domingo, 15 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3897: Dando a mão à palmatória (19): O meu amigo ex-Fur Mil Pil Ramos, de Vila Nova Famalicão (Humberto Reis)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Fá Maninga > 1970 > O Fur Mil Pil Ramos deixa-se fotografar com o Major Leal de Almeida, e mais oficiais (graduados) da recém criada Companhia de Comandos Africanos (embrião do futuro Batalhão). Houve um erro, involuntário, da nossa parte, ao idenficar o piloto. O seu amigo, Humberto Reis, membro fundador da nossa Tabanca Grande, e meu antigo camarada da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). A foto é do Jorge Caiano, ex-1º Cabo Especialista, Melec/AV (Bissalanca, BA12, 1969/70), a residir desde 1974 no Canadá.

Foto: © Jorge Caiano (2009). Direitos reservados.


1. Mensagem do Humberto Reis, com data de 13 do corrente:

Luís:

Como sabes, sou mais dado a ler e fazer do que a escrever, além de que não sei, nem perguntei a ninguém como se faz, para escrever directamente no blogue.

Posto isto, façam lá uma correcção no Post 3879 (*). O piloto que está na foto é o meu grande amigo, com quem voei muitas vezes, ex-Fur Mil Pil Ramos, de Vila Nova de Famalicão, e na vida civil piloto de aeronaves no Alentejo.

Não é que o ofenda, ou a qualquer outro, terem lá escrito alferes, mas quem não o conheceu bem, como foi o meu caso, fica a olhar para a foto e a imaginar quem seria o alferes Ramos. O [Jorge] Félix conheceu-o bem pois ambos são do nosso tempo, apesar do Ramos ser mais novo que ele.

Aquele abraço

Humberto

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Humberto:

Tens toda a razão. Estes pequenos lapsos estão sempre a acontecer. Não sei se o erro foi nosso ou do Jorge Caiano, que identificou o piloto. Julgo que foi nosso. Daí eu fazer questão de publicar o teu reparo nesta série, que serve para isso mesmo, dar a mão à palmatória (**), como no tempo da nossa escolinha. O Ramos, se nos estiver a ler, também vai aceitar, de mão grado, os nossos pedidos de desculpa.

Quanto à inserção (directa) de comentários no nosso blogue, tens as instruções, aqui mesmo à mão, na coluna do lado esquerdo do nosso blogue, logo a seguir à indicação do nº de visitantes... No caso do poste em questão, poderías apor directamente o te comentário: bastava clicares duas vezes no link "comentários", que vem no final do texto. De qualquer modo, assim tive eu o prazer de comunicar directamente contigo através do blogue.

Um bom resto de fim de semana para ti. Um beijinho à Teresa, com votos de boa saúde. Luís
__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 12 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3879: FAP (9): Jorge Caiano, ex- 1º Cabo Esp Melec, BA12, 1969/70, no Canadá desde 1974

(**) Vd. último poste desta série > 16 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3633: Dando a mão à palmatória (18): O meu reparo (Belarmino Sardinha)

Guiné 63/74 - P3896: Do purgatório de Bissum / Nagal ao infermo de Cafal Balanta / Cafine (Manuel Maia, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4610, 1972/74)

1. Mensagem de Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine (1972/74):


Assunto - Do purgatório de Bissum Nagal ao infermo de Cafal Balanta / Cafine



Para alguém ligado à história [ como eu], a preocupação com as fontes deverá ser de primordial importância...

Não foi exactamente assim que se passou comigo relativamente à informação que passo a debitar, dado que estou a confiar demasiado na memória, que obviamente não é de elefante...

De qualquer forma, não estarei muito longe da realidade se apontar estes dados:

13 Junho 72

Embarque em avião das Forças Armadas para Bissau. De imediato rumamos ao CUMERÉ onde tiraríamos o chamado IAO que deveria ser um período de aclimatação e aprendizagem sobre a temática de guerra ,mas não foi conseguido (creio que para a esmagadora maioria dos formandos a nível de todos todos batalhões)... E porquê? Quem ministrava o ensino já não queria arriscar – milicianos - e a generalidade dos indivíduos do quadro nada percebia do assun ...

Finais de Junho 72

Chegada a BISSUM/NAGA para o necessário período de sobreposição com quem estava de partida.

Dezembro 72

Partida dos 1º e 3º grupos para CAFAL BALANTA ( CANTANHEZ) onde ficaríamos adstritos até à chegada do resto da companhia.


15 de Março 73

Chegada do resto da companhia ao Cantanhez (CAFINE) com a consequente mudança dias depois (2 semanas?) dos grupos já referenciados por forma a ter a companhia de novo toda junta.

Convirá referir que a distância quilométrica entre as duas localidades não ultrapassava os dois quilómetros( passávamos o dia de um lado para o outro, ora na função de reordenamentos na segunda localidade, ou tão somente para gastar o tempo...

A estrada era uma recta enorme com apenas uma ligeira curva. Mesmo assim, o IN colocou uma mina anticarro que vitimou um soldado de Cafal e feriu gravemente outro.

Obviamente que o objectivo do engenho fora destinado para uma situação de mais vitimas ( quatro vezes ao dia uma Berliet com vinte ou trinta militares fazia aquele trajecto de manhã e de tarde levando pessoal dos grupos 1º e 3º para o trabalho de feitura de habitações para a população em CAFINE) durante as tais duas ou três semanas que mediaram entre a chegada do resto da malta e a necessária reunificação...

15 de Junho 73

Partida dos 2º e 4º grupos para COBUMBA.

25 de Setembro 73

Chegada ao Dugal e seus destacamentos de FATIM e CHUGUÉ.


5 de Julho 74

Chegada ao Cumeré.

13 de Julho 74

Embarque para Lisboa.

Se me fosse perguntado em termos religiosos como classificaria as várias localidades por onde passei naquele périplo de vinte e cinco meses, ao reportar-me a BISSUM, poderia, usando a expressão "saudade apesar de tudo..." , apelidá-la de purgatório, atendendo a que os cerca de seis meses ali passados, apesar de isolados de tudo, não foram aquilo que se pintava em Bissau, (quando chegamos bviamente inquirimos "meio mundo" sobre o local para onde íamos e a resposta, invariavelmente, apontava para um sítio onde o verbo "embrulhar" se conjugava com inusitada repetição...)

Não foi isso que aconteceu...

De forma perspicaz, o capitão da unidade que nos antecedeu, atribuía aos muitos e contínuos êxitos obtidos fora de portas - pelo grupo de milícia nova em que a apreensão de armamento IN acontecia com bastante frequência - um comando de pessoal branco em operação provavelmente conjunta...

Ora o timoneiro da minha companhia como homem inteligente, utilizando a badalada expressão futebolística de que em equipa que vence não se mexe, deu continuidade à fórmula ganhadora, e continuou a somar pontos para um campeonato em que foi guindado aos lugares cimeiros em termos de operacionalidade...

A juntar a isto, o próprio nome do líder, Terrível, ( daí a designação da companhia...), serviria para obrigar o HOMEM GRANDE a pensar na solução para o sul usando a lógica do raciocínio: "Se ele pacifica uma zona complicada como BISSUM/NAGA, será o homem indicado para me resolver a questão lá em baixo..."

Se bem pensou, "mal o fez", diria eu ...

É que mercê desse raciocínio algo simplista obrigou-me a conhecer o inferno, que
posso, sem quaisquer sombras de dúvidas, localizar como sediado no eixo CAFAL BALANTA-CAFINE (infelizmente não vos posso fornecer as coordenadas...) .

Dentro de dias tentarei, (se para isso tiver o engenho e a arte...) enviar-vos algumas fotografias das casas/covas de CAFAL onde não nos faltava o envio aéreo por parte do PAIGC de metal quente sob a forma de RPG, canhoada, ou simples bala de Kalash, em substituição dos frescos de pára-quedas que o homem do monóculo prometera...

Acabaria por conhecer o céu quando em Setembro de 73, mercê do excelente serviço de reordenamentos e porque não dizê-lo, do qualificado trabalho operacional, o madeirense (não, não é esse em que estão a pensar...) Bettencourt Rodrigues (o homem que fazia as vezes de Spínola...) num rasgo de inteligência e de justiça decidiu conceder-nos o céu, (é certo que sem as virgens como propicia Alá...) para que pudéssemos enfim saborear as coisas boas da vida ...

Até lá, um abraço a toda a malta.

__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3890: Tabanca Grande (119): Apresentação de Manuel Maia ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3886: Tabanca Grande (118): Manuel Maia, ex-Fur Mil, o poeta épico da 2ª Companhia do BCAÇ 4610/72 , o Camões do Cantanhez

Guiné 63/74 - P3895: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (3): Governo entrega antigo quartel de Guileje e o Pepito chega hoje a Lisboa


Guiné-Bissau > Bissau > 2009 > O Pepito, avô babado, com a sua neta Sara, filha de Cristina Silva (*). Tem uma outra neta, do seu filho Ivan, que vive em Portugal. A foto foi me enviada recentemente. Pelo que vejo, o nosso amigo Pepito está agora muito mais elegante, em resultado de um programa de saúde que está a seguir, e da sua vontade de ferro... Sei que agora os pastelinhos de Belém acabaram-se... Bem vindo, Pepito, a Lisboa, a tua segunda casa... (LG)


Foto: © Pepito / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados.(2009).






Transcrição do teor do documento:

"República da Guiné Bissau > Gabinete do Primeiro Ministro > À AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau > Bissau, 17 de Dezembro de 2008 > N/ Refª 410 / GPM / 08 > Encarrega-me Sua Excelência o Primeiro-Ministro de informar Vossas Excelências que essa ONG está autorizada a recuperar o antigo quartel de Guiledje, visando a instalação de um Museu, Escola Profissional e Infra-Estruturas para o Ecoturismo, conforme fora solicitado.



"Sem outro assunto de momento, queiram aceitar a expressão da nossa mais elevada consideração. O Director do Gabinete, Carlos Lineu Tolentino Ribeiro.


"C/C: Sua Excelência o Primeiro-Ministro / UICN"


1. Mensagem de 7 de Janeiro último, do nosso amigo Pepito (*):


Luís: Mais uma vez os votos de Feliz Ano Novo para ti, Alice, teus filhos e todo o pessoal amigo da Tabanca Grande.Tenho uma boa notícia a dar: o governo da GB decidiu oficialmente, no final do ano, entregar o antigo quartel de Guiledje à AD para a sua reabilitação como Museu, Escola Agrícola, polo de ecoturismo e sede do Parque Natural transfronteiriço.


Estou convicto que esta decisão foi o resultado do nosso Simpósio. Por isso obrigado a todos vocês que contribuiram decisivamente para que ele se realizasse. Vamos imediatamente (ainda este mês) começar a construção do Museu que contará com o apoio da Fundação Mário Soares na concepção e organização interior. A ONG portuguesa IMVF - [Instituto Marquês Valle Flôr]assegurará parte das despesas com a construção.


A nossa Tabanca tem vindo a contribuir com muito material e documentos que o enriquecerão.


Um grande abraço


pepito


2. Comentário de L.G.:


Congratulamo-nos com esta notícia que nos chegou de Bissau, há mais de mês, e que quisemos agora partilhar, no blogue, com todos os amigos e camaradas da Guiné, no dia em que chega a Lisboa o nosso querido amigo Pepito. Ele vem para tratar de problemas (pessoais) de saúde e espera voltar a Bissau a tempo de receber, na última semana de Fevereiro, os nossos camaradas que partem no dia 20 para a Guiné-Bissau, em mais um missão humanitária e mais uma viagem de turismo de saudade. Espero poder estar esta semana com o Pepito e obter mais informações sobre o andamento do projecto Guiledje. LG


__________


Notas de L.G.:


(*) Cristina Ribeiro Schwarz da Silva (Pepas, para os amigos e familiares), filha mais mais velha de Carlos Schwarz da Silva, guineense, e Isabel Levy Ribeiro, portuguesa.Tem 35, é licenciada em biologia marinha. Trabalha no IBAP- Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau. É Coordenadora para o Seguimento das Espécies.


Vd. poste de 23 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2977: Recortes de imprensa (6): a cidadã portuguesa, Cristina Silva, expulsa da Embaixada de Portugal em Bissau no 10 de Junho


(**) Vd. poste de 31 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3822: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (2): Segurança alimentar (o mangal que dá de comer...) e turismo de saudade

Guiné 63/74 - P3894: O cruzeiro das nossas vidas (13): S.O.S., fogo a bordo do Carvalho Araújo (Luís F. Moreira)

1. Mensagem de Luís F. Moreira (*), ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 2789/BCAÇ 2928, Bula, 1970/72, com data de 13 de Fevereiro de 2009: Complemento do escrito do António Matos e a sua viagem para a Guiné, com todo o respeito e consideração por tudo quanto tem escrito. Obriga-nos a retirar das gavetas das nossas memórias recordações envelhecidas. A nossa atribulada viagem para a Guiné Dia 25 de Novembro de 1970, cerca das 10.00 horas, tudo a postos para embarcar mais uma carga para a Guiné. Todas as cerimónias habituais, ninguém ligou nada. Portaló colocado ao navio e começaram a entrar os militares que pertenciam às Companhias, em seguida aqueles que iam em rendição individual, (era o meu caso), e quando toda a gente pensava que íamos seguir viagem, começaram a chegar carrinhas militares, mas celulares. Imediatamente surgiu um boato, constava que tinha havido distúrbios a bordo e que os tropas envolvidos já não iam seguir connosco, mas iriam presos. Passado algum tempo tudo se clarificava, as carrinhas começaram a encostar ao navio e a descarregar os presos que transportavam, eram militares que iam de facto para a Guiné de castigo e com a indicação de serem colocados em locais de maior porrada. Recordo apenas um ou outro pormenor. Vinham de diversos quartéis; um deles tinha a alcunha do gaiolas e o seu crime tinha sido pegar num jeep do Quartel do Batalhão Caçadores 9, em Viana do Castelo e num fim-de-semana que não tinha passaporte foi para casa e só veio quando o foram buscar. Posto isto, o Carvalho Araújo zarpou barra fora. Nos primeiros dias os enjoos do costume e quase toda a gente a não conseguir comer, por isso a não preservar os instrumentos que lhe iriam fazer falta nos dias que a fome apertasse e o enjoo passasse. Era ver pelo convés garfos, facas copos e pratos abandonados, houve até quem os atirasse ao mar. No terceiro dia, houve simulacro de incêndio, para cada um saber o que fazer em caso de emergência e qual a baleeira que lhe era atribuída em caso de evacuação. Todos ficámos espantados com as camadas de tinta que tinham os cabos das roldanas que deveriam estar soltos para levarem as mesmas para a água. No quarto dia, cerca das 4.00 horas, foi dado o alarme de incêndio a bordo e que cada um deveria ocupar os lugares previamente distribuídos, todos pensamos que seria mais um simulacro e portanto não tínhamos nenhuma pressa, ainda por cima de madrugada. Tomámos consciência da realidade quando vimos a tripulação já de coletes vestidos, atrapalhados e a não saber o que fazer. Verificou-se que existia uma fuga de fuel na cozinha e que ia escorrendo a arder para dentro dos porões, local onde eram acomodados os soldados, em beliches feitos em madeira. Estava o pânico instalado, os que estavam dentro dos porões queriam sair, e quem queria apagar o fogo tinha que entrar. O acesso era apenas uma mísera escada de madeira com um corrimão. Eis que surgem os nossos salvadores, autênticos bombeiros de primeira qualidade, eram os militares que tinham chegado nas carrinhas celulares, que pondo em perigo as suas próprias vidas se lançaram heroicamente contra tudo e contra todos a apagar o incêndio que já estava a tomar proporções incontroláveis. Ao fim de pouco tempo tudo estava resolvido, mas sem nenhuma dúvida graças a esses corajosos companheiros, que com a sua generosidade e alguma loucura resolveram a situação. Reunidos os comandantes das tropas e do navio, decidiram de imediato propor um louvor a todos esses presidiários. De novo eles tornaram a surpreender. Todo o equipamento que havia na parte exterior do navio foi por eles atirado ao mar, e não mais houve cadeiras ou bancos para alguém se sentar a apanhar um pouco de sol. Escusado será dizer que o louvor ficou apenas pela proposta. O Carvalho Araújo estava mesmo muito mal e ao sétimo dia voltou a incendiar, desta vez com menos violência e a tripulação resolveu o problema. Toda a gente queria era chegar depressa à Guiné, pois morrer por morrer que fosse em terra. Finalmente chegámos em 04 de Dezembro de 1970. Regressou a Lisboa e penso que aí sim foi dado por incapaz e não mais voltou a navegar. Muito ele durou, pois falava-se que o mesmo já estava arrumado para abate, mas foi recuperado para transporte de tropas. Carvalho Araújo, N/M da Empresa Insulana de Navegação. Tinha lotação para 354 passageiros. Foi abatido em 1973. Imagem extraída de navios porugueses. Com a vénia devida. Frente e verso da Ementa do primeiro jantar servido a bordo do Carvalho Araújo A bordo do Carvalho Araújo > Saida da Barra de Lisboa > Da Esq para a Dta. > ???, Luís Moreira, ??? e ex-Fur Vaguemestre Cameiro da CCAÇ 2789 que esteve em Bula de 5 de Dezembro de 1970 a 29 de Setembro de 1972, natural de Rio Maior, penso que, infelizmente, já falecido. Um abraço a toda a caserna. Luís Moreira __________ Notas de CV: (*) Vd. poste de 12 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3876: Tabanca Grande (116): José F. Moreira, ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 2789/BCAÇ 2928 (Bula, 1970/72) Vd. último poste da série de 23 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3345: O cruzeiro das nossas vidas (12): Uíge, 5 de Fevereiro de 1969, destino Guiné (António Varela)

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3893: Tributo aos nossos Sargentos do QP que mantinham as contas em dia (TCor José Francisco Robalo Borrego)

1. Mensagem do nosso camarada José Francisco Robalo Borrego (*), Ten Cor que pertenceu ao Grupo de Artilharia n.º 7 de Bissau e ao 9.º Pel Art, Bajocunda, Guiné 1970/72, com data de 12 de Fevereiro de 2009:

Camarada e amigo Carlos Vinhal,

Envio-te, para publicação, por favor, mais um contributo da Guiné para o prestígio da nossa Tabanca Grande, fazendo um pouco de justiça ao saber e experiência da classe de Sargentos do Quadro Permanente que se revelou no apoio dado aos Oficiais e Sargentos Milicianos (Quadro Complemento), principalmente àqueles Oficiais que tiveram a enorme responsabilidade de comandarem Companhias e cuja experiência de comando era muito incipiente no que respeitava à vertente administrativa.

Os Primeiros-Sargentos que respondiam pelas Companhias eram responsáveis, perante o Comandante, de toda a administração, incluindo a panóplia dos materiais, sendo coadjuvados por um ou mais Segundos-Sargentos. Pertenciam às Armas Combatentes, mas como tinham formação administrativa e a média das idades andava pelos 40 anos eram nomeados (mobilizados) para tarefas administrivas e não operacionais. Era uma prática que estava institucionalizada no Exército.

Recordo que, em 1972, o senhor Capitão Miliciano que comandava a Companhia de Bajocunda me ter relatado que não tinha experiência nenhuma de comando. Que tinha embarcado para a Guiné como Alferes e desembarcado como Capitão, Comandante de Companhia, mas tinha tido a sorte de ter a seu lado um Primeiro-Sargento muito competente e fiável, que já estava na terceira comissão e que orientava com mestria toda a máquina administrativa sem ser necessário a sua intervenção era, por assim dizer, um descanso!

O mesmo senhor Oficial de quem guardo as melhores recordações, por ser um homem culto e muito humano no relacionamento, confidenciou-me que se tivesse algum problema administrativo na Companhia, resultante de má administração, que o pudesse afectar, quando fosse de férias à Metrópole já não regressava à Guiné, porque provavelmente desertaria para o estrangeiro, mas que tal não era necessário, porque tinha a certeza que o seu Adjunto Administrativo tinha tudo em boa ordem. É evidente que ninguém é perfeito e houve, com certeza, casos menos bons, mas na generalidade penso que estes combatentes não operacionais foram úteis no apoio que prestaram aos combatentes operacionais, aliás considerados, por muitos, como peças importantes na engrenagem militar.

Quero também dedicar uma palavra de apreço e estima a todos os outros Sargentos que não pertencendo às Armas Combatentes deram o seu generoso contributo para o esforço de guerra na Guiné e nos outros Teatros de Operações.

Caro Carlos Vinhal,
já que estou a falar de Bajocunda, aproveito para contar uma pequena história que me veio à memória e tem a ver com um comerciante branco que tinha o monopólio do negócio da mancarra (amendoim). Quando o dito comerciante saía do Aquartelamento para tratar dos seus negócios algures no Senegal (segundo se dizia), o Comandante da Companhia ficava preocupado, porque de certeza que nessa noite havia flagelação ao Quartel.

É espantoso como um único homem, ainda por cima civil, punha uma Companhia de militares com os nervos à flor da pele! o homem circulava à vontade entre Bajocunda e Pirada com o seu veículo sem que nada lhe acontecesse, contrastando com o azar das NT que, de vez em quando, sofriam emboscadas e detectavam minas. Mera coincidência? Ou algo mais...? Enfim, coisas da guerra!

Um abraço amigo e fraterno do
José Borrego


2. Comentário de CV:

Quero aproveitar este poste do Ten Cor José Francisco Borrego, para prestar a minha homenagem ao (no início da Comissão da CART 2732) Segundo-Sargento João da Costa Rita, homem competente e honesto que desempenhou as funções de Primeiro-Sargento da Companhia na ausência de um Primeiro que não chegou a embarcar.
Acabou por ser promovido a meio da comissão, continuando a desempenhar o seu cargo até à Comissão Liquidatária, já depois do nosso regresso.

Deixo uma transcrição da última página da História da Unidade CART 2732:

CITAÇÃO

Pela correcta elaboração das contas e ainda pelo respeito aos prazos superiormente determinados para o seu envio, verifica-se a boa colaboração prestada à CSCA/QG/CTIG por algumas subunidades.
Este procedimento, por prestigiante para essas subunidades e para o próprio CTIG, merece ser citado, motivo pelo qual se referem as seguintes:

.................................
.................................
Companhia de Artilharia n.º 2732
.................................
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3445: Tabanca Grande (96): Ten Cor José Francisco Robalo Borrego, ex-1.º Cabo do Gr Art 7 e Furriel QP do 9.º PELART (1970/72)

Guiné 63/74 - P3892: FAP (12): O Fur Mil Pil Mota, e as Enf páras Giselda e Natália, caídos no Como em 1973 e salvos pelos fuzos (Miguel Pessoa)

Sequência de fotos da recuperação da avioneta DO-27, acidentada na Ilha do Como, em 17 de Novembro de 1973... Caídos em território inimigo, o Fur Mil Pil Ivo Mota, e as enfermeiras pára-quedistas Giselda Antunes e Natália Santos, tiveram a sorte de serem socorridos, com rapidez, por uma unidade da Marinha que passava ali perto, a LDG 102... Nas fotos a preto e branco, está documentado o regresso da DO-27, nº 3458, à base - Bissalanca, BA12.

Fotos: © Miguel Pessoa (2009). Direitos reservados.


1. Texto do Miguel Pessoa (ex-Ten Pilav, Bissalanca, BA12, 1972/74, hoje Cor Pilav Ref, casado com a Srgt Pára-quedista Giselda Antunes, seguramente o único casal do mundo atingido - cada um deles, separadamente, ocasiões diferentes, e em areonaves diferentes - , por um míssil SAM 7 Strela...

Acho que mereciam figurar no Guiness Book! Mas na nossa Tabanca Grande ficam seguramente melhor, e sobretudo melhor acompanhados pelos amigos e camaradas da Guiné. Giselda, sê bem vinda! Morcões, abram alas para receber, no nosso blogue, a primeira camarada da Guiné, tão combatente como qualquer um de nós!

É um privilégio para todos nós, Giselda, receber-te neste dia, 14 de Fevereiro, que por sinal até é dia dia dos Namorados... Jocastas chamava eu às enfermeiras pára-quedistas que conheci, de relance, no mato, no Vietname, longe de Bissau... Não aceitava que não levassem os nossos mortos, mas apenas os feridos. Hoje percebo porquê... E reconheço que não terei sido tão justo quanto o deveria ser, na minha apreciação do seu papel no TO da....

Também reconheço que todos nós temos uma dívida para com estas mulheres que, corajosamente, foram os anjos da guarda dos nossos camaradas, caídos ao nosso lado... Uma evacução Y na Guiné, em tempo recorde (20/30 minutos), podia significar a diferença entre a vida e a morte.

Foram também as primeiras mulheres a ingressar, contra tudo e contra todos os preconceitos, nas nossas Forças Armadas. Acho que o país não lhes fez ainda a homenagem que lhes é devida, em tempo útil. Aceita, Giselda, este pequeno gesto como um reparação de uma pequena injustiça (da minha parte) e sobretudo uma homenagem (da nossa Tabanca Grande), a ti, e às restantes camaradas enfermeiras pára-quedistas que serviram na Guiné e nas demais frentes da guerra do Ultramar.

(...) Esquecer a Guiné... por uma noite!
O Escriturário que toca acordeão
E faz tatuagens
Em troca de umas bazucas.
O terror das crianças balantas,
Nascidas no mato,
Ao ouvirem pela primeira vez
O roncar das GMC.
O soro correndo nas veias exangues,
Aos borbotões,
Enquanto a gente aguarda a evacuação Y
E o helicóptero
Com um anjo salvador, lá dentro,
Que tem um rosto de mulher.
A Jocasta que vem reclamar os seus filhos,
Os feridos, não os mortos.
O médico que manda receitar Valium 10
Para os cacimbados
E aspirina
Para os pretos.
As lâminas de aço dos rockets,
Esventrando os corpos.
O braço decepado, com a tatuagem
Em que ainda se podia ler
... Amor de mãe.
O nosso cabo, casado e pai de filhos,
Que há meses enfia no bucho,
Ao mato-bicho,
Uma bazuca e uma banana
Com a secreta esperança de,
Um dias destes,
Ainda poder ser evacuado a tempo,
Para Lisboa
Com uma hepatite qualquer
(A, B, C ou Z, tanto faz).
E quanto mais amarelo melhor,
Desde que apanhes uma doença,
Transmissível,
Infecto-contagiosa,
Irreversível,
Horrível,
Daquelas que vêm no cardápio
Dos serviços de saúde militar.
Que o hospital militar
De doenças infecto-contagiosas,
Em Lisboa,
E coisa boa,
É a melhor estância de férias do mundo!,
Garante o safado
Do nosso cabo enfermeiro Faleiro,
Num postal ilustrado da capital do Império.
Foi a nossa primeira baixa oficial,
Se não me engano.
Um herói, pouco ortodoxo,
Vítima da hepatite! (...)



Caro Luís:

Segue a história da queda da Giselda no Como (de que já tínhamos falado).

Junto umas fotos que poderão amenizar o texto - escolhe as que quiseres. Duas delas apresentam o piloto - Fur Ivo Mota - junto dos restos do avião.

Não tenhas pressa em publicar. Já sabes o fim da história - ela safou-se... E eu não gostaria de "ficar com a imagem desgastada" (como é costume dizer-se) e com o pessoal farto de ler os meus alinhavos, por serem seguidos (e provavelmente de qualidade duvidosa...)

Um abraço
Miguel Pessoa

2. UMA DO-27 NO CHARCO DO COMO
por Miguel Pessoa

Na manhã do dia 17 de Novembro de 1973 o Centro de Operações do Go1201, na BA12, recebe um pedido de evacuação, vindo de Catió, tendo de imediato destacado um DO-27 para efectuar essa missão. A equipa de alerta era constituída pelo Fur Ivo Mota, da Esq 121, e pela Enfª Paraquedista Giselda Antunes, e a eles se juntou a Enfermeira Paraquedista Natália Santos, acabada de chegar à Guiné e que, por ser pira, acompanhava as veteranas nas evacuações, para ganhar calo.

Estava-se já na época pós-Strela, que tinha trazido diversas restrições à navegação aérea. Entre a opção de subir para 10.000' [c. 3000 m], descendo depois à vertical do destino, o piloto optou pela outra opção possível, que era a de efectuar todo o voo a baixa altitude (50' a 100' sobre o terreno - o correspondente a 15 a 35 metros).

Para evitar zonas mais perigosas o Fur Mota decidiu então seguir ao longo da linha de costa, sobre a água, contornar a ilha de Como (refúgio do PAIGC), subir o rio Cumbijã e, atingido Cufar, dirigir-se em linha recta para Catió.

O voo decorria normalmente a baixa altitude; à passagem por Bolama tiveram a oportunidade de ver o navio que fazia o transporte de víveres e material, que se dirigia para sul. O DO-27 não parecia ressentir-se de qualquer problema resultante do incidente da véspera. O avião sofrera um choque com um pássaro que lhe tinha acertado no hélice, mas a inspecção feita ao avião no intervalo dos dois voos não tinha detectado qualquer anomalia.

Quando sobrevoavam os tarrafos ao lado da ilha de Como, o avião resolveu apagar-se - o motor parou repentinamente, obrigando o piloto a uma reacção rápida para preparar uma aterragem de emergência. Dada a baixa altitude a que seguiam, a única solução era poisar o estojo na direcção em que seguiam, em pleno tarrafo, o que o piloto fez - diga-se - com bastante êxito, pois o avião ficou atolado no lodo, mais ou menos direito, tendo os ocupantes saído ilesos desta aterragem (ou mais propriamente alodagem).

Quem esteve na Guiné sabe bem as diferenças no contorno das margens (no mar ou nos rios) entre a maré cheia e a maré vazia. Neste caso era hora da maré baixa e a água, tendo descido, deixara o tarrafo coberto de uma espessa camada de lodo.
Rapidamente, os ocupantes abandonaram o avião procurando, atascados no lodo, alcançar uma zona de águas mais profundas, onde pudessem, mergulhados, ficar menos expostos a olhares da margem e ser eventualmente pescados pelo navio que pouco antes tinham visto a navegar naquela direcção.

Ter-se-iam passado duas horas desde a aterragem forçada no local quando detectaram uma embarcação do tipo Zebro que se aproximava do local, atraída pela silhueta do DO-27 atolado. Desconfiados, continuaram metidos na água pois a distância não permitia uma identificação eficaz do pessoal que se aproximava. Com a aproximação do zebro puderam verificar que os tripulantes eram brancos, o que os levou a chamar a sua atenção. Rapidamente foram recolhidos e levados para o navio de guerra a que o zebro pertencia e que se aproximava entretanto do local.

Na BA12, entretanto, alertados pela falta de reportes do DO-27, tinham mandado descolar um Fiat G-91 que, seguindo o percurso mais provável voado pelo DO, veio rapidamente a localizá-lo no tarrafo. Imediatamente a Força Aérea pediu a colaboração da Armada, que deslocou uma segunda embarcação para o local.

Terá então havido aqui alguma falta de comunicação pois o segundo navio atarefava-se na busca do piloto no local quando este já se encontrava no primeiro navio. Mas mais vale a mais do que a menos...

O facto é que, depois de recuperada pela Armada, mesmo sem dispôr de material (perdido no acidente), a enfermeira Giselda ainda foi fazer a evacuação a Catió, num outro avião entretanto disponibilizado, que serviço é serviço...

No dia seguinte, uma LDG da Armada iniciou os trabalhos de recuperação do avião, aproveitando a fase da maré alta, que permitiu a aproximação ao local. A içagem do avião infelizmente não correu tão bem como se pretendia. Na primeira tentativa o DO acabou por cair novamente na água, ficando ainda mais danificado... Provavelmente foram maiores os estragos nessa altura do que na altura da queda! Não foi no entanto importante, pois o destino dele seria sempre a sucata. A deformação da estrutura e a corrosão da água do mar tinham provocado danos irreparáveis no avião.

Podemos imaginar que o fim feliz deste acontecimento se deveu a um conjunto de factores favoráveis que podiam muito bem não ter acontecido:

(i) O facto de o avião voar bastante baixo, não sendo observável das tabancas existentes;

(ii) A aproximação final do avião ao ponto de queda com o motor parado, não tendo, pelo seu silêncio, alertado ninguém próximo (detectou-se depois uma tabanca com população presumivelmente hostil a cerca de 700 metros);

(iii) A existência de um navio da Armada, em missão de vigilância próximo do local, o que permitiu a rápida recuperação dos ocupantes do DO-27.

Miguel Pessoa
_________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3891: FAP (11): Jorge Caiano, ex-Melec/AV, BA12, 1969/70, reconhecido por Augusto Ferreira

Guiné 63/74 - P3891: FAP (11): Jorge Caiano, ex-Melec/AV, BA12, 1969/70, reconhecido por Augusto Ferreira



1. Reprodução do poste de 13 de Fevereiro de 2009 > 786 JORGE CAIANO. do blogue do Victor Barata Especialistas da BA 12, Guiné 1965/74 (com a devida vénia...):


Augusto Ferreira
2º Srgt Melec/Av Tete
Coimbra

Assunto - O Jorge Caiano


(...) Amigo Victor, ao ler no nosso blog as notícias relacionadas com o acidente que vitimou, na Guiné, o nosso companheiro piloto Francisco Manso, pelo CAIANO (*), parei por uns momentos, pois o nome era-me familiar.

Mas inicialmemte era MMA pensei, não deve ser o mesmo que conheci. Mas quando foi feita a correcção pelo Luís Graça, de que era MELEC/AV, concluí que não estava errado. Estive com ele.

Em 1971 pertencemos á mesma secção eléctrica da BA7 – S. Jacinto-AVEIRO. Tanto quanto me lembro, ele vivia em Quintãs, na zona de Aveiro.

Era um jovem alto e bem constituído fisicamente. Estávamos lá na altura na secção, com 1º Srgt Agostinho, com o Lapa e eu, todos de Coimbra, juntamente com ele.

Cheguei a esta base (na altura de instrução de pilotagem ), no final de Maio de 1971, acabadinho de concluir, na BA2-Ota, a especialidade de Electricista de Aviões e Instrumentos e foi aí que utilizei, pela primeira vez, os meus conhecimentos da especialidade, nas dezenas de aviões T6G que lá estavam estacionados, também na companhia do nosso companheiro CAIANO.

Não sei se ele se recorda de mim, e espero não estar errado. De qualquer modo, de aqui lhe envio um forte abraço e o desejo de que seja muito feliz, no país que escolheu para viver e trabalhar. (...).

Até breve
Augusto Ferreira

_________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 12 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3879: FAP (9): Jorge Caiano, ex-1º Cabo Esp Melec, BA12, 1969/70, no Canadá desde 1974

Guiné 63/74 - P3890: Tabanca Grande (119): Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

1. Mensagem de Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, com data de 10 de Fevereiro de 2009:

Foi com enorme satisfação que recebi o teu mail dando-me conta da necessidade de voltar a escrever para luisgraçaecamaradasdaguine@gmail.com o que acabei de fazer mas... quase instantâneamente foi-me devolvida à guiza do que acontecia sempre...

Nesta conformidade vou aproveitrar esta via para fornecer os dados que me foram solicitados.

Fui Furriel Miliciano da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 que rumou depois do necessário IAO do CUMERÉ, para BISSUM/NAGA.
Aí nos mantivemos uns sete a oito meses para sermos apanhados na famosa operação do Cantanhez que implicou a ida de dois Grupos de Combate, (entre os quais o meu...) para CAFAL - BALANTA ficando adstritos à Companhia residente (que ali se encontrava apenas há dias...) vivendo em condições infrahumanas em buracos escavados no solo sem a possibilidade de protecção de "tecto" pois o homem do monóculo não autorizava senão panos de tenda e folhas de palmeira.

Esta parceria com Cafal durou uns três a quatro meses até à chegada do resto da minha Companhia que foi destacada para CAFINE (distando cerca de 2km dali...)

Então, já reunidos, passamos a viver em tendas de campanha até termos concluída a feitura dos reordenamentos consubstanciada em largas dezenas de habitações para a população. Só então procedemos à construção de mais algumas para serventia da companhia...

Foi um trabalho insano, mas que nos deu plena satisfação e que permitiu, estou certo, - a juntar ao episódio da captura algo fortuita de Rafael Barbosa, líder guinéu do PAIGC (em rota de colisão com os dirigentes caboverdeanos...) - a saída precoce da região, a título de prémio, creio bem...

Foram nove ou dez meses ali passados, naquela zona minguada de tudo menos de mosquitos e balas...

Dali fomos descansar para um local perto de Nhacra chamado DUGAL que dispunha de dois destacamentos, CHUGUÉ e FATIM onde aguardei até aos últimos quinze dias (de novo fomos para o Cumeré) antes do embarque final para Lisboa.

Sou licenciado em História e pretendo, se acaso me for facultado, óbviamente, enviar para a "tabanca" a história da minha Companhia em sextilhas (tenho-a também em prosa...) onde são respeitados os cânones desta vertente poética.

Relativamente ao envio das duas fotografias não me é possível fazê-lo
ainda, porquanto sendo debutante nesta tecnologia, terei ainda de colher informações que me levem ao cumprimentro do desiderato.

Um abraço.

2. Mas ainda no mesmo dia, o nosso novo camarada enviava as fotos da praxe.

Caro Vinhal

Graças ao meu filho foi possível enviar-te as fotografias.

Como temi que para o blog luisgraçaecamaradasdaguine@gmail, pudesse ser de novo devolvido tomei a liberdade de enviar para ti esperançado que seja possível fazeres o favor de as colocar no seu devido lugar.

Um abraço e o pedido de desculpas por usar o teu mail.


3. Comentário de CV

Caro camarada Manuel Maia, este poste é só para formalizar a tua apresentação à Tertúlia, porque já tens trabalho publicado no Blogue.

O texto que nos enviaste com o teu desejo de aderires à Tabanca Grande, é importante ser conhecido, para que te conheçamos melhor.

Justifico o meu destempo, dizendo que tinha um determinado alinhamento para apresentar dos diversos camaradas que tinha em espera, tendo o Luís entretanto publicado o teu trabalho do poste 3886(*).

Quanto ao utilizares o meu endereço, fizeste muito bem, porque ele está destinado aos assuntos do Blogue. Aliás se enviares as tuas mensagens para os dois endereços, mais certeza terás de que serão entregues. Tinhas um erro no endereço do Luís, (graça em vez de graca), não fosse teres recorrido a mim ainda não tinhas conseguido contactar o nosso Blogue.

Está tudo bem e isso é que é importante. Esperamos agora a tua colaboração na feitura da História da tua Unidade.

Deixo-te um abraço em nome da tertúlia.
__________

Nota de CV:

Vd. poste de 13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3886: Tabanca Grande (118): Manuel Maia, ex-Fur Mil, o poeta épico da 2ª Companhia do BCAÇ 4610/72 , o Camões do Cantanhez

Guiné 63/74 - P3889: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (5): Jubi, ala poren, iauliredu... / Miúdo, avião, tem medo...



1. Continuação da publicação do Dicionário Fula/Português, organizado pelo nosso camarada Luís Borrega, ex-Fur Mil Cav MA da CCAV 2749/BCAV 2922 (Piche, 1970/72).


V (e última) parte da lista de vocábulos em idioma fula (e respectiva tradução em português) (*), recolhidos em resultado de conversas com o seu amigo Cherno Al Hadj Mamangari, que vivia
em Cambor, a nordeste de Piche. Como já foi dito, o título Al Hadj é dado ao crente muçulmano, depois de regressar da sua peregrinação a Meca.

Obrigado, Luís Borrega, camarada e amigo! O teu esforço por tentar comprender o outro (neste caso, os fulas, que eram e são um dos principais grupos étnico-línguísticos da Guiné-Bissau) é, só por sim, um gesto de grande abertura de espírito, de recusa do etnocentrismo, e sobretudo de ternura. Bem hajas! Espero que a tua recolha (que não obviamente não tem a pretensão de ser um dicionário...) possa ser útil a muita gente, os nossos camaradas que voltam à Guiné em 'turismo de saudade', os nossos antigos camaradas fulas que vivem em Portugal, os seus filhos e netos, nascidos em Portugal (que estão em idade escolar, e que já não sabem ao idioma dos seus pais e avós)... Todos os idiomas do mundo fazem parte da riquíssima diversidade cutural da humanidade, diversidade que devemos conhecer, apreciar, manter e preversar... Por que só há uma terra, só há um raça humana... LG

___________

Nota de L.G.:


(*) Vd. postes anteriores desta série:

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3785: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (1): Nafinda, nháluda, naquirda... Bom dia, boa tarde, boa noite...

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3786: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (2): Gô, Didi, Tati, Nai, Joi.../ Um, Dois, Três, Quatro, Cinco...

26 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3798: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (3): Jungo, neuréjungo, ondo... / Braço, mão, dedo, ...

1 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3827: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (4): Nhamo, nano... / Direita, esquerda...

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3888: Estórias do Jorge Fontinha (4): O primeiro morto do 4.º GCOMB/CCAÇ 2791

1. Mensagem de Jorge Fontinha, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791, (Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 10 de Fevereiro de 2009:

Meu caro Vinhal
Isto é como as cerejas. Atrás de uma, vem agarradas outras. Como sabes, não deixo escapar nenhuma do Luís Faria, meu velho bom amigo e camarada, desde Tancos, Évora e por aí fora. Nos últimos Postes dele, factos que relatou, tiveram muito que ver comigo e como tal, a memória vem ao de cima. O caso de hoje, foi dos que mais me marcaram.

Aí vai mais um contributo para o Blogue.
Um abraço
Jorge Fontinha


O 1.º Morto da CCAÇ 2791 e do 4.º Grupo de Combate

No mês de Dezembro de 1970, foi o mês em que tudo nos aconteceu.

Começámos por ocupar o nosso sector de intervenção, efectuamos duas operações de grande envergadura, na qual ficámos com alguns feridos graves, inclusive, o Nunes do meu 4.º Grupo, sem uma perna.

Se tudo isto não bastasse, até um acidente de viação nos havia de calhar e no qual, dos 9 ocupantes do (Unimog burrinho do mato), só o motorista e eu próprio, saímos ilesos, ferindo-se dois soldados com muita gravidade, 4 com ferimentos menos graves e um morto, o Francisco Pereira CELESTINO.

É justo que passados estes anos todos, prestemos uma homenagem, embora singela mas que se impõe, nomeadamente da minha parte. O Celestino, conheci-o em Évora, quando lhe ministrei instrução na Especialidade, preparando-o nas tácticas de guerrilha e preparação física adequada. Lamento não ter tido na minha própria preparação, habilidade para ajudar a evitar acidentes de viação. Na época nem tinha ainda tirado a carta de condução.

Enquanto convivi com ele, cerca de 6 meses, sempre se mostrou um excelente rapaz. Voluntarioso, empenhado, colaborante e não tenho mais palavras para o recordar! Desde cedo se dedicou a seguir-me de perto, quando em serviço, na Guiné. Por vezes até eu próprio ficava um tanto encabulado, quando me apercebia que o Celestino havia arrumado as minhas coisas e inclusive limpo a minha G3, após o regresso de qualquer acção de patrulhamento ou operação no mato. Para além disso, coube-me a mim, escrever à família a quem mais uma vez, presto a minha homenagem. Descansa em paz Celestino!

Naquele fatídico dia, o 4.º Grupo de combate estava de Piquete. Quando tal acontecia e havia coluna para Bissau, o Grupo nomeado tinha entre várias atribuições, a protecção à referida coluna, no percurso entre Bula e a jangada, em João Landim. Daí regressando a Bula para outras eventuais intervenções. Razão por que todos os elementos do Grupo de Combate recebiam uma RAÇÃO DE COMBATE.

Contra o que normalmente acontecia, a minha Secção ia na viatura que fechava a coluna. No mato e em bicha de pirilau, era ao contrário, por razões que já contei numa das minhas anteriores Estórias. Eu, como era hábito, ia sentado, nas costas do banco ao lado do motorista e com o pé direito no parapeito junto ao pára-brisas. A cerca de 10 a 12Km do início do percurso, depara-se um buraco na estrada, ao qual o condutor ainda inexperiente tenta desviar-se, travando simultaneamente. Resultado: O condutor ficou sentado no seu lugar, agarrado ao volante. Eu protagonizei a queda mais aparatosa, sendo cuspido por cima do pára-brisas, vindo a cair de pé e em posição de combate (treino feito em Lamego, nos Ranger/s?)!... e nada me aconteceu. Isso sim a todos os ocupantes do banco traseiro. Sete homens espalhados pelo chão.

Pelo rádio, peço logo ao Alferes Gaspar que seguia na viatura da frente e levava o Cabo Enf. Silva, o regresso àquele local, para os primeiros socorros. De imediato se constata que o Celestino teve morte instantânea. De entre os outros feridos, o mais grave era o Cavaco, com a Fita da HK21 enterradas em parte da cabeça (cerca de um ano depois estava de regresso ao Grupo de Combate)!

A viatura regressou a Bula, de emergência, para os serviços médicos do Batalhão, onde já o Furriel Enf. Urbano, juntamente com o médico do Batalhão, recebeu os feridos e atestou o óbito do Celestino. A mim confortado pelo Sampaio Faria e pelo Urbano, restava dirigir-me à Secretaria da Companhia para fazer o resumo da situação. Só não esperava que a primeira pergunta do 1.º Sargento fosse esta:

- Fontinha, onde está a Ração de Combate do homem?

Na altura valeu o habitual sangue frio e bom senso do Sampaio Faria, para que as coisas tivessem ficado por ali.

Não seria justo deixar de mencionar os restantes companheiros de infortúnio. Confesso que me não recordo do nome do condutor, todavia todos os restantes e que para o Hospital de Bissau foram parar, uns por poucos dias, outros para além do Celestino, por períodos mais ou menos demorados. Foram eles: O Cabo Francisco Romão e os Soldados Manuel Matos, António Moreira, Armando Azevedo, Gabriel Monteiro e António Cavaco. Para todos eles, um grande abraço.

Na fila de cima:?; Furriel Castro; Furr. Fontinha; Furr. Chaves; Furr. Urbano. Na fila de baixo: Cabo Francisco Romão; ? ;? ; ?

Um abraço
Jorge Fontinha
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3743: Estórias do Jorge Fontinha (3): O meu Grupo de Combate (Jorge Fontinha)

Guiné 63/74 - P3887: Iniciativas da ADFA em Lisboa (Luís Nabais)

1. A propósito de algumas iniciativas da ADFA (Associação dos Deficientes da Forças Armadas), recebemos esta mensagem do nosso camarada Luís Nabais, ex-Alf Mil da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa 1969/71, com data de 12 de Fevereiro de 2009:

Caro Carlos:
Nós, ADFA, estamos e pensar fazer um almoço/homenagem aos antigos pilotos e mecânicos de aeronaves, que estiveram na Guiné.
Podes publicar, para saber se há interessados?
Pensamos que seja em Abril.
Abraço


2. Hoje, dia 13 de Fevereiro pedimos alguns elementos mais ao Luís Nabais.

Caro Luís Nabais
Claro que sim. Dá-me os elementos mais concretos que tenhas neste momento, como seja por exemplo o local, Lisboa, não?

Um abraço
Carlos


3. Eis a resposta:

Caro Carlos:
É nossa intenção fazê-lo em Lisboa na sede da ADFA.
O Chefe da Força Aérea vai estar lá também, e tenho já confirmados alguns nomes, alguns ex-comandantes da TAP (como o tempo voa, Carlos)!

A data ainda não está definida, embora apontemos para um sábado, como te disse, Abril.

Quero também informar que já temos mais um psiquiatra a trabalhar connosco (dois, agora), que poderão fazer consultas "particulares" (o preço será informado aquando da marcação, caso não tenham ADME), e também Clínica Geral.

Claro que, recordo novamente, não tendo ADM, a consulta será por inteiro, mas são 30€ (com estacionamento e almoço, agora a 4,50 €).

Estou/estamos a envidar esforços para ter muito brevemente estomatologia.
Tentaremos, logo que possível, acordos com ADSE ou outras entidades - não ainda -,infelizmente, mas garanto brevidade!

Abraço
Luis Nabais


4. Comentário de CV:

Realce-se a iniciativa da ADFA em homenagear os bravos pilotos e mecânicos que voaram nos céus da Guiné, que tão relevantes serviços prestaram aos (infantes) militares quem em terra se sentiam mais protegidos com a sua presença lá nos ares e, sabiam que em caso de emergência, aparecia sempre alguém para os evacuar.

Mais uma vez se lembra que os camaradas que apresentem algum sintoma de doença pós-traumática, podem e devem dirigir-se à ADFA para serem encaminhados às entidades competentes que os poderão ajudar.

Tanto os interessados em participar no Almoço de homenagem aos camaradas da Força Aérea, como os que pretendam aconselhamento médico, devem dirigir-se à ADFA ou comunicar co o nosso camarada Luís Nabais, e-mail nabais.luis@gmail.com

Guiné 63/74 - P3886: Tabanca Grande (118): Manuel Maia, ex-Fur Mil, o poeta épico da 2ª Companhia do BCAÇ 4610/72 , o Camões do Cantanhez


Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763 (1965/66) > Os Lassas na abertura da estrada Cufar/Cobumba. Em Novembro/Dezembro de 1972, a 2ª Companhia do BCAÇ 4610/72, de que o Manuel Maia, novo membro da nossa Tabanca Grande, era Fur Mil At, integra as forças de Spínola que vão tentar reconquistar e ocupar o coração do mítico Cantanhez: Cobumba, Chugué, Caboxanque, Cadique, Cafal, Cafine, Jemberém...

Foto: ©
Mário Fitas (2008). Direitos reservados.

1. O Manuel Oliveira Maia fez há dias uma primeira tentativa para entrar em contacto connosco e ser admitido na nossa Tabanca Grande. Não mandou fotos, por que ainda anda às voltas com estas novas tecnologias... É o que deduzimos, de resto, da leitura do seu blogue, MAMOM, aberto em Janeiro passado e contendo já vários postes sob o título "Evocação da Guiné". Diz ele, em jeito de apresentação:

"Tenho 58 anos, sou licenciado em História pela FLUP [Faculdade de Letras da Universidade do Porto] e só agora estou a começar a 'gatinhar' nas novas tecnologias. Por isso mesmo não consigo ainda dominar esta máquina que me tem baralhado. Com o tempo chego lá".

Pois é, Manuel, isso com o tempo (e a teimosia) a coisa vai. Tudo se aprende, haja força de vontade.
Entretanto, recebemos hoje um segunda mensagem do Manuel Maia, que diz o seguinte:

"Português dos quatro costados, apreciador de ditados populares, decidi tomar a nuvem por Juno e utilizar o conhecidíssimo 'quem cala consente', daí o atrevimento de escrever, de forma faseada, aquilo que tinha solicitado há dias e que dá o título a este mail, esperançado em que alguém da companhia possa lê-lo. Desde já o meu muito obrigado".

Pois é, Manuel, a gente não cala mas consente. Isto quer dizer que estás mais do que autorizado, tens luz verde para entrar na nossa Tabanca Grande e sentar-te à sombra do poilão. Com tempo e vagar, mandas-nos algunas fotos e conta-nos por onde andaste, com a tua 2ª Companhia do BCAÇ 4610/72 (já percebi: Bissum, na região de Bula, Cafine, Cafal Balanta., na região do Cantanhez / Cacine..).

E, olha, parabéns, pela arte e engenho de narrar, com humor, os feitos gloriosos dos Terríveis que ousaram penetrar no Santo dos Santos, que era, para o PAIGC, o Cantanhez. Furriel Maia, estás aprovado com 20 valores. São trinta e três sextilhas, ou seja, estrofes de seis versos de dez sílabas métricas. Não os revi todos, mas batem certo: são mesmo decassílabos... Ou não fosses tu um homem de letras, e quiçá um émulo de Camões.... O Camões do Cantanhez!

Fico a aguardar o resto do poema épico, agora a entrar - espero bem - no mítico Cantanhez, lá por alturas de Novembro/Dezembro de 1972, quando o velho Spínola decidiu reconquistar e ocupar essas míticas terras de Tombali, numa prova de força contra o PAIGC: Cobumba, Chugué, Caboxanque, Cadique, Cafal, Cafine, Jemberém... Vou ver depois como chamar a esse novo Cancioneiro... (LG)


2. Assunto - HISTÓRIA EM SEXTILHAS DA 2ª CCAÇ BCAÇ 4610/72


2ª CCAÇ BCAÇ 4610/72, OS TERRÍVEIS


1. Da mais remota aldeia ou simples terra
chegaram aprendizes para a guerra,
à Eborina urbe alentejana.
Três meses lá passados chegou dia
do voo p´ra Guiné que ninguém queria,
p´ra trás ficava o Templo de Diana...


2. Corria o ano dois após setenta,
manhã dia antonino,calorenta,
em terra há corações despadaçados.
No voo baptismal p´ra maioria,
vai tropa dos Terríveis,que escondia,
seus medos peito adentro,bem fechados.


3. Pousada a nave,agreste é a paisagem...
em camiões Berliet se faz viagem
até ao Cumeré, p´ro I.A.O.
Em cada face há rios de suor
vincando esgares e rictos de estupor,
nas rugas desenhadas pelo pó...


4. No Cumeré surgiu nova instrução
com muitos pius saudando a comissão
que ora começavam, coitaditos...
De fardas novas, pele esbranquiçada,
são alvo da chacota e gargalhada
dos velhos que gozavam periquitos...


5. Desajustado,bronco e petulante,
republicano guarda é o comandante
do nosso batalhão de Bissorá.
Destino de Bissum foi libertário
livrando-nos do velho salafrário
a Bula, a administração nos ligará.


6. Bissum passou a ser morada nova
e os nervos aos Terríveis pôs à prova
daí as muitas noites mal dormidas.
Enquanto em casa a música (a) descansa,
no mato ,atirador faz segurança
travando assim as turras investidas...

(a) Pessoal que não ia ao mato


7. A sobreposição foi conseguida,
serena,com quem estava de partida,
de volta p´ra Lisboa, por Bissau.
Pintada fôra a manta com mil perigos
de ataques incessantes inimigos,
buraco...afinal nem era mau...


8. E desse tempo há coisas que ficaram,
partidas/praxe com que nos brindaram,
algumas bem gozadas,vejam bem...
Na messe à noite,em plena cavaqueira
connosco, bem bebido, em brincadeira,
alferes velho,ali,conta vantagem...


9. No mato, embrulhara manga deis...
(recorda pelo menos vinte e seis...)
nalguns sentira mesmo uns sustozitos...
Mostrava o seu galão,com arrogância
ao turra a quem cheirava, inda à distância,
julgando impressionar os periquitos...


10. Aterra no seu braço um vil mosquito
sem respeitar velhice, algo esquisito,
com tanto sangue pira,ali à mão...
A frase foi marcante pois lembrava
que a sua comissão se acabava
e a nossa, acabaria um dia,ou não...


11. Tainadas e petiscos, noite afora,
para empurrar o copo,sem demora
dos piras, p´ra cerveja ,sai a massa...
caçadas p´la velhice, são galinhas
do mato,algo enfezadas, mas durinhas...
que mais não são que abutres p´ra desgraça...


12. O tempo foi passando,devagar,
mais lento que a vontade militar,
até surgir primeiro fogachal...
falhada e curta fôra flagelação
que teve p´ros Terríveis o condão
de ensinamento p´ro perigo real...


13. Primeiro ataque há medo e confusão
que geram caricata situação,
no ar pairavam sustos, grande é o drama...
às quatro morteiradas do inimigo
Terríveis, responderam...do abrigo,
a tiro de espingarda e dilagrama...


14. As balas tracejantes da milícia,
p´ra quem ataque é óptima notícia,
à noite dão um ar de foguetório...
na messe, alto betão protege audazes,
Almeida e Maia,acalmam seus rapazes
formando o grupo frente ao refeitório...


15. Ao pânico de início seguiu logo,
a calma a analisar poder de fogo,
co´a ajuda da milícia sabedora.
Saído da tabanca,Eusébio(b) berra:
- Pára essa merda toda, acaba os guerra
mi misti poupa bala,cá põe fora!!!

(b) milícia


16. Do simples dilagrama, à morteirada,
angústia e raiva ali é despejada,
travado apenas foi grupo terceiro.
Enquanto no quartel,há confusão,
Almeida e Maia formam pelotão
havia que impor ordem no terreiro...


17. Às vezes,lembro aqueles fins de tarde,
a lavadeira ali,fazendo alarde,
dos dotes que lhe deu a natureza...
Bajuda prometida de milícia,
rasgado tem sorriso de malícia,
a torneada Quinta, uma beleza...


18. Coragem mostra ter milícia nova,
por actos de bravura que renova,
a cada compromisso para acção.
Nas notas p´ra Bissau, branca é chefia,
Inchunfla é comandado com mestria,
de cada vez que faz golpe de mão...


19. Milícia velha um dia, por ciúme,
da nova, p´ra quem ronco era costume,
fogueira quis fazer em pleno mato...
a ideia era atrair a turra gente
tomar as suas armas facilmente,
ganhar direito à fama, ao estrelato...


20. Coluna estava imóvel, faz bocado...
de trás, parti, semblante carregado,
à cata do porquê dessa inacção...
- Nós tem que ter fogueira furriel!
Faz frio, manga dele aqi nos pele...
pessoal pá,não guenta a situação
...


21. Está a andar para o quartel,directamente!
Vais lá fazer um fogo que te aquente...
disse eu a Armando, o guia da secção.
- Pessoal tem de ir nos sítio dos bandido
se não vais lá, furriel, ficas fodido,
Armando...pá, faz queixa ao capitão...


22. Cantina foi o ponto de paragem
para aquecer gargantas da friagem
daquela madrugada quase ronco...
Suborno fôra a via que eu usara
travando,com cerveja,a sanha ignara
do pessoal de Armando,guia bronco...


23. Com Marcelino Mata, a lenda viva,
operação fizemos, punitiva,
às tropas inimigas do sector.
Sucesso retumbamte o resultado
do chefe militar, idolatrado,
que olhava os p´rigos, sempre sem temor...


24. Do mato após dois dias regressados,
sofridos, fartos já dos enlatados,
comida,banho e cama são anseios...
Jantar nos negam dando por razão
abono de combate com ração,
sabendo não haver ali mais meios...


25. Do peixe da bolanha e arroz/cimento
que havia alimentado o regimento,
notada foi a ausência do Caseiro.
Já fartos do menú que este dispensa,
Almeida e Maia encontram na despensa
o dito, a comer frango com casqueiro...


26. Com delicado pé, quarenta e cinco,
derruba Almeida a porta chapa/zinco,
com Maia,no apoio,do seu lado.
À guiza de castigo,fica então
contestatário Maia com missão
de vaguemestre,um mês, tendo agradado...


27. Deu frango, em quartos, com batata assada,
ração completamente inusitada,
e vacas extra em compra inolvidável...
A cada copo o preço era espremido,
cigarro tinha acção de lenitivo,
Rebenta Minas(c) fôra inigualável...

(c) Rodrigues


28. Rodrigues, ganadeiro,cá de fora,
que acolitava o Zé (d), a toda a hora,
manteve-se em funções por minha opção.
Provada foi justeza da medida
pois compra à populaça é conseguida
mercê dos seus recursos d´ocasião...

(d) Caseiro


29. P´la vaca são pedidos quatro contos,
cigarro e copo ali ganham descontos,
p´ra reduzir o preço ao animal.
- Mil e quinhentos peso é pouco, pouco...
dou mil,cigarro e copo,não sou louco,
está magra e foi roubada,por sinal...


30. Nos mapas expedidos p´ra Bissau,
Terrivel,capitão daquela nau,
seu nome apunha aos actos mais ousados,
daí governadora rapidez
de olhar o salvador do Cantanhez
em si e seu punhado de soldados...


31. Consolidada a imagem em Bissau,
João Terrível, tido um homem mau
´statuto VIP, granjeou de vez.
Monocular figura,quase mito,
ao empurrá-lo a sul teria o fito,
d´impor a paz na mata Cantanhez...


32. Cafal-Balanta asila meio cento,
garante-lhes espaço/sofrimento,
lugar junto à bolanha, em cova nua.
Dois dias p´ra aramar são preenchidos,
cansados dormirão,enfim,vestidos,
sem tecto,em colchão de ar,a olhar a lua...


33. Indescritível sensação de horror
com noites sem dormir, tal o temor,
desprotegido espaço nos calhara.
A urgência em aramar era ambição,
que todos partilhavam, pois então,
o medo já estampava cada cara...

Manuel Oliveira Maia

[Fixação/revisão do texto/edição: L.G.]

___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3882: Tabanca Grande (117): Gumerzindo Caetano da Silva, ex-Soldado Condutor da CART 3331 (Cuntima, 1970/72), que nos lê na Alemanha

(**) Há muitas referências a Cafal no romance do Mário Fitas, já publicado em 'episódios': vd. poste de 28 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2593: Pami Na Dondo, a Guerrilheira , de Mário Vicente (11) - Parte X: O preço da liberdade (Fim)

Guiné 63/74 - P3885: FAP (10): Obrigado, Tenente Piloto Aviador Pessoa (J. Casimiro Carvalho, CCAV 88350, Piratas de Guileje)

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/74) > Março de 1973 > O J. Casimiro Carvalho empunhando, para a fotografia, um RPG 7 usado pelo Grupo do Marcelino da Mata, antes ou depois da operação de resgate do Ten Pilav Miguel Pessoa (*)

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/74) > Março de 1973 > Inauguração do bar de sargentos . O major Coutinho e Lima, comandante do COP 5, está ao centro, de camisola branca, calções e ténis (assinalado com um círculo a vermelho); o Casimiro Carvalho, mais atrás, está de bigode "à Clark Gable" (assinalado a verde). (...). Data: possivelmente, 14 de Março de 1973. Em carta, sem data (presumivelmente, 15 de Março de 1973), o Carvalho escrevia ao pai: "Ontem inaugurou-se o bar de sargentos, muito bonito e acolhedor, com gira-discos e tudo. (...)" (*).

Fotos: © J. Casimiro Carvalho (2009). Direitos reservados.

1. Mensagem enviada ontem à noite pelo José Casimiro Carvalho (ex-Fur Mil Op Esp, CCAV 8350, Piratas de Guileje, 1972/74) ao Miguel Pessoa (ex-Ten Pilav, Bissalanca, BA12, 1972/74) (O nosso bom amigo e camarada Carvalho não nos levará a mal se a gente divulgar esta mensagem, que é também uma pequena homenagem à FAP e aos bravos de Bissalanca; e o Miguel também não levará a mal esta sobre-exposição... mediática a que ele é avessso: é que também somos um blogue de afectos):

Estou arrepiado. Nem acredito que estou a escrever para o homem que pilotava o Fiat e com quem o meu Cmdt, Cap Abel Quintas, falou através do AVP 1, canal dois, a indicar as saídas do canhão sem recuo (julgo), por parte do IN, e que finalizou assim (eu estava ao lado dele):
- Correcto, rumo 150 (Salvo erro)…

E você seguiu para não mais voltar.

Entretanto chegaram tropas pára-quedistas e o Marcelino da Mata. Eu falei com ele ("him self") e pedi-lhe para me levar e disse logo que sim. Pedi ao Cap Quinats e ele não me autorizou, não obstante o Marcelino da Mata lhe ter garantido que me trazia de volta, nem que fosse "às costas". [Vd. foto em formato pequeno do Carvalho ao lado do Marcelino da Mata, num dos 10 de Junho dos últimos anos, presumivelmente em Lisboa, em Belém].

Claro que a minha tropa (CCAV 8350) fez parte da operação de resgate. O que eu disse a seu respeito (*) foi o que me contaram depois de regressarsmos. Pois disseram que você disse que não se entregava. A farda e o armamento do [Grupo do] Marcelino eram do PAIGC, isso constatei ser verdade. Logicamente, o senhor pensou que fossem "turras". Daí a reacção.

Estive muito perto do local onde o senhor caiu mas não o vi, pois estava a manter segurança (talvez), mas estive lá.

Há uns meses disseram-me que tinha morrido, o que muito me entristeceu. Mas felizmente não é verdade. Fico com o meu coração um pouco mais preenchido, pois para mim você renasceu.

Vocês, para nós, os cá de baixo, foram sempre uns grandes heróis. Ainda me lembro, deppois, em Gadamael, um Fiat ter picado, como nos livros do Major Eduardo Cook Alvega, ter largado uma ameixa daquelas que abanavam os tomates e, para nosso gáudio, ter acabado com uma série de bombardeamentos por parte do IN, pelo menos naquele sítio.

Obrigado FAP, mais uma vez obrigado.
Tenente Pessoa, obrigado.

J. Casimiro Carvalho

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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3859: FAP (6): A introdução do míssil russo SAM-7 Strela no CTIG ( J. Pinto Ferreira / Miguel Pessoa)

4 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3839: FAP (4): Drama, humor e... propaganda sob os céus de Tombali (Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref)

(**) Vd. poste de 28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3370: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (6): O nosso querido patacão

(***) Vd. poste de 25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G91