Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
Guiné 63/74 - P2493: Estórias de Guileje (6): Eurico de Deus Corvacho, meu capitão (Zé Neto † , CART 1613, 1966/68)
Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68)> O grande momento do dia, a distribuição do correio, a chegada dos aerogramas que vinham da Metrópole, através do SPM - Serviço Postal Militar, com notícias dos entes queridos e dos amigos (O aerograma, na Guiné, era também conhecido por bate-estradas...) (LG)
Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68)> Alguns dos quadros da companhia, vestidos com trajes fulas... Presume-se que fosse uma brincadeira de Carnaval... Dois militares parodiam a PM- Polícia Militar... O Cap Corvalho pode ser o terceiro a contar da esquerda, pelo menos ostenta é alguém que ostenta as divisas de capitão. "Aqui de certeza é o Corvacho, um bom amigo", garante-me o Nuno Rubim ... (LG).
Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68)> O então 2º Sargento José Neto, vestido com traje fula... (LG).
Fotos: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). (Fotos do José Neto † , reeditadas por Albano Costa). Direitos reservados.
1. Texto, da autoria do saudoso Cap José Neto (1929-2007), que exerceu funções de 1º Sargento na CART 1613 (São João, Brá, Guileje, Bula, 1966/68), sob o comando do Cap Eurico Corvacho (1)
O Capitão de Artilharia Eurico de Deus Corvacho
por José Neto
Fixação, revisão do texto e subtítulos: L.G.
Creio que é esta a primeira vez que alguém traz ao blogue uma figura concreta dum comandante da campanha da Guiné. Não se trata dum vulgar panegírico, que seria natural nas palavras do seu primeiro-sargento, mas sim duma homenagem devida ao Homem que transformou e comandou a CART 1613/BART 1896, desde 25 de Dezembro de 1966 até duas semanas depois de 9 de Setembro de 1968.
(i) A tragédia da noite de Natal de 1966, em São João, em que o Cavaco matou o comandante da companhia, o Alf Art, graduado em Capitão, Fonseca Ferraz
Inicialmente, na orgânica do Batalhão, o Cap Corvacho era o oficial mais antigo no seu posto e desempenhava as funções Oficial de Pessoal e Reabastecimento.
Na nossa primeira noite de Natal, com pouco mais de um mês de Guiné, em São João, um soldado nosso matou, a tiros de G3, o comandante da companhia (2).
No dia 25 de Dezembro [de 1966] vieram dois helis com oficiais que indagaram, investigaram, fotografaram e regressaram a Bissau sem o Cap Corvacho, que ficou a comandar, interinamente, a companhia.
Eu já tinha lidado com ele em Brá, pois foi o oficial instrutor dum processo disciplinar que exigi ao comandante, na iminência de ser punido por uma infracção de trânsito - excesso de velocidade da viatura que me transportava - apenas em face da participação dum furriel da PM e dum sistema de detecção de velocidade discutível.
O Cap Corvacho (que tinha o curso de Polícia Militar) levou as suas averiguações até ao mínimo pormenor e concluiu – e assim o exarou no final do processo – que a minha ordem ao condutor (não dada, mas assumida) de ultrapassar uma camioneta do BENG [Batalhão de Engenharia] que travou ao ver a patrulha da PM, foi a adequada para evitar a possível colisão, e o excesso de velocidade assinalado pelo aparelho, 12 Km/hora (62-50) em nenhum momento pôs em perigo a circulação na faixa contrária.
Estas conclusões não foram do agrado do comandante. Atirou o processo para as mãos do Capitão e ordenou-lhe que reformulasse os autos porque me queria punir.
O Corvacho voltou a pôr o processo em cima da secretária do comandante e disse-lhe que a única solução era ele nomear um oficial (teria de ser o 2º comandante) para lhe instaurar, a ele Capitão, outro processo, este por desobediência, porque se negava, terminantemente, a alterar uma vírgula que fosse no que ali estava escrito.
Este gesto valeu-lhe a inscrição na lista dos coirões mal-amados do comandante, onde já figuravam, desde fins de Maio, a 2ª Companmhia de Instrução do RAP 2 (mais tarde CART 1613) no seu todo, o seu falecido comandante e este vosso modesto escriba.
O primeiro acto de comando do Capitão Corvacho foi mandar formar a companhia. A sua breve alocução resumiu-se a:
- Estou aqui para vos comandar até à chegada do novo comandante que há-de vir da Metrópole. Enquanto esta situação se mantiver vou exigir-vos o máximo e dar-vos todo o meu apoio. A minha primeira exigência fica já aqui: O que se passou esta noite foi uma tragédia que, contada e recontada, pode vir a sofrer deturpações que em nada favorecem a companhia. Por isso não vos peço que esqueçam, mas sim que não alimentem as coscuvilhices de Bissau e acho que a melhor resposta que podemos dar aos curiosos é: Isso é um assunto interno da companhia, ponto final.
Mandou destroçar e convocou os oficiais e sargentos para uma reunião. Disse-nos que queria o pessoal o mais ocupado possível. Que fossem à lenha, que fossem jogar a bola, que fossem banhar-se na praia, e que o resto do programa de treino operacional era para cumprir no duro.
Depois chamou-me à parte e fomos dar uma volta para conhecer o quartel – eu tinha chegado ali na véspera, pois tinha ficado em Brá a tratar da papelada e pedi para ir passar o Natal com os “meus rapazes” – e a nossa conversa andou à volta da situação algo calamitosa em que se encontrava o sector da alimentação com os desvarios que o Furriel vaguemestre tinha apontado na reunião.
Ficou assente que eu não ia regressar a Bissau no dia 27, como estava previsto, e ficava em São João a fazer um balanço e pôr um pouco de ordem no sector administrativo enquanto ele ia tentar tirar a pele ao pessoal até fazer deles uns combatentes de verdade.
(ii) Uma inédita manifestação de soldados, em apoio ao novo Comandante
Em princípios de Janeiro de 1967, a CART 1613 que regressou a Brá para ficar como companhia de intervenção à ordem do Comando-Chefe, era outra.
Entretanto chegou a Bissau o oficial nomeado para comandar a companhia, o Capitão de Artilharia Lobo da Costa, e gerou-se um pandemónio dos diabos.
Eu nunca tinha visto, nem achava possível, uma manifestação de soldados. Mas o que é certo é que, por organização espontânea, a minha tropa foi postar-se frente ao gabinete do comando do batalhão a gritar:
- O nosso comandante / é o capitão Corvacho.
Com a voz embargada pela comoção, o Capitão Corvacho disse-lhes:
- Vocês não sabem o que me estão a pedir… mas fico na companhia. Vou trocar as funções com o vosso novo comandante. Ponham- se a andar.
Toda a companhia, desde o Básico ao Alferes mais antigo, compreendeu aquela decisão do Homem que trocava o sossego da Messa e da Gestetner (máquinas dactilográficas e policopiadoras) pela terrível G3.
(iii) Uma postura do anti-herói
Seguiu-se um período de cerca de quatro meses de vai e volta. A companhia, aquartelada em Brá, era mandada para os mais diferentes pontos do território, andava por lá dez, quinze dias, e voltava estoirada, mas com um sentimento de dever cumprido cuja expressão máxima era o uso, em qualquer dos uniformes, do Lenço Verde que nos tinha calhado em sorte ainda em Viana do Castelo (todas as companhias do batalhão tinham o seu, de cores diferentes).
Foi numa dessas operações, na área de Pelundo/Jolmete, zona de responsabilidade dum Batalhão de Cavalaria sediado em Teixeira Pinto, que a CART 1613 mais se notabilizou, tendo o comandante do BCAV atribuído ao Cap Corvacho um extenso louvor que deu origem à condecoração com a Medalha de Cruz de Guerra de 2ª Classe.
Ironicamente, saliento que o meu Capitão tinha a postura característica do anti-herói que o cinema nos impinge e afinal a Pátria consagrou-o como Herói.
E para adensar a narrativa acrescento que o Cap Corvacho estava, nessa altura, em litígio com as chefias militares, porque no dia em que completou oito anos de serviço como oficial, requereu, ao abrigo do EOE (Estatuto do Oficial do Exército), a sua passagem ao escalão de Complemento (milicianos) desligando-se assim da actividade militar.
Com torneados e floreados, foi-lhe indeferida a pretensão. Só eu e poucos graduados tínhamos conhecimento desta faceta.
Este revés provocou-lhe uma imensa raiva interior, mas em nada buliu na sua condição de militar e o pessoal continuou a seguir o seu capitão até às profundezas do inferno se tal fosse necessário e a cantar, quase como hino, “Eles comem tudo/Eles comem tudo/Eles comem tudo/E não deixam nada" - a canção Os Vampiros do Zeca Afonso, proibida no Chiado e arredores, mas difundida em alto som em Guileje, onde morámos e combatemos cerca de um ano.
Podia terminar aqui a minha narrativa. Porém, falta esclarecer o motivo porque, no princípio, eu escrevo os limites temporais do seu comando entre 25 de Dezembro de 1966 e 9 de Setembro de 1968 e mais duas semanas.
(iv) Enfrentando a burocracia militar, no fim da comissão
O dia 9 de Setembro de 1968 foi o do embarque de regresso da CART 1613. Nessa altura nós ainda andávamos às voltas com a liquidação das três cargas de materiais à nossa responsabilidade. Uma deixada em Colibuia para entregar a quem aparecesse; outra entregue aos nossos substitutos de Guilege, cheia de falta isto, falta aquilo; e a última, a de Buba e destacamentos de Nhala e Chamarra. Até das Mauser entregues à população em auto defesa éramos responsáveis sem nunca as termos visto.
Perante a situação de eu ir ficar sozinho com 124 (cento e vinte e quatro) autos de ruína, extravio, etc. em curso, e alguns a elaborar, pois o reles 1º sargento das cargas, na Bolola, tinha o prazer sádico de ir descobrir mais uma ficha que não estava a zero e chapar-ma na cara, em face disto, dizia, o Capitão Corvacho resolver adoecer e faltar ao embarque.
Usando a sua influência junto dos seus conhecidos (por sorte o chefe do Serviço de Material tinha sido seu condiscípulo na Academia Militar) em dez ou onze dias coleccionámos os carimbos, vistos e despachos para, posteriormente, ficar tudo a zero, com algum ressabiamento do reles da Bolola.
Duas semanas depois o Niassa voltou e levou o meu Capitão.
Eu fiquei até meados de Outubro, dependente do fecho de contas do CA (Conselho Administrativo) do BART 1896 nas quais a minha (conta da CART 1613) estava incluída.
Este, embora descrito a traços largos e descoloridos, foi o Capitão de Artilharia Eurico de Deus Corvacho, ainda hoje o meu Capitão. O seu envolvimento no 25 de Abril de 1974 e período subsequente [em que nomeadamente foi brigadeiro graduado em 1975, tendo estado à frente da região Militar do Norte], considerado, por muitos, algo controverso, para mim foi absolutamente coerente, não obstante o meu modo de ver possa não coincidir com o meu modo de ser.
Nos dias que correm o meu Capitão emprega a sua enorme coragem na luta contra uma doença grave. No passado dia 4 de Junho de 2005, amparado pelo nosso grande amigo Dr. Joaquim de Oliveira Martins, o ex-Alferes Médico do Batalhão que preferia estar connosco em Guileje em vez da ainda calma Buba, não deixou de ir almoçar a Braga com os seus homens. Vi muitos ex-soldados a disfarçar os soluços ao verem a dificuldade de locomoção do Homem que, nos seus imaginários, era o primeiro a avançar lá longe nas matas da Guiné.
José Afonso da Silva Neto
Comentários:
Gostei muito de ler esta memória. Ela confirma a excelente opinião que tenho de Corvacho, que conheci e com quem conversei muita vez depois do 25 de Abril, nas décadas de 70 e 80 mas de quem deixei de ter notícias há muitos anos. Foi com tristeza que li que não se encontra bem de saúde. Se me puder facultar algum contacto dele ou da família, ficar-lhe-ia agradecido.
Raimundo Narciso, 2/24/2006.
Embora conhecesse o relato aqui descrito, contado na primeira pessoa, não posso deixar de ficar emocionado com a forma como é retratado o meu pai. Cumpre-me informar a todos os seus camaradas de que, mais uma vez com muita coragem, continua a sua luta contra a doença.
Estou contactável pelo e-mail e_corvacho@netcabo.pt
Eurico C. Corvacho, 1/29/2008
3. Comentário de L.G.:
Os nossos camaradas da Guiné que estão hoje em sofrimento, devido a doença prolongada, merecem a nossa solicitude, compaixão, solidariedade, amizade, camaradagem... Lembrá-los enquanto estão vivos é a maior homenagem que podemos fazer-lhes. Daí eu ter decidido recuperar este texto, já antigo, publicado na 1ª série do nosso blogue pelo nosso patriarca Zé Neto que continua, também ele, bem presente na nossa memória.
Peço ao seu filho, Eurico C. Corvalho, que transmita ao seu pai e nosso camarada as nossas saudações bloguísticas. Um grande Alfa Bravo da nossa Tabanca Grande. Aqueles de nós que forem proximamente a à Guiné-Bissau e a Guileje levarão a incumbência de lhe fazer uma pequena homenagem a ele, ao Zé Neto e aos demais camaradas da valorosa CART 1613.
Vd. outros postes desta série Estórias de Guileje (3).
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Notas dos editores:
(1) Vd. poste de 23 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXVI: O meu capitão, o capitão Corvacho da CART 1613 (1966/68) (Zé Neto)
(2) Vd. poste de 11 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXI: Memórias de Guileje (Zé Neto, 1967/68) (7): Francesinho e Cavaco, o belo e o monstro
(...) O Soldado Condutor Auto Rodas José Manuel Vieira Cavaco abateu a tiro o primeiro comandante da companhia, Alferes de Artilharia, graduado em Capitão, Fausto Manteigas da Fonseca Ferraz, na noite de 24 para 25 de Dezembro de 1966 (Natal), no aquartelamento de S. João, frente a Bolama, onde a unidade se encontrava em treino operacional (...).
(...) O Cavaco foi condenado, em Bissau, no Tribunal Militar, a uma pena de vinte e três anos de prisão maior, a cumprir em estabelecimento penal adequado na Metrópole. O Zé Neto nunca mais o vi, mas teve "notícias de que o rapaz não cumpriu nem metade da pena".(...)
(3) Vd. postes anteriores:
30 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2492: Estórias de Guileje (5): Os nossos irmãos artilheiros Araújo Gonçalves † e Dias Baptista † (Costa Matos / Belchior Vieira)
29 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2489: Estórias de Guileje (4): Com os páras, na minha primeira ida ao Corredor da Morte (Hugo Guerra)
27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gandembel (ex-Fur Mil Art Paiva)
23 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2473 - Estórias de Guileje (2): O Francesinho, morto pela Pátria (Zé Neto † )
14 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2437: Estórias de Guileje (1): Num teco-teco, com o marado do Tenente Aparício, voando sobre um ninho de cucos (João Tunes)
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
Guiné 63/74 - P2492: Estórias de Guileje (5): Os nossos irmãos artilheiros Araújo Gonçalves † e Dias Baptista † (Costa Matos / Belchior Vieira)
Foto: © Amaral Bernardo (2007). Direitos reservados.
1. Texto enviado pelo Cor Art, na reforma, Costa Matos:
Agora que Guileje está, por motivos vários, na ordem do dia, envio-lhe, por sugestão do meu camarada de curso Coronel Nuno Rubim, um extracto de uma conferência proferida em 2004, na Liga dos Combatentes, pelo Tenente General Belchior Vieira (2).
Era bom que tantos episódios reveladores de rara corgem e abenegação protagonizados por humildes e esquecidos Portugueses (com letra grande), fossem trazidos ao conhecimento dos seus concidadãos e, em sua memória, fossem exaltados como merecem. Talvez com isso se minimizasse a injustiça com que têm sido omitidos da História.
É pena que não saibamos merecê-los e é triste que se tenham sacrificado em vão!
Bem haja pelo trabalho que vem realizando e pelo contributo que tem conseguido dar à História que, um dia, alguém virá a a contar com rigor,verdade e isenção.
Com os meus cumprimentos.
Costa Matos,
Coronel de Artilharia na reforma
2. Comentário do editor L.G.:
Agradecemos ao Cor Costa Matos esta gentileza. Tomamos a liberdade de publicar, com a devida vénia, o texto agora recebido na série Estórias de Guileje (3)
3. Estórias de Guileje > O irmão artilheiro
Extracto de uma conferência sob o título “O IRMÃO ARTILHEIRO”, proferida em 2004, pelo Tenente General Belchior Vieira, na Liga dos Combatentes, e publicada nesse mesmo ano na Revista Combatente, editada pela Liga.
(...) Do episódio, Guileje 1969, tive conhecimento quando, em 1982, como Director da Revista de Artilharia, me foi facultada pelo então Brigadeiro Ricardo Durão, Director do Serviço de Justiça e Disciplina, a consulta do processo sobre ele elaborado.
A Revista de Artilharia obteve ainda o depoimento do então Major Barbosa Henriques (4), que fora Comandante da Companhia de Caçadores 2316.
Com a retracção do nosso dispositivo na Zona Sul do TO da Guiné, desenvolvida desde 1968, o aquartelamento de Guileje, sede da Companhia de Caçadores 2316, passou a estar, em 1969, isolado, a oito quilómetros da fronteira Leste com a Guiné-Conacri.
As acções desencadeadas pelo PAIGC, até então repartidas pelos aquartelamentos evacuados (Cacoca, Sangonhá, Gandembel e Mejo), vieram a concentrar-se, a partir daí, sobre Guileje, de tal modo que, desde 28 de Janeiro de 1969 (data em que ficou concluída a evacuação do Mejo) até 14 de Fevereiro, se registaram 59 flagelações.
Na noite de 14 de Fevereiro, o aquartelamento foi submetido a um violento bombardeamento de morteiros e de canhões S/R, precedido de uma regulação de tiro e prolongando-se por cerca de duas horas.
Com os postos guarnecidos de acordo com o plano de defesa e referenciadas, pelos clarões dos disparos, as posições das armas inimigas, imediatamente a única boca de fogo de artilharia, um obus de 10,5 do 6° Pelotão da Bataria de Artilharia de Campanha n°1 (o outro obus fora evacuado para reparação) e um morteiro de 10,7 abriram fogo, quer sobre as posições referenciadas, quer sobre posições donde, do antecedente, o inimigo desencadeara as suas acções.
Verificava-se, entretanto, uma crescente intensidade do fogo inimigo, o que obrigou ao empenhamento dos dois morteiros de 81 disponíveis. 0 Alferes José Manuel de Araújo Gonçalves, Comandante do Pelotão de Artilharia, e o Furriel António da Conceição Dias Baptista, Comandante de Secção, que eram sempre os primeiros a guarnecer a boca de fogo, aperceberam-se da intensidade de fogo e da violência do ataque.
De imediato, ordenam aos serventes, na sua maioria guineenses, que se abrigassem numa trincheira junto da posição, permanecendo os dois junto do obus, carregando, apontando e disparando, indiferentes ao bombardeamento que atingia, com excepcional precisão, o aquartelamento. Um impacte directo de uma granada de canhão S/R numa das conteiras do obus provoca-lhes a morte imediata.
0 Alferes Araújo Gonçalves, natural de Lisboa, terminou o Curso de Oficiais Milicianos na Escola Prática de Artilharia em Junho de 1968 e desembarcara em Bissau em Novembro do mesmo ano, destinado à Bataria de Artilharia de Campanha n° 1. Foi condecorado, a título póstumo, com a Medalha de Prata de Valor Militar, com Palma.
0 Furriel Dias Baptista, natural de S. Domingos de Rana, terminou o Curso de Sargentos Milicianos na Escola Prática de Artilharia em Dezembro de 1967 e desembarcara em Bissau em Abril do mesmo ano. Foi condecorado, a título póstumo, com a Cruz de Guerra de 1.ª Classe. (...).
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Notas dos editores:
(1) Vd. poste de 2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1489: Tertúlia: Formalizo o meu pedido de entrada (Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico, Catió, BCAÇ 2930)
(2) Há dias o Nuno Rubim tinha-nos mandado a seguinte mensagem sobre "os materiais de artilharia de Guileje":
Caro Luís Graça: Este é apenas um email para te elucidar sobre a problemática da utilização de bocas de fogo de artilharia em Guileje, questão ainda em aberto no que concerne às datas de serviço.Julgo que não vale a pena colocá-lo no blogue.
A 1ª referência que tenho é a de que foram atribuídos a Mejo (então um destacamento de Guileje) dois obuses de 8, 8cm, em data ainda não averiguada (possivelmente 1967, segundo uma foto do Cap Neto). No meu tempo, 1966, não foi.
Aquando do abandono de Mejo (Janeiro de 1969) foram recolhidos em Guileje. Em data ainda indeterminada foram substituídos por 2 (?) obuses de 10,5 cm e posteriormente (possivelmente em 1972 ) vieram 3 peças de 11,4 cm (daí teres as fotos do Casimiro Carvalho com o 10,5 e depois com o 11,4, em Guileje) [Em Gadamael, esclareceu posteriormente o José Casimiro Carvalho: é que em Guileje ele não andava em calções de banho...].
E, como sabemos, em 16 de Maio de 1973 estes [, as peças 11,4,] foram substituídos por 2 obuses de 14 cm. Continuarei as pesquisas (...).
(3) Vd. postes anteriores desta série Estórias de Guileje:
29 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2489: Estórias de Guileje (4): Com os páras, na minha primeira ida ao Corredor da Morte (Hugo Guerra)
27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gandembel (ex-Fur Mil Art Paiva)
23 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2473 - Estórias de Guileje (2): O Francesinho, morto pela Pátria (Zé Neto † )
14 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2437: Estórias de Guileje (1): Num teco-teco, com o marado do Tenente Aparício, voando sobre um ninho de cucos (João Tunes)
(4) Sobre Barbosa Henriques, nascido em Cabo Verde, e que também foi instrutor da 1ª Companhia de Comandos Africanos, em Fá Mandinga, em 1970, vd. postes de:
19 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1536: Morreu (1)... Barbosa Henriques, o ex-instrutor da 1ª Companhia de Comandos Africanos (Luís Graça / Jorge Cabral)
19 de Março de 2007> Guiné 63/74 - P1611: Evocando Barbosa Henriques em Guileje (Armindo Batata) bem como nos comandos e na PSP (Mário Relvas)
Guiné 63/74 - P2491: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (4) (Carlos Silva)
Revisão e fixação do texto: vb
O Comando do BCAÇ nº 2879 comunica que havia assumido a responsabilidade do Sector 02, substituindo assim o COP3, que antes se encontrava em Farim.
Daqui havia partido há pouco mais de um ano o Ten Cor Agostinho Ferreira, que tinha estado anteriormente a comandar o BCAÇ 1887 no sector de Farim, tendo rendido ali o BART 1733 e posteriormente foi rendido pelo BCAÇ 1932, vindo agora substituí-lo com o BCAÇ 2879 (1).
Apesar de toda esta movimentação ser da vontade do nosso Comandante, a História tem coisas destas.
Localização do Sector de Farim – Zona de actuação do Batalhão e Companhias Independentes
O mapa a abrange quase toda a região do Oio, onde se situa o sector
Caracterização Geral do Sector
1. O Terreno e Recursos
O terreno deste Sector pode-se considerar plano pois a cota mais alta é de 59 metros. Tem a configuração da metade inferior de um coração, tendo por limites:
- Norte, a fronteira com a República do Senegal, desde o marco 122, próximo do Dungal até ao marco 96 próximo de Sitató;
- Sul, Saliquinhedim-K3 e Rio Canjambari;
- Nascente, antiga tabanca de Solucocum, rios Uranto e Canjambari;
- Poente, Binta, Cufeu e Guidage.
Como estradas principais utilizáveis existiam a estrada Ponte do Rio Caúr - Farim - Jumbembem - Cuntima, que noutros tempos ligava ao Senegal. De Jumbembem saía outra estrada que liga a Canjambari e que segue para o sector vizinho, para Fajonquito, não se efectuando na altura quaisquer ligações com o sector do lado.
As estradas Farim - Dungal e Cuntima - Sitató não estavam utilizáveis. De Farim depois de passar o rio Cacheu, existem as estradas que ligam Farim - Olossato, que não era utilizada e Farim - Mansabá, que presentemente dentro do Sector, apenas era utilizada até Saliquinhedim, tabanca mais conhecida por K3.
Estava previsto a abertura desta estrada, que beneficiaria grandemente a tropa e as populações presentes na área, tal como veio a acontecer.
Os recursos eram fracos e não chegavam para o abastecimento normal, quer de militares quer de civis. Praticamente, era tudo trazido de Bissau, quer por via marítima, através de batelões ou lanchas da Marinha, que navegavam no Atlântico, subindo depois o rio Cacheu até Farim, quer por via aérea através do velho Dakota ou de Nord-Atlas.
No que respeitava a fruta e outros frescos pode dizer-se que não havia, dada a exiguidade das quantidades que iam aparecendo no mercado e que se resumiam a bananas, mangos e ananases.
No caso particular da carne, vinha toda da República do Senegal, fazendo-se o transporte de animais vivos que depois eram abatidos nas Unidades dos subsectores. A água, bem essencial e precioso, era extraída de poços, havendo a suficiente para os gastos normais, mas nem sempre de boa qualidade.
2. A População Civil
O aglomerado populacional mais importante no sector era o da Vila de Farim, sede do concelho. Existindo ainda as povoações de Cuntima, Jumbembem, Canjambari e Saliquinhedim-K3.
População civil europeia praticamente não existia.
Basta dizer que além dos militares e famílias, apenas existiam 2 famílias europeias residentes, compostas por 6 elementos, que ali viviam (família Pinheiro). Ali viviam também alguns libaneses (Maron Saad e Madame) e caboverdianos, mas em número pouco significativo.
A população nativa do Sector é constituída por diferentes raças, predominando a raça mandinga e fula, embora por ali existissem alguns balantas.
Esta população nativa não tinha uma mentalização portuguesa. Nada as identificava com os portugueses europeus (apesar de uma ocupação durante quase 500 anos do território, não se alteraram as mentalidades nem os costumes). Não reconheciam qualquer benefício que se lhes fizesse, antes o aceitavam como uma obrigação (o branco tinha obrigação de tudo fazer e de lhes dar e ainda hoje mantêm a mesma mentalidade).
Os reordenamentos são um caso típico, em que os mesmos só colaboram, após muito instados, pois julgavam que a tropa era paga para lhes fazer as casas. Todas as povoações, antigas tabancas espalhadas pelo sector, encontravam-se abandonadas devido à guerra, pois a maior parte da população do Sector encontrava-se ao longo da fronteira em território da República do Senegal, para onde se refugiou, havendo apenas umas casas de mato na área de Bricama onde o IN tinha alguma população sobre o seu contole, outra parte da população foi acolhida nas localidades onde existia guarnições militares, que lhes poderia garantir alguma segurança, com a seguinte distribuição aproximada, em finais de 1967:
Farim: 3900 elementos de diversas etnias, mandigas, fulas e balantas;
Jumbembem: 280 elementos, na sua maioria fulas
Cuntim: 300 elementos, na sua maioria fulas
Binta: 1000 elementos, na sua maioria fulas
Guidaje: 370 elementos, na sua maioria fulas
O relacionamento da população com as Autoridades Administrativas era bom, tendo os seus altos e baixos, mas sem qualquer significado. Com as Autoridades estrangeiras vizinhas, realizaram-se um ou dois contactos pessoais, com reservas próprias com que se tinha de olhar as autoridades de um país que no mínimo consente no seu território elementos que nos são hostis.
3. No Plano Militar
O Inimigo
O IN não tinha bases dentro do Sector 02, exceptuando a região a Sul do rio Cacheu e do rio Camjambari (Bricama, Biribão e Ionfarim), onde haviam diversas referenciações, obtidas através de RVIS ou por informações colhidas por vários meios, mas onde efectivamente há bastante tempo não se faziam operações.
Havia referência a 2 bigrupos, actuando um na área do Biribão e outro na área da Bricama, mas notícias posteriores diziam que os mesmos tinham ou teriam sido retirados, visto as NT não irem ali fazer operações e portanto não se justificar a sua presença. Ficariam apenas Mílicias Populares para controle e guarda das populações.
Dentro do Sector na parte controlada pelas NT, dado que o mesmo era um Sector de fronteira, o IN apenas o utilizava para fazer entrar ou sair as suas colunas, normalmente de reabastecimentos, mas com escolta.
As suas linhas de infiltração preferidas eram o corredor de Lamel que conduzia directamente à Bricama e o de Sitató que conduzia directamente a Canjambari. Logo que atinjiam aqueles pontos ficavam em terreno, subtraído ao controle efectivo das NT.
O IN mostrava-se na altura pouco agressivo e normalmente furtava-se ao contacto. Utilizava minas A/P (anti-pessoal) e A/C (anti-carro), mas na sua maioria foram neutralizadas pelas cuidadas picagens efectuadas pelas NT.
As Nossas Tropas
A nossa tropa tinha partido no cumprimento do serviço militar obrigatório, que não sentia, nem vivia o problema. Portanto, cumpria sem grande entusiasmo as missões que lhe eram impostas.
Tudo isto criava no pessoal do QP (Quadro Permanente), com funções de chefia e comando directo, um desgaste muito grande, pois tinham necessidade de determinar tudo, verificar tudo, resolver tudo, quer dizer os quadros não existiam.
Dado o modo de actuar do IN, dentro do Sector, em que praticamente só se faziam colunas, as NT actuavam principalmente por emboscadas nos corredores tradicionais e por patrulhamentos com o fim de detectar novos trilhos. Era esta a missão principal. Quanto a moral, situação sanitária e logística, apresentava e apresentou os seus altos e baixos normais, sem referência especial.
Instalações Militares
As instalações militares eram razoáveis, compostas por vários edifícios espalhados pela Vila.
Edifício do Comando, messe dos oficiais, messe dos sargentos, casernas dos soldados, refeitório e outros edifícios relacionados com a tropa. Edifícios onde estavam instalados os destacamentos de intendência, pelotão de morteiros, pelotão Daimlers, transmissões, pelotão auto, enfermaria etc.
O dispositivo das NT no Sector estava distribuído da seguinte forma:
Cuntima
- CCAQÇ 2549
- CCAÇ 2529
- 10º PEL ART (-)
- PEL MIL119
- 2 Mort. 10,7
- CArtª 2384
Canjambari
- CCaç. 2533
- Pel Natº 58
- Comando e CCS do BCaç. 2879
- CCaç. 2547 em Nema + GComb. “ Os Roncos”
- CCaç 2548 (-)
- Pel Morteiros Médios 2116 (-)
- Pel Rec Daimler 2047
- Dest. Intendência 2010
- 10º Pel Artª – Sec Obus 14
- Compª Milª 5 c/ Pel Milª 115, 116, 117
- CArtª 2478 – Aguardando transporte p/ outro Sector
Saliquinhedim – K3
- CCAÇ 2548 – 4º Pel
- Pel Morteiros Médios 2116 – 1 Secção
- Pel Mil 118
O BCAÇ nº 2879
O Batalhão (1) em 4-08-1969, substituindo o COP3, assumiu a responsabilidade do Sector 02, novamente transferido para esta zona de acção, com sede em Farim e abrangendo os subsectores de Farim, Jumbembem, Cuntima e Canjambari.
O Comando e CCS (Companhia de Comando e Serviços), ficaram instalados na sede do Batalhão.
A CCAÇ 2548, que substituiu a CCAÇ 1788 do BCAÇ nº 1932, no incremento do esforço de contra-penetração no corredor de Lamel, ficou integrada no dispositivo e manobra do Batalhão, tendo ficado também aquartelada em Farim.
Contudo, tinha destacado um pelotão em regime de rotação para guarnecer o destacamento de Saliquinhedim-K3. Podemos dizer que a CCAÇ 2548, encontrava-se numa posição de intervenção e reserva, sob as ordens do Comando, actuando em todo o território da responsabilidade do Batalhão, como se depreende das acções efectuadas até 31 de Dezembro de 1969, designadamente: Solinto, Binta, Cofeu, Dungal, Lamel; no subsector de Jumbembem da responsabilidade da CART 2384, Lambã, Farincó, Fambantã, Sare Soriã e no subsector da responsabilidade CCAÇ 2549, Cuntima, Sitató e noutros locais onde fosse necessário actuar.
Farim, 1969 > Edifício do Comando
A CCAÇ 2547 substituiu a CART 2478 do BART 2865 a partir de 4-08-1969, na responsabilidade do subsector de Farim e também na contrapenetração sobre o corredor de Lamel e de Sitató, ficando integrada no dispositivo e manobra do Batalhão, tendo ficado aquartelada em Nema, situada no termo norte de Farim à entrada da estrada que vai para o Dungal.
Farim, 1970 > Vista aérea do Quartel de Nema. Foto cedida pelo ex-Alf Mil Carmo Ferreira.
Quartel de Nema, Dezembro 1969. Porta d’ Armas. Cavalo Frisa
Para Saliquinhedim-K3, localidade situada a 3 kms. da margem esquerda do rio Cacheu, para guarnecer o destacamento e para proteger a respectiva população deslocava-se um pelotão da CCAÇ 2548, em regime de rotação, bem como uma secção do Pel. Mort. 2116 e o Pel Mil 118.
Saliquinhedim – K3 e rio Cacheu. Março/1971. ista aérea – Slide das férias.
Saliquinhedim – K3 – Caserna do lado Oeste - Maio/1971. Slide tirado na deslocação de regresso do Batalhão pra o Cumeré.
Em Jumbembem a CART 2478 do BART 2865, no dia 4-08-69 é rendida pela CART 2384 (1), regressando assim aquele subsector, de onde havia saído havia pouco.
Jumbembem. Vista aérea, cedida pelo ex-Alf Mil Roda, da CCAÇ 14.
Pormenor de Jumbembem Velho, Janeiro de 1970 .
A CCAÇ 2549, seguiu em 30-07-69 para Cuntima, a fim de efectuar o treino operacional e render a CCAÇ 1789 do BCAÇ 1932, assumindo a responsabilidade do respectivo subsector, em 4-08-1969 e ficando integrada no dispositivo e manobra do Batalhão.
Cuntima, 1969. Entrada do quartel. Foto cedida pelo ex-Alf Mil Carmo Ferreira.
Cuntima, 1969 > Ritual do arrear da bandeira.
Outro dos aquartelamentos pertencentes ao Sector era Canjambari.
Em 1-06-1969, seguiu para esta localidade a CCAÇ 2533, a fim de realizar o treino operacional, de 3 a 17-06-69, sob a orientação do COP 3.
Em 19-06-69, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector de Canjambari, em substituição do pessoal restante da CART 2340 e outros efectivos ali colocados, temporariamente, em reforço ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 3 e depois do BCAÇ 2879.
Canjambari, 1969. Aspecto geral do Quartel e Pista. Slide cedido pelo ex-Fur Mil Pires
Canjambari, 1969. Aspecto geral duma Caserna abrigo. Slide cedido pelo ex-Fur Mil Pires
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Notas de Carlos Silva:
(1) In Estado-Maior do Exército - Comissão para o Estudo das Campanhas de África
Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7º Volume - Fichas das Unidades- Tomo II - Guiné, 1ª edição, Lisboa 2002 - p. 206, 82 e 127
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Notas do co-editor vb:
vd artigos de
24 de Janeiro>Guiné 63/74 - P2477: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (3) (Carlos Silva)
20 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2464: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (2) (Carlos Silva)
15 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2440: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes para Farim: O Batalão dos Cobras (1) (Carlos Silva)
Guiné 63/74 - P2490: Em busca de... (18) : Malan Camará, comandante do PAIGC, capturado pela CCP 123, no Cantanhez, em 1973 (Manuel Rebocho / Pepito)
Foto: Guiledje - Simpósio Internacional (2007) (com a devida vénia...).
1. Em 24 de Janeiro de 2007, o nosso camarada Manuel Rebocho mandou a seguinte mensagem ao Pepito:
Caro Amigo Eng.º Carlos Schwarz:
Acabo de ler no nosso blogue, que a AD tem gravações de entrevistas com alguns antigos guerrilheiros do PAIGC, entre os quais Malan Camará (1). Gostaria imenso de possuir a gravação com este antigo guerrilheiro e, quem sabe, um dia falar com ele. Depois te digo a razão (2). Não te digo agora, porque Malan Camará pode não ser aquele que eu conheci e, então, não interessa colocar outras questões.
Diz-me como posso aceder a estas gravações.
Um abraço
Manuel Rebocho
2. Resposta do Pepito:
Caros Amigos Luís [Graça] e Manuel [Rebocho]:
Com a informação mais detalhada que saiu hoje no blogue sobre o Malan Camará (2) , é muito mais fácil confirmar se se trata da mesma pessoa: O Malan Camará, sendo originário do sul, vive actualmente em Bissau, pelo que o contacto com ele será provavelmente mais rápido.
Apenas uma dúvida minha à partida: como ele foi ferido e preso em Fevereiro de 1973 e transportado para Bissau, creio ser difiícil que tenha participado três meses depois (Maio) na guerra de Guiledje. No entanto vamos esclarecer localmente o assunto.
abraços
pepito
Guiné > Região de Tombali > Cantanhez > Cachambas Balantas, próximo de Jamberém > CCP 123 / BCP 12 (1972/74) >12 de Fevereiro de 1973 > O 1º Cabo pára-quedista Álvaro, o militar à esquerda na fotografia, pouco depois da captura do mais prestigiado chefe da Guerrilha no Cantanhez, o Comandante de Bigrupo Malan Camará, ferido por um disparo de Sneb [rocket de 3,7 cm], "que eu próprio mandei disparar" (Manuel Rebocho)
Foto: Costa Ferreira (gentilmente cedida pelo Manuel Rebocho) (2007). Direitos reservados.
3. Nova mensagem do Pepito, com data de hoje:
Caro Manuel Rebocho: Como prometido entrámos em contacto com o Malan Camará que irá participar no Simpósio. Apresentada a situação que descreves disse não ser ele a pessoa em causa, embora tivesse conhecido o teu Malan Camará, que entretanto morreu, e que se lembra do seu aprisionamento, uma vez que ele estava por perto.
abraço
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Notas dos editores:
(1) Vd. poste de 24 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2478: Guileje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (9): Inimigos de ontem, amigos de hoje
(2) 25 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2481: Guileje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (11): Malan Camará... e a maldição dos 3 G + 1 J (Manuel Rebocho)
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
Guiné 63/74 - P2489: Estórias de Guileje (4): Com os páras, na minha primeira ida ao Corredor da Morte (Hugo Guerra)
Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 /CART 2410 (1969/70) > Saídas para o mato. Fotos de Armindo Batata (que esteve em Guileje como Alf Mil do Pel Caç Nat 51, no tempo da CART 2410, de Jun 1969/Mar 1970) (1).
Fotos: © Armindo Batata / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.
1. Texto de Hugo Guerra, enviada a 25 de Janeiro de 2008, e dedicado aos "caro Luís e camaradas que um dia destes vão passar neste local"... O Hugo Guerra foi Alf Mil (sendo hoje hoje Coronel DFA, na reforma). Comandou os Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70) (2):
Estórias de Guileje > A minha 1ª ida ao Corredor da Morte (Gandembel-Guileje) (3)
Mal tinha acabado de chegar a Gandembel (que me parecia uma Praça de Touros, vista de cima), e já estava à pega brincalhando claro, com o Alferes Artilheiro com quem tinha estado em Vendas Novas.
Achei estranho que ele tivesse um obus municiado e colocado na horizontal para a mata. Ele lá devia saber porquê e se todos os outros camaradas achavam bem, quem era eu para comentar. Mas quis saber o que ele queria fazer.
Foi-me dito então que a rapaziada já estava farta de levar porrada, com tanta precisão que era lógico pensar que o PAIGC teria por ali perto um ponto de observação e comunicação com as bases deles, para se servirem à vontade.
Era mesmo verdade. Nessa manhã a rapaziada que fazia limpeza de capim no exterior dos arames farpados, tinha descoberto um balcão de 1ª onde o IN se instalava e que dominava todo o perímetro do aquartelamento. Era uma alegria... Para eles, claro!
A aposta era se o Artilheiro conseguia ou não deitar a árvore abaixo à primeira obusada. Mais sabia eu que sim, mas como estava em jogo uma garrafa de uísque e eu sempre tinha que lerpar com uma por ter acabado de chegar, acabei por apostar contra e perdi mesmo... A árvore foi mesmo parar ao chão. E nessa noite Gandembel não foi flagelado.
Feita a apresentação da praxe ao Cap Pára Mário Pinto e, porque além de estar a escurecer, o meu Pel Caç Nat 55 estava em Ponte Balana, foi considerado mais oportuno só ir pra aí no dia seguinte e .......Vivós copos!!! E, como nem arma tinha distribuída, o Cmdt convidou-me para dormir no abrigo dele e de rajada perguntou-me se na madrugada seguinte não queria ir com eles (Páras) ao Corredor ?!.
Meio acagaçado, e perante o ar de gozo daqueles velhinhos todos, pensei que podia despachar aquilo mais depressa (com sorte, ficava ferido) e lá disse destemidamente ao Cap que estava no ir. Possivelmente com receio que eu me desenfiasse, convidou-me para dormir no abrigo dele que o Reis já mostrou em foto no Blogue e que tinha ligação directa ao morteiro 81 (4).
Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Foto 217 > "O Comandante da Companhia pernoitava junto a este morteiro 81. O seu guarda-costas, Albino Melo, está atento. O fio ligava-se ao posto-rádio, ali bem perto".
Foto e legenda: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.
De madrugada, e sem qualquer respeito pelas visitas, atiraram-me para cima um camuflado de Pára-quedista e em menos de cinco minutos já estávamos formados e prontos a seguir. Eu só sabia que tinha que ser a sombra do Cap, não fosse perder-me e lá fomos mata fora no mais completo silêncio até atingirmos um carreiro bastante largo que era o famoso corredor.
Porque já havia luz da madrugada e a nossa missão não era o contacto, inflectimos para a esquerda até encontrarmos a Estrada que vinha do Guileje. O corredor seguia em frente e vim a saber que mais à frente se internava na Guiné - Conacri.
O que nos levara ali nessa operação era tentarmos descobrir os cabos de transmissão e trazê-los de volta a Gandembel. Encontrá-los não foi difícil porque estavam à vista e corriam ao lado da fantasmagórica estrada que ligara em tempos Guilege e Gandembel.
As crateras dos fornilhos eram enormes e muitas delas ainda tinham lá dentro uma ou mais viaturas carbonizada…. Pobres rapazes da 2317 (4)...
Resumindo: voltámos ao aquartelamento pela hora de almoço e carregados com umas centenas de quilos de cabo telefónico……Nos dias que se seguiram, passámos a usar os capacetes da 2ª Guerra Mundial até mesmo dentro do arame farpado. Não fosse o Diabo tecê-las….
Hugo Guerra (5)
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Notas dos editores:
(1) Vd. poste de 28 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCX: Ex- Alferes Miliciano Batata (Guileje e Cufar, 1969/70): Pel Caç Nat 51, presente!
(...) De início foi um grande esforço para esquecer o mais rapidamente possível. Agora é a sensação das memórias que se vão esbatendo. Fui Alferes Miliciano Atirador de Artilharia. Estive em Guileje (de Janeiro de 1969 a Janeiro de 1970) e em Cufar (de Janeiro de 1970 a Dezembro de 1970), comandando o Pel Caç Nat 51 (...).
7 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2415: Uma guerra entregue aos milicianos: onde estavam (estão) os nossos comandantes ? (Hugo Guerra, Coronel, DFA, na reforma)
22 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2374: O meu Natal no mato (10): Bissau, 1968: Nosso Cabo, não, meu alferes, sou o Marco Paulo (Hugo Guerra)
29 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2312: Tabanca Grande (43): Hugo Guerra, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 55 e 50 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)
(3) Corredor de Guileje (Ou de Guiledje)... Corredor da morte, para os soldados portugueses... Caminho do Povo e Caminho da Liberdade, para o PAIGC... Estendia-se de Kandjafra, Simbel e Tarsaiá (Guiné-Conacri) a Gandembel, Balana, Salancaur e Unal (Guiné-Bissau). Para a guerrilha do PAIGC, constituiu o maior e mais importante corredor de infiltração e de abastecimento durante guerra. Sabe-que que a sua manutenção teve um elevado custo em vidas humanas e perdas materiais que acarretou.
Este corredor passou a ter uma importância, a partir do momento em que, depois da batalha do Como (Janeiro/Março de 1964), o PAIGC foi obrigado a abandonar o eixo Canafá-Quitafine-Cassumba-Canamina e Cubucaré.
Através do Corredor de Guileje, foi possível ao PAIGC - apesar das linhas de defesa e da contra-ofensiva das tropas portugueses - garantir, de maneira praticamente contínua, desde 1964 a 1974, a realização de colunas logísticas que levavam o armamento, as munições e outro material indispensáveis à prossecução da luta no interior da Guiné.
(4) Vd. poste de 2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1723: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (4): A epopeia dos homens-toupeiras
(5) Vd. postes anteriores desta série Estórias de Guileje:
27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gandembel (ex-Fur Mil Art Paiva)
23 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2473 - Estórias de Guileje (2): O Francesinho, morto pela Pátria (Zé Neto † )
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
Guiné 63/74 - P2488: Ser solidário (3): Notícias do Pe. Almiro Mendes e do Xico Allen na rota do Dakar, a caminho de Bissau (Álvaro Basto)
Diama> Fronteira entre a Mauritânia e o Senegal. Foto do Google Earth.
Tan Tan Plage
Tan Tan Plage> Villa Ocean
Tan Tan
Tan Tan
Luis:
Tal como pediste, aqui vão mais notícias sobre a viagem à Guiné do Xico Allen e do Padre Almiro.
Acabo de receber um telefonema do nosso camarada globetrotter das viagens à Guiné. Estava na fronteira de Diama entre a Mauritânia e o Senegal.(Vd. foto de satélite do Google Earth, anexa)
Conta ir hoje dormir ainda a St. Louis, no Senegal. Trata-se de uma fronteira numa barragem no rio Senegal a oeste de Rosso, fronteira tradicional entre a Mauritânia e o Senegal, mas muito movimentada e complicada de atravessar.
Tiveram um problema na viatura que ia para o Saltinho, que queimou a junta da colassa, obrigando-os a ficarem em Tan Tan Plage, a trezentos quilómetros a sul de Agadir, para resolverem o problema.
Este incidente provocou um considerável atraso em toda a caravana, mas de momento parece que está tudo mais ao menos resolvido embora a velocidade de progressão seja mais baixa do que o que se contava.
Falta atravessar o Senegal todo, contornando a Gâmbia, para entrarem finalmente em Pirada e seguirem para Bafatá, Bambadinca e finalmente Bissau.
O Xico reafirma que o moral é excelente e, não fora o incidente com a viatura, esta travessia de África estaria a ser um autêntico passeio turístico sem vestígios dos perigos anunciados pelo cancelamento do Raly Lisboa-Dakar.
Envio-te ainda algumas fotos tiradas do Google Eath, de Tan Tan, de Tan Tan Plage e do Resort bem conhecido de todos quantos têm feito esta viagem já que é paragem obrigatória de pernoita.
Um grande abraço.
Álvaro Basto
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Nota dos editores:
(1) Vd. posts da série, de:
24 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2476: Ser solidário (2): Notícias do Almiro Mendes e do Xico Allen na rota do Dakar, a caminho de Bissau (Álvaro Basto)
21 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2466: Ser Solidário (1): Pe. Almiro Mendes, Pároco da freguesia de Ramalde, Porto, partiu hoje de jipe, para a Guiné-Bissau
Guiné 63/74 - P2487: Guileje, 22 de Maio de 1973 (2): Por mor da verdade dos factos (Nuno Rubim)
Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1973 > O Fur Mil Op Especiais Carvalho, da CCAV 8350 (Guileje, Outubro de 1972/Maio de 1973), montado num dos dois obuses 10,5 existentes em Gadamael.
Guiné > Região de Tombali > Gadamael > O Fur Mil Op Especiais Carvalho, junto à uma das peças de artilharia 11.4, ali existentes em Gadamael. Em Guileje também existiram peças destas, até 16 de Maio de 1973 (altura em que foram substituídas por 2 obuses de 14 cm que entretanto foram capturados pelo PAIGC, na sequência do abandono das NT em 22 de Maio de 1973)... A 18 de Maio, como se sabe, começou a batalha de Guileje (Op Amílcar Cabral, para o PAIGC)...
Fotos: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem Cor Art, na reforma, Nuno Rubim , enviado em 27 de Janeiro de 2008:
Caro Luís Graça
Um abraço
Agradeço-te que publiques no blogue o seguinte:
No blogue de hoje, 27 de Janeiro, deparei-me com uma intervenção do Sr. Prof. Doutor Manuel Rebocho que me causou uma grande perplexidade (2).
Sendo que o blogue teve como ideia original (tua) o vir a constituir um lugar onde todo e qualquer camarada, combatente ou não, que prestou serviço na Guiné durante a guerra colonial, possa transmitir as suas memórias e lembranças desses tempos, o que constituirá um testemunho ímpar para as gerações futuras, tenho vindo a assistir, e cada vez mais, a determinado tipo de intervenções que nitídamente visam "fazer história", o que julgo que se afasta dos propósitos originais, determinando, entre outros graves inconvenientes, o de poder desencadear polémicas que, por o serem, não levam, na maioria dos casos, a qualquer tipo de conclusões objectivas, podendo mesmo induzir os leitores em erros de desinformação.
Mas o que me parece mais grave é que são feitas, muitas vezes, afirmações destituídas de qualquer realidade histórica, i.e., não são apoiadas em documentação oficial que, não sendo de per si inquestionável, ainda é a única base científica susceptível de apoiar o que se escreve ou se diz, como julgo que o Sr. Prof. bem sabe.
Ora no caso vertente o Sr. Prof. Doutor Manuel Rebocho estabelece várias considerandos, um que liminarmente desde já rebato, outro que gostaria que viesse a ser documentalmente apoiada, para assim ser devidamente autenticada.
Afirma o Sr. Prof.:
1- As peças que estavam em Guiledje eram de calibre 10.6, e mais nenhum outro.
Desloquei-me ao Porto, onde vive o Capitão miliciano (claro) que comandava a companhia que fugiu de Guiledje. Ele próprio da arma de Artilharia, conhecedor do assunto, com quem troco frequentes telefonemas e e-mails, e que não me deixa enganar no calibre das peças. Está-me frequentemente a corrigir.
Realmente fico pasmado! O calibre das peças era 11,4 cm, sendo que foram substituídas por obuses de 14 cm dois dias antes do ataque do PAIGC, por já não existirem munições. Foram recebidas em Guileje sem tábuas de tiro e com apenas um aparelho de pontaria ! (Doc 1).
Por outro lado nunca houve material com o calibre 10,6. Existiram, sim, obuses de 10,5 cm de origem alemã Rheinmetall e Krupp), adquiridos durante a 2ª Guerra Mundial.
Doc 1 > Relatório da Acção Bubaque, realizada em 18 de Maio de 1973, na região de Guilege (sic)
(...) "As forças envolvidas foram apoiadas com cerca de 55 granadas de obus 14 cm. No entanto verificou-se que o tiro estava extremamente pouco preciso, facto que está relacionado com certeza com a chegada dos dois obuses, na coluna de antevéspera, em substituição do materail 11,4 cm que seguiu na mesma coluna para Gadamael. De notar que vieram apenas 2 obuses, sem tabelas de tiro e, um deles, sem aparelho de pontaria"
Fonte: Arquivo Histórico-Militar / Nuno Rubim (2008)
2 - O Major Coutinho e Lima, no momento em que ordenou o abandono de Guiledje, já não era comandante do COP 5, pois havia sido substituído no dia anterior. O Comandante era agora o Coronel Pára-Quedista (hoje Major-General) Rafael Ferreira Durão, o mais prestigiado Oficial Pára-Quedista de todos os tempos, por quem tenho elevada consideração e amizade. Coutinho e Lima era, no dia 22 de Maio de 1973, segundo comandante do COP 5, razão pela qual não tinha competência orgânica para dar a ordem que deu.
Não tendo qualquer procuração do Coronel Coutinho e Lima, passo a responder a esta afirmação que, pelos vistos, foi feita sem qualquer fundamento, e que se encontra claramente exposta, pelo menos e cronologicamente, nos Doc. 2, 3 e 4, hoje arquivados no Arquivo Histórico-Militar (atenção aos grupos data /hora ).
Finalmente as suas considerações acerca do Coronel Rafael Durão são perfeitamente
legítimas, mas de nenhuma forma as subscrevo.
Nuno Rubim (2)
-CPM 130, Moçambique 1961-1963
-Ex-Comdt das CART 644, CCmds, CCAÇ 726 e CCAÇ 1424, Guiné 1964-66
-Centro de Instrução de Comandos, Angola 1967-69
-SRT, Guiné 1972-74
Doc 2 > "Em 21 [de Maio de 1973] às 16h00, o Comandante do COP 5 com uma força constituída por 1 Gr Comb / CCAÇ 4743, 1 Gr Comb / CCAÇ 3520 e 1 Sec Pel Mil 235, deslocou-se apeado de Gadamael para Guileje onde chegiu em 21, às 18h30. "Dia 22 de Maio de 1973: Em 22, às 5h30, Guileje foi evacuada.
"O Chefe da Repartição de Operações, Mário Martins Pinto de Almeida, Ten Cor do CEM"
Fonte: Arquivo Histórico-Militar / Nuno Rubim (2008).
Doc 3 > Mensagem do Com Chef Oper para a CCAÇ 4743, com data de 22 de Maio de 1973, às 18h00: " 1652/C. Ref Mensagem Relâmpago de 22 de Maio de 1973, às 12H15, s/ número, solicito informe Cmdt CAOP 3, Cor Pára Ferreira Durão, que Sexa General Comandante-Chefe determinou seja retirado imediatamente do comando COP 5 Maj Art Alexandre da Costa Coutinho e Lima e mandado apresentar QG/CCFAG para efeito auto corpo delito".
Fonte: Arquivo Histórico-Militar / Nuno Rubim (2008)
Doc 4 > Mensagem (relâmpago) do Com Chefe Oper para CAOP 3, com data de 24 de Maio de 1973, às 21h20: "1700C. Sexa General determina retirado comando Major Coutinho Lima desde data m/msg 1652/C [vd. Doc 3] ,devendo seguir via Cacine em Sintex. Tarde de 25 de Maio não deve já estar em Gadamael".
Fonte: Arquivo Histórico-Ultramarino / Nuno Rubim (2008).
Revisão e fixação de texto: LG
2. Comentário do editor L.G.:
Duas das regras de ouro da nossa tertúlia são - passo a citar - a "verdade dos factos" e a "manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a violência verbal)"...
Ou seja: estamos aqui todos (ex-combatentes, de um lado e de outro, antigos soldados, sargentos e oficiais milicianos e até sargentos e oficiais do quadro permanente, dos três ramos das forças armadas portuguesas), não para dividir, nem para reinar, mas sim porque temos a Guiné... marcada, para sempre, no coração, na memória, no corpo e na alma.
Também é desejável (embora não obrigatório...) que nos tratemos por tu, como camaradas de armas que fomos, no TO da Guiné... Na comunicação entre nós, no blogue, nos e-mails, nos encontros tertulianos, os títulos académicos ou os cargos ou funções actuais bem com as patentes militares (de ontem ou de hoje) não devem ser um obstáculo à construção deste belíssimo projecto que é a partilha, entre nós (e entre nós e os outros), da vivência e da experiência, de cada um, da guerra do ultramar / guerra colonial / luta de libertação...
Dito isto, aqui ficam os esclarecimentos dados pelo nosso querido amigo e camarada Nuno Rubim, que eu espero sejam recebidos pelo Manuel Rebocho (que foi um valoroso combatente pára-quedista, de um batalhão excepcional, o BCP 12, que terá ajudado a salvar muitas vidas de camaradas nossos no sul e norte da Guiné, no final da guerra, entre 1972 e 74...) , e que é também meu confrade nas lides académicas, não sei se actualmente é professor universitário, mas pelo menos é doutorado em sociologia por uma universidade portuguesa, a de Évora), espero, dizia eu, que o Rebocho receba com serenidade, sabedoria, reconhecimento e flair play estes esclaracimentos do Nuno Rubim que pretendem apenas repor a verdade dos factos em relação a dois pontos:
(i) o calibre dos obuses de Guileje;
(ii) quem comandava o COP5 no dia e na hora da retirada de Guileje (o termo fuga é demasiado forte e implica um juízo de valor que pode ser doloroso e até injusto para muitos camaradas nossos que nos lêem)...
Naturalmente que o oficial superior visado, o então Major de Artilharia (e actual Cor Art, na reforma) Coutinho e Lima (que eu conheci pessoalmente no dia da estreia do filme de Diana Andringa e Flora Gomes As Duas Faces da Guerra e que me disse estar a escrever um livro sobre Guileje), tem também o direito de defender o seu bom nome, se for caso disso, nas páginas deste blogue, muito embora ele não faça parte da nossa tertúlia ou Tabanca Grande...
Prezamos muito a liberdade de expressão neste blogue, mas também o bom nome e a dignidade das pessoas... Sabemos que nem sempre é fácil conciliar uma coisa e outra. Isto também quer dizer que não procuramos (nem alimentamos) polémicas, muito menos para fazer subir a blogometria...
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Notas de L.G.:
(1) Sobre o José Casimiro Carvalho (que vive na Maia), vd. entre outros os seguintes postes :
18 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1856: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (5): Gadamael, Junho de 1973: 'Now we have peace'
24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1784: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (4): Queridos pais, é difícil de acreditar, mas Guileje foi abandonada !!!
14 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1759: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (3): Miniférias em Cacine e tanques russos na fronteira
13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1727: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (2): Abril de 1973: Sinais de isolamento
25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G91
25 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1625: José Casimiro Carvalho, dos Piratas de Guileje (CCAV 8350) aos Lacraus de Paunca (CCAÇ 11)
(2) Vd. poste de 27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2484: Guileje, 22 de Maio de 1973 (1): Pontos (polémicos) por esclarecer (Amaro Samúdio / Nuno Rubim / Manuel Rebocho)
domingo, 27 de janeiro de 2008
Guiné 63/74 - P2486: Memória dos lugares (5): Bambadinca, 2006 (Rui Fernandes / Virgínio Briote)
Os nossos lugares vistos com outros olhos
Os olhos não são os nossos, são os do Rui Fernandes, o nosso novo companheiro da Tabanca Grande.
O Rui não anda com a G3 nem com granadas na mão, anda com outras armas, indispensáveis para a melhoria das condições de vida dos nossos Amigos Guineenses.
Para reavivar a memória de tantos de nós, que por Bambadinca passaram, juntamos mais algumas fotos que o Rui Fernandes teve a amabilidade de nos enviar juntamente com a mensagem:
Caro V. Briote
Consegui hoje ver o post que colocou. Perfeitamente correcto.
Sei que muitos de Vós vão este ano ao Simpósio e "in loco" rever locais por onde "palmilharam".
No entanto muitos mais não têm essa oportunidade, pelo que penso será um contributo para estes.
(...)
Há pouco escrevi-lhe quase a correr e lamentavelmente não agradeci a inclusão na Tabanca Grande o que me deu uma grande satisfação.
Com os meus cumprimentos,
Rui Fernandes
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Memória dos lugares (5) > Rui Fernandes, um Amigo da Guiné.
Os lugares de muitos de nós > Revisitar Bambadinca (II)
Foto 10. Referência nº 28 (?) encontra-se em ruína e a referência nº 27 (?) não existe. 2006.
Fotos 11, 12 e 13. Referência nº 17 (oficinas de rádio). 2006.
É já há alguns anos o Centro de Saúde.
Em 2003, quando lá cheguei, já era Centro Saúde. Sofreu obras de restauro em 2004 (concluídas em Abril) no projecto da ONG -Associação Saúde em Português (Coimbra), (...), co-financiado pela União Europeia e pela Cooperação Portuguesa.
A casa que se vê à direita foi construída em 2004 e são as instalações da GuinéTelecom (em realce na 13ª foto).
Nota-se em cima e a meio da foto, parte da estrutura do mastro de suporte das antenas.
Foto 14. Referência nº 15 (estrutura à direita), em relação à foto aérea falta uma estrutura entre esta e a da esquerda que não tem referência na foto aérea. A referência nº 16 não existe. 2006.
Foto 15. Sem referência na foto aérea mas são as duas estruturas que se vêem no canto inferior direito. Faltam as duas árvores. 2006.
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Notas de vb: Vd posts de :
Guiné 63/74 - P2475: Memória dos lugares (4): Bambadinca, 2006 (Rui Fernandes / Virgínio Briote)
Guiné 63/74 – P2213: Dando a mão à palmatória (2): Rui Fernandes, o fotógrafo do pintor Augusto Trigo (Virgínio Briote)
Guiné 63/74 - P2177: Artistas guineenses (1): Augusto Trigo, nascido em 1938, em Bolama
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Fotos: © Rui Fernandes (2007). Direitos reservados
Guiné 63/74 - P2485: O nosso armamento no princípio da guerra: G-3, FN, Uzi (Santos Oliveira)
A pistola-metralhadora UZI, de origem israelita
A espingarda automática G-3, de origem alemã.
1. Mensagem do Santos Oliveira (1), de 20 do corrente, dirigida ao Mário Dias, com conhecimento aos editores do blogue:
Amigo caríssimo Mário:
Afinal, parece que sou bem mais azelha que o que pensava, pois não conseguia comunicar contigo devido a um simples til.
Mas, já agora, acerca do assunto em esclarecimento (das estrias da G3), não há um Camarada ilustre, o Victor Condeço, que era Mecânico de Armamento? Suponho que é dos anos seguintes aos nossos, mas deve ter documentação mais completa que a minha e da minha curiosidade daquela época me ter guiado para o fresado. Mas, cá vai o que sei e o que penso estar certo.
Mais uma vez, mil perdões por interferir.
Um imenso abraço, do
Santos Oliveira
2. Mensagem enviada ao Mário Dias e ao Virgínio Briote:
Caros Amigos:
Sem criar polémicas, entendo que é um mau exemplo o meu Alferes ter, um dia, transportado a arma naquela posição (2). Eu pregar-lhe-ia uma porrada se fosse da minha competência. Razão, muita razão tinha o nosso Furriel em condenar e censurar.
O Mário Dias ouviu, certamente, o meu desabafo acerca dos equipamentos com que ambos os lados iniciaram a Guerra. Eu disse que a nossa G3 (FBP) não conseguia fazer tiro útil, em determinadas condições de terreno, como, por exemplo, se se molhassem; mas também afirmei que a minha G3 (original Mauser) nunca se encravou.
O ponto de que o Mário fala, as estrias, é o ponto fulcral. Efectivamente só haviam 4 estrias longitudinais, mas cuja diferença era, tão-somente, o tipo de fresado que as diferenciava. Enquanto que o fresado das originais (da minha, por ex.) tinha um ângulo de uns 30 graus (??) as de origem em Braço de Prata eram perpendiculares (90 graus), o que facilitava a acumulação de poeiras e pólvora, que depois de humedecida…
De resto a minha G3 e a minha UZI foram fabulosas, embora a minha função não fosse igual, nem semelhante, àquela que vocês tiveram.
Essa G3, eu também defendo. Ainda deve estar aí para as curvas…
No manual que vos anexo, não há nenhuma referência às estrias do cartucho. Na época, também não se sabia qual arma que viria ser aprovada (se a G3 ou se a FN) e por isso a sua produção, em Portugal, nem sequer era equacionada (3).
Espero ter dado o meu contributo.
A ambos, com admiração, o meu abraço
Santos Oliveira
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Notas dos editores
(1) Vd. poste de 24 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2301: Tabanca Grande (41): Santos Oliveira, 2.º Sarg Mil de Armas Pesadas Inf (Como, Cufar e Tite, 1964/66)
(2) vd.postes de:
19 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2458: Os sulcos... e as estrias da G3 (Mário Dias / Virgínio Briote)
17 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2445: Em louvor da G3, no duelo com a AK47 (Mário Dias)
(3) Sobre armamento usado pelo Exército Português no início da guerra colonial / guerra do ultramar, vd. sítio do Centro de Documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra
(...)
Espingardas: O desencadear das hostilidades revelou, logo de início, em qualquer dos três teatros, a falta de uma arma automática de base: em Angola, os ataques em massa não podiam ser eficazmente contrariados com espingardas de repetição; na Guiné e em Moçambique, os guerrilheiros dispuseram, desde o princípio, de armas automáticas que lhes davam nítida vantagem sobre algumas das tropas portuguesas (caso das unidades de guarnição normal).
Assim, a prioridade, em 1961, foi a obtenção imediata de armas automáticas, mas tendo em atenção a necessidade de garantir o fluxo de abastecimento de munições e sobressalentes, o que só poderia ser plenamente conseguido através do fabrico nacional. Duas armas pareciam corresponder aos desideratos operacionais então formulados: a FN, de origem belga, e a G-3, de origem alemã. Quanto às munições, não havia problema, porquanto o cartucho de 7,62 mm era já fabricado em Portugal e exportado em larga escala, sobretudo para a RFA [República Federqal Alemã].
Foram assim adquiridas (com dificuldades, como veremos), dois lotes destas duas armas:
- FN: 3835 sem bipé (s/b) e 970 com bipé (c/b);
- G-3: 2400 sem bipé (s/b) e 425 com bipé (c/b).
Estas armas foram testadas em operações, “a quente”, tendo-se concluído, de modo genérico, que as FN eram de mais fácil transporte, mas o sistema de regulação de gases levantava problemas com pessoal pouco instruído; quanto às G-3, tinham mais precisão, mas o sistema de travamento de roletes revelava tendência para quebrar. No entanto, ambas foram consideradas como satisfazendo os requisitos operacionais. (...)
Sobre as dificuldades de abastecimento com que se deparou o Exército Português no início da década de 1960, no quadro da guerra colonial / guerra do ultramar:
(...) Na época, qualquer fornecimento de material militar a Portugal era extremamente melindroso, não sendo de admirar as dificuldades encontradas. No tocante ao fabrico, a decisão tenderia naturalmente para a opção alemã, mais que não fosse pelo grande volume de transacções já existente entre a RFA e Portugal (dezenas de milhões de cartuchos 7,62 e centenas de milhares de granadas de artilharia eram fabricadas nas FBP [Fábrica Braço de Prata] e FNMAL [Fábrica Nacional de Munições de Armas Ligeiras ] e vendidas à Alemanha). O fabrico nacional ficou decidido ainda em 1961, saindo as primeiras armas 15 meses depois (fins de 1962), para o que foi determinante a transferência de tecnologia e a assistência à produção, que permitiram, a partir de 1962, o fabrico de canos e carregadores.
Para acorrer às necessidades imediatas, a RFA [República Federal Alemã] prontificou-se a ceder, dos seus stocks, 15 000 espingardas FN usadas, sem restrições de emprego, que deveriam ser devolvidas depois de beneficiadas e à medida que fossem fabricadas as G-3. De facto, foram recebidas 14 867 FN por esta via, mas quanto à devolução, parece não ter havido pressa, porquanto, em 1965, havia já cerca de 140 000 G-3 de fabrico nacional e estas FN continuavam em Portugal.
Ainda quanto às espingardas FN, foram também adquiridas directamente à fábrica, ou através de outros utilizadores (África do Sul). Mais concretamente, dado o carácter de urgência, houve um lote de armas cedido por este país dos seus próprios stocks, posteriormente repostos pela fábrica belga. No total seriam fornecidas cerca de 12 500 destas armas.
Antes da adopção da G-3, a distribuição prevista de armas automáticas era a de FN para Moçambique e de G-3 para Angola, mas problemas políticos levaram a que, em certo período, a G-3 fosse mantida “fora de vistas” nesta última. O total de armas adquiridas, antes do fabrico nacional, foi de 8000 G-3, 12 500 FN belgas e de 14 500 FN alemãs, repartidas pela metrópole, Guiné, Angola, Moçambique e Timor.
A produção julgada necessária em Junho de 1961 era de 105 000 armas, sendo 75 000 para a metrópole e 30 000 para o ultramar. O conceito inicial era de manter na metrópole o número de armas destinadas à instrução e ter em depósito as necessárias para equipar as unidades mobilizadas, mas o futuro se encarregaria de inverter esta distribuição. É curioso notar que só por despacho de 18/9/65 do CEMGFA a G-3 foi considerada “arma regulamentar”. (...)
Quanto às pistolas-metralhadoras (PM):
(...) a orgânica anterior a 1960, as pistolas-metralhadoras (PM) tinham uma distribuição relativamente elevada (uma por secção de atiradores). Existia mesmo uma PM de concepção nacional, a FBP de 9 mm m/947, que tinha o inconveniente de só fazer tiro automático, problema resolvido com o novo modelo (m/961), que podia fazer também tiro semi-automático.
A adopção de uma espingarda automática relegou as PM para segundo plano, porquanto obrigavam a dois calibres nas unidades elementares e identificavam os comandantes a quem estavam normalmente distribuídas. Apesar disso, foram adquiridas PM, quer importadas (UZI de concepção israelita), quer de produção nacional (FBP m/961), empregues essencialmente na defesa de instalações e nas forças de segurança e de autodefesa. (...)