quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3491: O meu enquadramento sócio-político-financeiro, religioso e académico na Guerra do Ultramar (III). António Matos.



Nem em férias se deixava de pensar na Guerra

Ao tentar fazer uma retrospectiva que me permita classificar o período mais complicado daqueles dois anos passados na Guiné, julgo que não errarei se disser que foi aquele que sobreveio ao 2º período de férias que vim passar à Metrópole.

Foi, de facto, pungente, uma vez que o menino que tinha ido para a guerra se fizera rapidamente homem à custa de doses maciças de experiências traumatizantes e nunca antes imaginadas como fazendo parte do seu espólio de vida.

Assistir à morte a tiro de um camarada ou ao esquartejar dum corpo por via de um engenho bélico, provoca alterações comportamentais que não consigo descrever tal a sua bestialidade.
Endurece-nos a alma e o coração, e questiona-nos sobre o porquê da selvática obsessão que o homem tem em ferir e matar o semelhante por um prazer sórdido, não se confinando a meras questões de sobrevivência.
No reino animal não há outro que o faça, e isso é alarmante.
A guerra inicia o processo; a vida moderna dá-lhe continuidade !
Este é, definitivamente, assunto para ser dissecado por António Damásio nos seus estudos sobre o cérebro e as emoções humanas, deixando para nós a observação silenciosa das consequências incompreendidas.
E essas variam de acordo com a estrutura de cada um ; há os que conseguem regenerar os bons neurónios e há aqueles a quem a substituição dos fusíveis sensoriais não se tornou possível deixando-se cair na lascívia da loucura.

Vivia-se o período entre Abril 1972 e Setembro 1972.


Durante o período de férias, soltaram-se-me os meus monstros na perspectiva dum regresso para uma realidade já sobejamente conhecida e não desejada.
Os dias passados essencialmente em família já eram vividos em regime de countdown o que provocava uma tensão crescente mas que, curiosamente, fazia despertar o sentimento de solidariedade para com os camaradas que se mantinham no teatro das operações e isso fazia aumentar a adrenalina que nos impulsionava para a luta pela vida.

A despedida e o regresso à Guiné foram dificílimos, ainda que animado por se estar na recta final da comissão. Talvez por isso mesmo...

Foi um final para nervos de aço pelo cariz extremamente psicológico a que fomos submetidos.
Nos últimos dias, uma verdadeira acção de terrorismo desencadeada pelo IN, em Bula, destruiu o resto da moral que nos restava ao vermos as consequências da deflagração de uma armadilha na mesa dum café existente na terra, repleto de soldados que se desdobravam em despedidas de amigos feitos, e das namoradas dos últimos 2 anos, algumas das quais com filhos cuja assumpção de paternidade assustava alguns hipotéticos pais...

Foi com este espírito perturbado mas a gozar os primeiros laivos de liberdade que embarcámos no Boeing da Força Aérea para a derradeira experiência para muitos soldados que foi o baptismo de voo.
Quatro horas depois, com a Ponte 25 de Abril em cenário majestoso, não se conseguiram evitar lágrimas de uma alegria imensa, com um sentimento de missão cumprida e o desejo dum abraço amado que tardava, malgré tout.

Seguiram-se 36 anos de outras guerras mas onde os ensinamentos daquela dão azo a uma douta sabedoria que urge preservar.
Este meu texto pretende ser o fechar do ciclo do meu enquadramento pessoal naquele conflito.
Tentei transmitir, sem pretenciosismos, a maneira como o vivi e como dele me aproveitei como trampolim para uma vida que pretendi coerente, realista e feliz.
Se os vindouros quiserem e puderem lucrar alguma coisa com estas descrições, fico satisfeito.


António Matos

ex-Alf Mil da CCaç 2790

Bula 1970/72

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Notas: Artigo relacionado em

Guiné 63/74 - P3490: Em 10 Setembro de 1974 nas bancas de Bissau, "A Voz da Guiné", o 1º jornal da nova República. (Eduardo Magalhães Ribeiro)


"A Voz da Guiné", o primeiro jornal da nova República da Guiné-Bissau




Amigos Vinhal, Luís e Briote

Envio aqui anexo mais algum material que poderá ficar bem no blogue.
O primeiro jornal da Guiné livre "A VOZ DA GUINÉ", com a data de 10 de Setembro de 1974, relembro que temos no blogue, em posts anteriores, a descrição e fotos da cerimónia da cerimónia de entrega oficial do poder político ao P.A.I.G.C., que ocorreu no quartel em Mansoa, em 9 de Setembro desse mesmo ano.


cópia da 1ª página do 1º nº da "Voz da Guiné". Ficamos a aguardar as outras 3 e tentaremos reproduzi-las na íntegra. Gratos ao Eduardo M. Ribeiro pelo envio de mais um documento de indiscutível interesse.

O jornal é constituído por 4 páginas, todas idênticas à primeira, em que a nova bandeira da Guiné-Bissau ocupa meias páginas. Se acharem interessante enviarei as outras 3 páginas para publicação.

Anexo também algumas palavras de indignação, que escrevi sobre o comportamento político em relação aos ex-Combatentes da Guerra da Ultramar; "Sombras desta pseudo-democracia", pois a falta de aplicação prática da lei 9 /2002, e o ostracismo a que somos votados provoca o espanto e a indignação, até de alguns dos nossos "putos" que, apercebendo-se de tamanha injustiça, acham inacreditável e inaceitável tal atitude.


Sombras desta pseudo-democracia!

Éramos uns “putos”... feitos Homens!
Arrancados aos bancos dos liceus
Largando mães, namoradas, esposas...
Enfiados em quartéis... longe dos seus

Éramos uns “putos”... mas tesos!
Sabíamos que o destino era a guerra
Lá... muito longe... em meio hostil...
Pleno de mata, trilho, rio e serra

Éramos uns “putos”... com vinte anos!
Que crescemos mais rapidamente
Cientes que a "coisa" era… séria
Cheia de riscos... perigosamente!

Éramos uns “putos”... mas solidários!
Soubemos ultrapassar as dificuldades
À custa de vasto suor e muito sangue...
Algumas cicatrizes e enfermidades

Éramos uns “putos”... quase imberbes!
Instruídos p'ra matar... custa a crer!
Imbuídos duma obsessão suprema;
Acima de tudo... sobreviver!

Éramos uns “putos”... uma geração!
Lidamos com as privações e a morte
Cada um teve a sua missão
Com maior ou menor dose de sorte

Éramos uns “putos”... temperados!
Quantas vezes superamos as fraquezas
Para dar uma ilusão de sermos fortes
De modo a derrotar dores e tristezas!

Éramos uns “putos”... Grandes… enfim!
Fomos lá... cumprir... melhor ou pior!
Cada um com seus receios... medos!
Em nome dum Império duro e opressor

Hoje estes “putos”... já são avós!
E uma coisa estranham... revoltados!
O repugnante ostracismo político
A que, como ex-combatentes, são votados!

Quando pensaram: “Cumpri com a PÁTRIA!”
Descobriram, digamos que... espantados!
"Somos sombras desta pseudo-democracia!”
Pura e simplesmente... ignorados!"

Cientes que os voluntários foram poucos
E os que não fugiram foram bastantes
A indignação é tanto mais e revoltante…
Quanto os sentimentos são frustrantes

Rezando pelos que entretanto vão “partindo”
Vão dando continuidade à vida… desgostosos
Desta imensa e repulsiva ingratidão
Por parte de políticos velhacos e rancorosos

Mantendo porém… firmes a sua esperança
Que neste país após a “abrilada”
Políticos com sentido e Amor Pátrio
Lhes prestem justiça e… mais nada

Porque tudo deram… do seu melhor!
Por vezes… sabe Deus com que sacrifícios
Dez mil morreram na flor da idade, e…
Milhares ainda sofrem mil malefícios!

Trocando experiências e memórias
Estes homens convivem entre si… alegremente
Tornam-se amigos, camaradas... irmãos…
Entre palavras, risos e choros... intestinamente!

Ainda agora acabei de ouvir na TV que nos E.U.A. (país de grandes contradições e maldizeres), o patriotismo e a estima pelos seus veteranos de guerra, são valores que o povo cultiva e respeita com o maior rigor e carinho, ainda que o mesmo povo pene, nos dias de hoje, sobre algumas das mais negras vicissitudes do seu passado histórico.
(...)

Um abraço amigo do Pira de Mansoa

M.R.

Eduardo Magalhães Ribeiro
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Notas:


1. Eduardo Magalhães Ribeiro (ex-furriel miliciano O. E. da CCS do BCAÇ 4612), em 9 de Setembro de 1974 arreou a última bandeira portuguesa, no quartel de Mansoa, na presença de representantes do PAIGC que, por sua vez, hastearam a bandeira da nova República da Guiné-Bissau.

2. Artigos do Autor em

Guiné 63/74 - P3489: Blogues da nossa blogosfera (4): Nasceu o bloguinho, o blogue da Tabanca de Matosinhos (Álvaro Basto)



Blogue Tabanca de Matosinhos & Camaradas da Guiné: Nasceu ontem, na blogosfera... E o primeiro poste tem por título "Há festa rija quando o Zé faz anos"... O Zé não é o de Matosinhos, o Esquilo Sorridente, o mas o Zé da Régua, o José Manuel Lopes, o Josema, o poeta de Mampatá, o vitivinicultor da Quinta da Graça, em São João de Lobrigos, no Alto Douro...

Dizem os progenitores, que o bloguinho nasceu à imagem e semelhança do blogue da Tabanca Grande, o nosso blogue, o blogue de todos nós... Reparem no endereço: http://tabancapequenadematosinhos.blogspot.com/

Apresenta-se como um "espaço feito para e por ex-combatentes da Guerra do Ultramar na Guiné e que se juntam semanalmente em Matosinhos para perpetuarem uma amizade iniciada na sua juventude em África em tempos de Guerra"...

Fotos: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008)


1. Mensagem do Álvaro Basto (*), enviada às 23h50 do dia de ontem...

Caros amigos editores do Bloguesforanada... (**)

Parabéns... Acabam de dar à luz o primeiro filho do vosso extraordinário blogue...

Nasceu o Bloguinho... Tabanca de Matosinhos

Espaço necessariamente pequeno e despretencioso que não pertende outra coisa do que ir relatando esta sã convivência que semanalmente se vive em Matosinhos.

São todos Amigos e Camaradas da Guiné do Blogue do Luís Graça e por isso se escolheu um tema e um formato em tudo idêntico ao do Blogue pai.

Pedimos pois humildemente a vossa paternal benção.

Um grande abraço

Tertúlia de Matosinhos
(Alvaro Basto & Companhia....)


2. Comentário de L.G.:

Álvaro e demais amigos e camaradas da Tabanca de Matosinhos:

Assumimos com grande alegria a paternidade da criança, mas as mães são...vocês, seus grandes malandros!... Nem sequer houve barrigas de aluguer nem foi precisa a inseminação artificial!... Tudo muito natural, à moda em antiga, sem parteira, só com aparadeira... O parto correu bem e a criancinha é perfeitinha, era isso mesmo que se desejava. Só espero que seja muito melhor do que o pai... e as mães...

Tenho que reconhecer que vocês são mesmo um caso sério, um verdadeiro case study (estudo de caso), como dizem os nossos gestores. Os campeões da convivialidade e da camaradagem! E mais: uma tabanca a valer,onde há portistas, leixonenses, boavisteiros, benfiquistas, sportinguistas, e até belenenses, ao que sei!

Que o vosso belo exemplo se multiplique por mil... e que a vida seja generosa para todos vós, camaradas da Tabanca de Matosinhos, de modo a poderem ver a criancinha andar, falar, escrever, crescer, e por aí fora... Aguentem-na (e aguentem-se...) pelo menos até à idade de ela... ir às sortes. E que tenha mais sorte que a vossa, a nossa, nessa idade...

Prometo no Natal celebrar o acontecimento, aí no novo reordenamento do Milho Rei (***)... Não sei se conseguirei estar aí no dia 19, mas que vai ser de arromba, vai... Vou passar a Consoada na Madalena e depois sigo, a 26, para a Maderia...

Vejam só o anúncio da festa de Natal dos atabancados de Matosinhos, amigos e camaradas da Guiné, digam-lá se não ficam mesmo com uma pontinha de ciúme por toda esta manifestação de alegria, juventude e camaradagem:

JANTAR DE NATAL

Dia 19 de Dezembro (sexta-feira) há jantar melhorado com bacalhau à Braga e cachaço de porco assado no forno no MILHO REI....O Jorge Felix, o Álvaro Basto e o David Guimarães prometeram dar-nos música instrumental... levem tampões para os ouvidos....

Fundamental...Vamos levar as nossas mulheres para trazerem os carros para casa....NÃO SE ESQUEÇAM, NÃO FALTEM ... Ah, e já agora.... tragam uma lembrança (até 5 €) por pessoa, para sortearmos no fim. Preço médio p/ pessoa: 25€.

Aproveito para mandar um abraço de parabéns ao José Manuel Lopes que celebrou convosco os anos dele... Falámos ao telefone, na 3ª feira, creio eu. O malandro não me disse nada... Vou estar com ele no Porto e Douro WineShow, no Convento do Beato, em Lisboa, no próximo domingo, dia 22, à tarde... Prometo beber um copo com ele. Vou levar o Humberto e o Virgínio, pelo menos.
________

Notas de L.G.:

(*) Álvaro Basto: Pastilhas (Furriel Miliciano Enfermeiro, CART 3492, 1972/74 )... Edita, juntamente com o David Guimarães, o Joaquim Mexia Alves e o Artur Manuel Soares, desde Outubro de 2007, o blogue Xitole, subsector do sector de Bambadinca (Sector L1) por onde passaram, além da CART 3492, a CART 2413 (1968/70), a CART 2716 (1970/72) e ainda a CCAÇ do BCAÇ 4616 (1974).

O blogue XITOLE apresenta-se nestes termos:

Ponto de encontro para partilhar histórias, experiências, vivências e "documentos", (sejam eles quais forem), de todos aqueles e aquelas que passaram pelo Xitole, seja em que altura e por quanto tempo tenha sido. Espaço de viver a camaradagem que nos uniu e ainda une.

O Álvaro é um dos fundadores e animadores da tertúlia de Matosinhos, promovida agora a Tabanca Pequena... É também um fã do todo-o-terreno. Prepara-se para voltar à Guiné no próximo mês de Fevereiro de 2009, um ano depois de lá ter ido, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008). Nessa ocasião revisitou, com emoção, o seu antigo aquartelamento, o Xitole, e o Rio Corubal, em Cusselinta.

(**) Vd. postes anteriores desta série:

1 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3260: Blogues da Nossa Blogosfera (3): CAÇADORES 3441 (Angola, 1971/74)

24 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3233: Blogues da nossa blogosfera (2): Rumo a Fulacunda , de Henrique Cabral (CCAÇ 1420, 1965/67)

8 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3034: Blogues da nossa blogosfera (1): Bissau Calling (Joaquim Mexia Alves)

(***) Vd. poste de 24 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3353: Tabanca de Matosinhos (4): O novo abrigo, o Restaurante Milho Rei, Rua Heróis de França, 721, Matosinhos (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P3488: O PIFAS - Programa de Informação das Forças Armadas (António Matos)


O PIFAs (Programa de Informação das Forças Armadas) teve, em 1971, este boneco em sua homenagem. Representava um repórter em traje militar de campanha, e aqui o deixo como peça do meu espólio.

Foi durante a minha comissão (1970/72) que foi inaugurado o emissor FM de Nhacra, o que transformou diametralmente o teatro de operações na Guiné. Até essa altura não havia qualquer tipo de guerra nessa zona e, em 1972, tornou-se de facto alvo do apetite do IN para eventual tomada e domínio das comunicações.

Recordo inclusivamente que, nos últimos dias de permanência na Guiné, fui fazer a protecção a um rally que passava pela estrada Bissau-Nhacra-Mansoa (?) (o chamado rally do defeso), cujas informações eram transmitidas pelo jornalista José Mensurado onde fazia transparecer para Lisboa a pacificação daquela província ultramarina embora se tivesse "esquecido" de mencionar que por cima de nós sobrevoaram constantemente os helicanhões enquanto as Panhards calcorreavam o itinerário.... just in case.

Essa reportagem vim vê-la uns dias mais tarde na televisão já em Lisboa.

António Matos

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Notas de vb:

1. António Matos foi Alf Mil da CCaç 2790, Bula, de 1970/72.

2. Do Autor em

3. Referências ao PIFAS em

Guiné 63/74 - P3487: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (10): Palavras de agradecimento do autor (II)

Lisboa, Museu da Farmácia, 11 de Novembro de 2008. Cerimónia de lançamento do livro Diário da Guiné: 1969-1970: O Tigre Vadio, da autoria do nosso camarada Mário Beja Santos (Lisboa: Círculo de Leitores, e Temas & Debates, 2008, 440 pp.). Sessão de autógrafos.

Adivinhem quem é quem ? Nada menos do que o antigo major Cunha Ribeiro, rijo nos seus 84 anos... Ei-lo aqui, o nosso querido Major Eléctrico, em animada conversa com o Beja Santos. Recorde-se que foi ele o pai da alcunha ou nome de guerra, por que era conhecido o Mário, no nosso tempo: O Tigre de Missirá...

O actual Coronel na reforma Ângelo Augusto da Cunha Ribeiro, que foi segundo comandante do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), a partir de Setembro de 1969, altura em que substituiu o major Viriato Amílcar Pires da Silva, transferido por motivos disciplinares, era um homem muito energético, hiperactivo, falador, daí possivelmente o seu nome de guerra, Major Eléctrico... Vim mais tarde a saber que era o pai do antigo bastonário da Ordem dos Médicos, Dr. Cunha Ribeiro.

Outros camaradas e amigos passaram pelo Museu da Farmácia: não dei conta de todos, mas ainda abracei alguns, o Belarmino Sardinha, o Manuel Traquina (que veio de propósito de Abrantes), o Teco (da CCAÇ 726, Guileje, 1964/66, uma das companhias comandadas pelo Nuno Rubim)...

Como já foi referido anteriormente, estavam lá também o Henrique Matos, o Queta Baldé, o João Reis e o Cherno Suane, todos do Pel Caç Nat 52... Ah!, sem esquecer o ex-Fur Mil Pires, que andava à procura de um tal Henriques, da CCAÇ 12 (C'était moi...). O Pires não conhece o nosso blogue nem se interessa por estas modernices da Internet... Veio à festa do Beja Santos, por consideração com o seu antigo comandante... Não tem nem quer ter mail. Gostei de o ver, mesmo a correr.

Estive também com outros camaradas, já referidos em postes anteriores: o Humberto Reis (CCAÇ 12), o Carlos Silva (BCAÇ 2879), o Jorge Cabral (Pel Caç Nat 63), o José António Viegas (Pel Caç Nat 54).

Por lapso referi que o João Reis era algarvio... O Henrique Matos apressou-se a emendar... O João será beirão e vive em Lisboa ou por aqui perto. Estive também com o Carlos Marques dos Santos , o J. L. Vacas de Carvalho, o António Santos, o Coutinho e Lima... Peço desculpa se deixei alguém para trás... Também não consegui fazer cobertura fotojornalística completa deste acontecimento social, mas também não era essa a minha intenção... Já cheguei tarde um pouco tarde, assisti à parte final da cerimónia de entrega de espólio museológico por parte das antigas enfermeiras pára-quedistas, proveitei para visitar o museu (que é simplesmente fabuloso!) e ainda para dar dois dedos de conversa com a malta que ia encontrando...

Foto e legendas: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.



Lisboa, Museu da Farmácia, 11 de Novembro de 2008. Cerimónia de lançamento do livro Diário da Guiné: 1969-1970: O Tigre Vadio, da autoria do nosso camarada Mário Beja Santos (Lisboa: Círculo de Leitores, e Temas & Debates, 2008, 440 pp.).

No final da cerimónia, o autor agradeceu a todos os seus amigos presentes (e camaradas de muitas guerras, da Guiné à defesa do consumidor, e de outars causas), bem a todos aqueles e aquelas que, directa ou indirectamente, contribuiram para a feitura do livro: a Critina Allen, o Queta Baldé, o Cherno Suane, o Pires, a restante malta do Pel Caç Nat 52, gente de Bambadinca como a Professora Violete e o Tenente Pinheiro (ainda vivo, com 84 anos...) mas também nós, os do blogue, eu, o Humberto...

Recordou alguns amigos muito queridos que a morte impediu de estarem ali, como o Ruy Cinatti, o seu dear father, ou o Carlos Sampaio, o seu melhor amigo, morto em Moçambique, irmão da Dra. Teresa Costa Macedo (que estava presente na sala e é amiga do autor) ou ainda o comandante Teixeira da Mota... Lembrou ainda familiares como a irmã.

Enfim, são elementos com alguma importância para a compreensão da génese do livro, bem como do projecto e da personalidade do autor . Desejamos-lhe boa sorte, ao autor e à editora, agora que o livro entrou no mercado livreiro. Com ele vai também um bom bocado de todos nós, e em especial daqueles que andaram (ou passaram) pela zona leste, Sector L1, Bambadinca, entre 1968 e 1970...


Vídeo: © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo (5' 28'') alojado em: You Tube >Nhabijoes.

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Sector de Bambadinca > Bambadinca > 1997 > Capela de Bambadinca e, à direita, as antigas instalações da secretaria da CCAÇ 12 (1969/71). No nosso tempo estava aberta ao culto mas servia também de capela mortuária... Foi esta imagem - disse publicamente o Beja Santos no dia 11 de Novembro de 2008 - que ele viu pela primeira vez, no nosso blogue, em meados de 2006 e que teve nele um efeito fulminante, desencadeando um macaréu de emoções...

Foto: © Humberto Reis (2005) (com a colaboração do Braima Samá, professor primário local, que foi o fotógrafo). Direitos reservados.

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Nota de L.G.

16 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3462: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (9): Palavras de agradecimento do autor (I)

13 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3449: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (8): Apresentação do Maj Gen Lemos Pires (I)

12 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3442: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (7): A leitura de António Valdemar

12 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3441: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (6): Notícia do lançamento (Lusa) + Fotos (Luís Graça)

11 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3440: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (5): As primeiras imagens do lançamento (V. Briote)

Guiné 63/74 - P3486: Tabanca Grande (98): António Paiva, ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70

Antonio  [Duarte de] Paiva, ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70 

  1. Mensagem do nosso novo camarada António Paiva, com data de 17 de Novembro de 2008: 

 Caro Luis Graça, 

 Há pouco tempo descobri na Internete o blog dos Camaradas da Guiné, se me permite, com intenção de fazer parte do mesmo, me vou apresentar. António Duarte de Paiva, ex-Sold Cond no Hospital Militar 241 em Bissau, de Junho de 1968 a Junho de 1970. 

 Fiquei surpreendido ao ver que, 40 anos passados, os jovens daquele tempo, alguns, se voltaram a reencontrar e entre eles poderem trocar impressões, histórias e ideias, dos tempos longínquos que nos vieram dar a volta à juventude, com a incerteza no amanhã.

 Senti alegria e satisfação ao ver no blog os Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras, e nele estar o ex-Alf Mil Piloto Aviador Jorge Félix (*). Não nos conhecemos, mas de certeza que muitas vezes nos encontrámos, mais que não fosse, naquela triste missão de… toma lá, dá cá. Mandei-lhe um e-mail, dois dias atrás, talvez ele me possa ajudar a compor melhor os tempos reais do passado. Prometo Voltar 

 Um abraço António Paiva

Hospital Militar 241 de Bissau.

2. Mensagem enviada ao António [Duarte de] Paiva, hoje mesmo, dia 19 de Novembro de 2008: 

 Caro António Paiva:

Em nome dos editores e restantes tertulianos do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, estou a receber-te na nossa Tabanca Grande (**), como é conhecido entre nós o nosso Blogue. Nós já nos conhecemos, por troca de mensagens anteriores à tua entrada na Tabanca, pelo que estou mais à vontade contigo. 

Já percebeste que gosto de brincar, jamais com intenção de ofender. Tive já oportunidade de te dizer que tinhas uma missão em Bissau muito meritória. Concerteza que contribuiste para a manutenção da vida de muitos feridos que chegavam do mato, na maioria das vezes em estado lastimoso. Provavelmente as tuas palavras foram, vezes sem conta, o conforto daqueles que viam o espectro da morte perto de si e que mais do nunca precisavam de uma palavra e de uma mão amigas. Deves ter assistido a momentos muito trágicos, e a momentos de muita alegria quando acompanhavas a recuperação de algum camarada mais de perto. 

 Hás de contar-nos algumas dessas histórias, porque também elas fazem parte da realidade que vivemos. No teu caso não te peço fotos, porque pessoalmente sou avesso à exibição gratuita de imagens chocantes, evitáveis e até desnecessárias. Ressalvo que falo por mim. Há quem goste. Na certeza de que esta tua apresentação é o início de uma colaboração profíqua no nosso Bogue, deixo-te um abraço de boas-vindas. 

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 Nota de CV: 


Guiné 63/74 - P3485: Gloriosos malucos das máquinas voadoras (13): Os MAN - Mecânicos de Material Aéreo e o outro lado da guerra (João Coelho)

Foto do João Coelho (ou Manuel João Coelho), membro da nossa Tabanca Grande, Especialista MMA, 3ª/63, AB1, Terceira - Açores:

Fonte: Blogue dos Especialistas da BA12, Guiné 1965/74 (Com a devida vénia ...)

1. Mensagem, com data de 7 de Janeiro de 2008 (*):

Felicitações pelo excelente blogue!

Voluntário na Força Aérea, de 1963 a 1966, fui colocado no então AB 1- Aeródromo Base n.º 1 no Aeroporto da Portela, em Lisboa, de 1964 até final do tempo de tropa.

Escapei à mobilização para África, mas tornei-me, com outros camaradas, testemunha de episódios que poucos conheceram. Refiro-me à chegada dos aviões de evacuação, DC-4, Skymaster e DC-6, dos Transportes Aéreos Militares, que traziam para Lisboa, os feridos e acidentados da guerra.

Os vôos normais desembarcavam os passageiros a par dos aviões civis, no estacionamento frente ao Terminal... os de evacuação chegavam à noite, por vezes de madrugada, e eram deslocados para a placa no interior do AB1, longe dos olhos da população.

Como Cabo Especialista MMA (Mecânico de Material Aéreo) fazia parte da equipa que recebia o avião: reboque com tractor, ajuda na abertura da porta e colocação da escada de saída, para além de outras tarefas.

Este momento de abertura era sempre de tensão, a porta abria-se e saía um bafo terrível, mistura de suor, éter, sangue, restos de comida, as macas sobrepostas, os feridos de todos os tipos... rebentamento de minas, amputados, cegos, queimados, cacimbados, feridos à bala, com estilhaços.

E depois a confusão da saída das macas, levanta à frente, baixa, baixa atrás, aguenta, segura!...o despacho e presteza das enfermeiras-páras que, por vezes, acompanhavam o pessoal, o ar pálido/horrorizado das madames da Cruz Vermelha, com as suas capas cinzentas, e que com os seus belos penteados eram um anacronismo ali, pese a sua boa vontade.

Nestes vôos eram particularmente difíceis os que vinham da Guiné. A viagem era mais curta, tínhamos a sensação de que alguns daqueles desgraçados tinham ferimentos ainda frescos: camuflados rasgados, ligaduras empapadas em sangue, um ar esgazeado mostrando a surpresa, a incredulidade face ao sucedido.

Recordo-me, como se hoje fora, de uma noite em que chegaram dois aviões quase em simultâneo. Não havia capacidade de transporte para o Hospital da Estrela e anexos, de tanta gente, as ambulâncias não chegavam e lá vieram os autocarros da Academia Militar para transportar os feridos que pudessem viajar sentados.

Tenho dois amigos, açorianos como eu - Ponta Delgada, S. Miguel - ambos furriéis milicianos, que estiveram na Guiné, julgo que a partirde 66 até 68 ou 69. Um, o Tibério Branco, andou por Catió e Buba, tanto quanto recordo, o outro, Álvaro Lemos, em Aldeia Formosa.

Os dois contavam, no regresso, como tinha sido a vida deles naquele território e, anos depois, já com o país independente, visitei a Guiné: Bissau, Nhacra, Bafatá, Cacheu e, na carrinha que percorria a estrada, olhando em redor, para aquela vegetação, as bolanhas, os rios e as jangadas, as tabancas - numa delas a inscrição numa parede "Viva o Benfica" - pensei neles, nos meus amigos de adolescência, no seu sacrifício. E nalguns colegas que morreram na guerra em África: o Martins, o Norberto, o Amaral, o João Manuel Cordeiro e outros cujo nome esqueci.

Ao mesmo tempo interrogava-me: se eu tivesse vindo aqui parar, teria conseguido, será que aguentava isto?

Um abraço e continuação do bom trabalho

Manuel João B. Ferreira Coelho

2. Comentário de L.G.:

Fiz questão de voltar a publicar esta mensagem do nosso amigo e camarada João Coelho que foi poupado à guerra do Utramar mas não aos seus horrores, ao espectáculo deprimente dos feridos graves que chegavam, nos aviões dos TAM, quase às escondidas, a caminho do Hospital Militar Principal, na Estrela.

Decidi, por outro lado, recuperar essa mensagem, inserindo-a nesta série Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras. Pilotos, Especialistas Melec, Especialistas MMA e e tantas outras categorias de especialistas da Força Aérea que eu nem sei descodificar (Marme, Opc, etc.), todos eles cabem nesta expressão, que eu quero que seja bem-hmorada mas também solidária, honrosa e generosa, de Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras...

Não faço distinção entre camaradas do ar, terra e mar... Estive fisica e emocionalmente mais próximo de uns do que de outros, mas também usei a LDG e também agradeci aos deuses o bendito heli que veio, várias vezes, com as enfermeiras pára-quedistas, fazer evacuações Ypsilon, nas matas do Xime ou do Corubal, em operações em que participei...

O saudoso capitão Zé Neto, o nosso primeiro bloguista ou tertuliano a deixar-nos, por traição do seu coração que deixou de bater, costumava contar-me com graça, que havia, na Guiné, três ramos das Forças Armadas (**), começados por Ch: (i) a tropa de choque (o Exército); (ii) a tropa de chique (a Marinha); (iii) e a tropa de cheque (a Força Aérea)... São/eram velhos estereótipos que hoje apenas nos fazem sorrir, e que não retiram nada à nobre condição dos homens (e de algumas mulheres) que fizeram a guerra da Guiné, nos rios e braços de mar, no ar e na terra, com a G-3, com a caneta, com a pica, com o estojo de primeiros-socorros, com o heli, com a LDG...

O João Coelho, que é um leitor atento e apaixonado do nosso blogue, e membro da nossa Tabanca Grande, é daqueles camaradas das Força Aérea que, nunca tendo estando em serviço na BA 12, Bissalanca, Guiné, esteve perto de nós, dos nossos feridos graves, recambiados para Lisboa, para esse outro inferno que era (imagino!) o Hospital Militar Principal, à Estrela, mais os seus anexos...

É estranho que ao fim de 3 anos e meio de blogue ainda não tenhamos aqui o testemunho, na primeira pessoa do singular, de um camarada que tenha passado pela Estrela...

Onde estás, camarada Marques, grande herói, que foste projectado comigo por uma brutal mina anticarro, na nossa velhinha GMC, em Nahbijões, em 13 de Janeiro de 1971, e que depois conheceste o pesadelo dos hospitais militares, o de Bissau e o de Lisboa, e onde também fizeste amizade com o meu amigo Patuleia e teu vizinho de cama, futuro dirigente da ADFA, e que continua a ser hoje, para mim, um dos exemplos mais tenazes e surpreendentes da capacidade humana de lutar contra o infortúnio e contra as marcas horrorosas da guerra...

_______

Notas de L.G.:

(*) Originalmente publicado em 10 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2425: O Nosso Livro de Visitas (1): Manuel João Coelho, Cabo Especialista da FAP (Aeroporto da Portela)

(**) Vd. poste de 4 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P933: Pensamento do dia (2): as três tropas (Zé Neto)

(...) O Zé Neto escreveu-me há dias a protestar, e com razão, por lhe mandar a correspondência para o SPM errado... Aproveitou para se queixar das mazelas do corpo e da alma. Ele tem sido um herói, resistindo estoicamnente à tentação do cigarro... Mas agora vem a factura: o organismo a libertar-se da nicotina, os sintomas da síndroma da abstinência, etc.

(...) "Continuas a usar o meu endereço inicial da Clix, o tal dos poucos megas, embora em tempo oportuno eu te tivesse pedido para mudar para este, ou seja, para js.neto@clix.pt".

Mas o bom humor vem felizmente ao de cima neste homem - o nosso veterano - com quem tive o privilégio, há dias, de falar, pelo telefone, permitindo-me conhecê-lo um pouco melhor.

Diz o Zé:

"Agora que a poeira já assentou quero apenas dizer-te que fiz três comissões em África e sempre convivi com a dura realidade das três tropas, a saber: Tropa de Cheque (a FA e seus subsídios), Tropa de Chique (a Marinha e as suas vaidades) e a Tropa de Choque (os Zés da macaca). Tenho, nas minhas memórias, passagens de rir e chorar que vivi com essa gente. Pela minha parte não valem as cinco ou seis batidas no teclado que estou a gastar com eles.

"Já vai longa a birra.

"Um abração do
Zé Neto"

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3484: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (6): Relatório de treino operacional

1. Mensagem do nosso camarada Ferreira Neto, ex-Cap Mil da CART 2340, (Canjambari, Jumbembem e Nhacra, 1968/69), com data de 15 de Novembro de 2008:

Caro Vinhal:
Continuando a rebuscar as minhas coisas, eis que topo o meu relatório de 17 de Dezembro de 1967, referente ao treino operacional antes da partida para a Guiné.
Cumprimentos generalizados
F. Neto


RELATÓRIO

1. Especialidade da Escola de Recrutas

1 - Deficiências notadas

1.1 - Má preparação dos recrutas apresentados para frequentar a parte da especialidade. Esta má preparação da parte geral notou-se até na simples marcha e ordem unida, factores estes que indicam a falta de disciplina.

1.2 - A instrução da especialidade não pode ser dada em boas condições, pelo facto de não haver instalações adequadas no quartel, mormente nas primeiras semanas em que houve sobreposição com o batalhão da escola anterior. Por este motivo o pessoal só pode dispor de armamento e das instalações, depois da partida do pessoal do batalhão.

1.3 - Houve prejuízo na instrução motivada pela festa de despedida do pessoal do batalhão.

1.4 - A falta de locais apropriados para a instrução, principalmente no que se refere a parte da táctica, foi compensada embora tardiamente nas duas últimas semanas, pelo facto de passar a ser ministrada no campo, fora do quartel.

1.5 - A falta do armamento (metralhadoras, lança-granadas, morteiros), motivou perturbações na instrução, que se resolveu, alterando os horários de instrução das companhias, de forma a todas se poderem servir do armamento disponível.

2 - Instrução de aperfeiçoamento operacional – IAO

Após a semana de preparação com vista à deslocação para o campo onde se fariam os exercícios, e em que se fez o tiro na pista de combate, deslocou-se a companhia para a zona de estacionamento a cerca de 10km do quartel. Foram postos à disposição da companhia os seguintes materiais: Material de acampamento que foi suficiente, cozinha rodada, rádios, munições, viaturas e explosivos. As deficiências foram notórias, mormente no que respeita:

2.1 - Viaturas
3 GMC sem cobertura, uma das quais funcionando em más condições. A viatura para reconhecimento não esteve totalmente à disposição da companhia o que motivou que não se pudessem fazer a maior parte dos reconhecimentos para os exercícios. Não foi fornecido um autotanque para a companhia, sendo o abastecimento de água durante a maior parte do tempo feito por uma só viatura para as três companhias. No entanto o abastecimento foi bem planeado ao ponto de não se fazer sentir a falta de água.

2.2 – Armamento
A parte de armamento pesado (lança granadas, morteiros, metralhadoras, etc.) não foi fornecida, sendo as razões alegadas a sua possível deterioração durante os exercícios. Todos os soldados foram armados de espingarda Mauser, tendo os graduados espingarda automática G3.

2.3 – Munições
Foram recebidas instruções para evitar ao máximo o seu consumo.

2.2 – Explosivos
Foram fornecidos em quantidade razoável.

2.3 – Rádios
Foram fornecidos três rádios, um THC, um NA/PRC e um outro de tipo desconhecido para os operadores.
É certo que todos eles podiam fazer a ligação entre si, mas até uma distância não superior a 2km.
Por este motivo não foi possível tirar rendimento dos exercícios mormente na parte de ligação, como também não foi possível manter o aquartelamento (PC) informado acerca das operações efectuadas pelos pelotões empenhados nos exercícios.
Todos os exercícios foram planeados de véspera, bem como criticados após a sua execução.

No dia 27, fez-se o deslocamento para a zona de estacionamento n.º 1, a 10km do quartel, fez-se a instalação e montagem do dispositivo de segurança. Durante a instalação houve flagelação ao acampamento, tendo o pessoal actuado em conformidade. Durante a refeição houve novos ataques.

Dia 28, deslocamento de dois pelotões para o contacto com o inimigo e o consequente ataque.

Dia 29, montou-se uma série de emboscadas, tendo duas delas funcionado, a 1.ª com êxito, uma segunda foi um fracasso devido à má posição das forças empenhadas. Neste mesmo dia, dois pelotões fizeram o patrulhamento de itinerários, dentro da zona de acção da companhia.

Dia 30, foram efectuados dois golpes de mão distintos, o pessoal empenhado nas acções foram dois pelotões, tendo duas secções de um terceiro pelotão simbolizado o inimigo.
Neste mesmo dia iniciou-se a nomadização à base de dois pelotões, esta nomadização prolongou-se até ao dia seguinte. Este exercício não teve um carácter real, uma vez que devido a dificuldades logísticas não foi possível deslocar a cozinha rodada a fim de alimentar o pessoal empenhado na acção. Desta forma o pessoal às horas da refeição regressava ao acampamento, sendo o exercício neutralizado durante este período. Se houvesse rações de combate distribuídas, seria possível tirar maior rendimento do exercício.

Dia 2 de Dezembro, organizou-se a protecção de pontos sensíveis, sendo o ponto escolhido a fábrica de pimentão, próxima da estação de Torres Novas. Foi talvez o exercício melhor executado no aspecto técnico. Duas secções simbolizando o inimigo não conseguiram danificar o objectivo. As forças empenhadas na defesa foram dois pelotões.

Dia 3, foi destinado a limpeza do material e descanso do pessoal. Aproveitou-se para fazer crítica construtiva acerca dos exercícios efectuados durante a semana.

Dia 4, a companhia deslocou-se para o local de estacionamento n.º 2, a 20km do quartel. Fez a sua instalação e montou o seu dispositivo de segurança.

Dia 5, iniciou-se a nomadização da companhia que foi guiada pelo Cmdt respectivo. Este exercício foi de bastante utilidade. Devido às mesmas dificuldades logísticas, este exercício foi interrompido a fim do pessoal se alimentar.
Devido à alteração do horário, os exercícios de limpeza de uma zona e limpeza de uma povoação não se efectuaram. O pessoal continuou a sua nomadização durante toda a noite de dia 5 para o dia 6, regressando cerca das 8H00 ao acampamento.
Cerca das 16H00, houve uma demonstração sobre a forma de o pessoal se aproximar a um helicóptero.
Seguindo-se pelas 18H30, o deslocamento da companhia para o GACA 2.

Dia 7, durante a manhã, na serra do Aire, o pessoal do pelotão de acompanhamento, fez fogo real com morteiro e lança granadas foguete.
Durante a tarde estava previsto o lançamento de granadas, ofensivas e defensivas, devido ao adiantado da hora não se pode realizar.
Todos os exercícios no campo foram completados com acções do inimigo.

Quartel em Torres Novas, 17 de Dezembro de 1967

O Cmd da Cia. 2340
Joaquim Lúcio Ferreira Neto
Cap mil Art.
_______________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P2101: História da CART 2340 (Ferreira Neto) (5): Punições e Louvores

Guiné 63/74 - P3483: Tabanca Grande (97): Rogério Ferreira, ex-Fur Mil da CCAÇ 2658/BCAÇ 2905, Guiné 1970/71




Rogério Ferreira (*)
ex-Fur Mil Inf MA
CCAÇ 2658/BCAÇ 2905
Guiné 1970/71



1. Mensagem do nosso novo camarada Rogério Ferreira, com data de 23 de Outubro de 2008:

Junto segue em anexo, a foto de furriel mliliciano pertencente a Rogério Felix Ferreira - Guiné 1970/71 C. CAÇ. 2658 - Bat. Caç. 2905.

Os meus melhores cumprimentos,
Rogério Ferreira

2. No dia 5 de Novembro foi enviada uma mensagem a este novo camarada, pedindo o envio de uma foto actualizada:

Caro Rogério
Os meus cumprimentos
Se tivesses por aí uma foto mais ou menos recente, era engraçado publicá-la junto com a antiga.

Desculpa a demora na resposta, mas há muita correspondência para pôr em dia.

Já agora se tiveres alguma coisa para contar sobre a tua estadia na Guiné, podes também mandar. Pode ser por exemplo a viagem de ida ou de volta, a ida para o mato, etc.

De que turno és das Caldas da Rainha e do Curso de Minas? Eu sou do segundo nas Caldas (Abril de 1969) e do XXXIII Curso de Minas em Tancos (Outubro a Dezembro de 1969). Somos quase contemporâneos. A minha Companhia era a 2732 que esteve na Guiné de ABR70 a MAR72

Um abraço
Carlos Vinhal

3. Comentário de CV

Caro camarada, até hoje não deste resposta à minha mensagem, mas já que tens colaborado no Blogue, ficas oficialmente apresentado.
Já agora, renovo o pedido para enviares a tua foto actual para alternarmos com a antiga.

Bem-vindo ao nosso Blogue. Pelo que sabemos da tua estadia na Guiné, correste Seca e Meca, logo terás muito para nos contar. Manda fotos, se tiveres, para ilustrar as tuas histórias.

Recebe um abraço da Tertúlia.
_____________

Nota de CV:

(*) Vd. postes de:

30 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3255: O Nosso Livro de Visitas (31): Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA, CCAÇ 2658/BCAÇ 2905, Guiné (1970/71)
e
18 de Novembro > Guiné 63/74 - P3476: Humor de caserna (6): Paiama, Paunca, Natal de 1970: o lapso do Caco Baldé (Rogério Ferreira)

Vd. último poste da série de 12 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3445: Tabanca Grande (96): Ten Cor José Francisco Robalo Borrego, ex-1.º Cabo do Gr Art 7 e Furriel QP do 9.º PELART (1970/72)

Guiné 63/74 - P3482: Histórias engraçadas (António Matos) (4): Quando os serviços de oficial de dia passaram a ser feitos pelos oficiais da CCS...


Um arrear da bandeira diferente, em Bula



Acabei de jantar.

Estou em Lisboa.

Preparo-me para uma corrida de karting amanhã, pela manhã, na Batalha. É a penúltima corrida do campeonato de 2008 onde tento desesperadamente segurar o 1º lugar de que neste momento disfruto. Terei que me deitar um pouco mais cedo para que as forças não falhem na hora da verdade.

Vi o telejornal a referenciar a crise financeira mundial, ainda que Sócrates esboce aquele sorriso seráfico perante o crescimento do país de 0,1% com aquela verborreia de que há piores ....Como se com o mal dos outros não pudéssemos nós bem ...Os secretários de estado da educação foram brindados com ovos nas ventas ....Os putos cantam os "alunos! unidos! jamais serão vencidos !" ...Deu-me vontade de rir....

Vim ao computador espreitar se havia novos posts no blog ...Havia a sondagem sobre as histórias e as estórias...Façam o que fizerem, estou como o Saramago, não abdico do meu grafismo! Assim como assim, já estou velho para essas mudanças....
Verifiquei que estava a fazer força com a boca e dou comigo a sorrir...Estava a recordar uma cena passada em Bula.

Certo dia, depois de mais um acidente no mato, os alferes da companhia resolveram solicitar ao comando do batalhão que os dispensasse dos serviços de oficial de dia, oficial de piquete, etc. e que tal fosse atribuído aos oficiais da CCS. Curiosamente fomos atendidos e a cena passa-se num arrear da bandeira.
Seriam 7, 8 horas da tarde...O oficial de dia era, então, o alferes tesoureiro do batalhão.
Era um indivíduo com uma graça extraordinária se bem que fazia lembrar o actual "super conde" Castelo Branco.
Ao nosso camarada nunca lhe passara pela cabeça algum dia vir a dar vozes de comando para uma cerimónia com a simbologia da da continência à bandeira e nem sequer sabia a sua sequência.
O comandante aparecia muitas vezes a essa hora para assistir ao acto. Nesse dia também.

Preparado o pelotão, o nosso camarada, com a boina posta de modo muito pouco ortodoxo, e com voz de falsete, vira-se para os homens e diz:

-"Meninos! sentidópe !

Num rasgo de oportunidade, e vendo o descontrolo do pelotão que, entretanto, se desmanchara à gargalhada, diz:

- "Oh credo que me esqueci do firme!"

Deixo à imaginação de todos qual teria sido a conversa de caserna durante os 2 meses seguintes....

E assim ia a nossa guerra....


António Matos


PS - uma vez que referi aquela figura execrável do Castelo Branco, lembro-me dum programa da série "bigbrother", a 1ª companhia, onde ele tem que fazer ordem unida e a páginas tantas vira-se para os outros e diz:

- "7, 8 !!"

O militar de serviço naquela altura vira-se para ele e pergunta-lhe o que é que ele estava a dizer? Castelo Branco responde:

- " 7, 8 !!

Curiosamente, os outros punham-se em sentido àquela ordem!

O militar pegunta se ele estava a gozar ao que lhe responde que "aquilo" era o que ele pensava que ouvia quando os profissionais diziam "SÉOP"!

__________

Notas: artigos da série em

Guiné 63/74 - P3481: Blogoterapia (74): Mais do que o número de atabancados, interessa-nos ouvir e contar as nossas histórias (J. Mexia Alves)

Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bolama > Bolama > CART 3492 > 1972 > "No jipe, frente para trás: Alf Canas, Alf Novais, Alf Lima (Secretaria?), Alf Rodrigues (meu camarada de curso, também que era da CCS e veio depois para o Xitole, por troca com o Alf Gonçalves Dias se não me engano), Alf Martins (CART 3493, Mansambo) e eu [, assinalado cum círculo a amarelo]".

Foto e legenda: © Joaquim Mexia Alves (2006). Direitos reservados.


1. Outro senador da República, outro homem (duplamente) grande da nossa Tabanca Grande, Joquim Mexia Alves:

Caros Luís, Virgínio e Carlos

Ora bem, lá venho eu tentar dar o meu contributo para a acusa comum.

Assim, e pegando no texto do Victor Junqueira (*) faço as seguintes considerações.


1 - Atrasos na publicação dos textos, algumas vezes por extravio, outras porque se estabeleceram certas prioridades, que não raramente, lhes retiram toda a oportunidade.

Absolutamente de acordo!

Com tudo, sobretudo com o elogio ao vosso trabalho!

Infelizmente esta coisa dos blogues tem alguns "senãos" quando há muita publicação seguida, no mesmo dia. Ou seja há uma tendência para quem acede aos blogues ler apenas o último e talvez o penúltimo texto, (não gosto de post, "prontos"), publicado.

Claro que me parece que este particular problema não terá solução no nosso caso, pois teríamos de ter anos de 500 dias para conseguirmos publicar todos os textos que vos devem ser enviados.

A publicação/postagem directa, sendo uma possível solução para a publicação em tempo ideal, pode vir a ser um acrescentar deste problema, porque pode muito bem acontecer que vários publiquem textos no mesmo dia, o que levará a uma saturação de leitura, para além de haver com certeza "mistura" de temas, que seriam melhor "digeridos" se tivessem uma continuidade.

O tal "conselho de ética" já foi falado, portanto é provavelmente tempo de avançar com o mesmo.


2 - Textos fortemente "editados".

Concordo que muitas vezes os textos muito elaborados e por vezes de difícil interpretação para quem não estiver preparado, podem desmotivar alguns menos à vontade com a escrita.


3 - Transcrições longas e enfadonhas de manuais ou seus excertos.

Total e absolutamente de acordo!

Devo confessar que raramente as leio na íntegra e a maior parte das vezes lhes passo adiante. Faça-se referência à obra, para posterior consulta, ou abra-se novo site, umbilicalmente ligado à Tabanca, onde poderão ser colocados tais textos para consulta dos interessados, cuja referência poderá vir com um link directo da Tabanca Grande.

4 - O controverso, o contraditório e a polémica são o sal e a pimenta dos nossos cozinhados literários. Ultimamente tem-se notado uma certa falta destes temperos.

Mais uma vez de acordo!

Que caraças, mesmo que haja aqui ou acolá uma picardia, será que não somos capazes de nos entendermos?

"Homem que é homem" não tem problemas em pedir desculpa quando se excede nas palavras e nos gestos.

5 - Quase todas as semanas se apresenta mais um camarada, atraído para o nosso convívio. Isso agrada-me. Mas cadê a historiazinha a contar o drama, a peripécia, a barracada de que foi protagonista ou de que teve conhecimento enquanto membro das gloriosas FA de Portugal?

E outra vez de acordo!

O número de "atabancados" interessa mas não é esse, julgo eu, o fim último da Tabanca Grande, mas sim estarmos sentados à volta da fogueira a ouvir e contar as histórias da "nossa" guerra.


Quanto à parte da solidariedade, já o referi várias vezes e outros como o Torcato também.

Se o Estado, que tem essa obrigação, não o faz verdadeiramente, nós teremos sempre de o fazer em ordem a cumprirmos voto de camaradagem feito no sangue, suor e lágrimas, e algumas gargalhadas também.

E se isto é verdade ao nível material, ainda o é mais ao nível emocional e psíquico, porque quem melhor do que aqueles que lá estiveram para entenderem as dificuldades, as frustrações, as noites de insónia, daqueles que por desenraizamento da vida, ainda sofrem os traumatismos da guerra?

E "prontos", por aqui me fico nesta primeira abordagem ao tema, "que tem muito pano, para muitas mangas"...

Abraço camarigo sempre do vosso
Joaquim Mexia Alves

_______

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 19 de Novembro de 2008> Guiné 63/74 - P3479: Blogoterapia (73): O blogue do nosso contentamento, às vezes descontente (Vitor Junqueira)

Guiné 63/74 - P3480: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (2): IAO, Bolama, Outubro de 1970

1. Mensagem do nosso camarada Luis Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, datada de 9 de Novembro de 2008, com a segunda viagem às suas memórias (*).

Caros Luís e Vinhal
Em anexo segue mais um capítulo da Viagem...
Um abraço e parabéns extensivo a toda a Equipa
Bem hajam
Luis S Faria




BOLAMA - IAO (Instrução Aperfeiçoamento Operacional)

Ao largo, no Pijiguiti, após 12 dias de viagem no luxuoso Paquete inclinado - em que o passatempo era mergulhar na piscina imaginária, jogar ao atira garrafas bebidas borda fora, mentalização à soldadagem, umas leituras e recordações – dou uma escapada a Bissau. Os Praças não tiveram essa sorte. Umas voltitas, umas cervejolas (à altura ainda não sabia que eram bazucas) acompanhadas com uns tremoços que, coisa esquisita, mais me pareceram camarões! Gasto o chamado patacão e tomado o contacto com a nova realidade, há que regressar ao Paquete… para pernoitar, pois o tempo esgotou-se e não estava ali para férias.

Na manhã seguinte, a minha CCaç 2791 (FORÇA) rumaria à ilha de Bolama a bordo de uma LDG, para início do IAO.

Após a confusão ordenada de embarque na dita LDG e depois de uns tiros da sua arma pesada - se foi para porem os periquitos à rasca, conseguiram-no - chegamos à que se dizia sossegada ilha de Bolama.

Instalado e ao fazer os primeiros reconhecimentos à zona de comes e bebes e outros… tive oportunidade de sentir a que teria sido uma agradável estância de férias, - com a sua boa piscina, com aquelas praias, aquele mar, a vegetação com aqueles palmares, aquela fauna (a macacada, as aves do paraíso, as iguanas…) - e os primeiros contactos com a população local, olhando com alguma desconfiança os homens que, sabia lá (?!), podiam ser turras, e com olhos de ver, lindas Bajudas com as suas mamitas (?) ao léu e que não seriam turras com certeza (!!)

Enfim…

Mas a guerra estava lá, dura e impiedos, e eu queria que o 4.º Grupo, que comandava, coadjuvado pelo J. Fontinha (Op Esp) e o M. Chaves (açoriano), estivesse à altura de a enfrentar sem baixas, ou com as menos possível. Não queria que famílias chorassem por esse motivo.

Para isso era preciso trabalhar a sério com a rapaziada (Jericada como dizia/diz com ternura o meu grande amigo Fur Op Esp Castro, do 2.º Gr) nas técnicas de combate, assalto, progressão, observação e outras.

Ordem unida? Nessa matéria (detestada) necessária à disciplina, autocontrolo, unidade de grupo e mais… a rapaziada fez dela uma bandeira para mostrar ao resto da Companhia que o 4.º Grupo, o mais recente, mais pequeno (salvo erro, 20 elementos) e comandado por Furriéis tinha uma garra do caraças, e não ficava atrás dos outros, antes pelo contrário! (Eh Pessoal… e na parada de apresentação ao Gen Spínola? O General até se passou com aqueles Ombro-arma e batimentos recordam? Isto para não falar no nosso Cap Mil Mamede de Sousa. Foi demais! Quase que rachávamos a parada (!!!)

Com esta passagem não quero dizer que houvesse rivalidades ou equiparados na 2791. Pelo contrário, era uma Companhia muitíssimo unida. Para isso contribuíram os seus Quadros operacionais iniciais, que se davam muito bem e interagiam muito com o pessoal.

Como dizia, havia que trabalhar no duro e mentalizar a rapaziada de que o esforço dispendido podia fazer a diferença entre viver e …!

Atendendo a que o Fontinha e eu tínhamos treino especial e o Chaves nos acompanhava, o IAO foi realmente puxado, especialmente em Treino de combate, progressão, observação e auscultação do meio envolvente e outras. Tudo foi treinado até atingirmos a autoconfiança individual e de grupo. E a morfologia da ilha prestava-se bastante a esse treino.

Durante este período e para nos lembrar que havia guerra, que nem em Bolama se estava 100% seguro e não se podia facilitar, fomos brindados com um míssil numa hora de refeição, que nos fez abrigar por baixo das mesas e onde possível. Caiu perto e felizmente sem consequências.

Claro que também houve muitos momentos de descontracção. Convívios, cerveja, uísque, vinho, camarão e outros manjares, como provam as fotos. E esses eram momentos em que libertávamos o nosso Eu numa sã camaradagem e amizade, com conversas afiadas em que as estórias e as réplicas levavam por norma à gargalhada. Aquela do Alf Quintas, Op Esp do 1.º Grupo, conduzir um Unimog carregado de guineenses a toda a velocidade pela picada, ter chegado ao destino e ficar espantado por não estar mais ninguém na viatura (tinham saltado ou caído, felizmente sem problemas), ainda por vezes hoje é recordada.

E havia também os momentos em que se desabafava com os mais chegados, dos amores e desamores, das saudades, de situações vividas, dos anseios, dos medos e receios, normal na Juventude, que nos estava a fugir muito depressa.

E assim se foi esgotando o tempo na paradisíaca ilha e, a 30 de Outubro de 1970, embarcámos de novo numa LDG com destino a Bissau, de onde partimos em coluna auto para Bula.

Um abraço a todos
Luís S Faria


Bolama > Outubro de 1970 > Luís Faria

Bolama > Luís Faria na marginal

Furrielada com Oficiais e Sargentos > Ao fundo com cigarro Faria; ao lado e por ordem decrescente, de alturas Fontinha; Urbano (enfermeiro); Alf Quintas; Sarg Guerreiro; Mesquita; Ferreira. À minha frente, sentado, o Cap Mamede, à esqerda o Castro, Lourenço (TRMS), Alf Barros (?); Mealha (?) (Mecânico) e Belchiorinho (Vaguemestre)

Furrielada > Da esquerda: Madaleno, Belchiorinho; Mealha; Ferreira; Lourenço Fontinha; eu; Urbano; ? ; Marques; 1.º Cabo Trms Ribeiro
______________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 3 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3397: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (1): A ida, do RI5 a Bissau

Guiné 63/74 - P3479: Blogoterapia (73): O blogue do nosso contentamento, às vezes descontente (Vitor Junqueira)

Pombal > 2º Encontro Nacional da Tertúlia bloguística Luís Graça & Camaradas da Guiné > O nosso amigo, camarada e anfitrião, Dr. Vitor Junqueiro, servindo de cicerone na parte velha da cidade.



Foto:© Luís Graça (2007). Direitos reservados.


Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º Encontro Nacional da malta do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > Restaurante O Manjar do Marquês.

Antes do almoço, o Vitor Junqueiro, na sua qualidade de nosso anfitrião e organizador do encontro, fez o discurso de boas vindas. Homem de princípios e de valores, mas também verdadeira caixinha de surpresas, preparou-nos uma cena que nos sensibilizou a todos: rodeado, à sua direita, por uma das suas três filhas e por uma das suas duas netas, e à esquerda, por mim e pelo A. Marques Lopes, fez questão de ser condecorado, com o atraso de... trinta e três anos. A condecoração, que tem a ver com a sua brilhante folha de serviços como oficial miliciano na Guiné, fora-lhe atribuído pelo Chefe do Estado Maior do Exército, estando prevista sua entrega no dia 10 de Junho de 1974, o que não chegou a acontecer por o 25 de Abril de 1974 ter vindo a alterar o curso dos acontecimentos...

Com escrevi na altura, a entrega da condecoração por dois camaradas seus da Guiné foi um gesto muito bonito num dia muito bonito, em que realizámos, mais uma vez, o sentido da palavra camarada... O Xico Allen estava lá para bater o instantâneo. O que ele seguramente não pôde registar foram as palavras do Vitor para mim:
- Eh!, pá, ó Luís, vê-se mesmo que não tens jeito para esta merda!

(L.G.)

Foto: © Xico Allen (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem, com data de 22 de Outubro de 2008, do Vitor Junqueira, médico, residente em Pombal, membro da nossa Tabanca Grande, organizador do nosso 2º Encontro Nacional, de saudosa memória, pai e avô babado, portentoso contador de histórias (com H), ex-garboso oficial da nossa ex-gloriosa marinha mercante, ex-Alf Mil Inf, CCAÇ 2753 - Os Barões (Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá ,1970/72)...

Prezado camarada e amigo Carlos Vinhal,

Há já algum tempo que ando a adiar uma modestíssima e singela troca de impressões contigo a propósito da nossa comunidade virtual, o Blogue. Porque a outra, a dos amigos de carne e osso, está bem, recomenda-se e anda a pedir mais uma almoçarada e uns abraços de quebra-costelas.

Eu já sinto a vossa falta! Tenho andado um pouco mais ocupado do que o costume. Hoje, porém, tive uns minutos para passar uma vista de olhos pelos últimos posts, onde encontrei um comentário teu, aliás, dois, que achei do maior interesse. Num deles expressas a ideia de que devemos congratular-nos por um tão elevado número de visitas que, certamente, se deve à boa qualidade do material "afixado" e à grande categoria dos respectivos autores. Concordo! O outro, transportava nas entrelinhas, pareceu-me, uma subliminar "descasca" ao pessoal por estar a tornar-se preguiçoso. Uma espécie de toque a reunir, com o qual também concordo! Mas, o que está em causa, não é com toda a certeza uma dose exagerada de salutar preguiça. Até porque, os temas que tomaste como exemplo de uma certa hiporreactividade bloguista, são dos mais interessantes, e deveriam ter suscitado uma onda de colaborações.

Entendo por isso que será oportuno fazer uma análise do fenómeno e, partindo de um diagóstico fundamentado, introduzir as alterações que se revelarem mais consistentes com o propósito de manter toda a nossa gente on line. Porque, não reste qualquer dúvida, a escrita é o cimento que nos matém unidos. Para concretizar esse objectivo, nada melhor que cada um de nós assumir claramente as razões da própria desmotivação, chamemos-lhe assim. Se é que ela existe. E como não sou de arcas encouradas, passo a enumerar alguns tópicos de que não sou grande apreciador:

1 - Atrasos na publicação dos textos, algumas vezes por extravio, outras porque se estabeleceram certas prioridades, que não raramente, lhes retiram toda a oportunidade.

Um texto no momento certo pode ser uma pérola, descontextualizado não passará de uma parvoíce ainda que produzido por autor de boa cepa. Tem calma, Carlos, que eu bem vi como te torceste todo na cadeira. Isto nada tem a ver contigo ou com o Briote! Eu conheço muito bem o vosso empenho a favor da causa e o número incontável de horas do vosso lazer que lhe dedicais. O que terá de ser eventualmente alterado é a metodologia. Para issso podemos ter de vir a considerar a postagem directa, com a responsabilização pessoal e jurídica, explícita, dos escribas, e a retirada imediata de um texto, som ou imagem, sempre que se constate existir ofensa à carta de princípios criada pelo Luís. E que tal a criação de um conselho de ética?

2 - Textos fortemente "editados".

Se por um lado podem esconder a alma de quem os concebeu, não terão também o inconveniente desencorajar ou inibir aqueles que se sentem menos à vontade com a escrita?

3 - Transcrições longas e enfadonhas de manuais ou seus excertos.

Aqui incluo a pré-apresentação de livros sob a forma de folhetim que, conjecturo eu, não atrairá o interesse geral. Confesso que nunca tive pachorra para ler nem uns nem outros e não devo ser caso único. A este respeito, o blog apresenta com demasiada frequência muitas parecenças com o site de uma qualquer editora.

4 - O controverso, o contraditório e a polémica são o sal e a pimenta dos nossos cozinhados literários. Ultimamente tem-se notado uma certa falta destes tempêros.

E lá porque um ou outro tem ataques de azia, não será por isso que nos devemos resignar ao desenxabido consensual. Como homens de guerra que somos (fomos), honremos a guerra, agora com a língua e a caneta!

5 - Quase todas as semanas se apresenta mais um camarada, atraído para o nosso convívio. Isso agrada-me. Mas cadê a historiazinha a contar o drama, a peripécia, a barracada de que foi protagonista ou de que teve conhecimento enquanto membro das gloriosas FA de Portugal?

Muitos têm-se esquecido. Mas isto não é o clube dos amigos de Alex, há que apresentar serviço!

Para finalizar, um curto relato. Fui contactado há uns meses por um homem por quem tive sempre muito respeito. E para além do respeito, afeição. O Manuel dos Santos, antes e depois da tropa, dedicou-se sempre à indústria da restauração. Como empregado. Encontrámo-nos pela última vez há-de haver para aí uns cinco anos, em Santa Comba Dão. Sempre muito respeitoso e educado, quase tímido, viu-se que ficou feliz por ter podido reencontrar-se com os seus antigos furriéis e alferes. Prometeu que estaria presente no encontro seguinte, nos Açores, mas não compareceu.

Agora, gravemente doente, abandonado pela mulher, rejeitado pelos amigos da onça, posto de lado por uma filha que formou, estava sem recursos para enganar o estômago e pagar a renda de um barraco que lhe servia de habitação ali para os lados de Leça. Muito envergonhado, pedia-me um pequeníssimo empréstimo que tencionava devolver quando recebesse a prestação seguinte da Segurança Social.

Nunca mais tive notícias suas, nem sequer tive possibilidade de saber se ainda está entre nós.

Durante mais de dois anos, o 1º cabo corneteiro Manuel dos Santos zelou pelo nosso bem-estar. Como responsável pela messe e despenseiro servia-nos, no prato, as melhores refeições que podiam ser cofeccionadas com os parcos meios de que dispunha, procurando sempre que estivessem a nosso contento, tudo fazendo para que estivessem.

Como o do Manuel, haverão imensos casos de camaradas nossos em maus lençois. Dentro ou fora da esfera profissional, será que ainda vamos a tempo de fazer o gesto que se impõe? Em que medida é que através do blog poderíamos chegar a alguns aflitos?

Continuação de um excelente serão.

VJ

2. Mensagem do Carlos Vinhal, com data de 27 de Outubro, remetida aos editores LV e VB:

Caros companheiros:

Para vosso conhecimento e reflexão, já que o Vitor é um excelente crítico. Aguardo as vossas doutas opiniões.
Ab
Carlos

OBS:-Este reenvio tem, como é logico, aprovação do autor, já que não é um mail pessoal.


3. Comentário dos editores LG/CV/VB:

Querido Vitor:

(i) Como há dias escrevia o Luís Graça, tu já tens, no nosso blogue e na nossa Tabanca Grande, o estatuto de senador... Tal significa o direito a algumas prerrogativas (ou, como diziam os romanos, privi + legiu > lei privada);

(ii) Tens, por exemplo, o privilégio de poder falar alto e bom som, enquanto a gente baixa a bolinha (para melhor te poder ouvir);

(iii) Estás isento de horário de trabalho, tens licença ilimitada de entrar e sair a qualquer hora; e de passar, inclusive, longas temporadas fora da nossa Tabanca Grande (temos ciúmes mas não o podemos demonstrar em público...):

(iv) Tens todo o direito de mandar bitaites a estes teus pobres e humildes editores; estás a exercer a tua soberaníssima e inalienável liberdade de expressão;

(v) As cinco críticas que nos fazes, acertaram na mouche: são pertinentes, contundentes, oportunas, etc. ;

(vi) Sem termos a veleidade de te responder nem muito menos contestar, deixamos-nos apenas alegar em nossa defesa o seguinte:

(a) o blogue cresceu demasiado, depois de Pombal, a partir de meados de 2007, e nem sempre, nós, os três, conseguimos dar boa conta do recado; no máximo, podemos publicar 5 postes por dia, com muita coordenação, trabalho, inspiração, transpiração; em média, 2 a 3 por dia; nas férias, 1 a 2 por dia; compare-se, a seguir, a nossa produção bloguística no mês das férias (Agosto) e nos meses de Outubro e Novembro de 2008: no gráfico de barros, pode-se ver a nossa produção semanal (em número de postes), produção essa que depende não só dos textos enviados aos editores como da capacidade de edição destes últimos...




Fonte: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008)


(b) a correspondência recebida (e expedida) é volumosa, a ponto de ficarmos por vezes afogados em mails; estamos, agora, por exemplo, a fazer a limpeza (periódica) à nossa caixa de correio;

(c) há atrasos que, por vezes, podem ser irremediáveis, tirando oportunidade e sentido aos textos que nos são enviados (sobretudo em questões que estão encadeadas, que têm perguntas e respostas, etc.);

(d) procuramos quase sempre manter o espírito da mensagem quando, por mor do português de lei, somos obrigados a corrigir a forma; não queremos o mau exemplo que vai por aí, por essa blogosfera fora; não somos um blogue literário, mas queremos entender-nos... em bom português, entre portugueses e outros lusófonos, incluindo os nossos amigos, camaradas e irmãos da Guiné;

(e) vamos ter em conta o teu reparo sobre o excesso de transcrições (de livros, relatórios, etc.) e de outros sinais exteriores de eventual novo riquismo literário;

(f) não queremos ser um clube dos amigos de Alex (muito menos de poetas mortos...), vamos manter a tarifa 1 homem, 1 história, como preço de ingresso na Tabanca Grande; quem quer entrar, pede licença, apresenta-se e conta história;

(g) e, claro, estamos de acordo: o contraditório, a exposição de pontos de vista contraditórios, a crítica, a discussão de pontos de vista, o debate, a saudável polémica, etc. são o sal da vida bloguística, são o que (também) dá pica à vida e ao blogue; mas, tal como o stress, tem de ser q.b.;

(h) Por fim, e não menos importante, quanto ao conselho de ética... Está prometido há meses, temos que cumprir a promessa... O que tu, no fundo, estás a fazer é o papel de provedor do blogue, uma figura que pode ser individual ou de pequeno grupo de senadores (ou, melhor homens grandes) como tu...

E a solidariedade entre camaradas, sobretudo nas más horas, como no nosso tempo, na Guiné ? Como vamos manifestá-la ? Publicamente, discretamente, efectivamente ? Casos como o António Batista ou do Manuel dos Santos não podem deixar-nos indiferentes...

E pronto. Temos dito. E, com um atraso de quase um mês, publicado. Não cremos que o texto tenha perdido acuidade e actualidade. Mas tu dirás da tua justiça. Aliás, é uma excelente oportunidade para outros camaradas e amigos se pronunciarem também sobre o blogue do nosso contentamento, às vezes descontente, parafraseando o nosso grande lírico, o nosso Luís de Camões, o maior e o melhor de todos nós...

Um Alfa Bravo destes três cavaleiros andantes, nos seus cavalos já velhos, cansados, ronceiros, mas ainda voluntariosos, Luís, Carlos e Virgínio.

PS - Obrigados pelo privilégio de voltarmos a ler as tuas Histórias (com H). Estamos a pensar também em... próximo livro, teu, ou colectivo, de antologia (por exemplo, com as nossas melhores 25 histórias), brochado, de preferência, de capa dura, como deve ser, a um preço razoável, acessível a todos (ou à maior parte de nós)... E, claro, com direito a festa rija, de lançamento, que o texto é também pretexto para a festa da amizade e da camaradagem, festa que o nosso blogue procura celebrar todos os dias... Se nem sempre o consegue, é por culpa dos oficiantes, da comissão de festas, e dos... artistas (que afinal de contas somos todos nós).