Caro Carlos,
Depois das férias, aos poucos vou pondo em ordem tudo aquilo que se atrasou.
Chegou a hora de voltar ao convívio com o camaradas do blogue.
Aqui fica o testemunho daquilo que foi, resumidamente, o convívio da CCaç 3327.
Para ti e para todos os camaradas, um haja saúde para todos.
Um abraço amigo,
José Câmara
Uma viagem de sonho: a CCaç 3327 em convívio
Foi uma viagem inesquecível, aquela que me levou de Stoughton, no coração do estado de Massachusetts, à terra dos estudantes, dos sonhos, dos choupais e dos rouxinóis, a cidade de Coimbra.
Pelo caminho, em São Miguel, encontrei o meu grande amigo ex-Fur Mil Valdemar Caetano.
Um dos destacamentos de Mansoa, na Guiné, fora testemunha do nosso último abraço, em Março de 1971.
Já na Horta, na linda ilha do Faial, fui encontrar os meus familiares para aquele abraço que acontece todos anos. Desta vez, o meu progenitor não estava à minha espera e jamais o estará. No meu coração estará sempre o seu sorriso quando me via chegar, ido das Américas.
Finalmente, a última pernada da viagem há muitos anos sonhada.
Eram cerca das 11 horas da noite quando eu e a minha esposa chegámos ao aeroporto, em Faro. À nossa espera estavam o meu querido Capitão Rogério Alves e os meus bons e grandes amigos ex-Furriéis Luís Pinto e João Cruz da CCaç 3327; o ex-Furriel Costa da CCaç 3328 com quem privei muitas vezes, na ilha Terceira, também lá estava. Esta simpatia e amabilidade tocaram-nos profundamente.
Ali mesmo, no aeroporto, deixámos passar os minutos e as horas. Havia muito para falar.
Norinha, Silves, foi o nosso próximo destino. Por aquelas bandas procurei o Amílcar Ventura. Gostei de conversar com ele. Pessoa simpática. Falámos do blogue, das histórias, dos encontros e desencontros. Um dia ele voltará para acabar a sua história. Demos um abraço. Senti um amigo na despedida.
Os nossos anfitriões na Praia da Rocha, o casal Pinto (Luís e Samara), tudo fizeram para nos proporcionar uma estada confortável e agradável. Conseguiram isso e muito mais. A amizade que era de dois agora é de quatro. Tenho a certeza de que num futuro próximo, teremos a mesma alegria que este encontro nos proporcionou.
Ao casal Pinto juntou-se o casal Cruz que, nos mimos para connosco, proporcionaram-nos momentos de grande emoção e amizade. Depois de um excelente e lauto almoço confeccionado pela dona Fernanda Cruz, lá fomos às raízes da nossa vida militar.
O CISMI, em Tavira!
O mesmo pórtico, a mesma calçada. A grande bacia onde lavávamos os utensílios de alumínio foi-se. Os edifícios estão todos modificados (já o estavam a ser em 1970), mas ainda lá estava, por cima da porta da caserna, a placa, em azulejo, da 4.ª Companhia de Instrução, a minha Companhia, na altura comandada pelo capitão Micalina (nome possível de correcção).
O quartel está muito bem arranjado e em ordem. Passei pelo refeitório. Pintado, asseado, mesas com toalhas brancas e postas com a louça. Confesso que me emocionei de alegria com esta visão, para mim surreal, tal era a diferença das paredes negras e das teias de aranha que se viam pelos tectos em 1970. E da metade do refeitório que era utilizado pela 3.ª Companhia de Instrução, que aguardava a reconstrução da sua caserna.
Porém, a minha curiosidade foi espicaçada pelo facto do quartel estar praticamente vazio. Foi explicado que esta instalação militar está virado para uma missão diferente. Ali fazem-se reciclagens de diferentes armas e especialidades. Também serve de estância de férias e descanso para militares. O elemento feminino também estava presente. Lá encontrei duas caras bonitas de uma 1.° Sargento e de uma Alferes. Com elas ficou a certeza que eu, se fosse um jovem de 20 anos, ponderaria a ideia de prolongar a vida militar com tão lindas camaradas. Para o nosso cicerone, um 2.° Furriel, ficou o nosso agradecimento de uma visita só possível pela sua amabilidade.
Tavira cresceu. Muito! As ruas da baixa continuam no mesmo lugar. Edifícios que não reconheci. Algumas coisas não mudaram, não podiam mudar: o rio Gilão e a ponte que o atravessava foram sempre assim. Ah, e as meninas de então, lindas que eram, não sei se mudaram. Eu sei que... (a minha cara metade diz que o espelho não engana).
Do Algarve a Coimbra com paragem no Canal da Caveira, Alentejo, para um excelente cozido à portuguesa. Noite bem passada em Fátima onde a minha esposa teve a oportunidade de visitar o Santuário. Sorte tamanha teve, que conseguiu integrar-se numa pequena procissão que se realizava na altura. Para ela foi o concretizar de uma aspiração de criança, devota que é da Imaculada.
Pela manhã do dia 17 de Julho, pusemo-nos a caminho. Com vontade de chegar. Os primeiros sinais de Coimbra com entrada pelo Norte, descendo até ao Portugal dos Pequeninos.
Ali começaram os primeiros abraços, as primeiras emoções, as primeiras lágrimas; tudo apropriado ao momento que vivíamos. Tinham sido trinta e sete anos em patrulha para encontrar este dia. E que dia!
A CCaç 3327 era, uma vez mais, aquilo que sempre foi: uma família! Neste encontro, os nossos irmãos e camaradas açorianos não puderam estar presentes. As excepções foram protagonizadas por mim e pelo ex-1.º Cabo António Vasconcelos que se deslocou de propósito a este encontro, vindo da Ilha das Flores. Será muito mais difícil juntar os açorianos, espalhados que estão por todas as ilhas dos Açores, Estados Unidos e Canadá.
A partir da esquerda: Os ex-furriéis Carlos Costa (Op .Esp) Luís Moura (Vagomestre) Rui Esteves, um dos nossos tertulianos (Enfermeiro) e João Cruz (Atirador) com a esposa Fernanda Cruz.
Os ex-soldados Jorge Florêncio e Xisto, seguidos por um amigo, o ex-1.º Cabo Sá e a esposa. Não consigo identificar a senhora que se segue, possivelmente a esposa do ex-Furriel Jesus que se segue, o ex-1.º Cabo José Matos e o filho. De pé, o ex-1.º Cabo Álvaro Pereira
Da esquerda para a direita: Os ex-Soldados Caetano e Graciano, o ex-Furriel João Correia, o ex-Alferes Neves e o ex-Capitão Rogério Alves
O Encontro foi um sucesso. Os convivas fizeram acompanhar-se dos seus familiares. Registámos com alegria a presença das mães, das namoradas e das madrinhas de guerra de então, e dos filhos e netos de hoje. A nossa família cresceu imenso...
O nosso capitão Alves, muito comovido no seu improviso, agradeceu a presença de todos e disse do orgulho que sentiu em ter comandado a CCaç 3327. Acima de tudo disse da alegria que sentia em estar ali no meio da malta. Não esqueceu o Oliveira ceifado da vida tão cedo, na Mata dos Madeiros, nem aqueles que, com o passar dos anos da lei da vida, se foram libertando.
No abraço da despedida ficámos com uma certeza. Este foi o nosso primeiro encontro, mas não será, certamente, o último.
Até logo amigos!
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 6 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6684: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (20): Liderança e voluntariado de mãos dadas na Mata dos Madeiros
Vd. último poste da série de 22 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6882: Convívios (182): Em São Martinho do Porto com a famílias Schwarz da Silva e Levy Ribeiro (Luís Graça)