domingo, 25 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9659: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (10): Alguns dados biográficos sobre o último CEM do CTIG, Coronel do Corpo do Estado Maior, Henrique Manuel Gonçalves VAZ (Luís Gonçalves Vaz)




1. O nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), enviou-nos a seguinte mensagem com data de 21 de Março de 2012: 


Alguns dados biográficos sobre o último CEM do CTIG, Coronel do Corpo do Estado Maior, Henrique Manuel Gonçalves VAZ 

Coronel do CEM, Henrique Gonçalves Vaz, em 1972, quando desempenhava as funções de CEM (Chefe do Estado-Maior) da Região Militar do Porto. É visível o símbolo da Região Militar do PORTO, no seu braço esquerdo, a cruz azul no escudo branco. 
HABILITAÇÕES PROFISSIONAIS MILITARES 

- CURSO DE CAVALARIA DA ESCOLA DO EXÉRCITO ( 1944 / Com 14 VALORES). 

- CURSO GERAL DO ESTADO MAIOR ( 1955 ). 

- CURSO COMPLEMENTAR DO ESTADO MAIOR ( 1958/59 “Aprovado” no C. C. E.M./ O.E. nº15 - 2ªSérie de 1 de Setembro de 1960). 
  • Em 1959 termina o Curso Complementar do Estado Maior e é considerado “Idóneo”, pela Comissão Técnica do Serviço do Estado Maior, para o ingresso no Corpo do Estado Maior. 
Em 1958, o então Capitão Vaz, realizou um estágio na Alemanha, numa unidade Americana, no âmbito do Curso Complementar do Estado Maior (fotografia do capitão Henrique Gonçalves Vaz)
  • Ingressou no Quadro do Corpo do Estado Maior, por portaria de 8 de Janeiro de 1960. 
  • Em 1963 é nomeado para servir em comissão militar na Região Militar de Angola, embarcando em Lisboa em 20 de Novembro. Nesta província irá desempenhar, nos anos de 1963/64, as funções de Adjunto da 4ª Repartição e de Chefe da Secção de Planeamento e Controle da 4º Repartição do Q. G. da Região Militar de Angola. No ano de 1965 desempenhou as funções de Chefe da 1ª Repartição do Quartel General da Região Militar de Angola. 
  • Entre 1966 e 1972 desempenha no Q. G. do Porto as funções, primeiro de subchefe e nos últimos três anos a de Chefe do Estado Maior da Região 
  • Militar do Porto. Os serviços prestados no Q. G. do Porto foram largamente reconhecidos superiormente pelas altas entidades de então, nomeadamente o Comandante da Região Militar do Porto e pelo Ministro do Exército, traduzindo-se estes reconhecimentos em louvores ao Coronel Henrique Vaz pelas mesmas entidades 
  • Entre 1972 e 1973 Comanda o Regimento de Cavalaria Nº6, no Porto. Devido ao notável Comando desta unidade pelo Coronel Henrique Vaz, uma vez mais será Louvado pelo Comandante da Região Militar do Porto, “pela maneira altamente distinta e plena de dignidade como comandou o Regimento de Cavalaria Nº6 .... que revelaram um oficial distinto que valorizou a sua unidade e prestigiou a Região e as Instituições Militares ...”. 
  • Em 1973 é nomeado para servir novamente no Ultramar e embarca em Lisboa, em 7 de Julho, com destino desta vez para o C.T.I.G. (Comando territorial independente da Guiné), onde é colocado como Chefe do Estado Maior, e sob o comando do General Spínola, posteriormente do General Bethencourt Rodrigues. Esta missão, numa altura de grandes ofensivas do inimigo de então, o P.A.I.G.C., é levada até ao 25 de Abril, com alguns incidentes, sempre ultrapassados com muito “Mérito Profissional”, nomeadamente a “estadas forçadas” em aquartelamentos no teatro de operações, devido a ataques do inimigo (flagelações) a essas pequenas unidades militares na altura em que o Coronel Vaz as visitava como Chefe do Estado Maior, bem como a sobrevivência à explosão de uma bomba (22/02/1974) que colocaram no Q.G. (Quartel General), tendo-lhe causado apenas pequenas escoriações. 
  • A partir desta data (25 de Abril), e como militar que “aderiu ao MFA”, mas com grandes responsabilidades a nível de comando1, no Exército Português, neste teatro de operações, leva outra missão até ao seu términos, a de em colaboração com as restantes autoridades civis e militares, entregar paulatinamente, os territórios até então sob a administração portuguesa, ao P.A.I.G.C. . Também terá simultaneamente de acantonar e desmobilizar algumas das tropas portuguesas africanas e de implementar o regresso de milhares de soldados portugueses ao Continente. Só regressará a Lisboa no dia 14 de Outubro de 1974, cerca de seis meses após a Revolução de 25 de Abril. Esta missão só será terminada na Comissão Liquidatária em Lisboa., onde permanecerá até Dez. de 1976. 

1 - O Comodoro Almeida Brandão desempenhou as funções de comandante-chefe interino e o tenente-coronel Carlos Fabião as de delegado da Junta de Salvação Nacional e de representante do Governo Português na Província da Guiné. 

Algumas das suas condecorações: 
  • Condecorado com a Medalha de Prata de Serviços Distintos Com Palma (OE. Nº18 2º série – 1965). 
  • Condecorado com a Medalha de Mérito Militar de 2ª Classe. (O. E. Nº 12 – 2ªSérie, de 15/6/1966). 
  • Agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem Militar de Avis (O. E. nº 20-2ª Série, de 15/11/1971). 
  • Concedido o uso da nova passadeira da Medalha Comemorativa das Campanhas das Forças Armadas Portuguesas, com a legenda «GUINÉ 1973-1974», Por despacho de 20 de Dezembro de 1974 do Comandante Militar e por delegação do General Chefe do Estado Maior do Exército (OS. nº 47 de 26 de Dezembro de 1974 da Comissão Liquidatária dos Q. G. /C C F A G – C T I G). 

"Notícias sobre alguns militares a condecorar nas cerimónias do 10 de Junho de 1966, na cidade do Porto. Jornal Comércio do Porto, 4-6-1966" 

Alguns dos seus muitos Louvores: 

Em 1965, o Ministro Joaquim da Luz Cunha , Louvou este oficial (na altura Major do CEM, "...devendo os serviços prestados à Região Militar de Angola serem considerados extraordinários, relevantes e DISTINTOS..." - (Ordem do Exército nº18 2ª Série de 1965). Mais tarde, já na Metrópole, e devidos às funções desempenhadas na Região Militar do Porto, como Sub-chefe e como Chefe do Estado-Maior, foi novamente Louvado por outro Ministro do Exército, o ministro Horácio de Sá Viana Rebelo, pois segundo este, "...,evidenciou excelentes qualidades que o cotam como colaborador do Comando digno do maior apreço. Oficial muito Distinto, dotado de elevadas qualidades de trabalho ... este oficial cujos serviços muito honraram as Instituições Militares que com tanta dignidade vem servindo (Ordem do Exército nº80, de 5 de Abril de 1972). Além destes Louvores de Ministros, o coronel Henrique Gonçalves Vaz, foi Louvado por todos os Comandantes das Regiões Militares onde serviu, apenas no CTIG, na Guiné não o foi, talvez pelo facto do General Comandante Chefe e o Comandante do CTIG terem sido "Destituídos" dos seus cargos devido ao Golpe Militar do 25 de Abril, como tal, tenho dado visibilidade neste nosso Blog, a essa parte da sua carreira militar, para Honrar a sua Memória. 
Ø Faleceu em 26 de Agosto de 2001 na freguesia de S. José de S. Lázaro, Concelho de Braga, alguns dias após uma crise cardíaca ocorrida em sua casa de Levandeiras. 
Ø Foi sepultado no Cemitério de Barcelos com Honras Militares prestadas por um pelotão de cavalaria do Regimento de Cavalaria de Braga (R. C. Nº6), unidade que comandou entre 1972 e 1973. 

No rio Chiloango em Cabinda, 1964. Deslocação no TO na ZN em Angola .O Major Henrique Vaz , na altura Adjunto da Secção de Planeamento e controle da 4º Rep. no Q. G. da Região Militar de Angola, em Julho de 1964 

Major Henrique Vaz, preparado para mais uma, das muitas missões de reconhecimento, realizadas no noroeste de Angola. 

Major Henrique Vaz em visita ao aquartelamento do Esquadrão de Cavalaria 681, comandado pelo Capitão de Cavalaria, Carlos de Azeredo (na fotografia, ao lado direito do Major Vaz) 

BRAGA, 21 de Março de 2012 
Luís Gonçalves Vaz 
(Tabanqueiro 530) 
___________ 
Nota de MR: 

(*) Vd. também sobre esta matéria o poste do mesmo autor em: 


Guiné 63/74 - P9658: Agenda Cultural (190): A banda portuguesa Melech Mechaya em Lisboa, Cinema São Jorge, sábado, 31 de Março, 21h30... Convidada especial: Mísia...Ganda ronco! (João Graça)


1. Mensagem que nos chegou do nosso tabanqueiro João Graça, com data de hoje:



Assunto - Melech Mechaya, Lisboa, Cinema São Jorge, Sala Manoel Oliveira, 31 de Março, 21h30




Amigos e camaradas da Guiné, leitores do blogue da Tabanca Grande:

Depois de uma tournée pelo país, os Melech Mechaya regressam a Lisboa já no próximo dia 31 de Março, às 21h30, no Cinema São Jorge em Lisboa. E eu gostaria muito que alguns de vós, nomeadamente os da área da Grande Lisboa, pudessem partilhar connosco este espetáculo que vai ser, para utilizar um termo do vosso calão da guerra, um "ganda ronco"...


Esta banda portuguesa de música klezmer, a que eu pertenço,  irá apresentar o seu novo álbum "Aqui Em Baixo Tudo É Simples", que conta com as participações especiais do trompetista norte-americano Frank London, dos Klezmatics (vencedores de um Grammy em 2006), e da fadista portuguesa Mísia.


A cantora será ainda convidada especial para o concerto no Cinema São Jorge, onde irá interpretar "Gare No Oriente".

Os bilhetes (10 "roquetadas') estão à venda na Ticketline e locais habituais.


Um grande abraço para todos os amigos e camaradas da Guiné. Até breve!

João Graça, em nome dos Melech Mechaya


Contactos: +351 968 947 230 | +351 964 389 756

Sítio: http://www.melechmechaya.com/


2. Quem são os Melech Mechaya ?


(i) Melech Mechaya é uma banda portuguesa de música klezmer, sediada em Lisboa e Almada:

(ii) O klezmer é um género de música,  não-litúrgica,  judaica, festiva, desenvolvido a partir do século XV pelos asquenazes (judeus do leste europeu, que falavam o idish; os judeus da península ibérica eram os sefarditas, falavam o ladino);


(iii) São geralmente considerados como a primeira e mais proeminente banda do género em Portugal;


(iv) Atingiram alguma notoriedade devido aos seus festivos concertos e contagiante sonoridade Klezmer, inspirada ainda pelas músicas cigana, árabe e balcânica, bem como Fado e Tango;


(v) As suas actuações ao vivo são muito interactivas, e Rodrigo Nogueira da revista Time Out referiu-se a eles como "uma banda incrível ao vivo";


(vi) O grupo formou-se nos finais de 2006 com João Graça no violino, Miguel Veríssimo no clarinete, André Santos na guitarra, João Sovina no contra-baixo e Francisco Caiado na percussão;


(vii) Em 2008 lançaram o EP "Melech Mechaya" (ed autor);


(viii) Em 2009 foi lançado o seu disco de estreia "Budja Ba" (Ovação). Eelco Schilder, da revista FolkWorld, considerou-os "cinco músicos notáveis" e a sua abordagem ao Klezmer "muito diferente".


(ix) Em Outubro de 2011 lançaram o segundo álbum "Aqui Em Baixo Tudo É Simples", que conta com a participação de um dos mais prestigiados músicos de klezmer a nível mundial,  o trompetista norte-americano Frank London, dos Klezmaticsm bem como a fadista Mísia.

(x) Com produção da própria banda, o disco "Aqui Em Baixo Tudo É Simples" inclui 6 temas tradicionais judaicos e 7 temas originais, cujas partituras serão disponibilizadas gratuitamente na página oficial do grupo;

(xi) O título do novo disco é inspirado pela peça "Ivanov", de Anton Tchekhov, cuja encenação em 2010 pela companhia de teatro A Truta teve a direcção musical dos Melech Mechaya;

(xii) Os Melech Mechaya andaram em digressão quase ininterrupta desde 2007, e tocaram em mais de 120 concertos em Portugal, Espanha e Croácia; os seus espectáculos, que João Bonifácio do Público classificou de "pura e simplesmente electrizantes", fizeram parte de importantes festivais de músicas do mundo, tais como ‘CCB Fora de Si’ em Lisboa, 'Festival De Músicas Do Mundo’ em Sines, 'Spancirfest' na Croácia ou 'Evoluciona Musica' em Espanha, e fizeram ainda a primeira parte do concerto de 'Emir Kusturica & The No Smoking Orchestra' no Coliseu de Lisboa em 2010;

(xiii) Têm trabalhado frequentemente em teatro e cinema; a sua música aparece em bandas sonoras de inúmeras curtas-metragens, participaram e fizeram a direcção musical da peça de Antón Tchekhov "Ivanov", com a companhia de teatro A Truta, e foram ainda convidados da peça "Bennie Hall" pela companhia Esticalimógama.


Fonte: Sítio oficial da banda > Myspace > Melech Mechaya
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9644: Agenda Cultural (189): Apresentação do livro A CCAÇ 2317 na Guerra da Guiné: Gandembel / Ponte Balana, de Idálio Reis, dia 21 de Abril de 2012 no Palace Hotel de Monte Real (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P9657: Meu pai, meu velho, meu camarada (26): Porfírio Dias (1919-1988), ex-sold aux enf, Cabo Verde, São Vicente, Mindelo (de 18 de julho de 1941 a 7 de maio de 1944) (Luís Dias)


1. Mensagem, com data de 24 do corrente, do nosso camarada Luís Dias  [ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872,´Dulombi e Galomaro, 1971/74, ],


Caro Luís Graça




Em conformidade com o solicitado junto te envio um texto contendo diversas fotos do meu pai (as que encontrei) e que foi publicado no blogue da minha companhia, por ocasião do dia do pai de 2009.


Dispõe delas para publicação, se o entenderes, relacionado com os pais que estiveram em África, por ocasião da 2ª Guerra Mundial.


Um abraço.


Luís Dias

2. AO PORFÍRIO DIAS, QUE TAMBÉM FOI SOLDADO EM ÁFRICA
por Luís Dias


Em memória de Porfírio António Dias, natural dos Anjos, Lisboa, nascido em 30 de Julho de 1919, Conferente Marítimo Reformado, falecido em Lisboa a 8 de Março de 1988. Era casado com Venina Antunes Fernandes Dias, nascida em 1927, natural de S. João da Praça, Lisboa. (Viria a falecer em 12 de Outubro de 2011, com 84 anos).


Recebeu em Fevereiro de 1943, no Mindelo, Cabo Verde,  do Comandante de Batalhão,  o louvor militar seguinte: "Louvo pelo muito zelo com que tem desempenhado as suas funções no Posto de Socorros na Enfermaria do Batalhão, muitas vezes com o prejuízo da sua própria saúde, dando com a sua actividade, excelente exemplo de dedicação pelo serviço e pela saúde dos seus camaradas e manifestando-se assim um óptimo auxiliar do Senhor Oficial Médico". Foto nº 6 > Foto tirada em Cabo Verde, depois do incidente que o obrigou a usar óculos para sempre.

Fotos:  © Luís Dias (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



Foto nº 1 > Caderneta Militar do Porfírio Dias



Foto nº 2 > Porfírio Dias - Especialidade: Enfermagem... Ainda na metrópole (1940)

Foto nº 3 > Porfírio Dias em Cabo Verde, com a braçadeira de enfermagem e com pistola à cintura.

Foto nº 4 >    À porta da enfermaria, no Mindelo, na Ilha de S.Vicente, com outros camaradas enfermeiros e com o Alferes médico (o que não tem bata branca).



Foto nº 5 > Em Mindelo, com outros camaradas do batalhão (O sold aux enf, Porfírio Dias, está de bata branca)
Foto nº 6 > Tirada em Cabo Verde, depois do acidente que o obrigou a usar óculos para sempre

Fotos: (e legendas):  © Luís Dias (2009). Todos os direitos reservados

2. O Porfírio Dias, que também foi soldado em África
por Luís Dias


Querido pai,

Hoje é dia 19 de Março [ de 2009], dia de S. José, dia do pai. O teu neto telefonou-me de manhã a combinar almoçar comigo. O Daniel não se esqueceu aqui do “velho”, do “cota” como agora eles dizem. Vamos estar juntos. Também gostaria que pudesses estar aqui connosco, a vida levou-te há já alguns anos, mas continuas bem presente no nosso coração.

Mas neste dia queria lembrar que também tu foste mobilizado e enviado para Cabo Verde, no tempo da 2ª Guerra Mundial, que cumpriste também um dever que te foi imposto pelo teu/nosso país. Sei que a tua comissão não teve os riscos de combate, de guerra, como eu tive na Guiné, embora se falasse da possibilidade de um ataque alemão ou mesmo inglês, conforme o governo de Salazar se fosse inclinando para um lado ou para o outro, mas houve outros perigos: muita fome, doenças e as desgraças que assististe por força da tua especialidade.


Foste também vítima da habitual falta de material para cumprir com o necessário cuidado as tarefas de que eras incumbido, como Soldado Auxiliar-Enfermagem. E foi por teres utilizado umas luvas já deterioradas numa intervenção cirúrgica, em que apoiavas o médico, que depois ao tocares com os dedos num dos teus olhos, arranjaste o problema que te obrigou a usar óculos desde então.

Aqueles tempos de 18/7/941 a 7/5/44 (2 anos e 10 meses!!!!), em terras de Cabo Verde, não terão sido pera doce e lembro-me da história que tu contaste do submarino alemão que atracou e que,  depois de instado a sair de águas portuguesas, os alemães mantiveram-se calmamente no local e só se foram embora quando lhes apeteceu. Mas também das mornas que tu ficaste a adorar, como adoravas o fado. E a porrada que apanhaste e que está na tua caderneta, por estares no refeitório a atirar bolinhas de pão aos teus camaradas. É mesmo para rir…!!! Não havia mais nada para os teus superiores se entreterem? E um dos louvores por teres agarrado o cavalo do comandante que tinha tomado o freio nos dentes…. e que tu dizias que só o agarraste porque não sabias que o cavalo estava enlouquecido...porque se soubesses deixava-lo fugir! Ah!AhAh!

Lembro-me da alegria que tiveste quando fui promovido a Aspirante a Oficial Miliciano e,  se a mãe chorava, quase diariamente, como tu me contaste, quando eu estava na Guiné, ela também me contou das tuas lágrimas quando aos fins-de-semana me ajudavas a levar a mala até às camionetas, que me levavam a Mafra e depois a Abrantes de regresso ao quartel.

Sempre te fizeste de forte, mas eu sei o quanto também sofreste, enquanto eu por África andava. Imaginavas os horrores que devíamos estar a enfrentar, pensando no que tu também passaras.


Foste tu que me encaminhaste para a minha profissão quando me trouxeste o anúncio do concurso para investigadores da Polícia Judiciária, em 1975,  e ficaste todo orgulhoso de eu ter entrado. Deus não te deu o tempo de assistires enquanto eu fui progredindo na carreira e nomeado Director do Departamento de Armamento e Segurança, pelo Ministro da Justiça, 25 anos mais tarde.

O Daniel teve a sorte da liberdade conquistada pelo 25 de Abril lhe proporcionar ser o que ele quer. Sabes que ele tocou durante alguns anos, como guitarrista, numa banda rock – os Aside, que era, como tu te lembras, um dos meus sonhos. A banda fez 2 CD e diversos Tours por Portugal, pela Europa e pelo Canadá. Tocou no Festival de Vilar de Mouros, em 2005.

O socialismo que tu, a mãe e eu tanto apoiámos, é que já não mora aqui. Tem estado a morrer às mãos de uns tantos governantes tecnocratas que enfadam e corroem este nosso país.

A tua mulher (a minha mãe) tem sido sempre um apoio presente na minha vida e na do neto e pese embora a sua doença, as diversas passagens pelo hospital, continua a ter força para viver e conviver connosco. Como escreveu um camarada do meu batalhão num texto muito bonito sobre a mãe – para todas as mães – reconheço que algumas das rugas que ela tem, possam ter sido causadas por mim, pelo tempo que estive na guerra, mas olha que outras devem-se a ti, por teres partido tão cedo e sabes que tiveste alguma culpa nisso (maldito tabaquinho).

A nossa Lisboa continua linda e o Tejo, com o qual tanto conviveste, em virtude da tua profissão (Conferente Marítimo), está hoje mais perto da cidade, numa aliança muito importante para os lisboetas.

Preocupação tem-nos dado o nosso Benfica, que está um pouco longe do que era no teu tempo, mas eu e o Daniel mantemo-nos fiéis ao clube que, aos Domingos, indo contigo ao antigo Estádio da Luz, aprendi a amar. Sabes que o teu neto é Mestre em artes marciais (Taekwondo Do) e dá aulas, especialmente a miúdos, tendo começado também no SLB e já conseguiu alcançar alguns títulos com eles.

Pai, estou a invocar-te aqui no blogue da minha companhia, porque tu também foste um mobilizado para África. Um, entre os muitos milhares que a Pátria foi lançando para as terras bravas e quentes daquele Continente. Foste um soldado português, como nós fomos. O país, como aos combatentes da 1ª Grande Guerra, onde o meu avô também esteve, aos do teu tempo, aos da Índia e a nós combatentes da guerra colonial, nunca nos agradeceu, porque é ingrato ou, se calhar, também não mereceu tanta brava gente.

Um abraço saudoso de teu filho. Um dia, quando Deus quiser, iremos voltar a abraçar-nos.
Luís Dias

3. Comentário de L.G.:


Como o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca é... Grande! Os nossos dois velhotes foram contemporâneos no Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde... Não sei se foram no mesmo navio, não devem ter ido... Nem deviam pertencer ao mesmo batalhão... O meu velhote chegou ao Mindelo a 23 de julho de 1941 e o teu cinco dias antes: 18 de julho... Era 1º cabo inf, nº 188/41 (1º Pelotão, 3º Companhia, 1º Batalhão, RI 5 - Caldas da Rainha)... Passou os últimos quatro meses, hospitalizado, no Lazareto, e regressou à metrópole em setembro de 1943... O teu ainda lá penou mais 7 meses! Vê, entretanto, se descobres, na caderneta, a que batalhão é que ele pertenceu...


Luís, parabéns pelo texto que escreveste e que eu não conhecia! É de uma grande ternura e cumplicidade!... Infelizmente, o teu velho já partiu mas as tuas memórias dele não se perderão. Temos um dever de memória em relação a esta geração, a dos nossos pais,  que também defendeu a pátria até aos confins do império... Um grande Alfa Bravo. LG


PS - Há mais expedicionários em Cabo Verde, durante a II Guerra Mundial: além do teu pai e do meu, o pai do Nelson Herbert, o pai do Hélder Sousa e ainda o pai do Augusto S. Santos (poste a publicar em breve).
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Nota do editor:


Último poste da série > 19 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9628: Meu pai, meu velho, meu camarada (25): Bo vida ta na balança... (Luís Graça)

Guiné 63/74 – P9656: Convívios (406): Encontro da CCAÇ 1801, no próximo dia 14 de Abril de 2012, Fátima (Carlos Sousa)



1. O nosso Camarada Carlos Sousa, ex-Alf Mil de Operações Especiais/RANGER da CCAÇ 1801 - Ingoré, Bissum-Naga, S. Domingos, Cacheu e Antotinha (destacamento de Ingoré) 1968/69.

ALMOÇO/CONVÍVIO DOS VETERANOS DA CCAÇ 1801 

Camaradas,

Vau decorrer o Encontro (almoço/convívio) dos Veteranos da CCAÇ 1801 - Ingoré -, 1967-1969 no próximo dia 14 de Abril de 2012, com o seguinte programa:

10h00 – Concentração junto à casa do Manuel M. Oliveira (organizador), Travessa Santo António, 8, Fátima (a 50 m do Santuário).

11h00 – Missa pelas nossas intenções e em memória de colegas falecidos, na Igreja da Santíssima Trindade.

13h00 – Almoço no restaurante D. Nuno.

A confirmação deve ser feita até 10 de Abril para 249531588 ou 919519567 (Manuel M. Oliveira).

O preço é de 27 € e crianças 15 €.

De notar que este encontro é já prática de muitos anos (mais de 30), sempre no mesmo local! Alguns filhos de camaradas conheceram-se nestes encontros e casaram! Quer isto dizer que há camaradas que são avós do mesmo neto, o que faz com que sejam aquilo a que eu chamo "parentes inversos"!

Um abraço do camarada,
Carlos Sousa
Alf Mil OpEsp/RANGER da CCAÇ 1801
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 


Guiné 63/74 - P9655: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (21): TECNIL, importante empresa de obras públicas, que desaparece do mapa (Parte III)



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Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BART 2917 (1970/72) > Máquinas da TECNIL operando na construção da estrada Bambadinca-Xime. Numa delas (foto de cima), lê-se: "Deus Te Guie BX 1970"...Na última foto, forças da CCS do BART 2917 montando segurança aos trabalhos de construção da estrada.


Fotos: © Benjamim Durães (2010) / Legendas: L.G. Todos os direitos reservados




1. Mensagem de António Rosinha, com data de 6 do corrente, enviando-nos a III (e última) parte de um texto sobre a ascensão e queda da TECNIL, empresa de obras públicas portuguesa que operou na Guiné-Bissau, antes e depois da independência:


De: António Rosinha


Data: 6 de Março de 2012 20:57


Assunto: Como desparece em Bissau a empresa TECNIL e é substituida pela Soares da Costa


Um dos últimos trabalhos de que fui incumbido pelos meus patrões da TECNIL, foi uma «ordem» de Luís Cabral.

Este homem era muito dinâmico em questão de investimento em obras públicas e angariação dos respectivos financiamentos. E denotava gosto por tal actividade e tinha muitos engenheiros nacionais e cooperantes a mexer em tudo.


Luís Cabral pretendia reformular uma residência bastante moderna que foi propriedade de um antigo cólon que eu não conheci, para sua residência, penso eu. Essa residência ficava a traz do gabinete do primeiro ministro, e tinha uma portaria que era preciso adaptar, na cabeça de Luís Cabral, para receber o Volvo presidencial, bem junto à porta da residência.


Só que havia um pedaço de jardim e duas colunas à entrada da residência que era preciso derrubar construir noutra disposição, e isso Luís Cabral não queria.

E, agora vou falar em nomes de gente muito simpática e não quero de maneira nenhuma fazer «politiquice» nem com as pessoas nem com a atitude das mesmas nem do momento.

O ministro das Obras Públicas era Tino Lima Gomes que era arquitecto e ainda chegou a dar uma vista de olhos na portaria mas sem qualquer solução.

Mas a esposa dele,  a camarada Milanka, de nacionalidade jugoslava, arquitecta nas Obras Públicas é que foi encarregue de descalçar a bota, e eu no campo executar o impossível. Só que a camarada Milanka não tinha coragem de dizer ao presidente que era impossível executar como ele queria, e eu descarreguei o meu fardo para o meu patrão Ramiro Sobral que se encontrava em Bissau. Onde ia mês sim,  mês não.

E o velho de 75 anos, e muitos anos de África, habituado a resolver casos bicudos, analisou e solucionou:
- Senhora Dona Millanka, (toda a gente dizia camarada Milanka), sabe porque ando nesta vida com esta saúde aos 75 anos? Porque à porta da minha casa em Viseu tem 3 degraus. E subir e descer esses 3 degraus dão-me imensa saúde. Convença o senhor presidente que com 3 degraus resolve o problema e dá-lhe imensa saúde para daqui a muitos anos continuar com o meu dinamismo.

Passados uns instantes já só comigo no automóvel, Ramiro Sobral como que a falar para os próprios botões, previa:
- Com degraus ou sem degraus não vais envelhecer aqui, não.


Talvez uns 15 dias depois, dá-se o golpe a 14 de Novembro de 80 que derruba Luís Cabral.


Visto hoje a 32 anos de distância, sem dúvida que Luís Cabral que fazia muita falta à Guiné, para mim era uma pessoa muito honesta, mas esqueceu-se da política, do povo e dos «inimigos» que arranjou na Guiné, e foi esquecido e isolado pelos «amigos» da Caboverde, e o meu patrão já via isso tudo.

Os guineenses do partido e os congéneres caboverdeanos já tinham abandonado o «trilho» de Luís Cabral há muito tempo, e quando apareceu o precipício não estava lá ninguém para lhe dar a mão e quando chegou lá abaixo era o vazio. Quem estava em Bissau relembrou-se muito do que aconteceu a Amílcar, e ouvia-se muito " só agora é que somos independentes".

Claro que Ramiro Sobral, digo agora a esta distância, já estava também a ver o fim dele próprio naquela terra. E com o fim de Luís Cabral piorava tudo, como se viu até hoje.

Só que com Luís Cabral, havia as chamadas "engenharias financeiras" e os dinheiros iam aparecendo ou com atraso ou parcialmente. Com a fuga de quem sabia essas contabilidades, aí foi mesmo o fim de tudo.

E a TECNIL acaba passados mais ou menos meio ano com todos os bens, máquinas, armazéns, residência em tribunal à ordem dos Tribunais e da vontade da polícia, do ministro das Obras Públicas e dos humores dos engenheiros directores das Obras Públicas, que já nenhum era caboverdeano, os novos ninguém tinha compromisso em respeitar nada.

A TECNIL tinha recentemente como director da empresa um engenheiro Máximo que havia sido capitão de engenharia pouco antes da independência. Esse engenheiro Máximo teve que sair na TAP, clandestinamente, porque já tinha a residência vigiada e seria preso em qualquer altura porque não havia dinheiro para pagar nem salários do pessoal e naquele «comunismo» não havia advogados, e corria mesmo perigo até podiam pegar por ter sido militar tuga.

Estas peripécias já me são contadas cá pois vou a tribunal de trabalho como testemunha do engenheiro Máximo para a TECNIL lhe pagar o que lhe ficou a dever.

Mais tarde há negociações entre o Governo de Nino e a Soares da Costa, que estava como sócio no Liceu com a TECNIL, e esta empresa do Porto, já com gente «actualizada» para a nova realidade da vida, recuperou e lutou por substituir a TECNIL e parece que conseguiu alguns objectivos.

Como não tinha rotina colonial a Soares da Costa recorreu a alguns dos que já tínhamos andado por lá pelas Áfricas desde Moçambique a São Tomé, engenheiros, chefes de mecânica, encarregados de obra e de laboratórios, era uma equipa de "retornados".

Atenção,  que grande parte dos engenheiro portugueses que trabalhavam e eram directores de obra dessas empresas que iam para o ultramar, a seguir às independências, eram em maioria ex-estudantes da Casa do Império que não fugiram para Paris nos anos 60.
Trabalhei com dois da terra do Pepetela que eram relacionados com dirigentes do PAIGC, o que lhe valeu algumas vantagens em concursos de obras.

Para terminar este" fim de uma empresa colonial", tenho a dizer que "paguei para ver". E o próprio velho Ramiro Sobral, bem lá no fundo,  também pagou para ver. Sempre tive curiosidade o que é que os "tais ex-estudantes da Casa do Império" iam conseguir realizar com as independências. 

Só me foi possível satisfazer a curiosidade suportando o "pesadelo TECNIL". Conheci e trabalhei com alguns que não foram para Paris e para a luta e depois conheci ou trabalhei com alguns que foram para a luta. Como alguns desses estudantes ou foram filhos de Chefes de Posto ou de velhos comerciantes ou já estava destribalizados por missionários cristãos, ou filhos de funcionários públicos, queria ver o grau de relacionamento com os povos após a independência.

Tal como se previa por quem conhecia um pouco da realidade africana em geral, qualquer chefe de posto colonial sem armas na mão, conseguia mais apoio popular e unanimidade dos diversos povos, do que Luís Cabral conseguiu. O inicial entusiasmo pela juventude e o fim da guerra era natural, assim como cá em Portugal com o 25 de Abril; assim como o entusiasmo com o derrube de Luís Cabral e um certo entusiasmo exagerado de alguns, até parecia trazer expectativa.

Só que o resultado é sempre negativo porque não é assente em bases definidas, eram apenas facções do mesmo caldeirão partidário a sobreporem-se.

A guerra que discutimos dos 13 anos da nossa guerra do Ultramar é apenas um pequeníssimo flash do péssimo que se passa em África desde 1960 devidamente apoiado pelas Nações Unidas e pela Europa democrática em particular.

E paguei para ver: a Tecnil não cumpriu comigo durante 1 ano, estive em bichas de pão com gorgulho, substitui com vantagem as batatas à mesa por inhame, vi formas de racionamento de sabão, que já não existia, e vi gente que não podia chorar em público os familiares assassinados.

E isto tudo testemunhado e apoiado pelas Nações Unidas e por toda a Europa, e assistido por mim que também ficava calado.

E como ao fim de 40 anos, está em curso um complexo processo de apagamento, ou diluição, ou esbatimento, de certas tribos nalguns países, podemos imaginar as coisas que a Europa e as Nações Unidas são capazes de promover em África, com assentimento dos seus dirigentes.

Hoje, sinto que pertenci a uma geração de portugueses que durante 13 anos Portugal teve uma opinião própria, contrária à maioria da Europa que hoje pouca opinião tem. Será que as pessoas de agora acreditam que tenha sido verdade? Opinião própria emitida em Plenas Nações Unidas, mensalmente em Nova Iorque ?

Para terminar, digo que conheci "um velho de Viseu" que não pensava como os "velhos do Restelo".


Um abraço
António Rosinha
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Nota do editor:

Último poste da série > 5 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9561: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (20): TECNIL, importante empresa de obras públicas, que desaparece do mapa (Parte II) 

Guiné 63/74 - P9654: Parabéns a você (395): Rui Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 816 (Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67)

Para saber mais sobre o Rui Silva, clicar aqui.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9649: Parabéns a você (394): Braima Djaura, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 19 (Guiné, 1972/74)

sábado, 24 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9653: O nosso Blogue na Antena 1 pela voz de Luís Graça, no programa Emoções de João Paulo Diniz (Carlos Filipe Coelho)

1. Ainda a propósito da entrevista que Luís Graça deu ao jornalista, e nosso camarada, João Paulo Diniz, difundida hoje no programa Emoções, da Antena 1, recebemos esta mensagem do nosso camarada Carlos Filipe Coelho (ex-Soldado Radiomontador da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74):

Carlos Vinhal,
Se desejarem descarregar isto que eu fiz, podem fazê-lo sem problema.
Está no meu canal YouTube:

Cumprimentos.
Carlos Filipe


Entrevista telefónica de Luís Graça dada ao nosso camarada jornalista João Paulo Diniz, difundida hoje de madrugada no programa "Emoções" da Antena 1. Vídeo editado e alojado no Youtube por Carlos Filipe Coelho.

Ao nosso camarada Carlos Filipe o nosso muito obrigado porque assim todos terão acesso à gravação, que mandada por mensagem à tertúlia, por condicionalismos técnicos teve muitas devoluções.

Guiné 63/74 - P9652: In Memoriam (114): José Mexia Alves, irmão do nosso camarada Joaquim Mexia Alves (Editores / Joaquim Mexia Alves)

A notícia chegou ao nosso Blogue, primeiro por mensagem de Joaquim Mexia Alves e depois através da Tabanca do Centro por intermédio do nosso camarada Miguel Pessoa.

Acaba de falecer um dos irmãos do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves. O José, com 68 anos de idade.

Sendo o Joaquim o mais novo de 9 irmãos, terá que ir passando por estas horas difíceis. Cada irmão que nos morre é um bocado de nós mesmos que se vai. Idos os pais, os irmãos são o último repositório da memória de um núcleo familiar que se vai desfazendo.

Em nome da Tabanca Grande, e sem prejuízo de possíveis contactos posteriores dos restantes editores, apresentei, via telefone, ao Joaquim as nossas maiores condolências. Instado sobre a data e hora do funeral do seu irmão José, o Joaquim, que ia em viagem a caminho da Lousã, disse que o mesmo se efectuará amanhã naquela localidade às 15 horas.

Ficam aqui e agora as mensagens relacionadas com este funesto acontecimento, com a devida autorização do Joaquim:

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves dirigida ao Blogue hoje mesmo:
[...]
Hoje de manhã faleceu o meu irmão Zé com 68 anos.

Tenho a minha irmã Filomena no hospital "ligada às máquinas" e o meu compadre, pai do meu genro em muito risco de vida.

E Deus é grande!

Um grande e amigo abraço
joaquim


2. A título pessoal enviei esta mensagem ao nosso camarada enlutado:

Caro Joaquim
Os meus sentidos pêsames pela morte do teu irmão, um pouco mais velho do que nós, logo chamado muito cedo ao Criador. As limitações do Homem não impedem que a natureza cumpra a sua ordem e os desígnios de Deus (para os crentes) são incompreensíveis para nós, simples mortais.

Se o problema de saúde da senhora tua irmã for irreversível, o mais certo é dentro de dias ou horas desligarem-lhe as máquinas que lhe sustentam a vida. É dramático para a família viver estes momentos. Não tenho palavras para te consolar neste momento tão difícil para ti. És um homem crente, de Fé e tens pensamentos para além desta vida terrena que sabemos ser efémera. Espero que encontres forças para enfrentar estes momentos dolorosos, apesar de veres partir aqueles que são o sangue do teu sangue.

Tão ínfimo que me sinto sem te poder ajudar, ao menos com palavras, envio-te um abraço sentido, que vou renovar em 21 de Abril. 

Força companheiro.
Carlos


3. Entretanto recebíamos da Tabanca do Centro estas mensagens:

Camarigos
Estou certo de estar a falar em nome de toda esta nossa família ao dizer que a Tabanca do Centro está de luto pela morte do irmão do nosso camarigo Joaquim.

Fomos hoje informados da morte do seu irmão, José Mexia Alves, de 68 anos, após doença que pela sua gravidade já prenunciava este desfecho.

Caro Joaquim, sabes que podes contar connosco neste momento de dor e desejamos que possas estar connosco no nosso próximo Encontro, em 28 de Março. Compreendo que te poderá faltar o ânimo para estares presente, mas também sabes que é nestas situações que os amigos são importantes - e eles certamente contarão com a tua presença para demonstrarem a sua solidariedade.

Em nome do grupo,
Miguel Pessoa

************

Caros editores
Estando incluídos na lista de envio da Tabanca do Centro, tiveram oportunidade de receber a notícia do falecimento, após doença prolongada, do irmão do Joaquim Mexia Alves, o José, de 68 anos.

Pela consideração que lhe merece a Tabanca Grande e os seus editores, o Joaquim pediu-me que para além dessa distribuição geral eu lhes fizesse chegar a título pessoal esta notícia.

Com um abraço
Miguel Pessoa


4. AO MEU IRMÃO ZÉZINHO

Agora,
meu irmão Zézinho,
começa o tempo do amor perfeito.

Tu que tanto amaste,
e tanto te deste,
conheces agora o amor,
o verdadeiro,
o sem limites,
aquele que não deixa dor,
porque é só em tudo amor.

Fica a saudade,
que não é nada,
por sabermos que Deus ama,
os que amam,
e que junto d’Ele,
lhes concede a felicidade.

Vai,
meu irmão Zézinho,
e junto a Ele,
vai preparando caminho,
para nós,
que te havemos de seguir,
quando Deus quiser,
amanhã,
ou no porvir.

Descansa agora,
nos braços do Criador,
adormece em paz
e na serenidade,
(que a tua cara espelha),
agora que afastada a dor,
já liberto da humanidade,
vives o completo amor.

Adeus,
meu mano querido!

Lembras-te,
meu mano querido
que é moda em Monte Real,
quando nos encontramos à chegada,
dizer o adeus,
que os outros dizem
à despedida?

Por isso adeus,
Zézinho
porque agora aqui chegaste,
ao fundo do meu coração,
de onde nunca partirás.

A Deus,
o que é de Deus,
e tu amor doado,
deixas agora os teus,
para os levares em recado,
aos braços,
do nosso Deus.

Marinha Grande, 24 de Março de 2012
JMA

(In Que é a Verdade?)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9596: In Memoriam (113): Ex-Soldado de Cavalaria José Aldeia Soares da CCAV 1748, pela sua morte ocorrida em 29 de Fevereiro, ex-sem abrigo de Odivelas (José Martins)

Guiné 63/74 - P9651: Blogoterapia (203): O Meu Pai (Joaquim Mexia Alves)


1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73), fundador da Tabanca do Centro, com data de 20 de Março de 2012:

Para os meus camarigos
A propósito do dia do pai, partilho convosco este texto.
Um abraço do
JMA


O MEU PAI

O meu pai era um homem alto, forte, uma figura que chamava a atenção, tanto mais que tendo nascido em 1899, não havia muita gente do seu tamanho, naquele tempo.

Se bem me lembro nunca o vi fazer uso desse seu tamanho para impor fosse o que fosse, mas era antes um homem calmo, ponderado, de quem emanava uma forte autoridade, sustentada por um testemunho de vida coerente com tudo aquilo em que acreditava.

Tendo servido cargos de Estado, nunca se serviu deles, (até por eles terá sido prejudicado), tal como nunca foi contra os seus princípios, sendo um homem livre e independente, nunca permitindo que as suas obrigações colocassem em causa a sua coerência de vida.

Não me lembro de o ouvir alguma vez gritar, mas impunha-se pela sua presença e autoridade imanente.

Embora lhe tivesse um enorme respeito, um quase temor reverencial, sempre senti nele, apesar da austeridade de tratamento, um amor forte, profundo, paternal, que me fazia sentir seguro não só no momento, mas também no futuro.

O meu pai “transformava-se” nas festas de família, sobretudo no Natal e na Páscoa.

Parecia-me que nesses dias se aproximava de mim, (“falo” por mim, mas julgo que o que escrevo poderá ser subscrito pelos meus irmãos), se tornava mais perto, mais terno, mais carinhoso, mais pai de amor, embora e sempre educador.

Muitos diriam ou pensariam que com um pai assim, austero e educador intransigente, a minha infância teria sido dura ou menos feliz.

Estão completamente errados, pois tenho saudades imensas da minha infância, da minha adolescência, do meu crescer suportado nos seus ensinamentos, em palavras e testemunho de vida.

Julgo até que seria impossível ter sido mais feliz!

Mas uma das suas características mais marcantes, para mim, era a profundidade da sua Fé!

Ainda a Igreja, (suponho eu), não tinha falado da família como “igreja doméstica”, e já, olhando agora para trás, eu vejo como o meu pai, (sempre com a minha mãe, claro), moldava a sua/nossa família como uma “igreja doméstica”, sobretudo nesses dias de festa religiosa.

Haveria tanta coisa para escrever, para testemunhar sobre o meu pai, que não pararia de escrever e tornaria este texto de tal maneira longo, que perderia o sentido que lhe quero dar: uma homenagem ao meu pai, para lembrando-me dele, novamente aprender com ele a ser pai nestes tempos tão difíceis que a família agora atravessa.

Mas uma coisa não posso deixar de testemunhar, pois é algo que ainda hoje em dia me toca profundamente.

Sendo, como afirmei no inicio, um homem “imponente”, quando entrava numa igreja para rezar, para participar na Eucaristia, tornava-se “pequeno”, como que desaparecia aos olhos dos outros, e durante todo aquele tempo nada o perturbava, numa comunhão intima com Deus, numa profundidade de oração que ainda hoje me toca e gostaria de imitar.

Hoje, apesar da minha idade, sinto falta da sua segurança, sinto falta da sua presença forte e conselheira, mas sei, no íntimo de mim mesmo, que tenho a sua contínua intercessão no Céu, junto de Deus, que foi a sua razão de viver, que foi o “segredo” da família que criou e moldou, de tal modo, que apesar dos tempos que se vivem, a marca de Deus pelo meu pai deixada, contínua viva no coração de todos nós, sua família, até naqueles que não vivem a fé no seu dia-a-dia.

Louvado seja Deus, pelo pai que me deu, pela mãe que me deu, pela família em que me fez crescer, e pela família que colocou nas minhas mãos de pai e avô.

Marinha Grande, 19 de Março de 2012

Nota:

O meu pai e eu.
Fotografia tirada em 1 de Dezembro de 1971, 20 dias antes da minha partida para uma comissão militar na Guiné.

JMA

(In Que É A Verdade?, página do nosso camarada Joaquim Mexia Alves)
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9597: (Ex)citações (177): Relembrando, em Mato Cão, no dia dos meus anos, a presença do então maj art José Faia Pires Correia, oficial de operações do BART 3873 (Bambadinca, 1971/74) (Joaquim Mexia Alves)

Vd. último poste da série de 23 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9647: Blogoterapia (202): Louvo e peço a benção de quem vela por nós (Ana Paula Ferreira, filha do ex-1º cabo Fernando Ferreira, o cabo 14, da CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió e Cachil, 1964/66)

Guiné 63/74 - P9650: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (15): Promessas

1. Em mensagem do dia 19 de Março de 2012 o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta sua "outra" memória:

Outras memórias da minha guerra (15)

Promessas

Aproxima-se o fim do ano de 1966. Já é noite escura. Ela saiu da fábrica de papel e em passadas fortes vai directamente para casa. Tem 44 anos. Ficou viúva há sete, com 6 filhos, entre 1 e 15 anos. Agora, estão dois na escola primária, dois a trabalhar nas fábricas de cortiça (a Emília de 13 anos e o Francisco de 16) e dois estão na tropa. Mal entra em casa, vê que o Mário está a tirar dúvidas de tabuada à irmã mais nova.

- Vieste cedo, filho! Mandaram-te embora? – perguntou a “Ti Ana do Rusga” ao filho, que está a cumprir o serviço militar. E como ele demorou a responder-lhe, acrescentou:
- És órfão de pai, tens quase ano e meio de tropa e como o teu irmão já está em Angola há uns meses, é justo que te deixem vir para casa, ajudar os teus irmãos.
- Mãe, quantas vezes já lhe disse que vivemos numa ditadura e que a justiça deles não é igual à nossa? – respondeu o Mário.

A Ti Ana estremeceu, olhou preocupada a porta ainda aberta e lamentou-se:
- Lá estás tu, filho, com essas coisas de hereges e do comunismo na cabeça. A Sra Dona Julinha, está sempre a dizer-me que devias largar os livros e que não podes andar com os filhos do Dr. Baptista, porque esses qualquer dia vão morrer na cadeia, como o Ferreira Soares*. Sabes bem que tem de haver ricos e pobres e que se Deus Nosso Senhor nos fez pobres é porque é essa a sua vontade.
- Pois é, mãe, os ricos é que lhes metem essas coisas na cabeça e o nosso padre Inácio também ajuda. – respondeu o filho, que continuou:
- A mãe tem trabalhado sempre e nós, saímos da escola e vamos logo trabalhar. Andamos nas fábricas a fugir dos fiscais. Temos que suportar tudo por uns tostõezitos, porque quem for despedido, não é aceite pelos outros patrões. Temos vivido miseravelmente e a mãe não tem onde cair morta.

E, a seguir, interpela:
- Sabe qual foi a primeira ajuda do Salazar? Foi tirar-nos a Assistência Social e o direito ao abono de família, quando o pai morreu, precisamente na altura que mais precisávamos. Ninguém nos ajuda e ainda nos perseguem no trabalho. Há ricos que não vão para a guerra e nós, órfãos e necessitados, vamo-nos lá juntar os dois, que poderiam ajudar a família. Olhe, mãe, vim mais cedo porque vou mudar para o quartel de Gaia. E de lá seguiremos para a Guiné.

A Ti Ana começou a chorar e a lamentar-se:
- Ai, Nossa Senhora de Fátima que tens de me ajudar! Não me abandones! Cuida dos meus filhos e não os deixes ficar por lá.

E, de repente, reage a gritar:
- Oh meu Deus, que mal eu fiz para me castigares tanto? Eu não te peço para mim! Eu não rezo para ser santa! O que mais te peço é que me ajudes a criar os meus filhos! Tem dó desta desgraçada!

E, voltando-se para o filho, em tom mais sereno, continuou:
- Oh rapaz, tem temor a Deus e tem muito cuidado com o que dizes. Deus não gosta dessas heresias e pode castigar-nos. Olha que não podemos viver sem o respeito pelas autoridades e patrões e a bênção de Deus.
- Mãe, - respondeu o filho - essa gente trata-nos como escravos e ainda temos que lhes agradecer. Eu não posso aceitar isso, toda a vida. E Deus, se existisse, como exemplo supremo de bondade e com poder infinito, não deixaria haver tanta injustiça. Ele não deixaria sofrer e morrer tantos inocentes. E aproveito para lhe dizer já que não vale a pena fazer promessas a Fátima ou a outros santos, por minha causa. Eu, se escapar, não vou cumprir nada. Não acredito nesses “negócios”.

Estávamos na Quaresma de 1967. O Mário saiu de casa, a meio da manhã, sem se despedir. Passou pelo cemitério e foi contemplar a foto do pai, aposta numa placa de mármore, sempre acompanhada por lindas flores naturais. Ele não sabia se regressava. Ao recordar o pai, deixou cair algumas lágrimas de saudade e balbuciou:
- Pai, vou para a guerra. Sabia que eu era patriota mas agora não sinto vontade nenhuma de combater quem não me fez mal. Se tiver que matar é para não morrer. Prometo que tudo farei para regressar. O que mais me preocupa é a nossa família que continua destroçada. Vivemos consigo grandes privações mas após a sua morte, as coisas pioraram. Sentimos muito a sua falta.

As lágrimas redobravam, acusando, agora, a manifesta incapacidade e a revolta que sentia, pensando na má sorte que o perseguia. Um turbilhão de questões saltava na sua cabeça:
- Pai, porque quis tantos filhos? Porque acreditou nas promessas do Salazar? Não vê a situação em que ficámos?

As respostas eram evidentes e o Mário parecia estar a ouvi-las:
- Oh rapaz, os filhos são a bênção de Deus. A tua mãe dizia que era pecado evitá-los. Temos que ser tementes a Deus. Mas, não gostas dos teus irmãos? Não os abandones, especialmente os mais novos. - Olha que eu não gostava do Salazar. Morri cedo devido à fome e miséria que passei, em miúdo. Sabes bem disso.

Na Guiné, o Mário esteve muitas vezes debaixo de fogo. E, tal como os outros militares, passava horas e horas em silêncio durante a progressão na mata. Ali, apesar dos momentos intermináveis de tensão, tudo que era afectivamente mais próximo, ocupava-lhe desordenadamente o cérebro. E a questão principal ressaltava a cada momento: será que voltarei a vê-los?

Outras vezes, eram as noites mal dormidas, por tanto pensar ou por tanto e tão grande pesadelo.
Morreram-lhe vários militares amigos e companheiros. Um deles, nos seus próprios braços. Porém, por ele, ninguém sabia o que por lá se passava.
No aquartelamento, sempre se preocupava em escrever para casa e para os amigos, enviando fotografias, preferencialmente à civil, e contando sempre que estava a passar umas ricas férias.


Quando se aproximou o 13 de Maio de 1969, já os dois filhos mais velhos da Ti Ana haviam chegado sãos e salvos. Agora era preciso pagar as promessas. A Ti Ana vivia dias felizes, de bem com Deus e com todos os santos, a quem prometera sacrifícios até ao fim da sua vida. De sua casa partiram em conjunto mais de 20 pessoas, com destino a Fátima, a pé. Entre elas, seguiam vários jovens vestidos de camuflado como o faziam lá na guerra, nas Operações Militares. Um deles, estava numa cadeira de rodas. O Mário, que cumpria a sua promessa pela negativa, abeirou-se do rapaz e perguntou:
- Também vais até Fátima?

Ele respondeu:
- Sim, com ajuda da malta e da N.ª S.ª de Fátima que, graças a ela, aqui estou salvo, lá chegarei. E tu, não vais?
- Eu, não. Não fiz promessas e tive sorte. Pelo contrário, tive amigos que lá ficaram e tinham prometido ir a Fátima, Arcozelo, Peneda e Sameiro.
- Pois, tiveste sorte, é porque alguém pediu muito por ti. – respondeu o rapaz

Vinte e cinco anos depois, a Ti Ana, já com uns 70 e tal anos, deixou de poder cumprir a promessa, indo a pé. Confessou a sua impossibilidade ao padre das Missões, onde passou a colaborar, e “renegociou” as suas Promessas: passaria a organizar 2 excursões anuais, em autocarro, mobilizando mais de meia centena de seguidores de N.ª S.ª de Fátima.

Com a mãe a aproximar-se dos 90 anos, o Mário resolveu dar-lhe a alegria de ir a Fátima numa dessas excursões, que era, agora, ajudada na organização, pela filha mais nova. Ele gostou imenso daquele ambiente popular e alegre e prometeu ir lá mais vezes.

Quando, estavam em Fátima, o Armindo interpelou a Ti Ana, na frente do Mário:
- Como é que conseguiu que este herege viesse a Fátima?
- Olha, menino, quanto mais velha, mais feliz me sinto. Hoje estou a cumprir a minha promessa mais difícil. Há mais de 40 anos que a estava a dever à N.ª S.ª de Fátima!

Silva da Cart 1689

(*) Sobre o Dr. Carlos Ferreira Soares vd. Blogues:
Histórias da Minha Terra e Sobre o Risco

- Foto do Santuário de Fátima retirada da página Farol de Luz, com a devida vénia
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9567: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (14): O Tininho da feira

Guiné 63/74 - P9649: Parabéns a você (394): Braima Djaura, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 19 (Guiné, 1972/74)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9618: Parabéns a você (393): José Armando F. Almeida, ex-Fur Mil TRMS da CCS/BART 2917 (Guiné, 1970/72)

sexta-feira, 23 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9648: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (4): O stresse pós-traumático de guerra, em estudo na Universidade Autónoma de Lisboa (UAL)




1. Mensagem de Luís d'Almeida Viçoso, Investigador Assistente na Universidade Autónoma de Lisboa, deixada no nosso Facebook, hoje, dia 23 de Março de 2012:

Exmos. Senhores,

Em colaboração com o CEAMPS (Dr. António Correia e Dr. Carlos Anunciação), encontra-se o departamento de Psicologia da Universidade Autónoma de Lisboa a conduzir um estudo que abrange a população Ex-COMBATENTE BEM COMO A CIVIL*.

Venho por este meio solicitar se nos poderiam auxiliar, nomeadamente de duas formas:

(i) a publicação na vossa página do facebook do pedido de colaboração abaixo exposto;

(ii) assim como a possibilidade de colocação do mesmo num espaço visível da vossa página web, dado o alcance que ela tem junto dos ex-combatentes.

Qualquer pedido adicional de esclarecimentos não hesitem em me contactar;

Atenciosamente;
Dr. Luís Viçoso

2. Pedido de colaboração (texto):


Exmo.(a) Senhor(a)

No seguimento de uma parceria levada a cabo pela Liga dos Combatentes (LC) com a Associação Nacional dos Prisioneiros de Guerra (ANPG) e o Departamento de Psicologia e Sociologia da Universidade Autónoma de Lisboa (DPS/UAL), encontra-se a decorrer um estudo que abrange todo o espaço Lusófono.

O seu objectivo é o de tentar compreender de que forma a experiência de guerra, ou de um outro acontecimento traumático, influencia a forma de se ver a si mesmo e a forma de lidar com os problemas, pretendemos contar com a sua preciosa colaboração através do preenchimento do questionário on-line que se aplique á sua situação pessoal!

Tente ser o mais sincero possível nas suas respostas, pois não existem respostas certas ou erradas estando seguro de que serão sempre salvaguardados o anonimato da identidade e a confidencialidade de todos os dados fornecidos.

Se é Ex-Combatente siga o link: https://www.surveymonkey.com/s/Ex_Combatentes

No caso de população Civil (Não Ex-Combatente): https://www.surveymonkey.com/s/Pop_Civil
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 20 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9378: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (3): O stresse pós-traumático de guerra, em estudo da Universidade Autónoma de Lisboa (UAL), em colaboração com a Liga dos Combatentes (Hélder Sousa / João Hipólito)

Guiné 63/74 - P9647: Blogoterapia (202): Louvo e peço a benção de quem vela por nós (Ana Paula Ferreira, filha do ex-1º cabo Fernando Ferreira, o cabo 14, da CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió e Cachil, 1964/66)

1. Mensagem da nossa amiga Ana Paula Ferreira*, filha do ex-1.º Cabo Fernando Ferreira (mais conhecido por Cabo 14, da CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió e Cachil, 1964/66) [, foto à esquerda], com data de 16 de Março de 2012:

Peço verdadeiras desculpas por não seguir o protocolo, que só existe para facilitar a comunicação entre todos. Tenho lido vários postes. Vivo em Braga e aqui existe uma "subsidiária" da Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra. Deixo o meu apelo: não hesitem recorrer a esta associação.

Em primeiro lugar,  a minha mãe recebeu mil e tal euros, pelo tempo que o meu pai passou na Guiné (para ela, uma verdadeira fortuna). Temos também, como sócios, à nossa disposição e por 10 Euros, psicólogo, psiquiatra e assistência jurídica. Eu tenho usufruído da ajuda de um psiquiatra, que, quando lhe falo da Guiné, não tenho que esmiuçar. Posso ficar calada. Ele sabe do que falo e meus amigos, eu nunca estive na Guiné (isto só conseguiria ser explicado com postes  anteriores).

Louvo e peço a benção de quem vela por nós, pelo trabalho exaustivo que fazem por todos nós, veteranos e filhos de veteranos. A mim trouxeram-me o conforto da partilha (de forma detalhada também): tentei, em vão, como já disse anteriormente, e, agradeço do fundo do coração, a quem retransmitiu a mensagem que enviei, comunicar com os colegas do meu pai. Os que atenderam o telefone... são almas tristes e frustradas: os filhos abandonam sem compreender ou então nem sequer admitem terem estado onde estiveram, na altura em que estiveram.

Lamento profundamente a falta de ajuda que estes homens tiveram. Ou continuam a ter. Nem todos têm um computador, ou a alma gentil de alguém que os guie por estas terras menos conhecidas e muito menos perigosas do que algumas vezes enfrentaram, mas a ingratidão e ignorância grassam e asfixiam. Sei que não tenho de dizer mais.

Concluo. A todos aqueles que se julgam ignorados: Não são e nunca o serão,  enquanto pessoas como eu existirem... e são muitas.

A todos os que desistiram e amarguram: Há outros como vocês, que falam do mesmo, queixam-se do mesmo, acreditem, não estão sozinhos. Nunca estarão.

Vivam todos aqueles que,  obrigados,  viram as suas tvidas ransformadas para sempre, sem recurso, nem apelo. Bem hajam os que nunca aceitaram a morte.

Os meus cumprimentos mais respeitosos,

Ana Paula Ferreira, filha de Fernando das Neves Ferreira , intrépido Cabo 14, cujo coração desistiu a 23 de Janeiro de 1991, com apenas 48 anos. Saúdo-te pai e todos os teus colegas de armas e de coração. Alguns de vocês ainda por aí, mas sem quererem "falar no assunto". Eu sei. Dói. A mim também. De forma diferente, já sei, não estive no mato. De corpo e alma, não, só de alma.

Bem hajam.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7731: Blogoterapia (176): Assinar a petição dos ex-combatentes e lembrar tempos difíceis de meu pai (Ana Paula Ferreira)

Vd. último poste da série de 16 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9615: Blogoterapia (201): De Nova Iorque com saudade e camarigagem (João Crisóstomo, ex-Alf Mil, CCAÇ 1439, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/66)