Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 29 de março de 2009
Guiné 63/74 - P4093: Agenda Cultural (5): Poetas da guerra colonial em conferência internacional, Coimbra, CES/UC, 30/3/2009 (Cristina Néry)
Universidade de Coimbra > Centro de Estudos Sociais (CES) > Página de rosto do sítio Poesia da Guerra Colonial e programa da Conferência Internacional Poesia da Guerra Colonial: Uma Ontologia do 'Eu' Estilhaçado, Coimbra, CES, 30 de Março de 2009
1. Mensagem enviada ontem por Cristina Néry Monteiro:
Caro Luís Graça e Camaradas da Guiné,
No ambito do Projecto de Investigação "Poesia da Guerra Colonial" que está a ser desenvolvido no Centro de Estudos Sociais, da Universidade de Coimbra, sob coordenação da Doutora Margarida Calafate Ribeiro, venho por este meio repetir o envio da divulgação e o convite para estarem presentes na Conferencia Internacional sobre Poesia da Guerra Colonial, que terá lugar no próximo dia 30 de Março. Em anexo envio o Cartaz, o programa e deixo abaixo o link para a página do projecto que está agora disponível on-line.
http://www.ces.uc.pt/projectos/poesiadaguerracolonial/pages/pt/agenda.php
Se, desejarem fazer um post no vosso Blogue, agradeceríamos muito e teríamos todo gosto.
Agradeço a atenção e peço, por favor, a divulgação deste evento junto de todos. E, já agora, a título pessoal, agradeço a todos e a todas aqueles que tem respondido aos meus apelos via email e via carta.
Muito obrigada.
Cristina Néry Monteiro (Investigadora Júnior no Projecto de Investigação "Poesia da Guerra Colonial"/CES/Universidade de Coimbra)
2. Notas e comentários de L.G.:
(i) Sobre o projecto Poesia da Guerra Colonial, pode ler-se a seguinte informação síntética no respectíbo sítio:
O Projecto
A experiência de Portugal na guerra colonial (1961-74) teve o seu registo estético na narrativa, dando origem a mais de uma centena de romances sobre o tema e na poesia com uma vasta e ainda não delimitada produção. Esta poesia, de autores directa e indirectamente envolvidos na guerra, e elaborada, ou no momento da vivência do evento bélico, ou em seguida, enquanto espaço de memória e de elaboração pós-traumática, carece de atenção, reflexão e divulgação.
Este projecto visa realizar uma primeira e exaustiva recolha crítica do material poético acessível, não só enquanto poesia de guerra no panorama literário ocidental e português em particular, mas também enquanto valioso testemunho subjectivo de um episódio marcante do século XX português, que modificou a própria identidade histórica de Portugal. O projecto propõe-se reunir um banco de dados amplo do arquivo poético da memória da guerra colonial e combiná-lo com uma organização de uma antologia de poemas de guerra. Trata-se de um projecto aberto à colaboração.
(ii) Eis alguns dos poemas selecionados e divulgados pela página supracitada:
Casimiro de Brito, “O fogo”
Domingos Lobo, “Os ofícios do medo”
Fernando Assis Pacheco, “Monologo e explicação”
Fernando Grade, “O meu major deveria ter sido capitão-de-mar-e-guerra”
Fiama Hasse Pais Brandão, “Sítios de campo”
Joaquim Pessoa, “Soneto anti-colonialista”
João de Melo, “Os corpos”
Luiza Neto Jorge, “Balada apócrifa”
Manuel Alegre, “Ainda”
Natércia Freire, “Guerra”
Ruy Belo, “A guerra começou há trinta e quatro anos”
(iii) O nosso blogue congratula-se com (e a apoia) esta iniciativa. Infelizmente não estamos organizados para poder estar formalmente representados na Conferência. Mas é desejável que algum dos membros da nossa Tabanca Grande, poetas ou interessados na poesia da guerra colonail, nomeadamente com residência na região de Coimbra, possam passar lá amanhã, pelo CES/UC. A inscrição é gratuita e pode ser feita em linha. Eu própriio gostaria de poder participar. Mas não tenho disponibilidade amanhã. Só soube desta iniciativa ontem à noite, quando abri a caixa de correio do blogue.
Já tínhamos seguinte previamente contactados pela Cristina Néry, em 25 de Junho de 2008.
Caro Luís Graça,
Peço desculpa pela abordagem tão directa, mas não tenho outra forma de o contactar.O meu nome é Cristina Néry Monteiro e sou Assistente de Investigação do Centro de Estudos Sociais, da Universidade de Coimbra e a minha área de trabalho é justamente a temática da Guerra Colonial.
O blogue [Luís Graça & ] Camaradas da Guiné é alvo da atenção das minhas pesquisas diariamente, por diversas vezes, e, por isso, desde já aproveito para lhe endereçar os meus cumprimentos pelo interesse e entusiasmo com que ele brinda os visitantes. É um documento incandescente contra o esquecimento.
Recentemente, tive a oportunidade de conversar com o Coronel Diamantino Gertrudes da Silva, na sua casa, em Viseu, e ele insistiu no interesse de eu o contactar e aos colaboradores do blogue acerca do meu projecto, uma vez que ele julgue que me possa ser uma ajuda preciosa e muito útil.
Passo a explicar: o projecto de investigação que estou a levar a cabo intitula-se Poesia da Guerra Colonial e tem, entre outros, como objectivo a recolha de textos poéticos ou outros acerca da temática. E não me refiro apenas aos poetas que estão publicados mas sim a todos aqueles e aquelas que escreveram e escrevem sobre a guerra.
A pesquisa tem sido tremenda mas quem corre por gosto não cansa. Até porque eu própria sou filha e neta da Guerra. O meu pai esteve na Guiné em 73/74 e o meu avô, Sargento-Chefe Adelino Néry, foi militar de carreira e cumpriu várias missões no ultramar. Em suma, é nesse sentido que lhe escrevo porque julgo poder ser um contacto interessante e muitíssimo útil nessa minha recolha solitária. Solicitava-lhe então que caso tenha conheceimento de poetas, livros, textos dispersos, potenciais contactos, o favor de me enviar para esta morada de email.
Agradeço antecipadamente a atenção e continuarei a ser uma visitante atenta do blogue. Quero deixar também, em jeito de simpatia e homenagem, uma micronarrativa de minha autoria, recentemente publicada na Revista Minguante, disponível em: http://minguante.com/?num=10&textos=cristina_nery
Com os melhores cumprimentos,
Cristina Néry
No mesmo dia, recebi outro mail, com o seguinte conteúdo:
Caro Luis Graça:
Peço desculpa, mas ao mail anterior ficou por juntar mais um pedido, que procedesse, por favor, à divulgação do projecto pelos diversos camaradas, para que talvez fosse criada uma rede de contactos e interesses. Teria muito gosto em que no final desta minha vasta pesquisa pudessem figurar no obejectivo final do projecto - a publicação de uma antologia de poesia da guerra colonial o mais representativa possível dos autores existentes sobre a temática.
Muito obrigada.
Renovados cumprimentos, Cristina Néry
Na altura, com a caixa de correio entupida, e os afazeres bloguísticos, não nos foi possível dar a melhor atenção a este pedido de colaboração que, no entanto, foi recebida por nós com simpatia. Espero que, de futuro, posssamos dar continuidade a este contacto. Congratulamo-nos pelo facto de ver a filha de um camarada nosso eleger a poesia da guerra colonial como um tema de investigação académica. Agradeço-lhe as palavras amáveis com que se refere ao nosso blogue. Peço, por outro lado, aos nossos poetas (e leitores de poesia) que lhe dêem a melhor colaboração possível. Desejo à Cristina e demais elementos da equipa do projecto votos de sucesso, pessoal e profissional. Da nossa parte, um Alfa Bravo (abraço). Luís Graça & Camaradas da Guiné.
Guiné 63/74 - P4092: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (4): Bolas, não nos deixam em paz! (Paulo Salgado)
Camaradas,
Não vi o programa, pois estou em Angola, por uma breve temporada.
Não me espanto de todo com tais afirmações, que não posso comentar. Mas colocar no mapa bandeirinhas, lá no ar condicionado do QG, era uma delícia, se acompado de um whisky com três pedras de gelo. Depois o Sr. General, que, apesar de tudo, ainda me parecia o mais "operacional", descia no héli e vinha dar apoio às tropas. Posso dizer que também senti, em muito menor grau do que o sucedido no Cheche, os comentários desfavoráveis de oficiais do ComBis.
Bolas, não nos deixam em paz. Bem bastam as nossas recordações que nos rondam com o alvorecer dos cabelos...
Oscar Bravo
Salgado
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Nota de L.G.:
(*) Vd. postes anteriores:
29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4091: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (3): Fui desrespeitado de maneira ignóbil (António Matos)
29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4090: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (2): Recuso-me a ser um bandalho e um rato cheio de medo (David Guimarães)
28 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4089: Bandos... A frase, no mínino infeliz, de um general (1): O nosso direito à indignação (Luís Graça / Mário Pinto / Jorge Canhão)
Guiné 63/74 - P4091: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (3): Fui desrespeitado de maneira ignóbil (António Matos)
Caro Luis Graça,
Entre dois sonos de sofá, despertei com a curiosidade saudosista para apreciar mais um dos episódios que Joaquim Furtado realizou sobre a guerra do ultramar, a nossa. Teria já perdido algumas cenas mas, ao falarem na Guiné, foi como se se tivesse desprendido uma das molas do tal sofá e eis-me de olho arregalado na fixação do ecrã.
Há estórias de que desconhia os pormenores e esta é uma delas.
Em Fevereiro de 1969 ainda me dedicava a uma prazenteira vida civil, daí que não vivesse a realidade da guerra.
Porém, e depois de ter passado os 2 anos da praxe a dar o corpo ao manifesto em terras do fim do mundo, não posso deixar de me insurgir com a petulante afirmação desse general (permito-me omitir-lhe o nome pelo asco com que lhe fiquei), que me desrespeitou de maneira ignóbil com a desfaçatez dos estúpidos e dos mal-agradecidos.
Comungo com o camarada Mário Pinto (**) no desabafo perante o qual eram os milicianos que normalmente morriam FORA DO ARAME FARPADO e isso, só por si, deveria ser levado ao blogue com foros de 1ª página, para que o escândalo das afirmações gratuitas e patetas sejam do conhecimento de todos os ex-combatentes para que o seu direito à indignação seja revelado à exaustão.
O desprezo pela afirmações do general (ainda que passados 40 anos sobre este e outros acontecimentos) é tal que me faltam as palavras que indelevelmente traduzam este estado de espírito.
Um abraço,
António
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 1 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3390 Tabanca Grande (95): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil da CCAÇ 2790, Bula (1970/72)
(*) Vd. poste de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4090: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (2): Recuso-me a ser um bandalho e um rato cheio de medo (David Guimarães)
Guiné 63/74 - P4090: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (2): Recuso-me a ser um bandalho e um rato cheio de medo (David Guimarães)
Foto: © David Guimarães (2005). Direitos reservados
[Revisão / fixação de texto / cor e bold: L.G.]
1. Mensagem do membro nº 3 da nossa Tabanca Grande, David Guimarães (ex-Fur Mil At Atilharia e Minas, Xitole, sede da CART 2716 / BART 2917, 1970/72),
Vi e ouvi, sim, essa coisa ontem (*). E não foi infelizmente, mas ainda vivo para ver a burrice de um ‘herói’, não sei se por encomenda mas que falou. Porque pensa que está com a tropa dele… Foi eticamente mau. Mostrou que afinal era um ‘parvo’ às de Spínola (Caco Baldé) (…)
Ele, major Almeida Bruno, no tempo, pelos vistos, tinha a solução da guerra na mão, quem sabe ?!... Formou a Companhia de Comandos Africana, a 1ª, mas pelos seus amigos, pelos vistos, fez e faz muito pouco. Mas isso é outra coisa.
Enquanto serviram e estiveram ao serviço, eram os valentes comandos africanos de Almeida Bruno… Talvez que hoje tivesse o Sr. General mudado de ideias e esquecido deles e sejam uns negros como os outros…
Também vi o Coronel Aparício a falar em morteiros que teriam sido disparados sobre a jangada e a descrição pouco convincente de como se deu o desastre. A culpa, claro, repartiu-a por todos e entretanto o General Felgas veio desmentir isso tudo, dos tiros de morteiro… Este também célebre ao tempo, claro (parece que é saudoso, hoje)… Pela incompetência de Comandar um Batalhão…
Aprendi ontem que afinal as nossas operações ao mato eram mentira ou então efectivamente a nossa táctica estava errada… Deveríamos ir por ali fora, tomar os campos do inimigo e de imediato montar lá um aquartelamento.
E ainda hei-de chegar à conclusão de que, sendo eu obrigado a ir para a guerra, fui afinal voluntariamente como na altura me ensinava a boa propaganda fascista.
Meus amigos e camaradas da Tabanca: em espaço curto e no meu mau português, vamos lá reescrever todas as mentiras que estão escritas no blogue, porque afinal ontem os operacionais que estiveram nos locais certos a mando, foram comparados a ratos cheios de medo.
Senhor general, acho que deveria ter um gesto de reparação, pedir desculpa do que disse ontem, da televisão abaixo, para milhares de portugueses que se revoltam, naturalmente… Porque de ‘bando’ a ‘bandalho’ a distância é curta e eu recuso a sê-lo… Que o seja então e só quem ontem se atreveu a insultar assim milhares e milhares de pessoas. Porque isso não é nem de general nem de soldado, é de homem com uma má criação qu eu desconhecia. E a má criação por vezes paga-se…
(...) Pois é, não deveria ter dito [o que disse], senhor general, porque insultou-nos, a todos… E todos os combatentes da Guiné obedeciam a ordens vindas dos Altos Comandos – e por vezes era cada ordem!
Um abraço,
David Guimarães
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Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 28 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4089: Bandos... A frase, no mínino infeliz, de um general (1): O nosso direito à indignação (Luís Graça / Mário Pinto / Jorge Canhão)
sábado, 28 de março de 2009
Guiné 63/74 - P4089: Bandos... A frase, no mínino infeliz, de um general (1): O nosso direito à indignação (Luís Graça / Mário Pinto / Jorge Canhão)
Foto: © Jorge Canhão (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do nosso camarada Jorge Canhão, a propósito do depoimento do Gen Almeida Bruno, no programa A Guerra, II Série, da autoria de Joaquim Furtado, que passou na RTP1, na passada na 4ª feira, da 25 de Março, e que está a causar indignação entre os membros da nossa Tabanca Grande e de outros camaradas que acompanham o nosso blogue:
Camarada Luís Graça:
Sou o Jorge Canhão, ex-Fur Mil da 3ª CCAÇ do BCAÇ 4612/72, sediada em Mansoa.
Em relação ao email (**) que nos enviaste sobre o último episódio da guerra colonial (12), informo-te que tenho todos os episódios gravados, e espero gravar tudo o que falta.
Sobre o depoimento do Gen Almeida Bruno, vou transcrever o que ele disse:
"Eu digo-lhe com toda a franqueza, sem qualquer crítica aos meus camaradas, mas esta é a verdade e a verdade tem de se dizer. A maioria esmagadora eram BANDOS, que estavam atrás do arame farpado, à espera que o inimigo atacasse para se defenderem. Havia muito pouca iniciativa, com excepção, como lhe disse, dos pára-quedistas e dos fuzileiros, isso de facto, esses nunca perderam, nunca perderam o rumo". (Transcrito, tal como está na gravação)
É, no meu entender, uma maneira muito vergonhosa de adjectivar os milhares de militares que, nas mais penosas condições, combatiam em nome de alguns poucos e do sistema que governava o País e as colónias. Muitos não tinham água, a comida era pouca, repetida e muitas vezes de péssima qualidade. As condições de habitabilidade, excepto nos quartéis das cidades e vilas, eram as que todos sabemos.
O treino militar a que fomos sujeitos era inadequado, as balas eram contadas, as granadas..., enfim tudo era contado pois não se podia gastar mais que o estipulado, e de maneira insuficiente.
No teatro de guerra, aí sim começava o verdadeiro treino, mas esse já era para valer, e aí verificávamos toda a nossa inferioridade de material de guerra em relação ao PAIGC.
Foi por isto que "os bandos" passaram, mas foram esses bandos que, à custa do seu sangue, mantiveram esta guerra por cerca de 11 anos, para que os militares do ar condicionado acumulassem comissões atrás de comissões.
Por agora fico-me por aqui, acho que me alonguei um pouco, mas enfim... saiu.
Abraços
Jorge Canhão
___________
Notas de L.G.:
(*) 18 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1855: Tabanca Grande (13): Apresenta-se o ex-Fur Mil At Inf Jorge Canhão, da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72
(...) Chegámos à Guiné a 5/10/72, fizémos o IAO na zona do Cumeré e a 17/11/72 fomos para Mansoa.
A 18/6/73 deixámos o Batalhão e passámos a estar dependentes do COP 5 e do COT 9 como Companhia de Intervenção.
Fizémos operações nas zonas de Mansoa, Mansabá, Bissorã, Farim, Bula, Cacine e Gadamael, onde estivémos com as excepcionais Companhias de Paraquedistas 121 e 123.
A 12/5/74 deixámos de ser Companhia de Intervenção e regressámos ao Batalhão.
Em 26/8/74 embarcámos de avião para Portugal.
Em toda a comissão e após algumas centenas de operações, tivémos 2 mortos (um furriel e um soldado), 2 feridos graves (soldados) e uma dezena de ligeiros, entre oficiais, furriéis e praças. (...)
(**) Mails de Luís Graça, um copm data de 26 de Março e outro com data de 27, enviados a toda a Tabanca Grande:
Assunto - Direito à indignação:
Camaradas:
Quem viu ontem, do princípio ao fim, na RTP 1, o 'episódio' semanal de A Guerrra, do Joaquim Furtado, II Série ? Como estive em aulas até às 22h, só vi o fim, quando cheguei a casa...Estava-se a falar do desastre do Cheche, no Corubal, na sequência da retirada de Madina do Boé, em 6 de Fevereiro de 1969... (Temos no blogue um dossiê, bastante completo, sobre este trágico episódio da Guerra da Guiné).
Ainda reconheci o nosso camarada Paulo Raposo, mais novinho uns anos, em imagens de arquivo (presumo)... O Paulo pertencia à CCAÇ 2405, de Dulombi/Galomaro, que perdeu 17 homens (no total, foram 47 as vítimas)... Também ouvi de raspão o Cor Aparício (que comandava a outra companhia, que teve ainda mais baixas)... O Aparício repartiu culpas por toda a gente, à boa maneira de Pilatos...
Como perdi a maior parte do programa, não sei o que disse antes o Gen Almeida Bruno... E protanto não posso comentar.
Vejam, a seguir, o texto do nosso camarada Mário Pinto, que está indignado com as declarações do antigo ajudante de campo do Spínola... Alguém quer comentar, com vista uma eventual publicação no blogue ?
Um Alfa Bravo. Luís
Assunto - A Guerra, II Série - Programa de Joaquim Furtado > Último episódio (desastre do Corubal), que passou 4ª F, na RTP
Amigos e camaradas: Alguém gravou o episódio de 4ª feira ? Era importante, por causa das alegadamente polémicas e ofensivas palavras do Gen Bruno de Almeida (***) sobre a "tropa macaca"... Eu não vi, gostava de ver.
(**) A primeira mensagem, de protesto, foi-nos enviada , em 26 de Março, por Mário Pinto, ex-Fur Mil, CART 2519, Buba Mampatá, Aldeia Formosa (1969/71), e que não é formalmente membro da nossa Tabanca Grande:
Assunto - Direito à indignação
Ontem ao ver o programa Guerra do Ultramar na RTP1, fiquei indignado com a falta de respeito do Sr. General Almeida Bruno em relação aos nossos camaradas militares conhecidos por tropa macaca, como BANDO, que se limitavam a estar presentes dentro do arame farpado.
Sr. General, é preciso ter descaramento e ser insultuoso para criticar os nossos bravos militares que tão abnegadamente serviram a Pátria em condições de inferioridade táctica e material e desconhecendo o inimigo que defrontavam porque tiveram uma instrução deficiente, que é da sua responsabilidade e dos oficiais superiores que nos comandavam entre aspas. Porque estes, sim, é que estavam no arame farpado.
V. Exa. Sr. General, já se esqueceu que a guerra fora do arame farpado era comandada pelos milicianos e graças a eles lá fomos adiando o fim do Império Colonial.
Para terminar só posso acrescentar que fui ferido em combate e não dentro do arame farpado, louvado e premiado por actos de coragem e fui não foi dentro do arame farpado.
Cumprimentos, camarada Luis Graça
ex furriel Mário
Guiné 63/74 - P4088: FAP (20): Efemérides: 36 anos após a morte do Ten Cor Pilav Almeida Brito, abatido por um Strela em Madina do Boé (Miguel Pessoa)
Luís:
Em 28 de Março de 2009 passam 36 anos sobre a morte do Ten Cor Pilav Brito (foto, à esquerda), abatido nos céus da Guiné quando pilotava um Fiat G-91 numa missão próximo de Madina do Boé.
Apenas conheci o TC Brito na Guiné mas, nos quatro meses que mediaram entre a minha chegada e a sua morte, tive a oportunidade de apreciar as suas grandes qualidades como Piloto, como Militar e como Homem.
Fomos os dois primeiros pilotos a ser alvejados por um Strela (que passou pelo meio dos nossos dois Fiats) em Campada (na fronteira norte) no dia 20 de Março; e fomos também os dois primeiros a ser abatidos por um Strela - eu em 25 e ele em 28 de Março.
Não me esqueço da importância que ele teve na minha recuperação, pouco tempo antes de ele próprio perder a vida, em circunstâncias idênticas, mas com menos sorte do que a que eu tive.
E também não me esqueço das palavras com que me acolheu, na minha apresentação:
"Você não está aqui para ganhar medalhas, mas sim para ajudar os nossos militares que estão para aí espalhados pelo mato".
Penso ter honrado a sua memória, pois foi isso mesmo que eu tentei fazer.
Miguel Pessoa
[Cor e bold, de L.G.]
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Notas de L.G.:
(*) Vd. último poste desta série > 25 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4077: FAP (19): Efeméride: há 36 anos sob os céus de Guileje 'Batata' procura e localiza 'Kurika' (António Martins de Matos)
(**) Vd. poste de 9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3859: FAP (6): A introdução do míssil russo SAM-7 Strela no CTIG ( J. Pinto Ferreira / Miguel Pessoa)
sexta-feira, 27 de março de 2009
Guiné 63/74 - P4087: Blogpoesia (33) : O bardo de Cafal Balanta (Manuel Maia)
Guiné > Região de Tombali > Cantanhez> Cafal Balanta > 2ª CCAÇ / BCAÇ 4610 (1972/74)> O Manuel Maia, ao centro, em pleno casino, com o Campos, das transmissões, e o Valadas, à mesa do restaurant...
Guiné > Região de Tombali > Cantanhez> Cafal Balanta > 2ª CCAÇ / BCAÇ 4610 (1972/74)> Descanso dos guerreiros. Da esquerda para a direita, Laranjeiro, Antunes (cabo enfermeiro), o autor destas linhas (Manuel Maia), Campos (transmissões), Luz (armas pesadas).
Guiné > Região de Tombali > Cantanhez> Cafal Balanta > 2ª CCAÇ / BCAÇ 4610 (1972/74)> Nem só de guerra vive o homem... Comendo os meus cajús matinais sob a generosa árvore, tendo ao lado a habitação/tenda que passamos a ocupar, fartos que estávamos do miserabilista aspecto da cova onde a poeira e/ou lama misturada com palha, nos servia de soalho...
A mudança de estatuto valeu-nos um ataque ao arame, dias depois, que mau grado a desagradabilidade proporcionada, me trouxe a convicção de que bati o record mundial de salto em comprimento quando me atirei literalmente em voo para a cova donde haveria de ripostar, juntamente com quem já lá estava...
Fotos e legendas: © Manuel Maia (2009). Direitos reservados
1. Texto poético-satírico, contemporâneo, do nosso Camões do Cantanhez, Manuel Maia, enviado em 5 de Março último.
Parafraseando Bocage, sou mais dado à ramada que ao bardo...
Miscigenado sangue temos,lusos,
de Celtas e outros povos cá intrusos,
daí força e porfia de vencer...
Quisera ser um bardo p´ra exaltar
os feitos portugueses d´além-mar
mas falta-me o engenho, arte e saber...
País que foi de Gamas e Cabrais,
d´intrépidos valentes generais,
briosos e da luta nunca ausentes,
vive hoje grande crise de valores,
pois chefes, da ignorância são cultores,
e ao funeral da grei, vão sorridentes...
Ineptos uns, ladrões são os restantes,
eis pedigree dos nossos governantes,
corruptos os da esquerda ou da direita..
Resvalam obras fora d´orçamento,
reservas naturais viram cimento,
por PDMs feitos pela seita...
É tempo de mudança, surja alguém,
pois já só se acredita, creio bem,
num D. Sebastião, envolto em bruma...
A urgência desta troca empurra a escolha
p´ra alguém dos combatentes que recolha
esp´ranças e vontades, uma a uma...
Nota do autor:
Somos mais de 500 mil que poderão virar dois milhões. Façamos algo pela Pátria traída e pelos milhares de camaradas ex-combatentes a viverem na mais completa ostracização, minguados de tudo, de condições básicas de sobrevivência, de tratamento médico, de carinho, de um olhar atento, de uma voz amiga que os reconforte, de alguém que os ouça nesta recta final da vida em que todos nos encontramos. É urgente, é imperioso. Saibamos ser solidários.
Temos sabido sê-lo com guinéus, com timorenses, façamo-lo agora connosco próprios...
Um abraço a toda a tabanca.
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Nota de L.G.:
(*) 25 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4078: Blogpoesia (32): João, 20 anos, apto para todo o serviço... (José Brás)
Guiné 63/74 - P4086: Os nossos camaradas guineenses (5): O making of do livro do Amadu Djaló, as memórias de um comando africano (Virginio Briote)
Foto da autoria do fotógrafo Álvaro Geraldo. Imagem gentilmente cedida por Magalhães Ribeiro (2006), nosso camarada e amigo da Tabanca de Matosinhos, e editada por nós (L.G.)
1. Mensagem do Virgínio Briote (na foto, à esquerda), com data de 21 de Março, em reposta a um pedido meu para nos falar um pouco mais do manuscrito do Amadu Djaló (*), antigo comando do Batalhão de Comandos Africanos (terá chegado ao posto de Alferes comando graduado; vive do amor e da caridade de duas filhas, em Portugal; está velho e doente, próximo dos 70; sente-se abandonado pelas autoridades portuguesas, civis e militares; considera-se um fula português, conhece a história de Portugal):
Caro Luís,
Perdoa o laconismo da mensagem que te enviei hoje à noite. Tinha que sair e não queria deixar-te sem resposta. Agora tenho mais tempo para te contar o que tenho feito.
Como é do teu conhecimento, tenho entre mãos uma obra com muito interesse, as Memórias do Amadu Djaló. São quatro maços A4, de um lado e doutro, escritos pela mão dele, em letra grande. Do mal o menos. Sempre seguido, nada de vírgulas, pontos, não tem nada. A escrita é de um negro com muito pouca instrução escolar, mas é uma escrita de alma grande, com sabedoria, senso, inteligência.
Vê-lo a descrever as peripécias em que se envolveu é um descobrimento.
A vida dele na cidade natal, Bafatá. Família, amigos.
As idas e vindas, feito djila, ao Senegal.
As hesitações nas incorporações militares.
Abertura de uma banca negocial no Mercado de Bafatá.
A entrada na tropa, ainda antes da abertura oficial das hostilidades.
As deambulações, como condutor por Cacine, Bedanda, Catió, Cufar, Farim, entre 62 e 64.
A entrada para os Comandos do saraiva, em 1964.
A história incrível da mina em Madina [do Boé], que matou toda a malta que vinha na 2º e última viatura (Uma tarde inteira, à beira da estrada para Madina, a guardar os mortos e a assistir ao morre este, agora aquele, atè à noite, quando chegou o socorro).
A odisseia de uma ida ao Como, e a teimosia do Saraiva em não querer sair dali, sem trazer uma MP que tinha sido usada contra eles. Obrigou-os a voltar a um acampamento em chamas, contra todas a regras do bom senso e da prudência. Com as consequências que se seguiram, foram todos atingidos. Dos 10 que voltaram ao acampamento, um morreu e todos os outros ficaram feridos.
A ida para o Gr Cmds do Rainha e a participação num golpe de mão, em que também este escriba entrou, na fronteira com o Senegal.
A 1ª operação helitransportada a Jabadá, de reforço ao meu Grupo. E nova teimosia, desta vez do Rainha, numa ida ao Como, para vingar as baixas que o Grupo tinha tido no AA.
O regresso à 4ª Rep, à sempre eterna casa-mãe do Amadu.
A ordem de Spínola para todos os cmds guineense regressarem a Bissau, para fazerem novo curso para a constituição da 1ª CCmds Africanos.
As primeiras operações com o João Bacar. A morte deste e o encontro da 1º linha do João Bacar no HM frente ao corpo dele coberto por um lençol. A chegada do Spínola e o levantamento do lençol.
A constituição do BCCmds com o Bruno... Fá Mandinga, Bambadinca...
As operações a Morés, sob o comando do Zacarias e a terrível derrota, talvez a maior de todas que os Cmds tiveram em toda a guerra na Guiné, com um saldo completamemnte negativo, 5 mortos e um nº incontável de feridos. Uma azelhice, fruto da fanfarronice do Saiheg, que não acabou pior porque o Bruno foi para lá com lobos maus e quase toda a esquadrilha dos AL III para os tirar de lá de qualquer maneira e talvez também porque o IN estava saciado.
A outra e mais outra ida a Morés, vingança sobre vingança.
Os estranhos preparativos no mar e na ilha de Soga e a surpresa da missão.
A odisseia das recusas, as hesitações do Cmdt BCmds, as intervenções do Alpoím Calvão e do próprio Spínola.
A mudança das fardas e das armas, a partida para uma Conacri em fim de semana e o episódio de regressarem apenas 15 dias depois a Bissau, com eles em Soga, sem saberem o que fazer, e aparentemente também sem os superiores saberem como deveriam proceder com eles.
Kumbamory, operações atrás de operações...
O 25 de Abril, a entrega das armas, a vida civil sem amigos, as prisões dos camaradas, os fuzilamentos. O caso dos 90 mortos em Farim, a prisão dele e a escapadela incrivel.
Bissau em 1975, uma cidade triste, com Luís Cabral, os recolheres obrigatórios, as denúncias, a falta de arroz, a falta de tudo.
O golpe de Estado do Nino, o renascer de uma esperança, a desilusão e a vinda para Portugal.
Uma obra que me empolga. Estou totalmente absorvido nesta história. Dividi o meu trabalho em três fases:
1. Passagem daqueles caracteres todos para o computador, a correr (Já vou ficando com uma ideia do que vou fazer a seguir). Penso que é o mais moroso.
2. Redacção da obra com o estilo dele, africano. Perde interesse se não for assim. Eliminação de capítulos e adição de outro/s com factos que, ele, ou omite deliberadmente, ou resolveu abreviar, caso de Conacri.
3. Redacção definitiva para entrega à Associação de Cmds para publicação.
Estou a chegar ao fim da 1ª fase. Estou cansado. Mas é uma obra que me está a dar muito gosto fazer.
Quanto ao nosso, que tenho perdido estes dias, conto retomar o trabalho embora com alguma parcimónia, enquanto não acabar o trabalho do Amadu. Espero e agradeço que me compreendas.
Um abraço grande para ti e para o Carlos
vb
________
Nota de L.G.:
(*) 25 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4076: Os nossos camaradas guineenses (4): Amadu Djaló, com marcas no corpo e na alma (Virgínio Briote)
Guiné 63/74 - P4085: O trauma da notícia da mobilização (4): Ir em rendição individual e, para mais, 'substituir um morto'... (Henrique Matos)
Fotos: Henrique Matos (2009)
1. Mensagem do Henrique Matos, o primeiro comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé e Porto Gole, 1966/68), açoriano de São Jorge, que vive hoje em Olhão (*):
Caro Luís e co-editores:
Se achares que tem interesse para a série "O trauma da noticia da mobilização" talvez com o subtítulo: a rendição individual...
2. O trauma da notícia da mobilização (**): Ir em rendição individual...
Da inspecção apenas lembro de estarmos em pelota com cara de parvos, pois não era coisa vulgar naquele tempo, e do exame médico que foi super rápido.
Já a mobilização ficou bem marcada. Data: Julho de 1966. Local: Batalhão Independente de Infantaria 17 (BII17) em Angra do Heroísmo (foto anexa retirada da Wikipedia).
Tinha acabado de dar uma recruta e já sabia que seria mobilizado mais dia menos dia. Conservava porém alguma esperança de ir para Angola, uma vez que tinha feito um requerimento nesse sentido por ter lá a minha família e tinha uma boa classificação.
Erro meu. Chegou a dita e logo para a Guiné que já se sabia não era pera doce. Para piorar as coisas era uma rendição individual, o que significava avançar sem que fosse com alguém conhecido (faz sempre falta nem que seja para desabafar), e começou logo a falar-se que seria para substituir algum camarada morto.
Refira-se que só soube que ia para um Pelotão de Caçadores Nativos quando já estava em Bissau. Ainda no BII17, uns dias antes de ser mobilizado, chegou àquela unidade um tenente regressado duma comissão na Guiné e que mostrou a toda agente uma série de fotografias escabrosas.
Claro que isto deixa um cidadão pouco tranquilo e escusado será dizer que os dez dias de férias que me deram antes de embarcar foram passados em estado etílico.
A viagem para Lisboa foi no velho Lima (foto retirada do site Ships Insulana) e demorou três dias e três noites, o que deu para passar no BII18 em Ponta Delgada (foto anexa em que estou de casaco branco) e no BII 19 no Funchal para rever e despedir de camaradas.
Abraço grande,
Henrique Matos
3. Comentário de L.G.:
Já tinha dito ao Carlos (que hoje tem o dia livre porque faz anos, 61 se não me engano)... Vamos insistir no tema, que tem sumo (e muito álcool...) para dar. Também gostara de escrever sob esse famigerado dia, em que apanhei a minha primeira cadela da vida...
De facto, bebi não sei quantas 'moscas' (lembra-se na 'mosca' com o cafezinho ?) num botequim qualquer, parecia que o mundo ia desabar quando me atirei para cima da cama... E ia desabar mesmo: nessa noite, de 28 de Fevereiro de 1969, houve um forte abalo sísmico...
Eu estava em Castelo Branco, onde era 1º cabo miliciano e instrutor militar (passara lá um cruel inverno, com tanto frio que tive comprar ceroulas, como aquelas que usavam os nossos avós)... Pois eu, nessa tenebrosa noite, dormia que nem um justo... Houve alguns estragos no quartel, armários que caíram na nossa camarata, etc. ...Só soube no dia seguinte, já a manhã ia alta...
Quando tiver tempo, hei-de escrever sobre esse episódio. De qualquer modo, eu estou como o escritor norte-americano Mark Twain, ao comentar a notícia da sua morte...Disse ele que a notícia fora um bocado exagerada. O mesmo se podia dizer do "trauma"... da notícia da nossa mobilização.
O que quer dizer trauma ?
Do do grego traûma, ferimento, a palavra portuguesa trauma é um s.m. [Leia-se: substantivo masculino).
Em termos médicos, é sinónimo de traumatismo; contusão; lesão local devida a um agente exterior accionado por uma força; para os psicólogos, trauma quer dizer "choque emocional violento que modifica a personalidade de um sujeito, sensibilizando-a em relação a emoções da mesma natureza e podendo desencadear problemas psíquicos" (Dicionário de Português Priberam).
Em suma, parece-me ser forte o termo trauma usado no título desta série. De qualquer modo, toda a gente tem hsitórias para contar desse dia (ou dia da inspecção, o ir ás sortes...). São essas histórias que a gente quer ver no blogue. E se houve alguns excessos etílicos, tanto melhor. Quem não bebeu uns copos nesse dia, que atire a minha pedra, perdão, garrafa.
__________
Notas de L.G.:
(*) Vd. último poste do Henrique Matos > 13 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4023: Memória dos lugares (19): Porto Gole, 1966, muito antes das tristes valas comuns... (Henrique Matos)
(**) Vd. postes anteriores desta série:
26 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4079: O trauma da notícia da mobilização (3): Calma rapaz, nem tudo há-de ser mau (Carlos Vinhal)
24 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4075: O trauma da notícia da mobilização (2): No dia da minha inspecção, ali estava eu, em pelota... (Joaquim Mexia Alves)
24 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4072: O trauma da notícia da mobilização (1): A minha mobilização para a Guiné acagaçou-me (Magalhães Ribeiro)
Guiné 63/74 - P4084: Parabéns a você (2): Carlos Vinhal, nosso co-editor, um rapaz de Leça, que desmontava minas em Mansabá (Luís Graça)
Foto: © Carlos Vinhal (2006). Direitos reservados
1. O Carlos Vinhal, ex-Fur Mil At, com a especialidade de Minas e Armadilhas, numa companhia de madeirenses, a CART 2732, aquartelada na Região do Oio (Mansabá, 1970/72), está connosco desde 25 de Março de 2006, fez anteontem precisamente três anos (*)...
Foi o primeiro co-editor que eu fui buscar à Tabanca Grande, 'voluntário à força', co-optado por mim por altura da realização do nosso II Encontro Nacional, Pombal, 28 de Abril de 2007 (foto à esquerda, com a esposa Dina). Forma juntamente comigo e com o Virgínio Briote o trio que tem pilotado, na blogosfera, o nosso blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné... Trabalhador, disciplinado, leal, dedicado, discreto, competente, dotado de um fino humor, o Carlos é hoje mais do que um simples camarada, é um amigo com que contacto amiuadas vezes, por mail e por telefone... À distância, ele em Leça, Matosinhos, o Virgínio em Lisboa, eu em Alfragide, Amadora, temos dado conta deste recado e levado a nossa carta a Garcia...
Acontece que o Carlos hoje faz anos (soube por acaso..), é já um sexagenário como eu. E a ocasião merece ser celebrada. Eu tenho uma dívida de agradecimento, de camaradagem e de amizade para com ele... Acho que a Pátria também lhe deve qualquer coisinha, mas essas são outras contas... Recordo, por outro lado, que ele é, em geral, o elemento da equipa que recebe, acolhe e saúda os novos membros da nossa Tabanca Grande... É o primeiro elemento de contacto do blogue.
Para além disso, tem outras valiosíssimas mas discretas tarefas (como, por exemplo, manter actualizado o ficheiro de contactos da nossa Tabanca Grande). Com todo o trabalho que o blogue lhe exige, ele hoje mal tem tempo para falar das peripécias da sua vida militar, em Mansabá.
Quis-lhe fazer uma pequena surpresa, listando os links do seus primeiros postes, publicados na I Série do nosso blogue (**). Por outro lado, e enquanto fui ao cinema (vd. a Valquíria, com o Tom Crusie, um bom filme (que recomendo) sobre os valores militares em Estados Totalitários, como era o caso da Alemanha Nazi) (***) e depois enquanto esperava o meu filho, à meia noite, à porta do Hiospital Francisco Xavier, onde ele trabalha como médico, fui escrevendo umas quadras para hoje publicar em honra do nosso Carlos.
Como também somos um blogue de afectos, niguém me levará a mal esta manifestação pública de sentimentos pessoais. O tom é ligeiro, mas o meu apeço e admiração pelo Carlos são profundos. Naturalmente que os votos de parabéns são também do Virgínio Briote e do resto da Tabanca Grande. Espero poder estar com ele e com a malta da Tabanca de Matosinhos, no dia 8 de Abril, 4ª feira, altura em que estarei de férias no Norte. Um grande dia para ti, Carlos, bem como para a tua Dina. LG
2. Parabéns a você (***) > Carlos Vinhal, nosso co-editor, um rapaz de Leça
De Leça p’ra Mansabá,
Passando pelo Funchal,
Até nem foi nada má
A viagem do Vinhal.
Foram férias prolongadas,
Com direito a rancho e tudo,
Tirando as morteiradas,
O Carlos foi um sortudo.
O destino marca a hora,
Para quê tanta aflição ?
No fim vais-te embora
E até levas patacão.
Nunca pensou em lerpar,
Nem na Guiné pôr-se a milhas,
Foi perito em desmontar
As minas e armadilhas.
Tipo de boas maneiras,
Não era de se queixar,
Tirando as sexta-feiras,
Treze, dias de azar.
Era carne p'ra canhão
O soldado madeirense,
Explorado até mais não
Pela máquina castrense.
Abelhas e foguetões,
Manga deles, a dar com um pau,
E capitães foliões,
Desenfiados em Bissau.
Em Leça deixou bajuda,
Prometendo-lhe casório,
Mal ele fosse p’rá peluda,
Acabado o foguetório.
Nem herói nem desertor,
Foi cumprindo a sua parte,
Hoje dum blogue é editor
Que da guerra faz a arte.
Bendita sejas tu, Dina,
Entre as nossas tabanqueiras,
Já não és uma menina,
Nem elas são carpideiras.
Viva a vida, viva o Norte,
Viva o nosso camarada,
Saúde e muita sorte,
Para o resto da caminhada.
C/ um Alfa Bravo para o Carlos Vinhal, no seu dia de aniversário,
Do Luís, do Virgínio e dos demais amigos e camaradas da Guiné
__________
Notas de L.G.:
(*) 25 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLI: A madeirense CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)
(...) "Amigos e camaradas de tertúlia: Abram aulas para receber mais um camarada da Guiné. Aqui vai o testemunho do Carlos Vinhal, ex-furriel miliciano da CART 2732 (Mansabá, 1970/72):
Caro Luis Graça:
Entrei recentemente no seu site e, como antigo combatente da Guiné, queria deixar o meu modesto contributo para aumentar o número daqueles que não têm complexos em assumir-se como antigos combatentes de uma guerra que, a não querendo, dela não fugiram. (...)
Como se tratava de uma Companhia independente, ficámos dependentes administrativa e operacionalmente ao BCAÇ 2885, sediado em Mansoa. Os Oficiais, Sargentos, Cabos e Soldados especialistas eram todos continentais. Os madeirenses, homens de comprovada bravura, eram aquilo que poderíamos chamar a 'carne para canhão'. A verdade é que muitos deles foram feridos em combate mais de uma vez e nunca viraram a cara à luta. Verdadeiros heróis anónimos, embora alguns reconhecidos e louvados até pelo General e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné. (...)
25 de Março de 2005 > Guiné 63/74 - DCLI: A madeirense CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)
(**) Outros postes do Carlos Vinhal, publicados na I Série do Blogue (Abril de 2005 a Maio de 2006), e pouco conhecidos dos nossos amigos e camararadas que só frequentam a II Série:
26 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCC: O colaboracionismo sempre teve uma paga ( 5) (Carlos Vinhal)
5 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXVI: Em 22 de Novembro de 1970 eu estava em Mansabá (Carlos Vinhal)
4 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXIV: Na guerra (não) se limpam armas (Carlos Vinhal)
18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXI: Breve historial da CART 2732 (Mansabá, 1970/72) (Carlos Vinhal)
(...) No dia 22 de Abril de 1970 assumiu o Comando da CART 2732 o Capitão de Inf Carreto Maia, ex-comandante da CCAÇ 2403, em substituição do Capitão Prego Gamado que tinha dado baixa ao HMP [Hospital Militar Principal] antes do embarque no Funchal.
No dia 20 de Junho de 1970 a CART passou a ser comandada pelo Capitão de Art José Maria Belo para substituir o Capitão Carreto Maia que tinha terminado a sua Comissão de Serviço na Guiné.
Em Setembro de 1970 o Capitão José Maria Belo deu baixa ao HMP. Em Outubro de 1970 assumiu o comando da Companhia o Capitão de Art Domingos Alberto Pinto Catalão que por sua vez baixou ao HM241 em Fevereiro, Março e Junho de 1971 . Em Agosto de 1971 foi evacuado definitivamente para o HMP. (...).
(... É minha obrigação lembrar a memória daqueles que partiram do Funchal e que, por morrerem, não regressaram connosco. São eles:
- Alf Mil Art MA Couto que em 6 de Outubro de 1970 foi vítima do rebentamento de 1 mina A/P;
- Soldado Malcata que em 16 de Maio de 1971 faleceu por motivo de doença;
- Soldado Silvestre que em 17 de Maio de 1971 faleceu por motivo de acidente;
- Soldado Vieira que em 6 de Dezembro de 1971 foi morto numa emboscada;
- e, por fim, Soldado Barbosa que foi ferido na mesma emboscada, acabando por morrer no HM 241 em 17 de Dezembro de 1971.
Por eles direi sempre PRESENTE.
14 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCVI: Força, Zé, contra o tabaco marchar, marchar (4) (Carlos Vinhal)
(...) Caro Luis, parabéns pela luta contra o tabaco.
Fundamentalismos à parte, esclarecimentos quantos mais melhor. Aqui vai o meu testemunho.
Iniciei aos 16 anos quando comecei a ter algum dinheirito para investir. A média era um maço por semana.
Aos 18 era já um fumador profissional porque, como trabalhava, tinha dinheiro para fumar um maço por dia.
Na tropa já era licenciado na matéria, maço e meio por dia era a média.
Na Guiné a média subiu ligeiramente. Como eu não era 100% operacional, de três em três dias fazia sargento de ronda (voluntariamente) pelo que estes dias tinham exactamente 24 horas de actividade. Logo a média subia para os TRÊS maços. Nos outros dias a média era quase dois.
Voltando à vida civil a dose diária era de quase dois maços. Aos 30 anos tive um problema num restaurante. Enquanto esperava pelo almoço tomei um aperitivo e fumei um cigarro. Antes de começar a refeição, senti-me mal, desmaiando duas vezes em escassos segundos. A minha mulher ficou assustadíssima, foi uma confusão total à minha volta e eu muito envergonhado no meio daquilo tudo.
Nessa hora decidi que iria deixar de fumar. Fora precisos cerca de 15 a 20 dias até deixar abandonar definitivamente. Não fumo há cerca de 28 anos. Nos primeiros tempos tinha pesadelos comigo a fumar. Cafezinho sem cigarro era um verdadeiro martírio. Os primeiros anos de abstinência foram muito difíceis. Ninguém me diga que é fácil deixar de fumar. Disso percebo eu.
Já agora, para ser honesto, fiz duas tentativas anteriores para deixar de fumar. Na primeira tive 1 ano de abstinência e na segunda 2 anos, mas acabei vencido pelo vício.
Há uma ideia de que quando se deixa de fumar há tendência para engordar um pouco. Comigo não aconteceu isso. Mantenho ainda hoje o peso dos meus 20 anos. (...)
30 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLX: À sexta-feira, dia 13, o melhor era ficar na cama (Carlos Vinhal)
(***) Valquíria (Título original: Valkyrie )
De: Bryan Singer / Com: Tom Cruise, Kenneth Branagh, Bill Nighy / Género: Drama, Thriller
Classificação: M/12
ALE/EUA, 2008, Cores, 123 min.
Sinopse > "O coronel Stauffenberg (Tom Cruise) sempre foi fiel ao seu país, o qual serviu com orgulho. Mas ao ver Hitler precipitar a Alemanha e a Europa no caos, começa a acreditar que é preciso passar à acção e travar o líder da Nacional Socialista. Em 1942, tenta conduzir vários oficiais superiores à rebelião, mas será em 1943, quando recupera de ferimentos sofridos em combate, que reúne forças junto da Resistência Alemã e organiza uma conspiração para matar o Führer. O plano, a operação Valquíria, é astuciosamente desenhado, e a missão de matar Hitler entregue ao próprio Stauffenberg".
CineCartaz / Público (com a devida vénia...)
(****) Vd. primeiro poste desta série > 20 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2367: Parabéns a você (1): Humberto Reis, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71): born in Portugal, December 19th, 1946 (Luís Graça)
quinta-feira, 26 de março de 2009
Guiné 63/74 - P4083: Memória dos lugares (21): Hospital Militar 241 de Bissau (Carlos Cardoso)
REPOR A VERDADE
Resposta ao camarada Paiva
Post 4058(*)
Caro Luis, Carlos e Virginio
A verdade é só uma, efectivamente o heliporto era em frente ao hospital militar. Quando eu cheguei a Bissau em 18/11/72 o heliporto já tinha sido mudado como exemplifico na imagem aérea, já em relação à evacuação do Zé de Guidage, a foto do Canal História é de arquivo e não conrresponde à data de Abril de 73, visto o heliporto já não ser nesse local ou seja em frente ao hospital, daí a confusão.
Confirmei o que não precisava de confirmar com o camarada Albano que esteve na mesma altura no hospital para reforçar a minha verdade.
O camarada Paiva tem a sua, mas o heliporto mudou, confirmo que anteriormente era em frente ao hospital, porque no video da viagem à Guine do Albano, o camarada Casimiro fala que o heliporto era em frente ao edifício e que o posto de socorros era no 1.º andar e dois anos depois no meu tempo de serviço era no r/c.
Espero que tudo esteja esclarecido, mas se existirem dúvidas, o camarada Paiva que me telefone, porque perdi o contacto. Visto estarmos tão perto, podíamos tirar qualquer dúvida antes de ir para o blog.
Sem mais um abraço para todos.
Cardoso RX
Hospital Militar de Bissau
Obs: Um abraço ao ex-Pilav Miguel Pessoa do radiologista que o recebeu naquele dia fatídico
Fotos: © Carlos Américo Rosa Cardoso (2009). Direitos reservados
__________
Nota de CV:
Vd. poste de 20 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4058: Memória dos lugares (20): Hospital Militar 241 de Bissau (António Paiva)
Guiné 63/74 - P4082: Ser solidário (30): Reportagem da Horta de Cabedú (Carlos Silva)
Amigos "Triunvirato"
Aqui vai uma reportagem da famosa horta de Cabedu em homenagem aos nossos camaradas das sementes.
Fogo à peça, pois as sementes também não caíram em saco roto.
Há mais para enviar. A seguir vai o corredor de Guileje e o famoso museu já em construção.
Com um abraço
Carlos Silva
Horta de Cabedú
Guiné-Bissau
Região do Tombali>Sector de Cabedu, 11-03-2009
No âmbito de mais uma visita de natureza humanitária à Guiné-Bissau para onde a nossa ONGD Ajuda-Amiga Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento enviou um contentor de bens para distribuir pela população guineense e por algumas instituições, apesar de a Guiné atravessar um período menos bom, como é do conhecimento público, nós estivemos lá para acompanhar o descarregamento do contentor e respectiva distribuição dos bens.
No âmbito desta deslocação, fizemos o percurso de ano passado por altura do Simpósio de Guilege, desde Bissau até Iemberem onde acampamos 3 dias e onde a AD desenvolve um excelente trabalho de apoio social, educacional às populações e ao desenvolvimento daquela região, percorrendo algumas localidades, Mata do Cantanhez, Canamina, Cacine, Ilha de Melo, Cabedu e Cadique, já conhecidas dos nossos camaradas, pelo menos, fotograficamente, através do Blogue.
Ano passado não integrei o grupo que foi a Cabedu inaugurar um furo para fornecimento de água potável à população, pois fui integrado no grupo que visitou Cacine.
Este ano tive a oportunidade de visitar Cabedu e em homenagem ao grupo que prometeu as sementes àquela população, dos quais fez, faz parte o nosso camarada José Carioca, o qual juntamente com outros camaradas enviaram sementes de diversas culturas através do “Pepito”, para a Associação de Mulheres CôbocoCôboco, presidida pela “Mulher Grande” Beti Touré, coadjuvada pela animadora Siabato de Carvalho, aqui vai a prova de que as sementes não caíram em saco roto e que estas mulheres cheias de boa vontade conseguiram fazer crescer a horta mais linda da região.
Guiné-Bissau > Região do Tombali > Cabedu
Guiné-Bissau > Região do Tombali > Cabedu 11-03-2009 > Furo que foi inaugurado em Março de 2008, depósito e casa do gerador > António Soares do Porto que prestou serviço na BA12 Bissalanca
Guiné-Bissau > Região do Tombali > Cabedu, 11-03-2009 – Entrada da horta
Guiné-Bissau > Região do Tombali > Cabedu, 11-03-2009 > Aspecto das diferentes culturas semeadas na horta
Guiné-Bissau > Região do Tombali > Cabedu, 11-03-2009 > Uma das associadas regando a alface
Guiné-Bissau > Região do Tombali > Cabedu, 11-03-2009 > Outra das associadas regando os pimentos e as cebolas
Guiné-Bissau > Região do Tombali > Cabedu, 11-03-2009 > Troca de impressões entre os visitantes, associadas e animadora Siabato de Carvalho
Guiné-Bissau > Região do Tombali > Cabedu, 11-03-2009 > Mulheres da Associação CôbocoCôboco, ao centro Carlos Silva, em frente a Presidente Beti Touré, à direita a animadora Siabato de Carvalho e à esquerda o motorista da AD Samba Caiote
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Notas de CV:
Vd. postes de:
7 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2816: Simpósio de Guileje: Notas Soltas (José Teixeira) (5): Água, fonte de vida para as gentes de Cabedu
11 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2834: Ser solidário (9): Sementes para a população de Cabedu, Cantanhez, Região de Tombali (Zé Carioca)
16 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2849: Ser solidário (10): Campanha Sementes para as Mulheres Grandes de Cabedu (José Teixeira)
23 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2975: Ser Solidário (11): Sugestões de colaboração (José Teixeira)
17 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3069: Ser solidário (13): Projecto de angariação de sementes (APAG / Zé Carioca)
1 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3159: Ser solidário (18): Projecto Sementes: Com o Pepito, na sua casa de São Martinho do Porto, em 19 de Agosto passado (Zé Carioca)
11 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3295: Ser solidário (21): Do Projecto Sementes ao Museu de Guiledje (Pepito)
Vd. último poste da série de 12 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4016: Ser solidário (29): Unidos no passado, unidos no presente (Pepito / Carlos Fortunato)
Guiné 63/74 - P4081: De regresso a Mampatá (Zé Manel Lopes) (4): Senegal e Guiné-Bissau
Mercado do Peixe em St Louis
Ponte do Eiffel
Carros puxados a burros o maior meio de transporte do interior do Senegal
Fronteira Senegal/Guine Bissau
Guiné
Festa na aldeia
A Guiné é indiscutivelmente uma terra fertil
Palácio do Governador em mjuito mau estado
A vaca no tejadilho nestes carros tudo se transporta
De boleia e à sombra
Fotos: © José Manuel Lopes (2009). Direitos reservados
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4061: De regresso a Mampatá (Zé Manel Lopes) (3): Do Trópico de Câncer à Mauritânia (2.ª Parte)
Guiné 63/74 - P4080: Tabanca Grande (127): Manuel Resende, ex-Alf Mil, CCAÇ 2585 (Jolmete, 1969/71): como o mundo é pequeno e o nosso blogue é grande
Foto: Cortesia de António Dias Barros (2009)
1. Ao fim de dois anos (!), tivémos resposta a um apelo do médico estomalogista Raul Nobre, que chegou a integrar a CCAÇ 2585/BCAÇ 2884, mas que não chegou a embarcar, no T/T Niassa com destino à Guiné (*). A mensagem é do Manuel Resende:
Olá, Luís Graça
Só há dois dias é que descobri este maravilhoso espaço na Internet, onde se pode falar e desabafar de factos que recalcamos há 40 anos.
Sou ex-Alf Mil da CCaç 2585 / BCaç 2884.
Já li tudo o que está neste espaço e quero contribuir, para já, com uma informação para o nosso médico Raul Nobre, de que me lembro perfeitamente, pois era meu camarada de Companhia (CCaç 2585). Foi substituído pelo médico Alf Mil Diniz Martins Calado.
Já agora, também para informação do camarada Raúl Nobre, aqui vão os nomes dos 4 alferes da Companhia:
- António Camilo Almendra (mais tarde comandante da companhia por graduação em Capitão),
- Manuel Charraz Godinho,
- António Alberto Miguéis Marques Pereira,
- e eu, Manuel Cármine Resende Ferreira.
Tenho muitas fotos que irei partilhar em outra altura. Também tenho algo a dizer em relação à morte dos MAJORES.
Um abraço
Manuel Resende
manuel.resende@clix.pt
2. Comentário de L.G.:
Manuel Resende:
Como eu costumo dizer em casos destes, o mundo é pequeno e o nosso blogue é grande...
Não, não é vaidade, imodéstia, megalomania, arrogância, demência, voyeurismo... Estou só a falar em voz alta e a congratular-me por, quase todos os dias, conhecer gente fixe como tu, que gosta de ajudar e de ser ajudado. E que não quer ficar gagá tão cedo. E que ainda tempo tripas, tomates e coração. E que se recusa a pagar as suas memórias, o seu passado. E que até é capaz de blogar na Internet. E que se junta com os seus antigos camaradas da tropa e da guerra, para dar dois dedos de conversa, beber um copo, bater uma chapa, recordar os bons e os maus velhos tempos...
Obrigado, em meu nome e dos demais tabanqueiros, pela referência que fazes a "este maravilhoso espaço da Internet" que é, para ti, o nosso blogue, que acabas de descobrir. O que é importante é que ele, o blogue, vá cumprindo a missão para que foi criado, que é a de reunir debaixo do grande poilão a rapaziada que andou pela Guiné nos idos tempos de 60/70, na guerra e na paz. E que continua a lá ir e a sentir saudades de (e afecto por) aquela gente e os seus lugares...
Obrigado por quereres partilhar connosco a história dos três majores do chão manjaco, tema doloroso da guerra da Guiné, e sobre o qual já publicamos aqui um extenso dossiê, incluindo o depoimento de um antigo camarada teu, o ex-Fur Mil Lino, que vive hoje em Braga. Mas o Lino não mais deu sinais de vida. Em contrapartida, temos aqui, com lugar cativo na Tabanca Grande, o José Rodrigues Firmino, que foi soldado atirador da tua companhia, "casado, 60 anos de idade, natural de Armamar, Distrito de Viseu, residente em Paredes, Distrito do Porto". Também anda à procura de malta da CCAÇ 2585.
E porque "amor com amor se paga", ficas desde já convidado a integrar a nossa Tabanca Grande, a mandar as duas fotos da praxe (um de menino e moço, e outra mais recente), a contar a(s) tuas(s) história(s), tuas e da CCAÇ 2585 sobre a qual ainda sabemos pouco (**)... Até lá, um Alfa Bravo. Luís Graça.
PS - Vou dar notícias tuas ao Raul Nobre.
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Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 27 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1629: Lendo os vossos depoimentos com um nó na garganta... O que é feito da CCAÇ 2585 ? (Raul Nobre, ex-Alf Mil Médico)
Mensagem de Raul Nobre, médico:
Meu Caro Luís Graça: Tenho lido estes depoimentos com um nó na garganta. É muito importante em todos os sentidos, quer histórica quer emocionalmente. Em 1969 fui incorporado como médico na CCAÇ 2585, comandada pelo Capitão Tomaz da Costa.
Ainda fiz o IAO na Arrábida e gozei os 10 dias de licença antes do embarque. Entretanto deu-se o "atentado" ao Niassa e o embarque do Batalhão fez-se com atraso. Eu não cheguei a embarcar, pois deferiram-me o requerimento que fizera para poder terminar a especialidade de Estomatologia e em 1971 mandaram-me para Timor donde regressei em 1973.
Nunca mais tive notícias de ninguém. Recordo-me que havia um Alferes chamado Almendra, creio que natural de Trás-os Montes. O meu contacto com os camaradas foi de curta duraçáo, pois tinha sido reinspeccionado, fizera uma recruta de um mês em Santarém e tinham-me colocado naquela Companhia que, por sua vez, tinha sido constituída a toda a pressa. Gostava de ter notícias daqueles rapazes.
Um abraço e a minha admiração pelo trabalho que estás a fazer.
Raul Nobre
(**) Sobre a CCAÇ 2585, continuamos a ter ainda pouca informação... Há referências a esta companhia que esteve em Jolmete (vd. mapa de Pelundo), nos postes de:
17 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2275: Estórias avulsas (11): Saídas frequentes para o mato (Albino Silva)
14 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2106: Tabanca Grande (33): Apresenta-se José Rodrigues Firmino, ex-Soldado Atirador (CCAÇ 2585 / BCAÇ 2884, Jolmete, 1969/71)
27 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2004: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (Anexo A): Depoimento de Fur Mil Lino, CCAÇ 2585 (Jolmete, 1970)
Guiné 63/74 - P4079: O trauma da notícia da mobilização (3): Calma rapaz, nem tudo há-de ser mau (Carlos Vinhal)
Carlos Vinhal
Quanto ao dia da minha inspecção militar em Matosinhos, no dia 21 de Junho de 1968, de pouco me lembro, a não ser do meu amigo Arménio Lucas que ficou livre por ser deficiente de um pé. Tirando este, grandes, pequenos, gordos e magros, foram todos apurados para servirem a Pátria.
Claro que me lembro de andarmos todos à pai Adão, sem parra, num edifício devoluto, de sala em sala, curiosamente contíguo à Escola Secundária que tinha frequentado uns anos antes, destinado temporariamente às Inspecções Militares.
Também me lembro da famosa pergunta de alguém que deveria ser médico ou afim:
- Sofre de alguma coisa?
Como na altura não percebia nada de postos militares, respondi em termos mais ou menos provocatórios:
- O senhor acha que eu com este corpo, sofro de alguma coisa?
Ao tempo eu era um pouco para o anafado.
Quem se lembra da célebre saquinha de onde se tirava o número mecanográfico? 19551569 tocou-me em sorte. Virá daí o ir às sortes?
Fui ainda cravado por um militar que deambulava por lá e se aprontou a vender-me uma fitinha horrorosa onde se lia APURADO.
Não sendo um homem de fortes convicções religiosas, logo portador de pouca fé, entreguei-me sempre ao destino, coisa em que acredito, esperando sempre o pior, para receber com alegria o que de melhor vier.
Nas Caldas da Rainha (ABR a JUL1969), nos últimos dias da Recruta, houve formatura geral na Companhia para chamar o povo, separando-o por Especialidades. Logo pensei - Carlos, presta atenção quando chamarem para Tavira para o curso de Atirador, não escaparás.
Não podia ser, não é que não fui para Atirador? Já estavam a chamar para uma outra Especialidade qualquer.
Mas, oh cruel destino, a tal coisa em que acredito, começaram a chamar, desta feita, para a Especialidade de Atirador de Artilharia, EPA/Vendas Novas. Não tardou muito... Soldado Instruendo 19551569 – Carlos Esteves Vinhal...
Pensei - mais uma vez fui beneficiado, não fui para o Algarve, o Alentejo sempre é mais perto do Porto.
Se bem se lembram, no final da Especialidade davam uma espécie de inquérito onde cada um podia escolher (santa inocência) três quartéis. Sendo eu um militar da Arma de Artilharia, escolhi as três Unidades mais próximas do Porto, a saber: Espinho (GACA 3), Gaia (RAP 2) e Penafiel (RAL 4).
Em meados de Setembro, acabada a Especialidade, concederam-nos uns dias de licença. Tinham-nos dito que receberíamos em casa a indicação do local e dia para nos apresentarmos. Esperei que o correio trouxesse o meu destino e um dia chega o veredicto: Colocado no BAG 2, em diligência no GACA 2, onde se deve apresentar no dia 13 de Outubro.
Como naquele tempo não havia internete, fui ao local onde se aprendia tudo, o Café. Perguntei a este e àquele, mas ninguém sabia onde era o BAG 2. O GACA 2 era em Torres Novas, mas o BAG 2...?
Lembrei-me de um amigo que era Furriel Miliciano e que estava colocado no QG da RMP, sito ainda hoje na Praça da República da Cidade Invicta, pessoa à partida conhecedora destas coisas. Nem ele, mas de repente fez-se luz. Um seu amigo, também Furriel Miliciano, estava colocado no BAG 1 e isso era... nos Açores. Seria o BAG 2 na Madeira?
Optimista como sou, pensei - qual quê, estes gajos para me serem agradáveis colocaram-me em Torres Novas, bem “pertinho” de casa, afinal. Nunca irei parar a esse tal BAG 2.
No aprazado dia 13 de Outubro (Segunda-feira), apresentei-me em Torres Novas, disposto a montar o acampamento pelo maior espaço de tempo possível. Qual quê? No dia 20, passada apenas uma semana, estava já a caminho de Tancos para tirar aquela Especialidade que qualquer militar anseia, Minas e Armadilhas. São mais conhecimentos adquiridos e mais uma estadia em Quartel com tudo incluído.
Ainda em Tancos, certo dia, constou que havia saído as mobilizações. Juntámo-nos uns quantos e fomos à Formação ter com o Sargento para que nos dissesse de sua justiça. O sistema era... nome, procurar em Angola, se não estava, procurar na Guiné, se não estava, procurar em Moçambique, está aqui, felicidades, outro...
Chegada a minha vez, acho que fiquei para último, disse ao Sargento para não perder tempo e procurar na lista da Guiné. Tiro e melro abatido... O 1.º Cabo Miliciano 19551569 - Carlos Esteves Vinhal, constava daquela lista.
Como se depreende, fiquei na maior, Especialidade de Atirador, Curso de Minas e Armadilhas e mobilizado para a Guiné. Como se costuma dizer, ninguém morre de véspera, só o peru. Calma rapaz, nem tudo há-de ser mau.
Para compor o ramalhete, nos últimos dias de Curso de Minas, já tinha na mão a Guia de Marcha e o Bilhete de Embarque, para no dia 8 de Dezembro, no navio Funchal, rumar com destino ao... Funchal. Afinal sempre iria conhecer o BAG 2.
Com a anuência do Comandante do BAG 2, viemos, desenfiados, ao Continente passar o Natal de 1969 e a passagem de ano para 1970. De avião, às nossas custas, claro.
A expensas do erário público, viemos em Março ao Continente passar os 10 dias de mobilização, a viagem do Funchal para Lisboa foi feita a bordo do navio Angra do Heroísmo e regresso no Funchal, por avaria no primeiro.
O pior de tudo foi convencer a minha mãe destas viagens todas, sendo que a derradeira seria um dia para a... Guiné.
- Oh mãe, temos tantos vizinhos por aqui que foram para a Guiné e já estão cá, casados e tudo, limpe as lágrimas. Nem sei quando embarco. Mentira.
O meu pobre pai, já bastante debilitado pela doença que o vitimou anos mais tarde, aguentou estoicamente sem demonstrar o mais pequeno sinal de fraqueza. Homem não chora, nem pelo filho único que vai para a guerra, que eu visse, claro. A ele disse-lhe que não viria mais a casa uma vez que se embarcaria na Madeira para a Guiné.
Após cerca de quatro meses no Funchal, com tempo para dar uma Especialidade aos homens que haviam de integrar as CART 2731 (Angola) e CART 2732 (Guiné), formar Companhia, fazer IAO na Ilha, despejando carregadores de G3 para o mar, chegou o dia 13 de Abril, já no Ano da Graça de 1970, quando finalmente fomos do Funchal para o nosso derradeiro destino enquanto militares. A viagem desta vez foi no navio Ana Mafalda para variar.
Aquela coisa em que acredito, o destino, levou-me para a Guiné, trouxe-me para casa, deu mais uns anos de vida a meu pai e há-de ter-me por cá até a factura estar saldada.
Carlos Vinhal
Ex-Fur Mil Art MA
CART 2732
Mansabá, 1970/72
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Nota de CV
Vd. último poste da série de 24 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4075: O trauma da notícia da mobilização (2): No dia da minha inspecção, ali estava eu, em pelota... (Joaquim Mexia Alves)
quarta-feira, 25 de março de 2009
Guiné 63/74 - P4078: Blogpoesia (32): João, 20 anos, apto para todo o serviço... (José Brás)
Dedicatória: ao meu (nosso) amigo Mexia Alves (*) com um abraço
OUTRA FACE DO "DIA DAS INSPECÇÕES" (**)
Tinha no olhar
sinais seguros de esperança
quando
numa quente segunda-feira
de verão
em 64
eles vieram à vila
tomar-te o peso
o pulso
a medida do peito
o sonho
-o sonho não!
à tarde
quando partiram
a tua ficha dizia apenas
-João
20 anos
apto para todo o serviço
in Vindimas no Capim (1986)
José Brás
[Título do poste / fixação / revisão de texto / itálicos e bold: L.G.]
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 24 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4075: O trauma da notícia da mobilização (2): No dia da minha inspecção, ali estava eu, em pelota... (Joaquim Mexia Alves)
(**) Vd. último poste da série Blogpoesia > 15 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4037: Blogpoesia (31): Quando eu era menino e moço... (Manuel Maia)