no centro da tabanca de Samba Silate.
Um mês depois de ter recebido o batismo, morreu o chefe de Samba Silate, Mateus Jala. Durante a muito tempo Jala tinha quatro mulheres, nunca tendo sido possível, o missionário, pensar no seu batismo. Mas quando ele ficou só com uma, a última, que também tinha um filho pequeno, o padre pensou que tinha chegado o momento. E aceitou.
Antes de morrer, Jala tinha pedido aos seus filhos para não ser enterrado no recinto do seu quintal, como era costume entre os Balantas, mas sim à sombra da cruz branca erguida no centro da tabanca.
Antes de morrer, Jala tinha pedido aos seus filhos para não ser enterrado no recinto do seu quintal, como era costume entre os Balantas, mas sim à sombra da cruz branca erguida no centro da tabanca.
À hora do funeral, o padre dirigiu-se à morança do Jala em Samba Silate. Acompanhado por dois jovens acólitos, encaminhou-se para o lugar do enterro, seguido dos homens que levariam o féretro.
Mas, de repente, o padre Grillo deu-se conta de que o corpo havia desaparecido. O que tinha acontecido?
Um ancião da aldeia garantiu-lhe que ele estaria de volta em breve, depois de ter sido levado para a bolanha para a 'lavagem'. De fato, logo reapareceram os carregadores, para logo desaparecerem novamente com o cadáver transportado numa maca improvisada. Dirigiram.se a outra morança.
Um dos dois acólitos disse ao padre: "Jala foi despedir-se dos parentes."
Mas, de repente, o padre Grillo deu-se conta de que o corpo havia desaparecido. O que tinha acontecido?
Um ancião da aldeia garantiu-lhe que ele estaria de volta em breve, depois de ter sido levado para a bolanha para a 'lavagem'. De fato, logo reapareceram os carregadores, para logo desaparecerem novamente com o cadáver transportado numa maca improvisada. Dirigiram.se a outra morança.
Um dos dois acólitos disse ao padre: "Jala foi despedir-se dos parentes."
Ao fim de meia hora, os carregadores reapareceram com outro ânimo, porque, de acordo com suas crenças, tinham sido possuídos pelo espírito do defunto e todos trabalharam em prol da sua virtude.
"Jala, diziam os homens garndes, não poderia deixar esta terra sem sequer se despedir do seu amigo missionário em sua casa."
Os carregadores tinham ido de facto à residência do padre. Aqui, segundo descreveu um jovem que havia testemunhado a cena, pouco tinha faltado para arrombarem a porta com golpes violentos da moca, em jeito de saudação.
Quando, depois destas cenas, o padre estava pronto para benzer o corpo antes de ser colocado no túmulo, os dois jovens acólitos fugiram. Os seus pais tinham-nos absolutamente proibido de assistir ao enterro, porque era um mau presságio para um jovem. O padre benzeu o cadáver e manifestou a intenção de voltar à tabanca uns dias depois.
Os carregadores tinham ido de facto à residência do padre. Aqui, segundo descreveu um jovem que havia testemunhado a cena, pouco tinha faltado para arrombarem a porta com golpes violentos da moca, em jeito de saudação.
Quando, depois destas cenas, o padre estava pronto para benzer o corpo antes de ser colocado no túmulo, os dois jovens acólitos fugiram. Os seus pais tinham-nos absolutamente proibido de assistir ao enterro, porque era um mau presságio para um jovem. O padre benzeu o cadáver e manifestou a intenção de voltar à tabanca uns dias depois.
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 20 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14055: Memória dos lugares (278): Samba Silate, no pós 25 de abril de 1974: As saudades que a guerra não conseguiu apagar mesmo nos guerrilheiros do PAIGC (António Manuel Sucena Rodrigues, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambdaionca e Xime, 1972/74)
(**) Vd, poste de 22 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14065: (Ex)citações (256): Eu gostava de saber um pouco mais sobre esse missionário italiano, o padre António Grillo (1925-2014), que tinha um especial carinho pelos balantas de Samba Silate (e era respeitado por eles) (A. M. Sucena Rodrigues, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1972-74)
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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014
Guiné 63/74 - P14080: O meu Natal no mato (42): 1971, em Zemba (Angola); 1972, em Caboxanque; 1973, em Cadique (Rui Pedro Silva, ex- cap mil, CCAV 8352, Cantanhez, 1972/74)
Foto nº 1 > Angola, Zemba – Dezembro 1971 - Jantar
dos soldados do batalhão
Foto nº 2 > Angola, Zemba – Dezembro 1971 - almoço
com Gen Costa Gomes, aqui de costas
Foto nº 3 > Angola, Zemba – Dezembro 1971 - Visita do
Gen. Costa Gomes. Em primeiro plano o oficial de
dia que agora vos relata este natal.
Foto nº 4 A
Foto nº 4 B
Foto nº 4 > Angola, Zemba > Dezembro de 1971 > Almoço com o Gen.
Costa Gomes.
Aqui estou de costas e em
primeiro plano (foto nº 4 A) com a braçadeira da ordem.
Foto nº 5 > Guiné < região de Tombalia < Cantanhez > Caboxanque – Dezembro 1972 - Gen
Spínola no perímetro defensivo nos primeiros dias da
operação.
Foto nº 5 A > Spínola, de costas e pingalim
Foto nº 6
Foto nº 6A - Guiné > Região de Tombali > Cantanhez > Caboxanque > Dezembro de 1972 - A
minha primeira visão de Caboxanque. Futura placa dos
helicópteros e campo de futebol.
Foto nº 7 > Guiné > Região de Tombali > Cantanhez > Caboxanque > Dezembro de 1972 - A “messe” de oficiais e também a minha primeira “secretária” . Da esquerda para a direita Alf Pratas e Sousa, Furriel Urbano, Alf Nobre Almeida e Alf Santos. Ao fundo as tendas que nos “abrigaram” durante os primeiros meses. O Alf Duarte deveria estar numa operação. No centro da mesa o “remédio” para alguns males de que íamos padecendo por lá.
Foto nº 8 > Guiné > Regiãod e Tombali > Cantanhez > Caboxanque – Dezembro de 1972 – Distribuição da refeição pelos grupos de combate, secção por secção. O primeiro da fila a organizar a
distribuição é o Alf Duarte.
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Caboxanque > Perímetro defensivo, em esquema aproximado, sobre imagem actual, do Google Earth (com a devida venia...)
Fotos (e legendas): © Rui Pedro Silva (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]
Guiné > Região de Tombali > Carta de Bedanda (1961) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Bedanda, Cufar e Caboxanque (na margem direita do Rio Bixanque, afluente do Rio Cumbijã)
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).
************
1. Mensagem do Rui Pedro Silva, com data de 22 do corrente:
[Foto à esquerda; Rui Pedro Silva, ex-alf mil, CCAÇ 3347 (Angola, 1971), ex-ten mil, BCAÇ 3840 (Angola, 1971/72), e ex- cap mil, CCAV 8352 (Guiné, Caboxanque, 1972/74)]
Meu Caro Luis Graça:
Junto te envio o relato dos meus três Natais em tempo de guerra. Publicarás se e quando achares conveniente.
Por coincidência em Dezembro de 1972 estávamos a iniciar a operação de reocupação do Cantanhez fazendo agora 42 anos que entrámos em Caboxanque.
Espero que já tenhas recuperado do “percalço” que sofreste e estejas totalmente operacional.
Prometo ser mais assíduo na cooperação com o blog.
Um grande abraço para ti, para o Carlos Vinhal, o Magalhães Ribeiro e para todos os Homens Grandes da Tabanca.
Boas Festas e Bom Ano de 2015.
2. Três Natais em tempos de guerra
por Rui Pedro Silva
A 21 de Dezembro de 1972 a CCav 8352, que eu comandava, desembarcou em Caboxanque, no âmbito da operação “Grande Empresa”, iniciada a 12 de Dezembro, a qual tinha como objectivo a ocupação do Cantanhez.
O IAO no Cumeré durou 15 dias e logo marchámos para Cufar, divididos em dois grupos. O primeiro grupo deslocou-se de Noratlas a 19-11-1972 e o segundo de LDG a 21-11-1972 e com ele todo o equipamento para a instalação de uma companhia: do equipamento de cozinha às tendas e colchões pneumáticos, das viaturas ao gerador, das armas e munições às rações de combate, etc.
Para todos nós era seguro que não íamos render uma outra companhia e, ao chegar a Cufar, desde logo ficou claro que não seria aquele o nosso destino. Logo no desembarque recebi instruções para conservar o material carregado nas viaturas e tudo o resto guardado num improvisado “armazém”.
Nesse momento ainda não sabíamos da operação a que estávamos destinados. Nas quatro semanas que estivemos em Cufar realizámos operações de patrulhamento da zona, segurança à pista e ao porto e à construção da estrada Cufar - Catió. Da sede do batalhão, em Catió, vinham insistentes recomendações para nos concentrarmos na segurança da estrada. Havia um claro desentendimento entre os responsáveis em Cufar e a sede do Batalhão. A segurança na estrada mantinha-se 24 horas por dia, rodando por todos os grupos de combate da companhia de Cufar e da minha e portanto não se percebia a insistência.
A preocupação de Catio resultava do facto de estar em curso uma manobra de diversão procurando atrair o PAIGC para aquela zona, levando-o a mobilizar os seus efectivos para Cufar e assim garantir uma menor resistência à entrada das nossas tropas no Cantanhez. Esta manobra teve pleno êxito. O PAIGC foi surpreendido com a entrada das nossas tropas em Cadique e Caboxanque, não oferecendo qualquer resistência nos primeiros dias.
A operação “Grande Empresa” foi muito bem descrita no livro “A Última Missão” do Sr. Coronel Moura Calheiros. Como tive oportunidade de lhe dizer na altura da publicação:
“A sua narrativa permite ao leitor ter uma visão mais abrangente da guerra na Guiné e, ao mesmo tempo, navegar consigo no seu PCA, progredir com os seus bigrupos nas missões mais arriscadas, partilhar a angústia das decisões mais difíceis, confrontar-se com a orientação estratégica do Comando-Chefe, conhecer a actuação da guerrilha, viver a vida de um militar naqueles duros tempos e cumprir a nobre missão de resgate dos militares portugueses falecidos e sepultados na Guiné. Ao ler as paginas deste seu livro revejo e identifico pessoas com quem partilhei uma parte importante da minha vida e situações em que a minha companhia esteve também envolvida e que constituem pedaços da história dos pára-quedistas, das forças armadas portuguesas e do nosso país.”
Recomendo vivamente a leitura deste livro a quem ainda não o fez porque nele revemos, cada um de nós, ex-combatentes, uma parte da nossa história. Cerca de seis meses depois e em resultado da operação “Grande Empresa” existiam 7 novos aquartelamentos:
Cadique,
Caboxanque,
Cafal,
Cafine,
Jemberem,
Chugué
e Cobumba.
O COP 4 comandado pelo Sr. Tenente-Coronel pára-quedista Araújo e Sá, comandante do BCP 12, coadjuvado pelo seu segundo comandante e oficial de operações Major Moura Calheiros, foi a unidade operacional responsável pela operação.
Mas fiz esta longa introdução para abordar o tema do Natal.
Os quatro dias que mediaram desde a nossa entrada em Caboxanque até ao Natal de 1972, foram preenchidos em ciclópicas tarefas de instalação da companhia, segurança no perímetro defensivo e reconhecimento da zona operacional.
O perímetro tinha cerca de 3,5 Km e só foi possível garantir a segurança de Caboxanque instalando os grupos de combate e cada uma das suas secções ao longo da linha de defesa, ficando a CCav 8352 instalada em metade do perímetro virado a norte e a CCaç 4541 na metade virada a sul. Instalados em valas cavadas em contra relógio, sem arame farpado e apenas separados da mata do Cantanhez por um largo espaço que as maquinas da engenharia terraplanaram, com a ração de combate a alimentar a nossa fome, a noite escura a servir de cobertor e a angústia de podermos ser surpreendidos pelo PAIGC nessa nossa tão frágil posição, assim se encontravam os militares sob meu comando, carregando sob os meus ombros a enorme responsabilidade do que lhes pudesse acontecer naquelas difíceis circunstancias.
No dia de Natal a companhia estava dispersa pelo perímetro de Caboxanque, um grupo de combate tinha saído com um bigrupo paraquedista, em patrulhamento, e em Cufar ainda permaneciam alguns militares da companhia, guardando todo o material que lá tinha ficado. Sem meios frio a funcionar e portanto sem géneros frescos, as refeições limitaram-se às rações de combate e a uma sopa improvisada com o pouco que diariamente se trazia de Cufar.
Estes foram dias muito difíceis para todos. Numa fotografia que aqui junto podem verificar como eram feitas as distribuições das refeições ao longo do perímetro. Quando o unimog que fazia este serviço chegava junto da última secção já a refeição que transportava estava fria.
Um ano antes, no Natal de 1971, estava em Angola, nos Dembos, na sede do Batalhão Caçadores 3840 sediado em Zemba e na escala de serviço coube-me ser o oficial de dia. Nesse dia o General Costa Gomes decidiu fazer, uma visita ao batalhão. Cumpridas as formalidades da praxe e depois de uma revista ao aquartelamento o General reuniu-se com o comando do batalhão, após o que confraternizou com os oficiais do batalhão num almoço.
Na pista onde o recebi o General Costa Gomes surpreendeu-me indagando se eu não era um dos militares em estágio para o CCC [, Curso Complementar para Capitães]. Dois meses antes alguns dos estagiários que foram enviados para Angola, entre os quais eu me encontrava, foram chamados ao quartel-general onde o General Costa Gomes nos recebeu. Depois de uma breve intervenção sobre a situação em Angola e de nos desejar que o estágio corresse bem, quis saber de onde éramos e que expectativas tínhamos para o estágio. Quando chegou a minha vez, disse-lhe que era angolano, nascido no Lobito e que esperava ser colocado nessa cidade. Depois de uma sonora gargalhada, afirmou que no Lobito não havia guerra.
Naquele ambiente que me pareceu de uma certa descontracção, tive o atrevimento de dizer que mais valia prevenir do que remediar, nomeadamente na defesa das zonas onde a guerra ainda não tinha chegado. Com um sorriso bonacheirão deu por findo o diálogo e despediu-se.
Na pista relembrei-lhe então a apresentação que ocorreu dois meses antes. Com um aceno de cabeça, indicando recordar-se do episódio, sorriu e avançou para a visita ao aquartelamento. À tarde terminou a visita mas não as minhas dores de cabeça. Nessa noite, o álcool, nas suas variantes ingeríveis e com os mais variados paladares, bebido com imoderação, fez o seu serviço e eu lá andei, madrugada dentro, numa roda-viva, a apagar fogos que ânimos mais exaltados iam ateando. O problema no dia seguinte foi evitar um relatório muito detalhado do sucedido para evitar um castigo mais pesado para alguns. Foi o meu primeiro Natal na guerra colonial. As três fotografias que envio testemunham esse dia.
O Natal de 1973 foi passado em Cadique para onde a CCav 8352 tinha sido enviada, por um mês, no âmbito da operação “Estrela Telúrica” que envolveu entre outras forças o Batalhão de Comandos. Instalados em condições muito precárias, sempre com grupos de combate em acção, principalmente junto à estrada Jemberem – Cadique, este foi o terceiro e o nosso pior Natal em guerra.
Dois dias antes do Natal um grupo de combate da minha companhia e outro da companhia de Cadique foram emboscados quando vinham render outros 2 grupos de combate da CCav 8352 que eu naquele dia comandava. Em resultado da emboscada houve mortos e feridos entre os militares da companhia de Cadique. A moral do pessoal de Cadique estava a um nível muito baixo e assistimos a alguns actos de desespero, como a recusa a sair para operações ou tentativas de accionar uma granada defensiva junto do comando.
Mas porque este poste já vai longo voltarei a escrever sobre Cadique bem como sobre a operação “Grande Empresa”, mais tarde.
Sendo o Natal geralmente assumido como uma festa de família, as circunstâncias em que o celebrámos na guerra retiraram-lhe muito do seu sentido de paz , apesar de sentirmos como nossa família todos os militares com quem estávamos.
Foram assim estes meus três Natais em tempo de guerra.
Boas Festas a todos os tabanqueiros e bom ano de 2015.
Um abraço
Rui Pedro Silva
PS. Com mais tempo identificarei os militares das fotografias.
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Nota do editor:
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O meu Natal no mato,
Op Estrela Telúrica,
Op Grande Empresa,
Rui Pedro Silva
Guiné 63/74 - P14079: Parabéns a você (836): Ismael Augusto, ex-Alf Mil Manut do BCAÇ 2852 (Guiné, 1968/70)
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Nota do editor
Último poste da série de 24 de Dezembro de 2014> Guiné 63/74 - P14074: Parabéns a você (835): Fernando de Jesus Sousa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6 (Guiné, 1970/71) e João Rebola, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2444 (Guiné, 1968/70)
Nota do editor
Último poste da série de 24 de Dezembro de 2014> Guiné 63/74 - P14074: Parabéns a você (835): Fernando de Jesus Sousa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6 (Guiné, 1970/71) e João Rebola, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2444 (Guiné, 1968/70)
quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
Guiné 63/74 - P14078: Sob o poilão sagrado e fraterno da nossa Tabanca Grande: boas festas 2014/15 (9): Diniz Souza Faro, Jorge Teixeira, Leão Varela, Mário Gaspar, Anabela Pires e Rui Silva
Sob o poilão sagrado e fraterno da nossa Tabanca Grande: Boas Festas 2014/15
1. Mensagem do nosso camarada José Diniz de Souza e Faro, ex-Fur Mil Art do 7.º Pel Art (Cameconde, Piche, Pelundo e Binar, 1968/70), com data de 23 de Dezembro de 2014:
Desejo para todos os nossos camaradas e família um SANTO NATAL e que o ano 2015 seja muito melhor e com muita SAÚDE.
Grande Abraço.
J.Diniz S.Faro
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2. Mensagem do nosso camarada Jorge Teixeira, (ex-Fur Mil Art, CART 2412, Bigene - Guidage e Barro, 1968/70):
Amigo Carlos Vinhal.
Nunca é tarde para se desejar Boas Festas, mas há sempre os atrasadinhos.
Desculpa só agora enviar este "postal", que foi o que se pode arranjar.
Boas Festas para todos e um Feliz Natal.
Um abraço
cumprim/jteix
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3. Mensagem do nosso camarada Leão Varela, ex-Alf Mil da CCAÇ 1566 (Jabadá, Pelundo, Fulacunda e S. João, 1966/68), com data de 24 de Dezembro de 2014:
Caros Amigos Camaradas
Antes demais confesso-me: tenho "dividas" a pagar, nomeadamente aos camaradas Luís Graça, Carlos Vinhal e a todos os outros que amavelmente tiveram a pachorra de comentarem a minha publicação para pagamento da "jóia".
Desculpem a minha falta mas não sou dadoa andar pela Net. No entanto, podem estar certos, se os Céus o permitirem, que em breve farei contas com vocês e... talvez até outra história vá até vocês...
Por hoje o que me traz por aqui é a Quadra festiva que atravessamos. Pois... Natal. Só passei um na Guiné (o segundo, o primeiro estava de férias em Évora com a família) e, por sinal, foi bem triste.
Não porque o tenha passado em combate mas por outros motivos bastante complicados para mim por causa de um episódio passado no meu próprio Aquartelamento de S. João e ocorrido no seio de uma Companhia que me tinha sido entregue para lhe dar treino operacional mas que me coube a ingrata missão de resolver e que nos estragou a nossa Consoada de 1967.
Mas deixemos isso para outra altura e vamos ao que me trouxe hoje até vocês:
A minha Mensagem de BOAS FESTAS para a "malta" da TABANCA GRANDE. Aqui vai ela:
«QUE, NOS TEMPOS CONTURBADOS QUE ATRAVESSAMOS, A MENSAGEM DE FÉ E ESPERANÇA DO NATAL RENOVE AS NOSSAS FORÇAS - COMO HOMENS E MULHERES QUE CONHECEM BEM AS AGRURAS DA GUERRA - PARA CONTINUAR A LUTAR PELA PAZ E POR UM MUNDO MELHOR NO NOVO ANO QUE SE AVIZINHA.
DESEJO COM SINCERA AMIZADE E COMPANHEIRISMO A TODOS VOCÊS, CAMARADAS E AMIGOS, UM FELIZ NATAL PASSADO COM QUEM MAIS DESEJAREM E QUE O ANO 2015 LHES TRAGA TUDO DE BOM PARA VOCÊS E VOSSAS FAMÍLIAS.»
Leão Varela
ex-Alf. Mili.Inf.
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4. Mensagem do nosso camarada Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), com data de 23 de Dezembro de 2014:
FELIZ NATAL
Camarada da Tabanca Grande:
Desejo-te a TI, FAMÍLIA E AMIGOS:
– FELIZ NATAL;
– 365 Dias de FELICIDADE;
– 52 Semanas de SAÚDE e PROSPERIDADE;
– 12 Meses de AMOR;
– 8760 Horas de PAZ e Harmonia:
– Que neste ANO NOVO, Tenhas 2015 ACONTECIMENTOS PARA SORRIRES!...
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5. Da nossa Amiga Grã-Tabanqueira Anabela Pires:
Querid@s amig@s, família e ex-colegas
Era meu desejo escrever a cada um de vós individualmente mas atrasei-me e estou hoje com o tempo contado para preparar tudo para a Ceia de Natal. Assim, aqui vai um e-mail colectivo.
Os meus votos são para que todos, assim como as vossas famílias, passem umas Festas com saúde, com muita paz, com muito amor e se possível com muita alegria.
Um pensamento muito especial para aqueles para quem estes dias poderão ser um pouco difíceis porque tiveram este ano perdas importantes, porque a saúde não está muito bem ou porque, por qualquer razão, não podem estar reunidos com os seus.
Esperemos que 2015 venha com mais esperança. Confio que sim, que virá, pois nem que seja porque vai haver eleições e os nossos políticos irão aliviar a pressão.
Muito obrigada a todos aquel@s de quem já recebi as Boas Festas.
Um enorme abraço muito quentinho para tod@s,
Anabela
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6. Mensagem do nosso camarada Rui Silva (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), com data de 24 de Dezembro de 2014:
Caríssimos camaradas e amigos Luís Graça e Vinhal:
Nesta altura festiva do ano, em que ainda mais nos lembramos dos amigos e muito particularmente dos camaradas, ex-combatentes da Guiné, não podia deixar de vir aqui para desejar a todos uma quadra natalícia na maior das felicidades e desejar também um Novo Ano, com boa saúde, harmonia, tranquilidade e bem-estar.
BEM HAJAM !!
Um abração para todos.
Rui Silva
************
6. Comentário do editor de serviço
Estas foram algumas das mensagens de Natal chegadas até nós.
Outras, que nos chegaram, eram impessoais ou traziam Power Points, como anexo, que não podem ser reproduzidos no Blogue.
A todos o nosso muito obrigado pelas palavras de incentivo e apreço pelo trabalho que aqui fazemos com gosto diariamente.
Em nome dos editores aqui ficam os nossos melhores votos de um Santo Natal para todos com saúde e muitas prendas no sapatinho.
Carlos Vinhal
____________
Nota do editor
Último poste da série de 23 de Dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14067: Sob o poilão sagrado e fraterno da nossa Tabanca Grande: boas festas 2014/15 (8): José Eduardo Oliveira, Luís Fonseca, José Carlos Mussá Biai, Joaquim Nunes Sequeira, José Teixeira, António M. Sucena Rodrigues, José R. Firmino, António Tavares, Ernestino Caniço, Júlio C. Abreu e Abel M. Santos
Guiné 63/74 - P14077: Conto de Natal (22): Uma bênção dos Céus (Domingos Gonçalves)
1. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68) com data de 17 de Dezembro de 2014:
Prezado Luís Graça
Para si, seus familiares e amigos, e para todos os que, colaboram, ou visitam, a TABANCA GRANDE, os mais sinceros votos de FELIZ NATAL, e de um ano de 2015 repleto de muitas coisas boas, em especial saúde.
Com um abraço amigo,
Domingos Gonçalves
CONTO DE NATAL
O senhor Joaquim era um homem pobre. Possuía, é certo, um pequeno casebre meio arruinado, que o abrigava da intempérie, e ao lado umas leiras estreitas, onde colhia, alguns produtos agrícolas, regados com suor, e lágrimas, que ajudavam a matar a fome à mulher, e aos filhos. Todavia, os cereais, - milho e centeio -, com que a mulher, em casa, fabricava o pão, tinha de os comprar aos lavradores da aldeia. Com o azeite, e com o vinho, passava-se a mesma coisa: tinha de os comprar.
Quando os proprietários da aldeia lhe davam a ganhar alguns dias, como jornaleiro, na época das colheitas, ou das sementeiras, vivia melhor. Quando isso não acontecia, a miséria em casa era uma realidade.
Possuía, também, algumas ovelhas, que ora pastoreava nas pequenas leiras, que eram terra sua, ora pelos montes da aldeia, nos terrenos dos lavradores mais tolerantes, pois havia alguns que não consentiam que a ovelha, ou a cabra, do pobre, comessem as ervas, ou o mato, que vicejavam nos seus terrenos.
Um dia reparou que uma das ovelhas andava prenhe, e ficou contente. Era uma bênção de Deus.
Em casa comentou com a mulher, e com os filhos:
- Que sorte a nossa! A cria vai nascer antes do Natal. Já temos garantido o dinheiro para comprar o bacalhau, e outras coisas boas. Mesmo que venda o anho mais tarde, lá para Janeiro, ou Fevereiro, o bendeiro fia de nós, pois sabe que temos um anho para vender.
Desabafava:
- Este ano até podemos dar uma esmolinha ao Menino Jesus.
O filho mais novo, que frequentava a catequese, para fazer a primeira comunhão, satisfeito, dizia para os pais, e para os irmãos:
- Quem leva a esmola para dar ao Menino, sou eu.
A ovelha que andava prenhe foi uma bênção caída do céu, um raio de esperança, prenúncio de uma ceia de Natal melhorada, para toda a pobre família.
Um certo domingo, no fim da missa da manhã, um rico lavrador da aldeia abordou o pobre homem, para lhe oferecer trabalho.
Disse-lhe:
- Queres-me roçar uns carros de mato, durante a semana que vem?
- Quero! – Respondeu-lhe, com ar feliz -. Posso-lhe roçar todo o que precisar.
Sempre que alguém lhe oferecia trabalho, não desperdiçava a oportunidade de ganhar algum dinheiro.
De seguida, foram os dois, - o lavrador e o jornaleiro -, ao monte ver o local onde crescia o mato que devia ser roçado.
Acertado o preço do trabalho a realizar, e a quantidade de mato que devia ser roçado, o jornaleiro pediu ao lavrador:
- Quando vier roçar o mato posso trazer as minhas ovelhas, e deixá-las a pastar aqui, nos seus terrenos, enquanto trabalho?
- Claro que podes. Deixa-as pastar, por aí, pois não me incomodo com isso.
Nos dias seguintes o homem levantou-se cedo, foi par o monte roçar o mato, e levou com ele as ovelhas. No fim da jornada de trabalho, conduzia-as para casa.
Porém, num certo fim de tarde, quando juntou os animais, para regressar a casa, reparou que lhe faltava a que andava prenhe.
Tinha desaparecido.
Desconsolado, chamou e voltou a chamar pelo animal, procurou à volta, mas da ovelha prenhe não havia rasto.
Quando chegou a casa, a chorar, disse para a mulher, e para os filhos:
- A ovelha prenhe desapareceu! Lá se foi a nossa ceia de Natal.
Uma onda de tristeza espalhou-se pelo rosto da mulher, e dos filhos. A esperança deu lugar ao desencanto. Todo o ambiente da família se alterou. Sem dinheiro, não podia haver ceia de consoada.
- Terá sido o lobo a comê-la? – Perguntou a mulher.
- O lobo, não, - disse-lhe -. Este ano ainda não apareceu por estes montes.
No meio de todo aquele desespero, apenas o filho mais pequeno, que ainda não tinha feito a primeira comunhão, repetia, confiante:
- Ela vai aparecer. O Menino Jesus vai trazê-la. Eu vou lhe pedir, e ele vai fazer o milagre.
No dia seguinte, pai e filhos foram, logo que alvoreceu, para o monte procurar a ovelha, cada vez para mais longe.
Mas, da ovelha prenhe não encontravam nenhum vestígio.
O pai, perdia a esperança. Só o pequerrucho insistia:
- Ela vai aparecer. O Menino Jesus vai fazer o milagre.
No dia seguinte, ajudado por alguns vizinhos, o pobre homem foi de novo procurar a ovelha, mas em vão.
Desanimado, por entre lágrimas, repetia:
- Lá se foi a minha ovelha, e o anho que trazia na barriga!
Onde antes reinava a esperança, agora imperava o desespero, e a tristeza.
Quando, ao fim da tarde, depois de muito procurar, já sem esperança regressavam a casa, o rapazito diz para o pai:
- Olha acolá uma ovelha! É a nossa, de certeza!
O pai olhou para o sítio que o filho lhe indicara, e exclamou satisfeito:
- Tens razão, filho! É a nossa ovelha!
E correu para ela cheio de esperança.
O dócil animal encontrava-se numa pequena leira, bastante perto da casa do pobre homem, onde nunca a tinham procurado.
Quando chegou ao local o homem verificou que a ovelha tinha dado à luz não um, mas dois lindos anhos, que estavam junto da mãe, que se entretinha a pastar algumas ervas.
Delirante, o pobre homem ergueu as mãos ao céu, e gritou agradecido:
- Graças a Deus! Graças a Deus!
Cheio de alegria, o filho mais pequeno gritou, também:
- Foi o Menino Jesus quem a trouxe! Foi ele que fez o milagre! Quem lhe vai dar a esmola, quando estiver no presépio, tenho de ser eu. Eu pedi-lhe, e ele trouxe-nos a ovelha.
- Está bem, filho! – Disse o pai -. Vais ser tu a agradecer-lhe.
E na casa do pobre homem, na noite de Natal, houve muita alegria, e ceia melhorada.
Domingos Gonçalves
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14056: Conto de Natal (21): Mãe, espero que vossemecê faça o presépio ao pé do forno de lenha (Mário Beja Santos)
Prezado Luís Graça
Para si, seus familiares e amigos, e para todos os que, colaboram, ou visitam, a TABANCA GRANDE, os mais sinceros votos de FELIZ NATAL, e de um ano de 2015 repleto de muitas coisas boas, em especial saúde.
Com um abraço amigo,
Domingos Gonçalves
CONTO DE NATAL
O senhor Joaquim era um homem pobre. Possuía, é certo, um pequeno casebre meio arruinado, que o abrigava da intempérie, e ao lado umas leiras estreitas, onde colhia, alguns produtos agrícolas, regados com suor, e lágrimas, que ajudavam a matar a fome à mulher, e aos filhos. Todavia, os cereais, - milho e centeio -, com que a mulher, em casa, fabricava o pão, tinha de os comprar aos lavradores da aldeia. Com o azeite, e com o vinho, passava-se a mesma coisa: tinha de os comprar.
Quando os proprietários da aldeia lhe davam a ganhar alguns dias, como jornaleiro, na época das colheitas, ou das sementeiras, vivia melhor. Quando isso não acontecia, a miséria em casa era uma realidade.
Possuía, também, algumas ovelhas, que ora pastoreava nas pequenas leiras, que eram terra sua, ora pelos montes da aldeia, nos terrenos dos lavradores mais tolerantes, pois havia alguns que não consentiam que a ovelha, ou a cabra, do pobre, comessem as ervas, ou o mato, que vicejavam nos seus terrenos.
Um dia reparou que uma das ovelhas andava prenhe, e ficou contente. Era uma bênção de Deus.
Em casa comentou com a mulher, e com os filhos:
- Que sorte a nossa! A cria vai nascer antes do Natal. Já temos garantido o dinheiro para comprar o bacalhau, e outras coisas boas. Mesmo que venda o anho mais tarde, lá para Janeiro, ou Fevereiro, o bendeiro fia de nós, pois sabe que temos um anho para vender.
Desabafava:
- Este ano até podemos dar uma esmolinha ao Menino Jesus.
O filho mais novo, que frequentava a catequese, para fazer a primeira comunhão, satisfeito, dizia para os pais, e para os irmãos:
- Quem leva a esmola para dar ao Menino, sou eu.
A ovelha que andava prenhe foi uma bênção caída do céu, um raio de esperança, prenúncio de uma ceia de Natal melhorada, para toda a pobre família.
Um certo domingo, no fim da missa da manhã, um rico lavrador da aldeia abordou o pobre homem, para lhe oferecer trabalho.
Disse-lhe:
- Queres-me roçar uns carros de mato, durante a semana que vem?
- Quero! – Respondeu-lhe, com ar feliz -. Posso-lhe roçar todo o que precisar.
Sempre que alguém lhe oferecia trabalho, não desperdiçava a oportunidade de ganhar algum dinheiro.
De seguida, foram os dois, - o lavrador e o jornaleiro -, ao monte ver o local onde crescia o mato que devia ser roçado.
Acertado o preço do trabalho a realizar, e a quantidade de mato que devia ser roçado, o jornaleiro pediu ao lavrador:
- Quando vier roçar o mato posso trazer as minhas ovelhas, e deixá-las a pastar aqui, nos seus terrenos, enquanto trabalho?
- Claro que podes. Deixa-as pastar, por aí, pois não me incomodo com isso.
Nos dias seguintes o homem levantou-se cedo, foi par o monte roçar o mato, e levou com ele as ovelhas. No fim da jornada de trabalho, conduzia-as para casa.
Porém, num certo fim de tarde, quando juntou os animais, para regressar a casa, reparou que lhe faltava a que andava prenhe.
Tinha desaparecido.
Desconsolado, chamou e voltou a chamar pelo animal, procurou à volta, mas da ovelha prenhe não havia rasto.
Quando chegou a casa, a chorar, disse para a mulher, e para os filhos:
- A ovelha prenhe desapareceu! Lá se foi a nossa ceia de Natal.
Uma onda de tristeza espalhou-se pelo rosto da mulher, e dos filhos. A esperança deu lugar ao desencanto. Todo o ambiente da família se alterou. Sem dinheiro, não podia haver ceia de consoada.
- Terá sido o lobo a comê-la? – Perguntou a mulher.
- O lobo, não, - disse-lhe -. Este ano ainda não apareceu por estes montes.
No meio de todo aquele desespero, apenas o filho mais pequeno, que ainda não tinha feito a primeira comunhão, repetia, confiante:
- Ela vai aparecer. O Menino Jesus vai trazê-la. Eu vou lhe pedir, e ele vai fazer o milagre.
No dia seguinte, pai e filhos foram, logo que alvoreceu, para o monte procurar a ovelha, cada vez para mais longe.
Mas, da ovelha prenhe não encontravam nenhum vestígio.
O pai, perdia a esperança. Só o pequerrucho insistia:
- Ela vai aparecer. O Menino Jesus vai fazer o milagre.
No dia seguinte, ajudado por alguns vizinhos, o pobre homem foi de novo procurar a ovelha, mas em vão.
Desanimado, por entre lágrimas, repetia:
- Lá se foi a minha ovelha, e o anho que trazia na barriga!
Onde antes reinava a esperança, agora imperava o desespero, e a tristeza.
Quando, ao fim da tarde, depois de muito procurar, já sem esperança regressavam a casa, o rapazito diz para o pai:
- Olha acolá uma ovelha! É a nossa, de certeza!
O pai olhou para o sítio que o filho lhe indicara, e exclamou satisfeito:
- Tens razão, filho! É a nossa ovelha!
E correu para ela cheio de esperança.
O dócil animal encontrava-se numa pequena leira, bastante perto da casa do pobre homem, onde nunca a tinham procurado.
Quando chegou ao local o homem verificou que a ovelha tinha dado à luz não um, mas dois lindos anhos, que estavam junto da mãe, que se entretinha a pastar algumas ervas.
Delirante, o pobre homem ergueu as mãos ao céu, e gritou agradecido:
- Graças a Deus! Graças a Deus!
Cheio de alegria, o filho mais pequeno gritou, também:
- Foi o Menino Jesus quem a trouxe! Foi ele que fez o milagre! Quem lhe vai dar a esmola, quando estiver no presépio, tenho de ser eu. Eu pedi-lhe, e ele trouxe-nos a ovelha.
- Está bem, filho! – Disse o pai -. Vais ser tu a agradecer-lhe.
E na casa do pobre homem, na noite de Natal, houve muita alegria, e ceia melhorada.
Domingos Gonçalves
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14056: Conto de Natal (21): Mãe, espero que vossemecê faça o presépio ao pé do forno de lenha (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P14076: Blogpoesia (397): O meu Menino Jesus Chinês... com votos de Feliz Natal e um Bom Ano 2015 para todos os camaradas (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74)
Depois da Guiné 1972 a 1974, veio a China de 1977 a 1983. E continua, até hoje, com a Guiné mais distante.
Este Menino Jesus podia ser manjaco ou bijagó, balanta ou papel. É o Menino, Senhor do Mundo, que celebramos todos os anos.
Feliz Natal a todos os camaradas da Guiné
António Graça de Abreu
Alf Mil em Teixeira Pinto, Mansoa, Cufar, 72/74.
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Nota do editor:
Último poste da série > 21 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14059: Blogpoesia (396): Meu poema da manhã (J.L. Mendes Gomes, em Berlim)
Guiné 63/74 - P14075: Álbum fotográfico do alf mil art João Calado Lopes (BAC1, 1967/69): Bambadinca, vista do alto da antena de comunicações (Parte V): A parada do quartel
Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS / BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 > Foto nº 32> O aquartelamento de Bambadinca, vista do lado norte; era ladeado, a sul, pela bolanha; a oeste, pela pista de aviação e pelo reordenamento de Bambadincazinho; a leste, pela tabanca de Bambadinca, e pelo Rio Geba. Em primeiro plano, à esquerda, vê-se o telhado da escola primeirária e casa da professora.
Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 > Foto nº 32 A > As instalações das transmissões, em primeiro plano, e atrás as instalações da manutenção auto
Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/ BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 2º semestre de 1968 > Foto nº 32 B > A parada do aquartelamento... À esquerda, vê-se o pau da bandeira... Não identifico os edifícios em frente...
Fotos: © João Calado Lopes (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]
1. A foto é do alf mil art João Calado Lopes, BAC 1, 1967/69... Foi tirada (esta e outras que temos vindo a publicar) (*), no 2º semestre de 1968, quando esteve em Bambadinca em trânsito para Piche, com o seu pelotão de artilharia.
Como já o referimos, o João Calado Lopes foi colega do liceu do João Martins e ambos foram artilheiros, do mesmo curso ou um antes do outro, em Vendas Novas.
Estas fotos são um "aperitivo!" anets da sua entrada (formal) na Tabanca Grande... Além de excelente fotógrafo (, tendo uma belíssima coleção de "slides", segundo me confidenciou o João Martins), é também o primeiro fotógrafo, de entre os nossos camaradas da Guiné, que vem dizer publicamente que subiu a mais de 30 metros, ao alto do mastro de comunicações de Bambadinca, para bater estas fabulosas vistas de cima.... (que é parecem tiradas de helicóptero!).
Incitamos o leitor a conferir estas imagens com as vistas aéreas de Bambadinca que temos publicado, nomeadamente as do álbum do Humberto Reis. Praticamente a totalidade das instalações e edifícios de Bambadinca da época de 1969/70 estão identificados. Conferir aqui. (LG).
Incitamos o leitor a conferir estas imagens com as vistas aéreas de Bambadinca que temos publicado, nomeadamente as do álbum do Humberto Reis. Praticamente a totalidade das instalações e edifícios de Bambadinca da época de 1969/70 estão identificados. Conferir aqui. (LG).
2. Duas mensagens do nosso futuro grã-tabanqueiro, de 17/12 /2014
(i) Caros camaradas
Peço desculpa de só agora dar notícias. Tenho andado à procura da correspondência que enviei da Guiná mas só encontro a que recebi da família e amigos durante a comissão. Assim não consigo precisar exatamente quando estive em Bambadinca. Como tenho a correspondência que me enviaram, talvez se consiga saber pelos SPM por onde andei. Como já devem ter percebido sou um bocado desorganizado. Andei à procura na Net e não encontro uma listagem dos SPM. Alguém me sabe dizer qual era o SPM de Bambadinca? Por aí talvez consiga.
Quanto à história que me pediram e as fotos estou a tratar disso e em breve vos envio.
(iii) (...) Com já disse antes não tenho a correspondência que enviei da Guiné. No entanto descobri um aerograma da minha namorada, hoje minha mulher, com data de 07/09/1968 em que refere expressamente: "pensava que ias ficar pouco tempo aí (em Piche) mas pelo que me dizes não é assim. Eu acho que já era tempo de te mandarem outra vez para Bambadinca Daqui a nada já faz 15 dias". Este aerograma foi enviado para o SPM 0548.
Isto significa que em Agosto de 1968 eu estava em Bambadinca com o meu pelotão de 10,5.
Por outro lado sei que estive em Cabedu, no Cantanhez, desde o principio da comissão (Janeiro de 1968) até Junho ou Julho e que logo a seguir fui para Bambadinca. isto significa que de facto estive em Bambadinca só de passagem. Fui para Piche e depois para Burumtuma. Por agora é tudo quanto consigo apurar.
Cordiais saudações para todos
Um abraço do camarada
João Calado Lopes
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Nota do editor:
Último poste da série > 16 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14040: Álbum fotográfico do alf mil art João Calado Lopes (BAC1, 1967/69): Bambadinca, vista do alto da antena de comunicações (Parte IV): A tabanca, a nordeste, o Rio Geba Estreito, o porto fluvial, a Intendência, a bolanha de Finete...
Último poste da série > 16 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14040: Álbum fotográfico do alf mil art João Calado Lopes (BAC1, 1967/69): Bambadinca, vista do alto da antena de comunicações (Parte IV): A tabanca, a nordeste, o Rio Geba Estreito, o porto fluvial, a Intendência, a bolanha de Finete...
Guiné 63/74 - P14074: Parabéns a você (835): Fernando de Jesus Sousa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6 (Guiné, 1970/71) e João Rebola, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2444 (Guiné, 1968/70)
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Nota do editor
Último poste da série de 23 de Dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14070: Parabéns a você (834): Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150/73 (Guiné, 1973/74); Felismina Costa, Amiga Grã-Tabanqueira e Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS do STM/QG/CTIG (Guiné, 1968/70)
terça-feira, 23 de dezembro de 2014
Guiné 63/74 - P14073: Facebook...ando (37): Cartão de Boas Festas (Maria Alice Carneiro)
CARTÃO DE BOAS FESTAS DA NOSSA AMIGA GRÃ-TABANQUEIRA
MARIA ALICE CARNEIRO
Queridos(as) amigos(as):
Venham morar para a rua
que faz esquina com a esperança,
neste natal e ano novo que aí vem….
Como os tempos mudaram!
Agora já não mandamos mais cartões de boas festas pelo correio.
Eu ainda sou do tempo…
dos cartões de boas festas,
dos carteiros a pé
cuja silhueta ao longe
fazia estremecer o coração de ansiedade e de alegria;
eu ainda sou do tempo…
do caderno de duas linhas para treinar a caligrafia,
da missa do galo,
do par de meias no sapatinho,
do café de chicória que se bebia no dia de natal,
do “nós por cá todos bem” das áfricas perdidas,
dos soldados, meus irmãos, na guerra,
das janeiras cantadas de porta em porta em noites de nevão,
do vinho fino e das rabanadas,
da mesa farta nos dias santos e festas da aldeia,
do Portugal do Minho a Timor,
das mulheres que vestiam de preto,
do candeeiro a petróleo…
Sobretudo ainda sou do tempo da esperança…
claro, tínhamos 20 anos
e o “mundo á nossa frente”…
Que aconteceu ?
Mudamos ou moldaram-nos ?
Mudamos e fomos moldados,
somos mais livres, materialmente falando,
e, por algum tempo, mais iguais,
quiçá até mais gregários e solidários…
Mas eu não sei como vão ser os nossos netos e bisnetos
que nasceram na galáxia da internet
e cujos filhos já serão produto do génio da genética…
Não nos resta muito tempo
para repor a ordem natural das coisas
e aliviar o planeta do sufoco,
não temos muito tempo
para emendar erros,
castigar crimes,
nem que seja a título simbólico,
aprender com as asneiras,
voltar a aprender…
Neste natal e ano novo que aí vem,
apetece-me ser um simples ser humano,
com direito a sonhar,
e a sonhar com um mundo mais maneirinho,
respirável…
Bolas, como eu não respiro há muito,
como eu preciso de ar fresco,
como quero que me tirem o papel de cenário
que me puseram à frente dos olhos como uma venda…
Meus amigos, minhas amigas,
ainda há filhos da mãe, parafraseando o Zeca Afonso,
que se recusam a tirar a venda dos olhos
e que continuam a ouvir o discurso dos sacanas
que pensam que mandam neste mundo.
Neste natal e ano novo que aí vem,
eu decreto que a minha rua
vai passar a chamar-se
a rua que faz esquina com a esperança.
E quero que vocês se mudem para lá,
nem que seja por um simples ato de magia...
Não, recuso-me a ir ao enterro
da esperança
que, no meu tempo, era a última coisa a morrer.
Abraço, beijinhos, xicorações, carícias
22 de dezembro de 2014
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Nota do editor
Último poste da série de 24 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13936. Facebook...ando (36): Joaquim Vidigueira Ferreira, natural de Santarém, técnico oficial de contas (TOC), ex-fur mil, CCAÇ 1498 / BCAÇ 1876 (Có, Jolmete, Bula, Binar, Ponate e Bissau, 1966/67)
Guiné 63/74 - P14072: Fotos à procura de... uma legenda (50): Que marca de uisque se bebia em Caboxanque, no mítico Cantanhez, no Natal de 1972 ? (Rui Pedro Silva, ex-cap mil, CCAV 8352, 1972/74)
Foto nº 7 B
Foto nº 7 A
Foto nº 7
Guiné > Região de Tombali > Caboxanque > Dezembro de 1972 > CCAV 8352 > Ábum do cpa mil Rui Pedor Silva > Foto nº 7 > A “messe” de oficiais e também a minha primeira “secretária” . Da esquerda para a direita alf Pratas e Sousa, Furriel Urbano, alf Nobre Almeida e alf Santos. Ao fundo as tendas que nos “abrigaram” durante os primeiros meses.
O alf Duarte deveria estar numa operação. No centro da mesa o “remédio” para alguns males de que íamos padecendo por lá.
Fotos (e legendas): © Rui Pedro Silva (2014). Todos os direitos reservados [Edição: LG]
[Foto à esquerda; Rui Pedro Silva, ex-alf mil, CCAÇ 3347 (Angola, 1971), ex-ten mil, BCAÇ 384'0 (Angola, 1971/72), e ex- cap mil, CCAV 8352 (Guiné, Caboxanque, 1972/74)]
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Nota do editor:
Último poste da série > 23 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14071: Fotos à procura de ... uma legenda (49): a escolinha do nosso tempo e a Carta de Portugal Insular e Ultramarino (Luís Graça)
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