A pedido do nosso camarada David Guimarães, (ex-Fur Mil, At Inf, MA da CART 2716, Xitole, 1970/1972), publicamos o seu postal de agradecimento pelas mensagens de parabéns a ele enviadas a propósito do seu aniversário ocorrido ontem, dia 24 de Abril.
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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sexta-feira, 25 de abril de 2014
quinta-feira, 24 de abril de 2014
Guiné 63/74 - P13029: Parabéns a você (724): David Guimarães, ex-Fur Mil Art MA da CART 2716 (Guiné, 1970/72)
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Nota do editor
Último poste da série de 21 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P13014: Parabéns a você (723): António Branquinho, ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 63 (Guiné, 1969/71)
Nota do editor
Último poste da série de 21 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P13014: Parabéns a você (723): António Branquinho, ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 63 (Guiné, 1969/71)
domingo, 5 de janeiro de 2014
Guiné 63/74 - P12544: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (6): Armadilhe-se tudo à volta!... Ou as malditas granadas vermelhas que mataram turras, tugas e macacos-cães...
Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xitole > CART 2716 (1970/72) > O Fado da Guerra ou... das Minas e Armadilhas ? Os Fur Mil Guimarães (tocando viola) e Quaresma, ambos sapadores...
Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xitole > CART 2716 (1970/72) > Mina antipessoal PDM-6 reforçada com uma carga de trotil de 9 kg (as barras do lado direito). Detectada e levantada na estrada Bambadinca-Xitole pelo furriel de minas e armadilhas Guiimarães da CART 2716 ("Bem, lá ia uma GMC ao ar, isso sim!!!".)
Fotos: © David J. Guimarães (2005). Todos os direitos reservados.
Guiné > Região do Oio > Mansoa > BCAÇ 4612/72 > Sistema de defesa de um destacamento
Foto: © Carlos Fraga (2011). Todos os direitos reservados.
1. Texto do David Guimarães, residente em Espinho (ex-fur mul, at inf, minas e armadilhas, da CART 2716, Xitole, 1970/1972), um dos primeiros camaradas a aparecer, a dar cara, a escrever no nosso blogue, nos idos anos de 2005. O primeiro poste que temos dele é de 17 de maio de 2005, e era o nº 20 (Foi você que pediu uma Kalash ?). Este que reproduzimos a seguir foi o 75, de 23 de junho de 2005 (*).
É mais uma das suas estórias do Xitole, escritas no seu português castiço, e que retratam bem o quotidiano de um operacional de uma unidade de quadrícula, mais sendo ele um dos especialistas em minas e armadilhas:
2. Estórias do Xitole (6) > Armadilhe-se tudo à volta!... Ou as malditas granadas vermelhas que mataram turras, tugas e macacos-cães...
2. Estórias do Xitole (6) > Armadilhe-se tudo à volta!... Ou as malditas granadas vermelhas que mataram turras, tugas e macacos-cães...
por David Guimarães
Quando ocupámos o Xitole, em substituição da CART 2413 que lá se encontrava [, no período de1968/70], procedemos de imediato ao armadilhamento da zona limítrofe do quartel. Foram colocadas muitas minas antipessoais, de fabrico português, com espoletas de pressão, reforçadas com mais cargas explosivas ou não, conforme a maior ou menor importância do local. O objetivo era impedir a aproximação e a infiltração do IN, criando um zona de segurança à volta do quartel...
Também era frequente serem pendurados, no arame farpado, objetos diversos desde latas de coca-cola até garrafas de cerveja, que ao menor movimento tocariam umas nas outras, dando sinal pelo som de que o arame estava a ser mexido... Isto era importante especialmente de noite...
Este processo de alarme e prevenção efetivamente só ajudou a, de início, apanhar-se alguns sustos, pois que não funcionava na prática, como devia de ser. Enfim era a fé de cada um… Um sistema de segurança altamente falível, pois que todos os dias tínhamos barulhinhos esquisitos, o que era natural....
Quanto às minas e armadilhas, essas, sabíamos que estavam muito bem colocadas e, essas sim, davam uma certa segurança... Apesar de tudo eventualmente fazíamos armadilhamentos temporários, a mais longa distância, usando para isso a granada armadilha instantânea que qualquer combatente da Guiné conhecia.
Todas as granadas eram formadas por cápsula fulminante, 3 cm de cordão lento e um detonador que fazia explodir a carga base... Todos nós nos lembramos da mina defensiva, de composição B, e do seu uso, bem como das ofensivas, cilíndricas, de carga de trotil (TNT).
A que estou a referir era exactamente cilíndrica, como a ofensiva, só que enquanto as outras tinham a cor verde azeitona, esta era vermelha e mais de metade era envolta com espiral de metal. A maior diferença, e por isso se chamava instantânea, era não ter os três cm de cordão lento. O percutor, acionado, logo fazia explodir o detonador e a carga base. Esta mina era altamente mortífera devido ao seu poder de fragmentação, provocado pelas espiras em aço.
Bem, mas isto não é uma aula sobre minas e armadilhas. Serve apenas para contar uma estória, do início também da nossa comissão.... Uma estória de guerra ou uma contrariedade.
Um camarada nosso, o [fur mil minas e armadilhas] Quaresma, lá foi para o mato com um pelotão para colocar uma dessas granadas instantâneas num trilho. Tudo feito como devia ser, a mina colocada estrategicamente na base de uma árvore de copa frondosa e arame de tropeçar a atravessar o trilho. Era a assim que mandavam as regras aprendidas, teoricamente, em Tancos...
Bem, pelas 4 da manhã (e na Guiné, a essa hora, ouvia-se tudo), há um grande rebentamento para aqueles lados da armadilha... Não há dúvida, a guerra fez-nos ser tipo animais:
─ Alto, alguém caiu, alto, alto!!!... ─ Já todos nos mordíamos para ir ver o sucedido.
Também era frequente serem pendurados, no arame farpado, objetos diversos desde latas de coca-cola até garrafas de cerveja, que ao menor movimento tocariam umas nas outras, dando sinal pelo som de que o arame estava a ser mexido... Isto era importante especialmente de noite...
Este processo de alarme e prevenção efetivamente só ajudou a, de início, apanhar-se alguns sustos, pois que não funcionava na prática, como devia de ser. Enfim era a fé de cada um… Um sistema de segurança altamente falível, pois que todos os dias tínhamos barulhinhos esquisitos, o que era natural....
Quanto às minas e armadilhas, essas, sabíamos que estavam muito bem colocadas e, essas sim, davam uma certa segurança... Apesar de tudo eventualmente fazíamos armadilhamentos temporários, a mais longa distância, usando para isso a granada armadilha instantânea que qualquer combatente da Guiné conhecia.
Todas as granadas eram formadas por cápsula fulminante, 3 cm de cordão lento e um detonador que fazia explodir a carga base... Todos nós nos lembramos da mina defensiva, de composição B, e do seu uso, bem como das ofensivas, cilíndricas, de carga de trotil (TNT).
A que estou a referir era exactamente cilíndrica, como a ofensiva, só que enquanto as outras tinham a cor verde azeitona, esta era vermelha e mais de metade era envolta com espiral de metal. A maior diferença, e por isso se chamava instantânea, era não ter os três cm de cordão lento. O percutor, acionado, logo fazia explodir o detonador e a carga base. Esta mina era altamente mortífera devido ao seu poder de fragmentação, provocado pelas espiras em aço.
Bem, mas isto não é uma aula sobre minas e armadilhas. Serve apenas para contar uma estória, do início também da nossa comissão.... Uma estória de guerra ou uma contrariedade.
Um camarada nosso, o [fur mil minas e armadilhas] Quaresma, lá foi para o mato com um pelotão para colocar uma dessas granadas instantâneas num trilho. Tudo feito como devia ser, a mina colocada estrategicamente na base de uma árvore de copa frondosa e arame de tropeçar a atravessar o trilho. Era a assim que mandavam as regras aprendidas, teoricamente, em Tancos...
Bem, pelas 4 da manhã (e na Guiné, a essa hora, ouvia-se tudo), há um grande rebentamento para aqueles lados da armadilha... Não há dúvida, a guerra fez-nos ser tipo animais:
─ Alto, alguém caiu, alto, alto!!!... ─ Já todos nos mordíamos para ir ver o sucedido.
Pela manhã, bem cedo, aí vai o pelotão de reconhecimento. Aproximação cautelosa ao local, sangue no chão...
─ Boa, que isto funcionou!
Mais sangue ali e acolá e eis que surge a vítima.... Um grande macaco, já morto... E não tinha camuflado!...
─ Ora, foda-se!
A guerra tinha disto...
David J. Guimarães
Em tempo: ironia do destino, o nosso camarada Quaresma acabou por morrer pela acção de uma granada dessas, a instantânea.. [Como já aqui foi contado, na estória do Xitole nº 1]
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Nota do editor:
Postes anteriores da série >
(...) Era costume nós irmos fazer protecção nocturna à tabancas. Era também uma forma de acção psico... Um dia lá fui eu e o [furriel] Fevereiro a comandar uma secção do 3º grupo de combate. Tangali era o nome da tabanca, a última que estava à guarda do Xitole. Ficava na estrada Xitole-Saltinho (os da CCAÇ 12 muitas vezes passaram por ela). (...)
4 de agosto de 2013 >Guiné 63/74 - P11903: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (4): Um tiro numa cabra de mato... que deu direito a um prémio Governador Geral
(...) Um dia, novinhos ainda, piras, com as fardinhas novinhas em folha, aí vamos nós. Sai o 1º Grupo de Combate. Patrulha em volta do aquartelamento para os lados de Seco Braima, o que era normal: acampamento IN. (...)
12 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11556: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (3): Era do caraças o paludismo
12 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11556: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (3): Era do caraças o paludismo
(...) Nós sabemos o que era uma coluna logística, uma operação de reabastecimento, mas outros nem calculam o que seja... O vai haver coluna já era uma grande chatice... Andar até ao Jagarajá, à Ponte do Rio Jagarajá, a pé e a picar, não era pera doce... E depois? Se acaso acontecia mais algo a seguir? (...)
24 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11456: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (2): Nem santos nem pecadores
24 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11456: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (2): Nem santos nem pecadores
18 de novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2278: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (1): A triste sorte do sapador Quaresma... morto por aquela maldita granada vermelha
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Guiné 63/74 - P12106: Estórias avulsas (69): Em memória do meu amigo Mamadú, pescador do Xitole, que pescava no Rio Pulom (Jorge Silva, ex-fur mil, CART 2716, Xitole, 1971/72)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > BART 2917 (1970/72) > Forças da CCAÇ 12, a descansar na Ponte dos Fulas (sobre o Rio Pulom, afluente do Rio Corubal), por ocasião de uma coluna logística Bambadinca - Xitole (Xitole era a unidade de quadrícula, do Setor L1, mais a sul; era a sede da CART 2716, em 1970/72).
Perspetiva: norte-sul, quando se vem de Bambadinca e Mansambo para Xitole e Saltinho. A ponte, em madeira, de construção ainda relativamente recente e em bom estado, era vital para as ligações de Bambadinca e Mansambo com o Xitole, o Saltinho e Galomaro... A ponte era defendida por um 1 Gr Comb do Xitole, em permanência, dia e noite... Na foto sãos visíveis, em segundo plano à esquerda, o fortim; em terceiro plano, ao fundo, à direita, as demais instalações do destacamento.
Foto do álbum de Arlindo T. Roda, ex-fur mil da CCAÇ 12 (1969/71).
Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]
Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xitole > Ponte dos Fulas, sobre o Rio Pulom. Perspetiva: sul-norte. A coluna logística, vinda do Xitole, regressa a Bambadinca, deixando atrás o destacamento da Ponte dos Fulas. Foto do álbum de Humberto Reis, ex-fur mil op esp, CCAÇ 12 (1969/71).
Foto: © Humbero Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]
Luís Graça,
Um abraço e parabéns pelo óptimo trabalho que tens produzido no blogue que, cada vez mais, agrega ex-combatentes.
Baseado na realidade que vivi no Xitole, produzi um texto cujo tema reputo de interesse e que publiquei, em 28 de setembro último, no blogue da CART 2616.
Se o pretenderes divulgar e te der mais jeito em pdf, anexo-o neste formato.
Jorge Silva
ex-Fur Mil,
CART 2716 (Xitole,1971-72)
e BENG 447 (Bissau 1972/73)
Um abraço e parabéns pelo óptimo trabalho que tens produzido no blogue que, cada vez mais, agrega ex-combatentes.
Baseado na realidade que vivi no Xitole, produzi um texto cujo tema reputo de interesse e que publiquei, em 28 de setembro último, no blogue da CART 2616.
Se o pretenderes divulgar e te der mais jeito em pdf, anexo-o neste formato.
Jorge Silva
ex-Fur Mil,
CART 2716 (Xitole,1971-72)
e BENG 447 (Bissau 1972/73)
Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Carta do Xime (1955) / Escala 1/50 mil > Subsetor do Xitolke > Posição relativa da Ponte dos Fulas sobre o Rio Pulom, afluente do Rio Corubal... Ficava na estrada Bambadinca - Mansambo - Xitole - Saltinho... A oeste, o triângulo Galo Corubal / Satecuta / Seco Braima, controlado pelo PAIGC.
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013).
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013).
2. Em memória do meu amigo Mamadú, pescador do Xitole
por Jorge Silva
A expressão raças humanas (branca, negra, etc.) resulta de um conceito antropológico antigo e ultrapassado, cada vez mais em desuso, embora o racismo continue a ser uma infeliz e nociva realidade.
Creio que em vez dessa divisão por raças em função da cor da pele devemos considerar, tão só, uma única raça: a raça humana.
Claro que há pessoas com cores de pele branca, negra, amarela e, até, vermelha. Tal como há pessoas que, apesar da cor da pele ser branca, têm olhos azuis, enquanto outros os têm verdes, ou castanhos, ou cinzentos, ou pretos... E há outras que sendo designadas por terem pele branca afinal têm-na muita morena (escura mesmo) e, a par disso, cabelos muito escuros (mesmo pretos), enquanto também as há de pele nitidamente branca e com cabelos loiros.
Hitler foi um verdadeiro e demoníaco “mestre” nestas distinções. E por isso tornou-se o primeiro responsável pelo genocídio de milhares e milhares de seres humanos, para além das nefastas consequências de uma guerra mundial que prejudicou de forma irreparável a humanidade. Hitler não quis ou não foi capaz de perceber que tal diversidade humana é um dom da natureza e uma mais valia da humanidade. E por isso procurou destruir a obra humana, criada pela própria natureza, cuja diversidade os homens se encarregaram de ir enriquecendo ao longo de milhares e milhares de anos.
Eu tive a sorte de ter a oportunidade de poder começar a compreender as referidas diferenças a partir de 1971.
Com 22 anos fui para a Guiné (Xitole). Branco, e crescido no meio de brancos, fui conviver com negros. Católico, fui para o meio de muçulmanos, de etnia Fula.
Tive lá um amigo especial, o pescador do Xitole que, na altura, teria 40 e tal anos, mas que quando tinha apenas 15 anos foi levado de Dakar pelos franceses até Paris para, mesmo sendo menino, ser incorporado no exército francês e ser forçado a participar na última guerra mundial.
O pescador (que, se a memória não me falha, se chamava Mamadú), era um homem maduro, vivido e culto. Quando estive destacado na Ponte dos Fulas, juntamente com o David Guimarães, o pescador acompanhou-nos e, com excepção dos fins de semana, em que ia para junto da família, permaneceu connosco cerca de um mês, para lançar as redes no Rio Pulom e capturar o peixe que nos saciou a fome.
Nas muitas conversas que tive com o Mamadú, um dia perguntei-lhe porque é que os homens do Xitole passavam os dias sentados na aldeia enquanto as mulheres se entregavam à vida dura da agricultura, inclusive com filhos às costas e outros a seu lado. E, soltando o que me ia na mente, perguntei-lhe porque é que tais homens não ajudavam as mulheres nos trabalhos agrícolas e, ainda de forma mais directa, se tal se deveria ao facto de esses homens não gostarem de trabalhar...
O meu amigo pescador captou-me o preconceito e, com imensa calma, feita de muita sabedoria, o Mamadú perguntou-me se na minha terra (Porto) eu encerava o chão, lavava a louça, lavava a roupa à mão, estendia a roupa para secar, passava a roupa a ferro, etc., etc.
Estávamos em 1972 e, também por preconceitos, tudo isso era, inquestionavelmente, trabalho de mulher. De tal modo que qualquer homem que assumisse a realização dessas tarefas seria alvo de epítetos nada abonatórios nem desejáveis.
Naturalmente respondi-lhe que não, o que correspondia à verdade. Mas mesmo que assim não fosse ter-lhe-ia dito na mesma que não. Com um sorriso amigo e de compreensão ele explicou-me que lá no Xitole as coisas também funcionavam de idêntico modo, pois trabalhar a terra era serviço exclusivo de mulher, pelo que se algum homem fosse ajudar a mulher a trabalhar a terra perderia a consideração e o respeito da aldeia.
Percebi, então, que esses amigos Fulas do Xitole não eram malandros. A guerra é que o era. De tal forma que nem sequer os deixava trabalhar.
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Nota do editor:
Último poste da série > 30 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12105: Estórias avulsas (68): Do meu Álbum de Fotos sobre Galomaro 2 (José Ribeiro)
por Jorge Silva
A expressão raças humanas (branca, negra, etc.) resulta de um conceito antropológico antigo e ultrapassado, cada vez mais em desuso, embora o racismo continue a ser uma infeliz e nociva realidade.
Creio que em vez dessa divisão por raças em função da cor da pele devemos considerar, tão só, uma única raça: a raça humana.
Claro que há pessoas com cores de pele branca, negra, amarela e, até, vermelha. Tal como há pessoas que, apesar da cor da pele ser branca, têm olhos azuis, enquanto outros os têm verdes, ou castanhos, ou cinzentos, ou pretos... E há outras que sendo designadas por terem pele branca afinal têm-na muita morena (escura mesmo) e, a par disso, cabelos muito escuros (mesmo pretos), enquanto também as há de pele nitidamente branca e com cabelos loiros.
Hitler foi um verdadeiro e demoníaco “mestre” nestas distinções. E por isso tornou-se o primeiro responsável pelo genocídio de milhares e milhares de seres humanos, para além das nefastas consequências de uma guerra mundial que prejudicou de forma irreparável a humanidade. Hitler não quis ou não foi capaz de perceber que tal diversidade humana é um dom da natureza e uma mais valia da humanidade. E por isso procurou destruir a obra humana, criada pela própria natureza, cuja diversidade os homens se encarregaram de ir enriquecendo ao longo de milhares e milhares de anos.
Ao contrário de Hitler saibamos, pois, aproveitar a riqueza dessa diversidade. E para tal ultrapassemos preconceitos com mais informação válida e mais conhecimento, pois enquanto eles persistirem não seremos capazes de compreender as diversas realidades, costumes e culturas.
Eu tive a sorte de ter a oportunidade de poder começar a compreender as referidas diferenças a partir de 1971.
Com 22 anos fui para a Guiné (Xitole). Branco, e crescido no meio de brancos, fui conviver com negros. Católico, fui para o meio de muçulmanos, de etnia Fula.
Tive lá um amigo especial, o pescador do Xitole que, na altura, teria 40 e tal anos, mas que quando tinha apenas 15 anos foi levado de Dakar pelos franceses até Paris para, mesmo sendo menino, ser incorporado no exército francês e ser forçado a participar na última guerra mundial.
O pescador (que, se a memória não me falha, se chamava Mamadú), era um homem maduro, vivido e culto. Quando estive destacado na Ponte dos Fulas, juntamente com o David Guimarães, o pescador acompanhou-nos e, com excepção dos fins de semana, em que ia para junto da família, permaneceu connosco cerca de um mês, para lançar as redes no Rio Pulom e capturar o peixe que nos saciou a fome.
Nas muitas conversas que tive com o Mamadú, um dia perguntei-lhe porque é que os homens do Xitole passavam os dias sentados na aldeia enquanto as mulheres se entregavam à vida dura da agricultura, inclusive com filhos às costas e outros a seu lado. E, soltando o que me ia na mente, perguntei-lhe porque é que tais homens não ajudavam as mulheres nos trabalhos agrícolas e, ainda de forma mais directa, se tal se deveria ao facto de esses homens não gostarem de trabalhar...
O meu amigo pescador captou-me o preconceito e, com imensa calma, feita de muita sabedoria, o Mamadú perguntou-me se na minha terra (Porto) eu encerava o chão, lavava a louça, lavava a roupa à mão, estendia a roupa para secar, passava a roupa a ferro, etc., etc.
Estávamos em 1972 e, também por preconceitos, tudo isso era, inquestionavelmente, trabalho de mulher. De tal modo que qualquer homem que assumisse a realização dessas tarefas seria alvo de epítetos nada abonatórios nem desejáveis.
Naturalmente respondi-lhe que não, o que correspondia à verdade. Mas mesmo que assim não fosse ter-lhe-ia dito na mesma que não. Com um sorriso amigo e de compreensão ele explicou-me que lá no Xitole as coisas também funcionavam de idêntico modo, pois trabalhar a terra era serviço exclusivo de mulher, pelo que se algum homem fosse ajudar a mulher a trabalhar a terra perderia a consideração e o respeito da aldeia.
E, completando a lição, o Mamadú explicou-me que os Fulas eram comerciantes por natureza, pelo que estavam sentados à espera que a guerra acabasse para, sem correrem perigos, poderem trilhar as matas, de aldeia em aldeia, com a mercadoria às costas, para comercializarem os seus produtos e sustentarem a família.
Percebi, então, que esses amigos Fulas do Xitole não eram malandros. A guerra é que o era. De tal forma que nem sequer os deixava trabalhar.
Aprendi, então, que não devia avaliar os outros à luz da minha cultura e dos meus valores e muito menos com a mente envenenada por preconceitos. O meu amigo Mamadú, pescador do Xitole, ensinou-me isso e muitas coisas mais. E com isso ajudou-me a crescer e a ser homem.
Há pouco tempo informaram-me que ele já teria falecido, o que muito lamento. Evoco-o deste modo, cumprindo uma obrigação que tinha para com esse amigo, já que deixei passar a oportunidade de, olhos nos olhos, lhe agradecer o quanto me ensinou, com uma paciência, uma maturidade e uma humildade difíceis de igualar, a atestar que tive o ensejo de ter estado diante de um homem culto e bom de pele negra.Obrigado, Mamadú, velho pescador do Xitole. E, apesar de ser católico, desejo que Alá te guarde.
Jorge Silva [, foto à esquerda, do tempo da CART 2716, Xitole, 1971/72]
Jorge Silva [, foto à esquerda, do tempo da CART 2716, Xitole, 1971/72]
Página do blogue da CART 2716 (Xitole, 1970/72), Amigos do Xitole, criada e administrada pelo Jorge Silva
Nota do editor:
Último poste da série > 30 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12105: Estórias avulsas (68): Do meu Álbum de Fotos sobre Galomaro 2 (José Ribeiro)
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quinta-feira, 8 de agosto de 2013
Guiné 63/74 - P11917: In Memoriam (157): Agradecimento de José Martins na morte de seu irmão, o nosso camarada Manuel Martins (José Martins)
1. Mensagem de hoje do nosso camarada José da Silva Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70) com um agradecimento a propósito do falecimento do seu irmão, o nosso camarada e tertuliano Manuel da Silva Marcelino Martins, ex-Fur Mil Enf.º que prestou serviço no HM 241 de Bissau entre 1973 e 1974:
Manuel da Silva Marcelino Martins
n. 28 de Outubro de 1950 - † 07 de Agosto de 2013
Agradecimento
Acabo de chegar do norte, onde me fui despedir do meu irmão, e nosso camarada de armas, Manuel Marcelino Martins.
Aqui deixo o meu reconhecimento, quer em nosso nome, quer em nome de toda a família – esposa, filha, irmãos/cunhados e sobrinhos – pelas condolências recebidas pessoalmente ou enviadas através dos meus de comunicação que agora usamos – blogue, telefone, redes sociais.
Pelo que me apercebi, deixou obra na Comunidade Paroquial de Canidelo – Gaia, que em peso quis prestar o seu reconhecimento e homenagem.
A todos o nosso abraço
Zé Martins
2. Vem a propósito uma mensagem do nosso camarada David Guimarães, chegada também hoje ao Blogue, que em jeito de homenagem nos mandou um pequeno filme com a actuação do Grupo que interpreta fados de Coimbra do qual o Manuel Martins fazia parte com o David Guimarães.
Para ouvir, clicar aqui
____________Nota do editor
Vd. poste de 7 de Agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11912: In Memoriam (156): Manuel da Silva Marcelino Martins - N. 28 Outubro 1950 - † 07 Agosto 2013, Ex-Fur Mil Enf.º do HM 241 (Bissau, 1973/74) (José Martins)
terça-feira, 6 de agosto de 2013
Guiné 63/74 - P11910: (Ex)citações (224): Da caça, da guerra, dos copos e das nossas peripécias do dia a dia... (David Guimarães, ex-fur mil minas e armadilhas, CART 2716, Xitole, 1970/72)
1. Mensagem do David Guimarães, com data de 4 do corrente, a propósito do poste P11903
Pois é, Luís e mais amigos (e camaradas)... Tudo isto se passava no nosso tempo, na Guiné, e das pequenas histórias se fez a nossa história de guerra...
Pois é, Luís e mais amigos (e camaradas)... Tudo isto se passava no nosso tempo, na Guiné, e das pequenas histórias se fez a nossa história de guerra...
Estes ambientes onde todos andámos, os que lá estivemos, tinham destas coisas como a que contei. Aliás eram peripécias que no dia a dia aconteciam, umas mais giras outro menos, umas mais ou menos graciosas e outras nem tanto... A guerra, enfim, era um facto, parece que disso ninguém tem dúvidas.
O pano de fundo de todo o combatente era a guerra, num local muito difícil de viver, a Guiné, território tão pequenino em que ela, a guerra, se ouvia em toda a parte: quer dizer, e posso exagerar um pedaço mas não muito, sei que os obuses de Aldeia Formosa eram ouvidos bem longe, e inclusive os bombardeamentos de aviões em zonas de intervenção do Com Chefe seriam ouvidos em toda (ou quase toda) a Guiné...
A realidade eram as pequeninas coisas. Quando comecei a escrever neste blogue, e faz uns anitos [, em 2005,], nunca pensei em discutir em quem tinha ou não razão na guerra, Nunca vi senão operações por norma bem sucedidas, fora aquelas que o não eram e, enfim, passava-se à frente dos escritos.
Assim leio agora reacções inflamadas, que nós fizemos isto e aquilo, a força era esta e aquela... Fazia-se a operação tal em que se tomava conta da tabanca X do inimigo, incendiava-se e fazia-se um ronco... Depois voltava-se ao quartel e a ocupação não era feita... E Satecuta, Ponta do Inglês, disto e daquilo [, no setor L1,] , sempre pertenceram à tropa IN...
Também tomei boa nota de uma coisa, e muito entendem, outros não... Sei, e por testemunhos de nossos caros camaradas, que Mansambo, por exemplo, foi muito atacado quando se fazia a estrada para o Xitole. São testemunhos que existem aqui e são verdadeiros. No meu tempo, 1970/72, quem me dera ter estado em Mansambo [, onde estava a CART 2714]. Quirafo, no meu tempo, nunca aconteceu, aconteceu mal eu parti (e parece que houve razões que facilitaram). O Xitole no meu tempo foi flagelado muitas vezes, parece que a seguir não.... Será que temos explicações para isso ? Talvez que sim, mas isso pertence à história, só que continua mal contada e só passa a testemunho histórico passados 100 ou 200 anos.
Também tomei boa nota de uma coisa, e muito entendem, outros não... Sei, e por testemunhos de nossos caros camaradas, que Mansambo, por exemplo, foi muito atacado quando se fazia a estrada para o Xitole. São testemunhos que existem aqui e são verdadeiros. No meu tempo, 1970/72, quem me dera ter estado em Mansambo [, onde estava a CART 2714]. Quirafo, no meu tempo, nunca aconteceu, aconteceu mal eu parti (e parece que houve razões que facilitaram). O Xitole no meu tempo foi flagelado muitas vezes, parece que a seguir não.... Será que temos explicações para isso ? Talvez que sim, mas isso pertence à história, só que continua mal contada e só passa a testemunho histórico passados 100 ou 200 anos.
Porque é que a ponte Marechal Carmona estava partida? Bem, existiam na altura três explicações: ou teriam sido eles, ou nós ou então foi um colapso da ponte. Como não interessava ao IN nem a nós dar cabo daquela via de comunicação essencial, tanto para uns como para outros, inclino-me para que tivesse sido um colapso. Mas que interessa isso ? O facto é que ela estava
interrompida e está e pronto...
interrompida e está e pronto...
Mas na vida fora de guerra também aconteciam peripécias como a caça às lebres em Cambesse, nos campos de mancarra e pela noite. Ou o dia em que coloquei o comandante de pé a fazer a continência a um arrear de bandeira... Ou ainda o episódio de eu e do Branquinho (António, do Pel Caç Nat 63, irmão do Alberto) a passear na zona atrás da pensão Chantra, em Bissau, ambos à civil, a chamarem-nos de furriéis... Que coisa, nós nem dali éramos, então sabiam quem nós éramos...
Outra: A vez em que andava eu já com cerveja a mais na cabeça, no Xitole, debaixo de uma grande trovoada e deu um trovão maior . Os camaradas pararam e disseram: porra que isto não é trovoada! Disse eu: vocês são malucos, já estão com medo dos trovões...
Pois é, eles tinham razão: uma faisca caiu junto a um poste de iluminação onde havia o fio condutor ligado ao "explosor" e foi rebentar um fornilho feito logo a seguir ao arame farpado para o lado da pista de helicópteros... E tinha sido mesmo, que grande buraco!... E, afinal, a azelhice tinha sido minha: coloquei um fio subterrâneo debaixo de um poste elétrico!
Tudo isto são peripécias... giras da guerra, mesmo que avulsas, sem individualizar. E creio que são coisas que caem bem num blogue como o nosso...
Estas são as centenas de peripécias que guardo em mente e retenho. Claro que os episódios de guerra foram evidentes mas que nunca sejam ficcionados e haja rigor e conte-se um pedaço de cada asneirita que íamos fazendo.
Foi no meu tempo e teu, Luis, que o Furriel Henriques (tu mesmo) chamou assassino de guerra ao 2º Comandante [do BART 2917] depois daquela operação maldita que conheces,,, Viste, correste um risco mas ao menos disseste o nome próprio do major.... Gostei de ver novamente essa a história que contei há uns anos e que ainda não consigo nem retirar uma virgula, Foi mesmo assim...
Um abraço, e ainda gostava de saber o que me levou um dia, no fim da comissão, até á ponte do Geba em Bafatá onde eu estava de serviço... Acordei pelas três da manhã e um soltado disse-me: "Furriel, está melhor ?"... Que grande bebedeira eu tinha apanhado na cidade...
David Guimarães
Guiné > Zona leste > Setor L1 > Subsetor de Xitole > Carta de Xitole (1955) (Escala 1/50 mil) > posição relativa de Xitole e de Cambesse (ou Cambéssé), na estrada que conduzia ao Saltinho. Em Cambesse havia um cruzamento para os rápidos do Cusselinta (zona paradisíaca do Rio Corubal, interdita em tempo de guerra... Cusselinta e não "Cussilinta"...).
Infografia: Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné (2013)
____________
Nota do editor:
Último poste da série > 8 dce julho de 20l3 > Guiné 63/74 - P11817: (Ex)citações (223): As lágrimas amargas do brig António de Spínola e do cor Hélio Felgas... "Presenciei-as no fim da Op Lança Afiada"... (António Azevedo Rodrigues, ex-1º cabo, Cmd Agrup 2957, Bafatá, 1968/70)... Ou não terá sido antes, na sequência do desastre do Rio Corubal, em Cheche, na retirada de Madina do Boé, em 6/2/1969 (Op Mabecos Bravios) ? No dia seguinte, Spínola deslocou-se a Nova Lamego, onde falou, às 12h00, aos sobreviventes da Op Mabecos Bravios...
Um abraço, e ainda gostava de saber o que me levou um dia, no fim da comissão, até á ponte do Geba em Bafatá onde eu estava de serviço... Acordei pelas três da manhã e um soltado disse-me: "Furriel, está melhor ?"... Que grande bebedeira eu tinha apanhado na cidade...
David Guimarães
Guiné > Zona leste > Setor L1 > Subsetor de Xitole > Carta de Xitole (1955) (Escala 1/50 mil) > posição relativa de Xitole e de Cambesse (ou Cambéssé), na estrada que conduzia ao Saltinho. Em Cambesse havia um cruzamento para os rápidos do Cusselinta (zona paradisíaca do Rio Corubal, interdita em tempo de guerra... Cusselinta e não "Cussilinta"...).
Infografia: Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné (2013)
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Nota do editor:
Último poste da série > 8 dce julho de 20l3 > Guiné 63/74 - P11817: (Ex)citações (223): As lágrimas amargas do brig António de Spínola e do cor Hélio Felgas... "Presenciei-as no fim da Op Lança Afiada"... (António Azevedo Rodrigues, ex-1º cabo, Cmd Agrup 2957, Bafatá, 1968/70)... Ou não terá sido antes, na sequência do desastre do Rio Corubal, em Cheche, na retirada de Madina do Boé, em 6/2/1969 (Op Mabecos Bravios) ? No dia seguinte, Spínola deslocou-se a Nova Lamego, onde falou, às 12h00, aos sobreviventes da Op Mabecos Bravios...
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domingo, 4 de agosto de 2013
Guiné 63/74 - P11903: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (4): Um tiro numa cabra de mato... que deu direito a um prémio Governador Geral
1. Mais uma estória do David J. Guimarães, passada no Xitole, nos primeiros tempos da comissão da CART 2716 (1970/1972), e que andava perdida na I Série do nosso blogue:
Um dia, novinhos ainda, piras, com as fardinhas novinhas em folha, aí vamos nós. Sai o 1º Grupo de Combate. Patrulha em volta do aquartelamento para os lados de Seco Braima, o que era normal: acampamento IN....
Era bem de manhã. E a certa altura, zás, ouve-se o matraquear de espingardas automáticas:
─ Que coisa!... Oh diabo, estão a enrolar…
Os morteiros fixos lá fazem fogo de barragem. Novamente os experientes homens de armas pesadas. E que eficientes! Como eles faziam aqueles morteiros dispar tão amiúde e certeiro... Cessar fogo, tudo silêncio à volta, fora os abutres que logo foram ver o que acontecia.
─ Que aconteceu? E agora... Estará alguém ferido? O que aconteceu? O que vamos fazer?
Nenhum deles disse nada... mas voltaram depressa. E nós nem percebíamos ainda porque que é que eles voltaram assim tão rapidamente... Bem, lá regressa, da patrulha, o 1º Grupo de Combate. Ofegantes, e agora dentro do aquartelamento esboçando sorrisos, todos pretos... Que coisa, sempre que havias tiros ficava-se todo preto!
─ Que aconteceu ???
Lá vem a explicação: o grupo estava a instalar-se, para um tempinho em posição de emboscada. Uma cabra de mato passa em frente... Um soldado diz para o Alferes muito baixinho:
─ Alferes, cabra de mato!
─ Atira-lhe ─ responde o Alferes ─ Há rico tiro, pum, pum!!!
E não é que o IN estava lá emboscado, do outro lado da cabra? Seriam poucos, mas ao sentirem-se detectados deram uns tiros e fugiram, pois que entretanto também começaram a cair bem perto as granadas do morteiro do aquartelamento...
─ Manga de cu pequenino…
Olha que sorte, a santa cabra do mato!... Foi ela, afinal, o nosso anjo da guarda. O Correia voltou com o seu grupo de combate inteiro e o soldado que detectou a cabra... herói. Mais tarde foi-lhe proposto e concedido o prémio Governador Geral. Todos achámos muito bem, veio à metrópole. Se não fora assim, nunca iria lá de férias, porque não tinha dinheiro para isso...
Ninguém soube se a cabra morreu ou não, mas os homens, depois de contados, estavam todos... E os abutres também voltaram ao aquartelamento e continuaram a comer o que restava da vaca morta nesse dia...
A guerra tinha disto também, e ainda bem... Como entendê-la? Só um combatente... Este era o nosso tempo de recreio de guerra dentro da guerra.
David J. Guimarães
_________
Nota do editor:
domingo, 28 de julho de 2013
Guiné 63/74 - P11877: Memória dos lugares (240): Xime (macaréu), Bambadinca e Bafatá (José Rodrigues)
1. Mensagem do nosso camarada José Martins Rodrigues (ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72) enviada ao nosso Blogue:
Caro Editor do Blogue, Camarada e Amigo Carlos Vinhal:
Entendi ter chegado o momento de dar resposta positiva ao desafio, que há tempos atrás me colocaste, de publicar as minhas oito crónicas “Conversas à mesa com Camaradas Ausentes” (Estórias da História da Guerra Colonial na Guiné-Bissau) e das oito crónicas “A minha primeira viagem à Guiné – 1998”.
Deixo à consideração dos Editores do Blogue, o momento e a periodicidade da publicação das mesmas.
Para os camaradas que andaram por Bafatá, Bambadinca e Xime, envio para publicação um vídeo (de 2001) com pequenos apontamentos dessas zonas e que inclui ainda imagens da passagem do Macaréu no rio Geba, recolhidas no local do que resta do antigo cais do Xime.
De salientar que as imagens se referem à época seca.
Com um Cordial Abraço de Amizade e Camaradagem
José Rodrigues
Ex-1.º Cabo Aux. Enfermeiro
CART 2716
XITOLE
1970/72
2. Comentário do editor:
Caro camarada e amigo José Rodrigues,
De acordo com o combinado, vamos publicar as tuas estórias e as crónicas da tua primeira viagem de saudade à Guiné-Bissau. Fá-lo-emos com periodicidade semanal, em princípio às quartas-feiras.
Hoje, para começar, deixamos os links para o sempre espectacular macaréu, que em boa hora registaste no Xime, e para o filme (completo) que fizeste a caminho do Xime, Bambadinca e Bafatá, que irá lembrar boas e más horas a quem por lá passou.
Fica aqui um abraço dos editores para ti.
Carlos Vinhal
Vídeo, de 2001, com o macaréu no Rio Geba, no Xime, filmado a partir do antigo cais...
____________
Nota do editor
Último poste da série de 23 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11863: Memória dos lugares (239): Canjambari 1972 (2) (Manuel Lima Santos)
Caro Editor do Blogue, Camarada e Amigo Carlos Vinhal:
Entendi ter chegado o momento de dar resposta positiva ao desafio, que há tempos atrás me colocaste, de publicar as minhas oito crónicas “Conversas à mesa com Camaradas Ausentes” (Estórias da História da Guerra Colonial na Guiné-Bissau) e das oito crónicas “A minha primeira viagem à Guiné – 1998”.
Deixo à consideração dos Editores do Blogue, o momento e a periodicidade da publicação das mesmas.
Para os camaradas que andaram por Bafatá, Bambadinca e Xime, envio para publicação um vídeo (de 2001) com pequenos apontamentos dessas zonas e que inclui ainda imagens da passagem do Macaréu no rio Geba, recolhidas no local do que resta do antigo cais do Xime.
De salientar que as imagens se referem à época seca.
Com um Cordial Abraço de Amizade e Camaradagem
José Rodrigues
Ex-1.º Cabo Aux. Enfermeiro
CART 2716
XITOLE
1970/72
2. Comentário do editor:
Caro camarada e amigo José Rodrigues,
De acordo com o combinado, vamos publicar as tuas estórias e as crónicas da tua primeira viagem de saudade à Guiné-Bissau. Fá-lo-emos com periodicidade semanal, em princípio às quartas-feiras.
Hoje, para começar, deixamos os links para o sempre espectacular macaréu, que em boa hora registaste no Xime, e para o filme (completo) que fizeste a caminho do Xime, Bambadinca e Bafatá, que irá lembrar boas e más horas a quem por lá passou.
Fica aqui um abraço dos editores para ti.
Carlos Vinhal
Vídeo, de 2001, com o macaréu no Rio Geba, no Xime, filmado a partir do antigo cais...
Viagem, en 2001, à Guiné-Bissau, com passagem pelo antigo setor L1, zona leste. Neste vídeo, há cenas filmadas no Xime, Bambadinca e Bafatá [No vídeo, aparece por diversas vezes o Dr. António Rodrigues Marques Vilar, hoje médico psiquiatra reformado, residente em Aveiro. Aparece no vídeo de pera e chapéu de palhinha. Era carinhosamente conhecido, entre a malta, pela alcunha Drácula... Foi alf med na CCS/BART 2917, unidade que esteve sediada em Bambadinca (1970/72].
Neste vídeo, são revisitados vários sítios que nos são familiares, àqueles de nós que passaram por Bambadinca, desde o Bataclã de Bambadinca (discoteca...) até à casa do Rendeiro, o comercaiante da Murtosa, que morreu ainda há pouco tempo... O outro comerciante, o José Maria, já não era vivo em 2001. Nesta viagem também participou o David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716 (Xitole, 1970/72). A voz "off" deve ser do José Rodrigues, o autor do vídeio. (LG).
Vídeos: © José Ridrigues (2001). Todos os direitos reservados
Nota do editor
Último poste da série de 23 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11863: Memória dos lugares (239): Canjambari 1972 (2) (Manuel Lima Santos)
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domingo, 30 de junho de 2013
Guiné 63/74 - P11779: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (71): as pinturas do Xitole, recentemente redescobertas pelo Francisco Silva e pelo José Teixeira, são do meu amigo e vizinho, o pintor de Espinho, Armando Ribeiro que pertenceu à CCAÇ 818 (Bissau, Xitole e Saltinho, 1965/67) (David Guimarães, CART 2716, Xitole, 1970/72)
Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > Antiga casa do comando, agora transformada em morança particular. Pintura A, metade do lado esquerdo.
Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > Antiga casa do comando, agora transformada em morança particular. Pintura A, metade do lado direito.
Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > Antiga casa do comando, agora transformada em morança particular. Pintura A, pormenor do canto inferior esquerdo: ampliando a imagem, parece-me poder decifrar o nome do autor, Armando Ribeiro...E ainda uma data, ilegível, e um topónimo que me pode ser Xitole
Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > Antiga casa do comando, agora transformada em morança particular. "Com que emoção o Francisco Silva descobriu as pinturas nas paredes que alguém, muito antes dele, ali pintou"... Pintura B: Paisagem tipciasmente europeia, uma casa à beira do lago, com barco de recreio.
Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > Antiga casa do comando, agora transformada em morança particular. Pintura B, metade do lado esquerdo.
Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > Antiga casa do comando, agora transformada em morança particular. Pintura B, metade do lado direito.
Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > Antiga casa do comando, agora transformada em morança particular. "Com que emoção o Francisco Silva descobriu as pinturas nas paredes que alguém, muito antes dele, ali pintou"... Pintura C: Paisagem, tabanca, com 2 moranças, árvores, lago, 2 homens... É a pintura mais danificada... Ao alto, no canto superior direito, tem uma data, 10(?).7.94, seguida de um nome DAMA... Possivelmente de alguém, talvez um cooperante português, que por lá passou e vandalizou a pintura...
Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > Antiga casa do comando, agora transformada em morança particular. Pintura C, metade do lado esquerdo.
Guiné > Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de 2013 > Antiga casa do comando, agora transformada em morança particular. Pintura C, metade do lado direito.
Fotos: © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]
1. Mensagem do nosso camarada e amigo David Guimarães que esteve no Xitole, em 1970/72, e lá voltou em 2001, respondendo a um pedido de comentário ao poste P11772 (*)
Data: 29 de Junho de 2013 às 14:29
Assunto: Guiné 63/74 - P11772: Crónicas de uma viagem à Guiné....
Amigos Luís Graça e camaradas da Guiné...
Em relação ao poste e fotografias do amigo Silva que visitou o Xitole...vem efectivamente registadas em fotografias umas pinturas que perguntam agora pelo autor...
Quando lá fui em 2001, aquela porta estava fechada, visitei muitas coisas, não deu para tudo. Ao ver agora as pinturas e, sabendo quem provavelmente as teria pintado, logo fui ter com o meu amigo Arman do Ribeiro, de Espinho, que logo me disse que tinha sido ele... Datas: 1965 ou 66, no tempo em que ele (Armando Ribeiro) esteve no Xitole [, na CCAÇ 818]..
Na altura era ainda o Saltinho um destacamento desta companhia...
Bem, hoje passei na casa comercial de meu amigo e perguntei:
─ Isto é seu?
Ele disse que sim, que se lembrava de ter pintado essas coisas e na messe dos oficiais... Talvez que na altura a Formação e Comando do nosso tempo [, CART 2716,] fosse isso mesmo...
Deixo em baixo o nome do estabelecimento de meu amigo Armando Ribeiro, e ficam assim desvendados os mistérios que vão enriquecendo o nosso blogue... Naturalmente que aquelas pinturas não apareceram por acaso e alguém tinha sido o seu autor: pronto é meu vizinho e amigo!...
Abraço e agora vou me vestir depressa para rumar a Castelo de Paiva.Vou ter lá serenata...
Abraço a todos com amizade e fica o esclarecimento que é oportuno...
David Guimarães,
ex. Furr Mil At Art e Minas,
Xitole 1970/1972
______________
Pinturarte Armando Ribeiro
Rua 18, nº 943, rés-do-chão
4500-246 Espinho
Telefone 22 731 1373
E-mail > pinturartespinho@gmail.com
2. Comentário de L.G.:
David, obrigadíssimo!... Afinal, as "pinturas de parede do Xitole"... têm uma história !.. E foste tu que desvendaste o mistério... Mais uma vez é caso para dizer que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande! (**)...
Já tinha agradecido ao Francisco Silva e ao Zé Teixeira, este inesperado presente, para quem esteve no Xitole ou por lá passou, como foi o meu caso. Fiquei agradavelmente surpreendido por estes "achados", representados pelas pinturas de parede, na antiga casa de comando no Xitole...Como tive ocasião de o dizer, é verdadeira arte "naif", feita por alguém, talentoso, "que por lá passou, muito provavelmente do tempo da CART 2413 ou anterior"...É também um pedacinho da história de todos nós...
E apressei-me a .recordar que a CART 2413 (Xitole, 1968/70) foi uma companhia com quem a minha CCAÇ 12 (1969/71) tinha feito diversas operações no seu setor.. Esta subunidade, que será substituída pela CART 2716 (1970/72), a que pertenceu o nosso David Guimarães (que lá voltou em 2001, mas não teve oportunidade de rever estas pinturas). Antes, haviam passado pelo Xitole a CCAÇ 1551 / BCAÇ 1888 (20/4/1966 - 17/1/68) e a CART 1646 / BART 1904 (1967/68)... Faltou-me referir a CCAÇ 818 (1965/67)...
Foi, por pesquisa na Net, que fiquei a saber que o Armando Ribeiro pertenceu à CCAÇ 818: esteve na Guiné, em Bissau, Xitole e Saltinho, de Maio de 1965 a Fevereiro de 1967. Houve um convívio recente, em 2012, em São Martinho do Campo, do pessoal desta companhia, comemorando os 45 anos do seu regresso a casa . Um vídeo (de 12' 38''), disponível no You Tube (na conta do Cândido Viana Gonçalves, ex-1º cabo), comprova que o Armando Ribeiro esteve lá com a esposa. O Armando Ribeiro aparece aqui, ao minuto 4, no vídeo.
Tanto o Armando Ribeiro como o Cândido Viana Gonçalves (que esteve ou está emigrado, em Vevey, na Suiça) ficam, desde já, convidados a integrar a nossa Magnífica Tabanca Grande onde, até à data, não há nenhum representante da valorosa CCAÇ 818.
Há um outro vídeo, na mesma conta, com a atuação (?) de um grupo da CCAÇ 818, executando a canção "A Minha Terra é Linda" (3' 48'') [Não sabemos de quem é a autoria e a interpretação desta linda canção alentejana]...
Também encontrei a página do Facebook, do Armando Ribeiro. E, com a devida vénia, reproduzo aqui três fotos do seu álbum... Não há dúvida, pela análise do estilo, e por comparação com quadros recentes (a óleo ou acrílico), as pinturas do Xitole, datadas de 1965/66, só podiam ser da sua autoria!
O mestre Armando Ribeiro e algumas das suas obras recentes. Cortesia da página no Facebook Pinturarte.
_________________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 28 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11772: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (7): O Xitole e o "alfero" Francisco Silva (CART 3492, 1971/73), a emoção de um regresso
(**) 24 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11620: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (70): A Tabanca da Lapónia... em festa: o régulo José Belo, anfitrião e guia do João Graça (nosso tabanqueiro e músico da banda Melech Mechaya), na delegação de Estocolmo, hoje e amanhã...
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domingo, 12 de maio de 2013
Guiné 63/74 - P11556: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (3): Era do caraças o paludismo
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > 2005 > "No Saltinho, as bajudas continuam lindas, ontem, como hoje", escreveu o José Teixeira, quando lá voltou em Abril de 2005. Mas esta é (ou era, no nosso tempo) também uma região palúdica, devido à existência de rios e charcos de água, acrescenta o nosso David Guimarães, vítima do paludismo, como quase todos nós...
Foto: © José Teixeira (2005).Todos os direitos reseravdos
1. Texto do David Guimarães (ex-fur mul, at inf, minas e armadilhas, da CART 2716, Xitole, 1970/1972), um dos primeiros camaradas a aparecer, a dar cara, a escrever no nosso blogue, nos idos anos de 2005. O primeiro poste que temos dele é de 17 de maio de 2005, e era o nº 20 (Foi você que pediu uma Kalash ?). Este que reproduzimos a seguir foi o 480 (*). É mais uma das suas estórias do Xitole, escritas no seu português castiço, e que retratam bem o quotidiano de um operacional de uma unidade de quadrícula (**).
Nós sabemos o que era uma coluna logística, uma operação de reabastecimento, mas outros nem calculam o que seja... O vai haver coluna já era uma grande chatice... Andar até ao Jagarajá, à Ponte do Rio Jagarajá, a pé e a picar, não era pera doce... E depois? Se acaso acontecia mais algo a seguir?
Claro que não vou explicar o que é picar - não será necessário, antes fosse... O picar na tabanca era bem melhor, maravilha mesmo... Agora picar aquela estrada toda até ao Jagarajá, porra, que grande merda!... Na tabanca sempre era melhor, era pelo menos algo bem diferente do que ir a servir de rebenta minas...
Pois é, a grande operação, a saída da rotina. Depois havia que manter a guarda de manhã até à noite... É que, quando a coluna vinha para o Xitole, então também se ia ao Saltinho. Ufa, que grande merda, mas tinha que ser...
O Quaresma, o Santos e eu vivíamos os três na altura no mesmo apartamento do Xitole - um à esquerda, outro à direita e eu ao centro... Sempre simples e amigo da brincadeira, eu via os dois desgraçados com uma camada de paludismo a vomitarem e eu lá no meio a acalmá-los:
- Vocês são uns merdas, não valem nada... Pois, não fazem o que eu digo!.. Apanham isto por que não bebem. Quem bebe bem, safa-se!
E eles, coitados, riam e choravam ao mesmo tempo, e seguir lá vomitavam o que não tinham no estômago. O paludismo era assim... Bem, lá me levantava eu de manhã e lá ficavam eles na cama... Eles já tinham o cu como um crivo, só das injecções.
- Porra!, - dizia eu - quem dera nunca me dê esta merda...
Bem, mas eles melhoravam e eu estava bom, antes assim. São meus amigos, faço-lhes companhia e trago-lhes o correio... É verdade e lá parto de manhã, um belo dia, para a dita operação de segurança à coluna que vinha de Bambadinca...
- Ai, que bom não ser eu a picar, ainda bem!
Nos revezávamo-nos entre os três grupos de combate em cada coluna: ia um até ao Jagarajá, outro ficava no ponto intermédio e o outro adiante da Ponte dos Fulas, aquela ponte a 3 Km do Xitole onde estava sempre um grupo de combate. Esse limitava-se a ver passar o comboio... e a tomar conta da ponte, claro...
Bem, lá fomos nós por ali adiante, os três grupos, o meu no meio. Eu, como sempre levei duas Fantas -cerveja só no Xitole - enfim uma ou outra coisita da ração de reserva e doces, nem vê-los... É que aquelas geleias e coisas mais doces da ração atraía a nós uns mosquitos chatos e sobretudo umas formigas que ferravam e não nos largavam. Quantas vezes tivemos que as tirar das zonas púbicas - que bem que está a falar um ex-militar!... Quantas vezes tivemos que arrear as calças, para essa aflitiva operação!... Mas essa era outra guerra, paralela à coluna...
Lá progredimos e começámos a instalarmo-nos, ao lado da estrada, metidos uns 20 a 30 metros dentro do mato... Depois ali era esperar, esperar que os motores se começassem a ouvir e as viaturas a surgir, envoltas em nuvens de poeira:
- Aí vem a coluna!...
Já tínhamos morto umas centenas de moscas pequeninas que vinham fazer cócegas onde havia mais suor. O pulso era um dos seus alvos preferidos, mesmo na zona da correia do relógio...
Uma vez instalado, eis que me deu sede... Bebi uma Fanta, quase de um só gole. Ao mesmo tempo deu-me um frio danado, vomitei a bebida de imediato e tiveram que me cobrir com um camuflado. Comecei a tremer como varas verdes - não, dessa vez não era com medo, era com frio, arrepios de frio, no meio de um calor do caraças... Tive ainda forças para dizer:
- Lopes (era um cabo da minha secção), comande esta merda e meta-me na primeira viatura que aparecer... Estou com paludismo...
Porra, que eu nem forças tinha para me pôr de pé. Lá vim para a estrada, apoiado no cabo, até que enfim se ouve o trabalhar dos motores, as viaturas das colunas... O cabo mete-me na primeira...
- Sobe, diz o oficial.
Guiné > Zona Leste >Ector L1 >Xitole > 1970 > A coluna logística mensal de Bambadinca chega ao Xitole... Em cima da Daimler, ao centro o alferes miliciano de cavalaria Vacas de Carvalho, comandante do pelotão Pel Rec Daimler 2206 (Bambadinca, 1970/71); à sua direita, o furrriel miliciano Reis, da CCAÇ 12, à sua esquerda o furriel miliciano enfermeiro Godinho, da CCS do BART 2917, mais o furriel miliciano Roda, da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).
Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados
E lá fui eu a tremer até ao Xitole, a bordo o de uma viatura... de Cavalaria, a autometralhadora Daimler do Vacas de Carvalho, comandante do Pel Rec Daimler... Esse mesmo, o da fotografia, espero que não tenha sido nesse dia mesmo que eu fiquei doente; julgo que na altura lhe agradeci a boleia, mas se o não fiz, devido ao estado febril em que eu me encontrava, ainda vou a tempo, trinta e seis anos depois:
- Obrigado, meu alferes! Foi a melhor boleia, a mais oportuna, a mais rápida, que eu apanhei na puta da vida! Mesmo à justa!...
Bom, o resto da estória é fácil de imaginar: enfermaria, uns comprimidos e cama - uma semana de baixa!... Ai que bom, nem precisei de injecções... Aí naquele quarto de hotel de cinco estrelas, o que o Santos e o Quaresma - falecido pouco depois, uma história negra que hei-de aqui contar - me disseram!
- Então, seu caralho, tu é que eras o bom!...
- Por favor, deixem-me em paz! - pedia-lhes eu...
A guerra naquela zona sempre foi tremendamente difícil. Sei que o Xitole era das zonas da Guiné que mais problemas tinha com o caraças do paludismo: tínhamos muito charcos de água e dois rios bem perto, o Corubal e o Poulom, aquele da ponte dos Fulas... Chegámos a ter muita gente acamada ao mesmo tempo e não dávamos descanso à enfermaria...
Como estão a ver na guerra apanhava-se de tudo: boleias de Daimler, picadas de formigas, moscas e mosquitos, paludismo, além da porrada... Em matéria de picadas, também as fiz, picadas à pista de aviação de Bambadinca... Mas isso é outra estória, que fica para uma próxima...
- Sobe, diz o oficial.
Guiné > Zona Leste >Ector L1 >Xitole > 1970 > A coluna logística mensal de Bambadinca chega ao Xitole... Em cima da Daimler, ao centro o alferes miliciano de cavalaria Vacas de Carvalho, comandante do pelotão Pel Rec Daimler 2206 (Bambadinca, 1970/71); à sua direita, o furrriel miliciano Reis, da CCAÇ 12, à sua esquerda o furriel miliciano enfermeiro Godinho, da CCS do BART 2917, mais o furriel miliciano Roda, da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).
Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados
E lá fui eu a tremer até ao Xitole, a bordo o de uma viatura... de Cavalaria, a autometralhadora Daimler do Vacas de Carvalho, comandante do Pel Rec Daimler... Esse mesmo, o da fotografia, espero que não tenha sido nesse dia mesmo que eu fiquei doente; julgo que na altura lhe agradeci a boleia, mas se o não fiz, devido ao estado febril em que eu me encontrava, ainda vou a tempo, trinta e seis anos depois:
- Obrigado, meu alferes! Foi a melhor boleia, a mais oportuna, a mais rápida, que eu apanhei na puta da vida! Mesmo à justa!...
Bom, o resto da estória é fácil de imaginar: enfermaria, uns comprimidos e cama - uma semana de baixa!... Ai que bom, nem precisei de injecções... Aí naquele quarto de hotel de cinco estrelas, o que o Santos e o Quaresma - falecido pouco depois, uma história negra que hei-de aqui contar - me disseram!
- Então, seu caralho, tu é que eras o bom!...
- Por favor, deixem-me em paz! - pedia-lhes eu...
A guerra naquela zona sempre foi tremendamente difícil. Sei que o Xitole era das zonas da Guiné que mais problemas tinha com o caraças do paludismo: tínhamos muito charcos de água e dois rios bem perto, o Corubal e o Poulom, aquele da ponte dos Fulas... Chegámos a ter muita gente acamada ao mesmo tempo e não dávamos descanso à enfermaria...
Como estão a ver na guerra apanhava-se de tudo: boleias de Daimler, picadas de formigas, moscas e mosquitos, paludismo, além da porrada... Em matéria de picadas, também as fiz, picadas à pista de aviação de Bambadinca... Mas isso é outra estória, que fica para uma próxima...
_____________
Notas do editor:
(*) Originalmente publicad na I Série > 27 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXX [480]: Uma boleia na Daimler do Vacas de Carvalho (Xitole, David Guimarães)
(**) Último poste da série > 24 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11456: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (2): Nem santos nem pecadores
Notas do editor:
(*) Originalmente publicad na I Série > 27 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXX [480]: Uma boleia na Daimler do Vacas de Carvalho (Xitole, David Guimarães)
(**) Último poste da série > 24 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11456: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (2): Nem santos nem pecadores
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quarta-feira, 24 de abril de 2013
Guiné 63/74 - P11456: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (2): Nem santos nem pecadores
Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xitole > CART 2716, Xitole, 1970/1972) > A Helena e o David, em 1970.
Tal como Bambadinca, o Xitole era um posto administrativo, pertencente à circunscrição administrativa (concelho) de Bafatá. Com a guerra, tinha perdido importância económica e demográfica. "Sede do Posto Administrativo do mesmo nome, sede da CART 2716, com uma população normal de 300 habitantes, dispõe de 3 lojas comerciais em funcionamento. Sofreu forte repressão na sua importância comercial (principais fontes de riqueza, coconoto e madeira), com a guerra" (Fonte: História do BART 2917, Bambadinca, 1970/72).
Tal como Bambadinca, o Xitole era um posto administrativo, pertencente à circunscrição administrativa (concelho) de Bafatá. Com a guerra, tinha perdido importância económica e demográfica. "Sede do Posto Administrativo do mesmo nome, sede da CART 2716, com uma população normal de 300 habitantes, dispõe de 3 lojas comerciais em funcionamento. Sofreu forte repressão na sua importância comercial (principais fontes de riqueza, coconoto e madeira), com a guerra" (Fonte: História do BART 2917, Bambadinca, 1970/72).
Foto: © David J. Guimarães (2005). Todos os direitos reseravdos
É bom lembrar que, se a antiguidade fosse um posto, na nossa Tabanca Grande (ou tertúlia, como dizias no princípio), então o David já era general... De facto, ele foi dos primeiros camaradas a aparecer, a dar a cara, a expor-se, a desenterrara as memórias do baú, a escrever... Ele, o Sousa de Castro, o Humberto Reis, o A. Marques Lopes...
É por isso que as suas "estórias do Xitole" merecem, pelo menos algumas, ser reeditadas. Vai ser a nossa prenda de aniversário. O David merece. Foi também ele um dos primeiros a fazer uma viagem de saudade, à Guiné, em 2001... Aí vai, pois, o poste nº 2 de um série que tem estado interrompida. (*).. Em homenagem ao nosso tertuliano nº 3..., que é um tipo bonacheirão, nortenho, músico, camarada do seu camarada, amigo do seu amigo... Bebo um copo à tua, meu! (LG).
2. Estórias do Xitole (2) > Nem santos nem pecadores (**)
por David Guimarães
Até que enfim!... Acho que sim — não poderá haver tabus e ainda bem que o Zé Neto, o Zé Teixeira, o Jorge Cabral e o Luís são, afinal, os responsáveis por quebrarem o tabu... Falaram de algo que também é guerra... Foi e marcou a nossa guerra: a lavadeira, o cabaço, etc, etc... Ai, ai, ai, que começo a falar demais, ou talvez não...
Creio que nunca houve grandes abusos nesse sentido, nunca foi preciso apontar a G3 a nenhuma bajuda, já uns pesos, enfim ... Que mal fazia, se era dinheiro de guerra?!...
Também é importante todos dizermos que, nesse capítulo, não fomos nem santos nem pecadores. èramos humanos, soldados que passávamos uma vida metidos entre matos, entre perigos e guerras esforçados... E pela noite dentro, a escapadela da ordem, na tabanca. Ai que maravilha!... Foram muitos e belos romances... E aqueles que podiam ir a Bafatá, eram uns sortudos... Eu só no fim da comissão é que soube o que era Bafatá!...
Lembro-me de um romance de um camarada que comprou a liberdade de uma mulher. Os nativos pensaram que ele se tinha casado com ela... Bem, porreiro para ele! Não é segredo, foi verdade, e a testemunha foi o chefe de posto, isso mesmo, aquele que a mulher — linda ali, no Xitole!!! — morria de amores por um camarada nosso, já falecido...
E não vamos contar a do tenente que, às 4 horas da manhã, estava sentado no colo de um soldado.... Tudo boquiaberto? Aconteceu no Saltinho, sim ... Fora aquele camarada — ai Senhor do Céu ! — que, um dia, estava eu a dormir no palácio das confusões, e ele por cima de mim:
— Guimarães! — dizia o B..., camarada do Xime — porra, estás bem?
— Deixem-me dormir! — pedia eu... — Porra!...
— Pois é, estás porreiro!!!
Pois é e pois é... E eu dormi mesmo....De manhã fui perguntar se estava tudo com os copos durante a noite, que nem me deixavam dormir... Então disseram-me:
— Ó seu c..., então não sabes que o fulano tem uma amante que é um cabo !? —. Respondi eu:
— F...-se, que perigo em que eu estava... Porra!!! Já viram, a mina mesmo ali, mesmo por cima de mim?!...
Estávamos num beliche... Quem me perguntar, prometo que não digo o nome do camarada furriel — nem me lembro do nome... Sei apenas que foi meu carmarada de recruta nas Caldas da Rainha... Um dia, a CCAÇ 12 acompanhou uma coluna ao Saltinho... Houve no caminho um acidente onde morreu um soldado africano, condutor, e um furriel ficou ferido... Bem, lá ficou o camarada em convalescença no Xitole:
— Ai que vocês são tão simpáticos....
— Bem, bem...
[Foto à esquerda: David Guimarães, no Xitole, em 2001]
E o Cardoso (outro furriel que estava lá desde 1966) ... Esse pedia-me para eu fazer guarda mais pela noite... Vinha-me acordar, para eu seguir para a tabanca: vinha sempre de casa da Mariana, com as calças na mão, descomposto... E ria, ria... Lá ia eu, sempre furioso:
— Seu porco! — e ia ter com a Mariana e ela, coitada, queixava-se:
— Guimarás — pronúncia dela —, Cardoso manga de tolo, mas Mariana gostar dele....
Isto também era guerra — ou, se quiserem, os intervalos de guerra, que eram poucos... O suficiente, afinal, para se apanhar uma borracheira ou ir, com lindos penteados, passear à tabanda, para bajuda ver ou para quem aparecesse, pelos vistos....
_____________
Notas do editor:
(*) Vd. último poste da série > 18 de novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2278: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (1): A triste sorte do sapador Quaresma... morto por aquela maldita granada vermelha
(**) I Série, poste de 17 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXLVIII: Nem santos nem pecadores (David Guimarães)
(*) Vd. último poste da série > 18 de novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2278: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (1): A triste sorte do sapador Quaresma... morto por aquela maldita granada vermelha
(**) I Série, poste de 17 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXLVIII: Nem santos nem pecadores (David Guimarães)
Guiné 63/74 - P11455: Parabéns a você (567): David Guimarães, ex-Fur Mil da CART 2917 (Guiné, 1970/72)
********************
A pedido do nosso camarada David Guimarães, aqui fica desde as 15h30 esta gravura com que ele pretende agradecer os votos de feliz aniversário que lhe foram, e ainda virão a ser, enviados.
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Nota do editor:
Último poste da série de 21 de Abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11431: Parabéns a você (566): António Branquinho, ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 63 (Guiné, 1969/71)
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Guiné 63/74 - P10822: Mi querido blog, por qué no te callas?! (2): (i) A guerra também é capaz de revelar o que há de mais sublime nos seres humanos (Hilário Peixeiro); (ii) ... E eu estou nesta bela caravana há quase 9 anos (David Guimarães)...
1. Mensagem do Hilário Peixeiro, acabada de enviar (19h09), em comentário (off record) ao poste P10813 (*)
Caro Luis
Haverá várias razões para atitudes contra o que nos une no e ao blogue:
(i) uns porque "fugiram" à mobilização;
(ii) outros porque fugiram depois dela;
(iii) outros ainda porque tiveram a sorte de nascer depois da nossa geração;
(iv) etc;
Já assisti a comentários, semelhantes aos por si referidos, de camaradas meus que só conheceram a paz (graças a Deus) como se as nossas vivências os incomodassem ou os responsabilizássemos por as não terem vivido.
Uma guerra nunca é boa e é sempre uma tragédia para muitos. Mas quanta solidariedade, quanto do mais sublime que tem o ser humano, se manifesta só (infelizmente) nestas situações de sacrifício que pode ir até ao extremo?
Por isso o blogue irá viver por uns bons anos, se Deus quiser
Um forte abraço
Hilário Peixeiro
[Dx-comandante da CCAÇ 2403/BCAÇ 2851, Nova Lamego, Piche, Fá Mandinga, Olossato e Mansabá, 1968/70; atualmente, coronel na reforma]
2. Mensagem do grã-tabanqueiro nº 3, o David Guimarães, camarada da primeira hora, com data de 17 do corrente:
Caros amigos, caro Luís...
Tenho andado muito calado, mas sempre atento - naturalmente que coisas que vejo escritas com umas concordo, com outras afirmo "eu fui ator" e noutras vejo escritos romanceados.
No entanto tenho visto sempre respeito e curiosamente vejo efectivas correcções a eventuais escritos com certas imprecisões... Ainda bem que assim é, sinal da atenção e qualquer rectificação a um escrito feito só entra em benefício para que a história na circunstância fique mais precisa...
Muitos mais comentários possivelmente seriam de se colocar por aí mas contudo nota-se o receio de alguns, e serão milhares que nos lêem, e não escrevem (sei que gostarias que escrevessem). Torna-se evidente que quem não escreve, vai reparar na monopolização de artigos escritos, e bem, por outros nossos camaradas...
Certo é que há zonas, na circunstância, que são mais referidas do que outras, mas que fazer? Escrevam, a Guiné não está toda contada, a proposta inicial finalmente continua a ser cumprida e sei que pelo sacrificio de uns mais que outros... Refiro-me a editores e co-editores que fazem o favor de verem milhares e milhares de escritos que depois colocam em devido sítio... NÃO INVEJO O SEU TRABALHO MAS ELOGIO-OS POR TAL
... E cumpre-nos a todos ser uma coisa - camaradas, amigos...
Mas há gente que vive constantemente no "bota abaixo", coisa mais simples - e usando a adrenalina de quem não constrói nada e pouco sabe, pelos vistos, escreve coisas como essas que escreveu esse dito cujo anónimo... Se desse a cara, teria uma resposta, não a dando acho que ignorá-lo totalmente seria o melhor, pois não tem relevância o que diz nem fere em nada gente de bem como nós que andamos por aqui há tanto tempo a cruzarmos dados e batalhas, a contar a guerra que existiu e de que somos protagonistas. Esse às tantas nem lá andou ou às tantas, coitado, atingiu a senilidade antes de mim, paciência, isso é só de lamentar...
Assim passaria eu na minha opinião por cima disso, nem lhe teria dado resposta porque gente de boa fé não recorre ao anonimato.... Se estiver bem de saúde, ótimo, e então usaria o velho termo grosso popular: "Os cães ladram e a caravana passa"... Pois eu estou nesta bela caravana com 9 anos de existência, olha que bem... e vamos em frente!
Com um abraço,
David Guimarães
[Comentário de L.G.: Se a Tabanca Grande fosse uma empresa, e estivesse cotada na bolsa, o David Guimarães era um dos sócios fundadores, juntamente com o Sousa de Castro, o A. Marques Lopes, o Humberto Reis, e outros tertulianos da primeira hora, e hoje poderia estar... rico; foi fur mil, c/ a especialidade de minas e armadilhas, CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72].
__________________
Caro Luis
Haverá várias razões para atitudes contra o que nos une no e ao blogue:
(i) uns porque "fugiram" à mobilização;
(ii) outros porque fugiram depois dela;
(iii) outros ainda porque tiveram a sorte de nascer depois da nossa geração;
(iv) etc;
Já assisti a comentários, semelhantes aos por si referidos, de camaradas meus que só conheceram a paz (graças a Deus) como se as nossas vivências os incomodassem ou os responsabilizássemos por as não terem vivido.
Uma guerra nunca é boa e é sempre uma tragédia para muitos. Mas quanta solidariedade, quanto do mais sublime que tem o ser humano, se manifesta só (infelizmente) nestas situações de sacrifício que pode ir até ao extremo?
Por isso o blogue irá viver por uns bons anos, se Deus quiser
Um forte abraço
Hilário Peixeiro
[Dx-comandante da CCAÇ 2403/BCAÇ 2851, Nova Lamego, Piche, Fá Mandinga, Olossato e Mansabá, 1968/70; atualmente, coronel na reforma]
2. Mensagem do grã-tabanqueiro nº 3, o David Guimarães, camarada da primeira hora, com data de 17 do corrente:
Caros amigos, caro Luís...
Tenho andado muito calado, mas sempre atento - naturalmente que coisas que vejo escritas com umas concordo, com outras afirmo "eu fui ator" e noutras vejo escritos romanceados.
No entanto tenho visto sempre respeito e curiosamente vejo efectivas correcções a eventuais escritos com certas imprecisões... Ainda bem que assim é, sinal da atenção e qualquer rectificação a um escrito feito só entra em benefício para que a história na circunstância fique mais precisa...
Muitos mais comentários possivelmente seriam de se colocar por aí mas contudo nota-se o receio de alguns, e serão milhares que nos lêem, e não escrevem (sei que gostarias que escrevessem). Torna-se evidente que quem não escreve, vai reparar na monopolização de artigos escritos, e bem, por outros nossos camaradas...
Certo é que há zonas, na circunstância, que são mais referidas do que outras, mas que fazer? Escrevam, a Guiné não está toda contada, a proposta inicial finalmente continua a ser cumprida e sei que pelo sacrificio de uns mais que outros... Refiro-me a editores e co-editores que fazem o favor de verem milhares e milhares de escritos que depois colocam em devido sítio... NÃO INVEJO O SEU TRABALHO MAS ELOGIO-OS POR TAL
... E cumpre-nos a todos ser uma coisa - camaradas, amigos...
Mas há gente que vive constantemente no "bota abaixo", coisa mais simples - e usando a adrenalina de quem não constrói nada e pouco sabe, pelos vistos, escreve coisas como essas que escreveu esse dito cujo anónimo... Se desse a cara, teria uma resposta, não a dando acho que ignorá-lo totalmente seria o melhor, pois não tem relevância o que diz nem fere em nada gente de bem como nós que andamos por aqui há tanto tempo a cruzarmos dados e batalhas, a contar a guerra que existiu e de que somos protagonistas. Esse às tantas nem lá andou ou às tantas, coitado, atingiu a senilidade antes de mim, paciência, isso é só de lamentar...
Assim passaria eu na minha opinião por cima disso, nem lhe teria dado resposta porque gente de boa fé não recorre ao anonimato.... Se estiver bem de saúde, ótimo, e então usaria o velho termo grosso popular: "Os cães ladram e a caravana passa"... Pois eu estou nesta bela caravana com 9 anos de existência, olha que bem... e vamos em frente!
Com um abraço,
David Guimarães
[Comentário de L.G.: Se a Tabanca Grande fosse uma empresa, e estivesse cotada na bolsa, o David Guimarães era um dos sócios fundadores, juntamente com o Sousa de Castro, o A. Marques Lopes, o Humberto Reis, e outros tertulianos da primeira hora, e hoje poderia estar... rico; foi fur mil, c/ a especialidade de minas e armadilhas, CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72].
__________________
Nota do editor:
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Guiné 63/74 - P10510: Em busca de... (206): Camaradas que tenham conhecido o meu pai, Francisco Parreira (1948-2012), ex-1º cabo mec elect auto, Grupo de Artilharia nº 7, Bissau, 1970/72 (Filomena Maria de Sousa Parreira)
Guiné > Bissau > 25 de >Março de 1972 > Cerimónia de despedida da CART 2716 (Xitole, 1970/72), unidade de quadrícula do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), na presença do Com-Chefe General Spínola.
Foto: © Jorge Silva (2010). Todos os direitos reservados (Com a devida vénia...)
(...) Conforme combinado junto envio as fotos do meu pai, que esteve em Guiné em 1970/72.
Nota do editor:
Último poste da série > 27 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10445: Em busca de... (205): Manuel Moreira de Castro encontrou o camarada Santos, do BENG 447, ao fim de 44 anos
Foto: © Jorge Silva (2010). Todos os direitos reservados (Com a devida vénia...)
1. Em 5 de Julho passado, a nossa leitora Filomena Parreira fez seguinte comentário ao poste P7857:(...) Caros amigos, sou filha do 3º elemento da fotografia, não fazem referência ao nome mas tenho a certeza que é meu pai... Francisco Parreira, diz-vos alguma coisa?
Meu pai faleceu há pouco e por coincidência procurei na Net pelo nome dele...pois só me lembro dele e apareceu esta foto. Ele esteve em Guiné e nesta altura.... podem por favor enviar mais informação ?!
obg e bem-hajam, Filomena Parreira (...)
2. O nosso grã-tabanqueiro David Guimarães foi o primeiro a confirmar a não existência de nenhum militar com o nome de Francisco Parreira, em comentário ao mesmo poste:
(...) Amigo Luís e todos aqueles que nos vamos preocupando uns com os outros... Amigos: Eu, David Guimarães Furriel Miliciano, esclareço o seguinte: essa Companhia que em cima (na foto) desfila é a CART 2716 onde em memória não me lembro que tivesse algum elemento com o apelido Parreira.
Como a memória não dá para relembrar toda a companhia em nomes, então fui ao livro do Batalhão ver se haveria alguém de que eu me tivesse esquecido e que se chamasse Francisco Parreira. Lamento dizer que se deve tratar de um equívoco (...). Pedia à nossa amiga para efectivamente ver se não se tratará aí de algum sósia de seu pai - o que pode acontecer...
Um abraço e muito lamento pelo falecimento do Pai da nossa amiga e do pouco que possa ter sido útil... mas uma certeza tenho... Há equívoco... Abraço, David Guimrães (...)
3. No dia seguinte houve uma troca de correspondente entre o David e a Filomena:
(i) Filomena Parreira:
(...) Caros camaradas, obrigada pela atenção. Pode até ser equivoco, mas eu vou jurar que é o meu pai... Então tentarei enviar-vos uma foto dele e informação mais detalhada sobre a prestação dele na guerra, em África, pois ele esteve na Guiné e por esses anos...70/72abraço e obrigado pela força. (...).
(ii) David Guimarães:
Minha amiga, pois estarei atento à fotografia que enviar, no entanto procure saber se seu falecido pai era da CART 2716 e esteve no Xitole. Sabe que nessa data estávamos na Guiné cerca de 35 mil homens espalhados por tudo quanto é canto da Guiné, ora em Batalhões. em Companhias, em Pelotões e Companhias independentes, mais a Aviação e a Marinha... Qualquer um de nós poderia estar em algum lado...
Querendo, facultarei a página onde constam todos os nomes dos militares que vê aí nesse desfile e onde verificará não constar o nome de Francisco Parreira - falecido e que muito lamento (...).
4. Mais tarde, e procurando a ajudar a nossa amiga (, dentro daquele princípio da nossa Tabanca Grande segundo o qual "filho/a de um camarada nosso, nosso/a filho/a é"), sugeri à Filomena que fosse consultar a caderneta militar do seu pai... A 26 de julho ela trouxe, até nós, os seguintes elementos e identificação
De: [Filomena] Maria de Sousa [Parreira]
Data: 26 de Julho de 2012 12:15
Assunto: Meu pai, o Parreira
Bom dia caro Luis, já tenho novidades quando à identificação do meu pai, encontrei a caderneta e do que dela consta vejamos:
(i) Nome completo: Francisco Manuel de Almeida Parreira;
(ii) Nº matricula: 190543769;
(iii) Função : 1º cabo, curso Mec Elect auto;
(iv) Pertenceu ao Grupo de Artilharia nº 7 [ O Grupo de Artilharia de Campanha Nº 7 - Grupo de Artilharia Nº 7 ( GAC 7 - GA 7) teve Início em 1Jul70, e foi extinto em 14 de Outubro 1974 ]
(v) Esteve em (ou passou por) as seguintes unidades; RAP 3 em 1969; EPSM em 1970; RI 2 em 1970; GAC 7 e CICA em 1970; RAL 1 em 1972...
Meu pai faleceu há pouco e por coincidência procurei na Net pelo nome dele...pois só me lembro dele e apareceu esta foto. Ele esteve em Guiné e nesta altura.... podem por favor enviar mais informação ?!
obg e bem-hajam, Filomena Parreira (...)
2. O nosso grã-tabanqueiro David Guimarães foi o primeiro a confirmar a não existência de nenhum militar com o nome de Francisco Parreira, em comentário ao mesmo poste:
(...) Amigo Luís e todos aqueles que nos vamos preocupando uns com os outros... Amigos: Eu, David Guimarães Furriel Miliciano, esclareço o seguinte: essa Companhia que em cima (na foto) desfila é a CART 2716 onde em memória não me lembro que tivesse algum elemento com o apelido Parreira.
Como a memória não dá para relembrar toda a companhia em nomes, então fui ao livro do Batalhão ver se haveria alguém de que eu me tivesse esquecido e que se chamasse Francisco Parreira. Lamento dizer que se deve tratar de um equívoco (...). Pedia à nossa amiga para efectivamente ver se não se tratará aí de algum sósia de seu pai - o que pode acontecer...
Um abraço e muito lamento pelo falecimento do Pai da nossa amiga e do pouco que possa ter sido útil... mas uma certeza tenho... Há equívoco... Abraço, David Guimrães (...)
3. No dia seguinte houve uma troca de correspondente entre o David e a Filomena:
(i) Filomena Parreira:
(...) Caros camaradas, obrigada pela atenção. Pode até ser equivoco, mas eu vou jurar que é o meu pai... Então tentarei enviar-vos uma foto dele e informação mais detalhada sobre a prestação dele na guerra, em África, pois ele esteve na Guiné e por esses anos...70/72abraço e obrigado pela força. (...).
(ii) David Guimarães:
Minha amiga, pois estarei atento à fotografia que enviar, no entanto procure saber se seu falecido pai era da CART 2716 e esteve no Xitole. Sabe que nessa data estávamos na Guiné cerca de 35 mil homens espalhados por tudo quanto é canto da Guiné, ora em Batalhões. em Companhias, em Pelotões e Companhias independentes, mais a Aviação e a Marinha... Qualquer um de nós poderia estar em algum lado...
Querendo, facultarei a página onde constam todos os nomes dos militares que vê aí nesse desfile e onde verificará não constar o nome de Francisco Parreira - falecido e que muito lamento (...).
4. Mais tarde, e procurando a ajudar a nossa amiga (, dentro daquele princípio da nossa Tabanca Grande segundo o qual "filho/a de um camarada nosso, nosso/a filho/a é"), sugeri à Filomena que fosse consultar a caderneta militar do seu pai... A 26 de julho ela trouxe, até nós, os seguintes elementos e identificação
De: [Filomena] Maria de Sousa [Parreira]
Data: 26 de Julho de 2012 12:15
Assunto: Meu pai, o Parreira
Bom dia caro Luis, já tenho novidades quando à identificação do meu pai, encontrei a caderneta e do que dela consta vejamos:
(i) Nome completo: Francisco Manuel de Almeida Parreira;
(ii) Nº matricula: 190543769;
(iii) Função : 1º cabo, curso Mec Elect auto;
(iv) Pertenceu ao Grupo de Artilharia nº 7 [ O Grupo de Artilharia de Campanha Nº 7 - Grupo de Artilharia Nº 7 ( GAC 7 - GA 7) teve Início em 1Jul70, e foi extinto em 14 de Outubro 1974 ]
(v) Esteve em (ou passou por) as seguintes unidades; RAP 3 em 1969; EPSM em 1970; RI 2 em 1970; GAC 7 e CICA em 1970; RAL 1 em 1972...
(ii) Embarcou em Lisboa em 18 de setembro 70 com destino ao CTIG;
(ii) Desembarcou em Bissau, em 24 de setembro de 1970;
(iii) Regressou a 8 novembro de 1972:
(iv) Considerado serviço na GUINÉ - 100% desde 24-09-1970 até 6/11/72 ou seja 2 anos e 44 dias.
Posto isto, espero que me ajudem de alguma forma a compreender a vida do meu pai na guerra, por onde ele andou e o que fez…
Pois ele era um homem bastante sociável, mas com uma forma de estar, um temperamento um pouco reservado, calado, resistente e muito teimoso, inclusive até revoltado, vivia no mundo só dele; quanto ao estado de saúde, não aceitava outras opiniões..e bastava ter tido um pouco mais de cuidado que não se ia assim tão de repente.
Eu creio que deve-se também ao facto dos traumas que teve lá fora... Não se relacionava de forma equilibrada o suficiente para aceitar que os outros também tinham razão ...e se preocupavam consigo, principalmente a família. Havia sempre um sentido de forte, homem resistente.
Melhor que ninguém os camaradas podem me falar um pouco desses tempos, uma vez que do meu pai pouco sei... Ele não falava muito desse tempo, nada mesmo, aliás não gostava nada de falar da guerra. Algo me diz que muito há a dizer sobre o que vocês lá viveram e, de alguma forma, consequências e os porquês. Eu leio a história e sei do que se trata, mas quando nos toca aos nossos queremos outras respostas…
Sabe, a família também viveu os fragmentos da guerra.... Do que eu vi, ele tinha estilhaços nos braços pois esteve no meio de uma bomba...
Quanto as fotografias, não me esqueci, estou a tratar de digitalizar, em breve envio, porque muito me custa mexer nas coisas dele…
obrigado pelo vosso apoio e ajuda, bjs, Filomena Maria de Sousa Parreira
5. Mais recentemente, a 8 do corrente, a Filomena mandou-nos uma foto do pai [, vd. acima],
(ii) Desembarcou em Bissau, em 24 de setembro de 1970;
(iii) Regressou a 8 novembro de 1972:
(iv) Considerado serviço na GUINÉ - 100% desde 24-09-1970 até 6/11/72 ou seja 2 anos e 44 dias.
Posto isto, espero que me ajudem de alguma forma a compreender a vida do meu pai na guerra, por onde ele andou e o que fez…
Pois ele era um homem bastante sociável, mas com uma forma de estar, um temperamento um pouco reservado, calado, resistente e muito teimoso, inclusive até revoltado, vivia no mundo só dele; quanto ao estado de saúde, não aceitava outras opiniões..e bastava ter tido um pouco mais de cuidado que não se ia assim tão de repente.
Eu creio que deve-se também ao facto dos traumas que teve lá fora... Não se relacionava de forma equilibrada o suficiente para aceitar que os outros também tinham razão ...e se preocupavam consigo, principalmente a família. Havia sempre um sentido de forte, homem resistente.
Melhor que ninguém os camaradas podem me falar um pouco desses tempos, uma vez que do meu pai pouco sei... Ele não falava muito desse tempo, nada mesmo, aliás não gostava nada de falar da guerra. Algo me diz que muito há a dizer sobre o que vocês lá viveram e, de alguma forma, consequências e os porquês. Eu leio a história e sei do que se trata, mas quando nos toca aos nossos queremos outras respostas…
Sabe, a família também viveu os fragmentos da guerra.... Do que eu vi, ele tinha estilhaços nos braços pois esteve no meio de uma bomba...
Quanto as fotografias, não me esqueci, estou a tratar de digitalizar, em breve envio, porque muito me custa mexer nas coisas dele…
obrigado pelo vosso apoio e ajuda, bjs, Filomena Maria de Sousa Parreira
5. Mais recentemente, a 8 do corrente, a Filomena mandou-nos uma foto do pai [, vd. acima],
(...) Conforme combinado junto envio as fotos do meu pai, que esteve em Guiné em 1970/72.
Ele nasceu em 10/08/48 e faleceu a 27/09/12 [?], tinha 63 anos...
Peço desculpa por só entregar agora, mas isto não tem estao bom, eu tenho estado um pouco em baixo...O verão foi difícil. Faz-me muita falta o meu pai. Obrigado pela força e apoio e desejo que alguns colegas amigos se lembrem dele e me digam histórias e passagens sobre a vida na guerra. (...)
PS - Eis umas palavras que li e gostei e fazem-me refletir...é tudo o que sinto... "E chegará o dia em que o pai se cala de vez e aí passamos a compreender tudo aquilo que ele nos disse, tudo aquilo que ele nos quis ensinar. A lágrima rola com o avançar do tempo mas os dias não voltam para trás, nem nós voltámos para trás... talvez a memória, talvez a dor, de certeza a saudade." (desconhecido)
6. Comentário de L. G.:
Peço desculpa por só entregar agora, mas isto não tem estao bom, eu tenho estado um pouco em baixo...O verão foi difícil. Faz-me muita falta o meu pai. Obrigado pela força e apoio e desejo que alguns colegas amigos se lembrem dele e me digam histórias e passagens sobre a vida na guerra. (...)
PS - Eis umas palavras que li e gostei e fazem-me refletir...é tudo o que sinto... "E chegará o dia em que o pai se cala de vez e aí passamos a compreender tudo aquilo que ele nos disse, tudo aquilo que ele nos quis ensinar. A lágrima rola com o avançar do tempo mas os dias não voltam para trás, nem nós voltámos para trás... talvez a memória, talvez a dor, de certeza a saudade." (desconhecido)
6. Comentário de L. G.:
Obrigado, Filomena, faz-lhe bem falar do seu pai, num blogue de camaradas de armas. Você está a fazer o luto. Também perdi o meu, em abril deste ano, já com quase 92. Também estou a fazer o luto. Um pai é sempre uma perda irreparável. Resta-nos a saudade, a partilha, a memória. Vamos ver se aparece alguém do tempo do seu pai, algum camarada da matrópole ou do GAC 7 (Bissau, 1970/72). Um bj. Luis Graça
PS - Presumo que a data da morte do seu pai esteja errada... Se ele morreu com 63 anos, deve ter sido antes de 10 de agosto de 2012. Não será antes junho ou maio de 2012 ? O seu primeiro comentário é de 5 de julho de 2012. Mas isso, não é relevante. Por outro, diz-me que me mandou "fotos" (no plural)... Em anexo, só vinha esta, que agora publicamos acima. Deve ter fotos do tempo da Guiné. São mais fáceis de reconhecer por parte dos camaradas do seu pai.
______________________PS - Presumo que a data da morte do seu pai esteja errada... Se ele morreu com 63 anos, deve ter sido antes de 10 de agosto de 2012. Não será antes junho ou maio de 2012 ? O seu primeiro comentário é de 5 de julho de 2012. Mas isso, não é relevante. Por outro, diz-me que me mandou "fotos" (no plural)... Em anexo, só vinha esta, que agora publicamos acima. Deve ter fotos do tempo da Guiné. São mais fáceis de reconhecer por parte dos camaradas do seu pai.
Nota do editor:
Último poste da série > 27 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10445: Em busca de... (205): Manuel Moreira de Castro encontrou o camarada Santos, do BENG 447, ao fim de 44 anos
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