quinta-feira, 16 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4693: Fichas de Unidades (4): História da CCAÇ 594 (José Martins)

1. Esta ficha de unidade resultou de um pedido do nosso Camarada Júlio Pinto, que foi 2º Sarg Mil da CART 769, (Angola, 1967/69), que pertence à nossa Tabanca Grande, para satisfazer uma solicitação de um seu Amigo e Camarada-de-armas da Guiné, através do nosso Blogue.

2. Registamos, mais uma vez, com elevado apreço o nosso melhor agradecimento, pela preciosa ajuda prestada pelo já habitual "colaborador permanente", o José Marcelino Martins... Obrigado!

No dia 13JUL2009, O Júlio Pinto dirigiu um e-mail ao José Martins, com o seguinte teor:

Amigo José Martins, sou um ex-Combatente de Angola e faço parte da Tabanca. Sou Júlio Pinto e tenho reparado que o amigo, tem sido um investigador sobre as Companhias e Batalhões, que andaram pela Guiné. Ora eu tenho um amigo de nome Artur da Costa Rodrigues, que foi 1º cabo da CCAÇ 594 e que foi mobilizado no RI 15, de Abrantes. Tinha como comandante o Cap de Inf Mário Jaime Calderon Rocha.O que eu pedia ao amigo era, se possível, obter a composição da dita Companhia, para esse meu colega tentar localizar alguém, que lhe possa avivar a memória daqueles tempos.Esta Companhia embarcou para a Guiné em 27-11-1963 e regressou a 28-10-65.
Se for possível muito bem. Mas se não for agradeço na mesma.
Um abraço,
Júlio Pinto

O José Martins respondeu assim:

Caro Júlio Pinto,A colaboração que posso dar neste caso, resume-se a enviar alguns elementos sobre a subunidade e o resumo da actividade operacional. Eventualmente poderei referir qual o processo da unidade que se encontra, se existir, no Arquivo Histórico Militar, em Lisboa, pois será nesse processo que existirão os nomes de todos os elementos sobre a CCAÇ 594.
Um abraço,
José Martins

O Júlio Pinto retorquiu:

Qualquer coisa que consigas, para no meu amigo, será muito bom.
Fico a aguardar.
Um abraço,
Júlio Pinto

O José Martins em 14JUL2009, já dispunha de alguma informação que passou a enviar:

Caro Júlio Pinto,
Com um abraço para ti e para o camarada Artur Rodrigues, envio o que posso disponibilizar sobre a CCAÇ 594. Infelizmente não existem elementos disponíveis no Arquivo Histórico Militar, em Lisboa, para consulta mais pormenorizada.
José Martins

Companhia de Caçadores nº 594

A Companhia de Caçadores nº 594 foi mobilizada no Regimento de Infantaria nº 15, em Tomar, tendo embarcado para a Guiné em 27 de Novembro de 1963, desembarcando em 03 de Dezembro de 1963, sob o comando do Capitão de Infantaria Mário Jaime Calderon Cerqueira Rocha.

Permaneceu em Bissau até 20 de Dezembro, data a partir da qual e até 27 desse mês, por fracções, seguiu para Mansabá, assumindo a responsabilidade do subsector em 23 de Dezembro de 1963, substituindo a Companhia de nº 461. Ficou integrada no dispositivo do Batalhão de Caçadores nº 512 e, posteriormente, do Batalhão da Artilharia nº 645.

Realizou operações, entre outras, nas regiões de Uália e Manboncó. No período de Janeiro a Junho de 1964, destacou um pelotão para reforço da guarnição de Farim e, de Junho a Setembro desse ano, reforçou a guarnição de Bigene, recolhendo seguidamente à sua subunidade.

Neste período sofre um ataque na estrada de Farim – Mansabá, sendo ferido em combate ANTÓNIO BARATA FARINHA, soldado nº 2486/63, solteiro, filho de Miguel Farinha e Fe4lismina Barata Farinha, natural do Lugar de Relvas, freguesia de Ermida e concelho da Sertã, de que resulta a sua morte em 4 de Março de 1964, tendo sido inumado na campa nº 727 do Cemitério de Bissau.

Em 12 de Setembro de 1964, foi rendida no subsector de Mansabá pela Companhia de Artilharia nº 642, sendo deslocada para Bissau, integrada no dispositivo do Batalhão de Caçadores nº 600, tendo por missão a segurança e protecção das instalações e populações da área.

Em 9 de Janeiro de 1965 foi substituída pela Companhia de Caçadores nº 557 e deslocada para Buba, para intervenção e reserva do Batalhão de Caçadores nº 513 e, posteriormente, dos Batalhão de Caçadores nº 600 e, mais tarde, do Batalhão de Caçadores nº 1861, tendo tomado parte em operações nas áreas de Bantael Silá e Chinchim Dárin entre outras. No período de 29 de Abril a 3 de Julho de 1965, destaca um pelotão para Nhala.

Temporariamente e em 3 de Julho de 1965, foi deslocada para Aldeia Formosa, para actuar na região do Forreá, onde se manteve até 17 de Agosto de 1965. Sobrepondo com esta diligência em Aldeia Formosa, destacou para Guileje um pelotão, no período de 04 de Julho a 03 de Agosto de 1965, para reforço da guarnição local.


Novamente em Buba, foi rendida, por troca, a 15 de Outubro de 1965 pela Companhia de Caçadores 1438, recolhendo a Bissau, integrando o dispositivo do Batalhão de Caçadores nº 1857, com a missão de segurança e protecção das instalações e populações da área, até ser rendida pela Companhia de Caçadores nº 1488.

Embarcou de regresso à metrópole em 26 de Outubro de 1965.

Foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra de 1ª Classe, o 1º Cabo de Infantaria MANUEL VALENTE DA SILVA, conforme Ordem do Exército nº 15, série III de 1966.

Não tem história da Unidade no Arquivo Histórico Militar.

(José Martins)

Texto: © José Marcelino Martins (2009). Direitos reservados
____________
Notas de M.R.:

(*) Numa pesquisa, pelo Google, sobre a CCAÇ 594, descobri no site “Dos Combatentes da Guerra do Ultramar, Angola – Guiné – Moçambique, do António Pires”, uma mensagem com data de 04/JUN2009, contendo um apelo do Manuel Jóia da Fonseca Mendes, que foi do 1º Pelotão desta Companhia, e cujo telemóvel é 919 926 499.

(**) Vd. outros postes relacionados com a CCAÇ 594 em:


(***) Vd. também o anterior poste desta série em:

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4692: História da CCAÇ 2679 (21): O meu regresso à Guiné, após as férias na Metrópole (José M. Matos Dinis)

1. Mensagem de José M. Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71, com data de 10 de Julho de 2009:

Carlos
Aqui vai mais um pedaço de estórias, com a particularidade de se referirem à transferência da Companhia para Bajocunda.
Um abraço tabancal.
José Dinis


HISTÓRIA DA CCAÇ 2679
O MEU REGRESSO À GUINÉ APÓS AS FÉRIAS NA METRÓPOLE


A viagem de regresso à Guiné aconteceu com normalidade. O avião aterrou em Bissau por entre as cores, castanha da terra de barro quente, e o verde da profusa vegetação que a cobria. Dirigi-me ao Grande Hotel onde novamente me instalei. Queria folgar até chegar à guerra.

No dia seguinte encontrei dois camaradas do Leste, que me referiram haver uma espécie de perseguição à malta do mato para preenchimento de serviços na cidade. Ora, se o interesse em Bissau já era relativo, sentirmo-nos caçados para entrar de serviço era uma forma de desgraça a evitar sobre maneira. Nestes considerandos alguém alvitrou abalarmos para Bafatá. Por mim tudo bem, procuraria alojamento no Esquadrão de Cavalaria e daí chegaria facilmente a Piche. Depois abordámos a questão da ida. Via aérea, segundo eles, seria difícil ou impossível.

Pelo rio até ao Xime também não se afigurava boa solução. Decidimo-nos pelo aluguer de uma avioneta de quatro lugares, piloto incluído, por menos de um conto a cada, piloto excluído, naturalmente.

Entrámos no aparelho e sentei-me na frente, ao lado do piloto. Atrás, os bacanos que me convenceram. Era com curiosidade que sobrevoava o território, com a preponderante verde da vegetação em todos os lugares não alagados. Palmares, floresta e bolanha desfilavam a meus olhos. Os outros passageiros começaram a fumar. Nada de especial. Naquele tempo não constituía preocupação. Falávamos ocasionalmente. O piloto fazia movimentos suaves na manutenção da aeronave segundo a rota. Até que um dos fumadores quis atirar fora a beata, e sem atinar com a melhor maneira de se comportar, abriu a porta para aquele efeito. Essa atitude provocou algum desequilíbrio do avião, e o piloto começou a barafustar. A porta não fechava. Inclinando-se sobre mim, o piloto tentava fechá-la. Sem sucesso. Os três passageiros calados.

Provavelmente algum rezava. Perante o insucesso, o piloto picou o aparelho, novamente inclinado sobre mim, tentava agarrar a forta e fechá-la. Eu via as palmeiras a subirem na minha direcção, e com toda a pressa, pelo que passei a dar-lhe cotoveladas para endireitar a avioneta, aflito, imaginando um desfecho desgraçado. Tarde, muito tarde, à beira de um ataque de nervos, sem saber como proceder sobre o equipamento de maneira a fazer subir o avião, mas a acotovelar o piloto, este fez a manobra necessária para inverter o sentido, de descendente na vertical, para ascendente, coisa que me deixou muito aliviado. No estreito banco de trás, os fumadores permaneciam calados, mas imagino que sentiam o mesmo tefe-tefe que eu.

Lá no alto permanecia o problema da porta aberta e o avião instável.
Esta situação deve ter induzido o piloto à repetição da manobra, pelo que seguiu-se uma descida a pique, enquanto nos ofendia, até que, já perto do solo, logrou fechar a porta malvada, e subiu nos ares com o ar da pessoa mais mal tratada deste mundo.

Sãos e salvos aterrámos em Bafatá. O pessoal mostrava-se consternado. O piloto, então, tomou a iniciativa: pediu a massa e baldou-se com maus modos. Eu pirei-me para o Esquadrão, e a infeliz sociedade desfez-se ali, sob o sol tórrido do Leste.

Em questões de aeronáutica, como em muitas outras, sou um zero absoluto, mas fiquei desconfiado que ele teatralizou, quis acagaçar-nos. E essa foi a minha grande experiência em máquina voadora.

Na cidade fui informado sobre a transferência da Companhia de Piche para Bajocunda, e iniciei o caminho logo na primeira oportunidade.

Afinal não parodiei no regresso à Guiné. No aquartelamento era o caos.

Três Companhias, um Pelotão de Caçadores Nativos - o 65, outro de Artilharia, Este pessoal todo nas instalações antes ocupadas por uma Companhia e o Pelotão de artilheiros. Mas guerra é guerra. No refeitório como na messe havia turnos. O nosso pessoal estava a dormir em tendas de dois panos, e porque era época de chuvas, por vezes era o lagoaçal mal saíam dos colchões estendidos no chão. A mim valeu a experiência anterior e voltei a dormir na enfermaria, em género clandestino. A minha bagagem controlada pelo Zé Tito estava em condições.

Mas deram-me outras notícias desagradáveis.

Quando a 2679 chegou a Piche, os velhinhos aliviaram parte da bagagem do nosso pessoal, de tapa-chamas a artigos pessoais. Agora dera-se o inverso. A Companhia partia e os nossos quiseram ressarcir-se tendo decidido aliviar a bagagem dos piras para reposição dos stocks com que tinham arribado a África. Tão mal o fizeram que houve queixas sobre o gamanço, ainda o pessoal permanecia na localidade.

Erro de previsão, seguramente. Em resultado disso, houve revista às malas dos transmutantes. Aconteceu a chatice com um patife que me envergonha por ser meu homónimo e prestar-se a confusões. Ao abrir a mala, o nabo, tinha o material ainda alheio mesmo à vista, sobre as suas coisas.

Levou uma porrada, claro, provavelmente agravada por ter sido o único a deixar-se apanhar. Badalou-se sobre o assunto, e em Bajocunda já éramos temidos como marginais perigosos.

A segunda notícia desagradável resultou de um acto de guerra desencadeado pelo IN, que foi uma jornada de sorte para as NT.

Um belo dia, o Caco Baldé deslocou-se a Pirada que, entretanto, era elevada à condição de sede do COT-1 com um major a comandar. Talvez por inspiração especial que o ar fronteiriço deve ter provocado, o general mandou tapar as valas de defesa e protecção periférica, com o argumento psicolista de que era necessário desenvolver relações de boa vizinhança e paz.

Em Pirada também havia fartura de tropa. Para além da Companhia local, estavam, pelo menos, dois pelotões de páras, infantes açorianos e o pelotão de artilharia.
Uma noite, ainda cedo, o pessoal distraía-se com a projecção de um filme, quando foi dado o alarme, os turras tinham entrado em Pirada. Felizmente, aquela parte do IN não primou pela oportunidade, nem pela inteligência organizativa para o assalto, nem pela eficácia. Alguns ficaram pelas casas comerciais a consubstanciar roubos de mercadorias diversas, e, incrivelmente, não aconteceu quase nada. Parece até que se perderam uns dos outros movidos pela ganância oportunista. Mas constou-me que um pára feito prisioneiro, caminhava ameaçado pela arma que o turra lhe apontava, até que decidiu inverter a situação, voltou-se repentinamente, tratou mal o turra, e pôs-se ao fresco. Não cheguei a saber se o ComChefe o terá punido por traição à política estabelecida para criar raízes de paz.

Esta companhia de páras manteve-se na região por algum tempo, e com eles estabeleci simpáticas relações. Até me ensinaram a fechar as portas para dormir no mato. O pessoal instalava-se ao longo de um trilho e, a distância prudente, armadilhavam-se os extremos do dormitório. Quem viesse havia de dar sinal.

Recuando ao mês de Julho, a 2679 recebeu o novo capitão, logo epitetado de Trapinhos, em resultado da reunião de dois factores: o ar alucinado e um dos apelidos. Em verdade, mais parecia um desafortunado e amarfanhado centurião das legiões romanas, conforme os bonecos glosados nas aventuras do Asterix, olhar encovado, físico frágil e mal sustentado em ossatura delgada e saliente. Dificilmente parecia oriundo da Academia Militar. Conheci-o no meu regresso de férias em Bajocunda. Tratou-se de uma outra notícia desagradável na medida em que já se lhe referiam em termos depreciativos.

O "Trapinhos"

"A companhia começa então a consciencializar-se da sua difícil missão no sub-sector, não só devido à grande extensão dos seus limites iniciais (territoriais?), como também por ter de dividir as suas forças na protecção às duas auto-defesas da área (Tabassi e Amedalai) e do Destacamento de Copá" - in História da Unidade.

Nestas condições era imperioso um comandante com pulso, determinado e inteligente, face à exposição perante o IN, as populações, as desagradáveis acções de operacionalidade em condições que podiam sugerir favorecimentos, a necessária logística, enfim, com capacidade para harmonizar em condições de dificuldade. Não foi o que veio a acontecer.

Quanto ao Foxtrot, encontrei a malta bem disposta, e confiante demais, talvez por já conhecerem a geografia da zona e quererem mostrar à vontade de veteranos ao novo alferes.

Nota: psicolista, deriva de psicola s.f. termo que resulta da fusão de psicologia e Spinola, que significa uma acção psicológica de sedução ao IN ou às populações locais. Fora disto não tem significado e, naquele âmbito, muitas vezes não tinha sentido.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série, de 26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4588: História da CCAÇ 2679 (20): Férias na Metrópole em Junho de 1970 (José Manuel M. Dinis)

Guiné 63/74 - P4691: Convívios (154): 5º Encontro / Almoço / Convívio da CCAÇ 1426, Geba, Camamudo, Cantacunda e Banjara, 1965/67 (Fernando Chapouto)


1. Do nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil da CCAÇ 1426 (1965/67), Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, recebemos a seguinte mensagem dando-nos conta da 5ª confraternização anual da sua Companhia:


Realizou-se no passado dia 11 de Julho o 5º. Encontro da minha CCAÇ 1426, que andou por Geba, Camamudo, Cantacunda e Banjara, entre os anos de 1965/67.

O convívio teve lugar na Amieira, perto de Portel, no coração do Alentejo.

Infelizmente a grande maioria dos ex-Combatentes da minha companhia não são muito dados a convívios, por diversos motivos, de que se adivinham alguns.

Uma dessas causas, que é mais comum à maioria dos portugueses, em 2009, e a que ninguém pode ficar indiferente é, sem dúvida nenhuma, a malfadada e nefasta crise que o país atravessa, com todas as vicissitudes e dificuldades que lhe são inerentes, e que muito tem martirizado inúmeras famílias portuguesas.

Assim, fazendo jus ao velho ditado, de inspiração camoniana: “Que os muitos por ser poucos nam temamos”, apenas se apresentaram à chamada final 29 heróis da Companhia, prontos para tudo.

Não desarmamos, nem nos rendemos. Não somos desses. Poucos sim, mas com grandes, lindas e maravilhosas famílias, acreditam?

Foi espantoso verificarmos que 29 guerreiros, conseguiram reunir com os seus familiares um total de 111 (cento e onze) adultos e ainda algumas crianças.

Se duvidam da minha narração anterior, apresento-vos a seguir 4 indesmentíveis provas visuais:

Os guerreiros que se apresentaram à chamada - o 3º em pé da esquerda para a direita é o Fur Mil Vaqueiro, o penúltimo sou eu e o úlitimo é o Alf Albardeiro. De cócoras, o 1º homem do lado esquerdo é o Alf Almeida.

Os familiares dos guerreiros, em grande número, que muito ajudaram à festa e que muita curiosidade mostraram também em conhecerem as nossas histórias.

O Fur Mil Vaqueiro - à esquerda - e o Alf Mil Almeida que eram do mesmo pelotão

Os três organizadores do encontro - à esquerda estou eu, no centro está o 1º Cabo Delgado e o 1º Cabo Mira - do lado direito. Os risos deviam-se ao símbolo do restaurante “O Aficionado”, sob o qual nenhum de nós queria ficar na foto.

Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil CCAÇ 1426

Fotos: © Fernando Chapouto (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P4690: Depois da guerra, o stresse... da paz (1): Em Binta, vivi uma experiência única (José Eduardo Oliveira)

Guiné > Região do Cacheu > Binta > CCAÇ 675 (1965/66) > Emblema da companhia, 1965. Lema: "Nunca ceder"... Autoria: Arquitecto José Pedro Roque Gameiro Martins Barata, irmão do médico da companhia, Alf Mil Médico Alfredo Roque Gameiro Martins Barata.

Louvor colectivo da CCaç 675. O.S. nº 60 do CTIG, de 23 Julho 1965:

De 29 Junho a 24 Dezembro 1964:

• 51 acções de fogo
• 418 casas de mato destruídas
• 80 inimigos abatidos
• 44 prisioneiros
• 107 abatises levantados

A partir de Março 1965 as populações começam a apresentar-se às nossas tropas.

Guiné > Região do Cacheu > Binta > CCAÇ 675 (1965/66) > Convívio com a população da tabanca de Binta. Ao fundo, à esquerda, em tronco nú, e empunhando a máquina fotográfica, o Alf Mil Médico Barata, muito estimado pela população. Foto do José Eduardo Oliveira, 1965.


Guiné > Região do Cacheu > Binta > CCAÇ 675 (1965/66) > A Tabanca Nova, 1965. Fotografia de Belmiro Tavares, ex-Alf Mil, editada por L.G.

A recuperação das populações levada a efeito na Guiné aconteceu
e quem teve a oportunidade de a viver não mais a esqueceu.
É que, efectivamente, depois das operações militares…
em que emboscados,
angustiados, famintos e sequiosos, enlameados…
fizemos a guerra,
também tivemos a paz.
Que construímos com as nossas mãos.
E não interessa a paz…sem população!
Palavras do Comandante da CCaç 675:
«O nosso orgulho de capitães
era termos populações e podermos apoiá-las:
não era termos mais mortos
ou menos mortos, mais tiros ou menos tiros.
E as populações começaram a regressar.
Fizémos um aldeamento,
cuja segurança era feita por eles próprios.
Quando começaram as sementeiras de arroz,
as mulheres vinham entoar aqueles cânticos ao pôr do sol,
que são coisas
que não podemos esquecer"...


Fotos (e legendas): © José Eduardo Oliveira (2009). Direitos reservados

1. Texto do novo membro da nossa Tabanca Grande, José Eduardo Oliveira, ex-Fur Mil Enfermeiro, CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim (1964/66). Nasceu em 1940, em Alcobaça. Tem 4 anos de serviço militar (1962/66). É jornalista, sub-director do quinzenário regionalista O Alcoa, e autor de Golpes de Mão's - Memórias da Guiné, 2009 (*)


2. Depois da Guerra... o stresse da Paz!
por José Eduardo Oliveira


A quarenta e tal anos da minha passagem pela guerra não consegui arrumar no meu arquivo morto todos os stresses que me acompanharam …depois da guerra. É a tal "guerra sem fim" de que muitos falam.

Mas - assim o penso sinceramente – acho que... nunca a trouxe para casa. Se não dormia... deixava que os outros dormissem!

Nunca passei pelo stress pós-traumático onde... não há tréguas nem acordos de paz!

Guerra dentro da minha cabeça tive algumas. Dentro de casa... tentei sempre não passar as minhas angústias aos outros.

Em momentos de crise fechei-me e aguentei. Com a ajuda de muitos anti-depressivos. E esses, eu sei que serão até ao fim da vida.E sei também dos seus efeitos secundários. É um preço a pagar... Já com muitas prestações liquidadas…

Apesar de tudo, de mal o menos!

Mas sei que muitos tiveram crises. Graves crises. É uma guerra ainda presente em muitas famílias portuguesas.

A sintomatologia é longa. Pesada. Violência física e psicológica. Para si próprios e para os familiares mais próximos.

É dos livros. A agressividade e a passividade. Duas das características mais vincadas nos ex-combatentes que sofrem de stresse pós-traumático. Alguns alternam as duas. Outros são tão absolutamente deprimidos e passivos que não chegam nunca a exaltar-se. A guerra psicológica é intensa. Diária. "O stress de guerra é contagioso e crónico", como afirmam especialistas.

A quarenta e tal anos da minha passagem pela guerra alguns dos meus stresses de paz sobrepõem-se aos de guerra…

Vou tentar explicar:

Vivi em tempo em guerra uma experiência comunitária tão intensa e tão próxima de uma sociedade perfeita que nunca mais encontrei... nada parecido.

Refiro-me, obviamente, à sociedade dita normal, em que tive de me integrar depois do regresso da guerra em 1966.

A minha experiência comunitária foi ainda muito marcado por um chefe. Também não voltei a encontrar ninguém do seu gabarito nos quarenta e tal anos seguintes…

No Norte da Guiné, em Binta e sua região, criámos uma comunidade «ancorada» numa unidade militar que (re)fez uma aldeia, onde chegaram a viver cerca de mil pessoas.

Nessa aldeia e nesse tempo fizemos quase tudo. E com as nossas mãos. Reparação de casas e armazéns, arruamentos, uma pista de aviação, uma capela, um posto de enfermagem. Abrimos poços, instalámos luz eléctrica. Fizemos escolas e creches. Fomos professores, engenheiros, arquitectos, operários especializados. Fizemos hortas. Tivemos um aviário. Demos nomes às ruas e fizemos as respectivas placas toponímicas. Reparámos o cais. Fizemos um campo de futebol, organizámos jogos e competições, fizemos um jornal. Tínhamos o nosso próprio 'totobola'. Capturámos uma manada de vacas. Fizemos uma ferra do gado e organizámos uma tourada. Tivemos uma biblioteca, vimos cinema (com ajuda da Marinha de Guerra), desfiles de Carnaval e marchas populares.


E…mais importante que tudo, ajudámos as populações. Assegurámos-lhes condições de vida que, talvez, nunca tivessem tido anteriormente. Ajudámos nas suas sementeiras e na assistência médica.

Conseguimos o respeito e a estima da população.

O Presidente da Câmara de Binta – leia-se Comandante da 675 - governava com segurança e justiça, e era receptivo a todas as ideias de quem queria fazer alguma coisa. Pode-se dizer que todos -uns mais que outros, obviamente –se empenharam no crescimento e valorização dessa comunidade. Até com obras de arte, como foi o caso da «estrela», desenhada com garrafas de cerveja na Avenida Capitão de Binta, que teve o traço do Campo de Ourique, cenógrafo na vida civil.

O Governo de então só terá falhado nas Secretarias de Estado ligados ao ramo alimentar, o que motivou algumas remodelações no que respeita a vago-mestres.

Quando saímos de Binta…tivemos direito a lágrimas de saudade… dos que ficaram.

Tínhamos sido importantes para eles e... para nós próprios .

O último ano em Binta aconteceu n’outro mundo! Quase que tínhamos esquecido o mundo para onde regressámos em Maio de 1966!

Quando regressámos à Metrópole e à vida civil chocámos com um mundo onde a nossa importância anterior rapidamente se esbateu.

Já estava tudo feito - éramos apenas um pequeno parafuso de uma máquina gigantesca que girava sem cessar – e à nossa volta já não tínhamos a malta da Companhia. Todos tinham partido para as suas vidas. Para longe.

Nos nossos novos empregos aparecem-nos novos chefes, de pequena estatura!

Onde estavam Chefes como o Capitão de Binta!

Os primeiros tempos do regresso foram terríveis. Foi (era)uma luta desigual ! Poucos nos entendiam. Poucos nos podiam ajudar!

Só a família mais próxima conseguia entender um pouco do nosso drama.

Nos primeiros meses corríamos sempre há chamada de cada camarada que se casava. Viajávamos de norte a sul do País para nos voltarmos a encontrar.

Naquelas horas que estávamos juntos voltávamos lá! E o nosso Capitão normalmente estava por perto!

Depois tínhamos que voltar ao mundo dito normal ,onde ninguém falava a nossa linguagem!

Que tempos amargos. Trabalho. Trabalho. E ... solidão.

Lembro-me de há noite, depois do trabalho, no meu quarto da Pensão, em Leiria (trabalhava então no Banco Pinto & Sotto Maior) passar minutos, horas a olhar para um mão, a mirar as unhas. O tempo corria lento e... as noites eram compridas na passagem para um novo dia. Chato, desinteressante... que os outros pensavam que era bestial! Empregado bancário, que bom! Às seis da tarde, fechavam-se os estores e ia-se trabalhar para o 1º. Andar. Às escondidas da fiscalização. À borla, pois claro. Colonialistas eram os da Casa Gouveia, da CUF, na Guiné. Pois!

Quando vinha ao fim de semana a casa, em Alcobaça, o sorriso da minha mãe (sempre a minha Mãe), animava-me um pouco. Os seus mimos, as comidas especiais, o seu amor incondicional, conseguiam encorajar-me a enfrentar mais uma semana da... outra guerra!

Foram longos meses de uma vida adiada, que me consumiu por dentro…

Sentia-me à deriva!

Tive em casa dos meus Pais alguns camaradas da Guiné: O Tenente Pedro Cruz (**), o ex-Alferes Santos, o Rato. Escrevia-me com outros. Chegou a data do 1º. Convívio. Em Lisboa. Pouca gente, por dificuldades de contacto. Mas um dia grande.

Tenho uma foto desse primeiro convívio em Maio de 1967. Já lá vão uns anitos!!!

De vez em quando sabíamos alguma coisa do nosso Capitão que…já era Major. Promovido por distinção. Para orgulho de todos nós.

E …depois o tempo passou… Casamento, nova vida profissional, família aumentada, realização pessoal e profissional, novos Chefes, com nível, casa nova, carro novo, e vitórias nas lutas…do dia a dia!

O retorno de alguma importância…na vida a que me tinha habituado em Binta …na tal vila de Binta…na pequena comunidade do Norte da Guiné onde «o céu era o limite»!

O tempo…o passar dos anos… atenuou as memórias daquele tempo excepcional.

Mais tarde, muito mais tarde…na idade do condor, maduros pela passagem dos anos e com netos por perto…percebemos que…afinal a guerra, a nossa guerra foi uma experiência única quando conseguimos construir a paz.

Se calhar fomos uns privilegiados. Nós conseguimos…com as mãos que fizemos a guerra …fazer também a paz!

Essa experiência única nas nossa vidas perdura ainda.

Não foi fácil ultrapassar o streess da paz…mas conseguimos.

Por alguma razão o emblema da Companhia referia que a 675 nunca cederá.

Não cedeu.

A acreditar em João Turé, natural de Binta, que ao tempo da passagem da 675 pela sua aldeia tinha 8 anos, e é actualmente presença habitual nos convívios da Companhia, ainda hoje os mais velhos falam do bem que a tropa do Capitão de Binta fez na sua região…

Acreditamos que sim… agora com direito às nossas lágrimas de saudade…

Em Binta….no Norte da Guiné…vivemos alguns dos melhores tempos da nossa vida. Lá longe…junto ao Cacheu… nos idos de 60!

José Eduardo Reis de Oliveira

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 14 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4686: Tabanca Grande (162): José Eduardo Oliveira, ex-Fur Mil, CCAÇ 675, Binta, 1965/66

(**) A CCAÇ 675 teve dois comandantes: Cap Inf Alípio Tomé Pinto (ferido em combate, hoje Ten Gen Ref), o Ten Inf José Pedro da Cruz.

Guiné 63/74 - P4689: Blogpoesia (54) : Abraço com aço não rima, nem rima a morte com sorte... (José Brás)

1. Continuação da publicação de poemas do José Brás (*), enviados em 29 de Março último à nossa amiga Cristina Nery (**).


Dr.ª Cristina Nery: Há muito tempo longe do ambiente da memória da guerra, ultimamente buscando as gentes que cruzaram os mesmos lugares, juntos ou separados no tempo e no modo, gostaria de estar amanhã em Coimbra mas 'o rei manda marchar mas não manda chover'.

Envio-lhe aqui alguns textos a que não me atrevo a chamar 'poesia', porém sofridos na terra da Guiné.

Cumprimentos
José Brás



Na corte
a forma do br(aço)


Abraço
com aço
não rima
nem rima
a morte
com sorte

…porém
de aço
na corte
nos quiseram
então
a forma
e o braço


GUINÉ

CÉU

Mar longo inatingível
poço negro-rubro-azul
fornalha de mil fogos queimando encéfalos
estrada-libertação de impossíveis
cenário de um sol-tudo-quase-nada
que acende labaredas nas retinas


HOMEM


Esforço quase-sangue
tatear quase-saliva
corpo tosco e baqueante
latejar de veias-não-azuis
protesto que fica apodrecendo
no cardume de revoltas não-gritadas


O homem

olhas as mata
e dizes
- Por aqui passou o homem
por aqui correu o sonho
e o sangue...


olhas a mata
e dizes
- O cibo
a palmeira
a bolanha
as pegadas do homem

olhas a mata
...e vês o homem


muitas são
as marés
que te roubam
a rota do lugar
que te recebeu
ao nasceres
…e
largos
os caminhos do mar
que te azulam
a parda memória
dos dias
sem regresso


Guardador do tempo

Mais que estar
sou
neste lugar
o aprendiz do modo
o guardador do tempo
e da mata

a palavra gravada
na pedra
da memória
... homem

[Revisão / fixação de texto / Bold: L.G.]

__________

Notas de L.G.:

(*) José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68, autor do romance Vindimas no Capim, Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura)... Alentejano, vive em Montemor-O-Novo, foi chefe de cabine na TAP, dirigente sindical antes do 25 de Abril (SNPVAC - Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil).

(**) Cristina Nery, filha e neta de camaradas nossos, investigadora no CES/UC - Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, tem-se interessado pelo estudo e divulgação da poesia da guerra colonial:

Vd. poste de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4093: Agenda Cultural (5): Poetas da guerra colonial em conferência internacional, Coimbra, CES/UC, 30/3/2009 (Cristina Néry)

(***) Vd. poste de 30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4107: Blogpoesia (35): Tinhas no olhar / sinais seguros de esperança... (José Brás)

Último poste desta série:

10 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4663: Blogpoesia (53): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (VIII Parte): Da Monarquia Constitucional à República

Guiné 63/74 - P4688: Em busca de... (78): Em busca de pessoal da CART 1689, Cabedu, 1967/68 (António J. Pereira da Costa)


1. Mensagem do nosso camarada António J. Pereira da Costa, Coronel, que foi comandante da CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74, com data de 14 de Julho de 2009:

Camaradas,

Estou a estudar a possibilidade de dar o nome de uma rua, na aldeia onde nasceu, ao Alf Art Henrique Ferreira de Almeida, falecido em combate, durante uma flagelação ao nosso aquartelamento, na noite de 13/14JUL68, e que foi condecorado com a Cruz de Guerra.

Procuro alguém que tivesse integrado esta companhia e convivido com ele!

Segundo apurei, a CART 1689 esteve em sítios muito diversos e mesmo em Cabedu esteve pouco tempo.

Um Abraço,
António José Pereira da Costa
____________
Notas de M.R.:

(*) Vd. postes anteriores, relacionados com a CART 1689:










22 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3081: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (4): Os meninos à volta da fogueira...


15 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3745: O Nosso Livro de Visitas (52): Fernando Cepa, ex/Fur Mil, CART 1689 (1967/69), natural de Esposende



27 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4592: Bibliografia de uma guerra (51): "Cambança" de autoria de Alberto Branquinho (José Martins)

30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4612: Contraponto (Alberto Branquinho) (2): Não vale a pena chorar

2 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4627: Bibliografia de uma guerra (52): Andanças e... Cambança(s), de Alberto Branquinho (Luís Graça)

(**) Vd. poste anterior, desta série em:

28 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4599: Em busca de... (77): Antigo camarada do RI 10, Aveiro, 1965 (Rui Alexandrino Ferreira)

Guiné 63/74 – P4687: Agenda Cultural (21): Djumbai Storias di Mindjeris, 19 de Julho, no Anteneu Comercial de Lisboa (Instituto Marquês Valle Flor)


C O N V I T E

Camaradas Tertulianos,

Trazemos ao vosso conhecimento mais um amável e gracioso convite que nos fois endereçado pela Casa da Guiné, em Coimbra, e que, desde já, muito agradecemos, em nome do Luís Graça e de todos os Camaradas desta grande tertúlia bloguística da Guiné.

Promovido pelo IMVF - Instituto Marquês Valle Flor, que é o principal parceiro português da AD - Acção para o Desenvolvimento, uma ONG guineense com quem o nosso blogue tem mantido desde finais de 2005 uma estreita cooperação (por ex., no apoio a projectos relacionados com a preserção e divulgação das memórias da guerra colonial / luta de libertação na Região de Tombali, e em especial em Guileje).

Este evento vai decorrer no próximo dia 19 de Julho, pelas 15h30, no Salão Nobre do Ateneu Comercial de Lisboa e é composto, por um vídeo (“Fala di Mindjeris”) e um álbum de retratos (“Storias di Mindjeris”).

Estes produtos culturais "resultam de entrevistas realizadas a mulheres guineenses entre Dezembro de 2008 e Maio de 2009, em Bissau, nas Ilhas Bijagós e na região da Grande Lisboa. Contam histórias de migração, de separação e de reencontro. São retratos de mulheres de cultura e experiência diversas com histórias de valência, de sobrevivência e de esperança, histórias de vida de mulheres guineenses"...

Esta é uma iniciativa do Projecto “Rostos Invisíveis”, uma parceria entre o IMVF e o Núcleo de Estudos para a Paz do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (NEP/CES).

O evento conta ainda com a presença do Jornalista e Poeta Guineense Tony Tcheka, cujos poemas enriquecem o Álbum de Retratos.

A entrada é livre.

O Ateneu Comercial de Lisboa, situa-se em:
Rua Portas de Sto Antão, nº 110
Lisboa
(Próximo do Coliseu dos Recreios)

Telefone do IMVF: 213 256 310
____________
Nota de M.R.:

(*) Vd. poste anterior, desta série em:

terça-feira, 14 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4686: Tabanca Grande (162): José Eduardo Oliveira, ex-Fur Mil, CCAÇ 675, Binta, 1965/66

Capa do livro, edição de autor, Golpes de Mão's - Memórias da Guiné, de José Eduardo Reis de Oliveira. Prefácio do Ten Gen Alípio Tomé Pinto, o famoso Capitão de Binta (CCAÇ 675, 1965/66).

O novo membro da nossa Tabanca Grande, o José Eduardo Oliveira, com a sua neta mais nova, a Nana... Tem ainda um turra, de 7 anos, o Pedro.

Guiné > Região do Cacheu > Binta > CCAÇ 675 (1965/66) > O ex-Fur Mil Oliveira, com "duas meninas felizes, de que já não recordo o nome"...

Guiné > Região do Cacheu > Binta > CCAÇ 675 (1965/66) > Ainda era o tempo das abatizes (grossos troncos de árvores, abatidas pela guerrilha, e que funcionavam como obstáculo, nas estradas e picadas, à progressão das colunas auto das NT)... E, como se pode ver pela foto, ainda era o tempo em que os militares portugueses eram obrigados a usar os insuportáveis capacetes de aço!...


Guiné > Região do Cacheu > Binta > CCAÇ 675 (1965/66) > Ao fundo, a Vila Tomé Pinto... Em primeiro plano, dois foliões, na festa de S. João (ou no Carnaval ?)

' (...) ' À margem da guerra', criámos junto da tabanca nova uma nova BINTA …onde fomos quase tudo… O céu era o limite… Fomos professores, alunos, arquitectos, pedreiros, carpinteiros, agricultores, agentes do totobola, jornalistas, artistas de teatro e músicos, dançarinos de batuque, toureiros, forcados, jogadores de futebol e voleibol, fadistas, pêemes, pescadores, caçadores, padeiros e …sei lá que mais!' (...) (JERO)


1. O José Eduardo Reis de Oliveira é jornalista profissional, trabalha na imprensa regional, sendo actualmente sud-director do jornal O Alcoa, quinzenário, com sede em Alcobaça e uma tiragem de 8 mil exemplares.

Recentemente, em Maio passaddo, na sua terra natal, Alcobaça, o José Eduardo lançou o seu livro de memórias da guerra colonial, Golpes de Mão’s – Memórias de Guerra, de cerca de 440 pp., com prefácio do Ten Gen Alípio Tomé Pinto, antigo comandante da CCAÇ 675 (Binta, 1964/65), ele próprio ferido em combate (foto, à esquerda).

O José Eduardo confirmou-me, por telefone, o carisma que este homem (o então Cap QP Tomé Pinto) possuía, entre os seus soldados e a própria população local... Era conhecido como o Capitão de Binta. Todos quiseram tocar-lhe quando foi evacuado, de heli, para Bissau, depois de ferido em combate.


" Mais do que pela bandeira o soldado bate-se pelo seu capitão", escreve o José Eduardo, numa apresentou em power ppoint que me enviou, subordianada ao título Memórias em Dois Tempos.


O José Eduardo (que é conhecido no meio jornalístico pelo seu acrónimo, JERO, e que foi Fur Mil naquela subunidade, entre 1965 e 1966, tendo inclusive feito a respectiva história, documento que foi classificado como confidencial) teve a gentileza de me mandar um exemplar autografado do seu primeiro livro, Golpes de Mão's, do qual irei fazer uma gostosa recensão crítica... depois de o ler nas férias.

Eis um excerto do mail que ele mandou em 21 de Junho último:

"Caro Luís Graça: (...) Como gratidão pelo que tem feito ao longo dos anos pelas nossas 'memórias' colectivas, gostaria muito de lhe oferecer um exemplar. Envio-lhe em anexo uma 'apresentação' em power point. O livro, que é edição de autor, tem 440 páginas com 190 fotografias e mapas.

"Agradeço que me informe o seu endereço para lhe enviar o livro em causa, de que também tenho suporte informático.

"Melhores cumprimentos. José Eduardo Reis de Oliveira" (...)



Capa do 1º Volume do documento classificado Diário da Companhia de Caçadores 675 - Dois Anos de Guiné, elaborado com "elementos colhidos pelo Fur Mil Oliveira".


2. Respondi-lhe nestes termos, a agradecer a oferta e as amáveis palavras do autor:

Meu caro José Eduardo:

Deixa-me que te trate por tu, que é o tratamento (romano) entre pares e camaradas... És um homem de letras, como eu, e sobretudo um ex-combatente da Guiné, como eu... Obrigado pela gentileza do teu gesto. Terei muito em fazer uma recensão crítica do teu livro no nosso blogue e divulgá-lo... Os meus parabéns pela concretização da ideia de transformares o teu diário em livro. Estou muito curioso por lê-lo... até por que não há referências, no nosso blogue, à tua CCAÇ 675...

Gostaria, antes de mais, de convidar-te para ingressares na nossa Tabanca Grande, o lugar da blogosfera onde cabem todos os camaradas da Guiné. Se aceitares, é também uma honra para todos, dos mais velhinhos aos piras... Se és leitor do nosso blogue, sabes qual o nosso espírito o nosso objectivo: partilhar e contar histórias... Somos também um blogue de afectos, como podes ver pelos relatos do nosso último encontro, aí perto de ti, em Monte Real (...)


3. O José Eduardo Oliveira, conhecido dos seus leitores como JERO, respondei-me no próprio dia:

Meu caro Luís Graça

Sou hoje um homem feliz pelas tuas palavras. Pelo tratamento 'romano' e por sentir que estou a entrar para um grande clube... que leio e releio vezes sem conta.

Tenho muitas histórias da minha '675' e sinto uma obrigação especial a partir deste momento: tenho que preencher o vazio de mais de 40 anos.

Há no meu livro de memórias algumas páginas sobre o desastre do Pelotão de Morteiros 980, em 5 de Janeiro de 1965, que vos irá surpreender. E não só. Também sobre o Padre Gama, o Coronel Fernando Cavaleiro e do grande Capitão de Binta, Alípio Tomé Pinto.

Amanhã vai seguir o livro e logo que possível vou aparecer ao vivo para um apertado abraço.

Até sempre e...até breve.

José Eduardo Reis de Oliveira.


4. Mais recentemente, a 12 do corrente, o José Eduardo disse-me que vinha a Lisboa e que poderíamo-nos encontrar, na próxima semana (o que está combinado e confirmado por telefone).

Caro Luís

~(...) Volto a ar notícias porque vou estar em Oeiras durante a próxima semana. Vou fazer uma 'comissão' de avô. Seis dias a aturar um 'turra' de quase 8 anos!

Como vou estar por perto de Lisboa pergunto se posso aparecer para uma pequena cavaqueira. Em caso afirmativo qual o melhor dia e hora? Tenho o teu telefone – 21 751 21 93 [,e não 21 751 21 96, como eu te comuniquei, por erro ]- que no entanto só utilizarei depois das tuas notícias para um eventual acerto de pormenores.

Entretanto mando um texto que, se tiver algum interesse, poderás juntar aos escritos dos velhotes da Tabanca Grande.

Um abraço e até breve, assim o espero.
José Eduardo Oliveira
Telemóvel [ já registei].


5. Comentário de L.G.:

Que mais dizer-te, depois do nosso último contacto telefónico ? Que gostei dos teus escritos (o livro ainda não o li, só o folheei...), gostei de falar de falar contigo ao telefone, gostei de saber que também tens magníficas recordações de Binta, que és um português positivo, que és um avô babado e ternurento... E que mais ? Que estás apresentado ao pessoal da Tabanca Grande, que já estás cadastrado, que és bem vindo a este blogue, de que és fã e leitor assíduo... e que vamos ficar ansiosos pelas tuas histórias... Irei rapidamente publicar o teu notável texto 'Depois da guerra... o stresse da paz'... Vem mesmo a calhar, quero eu dizer, é editorialmente muito oportuno.

Um Alfa Bravo, camarada. Luís

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Nota de L.G.:


(*) O último poste desta série Tabanca Grande é de 11 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4669: Tabanca Grande (161): António Torcato Oliveira, um sobrevivente de Gandembel/Balana, ex-1º Cabo da CCAÇ 2317 (1968/69)