1. Primeira mensagem de António Dâmaso com data de 15 de Junho de 2009:
Caro camarada Luís Graça.
Apresenta-se o periquito António Dâmaso, de Odemira, pedindo a inscrição no almoço do dia 20 em Ortigosa só para mim.
Informo que fui pára-quedista, e era na altura o comandante do grupo de combate a que pertenciam os três páras que ficaram sepultados em Guidage e que vieram no ano passado.
Oportunamente darei a minha versão sobre esses acontecimentos.
Junto envio as duas fotos exigidas.
Um abraço do camarada
Dâmaso
2. Em 30 de Junho foi enviada mensagem ao nosso novo camarada:
Caro António Dâmaso:
Enquanto não te apresentas formalmente à Tertúlia, diz-me por favor o teu antigo posto nos Páras, Companhia e datas de chegada e saída da Guiné.
Se quiseres manda já um pequeno resumo da tua actividade na Guiné e apresento-te definitivamente.
Depois podes ir mandando coisas que aches importantes para o Blogue. Fotografias legendadas, textos, etc.
Convivi um pouco com os Pára-quedistas durante a sua permanência em Mansabá, por volta de 1970/71 e tenho de vós as melhores impressões.
Fico a aguardar as tuas notícias.
Até lá, recebe um abraço
Vinhal
3. Mensagem de António Dâmaso, com data de 20 de Julho de 2009:
Caro camarada Luís Graça e Co-Editores:
Aqui vai o relato da minha segunda comissão na Guiné.
Bissalanca, 1969
Em 20 de Julho de 1969 estava em Bafatá
Hoje o meu pensamento vai para o soldado desconhecido, digo eu, refiro-me àquele militar, com ou sem patente, que estava lá, contribuía com o seu esforço para o conjunto, como formiga obreira, mas que, por não ter cunhas, não ser engraçado nem engraxador, via as benesses passar-lhe ao lado, não havia prémios do Governador da Província, nem promoções a cabo, nem férias, em resumo nada de nada, no entanto lá ia procurando manter-se vivo, com a agravante de passar uma comissão a viver em buracos sem as mínimas condições.
As minhas palavras valem o que valem, sabemos que dois observadores colocados no mesmo ponto, cada um tem a sua visão dos acontecimentos e depois na narração, cada qual compõe o ramalhete à sua maneira.
Por outro lado, a sensibilidade para suportar a dor e outras situações traumáticas, varia de indivíduo para indivíduo, daí que apareçam alguns armados em valentes, que dizem que não foram stressados, apanhados pelo clima e até marados, mas pior ainda, são os que foram tudo isto e não são capazes de o admitir.
Vou falar da minha segunda comissão na Guiné e dos motivos que me levaram a ir para lá segunda vez:
Quando regressei da primeira comissão, depois das férias, apanhei a escala de serviço, com cinco fins-de-semana seguidos com começo à sexta ao render da parada e fim na segunda à mesma hora.
Depois foi uma instrução de Combate, seguidamente uma recruta, com três instruções nocturnas por semana que me impediam de ir a casa embora só morasse a cerca de 10 Km, depois foi a informação de que estava à bica para ser nomeado para Moçambique, isto levou a que me oferecesse novamente para a Guiné, por já conhecer e estar convencido de serem só 18 meses.
Cheguei à Guiné, ao BCP 12, em 20 de Março de 19699, ia a contar ir para uma companhia operacional, mas devido à minha especialidade, mecânico desempanador auto, fui aumentado ao efectivo da CMI, (Companhia de Material e Infra-estruturas) passando a desempenhar as funções de chefe de movimento no pelotão de transportes auto.
Como não ia para o mato, mandei ir a família, estava tudo a correr bem, até que um dia escalei umas viaturas para irem transportar uma companhia que regressava do mato, os militares saíram da viatura e de imediato colocaram-se uns à frente e outros atrás e procederam à acção de desarmar, o material de guerra, o condutor buzinou para que o deixassem passar.
Veio de lá o tenente, comandante do pelotão, sacou o condutor do lugar e deu-lhe uma valente sova a que eu assisti.
O militar que estava debaixo das minhas ordens directas, chegou junto de mim a chorar de raiva, como não gosto de abusos desta natureza, disse-lhe que lhe assistia o direito de queixa, mas que tinha de dar conhecimento ao superior.
Redigi-lhe a queixa e lá foi ele dar conhecimento ao tenente que se ia queixar, este deu a volta ao rapaz, que não apresentou queixa nenhuma e eu, passados três ou quatro dias sem que ninguém me tivesse dito nada, fui transferido para a CCP 122 e com a G3 nas unhas e mochila às costas colocado no pelotão do citado senhor oficial isto a 29 de Maio de 1969.
Em 30 marchei para Mansabá onde estava a Companhia, sem que eu o soubesse, começou aqui uma perseguição que me deu cabo da vida militar para sempre com graves reflexos para a vida privada e familiar, só vim a saber em 1975, pelo facto do mesmo se ter gabado do feito, com alguns ouvintes que depois me deram conhecimento, até aí foi-me acontecendo de tudo, sem eu saber de onde vinha o mal.
A missão da Companhia na altura era fazer segurança à estrada que estava a ser construída entre Mansabá e Farim, dar protecção às colunas auto efectuadas entre Mansabá-Mansoa e vice-versa, para descansar íamos fazendo uns Heli-assaltos.
Foi assim que tomei parte na Operação Orféu, juntamente com a 15ª Companhia de Comandos, na zona de Bula no dia 13 de Junho de 1969, onde se fizeram alguns mortos, prisioneiros e se apanhou muito material de guerra, nesta operação fui colocado na segunda vaga, no outro extremo da mata, tendo como missão a limpeza e destruição.
No dia 20 de Junho de 1969 tomei parte na operação Nestor também na zona de Bula, Choquemone, mais uma vez na 2.ª vaga, destruição e limpeza, mais prisioneiros, mais material, vi coisas que me chocaram entre elas, o cavalheiro Tenente estar a dar um tratamento a um prisioneiro, tendo este as mãos atadas atrás das costas, pelos vistos, gostava de malhar nos mais fracos.
Rumo à CCP 123, com escala em Teixeira Pinto
No início de Julho fui com a CCP 122 para Teixeira Pinto, via auto e os cicerones lá iam informando o periquito que era eu, dos locais onde tinham havido emboscadas às nossas tropas, confesso que aquela mata metia respeito.
Depois de três dias em Teixeira Pinto, a caçar umas perdizes junto à pista, pombos verdes nas mangueiras, apanhar algum marisco, estava a ambientar-me, até que, no dia de Julho de 1969, enfiaram-me numa DO 27 rumo a Bissalanca.
Chegado ao BCP 12, estava lá uma CCP(-) que passaram a chamar de CCP 123. Esta Companhia tinha sido formada em Tancos com destino a Angola, mas à última hora, foi parar à Guiné como reforço, alguns dos graduados intervenientes não gostam do nome CCP 123 e preferem chamar-lhe grupo expedicionário, mas nos relatórios de operações consta CCP 123.
Recebi ordens para integrar a mesma, o Comandante já o conhecia da primeira comissão, tinha lá estado como Alferes, alguns dos Sargentos também lá tinham estado, até aí tudo bem.
De armas e bagagens, embarcámos no Cais de Bissau numa LDM, ou LDG, não me lembro qual delas, lá navegámos Geba acima até Bambadinca, passámos por um estreito em que o rio era como que feito por medida para a Lancha passar, se não estou em erro, chegados a Bambadinca, viaturas até Bafatá e ficámos aboletados no Esquadrão de Cavalaria FOX.
No dia 11 de Julho de 1969 embarcámos nas viaturas com destino a Galomaro e aí tomámos os helis para a operação Sátiro que durou dois dias na zona de Padada-Jábia, além da CCP 123, participou a CCAÇ 5. No dia 12, fomos recuperados de Heli para um Acampamento e deste para Nova Lamego, de onde seguimos via auto para Bafatá.
Quando estávamos a chegar vimos os Helis a aterrar pela ordem de aproximação e o Heli-canhão a dar mais uma volta tendo tocado com a ponta da Hélice numa das antenas rádio, enrolou vindo a despenhar-se no solo. Como se incendiou, as munições do canhão começaram a rebentar em todas as direcções sem que nada se pudesse fazer para os tirar daquele inferno de chamas. Aquela cena lancinante, causou-nos a todos grande consternação e pesar, ali ficaram mais duas vidas a do piloto e do apontador do canhão.
Bafatá, 1969
Nos dias 17 a 19JUL69, outra vez na zona de Padada concretizámos a operação Marduque , desta vez só com a CCP 123.
De 24 a 30 de Julho de 1969, operação Atena, zona de Duas Fontes e Padada, com a participação de 3 GComb da CCP 123, 1 GComb da CCP 121 e a CCAÇ 2446.
Depois apareceu a minha grande dor de cabeça, que era a Guerra de quadrícula, sempre tive o entendimento de que as tropas especiais, eram para intervenções rápidas, ou não, também para servirem de reserva, mas pelos vistos, a situação não estava para brincadeiras.
Comecei a operação Nereu 1.ª fase que foi de 31 de Julho a 31 de Agosto de 1969 nas zonas de Madina do Boé, Dulombi, Bilonco e Madina Xaquili. Actuaram connosco, além da CCP 123, a CCAÇ 2405 e CCAÇ 2446.
Lembro-me que numa das operações de dois dias, tivemos de atravessar o mesmo rio, quatro vezes seguidas, para não andarmos mais quilómetros a contorná-lo. Chegámos a Galomaro já depois do meio-dia, mas tínhamos à nossa espera uns franguinhos de churrasco. A fome era tanta, que nunca mais comi frangos que me soubessem tão bem.
No decorrer deste período, ou não, julgo que a 24 de Julho de 1969, não posso precisar a data, um dia à tarde chegámos a Dulombi, na altura era uma tabanca com algumas palhotas com abrigos, valas e arame farpado à volta, com uma espécie de portão de entrada na estrada de Galomaro a poente, e a sul outro portão que dava para a mata, íamos passar lá a noite, e de futuro serviria de acampamento base.
Sempre tive um acordar estremunhado quando estava no primeiro sono, mas naquela noite, quando estava no primeiro sono, fui acordado com um festival de fogo-de–artifício, rebentamentos por todo o lado, balas tracejantes cruzavam o céu, o meu acordar foi igual a outros, mas notei que o meu maxilar inferior, teimosamente batia ritmadamente no maxilar superior, durou alguns segundos até me aperceber do que se estava passar, rapidamente cerrei o os dentes e analisei a situação e vi que o ataque não era do nosso lado, mandei cessar o fogo que estava a ser efectuado para o lado do portão sul.
A minha secção estava na parte sul, onde existia o tal portão. As balas tracejantes passavam por cima de nós, apesar de muitos rebentamentos à nossa volta, ninguém foi atingido. Liguei o rádio, chamei, como não obtive resposta, desliguei. Quando estava a preparar-me para dormir novamente, apareceu-me um camarada a saber se estava tudo bem, escandalizado por eu não ter mantido o rádio ligado. Nessa altura fiquei a saber que o ataque foi efectuado do arame farpado, à esquerda da entrada e que havia a lamentar uma baixa da CCAÇ 2446, que foi recuperada no dia seguinte por elementos do ESQ FOX. Começara aqui o meu baptismo de fogo em ataques nocturnos.
Também estivemos em Bivaque, em tendas de campanha junto do aquartelamento de Galomaro, depois iniciou-se a operação Nereu 2.ª fase de 1 de Setembro a 11 de Outubro de 1969, novamente em conjunto com as duas companhias já citadas e nas zonas de Duas Fontes, Cansissé, Contabane e Padada.
Durante a minha permanência no Gabu, fui duas vezes a Bissau à boleia, uma vez de Heli e outra de Cessna (?) dos TAGCV, para tentar resolver problemas de saúde familiar, regressei ambas as vezes em DC 3 Dakota, com o nosso saudoso camarada Fur Vitorino, meu vizinho na altura. Depois da guerra veio a ser vítima de acidente aéreo na Ilha Terceira com um aviocar.
Problemas familiares e transferência para a CCP 121
A minha mulher contraiu malária e teve de ser internada no Hospital Civil em Bissau. Depois de curada ficou com os nervos em franja, enfrascava-se em comprimidos e tinham de ser as vizinhas a tomar conta da minha filha de 18 meses, situação que me levou a requerer a passagem ao SG da FAP, tendo a mesma sido indeferida posteriormente.
Findos os três meses, os oficiais e sargentos seguiram rumo a Angola e as praças foram integradas nas Companhias existentes no BCP 12, eu fui transferido para a CMI.
Coincidência ou não, baixei a guarda e como resultado, em 14 de Abril fui punido com 5 dias de prisão e em vez de iniciar o cumprimento da pena, fui de imediato transferido para a CCP 121 de que o citado oficial era comandante.
No dia 16 fui a caminho do Guileje que já na altura estava a ferro e fogo, não havia nada para comer a não ser feijão com chouriço, eu andava de diarreia, nem os ataques com morteiros 120 me tiravam das latrinas, quando saía para o mato levava o tempo de calças na mão.
A fome era de tal ordem que os cães na tabanca começaram a desaparecer. Uma hiena que caiu numa armadilha foi comida e até os abutres, diziam os rapazes, que de vinho e alhos eram um pitéu. Quem lá esteve nesta data sabe que isto não é invenção.
Neste período tomei parte nas seguintes operações:
Operação Lobo Verde de 20 a 30 de Abril de 1970 na zona de Guileje e Gadamael Porto. Também tomaram parte a CCAÇ 2617 e CART (?
Operação Lacrau Verde, 29 de Abril de 1970, no Corredor do Guileje, juntamente com uma equipa de sapadores do BART 2866. Nesta operação fomos ao local onde o IN tinha ido com uma viatura carregada de granadas que despejou sobre o aquartelamento, seguidamente fomos ao Corredor colocar minas anti-carro.
Operação Leão Verde , 30 de Abril de 1970, no Cantanhês, fomos até Gadamael Porto de viaturas e depois de Heli-assalto, não houve contacto, destruímos acampamentos.
Muito tempo depois, vim a saber que aquela minha ida repentina para o Guileje tinha sido um teste, porque a vontade de alguém era correr comigo para o Exército, destino que muitos camaradas tiveram.
Recordo que no decorrer da operação de 11 e 12 de Julho, no local do heli-assalto, estava um burro que os guerrilheiros deixaram ficar, foi o único burro de 4 patas que vi em toda a Guiné.
No dia 12, fomos heli-trasportados para um acampamento do Exército, onde circulava o boato que um alferes tinha sido evacuado por ter sofrido de doença súbita de Priapismo. Trata-se nada mais, nada menos de uma erecção dolorosa e prolongada por mais de seis horas.
Depois disto gostava que alguém desse notícias do Senhor Viagra.
Não inventei datas, as mesmas constam dos relatórios de operações, embora a CCP 123 tivesse actuado isolada as outras forças estavam no terreno.
Saliento que fui muito bem recebido pelos camaradas do Exército, que estavam em Galomaro e do ESQ FOX de Bafatá.
Saudações para todos os camaradas
Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > Da direita para a esquerda: O António Graça de Abreu (CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), mais dois camaradas da FAP: o António Martins de Matos, ex-Ten Pilav (BA 12, Bissalanca, 1972/74), e o António Dâmaso, ex-páraquedista (BCAP 12, BA 12, Bissalanca, 1972/74).
António Dâmaso do prestigiado Batalhão de Caçadores Pára-quedistas, BCP 12 participou no IV Encontro da Tertúlia.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 24 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4735: Tabanca Grande (164): Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil da CART 2519, Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, 1969/71
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 26 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4741: Convívios (155): Pessoal dos BCAÇ 237/599, PEL MORT 912 e PEL AM DAIMLER 807 - Como/Cufar/Tite 1964/66 - (Santos Oliveira)
1. Mensagem do nosso camarada Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, esteve no Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66:
CONVÍVIO
BCAÇ 237/599, PEL MORT 912 e PEL AM DAIMLER 807
ORDEM DE OPERAÇÕES - 05SET09
Por ordem do Comando de Sector de TITE, são convocados todos os Veteranos, que pertenceram a estes Batalhões e Pelotões Independentes, para um GOLPE DE MÃO a levar a cabo no Restaurante FLOR DO PARAÍSO (Estrada Nacional 109 5087-Tel.227 531), em Arcozelo - V.N. de Gaia.
A hora de início da Acção, será conforme a seguinte ORDEM DE OPERAÇÕES.
Concentração das Forças junto á Santa Maria Adelaide, Arcozelo, Vila Nova de Gaia.
NOME DE CÓDIGO:
CONVÍVIO/2009
EQUIPAMENTO:
- Cantil (atestado de boa disposição);
- Armas (braços para apertar os velhos Camaradas);
- Mão firme (para segurar o Talher);
- Histórias para serem contadas ou recontadas.
INÍCIO DA ACÇÃO:
- 11h00 – Concentração na Santa Maria Adelaide;
- 12h30 – Saída com destino ao OBJECTIVO;
- 13h00 – Início do GOLPE DE MÃO;
- hh/mm – Final da ACÇÃO até ao ano de 2010.
CUSTO DA OPERAÇÃO:
- 25€/Militar ou Acompanhante Adulto e 15 € / Criança.
INSCRIÇÕES:
- até ao dia 25 de Agosto de 2009.
CONTACTOS:
- Manuel Paiva (Pedreiras) - tel.: 220808693 / tlm.: 938526228
- José Oliveira (Sinqueiral) - Tel.227823806 / Tlm.: 918180724
- Santos Oliveira – Tel.: 227112117, ou, santosoliveira912@gmail.com
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Nota de M.R.:
(*) Vd. último poste da série em:
11 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4668: Convívios (149): Encontro / Almoço / Convívio da CART 6250 (Mampatá 1972/74) (António Carvalho)
Guiné 63/74 - P4740: Estórias do Amílcar Ventura (1): O meu eterno Amigo Mulai Baldé...
1. Mensagem de Amílcar Ventura, ex-Fur Mil Mec da 1ª CCAV/BCAV 8323, Bajocunda, 1973/74, com data de 26 de Julho de 2009:
O meu eterno Amigo Mulai Baldé
Camaradas,
Hoje venho-vos falar do meu Grande Amigo Mulai Baldé.
Tive muitos amigos na Guiné, mas um foi diferente de todos os outros, muito especial e jamais, em dias da minha vida, esquecerei.
Quando cheguei a Bajocunda constatei que na nossa messe de Sargentos, haviam dois putos que nos serviam há mesa.
Ainda andavam na escola mas à hora dos almoços e jantares lá estavam eles a servir-nos.
Foram os meus primeiros amiguinhos, pois no fim de cada mês eu dava-lhes um “xis” pela sua ajuda “faxineira”, só que esse meu “xis” era o dobro do dos outros e acabei por cair nas boas graças dos putos.
O Mulai é o que está à direita.
Enquanto os “malandrecos” dos meus camaradas da companhia só queriam Bajudas, para lavadeiras, eu travei muita amizade com uma já mais “velhota”, que era mãe do meu Amigo Mulai, não olhando ao “aspecto” da “figura” humana pois eu sempre tive, como tenho agora, um grande respeito por toda a gente que me rodeia, especialmente o ser: “Mulher”.
Como eu era mecânico, essa minha lavadeira estava-me sempre a pedir petróleo para as suas lamparinas, que eram a única forma de iluminação naquelas bandas.A minha missão decorria normalmente, até que um dia acabei por descobrir que o comerciante local, que vendia o petróleo aos civis, chamado Silva, explorava a população na sua venda.
Não vou perder o meu, e o vosso rico tempo, a falar deste “comerciante” natural de Braga, pois teria muita coisa a dizer, até porque segundo sei ele já faleceu.Dizia eu, que dei então comigo a dar petróleo a toda a tabanca ao ponto de, em alguns finais de meses, me ter visto aflito para fazer os mapas das existências em armazém.
Sempre me senti bem com esta minha faceta que, por um lado foi muito bom para mim, pois caí nas boas graças da população, não me faltando nada sem eu pedir, dando-me ovos, galinhas, carne de gazela, de cabrito, etc. Mas o mais valioso, para mim, foi o carinho com que fui tratado por toda a população, e jamais esquecerei os seus generosos e amáveis convites, para ir comer hás suas tabancas.
Conforme vim a constatar, eu que era o único branco que frequentava os seus bailes e podia andar, há noite, livre e sossegadamente pela tabanca sem ter qualquer problema, enquanto alguns dos meus camaradas (por actos que desconheço) chegaram a ser apedrejados.
Num dos meus dias de rotina descobri, surpreendentemente, que um Grande Amigo meu da tabanca, era guerrilheiro do PAIGC. Como uma das minhas assumidas qualidades é: “Amigo não traí Amigo”, guardei penosamente este segredo apenas para mim.
Mal eu sonhava, que se ainda hoje estou cá neste mundo é graças a ele, porque antes de um ataque que viemos a sofrer ao quartel, eu fui informado, por intermédio da minha lavadeira e do Mulai, que ele ia acontecer, com muito perigo para nós, pois seria executado muito perto da cerca de arame.
“Amigo não traí Amigo”, pensei eu, muito menos os meus camaradas-de-armas, pelo que meti-me numa Berliet e dei comigo a andar à volta dos nossos abrigos, a avisar o pessoal de que íamos ser atacados. A certo momento, quando complementava essa volta, um guerrilheiro do PAIGC, apontou-me um lança-granadas RPG7 e estava prestes a atingir-me com uma das suas mortíferas granadas. A minha sorte foi esse meu Amigo, que viu quem estava dentro da Berliet, e não permitiu que o seu camarada lançasse a terrível granada, cujo disparo esteve eminente, pois vi bem a orientação do tubo e o seu dedo sobre o gatilho da sua arma.
O guerrilheiro do PAIGC (carregador de granadas RPG7), ao qual eu devo a vida “in extremis”, no ataque ao quartel, na situação que acabei de descrever.
Meus amigos, aqui é que vi, senti e jamais ESQUECEREI o que é o verdadeiro valor da palavra AMIZADE.
Voltando ao meu Amigo Mulai quando me vim embora chorei, por não o puder trazer comigo. Senti que tinha ali um daqueles Amigos que, rara ou indefinidamente, se encontram no decurso da nossa vida. Ainda não era casado, não sabia como seria a minha situação cá, mas tinha uma certeza é que ele teria todo o apoio da minha namorada e família, senão fosse por mais motivo nenhum, sê-lo-ia por me ter avisado atempadamente naquele inesquecível dia.
Quando abalei deixei-lhe a minha direcção para, se no futuro que se seguiu houvesse uma oportunidade, eu trá-lo-ia para Portugal.
Durante alguns anos trocamos correspondência até que as minhas cartas deixaram de ter resposta.Nem é preciso dizer-vos o quanto fiquei triste e abalado, ainda por cima sem saber o que poderia ter acontecido ao meu bom Amigo Mulai.
Mais tarde, estava eu na minha loja de fotografia, o telefone tocou e lá fui atender. Que grande e maravilhosa surpresa eu tive, pois ouvi a voz inconfundível do meu Grande Amigo Mulai, que me estava a telefonar do Patação - uma pequena localidade ao pé de Faro, a 45Kms da minha casa. A chorar de alegria disse-lhe para ele não sair de onde estava, pois ia ter com ele de imediato.
Foram os trinta e cinco minutos mais angustiantes da minha vida, enquanto não cheguei ao pé dele. Quando eu, a minha mulher e ele nos juntamos parecíamos três crianças a chorar abraçados. O tamanho da minha alegria só foi comparável ao do nascimento de mais um filho.
Daí para a frente, até à um ano atrás, nunca mais nos perdemos um do outro e, com a colaboração do meu contabilista, o Mulai ficou logo legalizado, tendo-o também ajudado a formar uma pequena empresa de construção civil em Lisboa, onde tem vários trabalhadores. Depois ele acabou por mandar vir a sua família para o nosso país.
Agora estou novamente triste e amargurado, pois vai para um ano que não sei nada dele. Já contactei a Embaixada da Guiné, em Portugal, e ainda não tive nenhuma resposta. Só espero que não lhe tenha acontecido nada de mal, visto que ele me dizia muitas vezes que queria voltar à Guiné-Bissau, para ajudar o seu país a progredir e desenvolver-se.
Estou deveras preocupado pois quando perdi o seu contacto, da primeira vez, soube que ele estudava em Bafatá, onde ele e os demais estudantes, de então, participaram numa manifestação por melhores condições de ensino e foram todos presos a mando do Nino Vieira.
Agora com o estado de instabilidade política que a Guiné atravessou, e as mortes que se sucederam nos últimos tempos, estou um bocado aflito… sem notícias dele...
Bom, a conversa já vai longa, pelo que vou-me ficar por aqui.
Deixo um abraço a todos os camaradas da Tabanca Grande e Amigos do nosso blogue,
Amílcar Ventura
Fur Mil Mec
Fotos: © Amílcar Ventura (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Este poste é o primeiro dcca série "Estórias do Amílcar Ventura".
Guiné 63/74 - P4739: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (11): Interrogatórios
1. Mensagem de Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70, com data de 22 de Julho de 2009:
Caro Carlos:
Mais uma vez estou sem computador, daí o atraso. Em anexo aí vai a XI estória
para a série "A Guerra Vista de Bafatá".
Um abraço.
Fernando Gouveia
A GUERRA VISTA DE BAFATÁ
Bafatá. 1969. Grande parte da tabanca da Rocha com a mesquita.
11 – Interrogatórios.
Já anteriormente referi que a minha principal função, como Oficial de Informações do Comando de Agrupamento, era tratar as notícias que iam chegando, quer respeitante ao IN, quer às NT. No entanto, também tinha sido instruído para fazer interrogatórios.
Na minha comissão de dois anos só tive que fazer dois interrogatórios, pois a grande maioria era feita nos Comandos de Batalhão ou de Companhia onde havia (caso dos Batalhões) um Capitão com essas funções específicas.
Abrindo aqui um parênteses referirei que, em combate e debaixo de fogo, de tudo seria capaz para salvar os meus camaradas e a minha própria pele, no entanto a frio e à sombra de um quartel seria de todo incapaz de torturar, física ou psicologicamente, qualquer elemento IN, como aliás aconteceu em vários casos que tive conhecimento. Recordo até que um dia, em Bambadinca, quando se estava a proceder a um interrogatório com alguma violência à mistura, vem ter comigo um alferes vangloriando-se de lá ter ido molhar a sopa. Episódio triste, tanto mais que esse alferes nada tinha a ver com o interrogatório.
Dos dois interrogatórios que fiz, um não deu em nada, dando até a impressão que o homem nunca pertencera ao IN e o que queria era ficar com as NT, onde tinha comida e dormida. Recordo que me pediu para lhe arranjar tabaco e eu próprio lhe comprei no mercado, às minhas custas, umas folhas de tabaco.
O outro foi a um elemento da população afecta ao IN, capturado numa operação. Idoso e com lepra em estado não conseguiu fugir. O interrogatório foi feito com o sujeito deitado numa maca e com a ajuda de um intérprete.
Com o mapa da zona à minha frente e com as sucessivas respostas que o homem foi dando, cheguei à localização, para mim exacta, do tal refúgio IN.
A informação que assim obtive destinava-se a concretizar uma operação, logo ao amanhecer do dia seguinte, primeiro um bombardeamento pelos Fiats ao local por mim assinalado e, em seguida, um golpe de mão pelos Páras, que nessa altura estavam em Bafatá.
Como na manhã do dia D o tecto (núvens) estava baixo, os Fiats não puderam actuar tendo-se feito a operação só com os Páras, helitransportados.
Mais uma vez, na guerra de retaguarda, não fui directamente responsável por mortes na Guiné pois se os Fiats tivessem actuado, tinham acertado em cheio: A cruz que tinha desenhado no mapa veio a verificar-se ser o local exacto do acampamento IN.
O resultado da operação resumiu -se à recolha de inúmero material, mais civil que militar: panos, amuletos, medicamentos (muitos pacotinhos de aspirina), apetrechos de limpeza de armas e muitos livros escolares. O pessoal IN conseguiu fugir todo.
O Ten Pára-quedista Gomes (meu antigo colega do liceu) que comandou a operação, acabou por me dar muito desse material, algum do qual ainda hoje conservo, como uma cartucheira que utilizo na caça.
Capa de um dos livros apreendidos
Uma página do livro anteriormente referido
Página de um outro livro com toda a certeza de origem nórdica (repare-se nas figuras). Tal como os nossos livros pretendiam ensinar aos guineenses as serras e os rios da metrópole, também estes referiam vivências, como patinagem, possivelmente no gelo, etc.
Última página de outro livro, já muito usado.
Duas páginas de outro livro, este para aprendizagem de algo relacionado com o árabe ou o Alcorão
Amuletos respectivamente para a cinta e para o pescoço (um feito com um chifre de cabra), também capturados. No seu interior eram introduzidos pequenos papeis com as preces pretendidas escritas em árabe.
Fotos e legendas: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados.
Na próxima estória irei mostrar por dentro e por fora o Mercado de Bafatá, que na altura era o ex-libris da cidade.
Até para a semana camaradas.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 19 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4707: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (10): Mina bailarina
Caro Carlos:
Mais uma vez estou sem computador, daí o atraso. Em anexo aí vai a XI estória
para a série "A Guerra Vista de Bafatá".
Um abraço.
Fernando Gouveia
A GUERRA VISTA DE BAFATÁ
Bafatá. 1969. Grande parte da tabanca da Rocha com a mesquita.
11 – Interrogatórios.
Já anteriormente referi que a minha principal função, como Oficial de Informações do Comando de Agrupamento, era tratar as notícias que iam chegando, quer respeitante ao IN, quer às NT. No entanto, também tinha sido instruído para fazer interrogatórios.
Na minha comissão de dois anos só tive que fazer dois interrogatórios, pois a grande maioria era feita nos Comandos de Batalhão ou de Companhia onde havia (caso dos Batalhões) um Capitão com essas funções específicas.
Abrindo aqui um parênteses referirei que, em combate e debaixo de fogo, de tudo seria capaz para salvar os meus camaradas e a minha própria pele, no entanto a frio e à sombra de um quartel seria de todo incapaz de torturar, física ou psicologicamente, qualquer elemento IN, como aliás aconteceu em vários casos que tive conhecimento. Recordo até que um dia, em Bambadinca, quando se estava a proceder a um interrogatório com alguma violência à mistura, vem ter comigo um alferes vangloriando-se de lá ter ido molhar a sopa. Episódio triste, tanto mais que esse alferes nada tinha a ver com o interrogatório.
Dos dois interrogatórios que fiz, um não deu em nada, dando até a impressão que o homem nunca pertencera ao IN e o que queria era ficar com as NT, onde tinha comida e dormida. Recordo que me pediu para lhe arranjar tabaco e eu próprio lhe comprei no mercado, às minhas custas, umas folhas de tabaco.
O outro foi a um elemento da população afecta ao IN, capturado numa operação. Idoso e com lepra em estado não conseguiu fugir. O interrogatório foi feito com o sujeito deitado numa maca e com a ajuda de um intérprete.
Com o mapa da zona à minha frente e com as sucessivas respostas que o homem foi dando, cheguei à localização, para mim exacta, do tal refúgio IN.
A informação que assim obtive destinava-se a concretizar uma operação, logo ao amanhecer do dia seguinte, primeiro um bombardeamento pelos Fiats ao local por mim assinalado e, em seguida, um golpe de mão pelos Páras, que nessa altura estavam em Bafatá.
Como na manhã do dia D o tecto (núvens) estava baixo, os Fiats não puderam actuar tendo-se feito a operação só com os Páras, helitransportados.
Mais uma vez, na guerra de retaguarda, não fui directamente responsável por mortes na Guiné pois se os Fiats tivessem actuado, tinham acertado em cheio: A cruz que tinha desenhado no mapa veio a verificar-se ser o local exacto do acampamento IN.
O resultado da operação resumiu -se à recolha de inúmero material, mais civil que militar: panos, amuletos, medicamentos (muitos pacotinhos de aspirina), apetrechos de limpeza de armas e muitos livros escolares. O pessoal IN conseguiu fugir todo.
O Ten Pára-quedista Gomes (meu antigo colega do liceu) que comandou a operação, acabou por me dar muito desse material, algum do qual ainda hoje conservo, como uma cartucheira que utilizo na caça.
Capa de um dos livros apreendidos
Uma página do livro anteriormente referido
Página de um outro livro com toda a certeza de origem nórdica (repare-se nas figuras). Tal como os nossos livros pretendiam ensinar aos guineenses as serras e os rios da metrópole, também estes referiam vivências, como patinagem, possivelmente no gelo, etc.
Última página de outro livro, já muito usado.
Duas páginas de outro livro, este para aprendizagem de algo relacionado com o árabe ou o Alcorão
Amuletos respectivamente para a cinta e para o pescoço (um feito com um chifre de cabra), também capturados. No seu interior eram introduzidos pequenos papeis com as preces pretendidas escritas em árabe.
Fotos e legendas: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados.
Na próxima estória irei mostrar por dentro e por fora o Mercado de Bafatá, que na altura era o ex-libris da cidade.
Até para a semana camaradas.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 19 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4707: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (10): Mina bailarina
sábado, 25 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4738: Estórias do Mário Pinto (1): O soldado Machado, o "Cigano": 'Ó Barrelas, não me pagas uma bejeca?!'...
1. Esta é a primeira mensagem enviada pelo nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71 -, que nos prometeu brindar ainda com mais algumas das suas estórias também elas curiosas, hilariantes e interessantes:
Camaradas e amigos,
Tal como tinha vindo a prometer ao Magalhães Ribeiro, lá vai uma das estórias giras passadas na CART 2519.
Todas as estórias, no fundo, avivam-nos a memória e recordam-nos, às vezes com muitas saudades, os bons momentos passados em comum.
O SOLDADO MACHADO
O “Cigano”, como era conhecido o soldado Machado (creio que era mesmo da etnia cigana), foi protagonista de um episódio hilariante, mas muito real, que um dia “atropelou” o que não podia ser “abandalhada” - a rígida Disciplina Militar -, que na tropa se exige (creio que ainda hoje esta se mantém), em relação aos superiores hierárquicos.
Certo dia, o nosso capitão integrou-se num grupo de combate que ia patrulhar a nossa ZA - Zona de Acção, onde ia o nosso camarada Machado. Depois de percorrida já uma vasta área do patrulhamento habitual, e perto dum local por todos considerado de elevado risco, o Machado sai-se com esta:
- Ó meu Capitão, à nossa frente estão pegadas do IN. - Isto em pleno mato.
O Capitão ripostou:
- Ó meu Coirão, não sabes o meu nome, eu sou o Barrelas!
O patrulhamento terminou ao findar do dia e procedeu-se ao respectivo regresso ao aquartelamento de Mampatá.
Na cantina, que era comum a todos, praças, sargentos e oficiais, depois do banho, o camarada Machado tem este desplante perante a admiração de todos os presentes:
- Ó Barrelas, não me pagas uma bejeca?!
O capitão, com o seu ar autoritário - de Comandante -, virou-se para o Machado e disse:
- Ó meu coirão, já não me conheces, eu sou o teu capitão Barrelas, por isso deves tratar-me como tal. Quando te dirigires a mim, tratas-me por meu capitão!
O mesmo, atónito com a situação, retorquiu:
Aqui o capitão riu-se da situação e acabou mesmo por pagar a “bejeca” ao Machado.
Um Abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art
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Nota de M.R.:
Este poste é o primeiro desta série "Estórias do Mário Pinto".
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4737: Relação das Unidades que estiveram no Quartel de Mansoa (Jorge Canhão)
1. Mensagem do ex-Fur Mil At Inf Jorge Canhão, da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, Mansoa 1972/74, datada de 21de Julho de 2009:
Camaradas,
Dedicado a todos aqueles que passaram pelo quartel de Mansoa, anexo a lista de todas as unidades que ali marcram presença.
Os dados recolhidos foram retirados da colecção "Os anos da guerra colonial" de Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso.
Recordo que a mencionada colecção, foi distribuida no primeiro semestre do corrente ano, juntamente com o jornal Correio da Manhã.
Abraços,
Jorge Canhão
Fur Mil da 3ª Cia do BCAÇ 4612/72
Guiné 63/74 - P4736: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (14): Na minha opinião pessoal, o Major Coutinho Lima foi um Herói! (Amílcar Ventura)
1. Mensagem de Amílcar Ventura, ex-Fur Mil Mec da 1ª CCAV/BCAV 8323, Bajocunda, 1973/74, com data de 26 de Julho de 2009:
Camaradas,
Começo esta minha mensagem por dizer, que nunca quis saber muito das novas tecnologias, mesmo tendo em casa um filho formado em informática, mas bastou ele ensinar-me como se liga e desliga o PC, como se procede para ter acesso há internet e foi o suficiente, para eu me iniciar nestas lides.
Tenho um irmão mais velho que também esteve na Guiné (Gampará) e se não tivesse acontecido um acidente, ter-nos-íamos lá juntado os dois. Foi este meu irmão que me falou no “blogueforanadaevaotres.blogspot.com”, e foi este blogue o “culpado” de eu, a partir de um certo dia, passar horas a fio num velhinho computador portátil, que o meu filho já tinha arrumado numa prateleira e que “preparou” para mim, a “devorar” poste atrás de poste.
Depois desta pequena introdução, vamos ao que me leva a escrever, hoje dia 18 de Julho de 2009, para o nosso Blogue que, mais não é que a descrição do modo como eu senti e analisei os acontecimentos em Guileje.
Enquanto estive na Guiné, fui algumas vezes a Bissau, e na Messe de Sargentos, como é fácil deduzir, falava-se de tudo o que ocorria nos mais turbulentos recantos da Guiné.
Os assuntos mais falados eram, jamais esquecerei, a retirada de Guileje e as graves situações vividas em Gadamael e Guidaje.
Eu só podia falar de Copá, porque estava nessa zona e tinha lá um pelotão da minha Companhia.
Sobre a retirada de Guileje as conversas versavam todas o mesmo tema - a acção do Major Coutinho e Lima -, e eram quase unânimes as opiniões que ele fez o melhor que podia ter feito na sua problemática situação.
Elogiava-se a sua retirada, que permitiu salvar não só as vidas dos seus militares, como as da população local a seu cargo.
Na minha análise pessoal e creio que na opinião geral, Herói de guerra tanto é aquele que dá a vida pela Pátria, como é aquele que salva vidas ao seu Serviço.
Para mim e para a maioria dos militares que estavam na Guiné, na altura, o então Major Coutinho e Lima (hoje Tenente Coronel), foi um Herói e não um cobarde, como as nossas chefias militares de então apelidaram e algumas opiniões teimam em querer confirmar.
Somos todos Camaradas de um Blogue de antigos Combatentes da Guiné, onde deve permanecer a amizade que nos uniu na Guiné e uma confraternização constante.
Já ultrapassamos os 300 Tertulianos, além de muitos Amigos.
Num espaço de três meses tivemos mais de 100 mil Visitas.
Considero que unidos na mesma finalidade seremos indestrutíveis.
Para acabar quero felicitar aos nossos camaradas editores, pelo trabalho que têm feito dando voz a todos os que, connosco, estiveram no teatro de guerra, na Guiné, defenderam a nossa Pátria, por vezes com vários e pesados custos pessoais.
Um abraço amigo para todos os Tertulianos e Amigos do nosso blogue,
Amílcar Ventura
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Notas de M.R.:
(*) Vd. último poste da série em:
3 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4634: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (13): A desonra da CCAV 8350 ou o direito a contar a minha versão... (Constantino Costa)
Guiné 63/74 - P4735: Tabanca Grande (164): Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil da CART 2519, Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, 1969/71
1. Mais um camarada nosso se junta à Tabanca Grande. O seu nome é Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os morcegos de Mampatá", Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, 1969/71. As fotos habituais, uma do seu tempo de tropa e outra de
hoje, já ele enviou como se pode ver.
O Mário Pinto diz que tem muitas fotos dos tempos da Guiné e é autor de um blogue, com notícias das actividades passadas e das presentes da sua companhia, tendo indicado o seu endereço: http:// cart2519osmorcegosdemampata. blogspot.com/2009/07/general- spinola.html
Em 12JUL2009 o Pinto deixou, no poste P4673, um comentário que a seguir se apresenta:
Caro José Teixeira,
Tenho seguido com atenção as tuas recordações da Guine.
Também estive em Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, em 1969/71.
Pertenci á CART 2519 - Os morcegos de Mampatá, por isso vivo com intensidade as tuas recordações.
Já agora se estiveres interessado em saber algo mais sobre a minha companhia, vai ao Blogue: www. cart2519osmorcegosdemampata. blogspot.com
Um abraço,
Mário Pinto
Usando o mesmo poste P4673, o nosso Camarada Zé Teixeira, no dia a seguir, 13JUL2009, ripostou com a seguinte mensagem:
Camarada Mário Pinto,
Sendo Mampatá a primeira terra na minha segunda Pátria, deixa-me considerar-te meu conterrâneo.
Só estive em Mampatá cerca de 6 meses integrado no meu Grupo de Combate, única força ali estacionada a par do pelotão de milícias, comandado pelo grande Aliu Baldé e pelo querido amigo Hanadú, que faleceu o ano passado em Buba, com fama de "maribu" (santo muçulmano).
Depois fui até à Chamarra. Mampatá ficou-me no coração, pelas suas gentes amorosas.
Já dei uma espreitadela ao teu blogue fiquei triste ao saber que a Cia. dos lenços azuis, que me foi buscar a Buba e com quem vivi grandes aventuras, tenha encerrado a sua vida nessa zona com mais duas mortes.
Agora só falta convidar-te a fazer parte da grande Tabanca Grande, pois com certeza tens muita coisa para contar.
Quando puderes dá uma volta pelo site da minha Companhia: http://empada.no.comunidades. net/
Abraço fraterno do,
Zé Teixeira dos "Colhões Negros de Mampatá".
2. Com a devida vénia reproduzimos a seguir uma pequena e curiosa história retirada do blogue do Mário Pinto:
General Spínola
Caros camaradas,
Foi por diversas vezes que tive encontros no mato com o "Homem do Monóculo".
Uma, em particular, foi em Uane, quando me encontrava a fazer protecção a uma coluna vinda de Buba, para Aldeia Formosa.
Deixou o meu grupo de combate Mampatá, ainda de madrugada, com a missão de picar a estrada e fazer protecção a uma coluna de abastecimento, que vinha de Buba - prática normal da nossa CART 2519 -, de 15 em 15 dias, indo ao encontro dos nossos camaradas de Nhala (companhia que neste momento não consigo identificar).
Feita a junção, emboscávamo-nos nas imediações, junto ao trilho de Uane, que era imenso.
Encontrava-me eu nessa função, quando começei a ouvir dois helicópteros vindos na minha direcção.
Chamei o radiotelegrafista e mandei-o entrar em contacto com os hélis, informando-os da nossa posição. Qual não foi o meu espanto, quando recebo ordem para fazer segurança apertada, ao perímetro, pois o COM-CHEFE ia descer.
- O homem é maluco! - disse eu.
Apresentei-me como era da praxe e o mesmo perguntou-me a minha patente.
- Furriel - disse eu.
- Então não há oficial.
- Não, meu General, o meu Alferes encontra-se na Metrópole, de férias.
Espante-se, o General não sabia que os Furriéis Milicianos comandavam o pessoal do pelotão, nas ausências dos Comandantes de pelotão...
Mário Pinto
Fur Mil CART 2519
Foto: © Mário G. R. Pinto (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
(*) Vd. último poste da série em:
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