domingo, 17 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12308: In Memoriam (169): O princípio do fim do Amigo e Camarada Sargento-Chefe Fernando dos Santos Rodrigues (1): Dia 20 de Abril de 2013, Homenagem, em Lagoa, ao Mestre Oleiro (Arménio Estorninho)




1. Em mensagem do dia 12 de Novembro de 2013, o nosso camarada Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), enviou-nos uma reportagem fotográfica de sua autoria, referente à homenagem prestada, em Abril passado, ao Mestre Oleiro Fernando Rodrigues, também o nosso camarada Fernando dos Santos Rodrigues*, Sargento-Chefe Reformado que fez três comissões de serviço na Guiné.




Dia 20 de Abril de 2013, Homenagem, em Lagoa, ao Mestre Oleiro Fernando Rodrigues


Lagoa, 20/04/13 - Mestre Fernando Rodrigues, mostrando o seu Poster como Artesão de Lagoa

Ainda antes do início da cerimónia, o Mestre Oleiro Fernando Rodrigues e os Alunos da Escola receberam os convidados, os quais eram levados a visitar as instalações da escola de olaria, bem como uma exposição de trabalhos manufacturados pelo artesão e em cada paragem eram dadas explicações inerentes:

Escola de Artes de Lagoa, 20/04/13 - Uma sala da exposição dedicada aos trabalhos do Mestre Artesão.

Escola de Artes de Lagoa, 20/04/13 - Recanto de uma sala da exposição do artesanato

Escola de Artes de Lagoa, 20/04/13 - Visita guiada à exposição, em que o Mestre Fernando Rodrigues dialoga com o Sarg-Chefe Aposentado João Correia da Silva.

Escola de Artes de Lagoa, 20/04/13 - Visita guiada à exposição, o Mestre a elucidar o Sr. José Pedro Bica, na direita a observar, o então Edil, Rui Correia.

Esta Homenagem contou com a presença do então Presidente da C.M. de Lagoa, Dr. José Inácio, tendo ainda antes da cerimónia dialogado com os convidados e no acto da mesma tecera várias considerações sobre o tempo áureo da olaria em Lagoa, onde outrora havia várias oficinas de olaria de barro vermelho:

Escola de Artes de Lagoa, 20/04/13 - Convívio no átrio da escola.  O Mestre em amena conversa com o então Edil José Inácio, o Prof. José Benvindo dos Reis e o Aparício da Siva Henrique, Recrut. Militar de Angola.

Escola de Artes de Lagoa, 20/04/13 - Convívio no átrio da escola. No banco o Mestre e o seu amigo Sargento-Chefe Aposentado João Correia da Silva, acompanhados das respectivas esposas, Maria Isabel Rodrigues e Maria de Lurdes Silva.

Escola de Artes de Lagoa, 20/04/13 - Momento de descontração a aguardar o início da cerimónia. O Mestre Fernando Rodrigues, o Francisco E. Cintra, ex-1º Cabo da 1ª Companhia do Bat. de Inf.ª nº 9, São Miguel-Açores, 1941/45, o Sarg-Chefe Ap. João Correia da Silva e Esposa, e Araújo Marques ex-Fur Mil da CCaç. 111, Angola – Ambrizete, 1961/63.

(….) Lembrou que os alunos é que tiveram a ideia de homenagear o Mestre, que a Câmara Municipal aceitou essa ideia porque todos reconhecem o trabalho e a competência do Mestre Oleiro Fernando Rodrigues;

Escola de Artes de Lagoa, 20/04/13 - O então Presidente da Câmara Municipal de Lagoa Dr. José Inácio, discursando perante os convidados.

(….) O nosso coração deve estar com ele;
Tenho que agradecer a ele o que esta escola é;
Tenho que agradecer também aos alunos porque fazem parte desta herança;
Eu, vinco as palavras de gratidão ao Mestre e vamos dar o nome de Mestre Fernando Rodrigues à Escola de Artes de Lagoa.
Um muito obrigado a todos!...

Escola de Artes de Lagoa, 20/04/13 - O então Edil José Inácio e o Mestre Fernando Rodrigues, no acto do descerramento da Bandeira do Concelho que cobria a placa alusiva.

Escola de Artes de Lagoa, 20/04/13 - Felicitações do Edil e aplausos da assistência pela concretização da Homenagem ao Mestre.

Escola de Artes de Lagoa, 20/04/13 - Para que a memória não se apague, fica em placa alusiva a atribuição do nome do Mestre Fernando Rodrigues à Escola de Artes de Lagoa.

Seguiu-se a intervenção de Maria Elisa Rafael, Aluna desta Escola, que falou em nome dos colegas, dizendo que foi o Mestre que revitalizou a Escola de Artes de Lagoa;

Escola de Artes de Lagoa, 20/04/13 - A aluna Maria Elisa Rafael, na oportunidade do uso da palavra, tecendo várias considerações sobre o ensino ministrado pelo Mestre e do apoio dado pela Câmara Municipal. Sendo muito aplaudida.

(….) Dando elogios aos trabalhos e às aulas ministradas pelo Mestre, que foram dadas em prol da olaria;
(….) Foi sempre um Mestre que nos ensinou muito, por isso tenho que o elogiar de uma forma sentida;
(….) Que o Mestre nutria uma grande amizade para com todos os alunos, que tinha uma grande paciência para ensinar o segredo do barro e a arte de oleiro.

Por último, seguiu-se a intervenção do homenageado Mestre Fernando Rodrigues, dizendo que foi com surpresa que foi informado pela então Edil da Cultura Ana Branco e pelo então Edil Dr. José Inácio, da pretensão desta Homenagem;

Escola de Artes de Lagoa, 20/04/13 - O Mestre discursando sobre o “histórico” dos trabalhos manufacturados de olaria e a todos aqueles que providenciaram para a feitura deste evento.

Que transmitiu a sua experiência como Mestre Oleiro e na condução da preservação da arte da olaria que aprendeu com seu pai;
(….) Disse que colaborou com o Escultor Lima de Freitas, na Olaria de Porches.
(….) Foi Professor do Ensino da Olaria na ESPAMOL-Lagoa;
(….) Ministrou curso a nacionais e a estrangeiros;
(….) Que sempre esteve na FATACIL a representar a Escola de Artes, também expôs trabalhos de artesanato em mercados e feiras de todo o país;
Que a sua arte está espalhada por muitas colecções e por todo o Mundo.
Comovido e com uma lágrima ao canto do olho, agradecera a todos que compareceram nesta homenagem!...

Escola de Artes de Lagoa, 20/04/13 - No final do discurso, o Mestre recebendo os cumprimentos do Lagoense Manuel Gamboa, Pintor de arte Abstracta.

Escola de Artes de Lagoa, 20/04/13 - Sob o olhar da Esposa e do Edil do Município de Lagoa, o Mestre recebe os cumprimentos de Francisco E. Cintra ex-1º Cabo, da 1ª Companhia do Batalhão de Inf. 9, São Miguel-Açores, 1941/45.

No final da Homenagem, no átrio da Escola de Artes foi servido aos Convivas um Porto de Honra e sendo seguido de momento musical.

Escola de Artes de Lagoa, 20/04/13 - Grupo confraternizando e constituído por mim, por Francisco Ramos; Sold. Cond. da CCaç. Esp. 266, Maquela do Zombo, Negage,1961/63; Fernando das “Neves” Rodrigues, Sargento-Chefe Aposentado e o Aparício da Silva Henrique, do Recrutamento Militar de Angola.

Escola de Artes de Lagoa, 20/04/13 - Em amena conversa, o grupo de três Sargentos-Chefes Aposentados, Fernando das “Neves” Rodrigues, Fernando dos Santos Rodrigues e João Correia da Silva.

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Uma breve resenha do Curriculum Militar do Sargento-Chefe Fernando dos Santos Rodrigues:

1954 – Incorporação no Contingente Geral, no Quartel em Lagos;
Finda a instrução foi aprovado como 1º Cabo;
Tendo concorrido ao Curso da Classe de Sargentos, foi promovido a Furriel;

1959/61 - Fez uma Comissão de Serviço na Índia Portuguesa (Goa);

1961/64 - Fez uma Comissão de Serviço em Moçambique (Vila Cabral);

1964/66 - Regressa e permanece em Portugal Continental;

1966/67 - 1ª Comissão de Serviço na Guiné (Bissau, Pirada e Bula), CCaç. 1496 (tendo sido promovido a 2º Sargento);

1967/68 - Regresso a Portugal Continental;

1969/70 - 2ª Comissão de Serviço na Guiné (Canjadude e Bolama), CCaç 5 e CIM do CTIG;

1971/72 - 3ª Comissão de Serviço na Guiné (Bula), CCaç 3328 (?); Antes por protesto seu, ocasionou a publicação de uma Lei que determinou que fosse a última 3ª Comissão de Serviço para o mesmo TO e destinado a todo o Contingento Militar;

1972/74 - Promovido a 1º Sargento e faz uma Comissão de Serviço em Angola (Cabinda, Nampula e Luanda);

1974 - Com o 25 de Abril de 1974, regressa a Portugal Continental;

1982 - Foi promovido a Sargento-Chefe e passou à reserva.

(Continua)
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Nota do editor

(*) Vd. poste de 30 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12223: In Memoriam (165): Sargento-Chefe na Reforma Fernando dos Santos Rodrigues, ex-2.º Sargento "Gato Preto" (José Martins / Arménio Estorninho)

Último poste da série de 12 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12281: In Memoriam (168): A Memória do Cheche, 6 de Fevereiro de 1969 - Lista oficial dos desaparecidos no Rio Corubal (José Martins)

Guiné 63/74 - P12307: FAP (80): As nossas pistas de aviação: Bafatá, vista aérea, c. 1970 (Humberto Reis, ex-fur mil, op esp. CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)


Guiné > Zona leste > Batatá > Aeródromo > c. princípios de 1970  > Vista aérea, de helicóptero. Depois da pista da BA 12, em Bissalanca,  Bafatá devia ter a maior do TO da Guiné, juntamente com a de Cufar. Nela aterravam e descolavam os maiores aviões da FAP, o NordAtlas e o Dakota...

Foto, inédita, do álbum do Humberto Reis (ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de novembro de 2013 >  Guiné 63/74 - P12265: FAP (79): Os Dias do Strela - Há 40 anos na Guiné (Paulo Mata / Miguel Pessoa)

sábado, 16 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12306: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (25): O Honório e a minha cabeçada no painel de instrumentos, no T6, que fazia a proteção à coluna logística que ia para Beli... (Vítor Oliveira, ex-1º cabo melec, BA 12, Bissalanca, 1967/69)

1. Mais uma história da dupla Vitor & Honório, 
que fazia, em 1968, no T6, a proteção às colunas logísticas que iam de Nova Lamego, via Cheche, até Beli (destacamento, entretanto, abandonado pelas NT em meados de 1968):

[Foto à direita: Victor Oliveira, 1º cabo, melec, BA 12, Bissalanca, 1967/68; mora atulamente em Caneças, Odivelas]

Aqui vai mais uma do meu grande amigo Honório.

Estávamos a fazer num T6 protecção a uma coluna que levava mantimentos para Béli [, na região do Boé, sudeste da Guiné]. A meio do caminho, entre o Cheche e Béli, havia uma zona onde existia arvoredo e, antes da coluna passar, mandava-se umas bombas de 15 kg.

Eis que o meu amigo Honório, sabendo que eu não tinha os cintos apertados. porque, como andávamos para cima de 2 horas a sobrevoar a coluna, desapertávamos os cintos, não me avisou que ia largar as bombas e faz, zás!", o passe...

Escusado será dizer que fiquei com a cabeça encostada ao painel... Ele ria-se que nem um perdido e, com uma grande lata, pergunto-me então, depois de fazer a recuperação:
- Pichas, que é que se passou ai atrás ?

Só ele é fazia estas brincadeiras.

Já agora um pormenor: o Honório quando voava nos T 6G, só queria voar com bombas, para depois de as largar, ter o avião leve e fazer as suas acrobacias.

Sem mais um abraço.
Vitor Oliveira (Pichas)
1.º Cabo Melec
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P12305: Efemérides (147): Dia 9 de Novembro de 2013, data em que se assinalaram os seguintes aniversários: 95 Anos do Dia do Armistício da Grande Guerra, 90 Anos do Dia da Liga dos Combatentes e 39 Anos do Fim da Guerra do Ultramar (José Marcelino Martins)




1. Em mensagem do dia 9 de Novembro de 2013, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), mandou-nos mais uma reportagem fotográfica, desta feita referente aos: 95.º Aniversário do Dia do Armistício da Grande Guerra, 90.º Aniversário do Dia da Liga dos Combatentes e 39.º Aniversário do Fim da Guerra do Ultramar.



Realizaram-se hoje, 9 de Novembro, da parte da manhã, junto ao Monumento aos Combatentes, em Belém, as cerimónias comemorativas do:

95º Aniversários do Dia do Armistício da Grande Guerra

90º Aniversário do Dia da Liga dos Combatentes

39º Aniversário do Fim da Guerra do Ultramar


Forças em Parada – Companhia Mista de Armada, Exército e Força Aérea 
© Foto: José Martins 

Depois de usarem da palavra o Presidente da Liga dos Combatentes, General Chito Rodrigues, o orador convidado, Professor Doutor António José Telo e o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, General Luís Araújo, houve lugar a condecoração do Estandarte Nacional à guarda da Liga dos Combatentes, com a Medalha de Serviços Distintos, Grau Ouro.

O Estandarte Nacional a ser condecorado pelo CEMGFA 
© Foto: José Martins 

A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Lisbonenses, distinguiram a Liga dos Combatentes, condecorando o Estandarte da Liga com a Medalha de Agradecimento, Honra e Mérito, Grau Honra e Mérito – Grau Ouro

O Estandarte da Liga a ser condecorado pela AHBVL 
© Foto: José Martins

Pormenor da Condecoração atribuída pela AHBVL 
© Foto: José Martins 

Foram impostas condecorações da Medalha de Comportamento Exemplar - Grau Ouro (30 anos de serviço) e Medalhas da Liga – Grau Ouro

Entrega das Medalhas de Comportamento Exemplar - Grau Ouro, pelo Chefe do Estado-Maior do Exército, General Artur Neves Pina Monteiro. 
© Foto: José Martins

Entrega das Medalhas da Liga dos Combatentes - Grau Ouro, pelo seu Presidente, General Joaquim Chito Rodrigues. 
© Foto: José Martins

Seguiu-se a deposição de flores na base do Monumento, pelas diversas Organizações e Associações e Adidos Militares Estrangeiros.

Flores colocadas em Homenagem aos Combatentes Tombados pela Pátria. 
© Foto: José Martins

Desfile do Estandarte Nacional, ostentando a condecoração recebida 
© Foto: José Martins

A representação do Exército a desfilar em continência. 
© Foto: José Martins

Os Estandartes dos Núcleos da Liga, integrados no desfile. 
© Foto: José Martins

Visitando o Forte do Bom Sucesso, deparei com uma extraordinária maqueta, feita com fósforos, representando o próprio forte. 
© Foto: José Martins
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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12275: Efemérides (146): Foi há 38 anos que Angola se tornou independente... Meio século depois do início da guerra do ultramar, continuamos divididos quanto à explicação da sua razão, sentido e duração (António Rosinha)

Guiné 63/74 - P12304: Bom ou mau tempo na bolanha (35): Morreu o Zé Pesca na Ilha do Como (Tony Borié)

Trigésimo quinto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.


Morreu o “Zé Pesca”, na ilha do Como

Companheiros, hoje vou falar-vos de um episódio que me anda “atravessado” já há algum tempo. Quando o começo a trazer para o papel, escrevo umas tantas linhas e ponho tudo de parte, a emoção toma conta de mim, é mais forte, o som do “catra-pum- pum-pum”, começa a zumbir nos meus ouvidos, parece que vou a fugir para o meu abrigo preferido, a que eu chamava “Olossato”, por ter visto este tipo de abrigos, pela primeira vez no aquartelamento algo improvisado, que naquela altura lá existia.

No meu pensamento aparece o “Zé Pesca”, que era um soldado pára-quedista, do mesmo grupo de combate do meu companheiro de infância, também pára-quedista, que já aqui falei por diversas vezes, cujo nome de guerra era “Zargo”, e que uma vez vim no carro dos doentes à capital da província numa sexta-feira, regressando na segunda-feira seguinte na avioneta do furriel Honório, que sempre fazia passagem, quase obrigatória em Mansoa, passando todo o fim de semana, alojado em Bissalanca, no Batalhão de Pára-quedistas, na companhia do meu amigo “Zargo”, e nesse sábado, fizemos lá uma “tremenda patuscada”, que meteu ostras, ameijoas, camarão, onde bebemos um barril de vinho, entre todos, e para não ficar “vestígios”, queimou-se o barril.

O “Zé Pesca”, amigo da farra, lutador, combatente, com a boina verde sempre de lado, corpo de atleta, cujos pais eram agricultores no Ribatejo, já “contente”, dizia que não gostava da Guiné, “porque não havia cavalos”, que tinha ido para o corpo de pára-quedistas “por causa da farda”, certo dia morreu, crivado de balas daquela perigosa arma a que nós chamávamos “costureirinha”, que era uma metralhadora ligeira que também se usava em cima de um tripé com duas rodas em ferro, era transportada para a zona de combate e usada nas emboscadas, principalmente onde havia capim. Fazia fogo muito rasteiro, com cadência de tiro e som que a identificava, e quase sempre no fim da emboscada os guerrilheiros, talvez desesperados, abandonavam- na, ou pelo menos abandonavam o tripé, preocupando-se com os feridos. Também a usavam nas mãos, como uma arma vulgar, sem as ditas rodas. Pelo menos era esta a descrição que o Cifra recebia nas mensagens desses heróis combatentes que eram os militares de acção.

Dias depois o “Zargo”, explicou ao Cifra alguns pormenores da morte do “Zé Pesca”, onde estavam já há algumas horas, esperando uma pequena operação, quase um “golpe de mão”, como era costume dizer-se, cobertos com a típica capa camuflada impermeável, já com muitos buracos, portanto molhados “até aos ossos”, por uma chuva miudinha, e se não fosse da chuva, era pela humidade que naquela altura se fazia sentir. Já era noite quando saíram do aquartelamento onde estavam acantonados, todos beberam muito café, não sabiam se estavam sobre influência, mas estavam nervosos, queriam acção, passou um grupo de guerrilheiros perto, onde não deviam intervir, pois em caso de fogo todos os movimentos que fossem desenvolvidos, no futuro seriam denunciados. O “Zé Pesca” já aí queria intervir, os companheiros seguraram-no, foram avançando, próximo do objectivo não esperou por nada, avançou quase sozinho na frente, gritando, disparando, talvez amaldiçoando a sua própria alma, onde os companheiros aterrorizados com aquele gesto suicida, talvez heróico, nunca ninguém soube, ouviram a tal “costureirinha” fazendo soar o seu amaldiçoado som, do “catra-pum-pum-pum-pum”, que crivou o “Zé Pesca”, fazendo o seu corpo rodopiar em zig-zague, caindo uns metros à frente, encolhido, crivado de balas.


A operação desenrolou-se, queimaram o pequeno acampamento inimigo que estava naquela zona, destruindo muito material de guerra. No regresso, transportaram o corpo do “Zé Pesca”, trazendo também diversas mulheres guerrilheiras, transportadoras de material de guerra, que depois de feitas prisioneiras, amarrando-as nas mãos com uma corda umas às outras, acompanharam os militares, por uma certa distância, pois serviam de escudo, e compreendia-se, pois enquanto acompanhassem os militares, os guerrilheiros não atacavam. Já a manhã ia alta, perto do local onde deviam ser recolhidos, as libertaram.

Alguns dias depois, os militares do seu grupo de combate olhavam uns para os outros e diziam:
- Morreu o “Zé Pesca”, na ilha do Como.

Enquanto o grupo de combate a que pertencia o malogrado “Zé Pesca”, esteve estacionado na província, a sua cama nunca foi utilizada, estava lá, feita com roupa limpa, ao lado dos seus companheiros, que antes de se deitarem, lhes davam as boas noites.

Oxalá que Portugal respeitasse os seus combatentes, como estes militares de acção, respeitavam o companheiro morto em combate, pois é dos livros, já muitos escreveram que: “Nação que não respeita o passado, não pode ter bom futuro”.



Nós combatentes, defendemos a bandeira, fomos passado de um País que se chama Portugal.

Tony Borie, 2013
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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12269: Bom ou mau tempo na bolanha (34): ...quase 50 anos (Toni Borié)

Guiné 63/74 – P12303: Memórias de Gabú (José Saúde) (33): Um olhar sobre uma tabanca onde se arquitetavam sonhos de… Crianças

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.


As minhas memórias de Gabu

Um olhar sobre uma tabanca onde se arquitetavam sonhos de… 

Crianças

Num trajeto ao conteúdo sobre as minhas memórias de Gabu, reconheço que se concentram ainda hoje imagens na minha mente que jamais ousarei enviar para um esconderijo, sabendo de antemão que o seu retorno não teria por certo bilhete de ida e de volta. Reparo para a foto exposta e revejo crianças numa tabanca algures na região de Gabu. As suas representações afiguravam-se decerto modo intemporais num tempo sem tempo.


Naquela tabanca, igual a tantas outras, arquitetavam-se sonhos de jovens, muitos de tenra idade, que tinham nascido sob as “escarpas” de uma guerra que se mantinha ativa e que não vislumbrava um prévio fim pacífico para as tropas em confronto. No horizonte de um firmamento tingido de tons africanos, cimentavam-se gritos de dor e de revolta. A paz era claramente desejada. 

Lembro, passados quatro décadas, o conteúdo real que se escondia numa tabanca que subjetivamente tinha nas suas crianças um mundo que suportava apenas… sonhos infantis. A imprevisibilidade do futuro considerava-se como infiel para um interminável número de meninos e meninas que colocavam no futuro uma incalculável imprevisibilidade e de agoirentas incógnitas.

O seu mundo, de criança, levavam-me a refletir: Qual será o seu destino? Eu, a cumprir a minha comissão militar obrigatória na Guiné, sabia que numa situação considerada absolutamente normal, um dia regressaria à minha pátria lusa, deixando para trás aquelas dóceis e ingénuas catraias que lançavam nos seus olhares evidentes querelas de profundas interrogações.

Sentia-me impotente para solucionar um problema de guerra, no qual eu era apenas uma peça simplória dum enigmático puzzle de um polvo cujos tentáculos ultrapassavam as fronteiras físicas e humanas, sendo que a guerrilha se assumia como uma máquina de irreverentes interesses, não se olhando aos inevitáveis males que se abatiam sobre miúdos e miúdas que na sua tabanca, o seu doce lar, idealizavam provavelmente o fim de uma lastimável guerra. A encruzilhada da guerrilha era simplesmente dúbia. Ficava, isso sim, a incerteza do dia seguinte.

Meditava, por outro lado, na estrutura moral do crescimento dessas afáveis criancinhas. Sabia, no entanto, que a mortalidade infantil ditava na Guiné, tal como em quase toda a África, indicies desoladores. Mas independentemente dessa profética verdade sabida, acreditava que aquelas crianças seriam mais tardes homens e mulheres felizes num país que sonhava ser livre.

Num olhar subtil à ilusória opulência de uma “vivenda” de campo observada em pleno mato guineense, constata-se de imediato que os bens caseiros eram diminutos. Todos nós, antigos combatentes, conhecemos essa inequívoca certeza. As crianças tinham sensibilidades diferentes e viviam de acordo com os meios físicos de que disponham. Restava porém a veracidade que os “tugas” eram gente amiga. Os “turras”, por sua vez, seriam, também, rapazes bem-vindos.

Nesta análise feita à dualidade de critérios de uma população que vivia de paredes-meias com as duas frentes da guerra, ficava-me a eloquente convicção que aquelas crianças seriam um dia pessoas adultas com hilariantes histórias de vida para contar aos seus descendentes.

Recordo o pitoresco ambiente que se vivia na tabanca. A atividade de gentes que se predispunham a uma autodeterminação para manter o sustento familiar. O chefe de família, homem hirto na imponente ação do seu agregado, descansava, incumbindo a mulher, melhor, as mulheres da faina do artesanal trabalho. As crianças, sempre ativas, eram uma preciosa ajuda nessas lides.

Desafiando as teias de factos observados nas minhas memórias de Gabu, recordo que na tabanca se criavam galinhas, cabritos, porcos, animais que a população muçulmana não comia e a malta “tuga” agradecia a troco de magros “patacões”, sendo que as crianças acompanhavam as progenitoras nas jeiras da mancarra, do arroz, do milho, entre outros velhos costumes herdados dos seus antepassados.

Hoje, revejo essa azáfama quotidiana dessas humildes crianças que no adensado mato pareciam não temer os alaridos de uma guerra que, em meu entender, lhe era decisivamente adversa.

Relembro, também, os magotes de adolescentes encontrados no mato e que tinham sido submetidos à “festa indígena” do fanado que a sua tribo lhes impusera. Recapitulo, também, os seus olhares fúteis, comprometidos, de jovens que deixavam antever uma embaraçosa explicação para o facto, talvez púdico, feito por mãos de gentes da sua tribo. Sábios vistos à luz dos costumes como homens e mulheres grandes.

Estes temas, literalmente equidistantes de um povo que convivia sob o conflito, eram então alvo de múltiplas ponderações, tendo em conta a flexibilidade que nós, humanos, amiúde presenciávamos numa Guiné que permanece presente na montra de um passado que teima em albergar inolvidáveis imagens. 

Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P12302: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (78): Notícias de Macau, do futuro grã-tabanqueiro Virgílio Valente, ex-alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74)

1. Mensagem de Virgilio Valente [, foto à esquerda,, em Macau, cortesia da página do Facebook de Wai Tchi Lone]. com data de 11 do corrente, em resposta a uma mensagem anterior, do nosso editor (*)

Luís Graça,

Obrigado pelo teu e-mail.

Sim, ainda continuo por Macau, terra que me acolheu em 1993. (**)

O Manuel Amante da Rosa já deixou Macau e também não tenho tido notícias recentes sobre onde está ou o que está fazendo agora.
Confesso que tenho andado bastante ocupado nos últimos tempos e por isso mesmo não tenho perguntado por ele. Culpa minha, prque devemos sempre saber dos amigos, ainda que não seja só para saber se estão bem.

O amigo [António] Estácio continua por aí por Portugal. De vez em quando dá notícias, poucas, mas vai dando. Continua a escrever sobre a Guiné. Sempre que vem a Macau costumamos encontrar-nos e falar um pouco. Faço parte de Associação dos Naturais e Amigos da Guiné-Bissau, em Macau, como sócio extraordinário. E é nas actividades desta associação que muitas vezes me encontro com o Estácio.

Reencontrei agora, por email, um amigo da CCAÇ 4142 e que foi furriel no meu pelotão (o 4.º), Dálio João Gil de Carvalho. Temos mantido algum contacto através do Facebook. Já lhe falei neste Blogue. Há três anos estive com o Sargento [Victor] Gonçalves, e esposa, em Vila Real quando aí fui de férias.

Sim, o António Graça Abreu é um nome bastante conhecido por estas bandas. Pessoa com bastantes conhecimentos e experiência sobre a vivência Chinesa. Estou interessado em ler o seu livro "Toda a China". espero que ele leia este email e me contacte pois sei que anda por Macau mas ainda não tivemos possibilidade de nos ver.

Quanto a escrever para o Blogue, ando para o fazer desde o primeiro dia. Tenho algumas fotos da Guiné, principalmente da Gampará e dos tempos que lá passei,  bem como histórias que nunca mais me sairão da lembrança.

Vou preparar algumas fotos e respectivas legendas e tentarei enviar para depois veres, se achares bem, se deves publicar no blogue.

Estou em Macau e estes são os meus contactos:

VIRGÍLIO VALENTE
Telemóvel (+853) 66808034
Telefone do serviço (+853) 89896116
Telefone de casa (+853) 28830781
email: oumunlinfa@gmail. com ou patelas@macau.ctm.net
Facebook: Wai Tchi Lone (é o meu nome em chinês)

Aguardo notícias tuas e dos restantes amigos [, acima citados,] para quem igualmente envio este email.

Fica também o voto de que vos possa receber em Macau e outro de que nos encontremos em breve em Portugal, talvez no próximo ano quando aí for em curto período de férias.

Parabéns pelo Blogue. Não há dia que não o leia. Parabéns a todos os que escrevem no Blogue. Nele as memórias de uma época, de um passado, de muitos portugueses. Triste o Povo que não tem Memória. (***)

Alfa Bravo com Afecto,

Virgílio Valente
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Notas do editor:

(*) Mensagem de L.G., enviada a 3 do corrente:

Virgílio: Não sei se ainda continuas por Macau ou se já voltaste à santa terrinha, a quem às vezes chamamos Pátria, Mátria, Fátria... ou simplesmente Madrasta. Em qualquer dos casos, muita saúde e longa vida, porque um combatente da Guiné merece tudo!...

Não tenho tido notícas do nosso comum amigo (e camarada) Manuel Amante da Rosa, a não ser há um ano atrás, quando o meu filho, João Graça (e a sua banda musical, os Melech Mechaya), jantou com ele, na Praia, Santiago.

Quanto ao grande Estácio, costumo vê-lo, em Monte Real, nos encontros anuais da nossa Tabanca Grande. Teve uns problemas de saúde que, penso, já ultrapassou felizmente.
Por sua vez, António Graça de Abreu que, penso, também é teu conhecido, nas andanças por China, Macau, etc., publicou mais recentemente um livro, que deve interessar-te: é o 1º volume de um livro de viagens e memórias, "Toda a China" (Lisboa: Guerra e Paz Editoras, 2013), lançado recentemente no Museu do Oriente, aqui em Lisboa.

Escrevo-te, entretanto, para te dar notícias de mais um camarada da tua CCAÇ 4142 que nos visita, por intermédio da sua filha, Elisabete Gonçalves... O Victor Gonçalves é hoje srgt chefe reformado... Deves lembrar-te dele. Tens aqui o link, no nosso blogue.

Escrevo-te ainda porque continuas a ter um lugar à tua espera, debaixo do frondoso, mágico e fraterno poilão da nossa Tabanca Grande. Já somos 631 (ou éramos, uma vez que quase 3 dezenas jde grã-tabanqueiros á nos deixaram, segundo no "barco de Caronte" para aquela última viagem que nenhum de nós quer fazer.. pelo menos tão cedo)...

Pois, caro Virgílio, ainda não tenho ninguém que represente, no blogue, os valorosos "Herdeiros de Gampará".. Como sabes, o preço é simbólico: 2 fotos e 1 história/10 linhas...Pensa lá nisso. Queria ver o teu nome junto desta valoroso rapaziada que um dia desembarcou na Guiné e alguns, como tu e eu, beberam a água do Geba... 

Um Alfa Bravo com afeto. Luís Graça

Guiné 63/74 - P12301: Parabéns a você (653): José António Viegas, ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 54 (Guiné, 1966/68)

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Nota do editor

Último poste da série de 15 de Novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12296: Parabéns a você (652): António Inverno, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6522 e Pel Caç Nat 60 (Guiné, 1972/74); Orlando Pinela, ex-1.º Cabo Reab Material da CART 1614 (Guiné, 1966/68) e Cor Cav Ref Pacífico dos Reis, ex-Cap Cav, CMDT da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12300: Memórias da minha comissão em Fulacunda (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, 1972/74) (Parte I)



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Preparação das NT para mais uma saída mato (1)



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Preparação das NT para mais uma saída mato (2)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >   As NT a instalarem-se na mata... [Jorge, gostava de saber que livro é que o militar que está à tua esquerda levou para o mato... Ampliando a foto dá para perceber o título: "O fim da mulher" (ou será o "O fim do mundo" ?)... O "fim da mulher" parece-me um título demasiado feminista para a época... Através da Porbase, encontrei um livro com o título "O fim do mundo", editado pelos Salesianos, Porto, 1946!...LG]


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)  > Efeito de um ataque a Fulacunda: moranças queimadas



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)  >  Uma das ruas da tabanca de Fulacunda (1)




Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)  >Uma das ruas da tabanca de Fulacunda (2)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)  > Mulher Beafada a avistar as NT, na mata.



Fotos (e legendas): © Jorge Pinto (2012).
Todos os direitos reservados.[Edição: L.G.]

1. Mensagem de ontem do nosso estimado 
amigo e camarada Jorge Pinto [ex-Alf Mil da 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)], um alcobacence a viver na Grande Lisboa:

Caro amigo e camarada Luis Graça

Por vezes as "coisas da vida" e uma certa "preguiça" que teimosamente me tem impedido de descer à "cave" das memórias, levou-me a adiar a "promessa"  de ir enviando artigos para o nosso Blog (*).


Como, "mais vale tarde do que nunca", hoje meti "mãos à obra" e elaborei este pequeno texto sobre a actividade operacional da minha companhia (3ª Cart / Bart 6520/72), sediada em Fulacunda, desde Julho 72 a Agosto de 74.
Envio, ainda algumas fotos em anexos, cuja legenda acrescento:

F1010010 - Efeito de um ataque a Fulacunda.
F1010028 - Uma das ruas da tabanca de Fulacunda.
F1010040 - Mulher Beafada a avistar as NT, na mata.
F1020026 - Preparação das NT para mais uma saída mato.
F1000018 - NT a instalarem-se na mata.

Sei que este artigo devia ser acompanhado de uma carta geográfica da região, mas tal não me foi possível. Se tu conseguires fazê-lo agradeço, desde já.

Com um forte abraço, Jorge Pinto.




2. Memórias da minha comissão em Fulacunda (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, 1972/74) (Parte I)

 Distraído com as “coisas da vida”, (netos, doença familiar, leituras, atividades inadiáveis e também alguma preguiça…), o tempo foi passando e a minha promessa de voltar a enviar notícias de Fulacunda foi sendo adiada…. Agora, vou mesmo descer à “cave” (ou subir ao “sótão”) das memórias e partilhar com “camaradas de armas”, algumas dessas memórias, que no fundo são coletivas. Hoje, vou dar particular relevo a memórias relacionadas com a atividade operacional da minha companhia: 3ª Cart do Bart6520/72.

A este propósito convém esclarecer que esta companhia a partir de meados do ano 1973, já com um ano de comissão, passou a pertencer ao COP7. Com esta mudança de comando, a atividade operacional tornou-se mais intensa, pois passámos a integrar operações em articulação com grupos de tropas especiais que ocasionalmente estacionavam em Fulacunda ou operavam na nossa área de intervenção.

Como se sabe, Fulacunda situa-se no Quínara, precisamente no cruzamento de estradas que fazem a ligação (tipo placa giratória) entre as margens esquerdas do rio Geba desde Jabadá , (Tabanca próximo de Tite), e do rio Corubal em direção a sul passando por Buba. Localiza-se aproximadamente, em linha reta, a 15/20 Kms, de cada margem e 35/40 Kms da confluência destes dois rios, local onde se começou a instalar, com muitas dificuldades, o quartel de Ganjauará.

Claro que todas estas estradas, da época colonial,. estavam intransitáveis devido às minas e aos pontões destruídos. De qualquer forma havia muitos “trilhos” e pequenos “carreiros” (sempre transitórios) a ladear estas estradas e a fazer a ligação entre as várias tabancas camufladas na mata e que muito frequentemente mudavam de local. 

Era uma vasta área de “chão Beafada”, considerada pelo PAIGC zona libertada, e berço da luta armada com implantação no terreno, a partir do ataque ao quartel de Tite, liderado por Arafan Mané, em 23 de Janeiro de 1963.

Em termos operacionais a nossa principal missão era impedir que o PAIGC usasse estes corredores como canal de infiltração. Assim muitas vezes o nosso aquartelamento era atacado, como forma de as NT, se manterem em defesa “intra valas”, enquanto o IN, passava com guerrilheiros e armamento em direção ao Geba. Sofremos cerca de 16 ataques, durante os 25 meses da nossa permanência no local. O último, ocorreu em 7 de Maio de 1974, quinze dias após o “25 de Abril”, mas sem grandes consequências, dado a maioria das granadas do canhão s/recuo, caírem fora do nosso aquartelamento.

Normalmente, a atividade operacional regular consistia em patrulhamentos na zona sempre ao nível de bigrupo e montagem de emboscadas nos referidos eixos de infiltração. Muitas vezes executavam-se operações em articulação com tropa especial que ocasionalmente operava na nossa zona (ex. comandos africanos e páras) ou se aquartelava em Fulacunda, como, por exemplo um pelotão de tropa especial constituído exclusivamente por Balantas, que esteve connosco cerca de dois meses e que causou múltiplos problemas com a população local de etnia Beafada. 

Estas missões e, participei em várias, eram dirigidas especialmente na direção dos rios Geba (tabancas de Umbassa, Gã Formoso, Gã João, Garsene, Braia) e Corubal (tabancas de Guebambol, Uaná Beafada, Farená Beafada, Farená Balanta…), zonas consideradas libertadas pelo PAIGC. [Vd. mapa de Fulacunda]-

Por vezes, nestas operações havia contactos. Como exemplo, recordo uma operação à tabanca camuflada de Umbã, em que na aproximação à referida tabanca as NT e o IN se encontraram frente a frente, no mesmo trilho. Ambos os grupos abriram fogo de imediato, caindo feridos um guerrilheiro IN e o nosso Furriel Santos, distanciados uns cinco metros um do outro. Nem as NT abandonavam o nosso camarada nem o IN o seu ferido. Como nós estávamos em maior número conseguimos fazer o envolvimento. O IN foi obrigado a afastar-se e parou o fogo momentaneamente. 

Foi nesta fase que socorremos ambos os feridos e verificámos estar já morto o guerrilheiro do PAIGC. Pedimos evacuação por heli que veio acompanhado do helicanhão. Porém, logo que este, nos ares rumou a Bissau e as NT, em terra, se preparavam para rumar a Fulacunda, verificámos que o IN tinha entretanto montado um semi-cerco,  cortando-nos o acesso a Fulacunda. Foi com muito esforço e perícia da força aérea, que veio novamente em nosso auxílio, que conseguimos sair dali e chegar ao quartel, sem mais feridos, já com a noite a cair…

Outros contactos houve, igualmente com alguns feridos, principalmente do pelotão de milícias de Fulacunda que nos acompanhava sempre e que nos serviam de guias. Contudo, não quero terminar este pequeno artigo, sem salientar com grande felicidade que todos os homens que constituíram a 3º CART/BART6520/72 e saíram do RAL 5 (Penafiel), em 24 de Junho de 1972, apesar de alguns feridos, regressaram todos vivos e unidos por uma amizade que ainda hoje perdura e nos faz reunir todos os anos em Penafiel, no restaurante Ramirinho, propriedade do nosso 1º cabo Silva,  do 3º pelotão.
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