terça-feira, 25 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8946: Patronos e Padroeiros (José Martins) (23): D. Afonso Henriques - Exército Português

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 24 de Outubro de 2011:

Boa tarde
No 864.º Aniversário da Tomada de Lisboa aos Mouros e no Dia do Exército, Ramo das Forças Armadas a que a maioria dos Portugueses pertenceu/pertence, não podia deixar de enviar um texto sobre o PATRONO DO EXÉRCITO PORTUGUÊS - D. Afonso Henriques.

Grande abraço
José Martins

PATRONOS E PADROEIROS XXIII

Patrono do Exército Português

Afonso I de Portugal

Pela Graça de Deus, Rei dos Portugueses

Estátua de D. Afonso Henriques, localizada na Av. Ernesto Korrodi, em Leiria, que esteve instalada, inicialmente, no claustro do antigo Paço Episcopal de Leiria, mais tarde Quartel do Regimento de Artilharia Ligeira n.º 4 e, actualmente, instalações da Policia de Segurança Pública.
A autoria, assim como a data da obra, são desconhecidas.
© Foto de José Martins (17 de Julho de 2010)


A história, ao longo dos séculos, nem sempre registou os factos que iam ocorrendo, dai resultando que existem “diversas teorias e/ou dúvidas” sobre diversos factos.

É o que acontece com o nascimento daquele que havia de ser o primeiro Rei dos Portugueses. Onde nasceu? Guimarães, Viseu ou Coimbra? Qual a data do seu nascimento? Também não se sabe, sendo apenas apontado o ano de 1109, como o ano provável do seu nascimento. No entanto não existe dúvida de que nasceu nas terras denominadas, na altura, como Condado Portucalense, do qual, mais tarde e por expansão, seria o território que hoje ocupamos: Portugal.

É filho de D. Henrique de Borgonha (n.1066 — †Astorga, 24 de Abril de 1112) e D. Teresa de Leão (n. 1080 - †11 de Novembro de 1130, na Póvoa do Lanhoso), tendo iniciado o seu reinado em 5 de Dezembro de 1143.

Em 25 de Julho de 1139, dia litúrgico de São Tiago (Maior) que a tradição popular tornou o Patrono da luta contra os Mouros - apelidando-o de Mata-mouros - trava-se perto de Ourique, a sul do então limite territorial do Condado Portucalense, uma batalha contra Ali ibn Yusuf, Emir Almorávia. No final da batalha, favorável às armas portuguesas, Afonso Henriques proclamou-se rei, com o apoio das suas tropas.

Após a morte do pai, em 1120, Afonso de Portugal entra em conflito político com sua mãe, dada a proximidade da mesma com Fernão Peres de Trava, elemento de uma das mais poderosas famílias do Reino da Galiza. Tal facto levou a que D. Paio Mendes, Arcebispo Primaz de Braga entre 1118 e 1137, grande defensor da causa do Infante, fosse obrigado a exilar-se, tendo levado consigo o futuro Rei, que veio a ser armado Cavaleiro em Tui, no ano de 1122.

Novos incidentes se passam no Condado Portucalense, já que o Príncipe regressara, após estabelecimento da paz com a sua mãe D. Teresa.

Afonso de Leão e Castela, em 1127, invade o Condado, cercando Guimarães, onde, o seu aio Egas Moniz promete, em nome do seu pupilo, vassalagem e lealdade ao rei de Leão e Castela. Alguns meses depois, em 24 de Junho de 1127, as forças de Afonso Henrique e as de D. Teresa encontram-se na Batalha de S. Mamede, onde as primeiras saem vencedoras. Nesta altura e com a assunção do comando do Condado, nasce a ideia de transformar este território num país, iniciando conversações com a Santa Sé, com o objectivo de alcançar a autonomia da Igreja em Portugal e o reconhecimento do Condado como Reino.

Apesar de Afonso Henriques já usar o título de Rei desde 1139, este só veio a ser confirmado em Zamora, com o Tratado de Paz celebrado a 5 de Outubro de 1143, entre Afonso Henriques, de Portugal, e Afonso VI de Leão e Castela, que passaria a usar, como era seu desejo, o título de Imperador de toda a Hispânia, devendo os reis da península render-lhe vassalagem, facto que nunca aconteceu com o rei português.

Entretanto o Papa Alexandre III (Pontificado de 7 de Setembro de 1159 a 30 de Agosto de 1181), já havia reconhecido Portugal como vassalo da Igreja e país independente através da Bula Manifestis Probatum.

O rei, fundador da nacionalidade, parte para o alargamento do Reino, conquistando Leiria e Santarém através da técnica de assalto e iniciando o cerco a Lisboa, que cai em poder dos portugueses em 24 de Outubro de 1147. Nesse mesmo ano conquista Almada e Palmela, e, em 1160 Alcácer, além de grande parte do Alentejo, que viria a ser recuperado pelos mouros.

A perda de parte do Alentejo deve-se, também, às questões territoriais que se levantaram entre os reinos de Leão e Portugal, originando que numa dessas batalhas, o Rei português ficasse ferido, o que lhe veio a trazer o fim da sua carreira militar, passando a partilhar a governação com o seu filho e sucessor D. Sancho.

Em 1131, promove a fundação do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, por D. Telo e onze religiosos que adoptam as regras dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. O projecto é do Mestre Roberto, artista do estilo românico.

Contou, também, com a colaboração dos Monges de Cister, seguidores das regras de S. Bento, que fundaram em 1140 o Mosteiro de São João Baptista de Tarouca, e, com a doação de coutos na região de Alcobaça, cumprindo a promessa feita aquando da conquista de Santarém, onde foi fundado um Mosteiro, região que deu bastante incremento à economia, em especial a agrária.

O primeiro rei de Portugal veio a falecer em Coimbra em 6 de Dezembro de 1185, tendo sido sepultado no Convento de Santa Cruz de Coimbra, que foi o primeiro Panteão Nacional.

Odivelas, Dia do Exercito, 24 de Outubro de 2011
José Marcelino Martins
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Nota do Editor:

Vd. último poste da série de 11 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8889: Patronos e Padroeiros (José Martins) (22): D. Dinis - Curso de Infantaria da Escola do Exército - 1953-1956 (José Martins)

Guiné 63/74 - P8945: (Ex)citações (152): Strela, a ameaça ao domínio dos céus do ultramar português - Apreciação de António Martins de Matos ex-Ten Pilav, Bissalanca, 1972/74

1. Mensagem datada de 24 de Outubro de 2011, do nosso camarada António Martins de Matos* (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, actualmente Tenente General (R)), dirigida à Revista Mais Alto com conhecimento ao nosso Blogue:

Caro Senhor
Nuno Esteves da Silva
Chefe da redacção da Revista Mais Alto

Acabo de ler a segunda parte do artigo "Strela, a ameaça ao domínio dos céus do ultramar português"**.

Tenho que reconhecer não ter gostado de ambos os textos.
Já o tinha referido aquando da publicação inicial, em devido tempo enviei um email dirigido ao Director da Revista referindo as minhas dúvidas, email de que infelizmente não obtive nenhum "feedback".

As razões que me levam a voltar a escrever-vos são:

- Em primeiro lugar a importância do tema, um dos poucos períodos da sua História em que a FAP teve "mortos em combate".

- Em segundo lugar a maneira como o tema foi abordado, dando a ideia ao leitor de que a solução para enfrentar os mísseis apareceu ao nível do Estado Maior em Lisboa, quando efectivamente de Lisboa nada recebemos, tudo foi "cozinhado" na Guiné, desde a descoberta da arma que nos atacava, sua identificação, medidas evasivas, directivas locais,... decisões que o EM se limitou posteriormente a copiar e "promulgar",...

- Em terceiro lugar pelo pouco rigor nas fotos e documentos apresentados, no primeiro texto o DO-27 não tem nada a ver com Strelas (falha de motor a beam da ilha do Como), no segundo texto a foto do piloto MC será "enganadora" para o leitor, já que o referido piloto (ainda que ocasionalmente presente no território) não fez parte dos que enfrentaram os mísseis Strela.

- Em quarto lugar por várias imprecisões em termos do que efectivamente se passou nos céus da Guiné.

E porque amanhã, daqui a 50 anos, a revista Mais Alto será uma das fontes de consulta dos historiadores, penso ser uma obrigação de todos os intervenientes de serem o mais fieis possível, a verdade sem entraves pruridos ou dúvidas.

Por tudo isto resolvi escrever a minha experiência, vivida na Guiné desde o aparecimento do primeiro míssil até 10Fev74, data em que regressei a Lisboa.

Apenas referirei a Guiné, já que foi aí que vivi o acontecimento, nada sei sobre Lisboa ou Moçambique e, ao contrário de outros, não escrevo por ter "ouvido falar".

Quando pronto irei enviar-lhe, poderá interessar-lhe, um eventual complemento aos artigos anteriores.

Caso não lhe interesse agradeço que mo diga, haverá outros locais onde poderei publicar o artigo.

Sem outro assunto
António Martins Matos
Ten Gen (R)
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Notas do Editor:

(*) Vd. postes de:

22 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8806: Recortes de imprensa (48): Strela, a ameaça ao domínio dos céus do ultramar português - I Parte - Revista da FAP, Mais Alto, n.º 392 , Jul / Ago 2011
e
16 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8912: Recortes de imprensa (51): Strela, a ameaça ao domínio dos céus do ultramar português - II Parte - Revista da FAP, Mais Alto, n.º 393 , Set / Out 2011

Vd. último poste da série de 19 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8926: (Ex)citações (151): O Sold Rodrigues, prisioneiro do PAIGG (de Junho de 1971 a Março de 1974), pertencia à CCAÇ 3489/BCAÇ 3872, que esteve em Cancolim (1971/74) (Luís Dias)

Guiné 63/74 – P8944: Memórias de Gabú (José Saúde) (11): A coluna: Notícias que chegavam e “novas” que ficavam na… picada


1.   O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabú) - 1973/74, continua a narrar-nos a catarse das suas recordações.


A COLUNA: NOTÍCIAS QUE CHEGAVAM E “NOVAS” QUE FICAVAM NA… PICADA
MISTO DE PRAZER E… MEDO

As velhas berliet’s mandadas construir pelo exército português nas oficinas do Tramagal, assumiram papel de “burro de carga” na guerra do Ultramar. A sua enorme resistência desafiava trilhos aparentemente impensáveis. O seu motor debitava uma força enorme. Na Guiné, aquela usada máquina transportava víveres para as tropas isoladas no mato e servia também para o transporte de pessoal entre as localidades. A coluna era, em simultâneo, composta por unimog’s, viaturas mais pequenas, que se intercalavam entre a monstruosidade dos esverdeados camiões.

A coluna apresentava-se para a rapaziada como um misto de prazer e… medo. Prazer por que a finalidade era reabastecer o aquartelamento, já vazio, de comestíveis e, por outro lado, trazer o ansiado aerograma (azul) que trazia notícias frescas dos ente queridos e amigos lá na Metrópole. Medo por que a picada envolvia mistérios imprevisíveis. Quantas horas de sofrimento a picar meia dúzia de quilómetros da estéril picada? Quantas emboscadas interromperam trajectos sonhados que se pretendiam felizes? E quantos infelizes não perderam as suas vidas em imprevisíveis emboscadas? E quantos não ficaram estropiados na ânsia de procurar uma estabilidade física e emocional? Enfim!

Um rol de perguntas sem resposta que ficaram nos anais da história da guerra colonial. Sabemos que uma coluna era, por norma, motivo para a recepção a camaradas de outras paragens e o momento único para desafiar uma conversa atinada sobre os últimos acontecimentos do local onde coabitavam. Na unidade militar ao lado comentava-se o ataque ao quartel e desenhavam-se possíveis cenários dos rebentamentos. Tudo, porém, era dissuadido num aglomerado de interrogações do militar que em boa hora não se deparou com tal fatalidade. As vítimas falavam de sua justiça e contavam ao pormenor o sucedido.

Das várias colunas sob o meu comando em tempo de guerra, destaco uma onde a finalidade foi reabastecer a zona Leste de material maquiavélico: caixões. Aconteceu no princípio do ano de 1974. A zona tinha sido fustigada com muitas baixas, sendo que o respectivo material armazenado ter-se-á esgotado. Veio então a ordem para uma deslocação a Bafatá a fim de reabastecer Gabú com as respectivas faltas. A berliet veio carregada e os caixões de seguida depositados na arrecadação para suprimir eventuais falhas futuras.

Fomos e voltámos sem problemas de maior, ficando o rescaldo de uma coluna que transportava, na altura, urnas para acolher corpos de corajosos camaradas que romperam o seu ciclo de vida num combate, numa emboscada ou numa mina, algures nas zonas de Gabú, Piche, Pirada, Canquelifá, Buruntuma, Mandina, Cabuca, ou num outro sítio quaisquer no Leste da Guiné.

Tenho uma vaga ideia das bocas que o material transportado proporcionou ao longo da viagem entre Bafatá e Gabú, inseridas no convívio de jovens militares que brincavam com coisas sérias. O prazer da viagem cruzou-se com um agoirento medo quando se colocava a questão: “quem serão os futuros donos destes “capotes” que solenemente transportamos?”. Depois, lá vinha uma gargalhada da malta que entretanto se divorciava do seu próprio futuro. As colunas tinham coisas maquiavélicas. Momentos de boa disposição e de dor. Sacrifício. Outras vezes imperava uma reacção rápida a uma eventual contrariedade deparada.

Numa outra coluna a Bafatá uma viatura avariou-se. Confrontado com o imprevisto e dado que o condutor não conseguiu resolver o problema, comunicámos para o comando expondo a situação. A resposta foi evasiva. As comunicações via rádio não me davam alternativas. Não batiam certas. A resposta foi a seguinte: “o furriel que resolva!”. E resolvi. Deixei a viatura avariada no local e com todo o grupo regressámos ao quartel onde peguei numa equipa de mecânicos para resolverem o problema. O pior veio a seguir. O comandante chamou-me e deu-me um grande raspanete por que entendia ele que eu como responsável abandonei uma viatura militar.

No seu posto de comando, e com a voz estridente do cumprimento do dever militar, autoritário, a sua opção teria passado por deixar metade do grupo de guarda à viatura e a outra metade regressava a Gabú para recolher os meios de assistência. Ouvi, reflecti e disse: “A opção foi minha e está tomada. Assumo. Fiz o que a minha consciência decidiu. Estamos em guerra e não posso, nem devo, sacrificar vidas humanas”. Virei as costas, a conversa acabou ali e palpitei logo uma eventual sanção disciplinar. Uma “porrada” como se dizia na vida militar. Nada aconteceu, o homem caiu na realidade e sanei um problema imprevisto. No regresso, a berliet lá permanecia no local, não longe do quartel, os mecânicos resolveram a avaria e lá retomámos o caminho para Bafatá.


Numa passagem por uma tabanca a coluna despertou curiosidade. Eu, entretanto, verificava se tudo estava em ordem.

Em terra batida e o céu carregado de nuvens, a coluna segue o seu destino com um cuidado redobrado.

Um abraço a todos os camaradas,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Fotos: © José Saúde (2011). Direitos reservados.
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

19 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 – P8924: Memórias de Gabú (José Saúde) (10): O velho da tabanca revelava um saber ancestral

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8943: Antologia (73): Tarrafo, crónica de guerra, de Armor Pires Mota, 1ª ed, 1965 (6): Ilha do Como, 17 e 23 de Fevereiro de 1964




Passando o rio Camuntudú sobre uma ponte de três palmeiras. Escolta diária

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Fonte: © Armor Pires Mota (1965-2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Continuação da publicação de Tarrafo; crónica de guerra, de Armor Pires Mota, 1ª ed., Aveiro, 1965. Parte 2 (Ilha do Como, Jan / Mar 1964), pp. 68-74. (*)

Com a amável autorização do autor, começámos, a partir de 14 do corrente, a publicar as crónicas do Tarrafo, relativas à Op Tridente, na Ilha do Como (15 de Janeiro a 15 de Março de 1994), recorrendo para o efeito a um exemplar, fotocopiado, da primeira edição do livro (pp. 47 a 85), onde ainda são visíveis as marcas da censura
. (Recorde-se que o livro foi retirado do mercado, logo a seguir à sua entrada nas livrarias, em Outubro de 1965, muito embora o autor já talvez publicado estas mesmas crónicas no Jornal da Bairrada).

Publicamos hoje mais duas crónicas, relativas aos dias 17 e a 23 de Fevereiro de 1964. Estas duas situações passam-se já um mês depois do Alf Mil Cav Mota ter desembarcado na Ilha do Como, juntamente com o resto da sua subunidade, a CCAV 488, integrado na Agrupamento B.


De acordo com o planeamento da Op Tridente (destinada a desalojar o PAIGC da região do Como, onde ocupava desde 1963 três ilhas, Caiar, Como e Catungo), a ação das NT dividiu-se em 3 fases: (i) desembarque, a 15 de janeiro de 1964, com apoio da força aérea e da marinha; (ii) operações de patrulhamento das ilhas, de 17 a 24 de janeiro; e (iii) concentração de esforços na ilha do Como, onde de 24 de janeiro a 24 de março, se travaramos combates mais intensos...

As NT mobilizaram c. de 1100/1200 homens, para além de importantes meios aéreos e navais. O efetivo do PAIGC era estimado em 300 combatentes. Um elevado numero de combatentes nossos (193, ou seja, mais de 15%) foram evacuados por doença, devido às duas condições do terreno e à duração da operação (71 dias).  A superfície das 3 ilhas era da ordem dos 210 km2, dos quais 80% eram constituídos por tarrafo, sujeito à ação das marés (Na maré cheia, a região do Como ficava reduzida a 40 km2).

2. Paralelamente estamos a seguir a crónica de outro combatente do Como, o Mário Dias, hoje sargento comando reformado, membro da nossa Tabanca Grande, desde a I Série do blogue. Em relação a este período (2ª quinzena de Fevereiro de 1964), selecionámos o seguinte excerto (o resto pode ser lido na I Série do nosso blogue, aqui):


(...) A 17 de Fevereiro, o grupo de comandos recebeu a missão de bater a mata desde o Norte de Curcô até Cauane. Confirmando a nossa convicção de que os guerrilheiros do PAIGC estavam a ficar enfraquecidos, não houve oposição à nossa penetração na mata que, até há pouco tempo, tinha sido um santuário que não deixavam profanar. 


 Apenas a cerca de 1 km a Norte de S. Nicolau se ouviram dois disparos de espingarda - código por eles usado para avisar que andava por ali a tropa e se esconderem. Prosseguimos a nossa patrulha em direcção a Cauane onde, sensivelmente no local do nosso primeiro contacto com o IN nesta operação (quando morreram dois fuzileiros), fomos flagelados com alguns tiros de PPSH e Metralhadora, mais com o propósito de nos manter afastados do que nos enfrentar. Reagindo, abatemos um elemento IN. Alcançamos Cauane e daí a praia da Base Logística. (...)

Vd. também este excerto da III Parte das crónicas do Mário Dias:


(...) Dia 23 de Fevereiro novamente embarcados numa LDM com o Pelotão de de Paraquedistas e 8º Destacamento de Fuzileiros, rumo a Curcô onde pernoitámos.


No dia seguinte, com mais um grupo de combate da CCAV 488, iniciámos uma batida à mata. Por duas vezes tivemos contacto com um numeroso grupo de guerrilheiros que dispunham de um morteiro 82 e 1 metralhadora pesada 12,7mm. As NT causaram 7 mortos confirmados, sendo 3 caboverdeanos, armados com pistola-metralhadora, dois deles fardados de caqui. Nesta acção, o Pel Paraquedistas teve 1 morto, 1 ferido grave e 1 ferido ligeiro. Uma rajada de PPSH inutilizou a arma do comandante dos páras, que ficou ferido na cabeça.


Quando me recordo, à distância dos anos, do que aconteceu a seguir, dá-me vontade de rir da cena caricata que devemos ter feito.


Eu conto: tendo nós conseguido sempre levar a melhor nos contactos com o IN, eis que um enorme enxame de abelhas se abateu sobre nós. Toda a gente a sacudir-se, ferroadas de criar bicho, correria desenfreada. Quem diria… pequenos insectos conseguiram aquilo que o IN nunca foi capaz: pôr-nos em fuga. Com o pessoal todo picado, já havia muitos olhos tumefactos, nada poderíamos fazer a não ser o regresso a Curcô. Ganharam as abelhas.


Na orla da mata perto de Curcô, ainda descobrimos uma plataforma construída sobre palafitas, com cerca de 1,80m de altura, e que servia como posto de vigia sobre aquela localidade. Deixámo-la ficar armadilhada. Não sei se a armadilha chegou ou não a ser activada. Hoje, faço votos para que não.


(...) Que bem dormia eu quando, naquela madrugada do dia 27 de Fevereiro, “às 4 da matina” me acordaram:
- Porra… são lá horas de acordar um pacato cidadão embrenhado em sonhos tão deliciosos!...
- Vamos embora! - Mais uma vez a mata espera por nós. E fomos.


Sol já a brilhar, movimentos suspeitos no tarrafe. Avançámos cautelosamente para averiguar. Apenas algumas pegadas de 2 ou 3 pessoas que devem ter fugido com a nossa aproximação.


Nesse dia, juntamente com o Pel Paraq e 1 grupo de combate de elementos das CCAV 487 e 489 foi destruída a tabanca de Catabão Segundo onde fizemos um prisioneiro e apreendemos 2 binóculos, 1 cantil, 1 espingarda G3 com 4 carregadores, e 3 granadas de mão. Mais uma acção em que o IN não deu sinais de vida. (...).


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Nota do editor:


(*) Último poste da séruie > 20 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8931: Antologia (72): Tarrafo, crónica de guerra, de Armor Pires Mota, 1ª ed, 1965 (5): Ilha do Como, 8 e 12 de Fevereiro de 1964


Guiné 63/74 - P8942: Notas de leitura (291): Arquitectura Tradicional da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Setembro de 2011:

Queridos amigos,
A habitação guineense comprova a maturação da identidade cultural, social e económica das diferentes etnias. As tabancas que visitávamos podiam ser pobres mas a monotonia da sua disposição espacial era uma falsa aparência, como este estudo expõe, com clarividência.
As fotografias não deixam margem para dúvidas. A casa manjaca distingue-se perfeitamente da balanta e esta da felupe ou da beafada em muita coisa: materiais, utensílios, existência ou não de implúvio, o tipo de varandas e pátios, e, obviamente, os materiais acessíveis. Isto para já não falar de que viver numa ilha não é o mesmo do que viver no interior ou na costa.
Bom seria que tivéssemos no mercado livros singelos sobre este génio arquitectónico.

Com um abraço do
Mário


Arquitectura tradicional da Guiné-Bissau

Beja Santos

Um grupo de arquitectos suecos, financiados pela cooperação do seu país, procedeu a investigações sobre a arquitectura tradicional na Guiné-Bissau, entre Abril e Maio de 1979. Inicialmente, o objectivo do estudo era toda a habitação tradicional, mediante a escolha de tabancas representativas. Naquele curto período de 2 meses não foi possível ir mais longe. Tiraram-se fotografias exemplificativas, procedeu-se a medições tanto das moranças como de uma ou mais casas, teve-se em conta detalhes de construções especiais. Sempre que possível, a pesquisa foi completada com entrevistas feitas aos moradores, no intuito de obter respostas a questões relativas à estrutura da família, a ocupação, repartição do trabalho, quando e porquê a morança sido construída no local, etc.

Nasceu assim “Arquitectura tradicional da Guiné-Bissau”, teve edições em 1981 e 1983, a tradução portuguesa é da cooperação sueca (então designada por SIDA, hoje ASDI), que como é de todos sabido, tem tido um papel relevantíssimo no apoio aos sistema educativo, na investigação e na cultura.

Os autores dispuseram de pouco tempo mas trabalharam com rigor e seriedade, nunca escondendo que a obra fundamental que usaram na sua pesquisa é o estudo seminal de Avelino Teixeira da Mota “A habitação indígena na Guiné portuguesa”, editada em 1948 pelo Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, ainda hoje a referência incontornável para as pesquisas do género.

Depois de um preâmbulo com amplas referências à geografia, à história e aos grupos étnicos da Guiné-Bissau, os autores tecem considerações sobre a habitação tradicional tendo em conta as quatro regiões mais significativas (região costeira com as ilhas, zona de transição, o interior e a região de Boé). Trata-se, por conseguinte de procurar equacionar a construção com o seu ambiental social e físico, ponderando a economia agrícola, os materiais disponíveis e os níveis de religiosidade. Só assim se poderá entender como a região costeira onde preponderam os grupos Balanta, Papel e Manjaco estabelecem diferenças com os Bijagós, Felupes e Baiotes, tanto pelas técnicas e métodos de cultivo e utensílios, como nas relações de posse, a natureza do gado produzido, as operações de armazenagem de cereais, etc. As mesmas considerações podem ser extrapoladas para a zona de transição, para o interior e Boé.

As ilustrações procuram tipificar por um lado o uso de celeiros, potes, armazéns, cabris, capoeiras e currais, bem como os tipos de vedação e as decorações que são utilizadas tanto no interior como no exterior das casas.

No caso dos balantas, os investigadores tomaram em conta factores como a religião, a cultura do arroz, os modos de povoamento, as técnicas de construção e a preparação dos construtores. E depois ilustram com plantas transversais, mostrando onde vive o chefe de família, os demais membros do agregado familiar, onde se posicionam o armazém de arroz e de sal, a casa do irã, as colmeias e o curral, o tipo de culturas que circundam a casa (bananeira, cabaceira, cajueiro, laranjeira, mangueira, papaeira, poilão, purgueira, mandioca…). As ilustrações mostram planos da construção como o vão da porta, a armação do telhado, a natureza da varanda, o capim exterior, entre outros elementos.

Este estudo, não primando propriamente pela originalidade nem sendo exaustivo, garante aos interessados o conhecimento da habitação de etnias como os balantas, os papéis, os manjacos, os brâmes, os nalus, os beafadas e os fulas. É um estudo rigoroso pelo levantamento patrimonial habitacional, dá ensejo a conhecer quem e como usa implúvios, fechaduras, a natureza dos revestimentos (purgueira ou querentim), o que distingue o envolvimento das moranças, os diferentes tipos de pátio, varandas.

Tem muito interesse o que os autores referem acerca da casa Fula. No passado, a casa dos Fulas não tinha janelas; durante o período das chuvas fazia-se o fogo num buraco do chão no interior da casa e como não existia nenhuma chaminé o fumo passava através da cobertura do telhado. O principal material de construção era o bambu. O processo de construção iniciava-se marcando um ciclo de aproximadamente 5 metros de diâmetro no solo; ao redor desde círculo enfiavam-se bambus no chão com a mesma distância um do outro, entrançavam-se as canas e assim se fazia a armação; a armação do telhado era feita no chão de cana de bambu bem seco. Modernamente, esta concepção alterou-se.

O estudo termina com a taxonomia (classificação dos tipos de casas). Tanto este livro como “A habitação indígena na Guiné portuguesa” serão obras a oferecer ao INEP que desde a guerra civil de 1998/1999 perdeu a sua importante biblioteca pelo menos a 60 %.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8935: Notas de leitura (289): Ultramar - 1968: Quando Américo Thomaz percorreu livremente a Guiné (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 24 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8941: Notas de leitura (290): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho (Parte I): Introdução (A. Marques Lopes / Luís Graça)

Guiné 63/74 - P8941: Notas de leitura (290): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho (Parte I): Introdução (A. Marques Lopes / Luís Graça)





Capa do livro de Norberto Tavares de Carvalho, De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita. Edição de autor, Porto, 2011, 303 pp.  (Impresso  na Uniarte Gráfica, SA; depósito legal nº 332552/11). Posfácio de António Marques Lopes.






1. Excerto do posfácio do nosso camarada e amigo A. Marques Lopes, ao livro de Norberto Tavares de Carvalho (pp. 249-251)

(...) Muitos ex-combatentes portugueses da guerra colonial na Guiné têm retratado por escrito as suas vivências, a maior parte com visão pessoalista do que lá passaram, mas vários com a noção de enquadramento dessa experiência ingrata no contexto da vida e do regime vivido, então, em Portugal, e alguns até com notável cunho literário. Há muitos livros.


Também no ciberespaço se encontram muitos blogues individuais com relatos de situações, transcrição de histórias das companhias, blogues colectivos com relatos, opiniões, interpretações. Todos com montes de fotografias. Há quem diga que é a catarse das angústias e perplexidades que marcaram uma juventude, mas eu vejo mais que é, como disse Rui de Azevedo Teixeira, "tempo de maturidade e apaziguamento".

O certo é que, com horizontes mais restritos ou mais amplos, é a história contada pelos seus intervenientes. E a iniciativa do Norberto Ta­vares de Carvalho, e a aceitação dela por parte do Bobo Keita, abre um caminho muito pouco percorrido "pelo outro lado": serem os combatentes do PAIGC a contarem também o que fizeram, o que viram, o que viveram durante a guerra, darem-nos a sua visão dos factos e situações. 

Luís Cabral escreveu, Pedro Pires também, mas foram dirigentes de topo com visão mais ampla, têm mérito como fautores e descritores da história sem dúvida. Mas o guerrilheiro e comandante no terreno Bobo Keita, habitante das matas e bases de guerrilha, parece-se mais com os portugueses que também calcorrearam as mesmas matas e foram atacados nos seus quartéis.

Era bom que houvesse mais outros a fazer o que ele fez. Muita da história ficará por contar, vai-se perder quando morrerem os velhos guerrilheiros. Em Abril de 2006 fui à Guiné-Bissau e, entre outras coisas, quis conhecer pessoalmente o comandante Lúcio. É que, era eu alferes, tínhamos andado os dois aos tiros, eu dum lado e ele do outro. Eu atacava a base dele em Sinchã Jobel e ele atacava os nossos destacamentos. Através de um amigo comum, o Pepito, consegui marcar um almoço com ele no Colete Encarnado em Bissau. Foi interessante,

Os dois maduros e apaziguados. Soubemos que eu tinha 21 anos e ele 23 quando lutámos nesse período da guerra. Também me disse que estava em Cabo Verde aquando do golpe do Nino Vieira em 1980, fiquei agora a saber que também sucedeu com Bobo Keita. "Estás a brincar. eu estou a escrever o meu livro!,  disse-lhe este quando interrogou o Lúcio Soares sobre o apelido da Quinta da Costa, como vem na entrevista. Talvez tenha sido depois deste meu encontro no Colete Encarnado ... Se tivesse sido antes, pode ser que eu conseguisse o que lhe pedi: que me contasse a versão dele de situações em que estivemos os dois.

Não consegui, com pena minha.

Não é fácil. Os portugueses, salvo raras excepções, escreveram livros e textos sobre a guerra só depois do 25 de Abril, já sem pressões, condicionamentos ou receios. Na Guiné-Bissau, com todas as complicações e convulsões ainda não apaziguadas, infelizmente, creio que se mantêm os receios. Sinal disso, parece-me, são as reticências e palavras vagas nas respostas do Bobo Keita às perguntas sobre o Nino, menos quando fala das diferenças entre as chefias da Frente Sul e as da Frente Norte, os peitos vermelhos, porque é uma questão de orgulho pessoal. 

Mas há outra razão, é claro: a tradição oral da generalidade do povo guineense, nomeadamente os mais velhos. O colonialismo, desprezando a educação dos gentios, contribuiu para a continuação dessa generalização e para que, agora, só as camadas mais intelectualizadas, mais jovens sobretudo, possuam outros meios de expressão. Nestas circunstâncias, de louvar o que fez o Norberto Tavares de Carvalho: ganhar-lhes a confiança e, de gravador na mão, ouvi-los falar. Quanto a Lúcio Soares, tenho esperança que a filha dele, que é formada em comunicação social, se disponha a fazer isso.

Para quem, durante a guerra colonial, lutou "do outro lado",  a leitura destas memórias do Bobo Keita tem um interesse muito especial. Porque estive em Cantacunda, em Banjara e na "base do Gazela" (que substituiu em Sinchã Jobel o Lúcio Soares quando este foi para o Morés), porque estive em Barro, na zona norte, entre Ingoré e Bigene. Revejo-me em muitas situações por ele contadas, pois passou também por esses locais. (...)



Porto > UNICEPE, Cooperativa Livreira de Estudantes > 24 de Setembro de 2011 > Norberto Tavares de Carvalho, na sessão de lançamento do seu livro. Foto: Cortesia de Coisas da Guiné, blogue de A. Marques Lopes.



2. Quem é ou quem foi o comandante Bobo Keita (1939-2009) ?


O próprio Norberto Tavares de Carvalho, "o Cote, guineense, filho da diáspora (vive na Suiça, desde há 3 dezenas de anos), já o tinha apresentado sumariamente, no blogue no Didinho, em 4 de Fevereiro de 2009, nestes termos:


(i) Filho de Fofana Keita, descendente do Mali, de confissão muçulmana, nascido na Guiné-
Conacri, tabanca de Dabis, região de Boké e de N’balia Turé, de origem Susso da parte
paterna e Pepel de Safim da ala materna;


(ii) Bobo Keita nasceu em Bissau no dia 24 de« Setembro de 1939;


(iii) O pai, alfaiate, preparou-o para seguir a profissão que, na época, era ambulante;   


(iv) Nasceu do bairro do Pilão, onde desde cedo mostrou habilidade para jogar à bola;


(v) "Um belo dia, na Granja de Pessubé, cruzou-se com um homem que todos chamavam 'Sr. Engenheiro e que tinha uma mulher branca'. O homem, divertido com a sua engenhosidade, ofereceu-lhe uma bola";


(vi) Joga pelo Benfica ded Bissau e  um dia é convocado para a selecção nacional da então Guiné Portuguesa para disputar um torneio de futebol na República do Ghana, ex-colónia inglesa que proclamara a sua independência no dia 6 de Março de 1957;


(vii) No Ghana, aos 17 anos,   conheceu o Presidente Kwame N’krumah, herói da independência; o  discurso de abertura do torneio, proferido no jardim
do palácio presidencial, teve o condão de despertar o jovem Bobo para a política;


(viii) Entra na clandestinadade, ao abandonar Bissau, no dia 26 de Dezembro de 1960, sob a orientação de Rafael Barbosa, dirigente do PAIGC, e rumar em direção  a Conacri, onde o esperava Amílcar Cabral;


(ix) "Uma formação de base político-ideológica sob o patrocínio do 'Engenheiro' e uma outra de cunho militar no ex-Leste Europeu, foram suficientes para galvanizar o espírito combativo do jovem alfaiate";


(x) Depois disso, tornou-se um guerrilheiro, puro e duro, palmilhou a Guiné de lés a lés, foi ferido duas vezes em combate, até se  tornar Comandante da Frente Leste;


(xi) "Último chefe de guerrilha que se entrevistou com Amílcar Cabral poucas horas antes do seu assassinato em Conacri, estaria presente em Boké aquando da captura de um dos
assassinos e a descoberta e libertação de Aristides Pereira, Secretário-Geral Adjunto do
PAIGC, amarrado no fundo do barco por Inocêncio Kani, que o transportava, disposto a
entregá-lo às autoridades portuguesas";


(xii) Membro do Conselho Superiro de Luta, desde Junho de 1973, fez parte da delegação do PAIGC que, depois do 25 de Abril,  participou nas negociações de Londres e de Argel, com a delegação portuguesa;


(xiii) Vindo do leste à frente das suas tropas, foi o primeiro comandante do PAIGC  a entrar em Bissau, em 8 de Setembro de 1974;


(xiv) Foi também ele quem escoltou, até ao avião, o último governador da Guiné,  Carlos Fabião;


(xv) "O golpe de estado de 14 de Novembro de 1980 surpreendê-lo-ia numa missão de serviço em Cabo Verde, na cidade da Praia"; 


(xvi) Não aceitando o golpe de estado de Nino, adaptou Cabo Verde como a sua segunda pátria;


(xvii) Morreu, em Portugal  [, julgo que no Hospital Amadora-Sintra], a 29 de Janeiro de 2009, vítima de  doença prolongada; o seu corpo foi traslado para Cabo Verde.


[Excertos selecionados e adaptados por L.G, que irá publicar, nos próximos dias, algumas notas de leitura, com referência às conversas com este antigo comandante e dirigente do PAIGC, pouco ou nada conhecido entre nós].


3. Quanto ao autor, Norberto Tavares de Carvalho, o Cote  [, foto a seguir, com um grupo de camaradas nossos], reproduzimos aqui uma nota autobiográfica, publicada no blogue da Tabanca de Matosinhosem tempos (31 de Março de 2009), em poste editado por A. Marques Lopes:



(i) Nasceu  em Taliuará, também
conhecida pelo nome de Ponta do Nhu Kôte,   perto de Xime, arredores de Bambadinca, no leste da Guiné, no dia 6 de Junho de 1952;


(ii) Ainda jovem, engajou-se na luta política, primeiramente nas fileiras do PAIGC como militante clandestino, e mais tarde nos meios intelectuais;


(iii) "Ainda sob o regime colonial foi preso em 1972 por ordem expressa do General Spínola, então Governador da Guiné, por ter liderado um levantamento estudantil em Bissau";


(iv) Preso de novo em 1973, por pertencer à rede clandestina do PAIGC, foi condenado a 3 anos de trabalhos forçados na Ilha das Galinhas, tendo sido libertado após o 25 de Abril;


(v) Com a independência, e após o golpe de estado do 14 de Novembro de 1980, foi preso por ter pertencido às forças da segurança como chefe dos serviços da migração;

(vi) Após a sua libertação, em Maio de 1983,  e sendo um opositor de 'Nino' Vieira, refugiou-se na Suíça;

(vii) Nesse país, "formou-se nas Altas Escolas Especializadas do domínio das ciências sociais. Em 1998, fez o seu Brevet Federal de Formador de Adultos na Universidade Operária de Genebra. É titular do Master Europeu em Mediação pelo Instituto Universitário Kurt Bösch, tendo consagrado a sua tese de diploma na reflexão de um dos problemas de maior importância dos nossos dias : a prevenção e a gestão de conflitos. A sua contribuição liga-se à volta dos métodos tradicionais africanos de gestão de conflitos e de reconciliação nos mecanismos nacionais e internacionais da mediação. Faz parte da lista dos Mediadores Civis do Estado de Genebra".

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Nota do editor:


Último poste da série > 21 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8935: Notas de leitura (289): Ultramar - 1968: Quando Américo Thomaz percorreu livremente a Guiné (Mário Beja Santos)


domingo, 23 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8940: Agenda cultural (168): Lançada no passado dia 13, no Museu Militar, em Lisboa, a 3ª edição do livro do Cor Inf Ref Manuel Bernardo, Marcelo e Spínola: a ruptura, sob a chancela da Edium Editores, Porto



1. No passado dia 13, pelas 18H00, no Museu Militar, em  St Apolónia, Lisboa, decorreu a sessão de lançamento da 3.ª edição actualizada do livro do Coronel Manuel Bernardo, Marcello e Spínola: A Ruptura; As Forças Armadas e a Imprensa na Queda do Estado Novo; 1973-1974. Infelizmente, por lapso nas nossas comunicações internas, só agora, tardiamente, podemos dar conhecimento do evento, pedindo por esse facto desculpa ao autor que tão gentilmente nos mandou o respetivo convite.

A apresentação esteve a cargo do cor Luís Villas Boas, amigo e conterrrâneo do autor, com a presença do autor do prefácio a esta edição, o gen Vasco Rocha Vieira.

A 1ª edição da obra tinha sido lançado em 4 de Julho de 1994, na Biblioteca Municipal das Galveias / Lisboa. De alguns ecos da imprensa da época, de uma seleção que nos fez chegar o autor, destacamos três:

(i) "(...) Trata-se de uma obra de consulta obrigatória para quem se interesse pela história portuguesa dos últimos anos (A Capital, 9-7-1994);

(ii) "(...) Obra de extremo rigor, recomenda-se a sua leitura, quer aos que viveram e participaram nos factos descritos, quer aos que, pela sua juventude, apenas têm um vago conhecimento, nem sempre historicamente correcto, do que foi e por que foi o 25 de Abril. (...)" (Jornal do Exército, Agosto de 1994)

(iii) "(...) são livros como este que contribuem para a formação de uma consciência cívica, indispensável num país que sente cada vez mais a necessidade de encontrar a sua identidade própria." (Mário Ventura, Cambio 16, Outubro de 1994).


Museu Militar > Lisboa > 13 de Outubro de 2011 >  Da esquerda para a direita, o cor Luís Villas Boas, o cor Manuel Bernardo e o editor Jorge Castelo Branco.


Museu Militar > Lisboa > 13 de Outubro de 2011 >   O gen Hugo Rocha Vieira, fazendo uso da palavra


Museu Militar > Lisboa > 13 de Outubro de 2011 >   Um aspeto da assistência

Fotos: Manuel Bernardo (2011). Todos os direitos reservados

Nesta 3ª edição, revista, aumentada e melhorada (Edium Editores, Porto), o gen Vasco Rocha Vieira escreveu no prefácio o seguinte: (...) "É sempre difícil escrever a História por quem a viveu, nela participou, sofreu, assistiu, esteve envolvido, foi actor. O autor, Manuel Bernardo, fá-lo de um modo desapaixonado, objectivo, factual, sem ressentimentos, sem querer impor a sua verdade, sem estar subordinado a ideologias, a compromissos ou interesses" (…).

A alocução do autor está disponível no blogue Moçambique para todos, em poste de 15 do corrente. Publicam-se acima algumas fotos da sessão enviadas pelo autor do livro, a quem apresentamos os nossos parabéns pelo sucesso editorial desta sua obra (Solicitamos à editora o envio, para o nosso blogue, de um exemplar da obra, para efeitos de recensão bibliográfica).


2. Nota curricular abreviada > Manuel AmaroBernardo

(i) Coronel de infantaria na reforma; escritor;


(ii) Nasceu em Faro, em 1939, e vive em Carnaxide, Oeiras:

(iii) Fez o curso da Academia Militar (1959);

(iv) "Durante 36 anos, desempenhou funções de comando e chefia de pessoal militar e civil, sendo oito em África (Angola e Moçambique), nas quatro comissões por imposição (escala) que cumpriu em 1961/73 (alferes e capitão)";

(v) É diplomado com o Curso Complementar de Ciências da Informação da Universidade Católica Portuguesa (1990/93);


(vi) Atividade literária e jornalística: Publicou em 1977, com o pseudónimo de Manuel Branco, o livro Os Comandos no Eixo da Revolução; Crise Permanente do PREC; Portugal 1975/76 (352 pp) na Editorial Abril; colaborador de alguns jornais diários e semanários lisboetas (1975/1980); Redator da revista Mama Sume, da Associação de Comandos (1989/1993); colaborador do Semanário (1991), do Combatente, da Liga dos Combatentes, desde 1991, do semanário regional O Algarve,. em 1994-2004,  e do Boletim da AFAP (Associação da Força Aérea Portuguesa);

(vii) Bibliografia (organizada pelo autor):

1. Marcello e Spínola – a Ruptura; As Forças Armadas e a Imprensa na Queda do Estado Novo; Portugal 1973-1974 (456 pp). Lisboa, Editora Margem, 1994 (em 2.ª edição na Editorial Estampa (368 pp), desde 1996. Estão ambas esgotadas.

2. Equívocos e Realidades; Portugal 1974-1975 (2 vol. 1 012 pp). Lisboa, Editora Nova Arrancada, 1999.

3. Timor – Abandono e Tragédia; “A Descolonização” de Timor (1974-1975), em co-autoria com o Coronel Morais da Silva (271 pp). Lisboa, Editora Prefácio, 2000.

4. Combater em Moçambique; Guerra e Descolonização 1964-1975 (452 pp). Lisboa, Editora Prefácio, 2003.

5. Memórias da Revolução; Portugal 1974-1975 (740 pp). Lisboa, Editora Prefácio, 2004.

6. 25 de Novembro; Os “Comandos” e o Combate pela Liberdade (521 pp), em co-autoria com o Prof. Dr. Francisco Proença Garcia e o Sarg-Mor “Comando” Rui Domingos da Fonseca. Lisboa, Edição da Associação de Comandos, 2005.

7. Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros; Guiné 1970-1980.(410 pp) Lisboa, Editora Prefácio, 2007.

[ O editor L.G. escreve segundo a nova ortografia. Respeitou-se a ortografia dos autores citados, bem como as referências bibliográficas de Manuel Bernardo, organizadas por ele próprio, na nota curricular].

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8936: Agenda cultural (167): Programa Sobreviventes: reportagem sobre os ex-prisioneiros portugueses do PAIGC em Conacri, entre 1971 e 1974... SIC, 2ª feira, 21h (Cristina Freitas)