quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2472: Guineenses da diáspora (1): Luís Humberto Monteiro, há 23 anos no Brasil (Virgínio Briote)


O Luís Humberto, procedendo a arrumações (?), num local (Brasil?) que não indicou.

Foto: Luís Humberto Monteiro (2008).



Notícias da diáspora guineense... Não podemos ignorá-la... Os melhores quadros da Guiné-Bissau (médicos, engenheiros, juristas, investigadores, gestores, empresários...), mas também muitos dos seus melhores jovens vivem e trabalham no estrangeiro... Que esperança resta a quem fica ? É importante conhecermos as histórias de vida, os sentimentos, as emoções, as expecativas de quem, um dia, por uma razão ou outra partiu, à procura de melhor sorte..

O termo diáspora não tem nada de crítico, depreciativo, paternalista ou, muito menos, neocolonialista. Ainda recentemente se realizou, em Lisboa, de 7 a 9 de Dezembro último, o I Fórum de Diálogo e de Intercâmbio da Diáspora Guineense em Portugal... em que, de resto, participou como orador o nosso tertuliano Leopoldo Amado...

Por outro lado, as remessas de dinheiro, enviadas pelos guineenses da diáspora para as suas famílias são de uma importância vital para a economia da Guiné-Bissau. Segundo uma estimativa do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), um organismo ligado à ONU, a Guiné-Bissau seria o país de África mais dependente das remessas dos seus emigrantes:

(...) Em África há países cuja 'dependência' das remessas é mais do que notória, sendo a Guiné-Bissau um deles. Com uma diáspora recente, e com o país praticamente paralisado economicamente, as transferências da diáspora guineense responderam, em 2006, por 48% do PIB desse país, o que o coloca no primeiro lugar de África. Em S. Tomé e Príncipe, essa contribuição ficou calculada em 39%, seguindo-se a Eritreia com 38%...

Relativamente a Cabo Verde, cuja contribuição das remessas para a formação do PIB tem vindo a decrescer com a expansão de outros sectores económicos, nomeadamente o turismo, as divisas dos emigrantes agora representam 34%, ainda assim um dos mais altos do mundo (...) (A Semana 'on line').

Abramos, pois, uma nova série para falar sobre (e deixar falar) a diáspora guineense... (LG)


1. Do Brasil, mensagem de Luís Humberto Freire Monteiro, 15 de Janeiro de 2008, enviada ao co-editor vb:

Gostaria de conhecer um pouco da tua história como comando e dos demais companheiros, tais como o Djamanca (...).


2. Comentário do vb:

Pensei que fosse um antigo Camarada da guerra da Guiné, residente no Brasil, querendo saber de Camaradas que eventualmente tenha conhecido naquelas terras. Respondi em 20 de Janeiro de 2008:

Luís Humberto,

Publiquei em tempos um blogue, o
http://tantasvidas.blog.pt/, um 'ajuste de contas' com o meu passado militar. Nele pode encontrar referências e imagens do Djamanca e de outros Camaradas daqueles tempos.

Cumprimentos,

vb

3. Nova mensagem do Luís Humberto Monteiro, com data de 21 de Janeiro

Agradeço por ter respondido meu e-mail. Eu sempre tive admiração dos comandos africanos desde os idos anos 72. Na verdade eu já era um moço, e com certeza se não fosse a independência eu seria dos comandos.

Pena que a nossa história fala pouco ou quase nada a respeito. Na verdade digo mais, a política de Spínola POR UMA GUINE MELHOR, houvesse tido sucesso, seria uma Guiné Melhor, e não a Guiné de hoje.

Eu sou Guineense radicado no Brasil por conta própria, há 23 anos e sempre tive curiosidade de ler as informações que o Sr. Luís Graça nos proporciona na Internet, daí eu vi que tu eras um dos comandos no front em Bissau.

Resolvi-te mandar este pequeno e-mail solicitando algumas informações a teu respeito e a dos demais comandos.

O que poderes me mandar a respeito da guerra colonial eu agradeço desde já,
Um grande abraço


4. Identificado o Autor da mensagem, prossegui, incentivando-o a dizer algo sobre ele:

Caro Luís Humberto,

Une-nos um passado comum. Assim quis a História dos nossos Povos Irmãos. Nem sempre nos demos muito bem, o que só dignifica a natureza de que és feito. Pertences a um Povo indomável, orgulhoso da Mãe África.

Luís, fala algo de ti, apresenta-te. Onde nasceste, quando, quem eram os teus Pais, qual a tua etnia de origem, onde estudaste, como foste parar ao Brasil. Lembras-te de alguma coisa da Guerra no teu País? Tens uma foto tua, para dar a tua entrada no blogue? E permites que a faça?

Um abraço, com os desejos que sejas muito feliz,

Vb

5. Não tardou a resposta do Luís Humberto (*):

Eu sou Guineense radicado no Brasil há 23 anos, vim para cá aos 19 anos, porque percebi após o golpe de estado do NINO, Bissau estava indo para bancarrota, resolvi sair fora em 1984, quatro anos após o golpe de estado.

Nasci em Bissau no bairro de Am[e]dalai, estudei na missão católica, frequentei o liceu de Bissau, e a minha etnia é PEPEL.

No Brasil formei minha família com Brasileira e tenho dois filhos (um casal), especializei-me na área de informática , tenho nível médio, é com essa formação que sustento minha família.

Não tenho partido político desde 1998 e não vou a Bissau de férias.

Eu lamento profundamente que a Independência que todos nós almejámos não era essa independência (dependência) que hoje a Guiné-Bissau vive. Temos um velho ditado que diz TEMPO DI TUGA MÁSSABI (traduzindo, Tempo Colonial Era Melhor). O PAIGC não gostava muito de ouvir isso.

Volto a repetir a título de informação, me interessei pelo blogue do Sr. Luís Graça, porque é o que mais abordou a nossa história da guerra , e por seres um dos daquela época, resolvi te procurar.

Muito obrigado pela interação.

__________

(*) Em anexo o Humberto enviou-me o artigo transcrito abaixo e publicado, em 18 de Janeiro de 2008, no sítio
http://www.didinho.org/pensador.htm

Crónica de um Descrente!



Elia, o homem mais velho da aldeia. Foto de
Ernst Schade, publicada na página do Fernando Casimiro (Reprodzida aqui, com a devida vénia...).


Por Marinheiro da Solidão (em homenagem a Jorge Cabral)
Janeiro de 2008

Após quase 4 horas de viagem, o avião inicia o seu trajecto descendente. Começa-se a vislumbrar o verde do meu país , cortado por braços de água. Uma imagem quase idílica. Não há dúvida que a mãe natureza foi generosa.

O avião imobiliza-se. Somos recebidos por um bafo de humidade. Estamos em casa. O aeroporto encontra-se apinhado de gente. Está quente. Vejo vários aparelhos de ar condicionado, mas nenhum parece funcionar.

À entrada uma oficial da Polícia de estrangeiros e Fronteiras dá-me as boas vindas. Quase que nem olha para o meu passaporte. Diz-me directamente e sem grandes subterfúgios:
- Amigo...Nô tene peditório!
Diz-me isso com o ar de quem não está à espera de uma resposta negativa. Confiança acima de tudo! Siga!

Passado esta recepção agradável, chega a etapa de arranjar um pedaço de chão em frente ao tapete rolante. As pessoas armam-se como podem para a batalha da colheita de malas.. Aqui e ali ouve-se:
- Amigo, amigo, qui mala i di mi, qui mala i di mi...
Após uma longa batalha e litros de suor...tenho a minha mala. Dizem-me que tive sorte. Ela chegara intacta! Pelos vistos, não tem sido costume.

Segue-se a etapa da abertura e revista das malas. Diz-me um militar todo solícito:
- Djubi dé...pa ka no cansau kabeça, danu dê qualquer kussa...

Que simpático, penso eu! Ao fim de 2 horas no aeroporto, vejo o sol. Vamos enfrentar a cidade de Bissau.

Cá estou eu na Avenida principal a caminho do centro da cidade. De ambos os lados vejo, em construção, autênticos palacetes... dizem-me que é a nova moda (da estrada do aeroporto a Antula, do Bairro de Ajuda ao Sacor, passando por Safim). Pelos vistos, muita gente recebeu heranças inesperadas em pouco mais de um ano. A julgar pelo que vejo, acredito!

Chegado a casa, dizem-me que estão há 5 dias sem água ou luz. Não acho estranho, estou mentalmente preparado! Mas de repente...dizem-me que sou um sortudo...Não é que "luz ku iagu bin"! Alegria total.

Nos dias seguintes sou brindado por imagens de jeeps e mais jeeps (seja o célebre Hummer ou o K7 ou sei lá mais o quê). Está bem que a estrada não está lá grande coisa, mas com aqueles carros quem é que precisa de estradas? O trânsito está infernal na Av 14 de Novembro. Pelos vistos não há mais nenhuma estrada de jeito!

Encontro toda a gente preocupada com os salários...Todos perguntavam se o governo iria pagar antes das festas (tanto muçulmanas como católicas). Pelos vistos, até ao fim do ano não houve nada para ninguém! Também não ouvi nenhum governante dar explicações. Aliás, em duas semanas, não me lembro de ter ouvido alguém com responsabilidades no país dizer alguma coisa sobre qualquer coisa.

Pessoas próximas contam-me de casos passados no Hospital Simão Mendes. Parecem tirados de um filme de terror de 7ª categoria. Por exemplo, na maternidade há preços para tudo. Uma cesariana custa à grávida 45.000 francos XFO, tendo ainda de pagar:
- O jantar do médico (com letra bem pequena) - 10.000 XFO
- As noites passadas no hospital (sendo que o dormir no chão custa 2500 XFO/noite)
- As enfermeiras cobram para cada curativo ou cada injecção, tendo ainda as pobres parturientes de se levantar, indo ter com as excelentíssimas senhoras enfermeiras (elas dizem que sim) aos seus cadeirões respectivos para fazerem, muito contrariadas, o tal penso!

Sinto-me nauseado. Prefiro não ouvir mais. Mas pelos vistos nem tudo corre mal. As discotecas encontram-se cheias. Qual cenário hollywoodesco...é ver chegar carros topo de gama com jovens da nossa praça que, de um momento para o outro, são os novos ricos do país, concorrendo pela posse das miúdas, mesas na discoteca e em casos extremos fazendo uso das suas belas pistolas em plena pista para marcar o seu território nos negócios! Um cenário a lembrar os gangs dos Estados Unidos..muitos filmes andam a ver de certeza. Dizem-me que são presos na hora pelos Ninjas. Mas no dia seguinte encontro-me com eles pelas ruas esburacadas de Bissau. Afinal quem é que manda?

Pela primeira vez na vida, estou desejoso para que as férias em Bissau cheguem ao fim. Mas antes de deixar o país sou confrontado, no aeroporto Osvaldo Vieira, com mais uma sessão de peditórios, desde o pessoal que anda a fazer revista das malas ao oficial de polícia que tem como obrigação controlar o passaporte no acto de saída (a este, digo que já não me resta um único euro...olha-me com um ar furioso! -ali bu passaporte!). Agradeço.

Finalmente, o Airbus da TAP faz-se à pista e descola! Pela primeira vez sinto-me aliviado ao deixar o meu país.

Durante a viagem vem-me à cabeça o poema, Desafio, de
Tony Tcheka.

Desafio

Até parece
que a Sul o tempo parou
até parece que o Sol
que nos queima
é obtuso e sisudo
até parece
que fomos privados
do apetite
da vontade
da lucidez
até parece
que irrompemos
d'algum ventre enteado
palavra que parece
Até parece que perdemos o Norte
e que o Sul é recôndito
confinado à malvadez
e cozinhados da fada má
Sul é amargo da boca
e o Santo na mão
Será sina castigo ou destino
marcado nos porões negreiros?
E o desespero a fome
a doença os bolsos minguados
todos esses fieis companheiros serão mosteiros
ou simples penitência
para salvar a alma do corpo sofredor?
Mas palavra que apetece
soltar um grito
e desafiar de vez
esta força imensa
que se alimenta da minha doir
da nossa dor!
__________

Nota de vb:

A propósito de um artigo do Leopoldo Amado (salvo erro) "Coisas de Brancundade", escrevia eu, vb, há tempos atrás a um Camarada do blogue:

"O que dirão os que lutaram pela independência dos seus chãos? Foram tão dignos na luta, como indignos devem ter sido alguns que assumiram o poder depois de Setembro de 1974.

Mas, este assunto é deles, de um país independente. Como é que verão, como é que eles nos verão a discutir assuntos da vida deles?

Do nosso blogue, sei-o porque já o ouvi, fala-se que é um blogue do lado deles, do PAIGC, entenda-se. Que estamos a glorificar a luta deles, com pouco respeito pelos nossos que lá deixaram a carne, os ossos, tudo. E que o Simpósio da Guiné, é o exemplo da negação da nossa luta e da justiça da luta deles.

E, se agora, abrimos o blogue a um diário da Guiné actual, o que dirão de nós? E, no entanto, faz-nos falta que alguém nos fale da Guiné."


A resposta do Camarada:

"Não temos medo das palavras... O nosso blogue deve ser um espaço aberto, crítico mas aberto e franco. E porque não fraterno ? Agora, não é decididamente do PAIGC. O que se passa hoje na Guiné-Bissau (e que é trágico, deprimente) não tira qualquer legitimidade (histórica) à luta do PAIGC.

A nossa guerra estaria, sempre fatalmente, condenada à derrota. Eu sei que é duro dizê-lo, em letra de forma, ainda hoje, perante camaradas (portuguses e guineenses) que deram o melhor da sua juventude na luta contra a guerrilha do PAIGC (e muitos a vida ou a saúde). Respeito profundamente esse sentimento de perda, de luto e de impotência. "

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2471: Glória às nossas enfermeiras pára-quedistas e aos malucos das máquinas voadoras (Henrique Cerqueira, Bissorã e Biambe, 1972/74)

1. Mensagem, de 14 do corrente, do Henrique Cerqueira (1)


Olá, camarada Luís e restantes Tertulianos.

Hoje resolvi escrever alguma coisa para o nosso Blogue e a motivação foi despoletada pelo facto de ver publicado um artigo no blog referente às DO - Dornier 27 (2).

Sim, senhor, é necessário lembrar todos os nossos camaradas pilotos e restantes equipas que tantas vezes nos trouxeram um raio de esperança quando estávamos envolvidos em situações de aflição e daí eu recordar uma situação que se passou comigo.

Pois como já disse anteriormente, eu terminei a comissão na CAÇ 13 em 1974, mas quando fui para a Guiné fui colocado em Biambi que era a 3ª Companhia do BCAÇ 4610/72.E então passados dois meses mais ao menos e no cumprimento da minha obrigação, fiz parte de um dos muitos patrulhamentos em missão no mato. É então que após o atravessamento de uma famosa bolanha (Insentaque) fomos surpreendidos por uma emboscada do inimigo e aí tivemos dois feridos graves nos milícias e um furriel, de seu nome Fonseca, natural do Porto.

Até aqui tudo normal para a situação que se vivia na altura, pese embora o facto de ainda sermos muito Periquitos e ser o nosso primeiro embrulhanço. A consequência de toda a nossa inexperiência foi que em poucos segundos gastámos tudo que eram munições e ficámos todos como baratas tontas, tanto pela falta das ditas munições, como não sabíamos mesmo o que fazer com os feridos. Penso que estarão mesmo a ver a cena.

Bom, lá conseguimos entrar em contacto com o aquartelamento e pedir apoio aéreo, assim como evacuação para os feridos. Após algum tempo lá apareceu o LOBO MAU, ou seja o Héli Canhão, e logo de seguida outro Heli para o transporte de feridos.

É aqui que me lembro de ver em pleno mato a sair do Heli uma enfermeira de camuflado e camisola branca bem justa ao corpo. Foi como saísse um anjo para nos ajudar, teve um efeito tão grande de tranquilidade que nunca mais me esqueci desse dia e por mais estranho que possa parecer é a imagem dos Helis e da enfermeira naquele caos que se tinha instalado que ainda hoje guardo do meu primeiro contacto com a verdadeira guerra.

Mais tarde e por motivos diversos viajei em Helicóptero e em DO, e por incrível essas viagens foram duas tentativas falhadas de me transportarem do Biambi para Bissorã, mas isso será outra estória.

Fui ainda informado mais tarde que uma dessas gloriosas enfermeiras foi morta por ter sido apanhada por uma hélice duma DO. Não sei se foi verdade ou não, mas não duvido que todos esses pilotos como pessoal de enfermagem e especialistas da Força Aérea Portuguesa eram mesmo uns Grandes e Gloriosos Malucos, de quem guardo muita gratidão. Não tenho fotos deles mas tenho grandes imagens no meu coração desses bravos camaradas da Guiné.

Quero ainda recordar aqui o Alferes Barros, nunca mais soube nada dele. Era um homem do norte mas parece que vivia em Cascais. De igual modo o Furriel Fonseca, o tal ferido que é do Porto, mas muito em especial o meu fiel amigo e carregador Guineense INHATNA BIOFA que me acompanhou até ao final da comissão na CCAÇ 13.

Bom, isto foi uma estória com o intuito de lembrar em especial todos os Pilotos e pessoal das Força Aérea Portuguesa.

Aproveito para esclarecer aqui que nenhum oficial superior ou outro nunca conseguiu me incutir o espírito militar, pois, como a maioria de todos nós, fomos obrigados a ir para a guerra. Só que isso não significa que, mesmo contrariados, nós os milicianos e restantes obrigados não tenhamos cumprido com a nossa missão que se quiserem até lhe podem chamar de Patriota. E daí existir hoje este meio maravilhoso que nos permite até de ter saudades, sejam elas de factos ou de pessoas. É que foram tês anos das nossas vidas vividas em comum e que irão estar sempre presentes até ao dia do juízo final.

Malta da tertúlia, desculpem lá mas se não agradar a estória têm sempre o rolete do rato para acelerar para a próxima.

Um abração a todos os camaradas Tertulianos
Henrique Cerqueira

Ex-Fur Mil Bat 4610/72 Biambi
e CCAÇ 13 Bissorã até Julho de 1974

PS - Mais uma vez peço ao camarada Luís Graça que, se por qualquer motivo não achar interesse na publicação desta estória ou necessitar de alguma correcção em termos de formato ou escrita, está completamente à vontade. Lembro ainda que não tenho precisão de datas e até de nomes pois que andei muitos anos sem falar neste assuntos e muitas datas e nomes já foram...
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Notas dos editores:
(1) Vd. posts anteriores:

26 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2219: Tabanca Grande (37): Apresenta-se Henrique Cerqueira, ex-Fur Mil (BCAÇ 4610/72 e CCAÇ 13, 1972/74)

17 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2356: O meu Natal no mato (2): Bissorã, 1973: O Milagre (Henrique Cerqueira, CCAÇ 13)

21 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2368: Direito de resposta (1): Do Ex-Capitão Carlos Matos de Oliveira, ao Ex-Fur Henrique Cerqueira, da CCAÇ 13 (Bissorã, 1972/74)
(2) Vd. poste de 14 de Janeiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2437: Estórias de Guileje (1): Num teco-teco, com o marado do Tenente Aparício, voando sobre um ninho de cucos (João Tunes)

Guiné 63/74 - P2470: Diorama de Guileje (5): Geradores na Guiné (José Nunes)


Foto: Nuno Rubim (2007).


1. Em 13 de Janeiro de 2008, José Nunes (1) escreveu:

Estive na Guiné de 15 de Janeiro de 1968, 15 Janeiro de 1970.

Fiz assistências e electrificações em aquartelamentos, Porto Gole, Enxalé, Ponta do Inglés, Bolama, Bissum-Naga.

Acerca dos manuais que o Camarada Coronel precisa, deve ser difícil pois nunca os vi em 2 anos e um dia de Comissão, nem na escola Militar tivemos acesso a eles.

Os grupos geradores mais utilizados eram: 500/250KVA, 150, 50/47,5 KVA (2).

No QG, na Central nova, havia dois Dorman de 250 KVA, com 6 cilindros, refrigeração a água por radiador e, um grupo gerador de emergência Lister de 75 KVA.

Na Central velha, existia operacional um Deutz de 12 cilindros em V, refrigerado a ar e um Lister de 50 KVA.

Na Engenharia e no Hospital Militar estavam os grupos geradores maiores.

No mato, normalmente, encontravam-se geradores com potências de 50, 20 e 7,5 KVA.

As marcas Stanford e Frapil para pequenas potências até 20KVA.
As motorizações eram diversas: Dorman, Deutez, Lister e EFI produção nacional.

Em Porto Gole havia um Lister de 47,5/50 KVA, na Ponta do Inglês havia um Gerador de 20KVA que lá fui levar com um operador de Motores Fixos.

Ajudei a transferirr o grupo gerador, na lama, da LDP para cima do Unimog, a descarregar no local e a fazer ligações de potência.

Por azar, o meu camarada inverteu a polarização na excitação e o gerador ficou inoperacional.
Tive de me pirar porque fui lá desenfiado só para ajudar e para ver se o Operador vinha no mesmo dia para Bissau, mas ficaram sem iluminação e o Engenheiro ficou lá até ao próximo transporte, regressando eu a Porto Gole onde levei uma valente piçada.

Ponta do Inglês, iluminação? A bazucas cheias de petróleo penduradas no arame farpado.

A iluminação nos aquartelamentos era feito com cibes a fazer de postes, linhas de cobre nú de 2,5 mm2, circuito fechado em anel, lâmpadas Philips 150 Watts spot.
Os quadros eléctricos eram em baquelite, equipados com fusíveis ou disjuntores quando os havia.

Não havia uniformização nos geradores, tal como muita coisa era comprada ao sabor de quem dava melhor percentagem, mas a maioria dos aquartelamentos tinha geradores de 7,5 ou 20 KVA.

Até breve, com amizade.
Matenhas para toda a Tabanca.
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Notas dos editores:

(1) - Vd. post de 22 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2469: Tabanca Grande (55): José Nunes, ex-1.º Cabo Mec Electricista de Centrais (BENG 447, 1968/70)

(2) - Vd. post de 11 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2432: Diorama de Guileje (1): Geradores: Grupos Diesel Lister ou Frapil: fotos ou manuais, precisa-se (Nuno Rubim / Victor Condeço)

Guiné 63/74 - P2469: Tabanca Grande (55): José Nunes, ex-1.º Cabo Mec Electricista de Centrais (BENG 447, 1968/70)

1. Mensagem do noso camarada José Nunes com data de 13 de Janeiro

Camarada,
Apresenta-se na Tabanca o 1.º Cabo Mec Electricista de Centrais, do BENG 447, José Silvério Correia Nunes.

Estive na Guiné de 15 de Janeiro de 1968 a 15 de Janeiro de 1970.

Para regressar, paguei a passagem de avião na TAP, pois só em Março deveria haver barco de regresso.

Fiz assistências e electrificações em aquartelamentos como Porto Gole, Enxalé, Ponta do Inglês, Bolama e Bissum-Naga.

Logo que disponha de um scaner vos enviarei algumas fotos, que rebusquei e que terei muito prazer em facultar para que dê valor a todos os camaradas que pereceram e que estarão sempre na minha memória.

Nunca ninguém aqui falou da Leprosaria que existia ali para os lados de Pefine, salvo erro, que estava entregue a uma Congregação de Frades Italianos.
Eu estive lá.

Havia uma enfermaria de alvenaria, mas não havia dinheiro pró telhado, porque a chapa de zinco era cara e todos os leprosos íam lá parar.

As minhas aventuras com um Jovem Frade Italiano nas picadas da lha de Bissau, numa motorizada Peugeot, o previlégio de ter conhecido aquele que viria a ser o Bispo de Bissau, D. Sétimo Serrazeta no pós indepedência e todos os Frades da Congregação, o trabalho relevante, deles, na saúde e na formação profissional dos guineenses, ficam para sempre na minha memória.

Montamos uma Carpintaria Escola para os frades ensinarem carpintaria aos meninos, filhos dos leprosos, e residentes na zona. Era impossível ficar indiferente e não colaborar.

Tenho tido alguma relutância em fazer uma aproximação ao Blogue, pois não sendo operacional, tendo feito parte da guerra na 5.ª Repartição, sinto alguma fragilidade em juntar-me a quem viveu as agruras da guerra, embora tenha sofrido ataques a aquartelamentos, nas miunhas deslocações ao mato.

Em Bissum Naga estivemos um mês a sopa de cebola com bianda e bianda com atum no segundo, isto ao almoço, porque ao jantar invertíamos a ordem dos pratos.

Aprendi a admirar os camaradas operacionais, embora detestasse as rivalidades bacocas, entre as tropas especiais, que de vez em quando, se guerreavam em Bissau, tendo vivindo no Hospital Militar muitos dramas e verificado coisas que se não as presenciasse não acreditaria.

Vou buscar no meu baú as velhas e amarelecidas fotos desse tempo de muita dor e saudade. De uma amizade temperada sob sol abrasador com fome, sangue, suor e muitas lágrimas de dor e revolta. De muita sede, de tudo.

Não me posso queixar, porque quis a sorte ou a vontade dos homens, que a minha guerra fosse diferente. Fiz viagens em barcos de cabotagem a subir o Geba até Porto Gole com outro camarada, a tripulação e os gentios, cheios de medo, novos, inexperientes.

Acho que tenho umas fotos da destruição das Camaratas no Quartel dos Comandos em Brá, por acidente.

Do avião capturado pelo camarada condutor que atravessou a mercedes na pista não o deixando levantar com gente grada o PAIGC.

Até breve, com amizade.
Matenhas para toda a Tabanca.
José Nunes

2. Comentário de CV

Caro Nunes:

Bem aparecido na nossa Tabanca Grande.

Não te esqueças das tuas fotos da praxe para a foto galeria.
Além da tua preciosa colaboração no tema dos Geradores de energia eléctrica instalados na Guiné, podes e deves contar as tuas estórias.

O facto de fazeres boa parte da tua guerra na esplanada mais célebre da Guiné, não quer dizer que não tenhas algo para nos contares.

Foste tantas vezes ao mato que deves ter vivido algumas situações menos boas e outas até caricatas. Quem esporadicamente ia ao mato tinha sensações diferentes daqueles que, por imperativo da sua especialidade, cumpriram a sua comissão de serviço entre o arame farpado.

Para ti vai um abraço de boas vindas dos teus novos amigos e camaradas da Tabanca Grande.

CV

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2468: Blogoterapia (39): Atingimos hoje o meio milhão de visionamentos do nosso blogue

Lisboa > Gare Marítima de Alcântara > Tapeçaria feita a partir de um dos famosos painéis de Almada Negreiros, pintados nos anos 40.

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados.

1. Mensagem do Albano Costa:

Bom dia, meu amigo:

Prepara a champanhe, que o meio milhão aí está!... Os meus parabéns pela tua feliz ideia, eu sei que não queres ser só tu a receber os louros, mas tens que ser tu a ficar com eles para sempre.

PARABÉNS!

Um grande abraço,
Albano Costa sempre ao dispor do que estiver ao meu alcance


2. Resposta do editor L.G.:

Albano:

Obrigado pelo teu gesto de carinho e de amizade. Estamos todos de parabéns, este é cada vez mais um projecto colectivo, meu, teu, de todos nós… Vamos lá a ver se temos força(s) para chegar ao milhão.

É um dia simpático, também, porque faz anos (24) o meu filho e acabo de ver a malta do Porto partir de jipe para a Guiné (…mas não vi o Xico Allen no telejornal, apenas o padre de Ramalde, que por sinal é natural do Marco de Canaveses; fiquei com a ideia, transmitida pelo A. Marques Lopes, que o Xico também ia agora e depois voltava, novamente, a 24 de Fevereiro… Já pedi aos nossos co-editores de Matosinhos para porem a notícia no blogue…).


3. Mensagem transmitida por e-mail a todos amigos e camaradas da Tabanca Grande:

Amigos e camaradas:

O Albano manda-nos os parabéns por hoje termos atingido o meio milhão de visionamentos do nosso blogue... Respondi-lhe que somos nós todos que estamos de parabéns... os que escrevem, os que lêem, os que editam, os que apoiam, os que divulgam, os que criticam o nosso blogue...

Como curiosidade, tínhamos atingido os 400 mil em 15 de Outubro último... Na prática, tivemos mais 100 mil, em três meses....Isto significa que, diariamente, o nosso blogue tem mais de mil visionamentos por dia, incluindo fins de semana, feriados, férias (...).

4. Mensagem do nosso amigo e camarada Joaquim Luís Mendes Gomes:

Caríssimo Luís:

Duma ideia secreta que um dia tiveste, nasceu este embondeiro gigante, cuja riqueza nenhum de nós consegue adivinar...

Estás de parabéns, em primeiro lugar e a seguir... todos os que conseguiste chamar...
Um grande abraço e um brinde para todos os tertulianos.

Mendes Gomes

5. Mensagem do Carlos Marques dos Santos:

Caríssimos:

Um abraço, brindemos e .... continuemos.

CMSantos

6. Mensagem do Mário Fitas:

Assunto - Meio milhão a ver a verdade

Luís, Virgínio, Carlos:

Nas Vossas Pessoas, os parabéns para toda a Tabanca Grande

Para toda a Tertúlia, um abraço
Mário Fitas

Guiné 63/74 - P2467: Tabanca Grande (54): Luís Jales de Oliveira, ex-Fur Mil Trms (Agr Trms Bissau e CCAÇ 20, Gadamael Porto, 1973/74)

Luís Jales
ex-Fur Mil Trms Inf
Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20
Bissau e Gadamael Porto
1972/74


1. Mensagem do nosso camarada Luís Jales, em 17 de Janeiro de 2008:


Ex.ºs Senhores :
Luís Graça
Carlos Vinhal
Virgínio Briote

Caros amigos : (Permitam que assim os trate)

Chamo-me Luis Jales [de Oliveira], tenho 57 anos, sou casado, tenho duas filhas, moro em Mondim de Basto, Trás-os-Montes e exerço funções de Adjunto do Presidente na Câmara Municipal.

Prestei serviço militar na Guiné de 1972 a 1974, como Furriel Miliciano de Transmissões de Infantaria.

Mobilizado em rendição individual para uma Companhia de Comandos, fui colocado, por insondáveis desígnios do destino, no Agrupamento de Transmissões de Bissau, na Secretaria Geral, até 1973 e depois despachado para a CCAÇ 20, do CTIG, que se formou em Bolama e que partiu para Gadamael Porto onde permaneci até ao fim da Comissão (12 de Maio de 1974).

Sou, portanto, daqueles que, respondendo ao apelo da Pátria herdada, do Estado imposto e do Governo não votado, partiram, um dia, por essas estradas, com os olhos coalhados de Tâmega e suplicantemente ajoelhados aos pés de Nossa Senhora da Graça.

Daqueles que foram arrancados violentamente do colo materno, do aconchego do lar e das telúricas fragas do Marão sagrado, para partirem, de madrugada, deixando a cama desfeita e, quantas vezes, uma vida a germinar na barriga das companheiras.

De todos aqueles que voaram sobre os continentes, navegaram sobre os oceanos e desembarcaram, de peito feito, nas praias escaldantes duma África que os enfeitiçou.

De todos aqueles que durante dois estáticos e intermináveis anos comeram o pão que o diabo amassou, comungaram dos horrores da guerra revelada e beberam do cálice que transbordava de sangue, que transbordava de suor e que transbordava com as lágrimas derramadas. O amargo cálice das saudades, o amargo cálice da fome, da sede, do calor, da ansiedade e do desespero, das febres e das viroses, da distância e da loucura, do pasmo e do horror, do silencio e do sofrimento. Do cálice da dor, do cálice do martírio, mas também do cálice da redenção.

De todos aqueles que por obras valorosas da lei da morte se foram libertando, partidos pelas rajadas, estilhaçados pelos morteiros, rachados a foguetão e nas minas crucificados. De todos aqueles a quem a alma foi arrancada, a quem a alegria foi interrompida e a quem a esperança foi degolada,

De todos aqueles de quem o Estado cobardemente se esqueceu e de todos aqueles a quem a sociedade, estupidamente, apontou o dedo castigador.

De todos aqueles que foram ultrajados e sobre quem pesa o estigma condenatório.

Mas também de todos aqueles que vão saldando, aos poucos, as contas com os processos pendentes dum passado que não passou e que continua e há-de continuar excessivamente presente até ao fim.

Porque os nossos corpos ainda tresandam a África e as nossas noites continuam povoadas de fantasmas, bombardeadas de sobressaltos e minadas de pesadelos.

Sou, portanto daqueles que voaram sobre o maciço do Futa-Jalon, contemplando entre o Cabo Roxo, a Norte, e a Ponta do Café, a Sul, os palmares, os mangais e as lalas, a floresta e a savana, as terras vermelhas e os baga-baga, as queimadas e as culturas de rotação, o tarrafe e as bolanhas, o lençol omnipresente que penetrava apaixonadamente aquela mulher negra e sensual que um dia foi baptizada com o nome de Guiné.

E que viram, no ventre daquela mulher africana, pulular búfalos, hienas e leopardos, macacos do tarrafe, cachoros de mango, ratos voadores, gazelas de lala, porcos pretos, irãs cegos, jibóias e cobras cuspideiras, lagartos e ratos das palmeiras, macacos-cão, pelicanos, abutres, garças, gaivotas e maçaricos, rolas, perdizes e pombos torcaz, cachos calderon, colibris, galinhas do mato e íbis sagradas.

E que viram , nas suas veias, nadar peixes-sereia, bicas, bicudas e cações, candambas, safias e bentanas, jotós, peixes saié e tubarões.

De todos aqueles que voaram nas asas dum passarinho parecendo escutar o mavioso som dos violinos Fulas, que Djagras de barbas brancas acariciavam debaixo dos venerandos Bissilon, nas margens da lagoa de Cufade, onde os nenúfares explodiam em luxúria multicolor.

Eu sou daqueles em quem permanecem, gravadas a fogo, as imorredouras imagens em que se agigantam, como emblemáticas, a dança dos flamingos cor de rosa nas margens silenciosas dos rios de maré e o recorte das bajudas semi-nuas balançando, com graça e altivez, os chalavares dos camarões, nos indescritíveis poentes rubros das bolanhas do chão sagrado.

Eu sou daqueles onde permanecem, também, sacramentados, o cheiro seco do mato após as queimadas, o odor desagradável dos pântanos e das bolanhas, a dor dos olhos cansados pelo sol do meio dia, o buque-buque enigmático dos tantãs guerreiros durante a noite, o ondular das lalas verdejantes, a arte dos Nalus, o brio das mancanhas e o porte dos homens grandes ornados com a dignidade dos barfacon.

Eu sou, portanto daqueles que dormiram, primeiro, nas valas e nos abrigos e depois numa tabanca, deitados numa maca de campanha inglesa, com um cantil a servir de travesseira e que perderam a conta, por não terem máquina calculadora, ao número das morteiradas 120, das canhoadas sem recuo supersónico, e dos foguetões Strella, ou SAM 3 com seis buracos de propulsão, que sobrevoaram aquele chão com o nosso nome etiquetado como destino.

E eu que sou da Tabanca de Gadamael e que servi às ordens de Tomás Camará e de Adriano Sisseco, venho bater, agora, à porta da Tabanca Grande da camaradagem, ansiando por um abrigo e para que possam partir comigo a castanha de cola de tantas e tão marcantes recordações.

Um grande abraço.
Luís Jales

Morada : Rua Comendador Alfredo Alvares de Carvalho
4880 Mondim de Basto

Telm : 966495651
Tel. Casa : 255.382011
Tel. Serviço : 255.389300 – 255.389304
luisoliveira@cm-mondimdebasto.pt
luis.jales.oliveira@gmail.com


2. Comentário de CV

Caro Luís Jales

Bem-vindo à nossa Tabanca Grande, onde não é preciso pedir licença para entrar.

A porta está sempre aberta para algum camarada que se nos queira juntar ou amigo da Guiné-Bissau, que por gostar, de algum modo, da terra onde passámos dois dos mais árduos anos da nossa vida, é também nosso amigo.

Por muito que tenhamos sofrido, aquela terra marcou-nos definitivamente, para o bem e para o mal, e com isso viveremos até ao fim dos nossos dias.

Fica combinado que a partir de hoje deixarás essa coisa horrível, entre camaradas, que é o excelentíssimos disto e daquilo. Os verdadeiros camaradas, independentemente dos postos que tiveram, tratam-se por tu.

Acomoda-te, prepara as tuas estórias e as tuas fotografias e conta-nos aquilo que tens guardado em papel ou na memória do tempo, para aumentares o nosso espólio.

A nós, Tertulianos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, não vão acusar de deixar esquecer o passado duma geração que viveu uma guerra esforçada. Aos nossos filhos e netos deixaremos um legado histórico contado pelos intervenientes.

Na nossa página, do lado esquerdo, poderás consultar as nossas dez normas de conduta, que são afinal, preceitos de gente civilizada que se respeita e tolera ideias diferentes.

Deixo-te um abraço de boas vindas em nome de toda a Tabanca.

CV

Guiné 63/74 - P2466: Ser Solidário (1): Pe. Almiro Mendes, Pároco da freguesia de Ramalde, Porto, partiu hoje de jipe, para a Guiné-Bissau

O Pe. Almiro Mendes, pároco de Ramalde, Porto (à direita), acompanhado do nosso camarada Xico Allen (à esquerda), junto ao jipe que seguiu para a Guiné-Bissau, pela rota do Dacar (ligando Portugal, Espanha, Gibraltar, Marrocos, Mauritânia, Senegal, Gâmia e Guiné-Bissau), numa missão de solidariedade. Ao todo será uma viagem de 3.352 quilómetros, do Porto a Bissau.

Foto retirada da página da Agência Ecclesia, com a devida vénia

1. Padre Almiro Mendes, um amigo da Guiné-Bissau

Em 20 de Outubro de 2007, foi feito o lançamento, na Igreja Nova de Ramalde, freguesia do Porto, do livro «Sinfonia das Palavras Íntimas», da autoria do pároco de Ramalde, Pe. Almiro Mendes (ordenado sacerdote há 18 anos).

Trata-se de um livro, constituído por um conjunto de 264 textos e fotografias que retratam a sua experiência como missionário na Guiné-Bissau, entre os meses de Setembro de 2005 e Setembro de 2006.

Além de querer partilhar a sua vivência na Guiné-Bissau como homem e como missionário, Almiro Mendes teve como principal objectivo angariar de fundos para a compra de uma viatura que pretende oferecer aos Missionários que trabalham na Guiné-Bissau. A venda dos quatro mil exemplares do livro vão também permitir, além da compra do jipe, financiar a abertura de poços de água potável e apoiar a educação e alimentação de algumas crianças órfãs, segundo o Padre Almiro Mendes referiu à Agência Lusa.

A viagem do referido carro ficou marcada para o dia 21 de Janeiro de 2008. E, como planeado, o Padre Almiro Mendes lá seguiu hoje, no jipe, por via terrestre, com mais acompanhantes - entre eles duas enfermeiras - a caminho da Guiné-Bissau, que espera atinguir dentro de oito a dez dias. O acontecimento teve honras de telejornal (RTP1, 13h).

Ainda segundo a Lusa, na bagagem, o pároco de Ramalde leva também material informático, um computador, uma fotocopiadora, medicamentos material escolar e um gerador. O sacerdote é acompanhado por mais seis pessoas, quatro do Porto e duas (enfermeiras) que partem de Lisboa, noutro jipe... Todos os participantes têm experiência de missões em África.

Segundo informação do A. Marques Lopes, o nosso querido amigo e camarada Xico Allen (vd. foto acima) também teria seguido nesta caravana, devendo voltar de novo à Guiné-Bissau no dia 24 de Fevereiro a tempo de participar no Simpósio Internacional sobre Guileje. A todos os nossos amigos e camaradas que participam nesta caravana de amizade e solidariedade - a começar pelo Padre Almiro Mendes - desejamos que bons ventos os levem e que bons ventos os tragam. E que a sua missão seja coroada de êxito e decorra em segurança. O nosso coração vai com eles.

Os editores, LG/VB/CV


2. Do Padre Almiro Mendes publica-se, a seguir, um belíssimo texto, que merece honras de antologia. É um hino de amor à Guiné e ao seu povo. (Bold, da responsabilidade dos editores)


Ecos de uma experiência Missionária na Guiné,
por Almiro Mendes

Quando foi acordada com os Espiritanos e com o meu Bispo a minha ida para a Guiné, não sabia que partir era tão difícil!

Partir obriga a sufocar aquela voz que teima em gritar dentro de nós o imperativo fica;

Partir implica soltar amarras do porto das nossas seguranças e fazer-se ao mar do desconhecido em barco de insuficiências adivinhando tempestades sem que para elas se esteja totalmente preparado;

Partir é partirmo-nos por dentro e darmos a Deus os bocados da fragmentação;

Partir é vencer a indecisão com a decisão e ganhar a batalha travada com o velho do Restelo expulsando-o da nossa pátria interior desfraldando a bandeira da nossa liberdade;

Partir é, como Maria, ouvir o Anjo interior, dizer-lhe SIM sem entender o mistério todo e pôr-se a caminho para levar aos outros o Amor de que estamos fecundados;

Partir não é fácil e obriga a pôr um pescoço de aço para evitar que a cabeça rode e olhe para trás.
Partir para a Missão na Guiné não foi uma canção de embalar, mas uma descolagem mais dolorosa do que aquilo que eu pensava, que veio a revelar-se um dom ainda mais extraordinário do que aquilo que eu tinha imaginado e que só agora vou compreendendo e agradecendo a Deus.

Se partir foi difícil, chegar e ficar não o foi menos. As saudades, o calor, que na Guiné é insuportável, os mosquitos que são um verdadeiro tormento, o receio de ficar doente, o volume das ocupações e preocupações, a avalancha dos violentos assaltos às missões, o falecimento da minha irmã e logo a seguir a morte do meu pai, fizeram com que os primeiros tempos na Guiné implicassem uma dose acrescida de fé e de força interior.

Mas, de tudo, o que mais me custou foi ver o sofrimento dos guineenses. Na Guiné não há, como em Portugal, rendimento mínimo. Podia haver, ao menos, sofrimento mínimo. Mas não. Na Guiné só existe sofrimento máximo e moderado. Depende da sorte. E ambos estão garantidos para os próximos tempos, pois não consta, para já, a falência do sistema político que apouca aquela gente e tolhe aquele povo.

Falo das dificuldades apenas para ser fiel à história dos meus dias passados na Guiné, mas é-me particularmente feliz referenciar as vantagens, as alegrias e as graças vividas.

Este tempo em África foi o mais incrível e talvez o mais extraordinário da minha vida de sacerdote. Foi, verdadeiramente, um dom de Deus, uma graça que muito agradeço.

Estar na Guiné possibilitou-me ser fiel testemunha de que os Missionários, com parcos recursos mas grande criatividade e sobretudo infinita generosidade, contribuem, em grande parte, para as soluções necessárias ao desenvolvimento daquele país, para a felicidade daquelas gentes e para a dilatação da fé e consistência da Igreja;

Estar na Guiné levou-me a constatar que nunca ninguém fez tanto com tão parcos recursos como os Missionários. Eles são estafetas olímpicos a transportar mais além o facho da beleza da vida, da fé e da esperança;

Estar na Guiné fez-me perceber que a maior parte dos políticos (os de lá como os de cá), com os seus desvarios, vestem de pobreza os corpos frágeis das pessoas e desnudam, sem pudor na consciência, a alma nobre de um povo;

Estar na Guiné e conviver com dois bispos simples mas extraordinários, fez-me concluir que embora muito possa significar a pompa na Igreja, para pouco presta ou para nada vale;

Estar na Guiné ajudou-me a descobrir que as várias Missões dos Espiritanos e das Espiritanas são Oásis num deserto de soluções e possibilidades;

Estar na Guiné deu-me a certeza de que a nossa compaixão pelos que sofrem, mesmo se demasiada, é sempre pouca, pois a dor dos que padecem, mesmo que pequena, é sempre mais do que aquilo que merecem. Na Guiné não é possível divorciarmo-nos da compaixão. Lá, onde a gente se fere não é nos nossos problemas e nas nossas dores, mas nas dores alheias. Lá habita-nos a angústia que a dor de tantos desafortunados nos provoca;

Estar na Guiné possibilitou-me a experiência feliz de acolher os que sofrem, ajudá-los, amá-los e vê-los partir aliviados ficando eu a gemer por dentro;

Estar na Guiné fez-me entender melhor a idiossincrasia da Igreja;

Na Guiné tive a possibilidade de rezar mais e fazer silêncio. O silêncio é um nada que em mim é um quase tudo. Faz parte da essência da minha alma que fica à deriva quando o não tem como hóspede.

Estar na Guiné deu-me, enfim, novas prospectivas e abriu-me novos horizontes…

Estar na Guiné, julgo poder dizê-lo, tornou-me mais humano, talvez mais espiritual, pelo menos fez-me ficar um padre diferente.

Se o partir de Portugal não foi uma canção de embalar e se o chegar e ficar na Guiné não foi fácil pelas circunstâncias já descritas, embora se tenha revelado a experiência mais incrível da minha vida, o regressar a Portugal foi ainda mais difícil:

Vim, mas deixei-me lá.

Vim, mas trouxe as tatuagens de sofrimento daquela gente.

Estou aqui na civilização e nas seguranças que a Europa e Portugal me dão, mas desejava estar lá nas dificuldades daquele país e nos perigos daquela terra.

O adeus que disse à Guiné foi embrulhado num vendaval de emoções. Foi um adeus escrito com letras dolorosas e que me deixou os olhos marejados de saudade. Foi um adeus comovido. Sinto que amo para sempre a Guiné que agora me foge.

Quem chega à Guiné atraca num cais de mistérios, mergulha numa beleza rara e indizível, veste-se de paisagens ímpares e irretratáveis, mas também se vê envolvido numa noite de dramas e sofrimentos incomensuráveis. Depois, quando temos de soltar amarras e de lá partir, vestimo-nos como que de uma paixão secreta e levamos os olhos impregnados de memórias e significações que pintarão com as cores da saudade a tela dos nosso dias futuros. E, como que assolapada, teima em vir connosco a vontade de um dia lá voltar.

Esta minha aventura missionária na Guiné teve contornos que a memória apanhou e eternizou e provocou emoções que a recordação chora com saudosas lágrimas douradas.

Agradeço a Cristo, o Missionário do Pai, este dom tão inolvidável que me concedeu e rogo a Maria, Rainha das Missões, a Sua bênção de Mãe para o querido povo da Guiné.

Padre Almiro Mendes, Diocese do Porto, 05/09/2006

Agência Ecclesia

Guiné 63/74 - P2465: Aires Tinoco, um dos primeiros alentejanos a ver terras da Guiné (Virgínio Briote)


Aires Tinoco, natural de Olivença, ao embarcar na caravela de Nuno Tristão, foi seguramente um dos primeiros alentejanos a ver as terras da Guiné.

O Comandante e quase toda a tripulação acabaram dizimados com setas envenenadas pelas populações nativas. Tinoco, que tinha partido como escrivão de bordo, fez-se ao mar e conseguiu atingir a costa portuguesa quase ao fim de dois meses sem avistar terra, pela rota que ficou a ser conhecida pela “Volta da Guiné”, a volta pelo largo ou, posteriormente, navegação pelo largo.

Era a quarta viagem que Nuno Tristão fazia, a mando do Infante D. Henrique, aventurando-se pela faixa costeira entre o Cabo Branco, que ele próprio descobrira em 1441, e o rio Geba.
À frente de uma caravela com cerca de trinta homens a bordo, Tristão passou ao largo de Cabo Verde, que Dinis Dias tinha descoberto em 1444 e, navegando para sul, achou a embocadura de um rio que se julga ter sido o Gâmbia.

Fundearam a caravela e, em dois batéis, subiram o rio. O batel de Nuno Tristão foi logo atacado pela população ribeirinha, que matou toda a tripulação com setas envenenadas.

Os outros tentaram refugiar-se na caravela, acabando por salvarem-se apenas cinco homens, “um grumete, assaz pouco avisado na arte de marear e um moço da câmara do infante, que se chamava Aires Tinoco, que ia por escrivão, e um moço guinéu que fora filhado com primeiros que filharam em aquela terra, e outros dous moços assaz pequenos que viviam com alguns daqueles escudeiros que ali faleceram” (Gomes Eanes de Azurara, cronista).

Aires Tinoco, com os escassos conhecimentos de navegação que possuía, conseguiu fazer-se ao mar, tentando atingir a costa portuguesa, o que conseguiu ao fim de quase dois meses, sem nunca avistar terra.

Diz Eanes de Azurara, na “Crónica do Descobrimento e Conquista da Guiné”:

“Ó grande e supremo socorro de todos os desamparados (…), onde bem mostraste que ouvias suas preces quando em tão breve lhe enviaste tua celestial ajuda, dando esforço e engenho a um tão pequeno moço, nado e criado em Olivença, que é uma vila do sertão mui afastada do mar, o qual, avisado por graça divinal, encaminhou o navio, mandando ao grumete que directamente seguisse para o norte (…), por que ali entendia ele jazia o Reino de Portugal (…).
(…) Este moço que disse era aquele Aires Tinoco (…), no qual Deus pôs tanta graça que por dois meses continuados encaminhou a viagem daquele navio (…); ao fim dos quais cobraram vista de uma fusta *(…), sobreveio em eles uma nova ledice, e muito mais quando lhes foi dito que estavam na costa de Portugal, a través de um lugar do Mestrado de Santiago, que se chama Sines. E assim chegaram a Lagos, donde se foram ao contar-lhe o forte acontecimento da sua viagem, apresentando-lhe a multidão de flechas com que seus parceiros morreram (…).


Os alíseos e a corrente das Canárias não permitiam, no retorno a Portugal, a navegação junto à costa.
"A volta da Guiné ou da Mina, afastando-se da costa, entrando bem pelo mar Atlântico, passou a ser comum, levando os marinheiros de então a escalar os Açores".

"Pelo feito, Aires Tinoco foi agraciado com terras em Elvas, na sua Olivença natal, onde lhe foi atribuído o Monte do Barroco (Velho), junto à aldeia de S. Jorge de Alôr, e ainda em Estremoz, onde, além do almoxarifado, recebeu casas e terras.
Aires Tinoco foi ainda escrivão do Infante D. Henrique. Em 1475 ainda vivia, ao que se julga em Extremoz".
(Maria Antónia Goes).

Segundo Francisco Contente Domingues, Professor de História na Faculdade de Letras na Universidade de Lisboa,
“ (…) os navegadores portugueses viram-se obrigados a fazer a chamada ‘volta pelo largo’, ou seja, a internarem-se no mar alto para contornar os ventos que sopravam constantemente no sentido aproximado Norte-Sul, junto à costa africana. Essa manobra só podia ser feita recorrendo ao cálculo de, pelo menos, uma coordenada, a latitude, para o que se impunha a observação comparada das alturas dos astros. A novidade não consistiu nesta observação, conhecida e praticada havia muito, mas no facto de ter sido feita a bordo e dela se obter a posição do navio no alto mar, deixando o cálculo da longitude à perícia dos pilotos, já que só a puderam determinar com rigor quando o quarto protótipo do cronómetro de John Harrison provou a sua suficiência, no decurso do terceiro quartel do século XVIII”.
__________

*embarcação comprida de fundo chato, de vela e remo.

Recolha e selecção de texto: vb

Com a vénia e os agradecimentos devidos a Maria Antónia Goes, à revista Alentejo, Terra Mãe e ao Professor Doutor Francisco Contente Rodrigues (Univ. Lisboa).

“A Nossa História”, Maria Antónia Goes. Publicado na revista Alentejo, Terra Mãe. Revista gratuita > Nº 10 > 1º Trimestre de 2008 > http://www.alentejo-terramae.pt/

Imagens extraídas da revista.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2464: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (2) (Carlos Silva)


O justo reparo do Carlos Silva, ex-Furr Mil do BCAÇ 2879

Amigo Briote

(...)

Hoje tive uma reunião na Associação de Comandos e ofereceram-me a Revista onde vem publicado o teu artigo, o qual não li.


Querem que eu escreva um artigo sobre os nossos militares africanos abandonados.

Vi a publicação do 1º post, mas cortaste a história do brasão da cobra (*), bem como não publicaste o mesmo e a foto do nosso camarada Carlos Fragoso que o concebeu e desenhou.




É como se fosse uma perna amputada, porque não se dá a conhecer o brasão, que deu o nome do Batalhão dos Cobras. Talvez falta de espaço. Não sei se no futuro é possível dar retoques ou não, isto é depois de inserido o trabalho.

Segue em anexo o 2º Post, o embarque e desfile do Batalhão e aspectos da viagem no navio Uige e irão seguindo sucessivamente. Agradeço-te que me avises da publicação.

Eu continuo a insistir na dificuldade da pesquisa, mas a pouco e pouco vou descobrindo com algum trabalho aquilo que quero, pois vou procurar também aos sacos escondidos e não identificados. Vou abrindo o que me chama a atenção.

Já estou a fazer uma espécie de índice onde as coisas se encontram, que junto anexo, para ver se um dia é possível aglutinar.

Tenho muitas ideias que gostaria de desenvolver. Quero enviar para aí um inédito sobre o início da Guerra, isto é, sobre o ataque a Tite em 23-01-1963. Já vi algures no blogue o tipo do 1º tiro, vou ver se o encontro e se encontro algo mais sobre o assunto, para depois carregar o pessoal com metralha. Se souberes alguma coisa sobre este tema diz-me.

Há muito para dizer e para enviar. Vamos com calma, para ver se conseguimos fazer alguma coisa de jeito.

Informa-me se recebeste os anexos em condições, pois seguem várias fotos inseridas no meu trabalho de forma cronológica.

Recebe um abraço.

__________

Resposta de vb:

Carlos,

Tenho ainda várias fotos tuas para inserir em posts futuros. Como pensei que o brazão da cobra tivesse sido desenvolvido já na Guiné, não o inseri por uma questão cronológica.

Trata-se do 1º capítulo, a mobilização e os preparativos, agora segue-se a formação da unidade e o embarque. Espero que me arranjes fotos do embarque. Como cada fotografia é História, agradeço que as legendes.

Grato pela tua excelente colaboração. E as desculpas pelo lapso.

vb
__________

De Abrantes a Farim, o Batalhão de Caçadores 2879 e a sua história. Ou, melhor dizendo, o BCAÇ 2879 e a nossa História (**).

Texto e imagens da responsabilidade de Carlos Silva.


19-07-1969 – Sábado - Dia do embarque do BCAÇ nº 2879 no Navio “Uíge”



A Conde de Óbidos, que quase todos nós vimos, muitos pela primeira vez, e alguns pela última.




19-07-1969 – Dia do embarque do Batalhão – A difícil despedida dos nossos familiares.



19-07-1969 – Desfile do Batalhão – CCaç. 2548 - Em primeiro plano, o Cap Sobral, o Casanova e o Marques.



19-07-1969 – Desfile do Batalhão – Foi a vez da CCAÇ 2549 aparecer na fotografia.


O Uíge de muitos

20-07-1969 – Domingo



Almoço a bordo. Furriéis da CCAÇ 2548 . O Galo, o Serrenho, o Barroso e o Leça.




Almoço a bordo. Furriéis da CCAÇ 2549. Vaz

21-07-1969 – Segunda-feira




Confraternização a bordo do Uíge. De pé: Alf. Sampaio, Cap Vasco Lourenço, Alf Carmo Ferreira e Cap Covas de Lima. De cócoras, os Alferes Casanova, André, Baptista e Rebelo.




Confraternização a bordo do Navio Uíge dos Furriéis da CCAÇ 2548 De pé: Serrenho, Lopes, Galo, Vasques, Barroso, Godinho, Vitorino e Nascimento. De cócoras: Leça, Évora, Tavares, Pontes e Coelho


25-07-1969 – Sexta-feira - Chegada à Guiné e desembarque em Bissau

O Comando do Batalhão com as CCAÇ 2548 e CCAÇ 2549 foram alojados nas futuras instalações do Batalhão de Serviço de Material em Brá e ficaram a depender do Depósito de Adidos.
Dois barracões, uma manta, mosquitos e nada mais.

Para os militares que já tinham várias comissões e para os que vinham pela primeira vez, embora por razões diferentes, o choque foi grande.

A CCAÇ 2547 ficou instalada na Amura em razoáveis condições.

28-07-69 – Segunda-feira

O Comando do Batalhão, a CCAÇ 2549 e 50 elementos da CCS, embarcaram em Bissau na LDG “Alfange” com destino ao Sector 02 onde iriam ficar instalados.

Em 29-07-69 desembarca-se em Farim.

30-07-69 – Quarta-feira

A CCAÇ 2549, em coluna auto, desloca-se para Cuntima, localidade situada nas proximidades da fronteira norte com a República do Senegal, assumido mais tarde a responsabilidade do subsector.

No mesmo dia marcham de Bissau para a Ponte de S. Vicente, em coluna auto, a CCAÇ 2548 e mais 50 elementos da CCS. Naquela localidade, embarcam na LDG “Alfange”, subindo o rio Cacheu e desembarcam ao fim da tarde em Farim.

01-08-69 – Sexta-feira

Finalmente, neste dia seguem de Bissau para a Ponte de S. Vicente, em coluna auto, a CCaç. 2547 e os restantes elementos da CCS.
Naquela localidade, embarcam na LDG “Alfange”, subindo o rio Cacheu e desembarcam ao fim da tarde em Farim.

Nesta data, portanto, todo o BCAÇ 2879 encontrava-se no Sector 02 que lhe foi atribuído.

__________

Fixação do texto: vb

(*) Um outro símbolo do Batalhão foi adoptado, embora não saiba por alma de quem surgiu a ideia, o qual nada tem a haver com a heráldica militar, conforme o desenho constante do crachat.
Passados alguns anos após o regresso do Batalhão da Guiné e num dos almoços de confraternização, segundo me contou o Ten Cor Vasco Lourenço, ao qual perguntei para satisfazer a minha curiosidade se sabia como surgiu a ideia de adoptar tal símbolo, este disse-me que a ideia surgiu espontaneamente de entre um grupo de oficiais do Batalhão que entenderam adoptar um símbolo que chamasse à atenção e deixasse uma marca para sempre.

Também, muitos anos mais tarde após o regresso do Ultramar, segundo me contou o nosso camarada então Cabo Mil Carlos Fragoso da CCAÇ 2549, obtido o acordo no dito conclave, foi chamado pelo então Cap Vasco Lourenço, na medida em que tinha um curso de artes, para conceber e desenhar um emblema apelativo do Batalhão, que se relacionasse com algo que rastejasse (até parece que o quotidiano da Guiné seria o rastejar).

Daí, o Fragoso colocar o seu cérebro a funcionar e conceber a ideia da cobra, porque se trata de um réptil rastejante, surgindo assim, o emblema conhecido por todos nós.

Deste modo, o nosso glorioso Batalhão passou a ser conhecido pelo Batalhão dos Cobras”.

Carlos Silva

(**) A odisseia ultramarina aproximava-se do fim. Um dos maiores protagonistas, que a nossa História recente registou, embarcava no Uíge, comandando uma das Companhias do Batalhão dos Cobras, que se iria fixar em Cuntima (Colina do Norte) junto à fronteira com o Senegal.

vd post:

Guiné 63/74 - P2440: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes para Farim: O Batalhão dos Cobras (1) (Carlos Silva)

Guiné 63/74 - P2463: Vídeos da Guerra (7): Madina do Boé - A Retirada (José Martins)

José Martins
ex-Fur Mil Trms
CCAÇ 5
Canjadude
1968/70


1. Do nosso camarada José Martins, recebemos em 17 de Janeiro de 2008, a seguinte mensagem

Bom dia
Saudações amigas
Informação geral:

No site ultramar.terraweb.biz, pode ver-se um documentário, já transmitido na TV e publicado em cassete vídeo VHS.

O documentário, com cerca de 50 minutos, versa a retirada das NT do aquartelamento de Madina do Bué.

É oportuna esta inclusão, já que no próximo dia 6 de Fevereiro passam 39 anos sobre o acontecimento.

Aquele abraço
José Martins
________________

Nota dos editores

Vd. postes anteriores sobre a retirada de Madina do Boé:

18 de Novembro de 2006> Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)

15 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)

21 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1388: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (III parte)

Guiné 63/74 - P2462: Convívios (38): Minitertúlia da Intendência / Administração Militar, Belém, Lisboa, 18 de Janeiro de 2008 (Fernando Franco)

Lisboa > 18 de Janeiro de 2008 > Minitertúlia da Intendência reunida em Belém. Da esquerda para a direita, Isildo Dias, Baia, Franco e Martins (dono do restaurante).

Foto: © Fernando Franco (2008). Direitos reservados.



1. Mensagem do nosso camarada Fernando Franco:

Amigo Carlos:

Não pretendo de alguma forma fazer-vos inveja, pois nem tem comparação com aquele jantar que fizeram no Norte (1), mas a pouco e pouco vamos conseguindo juntar alguns camaradas da Intendência.

Fomos só quatro, mas parece que temos caminho aberto para se arranjar contactos de mais uns quantos. De qualquer forma um sentimento ficou neste almoço, fomos poucos mas muito unidos.

Este almoço decorreu em Belém, no Restaurante de um dos nossos. Da esquerda para a direita, Isildo Dias, Baia, Franco e Martins, este o dono do mesmo.

Queria agradecer ao Blogue, na pessoa do Luís Graça, e aos seus colaboradores, o facto de terem publicado um artigo meu e do Baia (2), pois através dele os da Administração Militar (AM), mais precisamente da Intendência, ao consultar o Blogue constatam que existe rapaziada da mesma arma, AM, e a pouco e pouco vamos conseguindo arranjar alguns contactos.

Um forte abraço
Fernando Franco
Venda Nova - Amadora
Telem. 968074921

2. Comentário de CV:

Caro Franco:

Em primeiro lugar, nem tu nem ninguém tem que agradecer por se publicar o que nos enviam. Têm é que nos chamar a atenção para algo que corra menos bem. O trabalho é muito e por vezes há assuntos que escapam ou perdem actualidade. As críticas dos leitores, e principalmente as dos tertulianos, serão sempre levadas em conta.

Em segundo lugar, aqueles a que chamas colaboradores do Luís, não colaboram com ele exclusivamente, mas sim com todos vós, os não-editores. Afinal, eu, o Briote e mais alguém, trabalhamos para manter as nossas páginas vivas e actualizadas.

Aquele jantar no Norte, que referes, foi uma iniciativa da muito activa Minitertúlia de Matosinhos que poderá ser um exemplo para outras minitertúlias que se venham a formar em qualquer ponto do país.

No nosso jantar tivemos a presença de camaradas de Espinho, Gaia e Águeda, porque como nos almoços das quartas-feiras pode participar quem aparecer, pois acima de tudo o que está em causa é o convívio entre camaradas.

De facto a minitertúlia de Matosinhos é um caso sério que começou com uns poucos e já começa a criar problemas logísticos, pois há dias em que a casa Teresa fica a rebentar pelas costuras.
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Notas dos editores:

(1) Vd. Mensagem de 31 de Dezembro de 2007> Guiné 63/74 - P2395: Tertúlia de Matosinhos: Jantar de Natal, 27 de Dezembro de 2007 (Luís Graça / Zé Teixeira)


(2) Vd. posts de:

16 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1284: A Intendência também foi à guerra (Fernando Franco / António Baia)

16 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1283: Os nossos intendentes, os homens da bianda (Fernando Franco / António Baia)

(3) Vd. poste de 3 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2402: Matosinhos, Leça do Balio, Vilas, 27 de Dezembro de 2007: Silêncio, canta-se o Hino de Gandembel (Hugo Costa / Albano Costa)

Guiné 63/74 - P2461: Pensar em Voz Alta (Torcato Mendonça (7): Dois heróis, dois homens com valores, Domingos Ramos e Mário Dias

Guiné-Bissau > Nota de cem pesos, já fora de circulação, com a efígie de Domingos Ramos, herói nacional, e amigo do nosso Mário Dias. Em primeiro plano, a imagem também de uma moeda, com a efígie do Domingos Ramos (1).

Foto: © Torcato Mendonça (2008) . Direitos reservados.


1. Mensagem do nosso amigo, camarada e habitual colaborador Torcato Mendonça (Fundão):

Caro Editor e Co-Editores:

Podia não escrever; podia anexar só a foto com um abraço; podia ficar mudo e quedo, como o fiz após a leitura do Post – 2435, de 12 de Janeiro último (Série PAIGC - Quem foi Quem), sobre Pansau Na Isna, herói da Guiné e cujo teor, em parte discordo, noutra interrogo-me e, noutra ainda, prefiro nada mais dizer.

Questionei-me só no seguinte: quantos portugueses, tão letrados como o tal guineense, sabem quem foi D. João I, II, IV ou VI, ou o Aristides Sousa Mendes, o General Sousa Dias, ou citar o posto e o nome de 6 (seis), 5 (cinco) ou 4 (quatro) Capitães de Abril… Podem começar, como geralmente começam: Senhor Coronel…

Outras Vidas de Tantas Vidas… só queria mandar a foto… Haverá heróis portugueses da dita guerra do ultramar, colonial ou de libertação!?

Há um, perdão dois Homens, que são a principal razão do escrito: um o que tem o seu rosto na moeda e na nota, e o outro o nosso Camarada Mário Dias. Dois Homens com uma História fabulosa e digna de figurar como Símbolo da Grandeza de Homens que foram Combatentes.

Foi, curiosamente, um ex-comando (6ª, 7ª Companhia de Comandos, Angola e Moçambique?) meu velho amigo, proprietário de uma lojita de antiguidades e afins que, sabendo-me coleccionador numismático, ajuntador de eteceteras e ex – combatente da Guiné me mostrou hoje, entre outras, estas duas peças. De pronto as agarrei e fiz agora a foto.

Quem for a Guileje deve, com facilidade, encontrar estes espécimes mas, encontrem ou não, envio a foto em humilde e singela Homenagem a dois Homens, Amigos/Irmãos, a servirem de exemplo a todos os ex-combatentes, num Mundo tão carenciado de certos valores…

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Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 12 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2343: PAIGC - Quem foi quem (5): Domingos Ramos (Mário Dias / Luís Graça)

(2) Vd. postes de:

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCI: Domingos Ramos, meu camarada e amigo (Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIII: Domingos Ramos e Mário Dias, a bandeira da amizade (Luís Graça / Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIV: O segredo do Mário Dias, ex-sargento comando

Guiné 63/74 - P2460: Convívios (37): BCAÇ 2885, Restaurante O Eucalipto, EN 1, 8 de Março de 2008 (Luís Nabais)


Almoço/convívio do pessoal do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71)

O nosso camarada Luís Nabais deu-nos conta do almoço/convívio dos ex-militares do BCAÇ 2885.

Dia 8 de Março de 2008

Restaurante O Eucalipto

Localizado na Estrada Nacional n.º 1, entre Pombal e Redinha

Informações mais detalhadas com o camarada Ventura

Contacto: telemóvel 967 964 368
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CV

Guiné 63/74 - P2459: O Nosso Livro de Visitas (6): Eduardo Santos, ex-1.º Cabo Cripto, CCS/BCAV 1915 (Nova Lamego e Bula, 1967/69)

1. Mensagem do nosso camarada Eduardo Santos

Caros amigos:
Nas minhas deambulações pela net encontrei o vosso blog, parece-me que em boa hora.

Sou mais um daqueles que partiu voluntário para a Guiné então dita Portuguesa.

Embarquei no Uige em Abril de 1967 e regressei em Março de 1969, tendo cumprido a minha obrigação para com a Nação.

1.º Cabo com a Especialidade de Cripto, CCS/BCAV 1915.

A permanência na Guiné durante esses cerca de 23 meses permitiram-me conhecer uma realidade diferente.

Nova Lamego e Bula foram os locais de que guardo recordações até ao fim da minha vida. De uma forma especial, Nova Lamego, talvez porque as condições eram diferentes.

Não tenho muitas histórias, mas ficaram gravadas aquelas que vivi. A seu tempo, talvez possa contar alguma.

Hoje resido em Fátima, exerço o jornalismo no sector desportivo e é com prazer que entro em contacto com o blog e simultâneamente com tantos camaradas que ainda vivem para o contar.

Estou em http://jotaedu.blogspot.com/, que é o meu blog principal onde, se o desejarem, terei o maior gosto em receber todos aqueles que me visitarem.

Espero voltar noutra ocasião, por ora deixo um abraço amigo.
Eduardo Santos

2. Comentário de CV

Caro Eduardo
A nossa Tabanca Grande está sempre ao dispôr de quem quiser participar nesta cruzada de levar a todos os nossos leitores um pouco da história da nossa geração, enquanto combatentes de uma guerra que não queríamos, pelos motivos por demais discutidos.

Se e quando quiseres podes participar, lendo e criticando ou, melhor ainda, como participante activo.

Recebe aquele abraço da equipa editora e dos tertulianos do nosso Blogue.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2458: Os sulcos... e as estrias da G3 (Mário Dias / Virgínio Briote)



Em S. Vicente, no regresso a Bissau, depois da Op Atraca, no corredor de Canja. Setembro de 1966. Ou como não se devia transportar a G3, como ensinou vezes sem conta, o nosso Furriel Mário Dias.

Foto: Virgínio Briote (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do Mário Dias sobre a G3, a propósito dos sulcos que eu, quarenta anos depois e ainda instruendo, confundi com as estrias. Assim se vai fazendo a história dos aprendizes (*). Claro que pensei duas vezes, antes de perguntar ao Mário se ele estava a falar das estrias da G3. Tal como o conheci, fiel a ele próprio, minucioso e delicado como naqueles tempos, o Mário passa por cima. Grato, meu Furriel, por mais esta lição.

Caro Briote

Obrigado pelo reparo que fizeste sobre as estrias da G3 que são realmente 4, helicoidais, e enrolam no sentido dextorsum. (Ainda me recordo deste palavrão).

Mas, no meu texto, não me refiro às estrias propriamente ditas que se situam no cano. Falo de uns sulcos em linha recta, longitudinais, existentes na câmara da arma e que se destinam a fazer com que o cartucho não fique totalmente "colado" às paredes da dita câmara.

Esses sulcos, ao receberem os gases da explosão, permitem que o invólucro do cartucho seja extraído com maior facilidade. Se esses sulcos ou ranhuras estiverem obstruidos com qualquer sujidade a extracção pode não se realizar. Deves estar recordado que era um dos pontos que nós fazíamos questão de inspeccionar introduzindo o dedo mínimo na dita câmra para ver se o retiravámos limpo ou sujo. Alguns, eu por exemplo, até brincavamos com isso dizendo que era uma operação semelhante à que se faz para ver se as galinhas estão ou não prestes a pôr um ovo. Continuo com a dúvida se esses sulcos ou ranhuras era ou não 6. Creio que eram. No entanto, peço ajuda aos camaradas da Tabanca com a memória mais fresca que esclareçam esta dúvida.

Um grande abraço para toda a Tabanca, especialmente aos editores.

Mário Dias


__________

Nota de vb:

(*) O cano da minha G3

"As reclamações do costume, uma das mulheres do Tomás Camará à porta de armas, que marido, não dava dinheiro há que tempos, tinha que pagar arroz, ele não dá dinheiro, nosso alfero!



Tomás Camará. Na estrada Ingoré-Barro em Set 1966.

E porque vens falar comigo, eu não sou teu marido, fala com o Camará! Mas, nosso alfero, ele não vai a casa, meninos não têm que comer, eu não tem que dar! Como te chamas, qual é teu nome? Binta? Nome lindo, quantos pesos bó precisa?

Um dia igual a tantos outros. Aplicação militar de manhã, banho, carreira de tiro, almoço, uma sorna a seguir. Lá para as quatro, frente a Brá, exercícios com as equipas, progressão das parelhas por lances, projécteis nos troncos das palmeiras quando mostravam o quico, eles outra vez aos ziguezagues, granadas para cima, reunir as equipas para o regresso. No caminho em direcção ao aquartelamento, alguns mais descontraídos, já relaxados, a conversa a alargar-se, uma granada ofensiva para cima, para lhes lembrar que nas guerras não há descansos. E nove deles para o hospital, dar trabalho ao pessoal de enfermagem, como se eles já não tivessem que chegasse, para retirar-lhe um a um, os pequenos estilhaços que lhes tinham calhado na brincadeira.

À noite, cross até à entrada de Bissau, pelas margens da estrada, a cantarem, eu vi a BB na avenida marginal, a andar de lambreta, mas que lasca bestial…toda nua, nua, nua, toda nua…volta à rotunda, para trás até Brá. Para o quarto de banho, para o chuveiro, para onde há-de ser? E depois, tens alguma ideia? Ideias, não me fales em ideias, Vilaça, às vezes são tantas que até atrapalham.

Um dia, curso terminado nem há uma semana, tinha tido uma que, passados meses, ainda o moía. Fora até uma carreira de tiro que tinham improvisado, dois ou três kms para lá da base aérea. Pegara na G3, um cunhete ainda fechado, jeep na esgalha, como de costume. Mirara os alvos, garrafas de cerveja, de uísque, latas e mais latas, umas pelo chão, outras penduradas nos arames, umas atrás das outras. Do cunhete sobrara a caixa de madeira, pisava cápsulas, pelo chão mais de cinco mil de certeza, as que tinha gasto mais as que por lá tinham ficado de sessões anteriores. Depois, mais calmo, com o final da tarde a aproximar-se, sentara-se no jeep, arma com o cano a deitar fumo no banco de trás, ouvidos a zunirem, de regresso a Brá, uma brisa a dar-lhes.

Arma no quarteleiro, para limpeza completa. No dia seguinte, acordara com a voz esganiçada do Sany, nosso alfero, capitão Saraiva quer falar com o senhor.

Encontrou o capitão no gabinete às voltas com um relatório. Os bons dias amigáveis que dera não tiveram resposta, se calhar não ouviu, embrulhado com a papelada, nada que fosse da especialidade do Sariava.


Cap Maurício Saraiva, idolatrado e odiado. Um mal amado em Brá.1965

Viu-o levantar-se, o olhar de poucos amigos, e o que ele tinha para lhe dizer. Uma G3 na mão, o capitão disparou, quem foi o asno que fez esta merda?

Olhei para a arma, era a minha. Um pequeno lanho na ponta do cano, sem tapa chamas. Não foi um asno, fui eu, a arma é a minha, não, não há dúvida, é mesmo a minha, admitiu depois de ter passado os dedos pela racha.

Ora bem, os olhos do cap dentro dos óculos, como é que o alferes quer resolver isto?

Vou pagar, tem que ser, olhos nos óculos. Pagar vai, isso está fora de dúvidas, agora vamos ver como quer pagar, não é? Claro que há, aqui há sempre alternativas, responde o capitão.

A expulsão ou um par de chapadas, a escolha é sua!

Chapadas, expulsão?"



Guiné > Brá > 1965 > Os 4 Grupos de Comandos, sob o comando do Cap Nuno Rubim.

A expulsão é pública, sabia-o bem, já a fizera a um cabo. Os grupos formados em sentido, o clarim, o cabo em frente a tremer todo, escolta ao lado, a nota de expulsão em voz alta, o chefe de equipa a arrancar-lhe o crachá, os distintivos, o lenço, a entrega da guia de marcha para o QG, a escolta a conduzi-lo à porta de armas, esta a fechar-se, tudo seguido.
O par de chapadas devia ser em privado, mas mesmo assim, chapadas? Na cara?

Não sabia o que fazer, as alternativas não eram fantásticas. Vou pensar, meu capitão. Boa ideia, mas aqui e agora, alferes. Ficamos aqui os dois, até se decidir.

Ao lembrar-se como tudo terminara saiu-lhe uma gargalhada. O nariz a ferver, um abraço e o convite para jantar no Grande Hotel." (...)


Texto e fotos: Tantas Vidas, Blogue de Virgínio Briote, Lisboa

Guiné 63/74 - P2457: O Nosso Livro de Visitas (5): Carlos Mendes, ex-Fur Mil Art, 24.º PELART (Guidaje e Bissau, 1970/72)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Mendes:

Amigo Luís Graça:

Escrevo ao fim de alguns meses de consultas quase diárias ao nosso blogue.

Estive na Guiné em 1970/72 como Fur Mil Art no 24.º PELART adido à CCAÇ 3 em Guidaje e posteriormente no GA7 em Bissau.

Enviarei fotos logo que possível.
Um abraço.

PS: Gostaria de enviar um abraço ao amigo e colega de profissão Luís Candeias.

Subscrevo-me:
Carlos A. M. Mendes
greyeagle316@hotmail.com

2. Comentário de CV

Caro Carlos Mendes:

Podes considerar-te desde já Tertuliano de pleno direito na nossa Tabanca Grande.

Instala-te na Caserna onde te der mais jeito. Tens de cumprir unicamente as nossas dez normas de conduta já que o RDM aqui não é lei.

Como somos todos camaradas, pisámos o chão da Guiné e deixámos para segundo plano os Postos que tivemos na tropa, tratamo-nos por tu.

Esperamos as tuas fotos e algumas estórias da tua actividade como artilheiro.

Recebe um abraço de boas vindas dos editores e dos tertulianos em geral

Guiné 63/74 - P2456: Em busca de... (17): Informações sobre a CCAÇ 1587 (Joel Pinto / Carlos Silva / Benito Neves)

Cachil> Ilha do Como> 1966> Um abrigo

Cachil> 1966> Interior do Aquartelamento

Fotos: © Benito Neves (2008). Direitos reservados.

1. Mensagem de Joel Pinto, filho do nosso camarada António Patrício Pinto

Bom dia Ex.mo. Sr. Luis Graça:

Venho por este meio tentar pedir uma ajuda sobre o que procuro. Meu nome é Joel Pinto, tenho 24 anos e sou filho de António Patrício Pinto, ex-combatente da CCAÇ 1587, Guiné 1966-1968.

Eu pretendia o seguinte, todos os anos a CCAÇ 1587 realiza o almoço de convívio, este ano de 2008 calhou ao sr. meu pai organizar o convívio que será dia 3 de Maio, em Vila Nova de Gaia. Solicitou a minha ajuda para lhe ser mais fácil, o que aceitei de imediato e com enorme prazer.

Então, vim logo pesquisar sobre a CCAÇ 1587, Guiné 1966-1968, encontrei de imediato o endereço da sua web page. Contém imensa informação e em muitos aspectos, porém, não encontrei nada sobre a Companhia onde batalhou o sr. meu pai. Supondo que o sr. Luís Graça tenha acesso as muitas dessas informações que estou a tentar procurar, peço se não for muito incómodo uma pequena ajuda para eu tentar recolher o máximo de informação sobre a Companhia, brasão, biografias, ou mesmo uma pequena história.

Mostrei fotografias que estão no site de alguns dos locais onde eles permaneceram e logo relembraram esses momentos que só eles/vocês sabem e sentem o que passaram.

A finalidade do meu pedido será conseguir algo para mostrar aos ex-combatentes no próximo convívio, fazendo relembrar-lhes alguns desses mesmos momentos, além de, possivelmente, aumentar também a sua base de dados uma vez que não se encontra nada sobre esta Companhia.

Peço desculpa pelo seu tempo e obrigado pela sua atenção.

Admirando o seu trabalho e sem mais a comunicar, com os melhores cumprimentos,
Joel Pinto


2. Mensagem com a resposta do Blogue para o Joel Pinto:

Caro Joel Pinto:

Em relação ao pedido que nos faz, pouco ou nada podemos fazer, porque entre o pessoal da nossa Tertúlia (ou Tabanca Grande, como também lhe chamamos) não há ninguém da CCAÇ 1587.

Pesquisei a página http://guerracolonial.home.sapo.pt/, do nosso camarada Jorge Santos, na expectativa de encontrar o emblema da Companhia ou algum pedido de contacto de ex-combatentes, mas não encontrei nada.

Assim, vou lançar um mail geral pela nossa Tertúlia, no sentido de encontrar alguém que conheça outro alguém pertencente à Companhia do seu pai.

Por outro lado, se já houve encontros anteriores de ex-combatentes da CCAÇ 1587, melhor que ninguém, eles próprios poderão fornecer os elementos que procura.

Se entretanto chegar até nós alguma notícia da Companhia de seu pai, pode estar certo que a faremos chegar até si.

No nosso blogue, P2360, há uma ligeira referência à CCAÇ 1587, mas nada de relevante: "A rendição no Cachil da CCAV 1484 pela CCAÇ 1587 foi feita por fases, Gr Comb a Gr Comb, iniciada em 07/07/66" (É uma informação do nosso camarada Benito Neves, de Abrantes, que foi Fur Mil da CCAV 1484).

Apresente ao nosso camarada, seu pai, António Pinto, os nossos melhores cumprimentos.

Um abraço de
Carlos Vinhal


3. Mail de Luís Graça para Joel Pinto

Caro amigo: Estamos a pedir informação aos nossos camaradas.

Diga-nos quando é o convívio, o local, os contactos, etc., que a gente divulga.
Luís Graça

4. Mail do nosso camarada Carlos Silva com elementos muito importantes da História da CCAÇ 1587, reenviada a Joel Pinto:

Carlos:

Aqui vai o meu contributo, para esse jovem Joel.

(i) A CCAÇ 1587 teve como Unidade Mobilizadora o RI 2, por sinal, também a minha Unidade Mobilizadora;

(ii) O Comandante foi o Cap Mil Inf Pedro Eurico Galvão dos Reis Borges;

(iii) Embarcou em 30 de Junho de 1966 e regressou em 9 de Maio de 1968;

(iv) Síntese da Actividade Operacional:

Em 6 de Agosto de 1966, foi colocada em Cachil, a fim de efectuar uma Instrução de Adaptação Operacional com a CCAV 1484 e seguidamente efectuar a rotação com esta subunidade.

Em 8 de Setambro de 1966, assumiu a responsabilidade do referido subsector de Cachil, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1860.

Em 20 de Novembro de 1966, por troca com a CCAÇ 1423, iniciada a 21 de Novembro de 1966, assumiu a responsabilidade do subsector de Empada, com um pelotão destacado em Ualada, no sector do mesmo Batalhão e depois do BART 1914.

A partir de 29 de Novembro de 1967, tomou parte na Operação Quebra Vento, com vista à construção do destacamento de Gubia, guarnecido por um dos seus pelotões, a partir de 24 de Dezembro de 1967.

Em 24 de Janeiro de 1968, foi rendida no subsector de Empada pela CCAÇ 1787, tendo seguido, temporariamente, para Bolama, a fim de efectuar a segurança e protecção da visita presidencial.

Em 13 de Fevereiro de 1968 foi colocada em Bissau, na dependência do BCAÇ 2384, onde substituiu a CCAÇ 2313 na segurança e protecção das instalações e das populações.

De 8 a 15 de Maio de 1968, após chegada parcelar da CCAV 1615, foi rendida sucessivamente por esses efectivos, recolhendo então a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Obs.
Tem História da Unidade [Caixa nº. 70 – 2.ª Div/4.ª Sec. do Arquivo Histórico Militar, Santa Apolónia – Lisboa]

Este resumo consta do Livro do Estado-Maior do Exército – Comissão para o Estudo das Campanhas de África 1961-1974, Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África, 7.º Volume, Tomo II Guiné, pág. 358

Para mais desenvolvimentos o Joel pode consultar a História da Unidade, no AHM e pode ir a Abrantes e pedir para tirar uma foto ao guião da Companhia.

Fotos e outras histórias só os camaradas do pai as podem contar.

Recebe um abraço
Carlos Silva

5. Mensagem do nosso camarada Benito Neves, com mais elementos históricos da CCAÇ 1587, endereçados ao nosso amigo Joel Pinto:

Os meus melhores cumprimentos ao Carlos Vinhal e uma saudação muito especial ao Joel.

Por vezes, quando ouvimos certos números, há algo que, como uma campainha, nos alerta e nos põe de sobreaviso.

Foi exactamente o que aconteceu quando li o número 1587 que, de imediato, me fez mergulhar nos meus apontamentos e é com o maior prazer que vou dar uma ajuda ao Joel.

A CCAÇ 1587, em 7 de Agosto de 1966, a nível de 1 grupo de combate, começou a render no Cachil - Ilha do Como, a CCAV 1484 que ali se encontrava transitoriamente desde meados de Julho de 1966, por ter rendido a CCAÇ 726.

Os restantes Grupos de Combate da CCAÇ 1587 permaneceram em Catió até mais tarde e participaram conjuntamente com a CCAV 1484 (que era a Companhia de Intervenção ao Sector) em diversas operações, a saber:

em 11 de Agosto de 1966, Operação "Placagem"; em 15 de Agosto de 1966, Operação "Palpite I"; Operação "Palpite II" em 27 de Agosto de 1966; Operação "Palpite III" em 04 de Setembro de 1966; Operação "Patada" em 19 de Setembro de 1966; Operação "Pileca" em 29 de Setembro de 1966; Operação "Paloma" em 13 de Outubro de 1966; na "Pórtico" em 20 de Outubro de 1966 e na operação "Pincho" em 09 de Novembro de 1966.

Nestas operações participou a Companhia de Milícias 13 que era comandada pelo então tenente João Bacar Jaló e, em algumas delas, também a CCCAÇ 763 (Mário Fitas) que se encontrava aquartelada em Cufar.

Não sei quanto tempo esta CCAÇ 1587 terá ficado no Cachil, mas aqui talvez o Victor Condeço possa dar uma ajudinha.

Tenho os relatórios oficiais das operações acima referidas. Se o Joel Pinto tiver neles algum interesse, não tenho problema em facultar-lhos. Ele que me contacte para benito.neves@pluricanal.net

Anexo 2 fotos do quartel do Cachil.

Um abraço, com amizade.
Benito Neves
ex-Fur Mil
CCAV 1484

6. Mensagem do nosso camarada Victor Condeço sobre o mesmo assunto

Meus caros camaradas:

Depois de consultar a História do BART 1913, em data alguma é referida a CCAÇ 1587.

Pelas informações do Benito Neves, ela esteve no Cachil, mas quando da sua rendição deve ter saído do sector S3 (Catió).

Presumo que terá sido rendida pela CCAÇ 1423/BCAÇ 1858 no Cachil, mas para onde foi não sei.

Sei que a CCAÇ 1423 foi rendida pela CART 1687/BART 1913 em 02 de Maio de 1967.

Com os melhores cumprimentos
Victor Condeço
Ex-FurMil
CCS/BART 1913
1967/69