1. Mensagem do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974), com data de 8 de Maio de 2015:
Camaradas,
Conforme prometi no meu comentário ao P14540 [29ABR15], a propósito da criação do conjunto musical «Os Bambadincas», realizei mais uma visita ao baú de memórias relacionadas com as vivências da nossa presença no CTIGuiné, de que resultou a presente narrativa.
Nela recupero alguns dos momentos mais sugestivos da passagem de ano 1973’74, em Mansambo, numa altura em que, com dois anos de comissão no bornal, a incógnita, quanto ao número de meses que faltariam ainda para a rendição, continuava a pairar no seio do contingente da CART 3494.
Estas memórias estão, agora, a uma distância de mais de quatro décadas.
A PASSAGEM DE ANO DE 1973’74 DA CART 3494
(DOIS ANOS APÓS A CHEGADA À GUINÉ)
-Com animação musical em Mansambo-
I– INTRODUÇÃO
Conforme se pode confirmar no caderno fotocopiado da História da Unidade – BART 3873, no 20.º Fascículo referente ao mês de Dezembro de 1973 [P14535; 28ABR15], as diferentes unidades do Batalhão festejaram, pela terceira vez, a quadra Natalícia, cada uma em seu aquartelamento… como não podia deixar de ser.
Em Bambadinca, sede do Comando, na consoada de 1973 reuniram-se Oficiais, Sargentos e Praças e no dia 25 [uma novidade!] houve um acto de variedades organizado por militares da CCS. Dias mais tarde, os mesmos elementos constituintes desse grupo, composto por milicianos da CCS e da CART 3494, percorreram, respectivamente, o Xitole [CART 3492] e Mansambo [Cap.II; pp 78/80].
No que concerne ao espectáculo realizado em Mansambo [CART 3494], este ocorreu nos primeiros dias de 1974, aproveitando-se esse evento para comemorar, também, os vinte e quatro meses da chegada do contingenteao CTIG, coincidindo com a terceira passagem de ano na Guiné – a 1.ª em Bolama (1971’72), a 2.ª no Xime (1972’73) e esta, a 3.ª (1973’74).
Entretanto, nesta data aindanão existiam informações precisas sobre quantos meses faltariampara a rendição e posterior conclusão da Comissão.Esta, somente,viria a acontecer três meses depois, em 3 de Abril de 1974.
Quanto ao programa de variedades, este foi concebido em Bambadinca, onde decorreram os ensaios, sendo constituído por várias artes do espectáculo – teatro, poesia e música.No âmbito musical, foi constituído o conjunto «Ou Vai ou Racha», sabendo-se hoje [P14540] que os instrumentos utilizados por este grupo do BART 3873 tinham sido os mesmos que, quatro anos antes, estiveram na génese do conjunto musical «Os Bambadincas» [foto 1, ao lado, com a devida vénia], da CCS/BCAÇ 2852 (1968/70), e que se mantiveram à guarda das sucessivas unidades que passaram por aquele Aquartelamento.
A origem desses instrumentos é atribuída a Cecília Maria Castro Pereira Carvalho Supico Pinto (1921-2011), que os ofertou a essa Unidade por ocasião da sua visita aos militares metropolitanos sediados em Bambadinca, em Maio de 1969 (?) [foto 2], chefiando uma delegação do Movimento Nacional Feminino (MNF) [P14455; 10ABR15], de que foi a única presidente e a principal mentora, ajudando-o a fundar em 28ABR1961 [data do 72.º aniversário de Oliveira Salazar (1889-1970)]. De referir que este encontro de Cecília Supico Pinto [e de outros que realizou durante os treze anos em que durou a guerra, nas três frentes ultramarinas], se inscrevia na filosofia da missão da sua organização, fundada por vinte e cinco mulheres provenientes da elite do regime do Estado Novo. O elemento fundante do MNF era/foi o apoio ao regime de então, promovendo a caridade e as condições subjectivas e emocionais dos militares em campanha.
É da sua responsabilidade a iniciativa de serem gravadas mensagens dos militares a desejarem um Natal cheio de “propriedades” às suas famílias, e transmitidas na RTP, bem como mensagens áudio gravadas em Portugal pelas famílias para serem emitidas nas rádios locais para aqueles. Foi através desta iniciativa que se popularizou a frase “Adeus, até ao meu regresso”.
É do MNF a iniciativa da criação dos “Aerogramas” bem como o lançamento da ideia das “Madrinhas de Guerra”, em que uma rapariga/mulher aceitava trocar correspondência com um miliciano durante a sua estadia no Ultramar. É, ainda, do MNF a iniciativa da digressão de artistas e espectáculos à Guiné, Angola e Moçambique para os militares.
Este Movimento viria a ser extinto na sequência do «25 de Abril de 1974» por decreto da Junta de Salvação Nacional, em 22JUN1974.
II – FOTOGALERIA DO ESPECTÁCULO EM MANSAMBO - CART 3494
Foto 3 – Mansambo - Jan/1974. Grupo Musical «Ou Vai ou Racha». Da esqª/dtª (1.ª linha) – Américo Russa (fur. CCS); Manuel Dias (fur. Cart 3494) e Luciano Jesus (fur. Cart 3494). Comparando a foto 1 [1969] com a foto 3 [1973], constata-se que os instrumentos são iguais… ou seja; os mesmos.
Foto 4 – Mansambo - Jan/74. No improvisado palco, estão os camaradas Manuel Dias e Luciano Jesus, furriéis da CART 3494, em momento de poesia com acompanhamento musical.
Foto 5 – Mansambo - Jan/74. Actuação do Grupo de Teatro… onde nasceu uma criança… com chucha e barrete…
Foto 6 – Mansambo - Jan/74. Actuação do Grupo Musical «Ou Vai ou Racha».
Foto 7 – Mansambo - Jan/74. Idem.
Foto 8 – Mansambo - Jan/74. Idem.
Foto 9 – Mansambo - Jan/74. Em noite de cacimbo com temperatura mais baixa do que o habitual, como prova o vestuário, o ambiente criado pela equipa de animadores em palco, verdadeiros actores/artistas de corpo inteiro, ajudou a dar mais calor aos camaradas presentes na plateia, reforçando o ânimo para o tempo que ainda faltava cumprir.
Eis mais uma pequena peça do puzzle historiográfico da presença do contingente da CART 3494 no CTIGuiné.
Com um fraterno abraço de amizade,
Jorge Araújo.
Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494
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Nota de M.R.:
Vd. Também o último poste desta série em:
20 DE ABRIL DE 2015 > Guiné 63/734 - P14495: História da CART 3494 (6): RECORDANDO A 1.ª EMBOSCADA NA PONTA COLI EM 22ABR1972 E A MORTE DO FURRIEL BENTO - A única baixa em combate da CART 3494 (Jorge Araújo)