Quadro - Resultados da sondagem "on line" que decorreu no nosso blogue entre 8 e 14 de junho de 2015. Total de respostas: n=194
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)
1. Resumindo, podemos dizer que;
(i) Cerca de 45% dos votantes, admite nunca ter tido relações sexuais com mulheres guineenses, ao tempo da guerra colonial (1961/74);
(ii) Um total de 68 (cerca de 35%) diz que teve relações pelo menos uma vez (12%) ou mais do que uma vez (23%);
(iii) Há uma minoria (n=38) (menos de 20%) que tinha relações sexuais com mulheres guineenses "bastantes vezes" (10%) ou com "muita frequência" (9%).
(iv) Apenas um respondente votou na hipótese "não sei/não me recordo".
2. Estamos longe da célebre estimativa do Jorge Cabral que apontava para um total de 80% a 90% de militares, metropolitanos, que nunca terão tido relações sexuais com mulheres guineenses (*)...
O "alfero Cabral" não se baseia em quaisquer estudos, de resto inexistentes, sobre esta matéria (que não terá merecido qualquer especial atenção por parte da hierarquia das nossas Forças Armada). Baseia-se, isso sim, na sua perceção e na sua experiência "no terreno".
É o conhecimento de causa que lhe permito, inclusive, desenvolver a curiosa "teoria da alferofilia", ou seja, a particular atração sexual de que eram objeto (e não apenas sujeito) os oficiais milicianos, em especial os que tinham funções de comando... Espero que ele se ponha fino e bom para explicar e exemplificar melhor a sua "teoria do caneco" (**), de resto, verosímil, já que, como é sabido, o poder é afrodisíaco...
Foto: © Jorge Cabral (2009). Todos os direitos reservados.
Para se ler corretamente os resultados da sondagem, é preciso ter em conta, em todo o caso, que nesta amostra de 194 ex-combatentes, é muito provável que haja uma sobrerrepresentação dos milicianos (alferes e furrieis) em detrimento do pessoal do recrutamento geral (1ºs cabos e soldados), reflectindo a estrutura populacional da Tabanca Grande (onde tendem a predominar os antigos milicianos).
As contas são fáceis de fazer: passaram pelo TO da Guiné, ao longo dsa guerra (1961/74) cerca de mil unidades e subunidades (batalhões, conpanhias, pelotões)... A nossa Tabanca Grande tem menos de 700 elementos formalmente registados, entre "amigos" e "camaradas" ( mais exatamente, 691)... A grande maioria são ex-combatentes. Em todo o casoo, cerca de 6% de grã-tabanqueiros já morreram. Portanto, nem todas as unidades e subunidades têm um representante no blogue. Algunas têm meia dúzia. E naquelas que têm pelo menos um representante, é mais provável esse camarada seja um miliciano (alferes ou furriel)....
A explicação é intuitiva: os ex-milicianos, muitos deles continuaram a estudar, depois de passarem à peluda, tendo portanto um maior nível de literacia (funcional e informática) do que a generalidade do pessoal do recrutamnento geral...
De qualquer modo, se esta sondagem fosse representativa do contingente militar que passou pela Guiné (cerca de 200 mil homens), a proporção de respondentes que adnitiram nunca ter tido relações sexuais com nenhum mulher local deveria ser da ordem dos 3 para 4 (75%).
A mãe da "menina do Gabu" que viveu em "união de facto" com um furriel miliciano em Nova Lamego, em meados dos anos 60 (Foto de José Saúde, 2011) |
Temos conhecimento de alguns (poucos) casos de "bajuda com morança posta" por militar metropolitano, em geral não operacional (pessoal de apoio: saúde, manutenção, transmissões, secretariado, alimentação, transportes, etc.), vivendo fora do quartel, e em aglomerados populacionais de maior dimensão (como era o caso de Bissau, Bafatá, Bambadinca, Nova Lamego)... Estas "uniões de facto" eram mais propícias à "geração" de "filhos do vento" ou "filhos da guerra"...
Achamos, todavia, que essa proporação (9%) peca por excesso... Quando muito, poderia haver um caso ou outro por companhia (que era constituída por 150/160 homens, incluindo 1 capitão, 4 alferes, 20 sargentos e furrieis)...
Atenção, que nos nossos aquartelamentos não havia qualquer privacidade: na melhor das hipóteses, quem tinha um quarto privativo era o capitão ou o comandante (alferes, no caso dos destacamentos), para além dos oficiais superiores (nas sedes de batalhão)...
Por outro lado, todos sabemos que, em tempo de guerra, a "procura" (de favores sexuais) era muito superior à "oferta", nomeadamente no interior do território... E que casos (pontuais) de violação eram punidos disciplinar e/ou criminalmente,,, (É bom que isso se diga e se escreva!)...
Aguardemos os comentários e as demais achegas dos nossos leitores, que serão muito bem vindos (***)... LG
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 5 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14701: (Ex)citações (275): Hospitalidade, brejeirice e ... instinto de sobrevivência das mulheres e bajudas fulas de Nhala, na receção aos "periquitos", em 29/4/1973 (António Murta, ex-alf mil inf MA, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)
A propósito da conferência “Filhos da guerra”, no âmbito do Festival Rotas & Rituais (Lisboa, Cinema São Jorge, 22 de maio de 2015), tomei nota no meu canhenho:
“Temos dificuldade em abordar em público este problema, o das nossas relações com as mulheres guineenses no tempo da guerra colonial. Pior ainda, num público feminino ( e senão mesmo feminista), português e africano, ou de origem africana… Somos, os homens, facilmente “suspeitos de cumplicidade” uns com os outros… Os homens são todos iguais, em toda a parte, defendem-se uns aos outros, dizem elas…
"A intervenção, longa e incisiva, do Jorge Cabral, em tempo de debate, acabou por provocar algum sururu na sala. Disse ele, em síntese:
- Defenderei até à morte a honra do soldiado português na Guiné. Nós não eramos nenhum emprenhadores compulsivos. Mais: atrevo-me a dizer que 80% a 90% dos soldados portugueses na Guiné não tiveram quaisquer relações sexuais com mulheres africanos… E se querem falar de prostituição organizada (que no meu tempo praticamente se restringia a Bissau e, em pequena escala, a Bafatá), pois tenho a dizer que é muito maior hoje, só na capital da Guiné-Bissau, do que no meu tempo" (...)
(**) Vd. poste de 28 de outubro de 2009 > Guiné 53/74 - P5172: Estórias cabralianas (56): Cum caneco, alfero apanhado à unha! (Jorge Cabral)