terça-feira, 23 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11452: Tabanca Grande (394): Agostinho Valentim Sousa Jesus, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCS/BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74) e Carlos Alberto Simões Órfão, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCS/BCAÇ 4610/72 (Bissorã, 1972/74)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Agostinho Valentim Sousa Jesus, ex-1.º Cabo Mecânico Auto da  CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74:

Caros camaradas
Boa tarde
A fim de poder fazer parte desta tertúlia, aqui vão os meus dados.

Agostinho Valentim Sousa Jesus
1º Cabo Mecânico
CCS do BCaç 4612/72

Anexo: Fotos
Para os meus amigos e camaradas um forte abraço
Agostinho Jesus




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2. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Carlos Alberto Simões Órfão, ex-1.º Cabo Operador Cripto da CCS/BCAÇ 4610/72, Bissorã, 1972/74:

Carlos Alberto Simões Órfão
Natural da Marinha Grande
Residente nas Caldas de Vizela
1º Cabo Operador Cripto
CCS/BCAÇ 4610/72 (Bissorã)

Partida para a Guiné em Junho de 1972 e regresso com chegada a Lisboa em Junho de 1974

Logo após chegada a Bissau, partida para o Cumeré, para tirar a IAO, com estágio para especialidade no Centro Cripto, no QG em Bissau.

Em termos de Futebol, o destino previamente marcado era a UDIB, mas por diversos problemas burocráticos tive de partir para Bissorã.
Na época 73/74, juntamente com ex-jogadores de equipas de Bissau, em serviço na CCaç 13 e outros camaradas da CCS, o A.C. Bissorã, fui de novo filiado (tinha parado em 61/62 com o inicio da Guerra colonial).
Participamos nessa época (73/74) no Torneio Inicio, Taça da Guiné e Campeonato, tendo sido o melhor goleador da época.

PS. - Julgo ser suficiente como apresentação aos membros da Tertúlia, da qual tenho o prazer de pertencer a partir deste momento.

Amistosos cumprimentos
O Camarigo
Carlos Alberto Órfão


3. Comentário do editor de serviço

Caros camaradas e amigos Agostinho Jesus e Carlos Órfão. Muito bem-vindos à tertúlia. Sois oficialmente apresentados no dia em que comemoramos o 9.º ano de existência. Sois estatisticamente o 612.º e o 613.º tertulianos. Por que vos franqueamos as nossas instalações nesta data tão especial, será para vós fácil gravar o dia da vossa admissão neste Blogue onde se registam memórias escritas e fotográficas.

A vossa apresentação foi muito singela pelo que esperamos no futuro sejam mais expressivos. Queremos que se sintam em casa e, sem reservas exponham as vossas memórias e nos mandem as vossas fotos devidamente legendadas com data, local, identificação dos fotografados e acontecimento.

O Agostinho, por exemplo, não legendou as fotos que enviou, agora publicadas, e eu para fazer a sua foto tipo passe fardado, por analogia com o bigode actual, parti do princípio que na Guiné também o usava, e na foto de cima seria o "bigodes". Claro que o seu companheiro gostaria de ser identificado também.

Já agora, caro Agostinho, logo que possas, identifica os fotografados, se possível indica a data e local das fotos.

A vossa correspondência deverá ser enviada para o editor Luís Graça (luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com) e para um dos editores, o Eduardo Magalhães Ribeiro (magalhaesribeiro04@gmail.com) ou Carlos Vinhal (carlos.vinhal@gmail.com)

O nosso muito obrigado ao camarada Júlio César que trouxe até o Carlos Órfão e que serviu de interlocutor junto dele.

Para os nossos novos camaradas aqui fica um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.
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Nota do editor:

Último poste da série de 16 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11403: Tabanca Grande (393): Carlos Fraga, ex-alf mil, 3ª C/BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1973) e ex-cap mil (Moçambique, 1974), nosso grã-tabanqueiro nº 611

Guiné 63/74 - P11451: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (23): Respostas (nº 43/44/45): José Crisóstomo Lucas (CCAÇ 2617, Pirada, Paunca, Guileje, 1969/71); José Barros Rocha (CART 2410, Guileje e Gadamael, 1968/70); Eduardo Campos (CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74)

1. Resposta nº 42 >  José  Crisóstomo Lucas [ ex alferes miliciano, de operações especiais, CCAÇ 2617,  Magriços de Guileje, Pirada, Paunca, Guileje, 1969/71] [ Foto a seguir:  o JCLucas, ao centro, entre o fur mil Abílio Pimentel e o piloto do Cessna]



(1) Quando é que descobriste o blogue ? 

 Através de um dos ex-combatentes que me falou que discutiam Guileje Relembro de quem sou amigo.

(2) Como ou através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) 

Claro que pesquisei no Google

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) ? Se sim, desde quando ? 

Desde algum tempo ( anos )

(4) Com que regularidade visitas o blogue ? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 

De tempos em tempos.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.) ?

 Já enviei alguns comentários mas poucos e a maior parte não foram publicados.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça] ?

 Já conheço.

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ? 
Blogue

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ? 

Blogue.

(9) O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ? 

Tentar enviar textos e não virem publicados,

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue ? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...)
 Não.

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ? 

É estranho vermos muitos a dizerem o que não fizeram,

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais ?

 Não.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ? 

Não.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ? 

Claro que sim

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. 

Tudo de bom para o blogue continuem
PS1 - A foto publicada com o furriel Assunção não é minha mas de um dos meus Furriéis. A minha foto está junto da DO,  sou o Alferes que está nessa foto .

PS2 - Não sabes,  mas tenho um diário da Guine, logicamente com todos os ataques a Guileje . Um dia envio algumas páginas.. Só para que alguns se divirtam, já que têm sido os heróis privilegiados das terras de Guileje. Quando quiseres telefona estou à disposição  (...).


Resposta nº 43 >  José Barros Rocha [ex-Alf Mil, CART 2410, Os Dráculos (Guileje e Gadamael, 1968/70)]


1/2 - Descobri o Blogue, através de um camarada, em 2007.

3 - Sou membro da Tabanca Grande desde esse ano de 2007

4 - Actualmente visito-o talvez duas vezes por semana, devido a encontrar-me ainda em actividade

5 - Não tenho enviado material pois vai escasseando. No entanto, quando acho que devo intervir, lá o vou fazendo.

6/7 - Nunca utilizei o Facebook para ver a página da Tabanca Grande. E não gosto dele.

8 - No Blogue o que mais aprecio são os relatos das peripécias por que passámos no período da nossa passagem pela Guiné, além das fotos relacionadas com esse tempo e lugares.

9 - Algumas ligeiras picardias, mas que no fundo até são saudáveis. Agitam as águas !

10 - Não tenho tido dificuldade, somente alguma lentidão de vez em quando.

11 - Como já uma vez referi foi com o Blogue que vivi outras vidas...

12 - Desde a Ortigosa creio não ter falhado nenhum

13 - Lá estarei, assim tudo corra favoravelmente

14 - Tem mais que fôlego! Está aí para dar e vender! Há Camarigos que nunca o deixarão cair!

15 - A sugestão que me ocorre seria colocar para discussão "fraterna", de vez em quando, um tema relativo àquelas vivências, sem receios de ferir susceptibilidades quanto a terceiros ...


Resposta nº 44 > Eduardo Campos [, ex-1º Cabo Trms, CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74]


1) Não me recordo.

2) Através do José Carvalho (meu cunhado).

3) Sim, sou membro da nossa Tabanca Grande.

4) Visito o blogue diariamente.

5) Já enviei bastante material e continuarei a enviar.

6) Sim, sou amigo no Facebook.

7)   Vou mais vezes ao Facebook.

8) No Blogue gosto mais de ler as narrativas dos camaradas passadas durante a sua "estadia" na Guiné.No Facebook, de nada de especial.

9)  No blogue, não encontro nada que não goste.No Facebook nada a comentar.

10) Dificuldade ultimamente em aceder ao Blogue? Agora não, mas num passado recente, sim

11)  Ajudou muito, tendo conseguido que eu falasse e muito da minha passagem pela Guiné e ter tido o privilégio de ter conhecido camaradas que hoje considero meus amigos. À nossa página no Facebook não presto muita atenção.

12)   Sim, a partir do 3º encontro estive sempre presente.

13) Sim, este ano, também vou estar no  VIII Encontro Nacional, no dia 8 de Junho, em Monte Real.

14)  Se essa força não te faltar a ti e a quem contigo colabora, direi naturalmente que sim.

15) O Facebook, não é nem nunca será um concorrente do nosso blogue....CONTINUA.
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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11443: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (22): Respostas (nºs 39/40/41): António J. Pereira da Costa (Cacine, 1968/69; Xime, Mansambo e Mansabá, 1972/74); António Melo (Catió e Bissau, 1972/74); e José Teixeira (Buba, Quebo, Mampata e Empada, 1968/70)

Guiné 63/74 - P11450: Bom ou mau tempo na bolanha (5): A Fé também ajuda (Tony Borié)

Quinto episódio da série do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), Bom ou mau tempo na bolanha.



O Cifra tinha um diário que uma madrinha de guerra lhe ofereceu, onde a certa altura começou a apontar algumas datas com acontecimentos dignos de algum registo, e é desse diário que vai escrevendo algumas memórias.


Algumas páginas diziam, no dia tal, à hora tal, uma “praga de mosquitos”, blá, blá, blá, noutra página dizia, houve um ataque às quatro horas da madrugada, quando o “passarinho cantava”, blá, blá, blá, mas em determinada página diz mais ou menos assim:

1965, quinta-feira dia 13 de Maio. 
Às sete horas da manhã saiu do aquartelamento um grupo de militares composto, mais ou menos, por duas secções de combate e uns tantos soldados milícias, transportados em viaturas auto, que foram em normal patrulha, e que foram deixados, nove a dez quilómetros do aquartelamento, na estrada, que pouco mais é do que um carreiro, que sai de Mansoa para Bissorã. Tinham por missão, fazer uma normal patrulha de inspecção no terreno, nunca se distanciando muito da referida estrada, vigiando e interrogando pessoas, ou identificando qualquer outra anomalia que achem estranha, tudo isto na região sul da referida estrada, regressando ao aquartelamento a pé. 


Tinham andado uns quilómetros, metendo-se um pouco no mato, e aproximaram-se de uma bolanha onde encontraram três homens africanos trabalhando, os militares ficaram desconfiados de não verem mulheres ou crianças, pois normalmente eram elas que trabalhavam na bolanha. Os militares, talvez na esperança de pedirem a identificação a esse pessoal, pois essa era uma das suas principais missões, ao aproximarem-se, ainda em terreno seco e com alguma vegetação, a determinado momento foram surpreendidos por uma emboscada que os guerrilheiros tinham montada, do lado de lá da bolanha. Mais tarde houve informações, de que aqueles três estavam a servir de isco para a patrulha se aproximar. Houve fogo intenso, que durou quase quinze minutos, os militares desesperados consumiram quase todas as suas munições, tanto granadas ofensivas, granadas de morteiro, como balas, haviendo somente um ou dois soldados mais receosos, com alguns carregadores ainda com balas.

Passado algum tempo, deixou-se de ouvir o som de tiros, aos poucos levantaram-se, chamaram uns pelos outros e estavam todos, sem um único morto ou qualquer ferimento. Não havia mais sinal de guerrilheiros, nem pessoal a trabalhar na bolanha, alguns diziam que viram dois desses trabalhadores a fugirem debaixo de fogo e feridos, e os militares sem munições, sem mortos ou feridos e a olharem uns para os outros, ficando com alguma alegria, dentro daquele cenário de guerra. Já tinham comunicado ao aquartelamento pela rádio, durante a emboscada, a situação em que se encontravam, que lhe enviara imediatamente reforços em seu auxílio. Regressaram à estrada sem mais qualquer confronto, pois os guerrilheiros bateram em retirada.

Quando regressaram ao aquartelamento, abraçados, com os olhos vermelhos de chorarem, e ainda com algumas lágrimas, cantavam: 
- “Avé, Avé, Avé Maria!. Foi um milagre de Nossa Senhora! Estamos todos vivos! 

O Cifra, sempre pensou que foi uma emboscada, onde os militares tiveram única e simplesmente sorte, e os guerrilheiros, talvez ainda sem muita experiência, pois não esperaram que os militares se aproximassem, deram fogo durante algum tempo, batendo em seguida em retirada, pois sabiam que estavam perto do aquartelamento e em seguida viriam reforços. Só não sabiam, com toda a certeza, é que os militares naquela altura estavam à sua mercê, pois não tinham mais munições!
Mas seria só sorte?
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Nota do editor:

Último poste da série de 21 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11434: Bom ou mau tempo na bolanha (4): A odisseia (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P11449: Agenda cultural (264): Indie Lisboa 2013: A estreia, 4ª feira, na Culturgest, às 21h30, do filme de João Viana, "A batalha de Tabatô". O Jorge Cabral será o representante do nosso blogue, a convite da produtora... E 6ª feira, 26, às 23h00, há festa no Ritz Clube, com os "Super Camarimba" !



1. Está a decorrer a 10ª edição do Indie Lisboa 2013, de 18 a 28 de abril.  No âmbito deste prestigiado festival do cinema independente, destaca-se a estreia nacional, a 24 do corrente, do filme:

A Batalha de Tabatô / The Battle of Tabato
João Viana

Exibições:

24 Abril, 21:30, Culturgest, Grande Auditório
26 Abril, 19:15, Cinema City Classic Alvalade, Sala 3

Secções: Competição Internacional, Competição Internacional, Competição Nacional
Ficção, Portugal 2013, 78', Dcp

Música: Pedro Carneiro
Som: Nuno Carvalho, António Pedro Figueiredo , Joaquim Pinto, Mário Dias
Montagem: José Edgar Feldman
Com: Fatu Djabaté, Mamadu Baio, Mutar Djebaté
Produtor: João Viana







Dois fotogramas do filme do João Viana (Fonte: Papaveronoir)

"A primeira vez que ouvi falar deste fenómeno foi na Alemanha. Um jovem violinista de formação clássica confessou-me que sonhava partir para uma aldeia mítica entre os jovens alemães, situada no centro de África, e constituída por músicos onde se aprendia djambé. De repente aquilo pareceu tão próximo de mim que se fez um clic. Quando era pequeno, em África, os pais mandavam as crianças para a Alemanha para aprender música. Agora estava tudo ao contrário. E ainda bem. Porque as coisas estão mesmo ao contrário. Nós, europeus, é que não as vemos. O mundo de facto mudou. E isto não é de agora. África não é como a pintamos. E a culpa toda é dos portugueses do século XV, que destruíram os documentos africanos para provar que a nossa cultura era superior à deles. (João Viana)". (Fonte: Indie Lisboa'13]


2. Paralelamente ao festival, há uma série de atividades a não perder. Uma dela, é o Indie by night. E em  especial:

26 Abril | 23h| Ritz Clube

A Batalha de Tabatô After-Party
Super Camarimba + convidados [Concerto]
5€

Depois da exibição do filme A Batalha de Tabatô de João Viana, na Competição Internacional de Longas-Metragens, a noite continua com ritmos quentes de África. Os Super Camarimba trazem as koras e os balafons. Uma festa com os sons de Tabatô, a mítica aldeia de músicos no centro da Guiné-Bissau.

3. A produtora,  Papaveronori, mandou-nos um duplo convite para assistir á estreia do filme que, este ano, já foi premiado com o Special Mention of the Jury Award no Festival de Berlim e integra agora a competição Nacional e Internacional de longas-metragens doIndie Lisboa, "sendo que gostaríamos de poder contar com a sua presença e apoio" (sic).

Na impossibilidade de estar cá amanhã, em Lisboa, nessa hora, o editor do blogue delegou no Jorge Cabral a representação da Tabanca Grande, incumbência que ele aceitou com  "galhardia e espírito de missão":

Mandei-lhe a seguinte mensagem:

"Aqui tens o convite, para a estreia, amanhã, 24, 21h30, na Culturgest, do filme "A batalha de Tabatô", do João Viana... . Se conseguires falar com o Mamadu Baio, o lider do grupo de música afromandinga Super Camarinda, e ator no filme, dá-lhe um abraço meu. 6*ª feira quero ir ver o filme (que passa na sala 3 do Cinema City Classic Alvalade, às 19h15) e  depois ir ao Ritz Clube, por volta das 23h00,  para vê-los e ouvi-los ao vivo. Espero poder um copo contigo... Um abração. Luis".

O convite é extensível a todo a a Tabanca Grande, e em especial aos nossos amigos e camaradas da região de Lisboa. Sexta-feira lá estarei no sempre novo Ritz Clube que anima as noites de Lisboa desde 1908!.
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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11432: Agenda cultural (263): Lançamento do livro A Mulher do Legionário, de Carlos Vale Ferraz, dia 30 de Abril de 2013, pelas 18h30, na Livraria Leya na Buchholz, Lisboa

Guiné 63/74 - P11448: Os nossos seres, saberes e lazeres (51): WE HAVE IT!!!.... Um linda história de amor, um reencontro ao fim de 40 anos, um casamento em Nova Iorque... E agora, que sejam felizes para sempre, meus queridos João (Crisóstomo) e Vilma (Kracum)! (Tabanca Grande)



Portugal > Lourinhã > Ribamar > Praia do Porto Dinheiro > Restaurante O Viveiro > 28 de junho de 2012 > A Vilma e o João Crisóstomo, já oficiosamente noivos (com festa de arromba prometida, para 20 de abril de 2013, em Nova Iorque). A Vilma, que é eslovena, vivia em Paris... Ambos conheceran-se em Londres em 1970...Depois o João  foi para o Brasil e durante 40 perderam o rasto um do outro. Mas como o João é um "corredor de fundo", voltou a apanhá-la, à Vilma, e pediu-a em... casamento. Perdi o final deste conto de fadas, infelizmente não tenho o dom da ubiquidade! (LG).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados





Convite, em inglês, para o casamento da Vilma Kracum com o João Francisco Crisóstomo, nosso camarada, e um dos mais famosos portugueses de Nova Iorque.


1. Mensagem do João Crisóstomo e da Vima, com data de 13/372013, anunciando o seu casamento: 

Subject - WE HAVE IT!!!

I like to share my special moments of my life with my friends. and I am living one of those to the fullest!!!!!!... so.... this is just to let you know that we got our wedding licence yesterday.... and now we can get married anytime within two months...

Remember : April 20 .... 12.00 AM...
Until then a Big hug from
John ( Joao Crisóstomo) and Vilma ( Vilma Kracun)

PS: I believe I have sent the invitation to our wedding to all I am writing to now. But I am attaching the invite again just in case I missed somebody... (and in this case please accept my apologies... and ... just show up.... I hope it is not too late1

João C

1. Comentário de L.G.:

Por razões que já expliquei ao João (e à Vilma), não me foi possível estar presente na sua festa de casamento, em Nova Iorque, no sábado passado, dia 20 de abril. Com muita pena, minha e da Alice. Em mensagem, que lhe mandei em resposta ao seu convite (formal), escrevi isso mesmo: (...) "A Alice está desolada, porque queria muito ir. E eu gostava de te dar essa grande alegria, da nossa presença, no dia da tua festa... Não sei se me vais perdoar. Mas eu quero muito que seja um grande dia, para ti e para a Vilma. Não tenho dúvida que fazem um belo par e que tu e a Vilma serão muito felizes (...)...Um xicoração apertado. Luís"... 

Não lhe escrevi os versinhos que lhe tinha prometido para esse dia, mas, pemitenciando-me, partilho com toda a Tabanca Grande e os demais leitores do nosso blogue,  a alegria deste evento. Não sei se alguém da Tabanca Grande esteve presente, nomeadamente O Horácio Fernandes ou o Mário Beja Santos (que, além de grande amigo do João e de terem andado pelas mesmas bandas na Guiné, veio a descobrir que ainda tem uma relação de parentesco com a  Vilma, ou que a Vilma é prima de um cunhado dele...,  vejam lá as voltas que o mundo dá!).

O João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/66), vive em Nova Iorque desde 1975 mas está também aqui atabancado, no nosso blogue, desde 26 de julho de 2010. Dele eu escrevi disse o seguinte:

(...) "O João Crisóstomo é um português das Arábias....Um dos muitos camaradas nossos que, depois do regresso da guerra, fez-se à vida, e quis conhecer o mundo largo e farto...Que na casa materna, a nossa Pátria, não cabiam todos...ou só cabiam alguns. A história, invulgar, deste nosso camarada, vim a descobri-la na Net... Confirma-se que é um militante de causas nobres (Gravuras Rupestres de Foz Coa, Memória de Aristides Sousa Mendes, autodeterminação de Timor Leste e do Sahara Ocidental)" (...).

Em dia de aniversário da nossa Tabanca Grande, o João (e a Vilma) merecia este miminho. Os leitores vão-nos  perdoar: este blogue, não sendo uma revista cor de rosa, é um blogue de partilha de memórias e de emoções. Até à próxima visita ao nosso querido Portugal!... E à próxima caldeirada... não em Porto Gole mas em Porto Dinheiro! (LG).



Um linda história de amor! Dois garndes seres humanos, o João e a Vilma!

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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10930: Os nossos seres, saberes e lazeres (50): A caminho de Auroville, a "cidade do amanhecer", no sul da Índia... Mas se pudesse escolher, era já para Iemberém que eu queria voar (Anabela Pires)ã

Guiné 63/74 - P11447: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (10): Regresso a Samba Cumbera, a sudoeste de Galomaro, 42 anos depois...

1. Mensagem do Rui Felício, com data de 19 do corrente:

Meu Caro Luis Graça,

Retomando uma longa ausência e na sequência dos teus últimos e-mails, deixo à tua consideração a eventualidade de publicação do texto que anexo, rememorando a última das passagens que fiz pela Guiné, esta há cerca de dois anos.

Um abraço

Rui Felicio
[ Ex-Alf Mil Inf,
3º Gr Comb
CCAÇ 2405
Dulombi, 1968/70]


2. Estórias de Dulombo  (10) (*) > Regresso à Guiné

Estava destacado com o meu pelotão em Samba Cumbera, pequena tabanca perdida no mato.

Há dois dias que chovia torrencialmente, sob um céu plúmbeo, abafado, abrasador. Um rio de lama saltitava pelos degraus de terra batida de acesso ao abrigo subterrâneo, coberto com grossos troncos de palmeira, com terra e com chapas de zinco. Lá dentro, precocemente enterrado, eu jazia exausto, fraco, cheio de febre, estendido no colchão de espuma empapado em suor. Em volta da cama de ferro, no lamaçal castanho de uns 10 centímetros formado pela água que entrava no abrigo, boiavam pequenos objectos, uma bota, um cinto, umas chinelas de plástico.

O médico estava na sede do Batalhão a muitos quilómetros de distância e, com a picada intransitável, tornava-se impossível deslocar-me até ele.

Desde anteontem que não comia nada. O estômago não aguentava qualquer bocado de comida, nem sequer a água que de vez em quando eu tentava beber para matar a sede intensa que me secava, expulsando-a em prolongados vómitos. Era a segunda vez em pouco tempo que era acometido por um fortíssimo ataque de paludismo.

O Samba, chefe da tabanca, e a sua jovem e bonita filha Fatwma, assomaram à entrada do abrigo, e ele chamou-me no seu português arrevesado:
- Alfero! Pudi entra? Bo stá milhor?

Resmunguei que estava pior, mas que sim, que podia entrar, e ele curvou-se, desceu para o abrigo, chapinhou no lamaçal e, com um molho de ervas na mão, disse-me:
- Tem mezinho manga di bom, qui bai cura alfero!

A Fatwma começou a esfregar as ervas que o pai lhe dava, na minha testa, nos lábios, no pescoço e no peito, formando com o suor, uma pasta esverdeada à medida que as ia esmagando. Ardia um pouco, mas nada que não se suportasse.

Senti-me psicologicamente melhor. Principalmente porque alguém se preocupava comigo. Com alguém que era um intruso em terra alheia!

No dia seguinte, amainado o temporal, cambaleante, trôpego, consegui enfiar-me no Unimog com meia dúzia de soldados. Vencemos os obstáculos da picada numa viagem lenta e atribulada e chegámos horas depois a Bafatá, onde o médico me deu duas injecções que me aliviaram o mal.

Passados 42 anos, por sinuosos carreiros que a mata invadira há muito e por onde o jeep abria caminho com dificuldade, afastando à sua frente os intrincados ramos da floresta, voltei ontem a Samba Cumbera [, a sudoeste de Galomaro, vd. carta Duas Fontes]. Disseram-me que o Samba já morreu há muitas luas. A Fatwma, abriu um largo sorriso ao reconhecer-me e correu a ir buscar uma cabaça com água fresca. Pareceu-me ver lágrimas nos olhos dela e senti-as também nos meus.
Está velhota a Fatwma, mas ainda é uma mulher muito bonita...

Nota de rodapé:

Tento resumir as características da doença, na minha ignorância médica, sujeita às correcções dos especialistas na matéria, aquilo que nos era ensinado nos manuais militares:

A malária é uma doença potencialmente mortal se não for atacada a tempo. Durante muito tempo supunha-se que a sua causa provinha directamente da proximidade de terrenos pantanosos fétidos e daí o seu nome originário de “mau ar” que redundou em malária. Descobriu-se que, afinal, a causa estava numa bactéria injectada no nosso sangue pela picadela do mosquito “anofelis” que a transporta consigo. O que explica a relação entre esse insecto e o seu habitat perto dos pântanos. Este mosquito alimenta-se exclusivamente do sangue dos mamíferos, razão da sua ferocidade e persistência, ditadas pela sua própria sobrevivência.

A bactéria, acomodada no circuito sanguíneo humano, imune às defesas do organismo, desenvolve-se, destrói paulatinamente os glóbulos vermelhos, ataca o fígado e vai enfraquecendo as resistências, provocando sintomas que na fase inicial da doença se assemelham a uma gripe forte, degenerando em febres altíssimas, vómitos, debilitação geral e prostração física e psicológica.

Na Guiné chamam-lhe paludismo, que deve ser prevenido, com tomas regulares semanais de comprimidos ou injecções de medicamentos elaborados à base de quinino.

Rui Felício - 29/06/2011
( Ex-Alf.Mil. CCAÇ 2405, Galomaro e Dulombi, 1968/70 )
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Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série:

9 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXIX: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (1): O nosso vagomestre Cabral

(...) O Natal aproximava-se… Antes da data prevista, chegara-nos um presente inesperado! Um periquito…. O furriel Cabral foi-nos mandado para substituir o furriel vagomestre, uns meses antes falecido em acidente de viação na estrada de Galomaro-Bafatá numa viagem de reabastecimento de viveres à nossa Companhia… O Cabral era uma jóia de pessoa, simpatiquíssimo, um tanto ingénuo e crédulo, sempre bem disposto e que rapidamente granjeou a estima de todos. (...)


14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVII: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (2): O voo incandescente do Jagudi sobre Madina Xaquili

(...) Ao cair da tarde, com a luz alaranjada do sol a começar a esconder-se na linha do horizonte poente, o Paulo Raposo, alferes da CCAÇ 2405, de quem guardo as mais pistorescas histórias, estava sentado perto do bunker do Capitão, com o olhar fixo num ponto afastado a sul do aquartelamento, perto do arame farpado. Aproximei-me e comentei:
- Eh, pá, não estejas a pensar na morte da bezerra… Já faltou mais e não tarda estaremos em Lisboa a beber umas imperiais e a olhar as bajudas brancas que por lá abundam. (...)


19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXL: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (3): O dia em que o homem foi à lua

(...) 20 de Julho de 1969. Era domingo… Durante todo o dia a rádio ia noticiando a chegada do homem à Lua… A célebre frase do astronauta afirmando que o passo que acabara de dar em solo lunar era um passo de gigante para a humanidade, era escutada repetidamente nos pequenos transístores que nos mantinham ligados ao mundo. Claro que não havia televisão na Guiné e, mesmo que houvesse, jamais seria vista em Samba Cumbera, pequena tabanca onde a luz nos era fornecida através de garrafas de cerveja cheias de petróleo, nas quais se embebiam torcidas de desperdício que, depois de acesas, nos enchiam os pulmões de fuligem e fumo. (...)


5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço

(...) Daí a poucos dias íamos finalmente embarcar em Bissau no Carvalho Araújo para o ansiado regresso… Tínhamos acabado de receber no Dulombi a Companhia de atónitos periquitos que, durante uma semana, iam ficar em sobreposição connosco. Acolhemo-los com o aquele ar superior de guerreiros invencíveis, calejados pelos combates, a pele tisnada dos sóis tropicais, e além das costumadas praxes, meio inofensivas, que exercemos sobre eles, dedicámos-lhes, com a proverbial simpatia característica dos Baixinhos do Dulombi, um hino de recepção ao periquito que ainda hoje cantamos em todos os almoços anuais de comemoração que realizamos. (...)


18 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1085: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (5): O improvisado fato de banho do Alferes Parrot na piscina do QG

(...) Já de si, o apelido originário da ascendência estrangeira da sua Família, o tornava notado. A sua invulgar estatura de quase dois metros, os olhos salientes, o cabelo arruivado, a pele branca e sardenta e o corpo magro, longilíneo e desengonçado, completavam a estranha figura propicia ao sorriso e aos mais díspares comentários. Falo do Parrot, que conheci em Mafra e que fez parte do meu pelotão do 1º Ciclo do COM da incorporação de Abril de 1967. Não era fácil, porém, tirar o Parrot da sua fleumática postura de não te rales, por mais provocações que se lhe tentassem fazer. Ele era a calma personificada, e senhor de uma inteligência fora do comum. (...)


27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1217: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (6): Sinchã Lomá, o Spínola e o alferes que não era parvo de todo

(...) Sinchã Lomá é uma pequena tabanca a Sudoeste de Dulo Gengele e esta por sua vez fica a Sul de Pate Gibel. Quando a CCAÇ 2405 chegou a Galomaro, destacou três dos seus Grupos de Combate para regiões circundantes da sede da Companhia com a missão de marcar posição no terreno e fazer ao mesmo tempo uma espécie de guarda avançada para protecção da Companhia. A mim, coube-me ir para Pate Gibel, a tabanca mais a sul de Galomaro. (...)


8 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1352: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405)(7): Perigos vários, a divisa dos Baixinhos de Dulombi (Rui Felício)

(...) No terço final da comissão, com a Companhia finalmente concentrada no Dulombi, pensou-se em encontrar um emblema e uma divisa para a nossa Unidade. Não deveríamos deixar acabar a comissão sem legar aos vindouros um símbolo que nos identificasse, tal como a maioria das outras unidades já o tinham feito. Acolhida a ideia, estabeleceu-se um período de tempo para que fossem apresentados projectos para futura escolha daquele que merecesse o consenso geral. E assim surgiram meia dúzia de ideias para a o emblema da Companhia. (...)


30 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2073: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (8): O Fula, a galinha e o vestido

(...) Galomaro, Maio de 1981. Passados 11 anos após o regresso da CCAÇ 2405, retornei à Guiné, em 1981, naturalmente já civil, e passei alguns dias em Galomaro onde esteve sediada a Companhia antes da sua deslocação final para o Dulombi. Percorri, de jeep ou de bicicleta, toda aquela região que tão bem conheci por força dos patrulhamentos militares efectuados entre 1968 e 1970. (...)


26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2683: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (9): O Jorge Félix e o Prisioneiro

(...) Num certo dia de Agosto de 1969, o Jorge Félix transportou no seu helicóptero um grupo de paraquedistas que iam fazer um assalto, a uma base do PAIGC, identificada pelos serviços de informações militares da Guiné, como estando localizada na região de Galomaro. Ao procurar local para a aterragem perto do objectivo, em plena mata, o Jorge Félix foi descendo o helicóptero e, a uns 5 metros do chão, a deslocação de ar provocada pelo movimento das pás do aparelho, afastou uma série de ramos de arbustos deixando a descoberto um guerrilheiro do PAIGC que ali se havia emboscado. O homem estava armado com um RPG7, e a granada colocada, apontando para o helicóptero, o que naturalmente deixou em pânico o piloto e os tripulantes. (...).

Guiné 63/74 - P11446: 9º aniversário do nosso blogue: Parabéns (2): Salve, 23 de abril de 2004! Salve, Tabanca Grande e o teu poilão! Salve, todos os nossos autores, colaboradores, leitores! Salve, todos os amigos e camaradas da Guiné! (Miguel Pessoa / Editores)


Infografia: © Miguel Pessoa / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013). Todos os direitos reservados


A belíssima e esmerada  prenda  que nos mandou o Miguel Pessoa... Obrigados, camarada. Os editores



A I Série do nosso blogue começou verdadeiamente com o poste 23 de abril de 2004 > Guiné 69/71 - I : Saudosa(s) madrinha(s) de guerra



A. Saudosa(s) madrinhas(s) de guerra... Este foi o nosso primeiro poste, numerado, não avulso, publicado no dia 23 de Abril de... 2004, no blogue pessoal de Luís Graça, que na altura se chamava muito simplesmente... Blogue-Fora-Nada... (Havia sido criado em 8 de Outubro de 2003).

Diz o fundador do nosso blogue que, no TO da Guiné, quando lá esteve (entre maio de 1969 e março de 1971) não escrevia aerogramas ou cartas para madrinhas de guerra, estando, por isso,  longe de imaginar as consequências deste seu  gesto que veio dar origem depois a um blogue que se pretendia que fosse colectivo, e exclusivamente dedicado à guerra colonial na Guiné e aos seus combatentes...

A partir de então começou a ser apresentado à blogosfera, nestes termos:

blogue-fora-nada. homo socius ergo blogus [sum]. homem social logo blogador. em sociobloguês nos entendemos. o port(ug)al dos (por)tugas. a prova dos blogue-fora-nada. a guerra colonial. a guiné. do chacheu ao boé. de bissau a bambadinca. os cacimbados. o geba. o corubal. os rios. o macaréu da nossa revolta. o humor nosso de cada dia nos dai hoje. lá vamos blogando e rindo. e venham mais cinco (camaradas). e vieram tantos que isto se transformou numa caserna. a maior caserna virtual da Net!

Para a petite histoire, aqui fazemos a reprodução desse primeiro poste que não teve qualquer eco na blogosfera... De resto, nesse ano de 2004, apenas foram publicados 4 (quatro!) postes dedicados à Guiné... Em rigor,  só um ano depois, a partir de 20 de abril de 2005 (, data do poste nº 5...) , é que os assuntos relativos à "nossa Guiné" começaram a surgir com mais frequência do blogue do Luís Graça (1)... E depois em exclusividade.

Na realidade, foi preciso que começasse a aparecer, um ano depois, em Abril de 2005, a malta do triângulo Bambadinca-Xime-Xitole: o Sousa de Castro e o David Guimarães, que são historicamente os dois primeiros membros da nossa tertúlia, além do próprio Luís Graça, claro...

Foi o Sousa de Castro que fez chegar ao fundador do Blogue, em 4 DVD, a reportagem de vídeo feita pelo Albano Costa e seu filho Hugo Costa, por ocasião da sua viagem à Guiné, em grupo, em Novembro de 2000... Depois, em Maio de 2005, começaram a aparecer outros camaradas:

(i) o Humberto Reis, vizinho, amigo e camarada do Luís Graça, que estiveram juntos na CCAÇ 12 (6 de Maio);

(ii) o A. Marques Lopes, de Matosinhos (14 de Maio) ...

(iii) E outros, incluindo  o nosso primeiro "amigo" (, distinto, portanto, de "camarada" de armas), o José Carlos Mussá Biai (10 de Maio), que vivia no Xime, em criança, ao  tempo da CCAÇ 12 (1969/71), companhia africana que era unidade de intervenção ao setor L1 (Bambinca)...

O resto da história sabem-na,  vocês: criámos a nossa tertúlia e o blogue começou a chamar-se Luís Graça & Camaradas da Guiné... Foi um tsunami  de imagens, textos, lugares, recordações, sentimentos e emoções que irrompeu no nosso quotidiano... e que nos tem ajudado a reconstituir/reconstruir o tal puzzle da nossa memória, até então cheio de buracos, alçapões, teias de aranha, armadilhas, fantasmas que, de algum modo, foi preciso exorcisar...

Passados estes anos todos - mais de 3285 dias,  108 meses,  5 comissões de Guiné (de 21  meses cada) - estamos a caminho dos 11500  postes, atingimos  os 611 membros registados formalmente, e em meados de abril de 2013 estávamos com mais de 4,7 milhões de visitas. E por aqui já passou mais gente do aquela que era necessária para formar dois ou três batalhões... Uns demoraram-se mais tem,po, outros passaram a correr, a toque de caixa, outros montaram por aqui a tenda, outros regressam, de tempos a tempos, alguns (uns vinte e tal) já nos deixaram de vez, apanhados pela gadanha da morte... E inimigos ? Não os temos, felizmente que a guerra acabou há muito...

Hoje, não é tempo para grandes comemorações. Deixemo-nos, pois, de discursatas, assinalemos apenas a efeméride, aproveitemos a alegria (breve) e do dia e enfim saudemos os muitos amigos e camaradas da Guiné que, no essencial, se reconhecem neste espaço, o alimentam, o acarinham, o produzem, o divulgam, incluindo todos aqueles que, de um modo simbólico, fazem questão de se sentar aqui, à sombra protetora, fraterna, mágica... do poilão da Tabanca Grande.

Os editores
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(1) Lista dos dez primeiros postes:

23 de abril de 2004 > Guiné 69/71 – I: Saudosa(s) madrinha(s) de guerra (Luís Graça)

25 de abril de 2004 >  Guiné 69/71 - II: Excertos do diário de um tuga (1) (Luís Graça)

28 de abril de 2004 > Guiné 69/71 - III: Excertos do diário de um tuga (2) (Luís Graça)

7 de dezembro de 2004 > Guiné 69/71 - IV: Um Natal Tropical (Luís Graça)

20 de abril de 2005 > Guiné 69/71 - V: Convívio de antigos camaradas de armas de Bambadinca (Luís Graça)

22 de abril de 2005 > Guiné 69/71 - VI: Memórias do Xime, do Rio Geba e do Mato Cão (Sousa de Castro)

25 de abril de 2005 > Guiné 69/71 - VII: Memórias do inferno do Xime (Novembro de 1970) (Luís Graça)

28 de abril de 2005 > Guiné 69/71 - VIII: O sector L1 (Xime-Bambadinca-Xitole): Caracterização (1) (Luís Graça)

29 de abril de 2005 >  Guiné 69/71 - IX: A malta do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole (1) (Luís Graça)





B. Veja-se também o que aqui escrevemos, todos nós (editores, colaboradores, leitores...)  nos anteriores aniversários (, efeméride que só se começou a comemorar a partir de 2010, por iniciativa do nosso infatigável coeditor Carlos Vinhal e do Jorge Félix, outro camarada da primeira hora):

6º aniversário do nosso blogue (2010)

7º aniversário do nosso blogue (2011)

8º aniversário do nosso blogue (2012)

9º aniversário do nosso blogue (2013)

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11385: 9º aniversário do nosso blogue: Parabéns (1): Querido blogue, quão importante foste para mim!... (Ernesto Duarte, ex-fur mil, CCAÇ 1421, Mansabá, 1965/67)

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11445: Efemérides (124): Matosinhos comemorou o Dia do Combatente e o 4.º aniversário do Núcleo da Liga dos Combatentes (Carlos Vinhal)

 
No passado dia 13 de Abril, comemorou-se em Matosinhos o Dia do Combatente e o 4.º aniversário do Núcleo da Liga dos Combatentes deste concelho. 
A iniciativa teve o patrocínio da Câmara Municipal de Matosinhos.


O programa estava divido em duas partes distintas, às 10h30 a Cerimónia Militar de Homenagem aos Combatentes caídos em campanha na guerra do ultramar, que teve lugar no Cemitério de Sendim, junto ao Memorial ali existente, e a sessão solene, às 11h30, no Salão Nobre da Câmara Municipal.

No cemitério estiveram presentes: o senhor Presidente da Câmara, Dr. Guilherme Pinto; o senhor Presidente do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, TenCor Armando Costa, que se fazia acompanhar dos restantes elementos que compõem a Direcção do Núcleo, e o senhor Comandante da Zona Marítima do Norte, Capitão de Mar e Guerra Martins dos Santos.

Além do Porta-Guião da Liga dos Combatentes esteve presente uma Força Militar da Escola Prática de Transmissões e um Terno de Clarins com Caixa de Guerra do Regimento de Artilharia 5.

A cerimónia começou com a deposição de uma coroa de flores na base do Memorial, seguido de um minuto de silêncio e leitura de prece.
Seguiu-se o Toque de Homenagem aos Mortos e para finalizar todos os presentes cantaram o Hino Nacional

Porta-Guião do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, Terno de Clarins e Caixa de Guerra do RA5 e Força Militar da EPT

TenCor Armando Costa da LC, Dr. Guilherme Pinto, Presidente da CMM e o ex-Combatente Ribeiro Agostinho, em momento de recolhimento após a deposição da coroa de flores na base do majestoso Memorial que honra os matosinhenses caídos em campanha na Guerra do Ultramar

Em primeiro plano, da esquerda para a direita: Sarg Ajudante Carlos Osório (LC); Comandante da Zona Marítima do Norte, Cap Mar e Guerra Martins dos Santos; TenCor Armando Costa (LC); Dr. Guilherme Pinto (CMM); Ribeiro Agostinho e Abel Santos (ex-Combatentes)

Força Militar em "Apresentar Armas"
Foto cedida pela Liga dos Combatentes

Momento em que era lida a prece pelo Sarg Ajudante Joaquim Oliveira da Liga dos Combatentes. Em primeiro plano o Sarg Mor Naldinho também da LC.

Um aspecto da assistência

Cabe aqui um pequeno (mas grande) comentário. Propalamos à boca cheia o direito ao respeito e à dignificação que nos são devidos, mas quando é preciso dizer PRESENTE, são sempre os mesmos a dar a cara, quer os que organizam quer os que comparecem.

Momento sempre arrepiante porque sentido, o Toque de Homenagem aos Mortos. Por feliz coincidência, na gravura por trás, uma mulher que parece chorar alguém

A cerimónia no cemitério terminou com as pessoas presentes a cantarem "A Portuguesa"

De acordo com o programa estabelecido, pelas 11h30 iniciou-se a Sessão Solene no Salão Nobre da Câmara de Matosinhos, presidida pelo Senhor Presidente Dr. Guilherme Pinto.

Em primeiro lugar foi dada a palavra ao ex-Combatente Ribeiro Agostinho que, mais uma vez, fez sentir à autarquia a necessidade de se eregir um monumento ao esforço dos jovens matosinhenses dos anos 60 e 70 que foram mobilizados para uma guerra travada em três frentes, na altura solo pátrio, na distante África. É urgente, porque muitos já faleceram sem terem visto esse reconhecimento. Uma simples pedra e uma rua, não queremos muito mais.

O ex-Combatente Ribeiro Agostinho no uso da palavra

Seguidamente foi dada a palavra ao Presidente do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, senhor TenCor Armando Costa, que se congratulou com a cedência, pela Câmara Municipal, do novo espaço para instalação da sede do Núcleo e pelas obras prometidas para as tornar ainda mais dignas e acolhedoras para quem lá passa o dia disponível para atender os associados e para criar condições para as consultas médicas gratuitas ali prestadas aos ex-combatentes que delas necessitem.
Salientou o papel que a Liga tem no apoio aos combatentes e da necessidade de estes se tornarem sócios. Nestes quatro anos de vida tem já este Núcleo obra feita, mas muito mais há para fazer. Precisa-se da colaboração de todos porque todos não seremos muitos.  

Falou ainda do andamento das conversações entre a Liga dos Combatentes e a Câmara Municipal de Matosinhos, na pessoa do Dr. Guilherme Pinto, que levarão a escolher um local para se eregir no mais curto espaço de tempo possível o almejado monumento aos combatentes da Guerra do Ultramar e uma rua que também os perpetuará.

Dissertou também sobre o papel das Forças Armadas Portuguesas desde a I Grande Guerra, passando pela Guerra de África, até à actualidade. Homens e mulheres de Portugal, em armas ou na paz, honraram e honram o seu país.

O senhor TenCor Armando Costa no uso da palavra

Finalmente usou da palavra o senhor Dr. Guilherme Pinto, Edil de Matosinhos, que como é seu costume falou de improviso, começando por "pedir desculpa" por não ter idade para ser nosso camarada. Disse não conseguir imaginar o que passámos enquanto combatentes. Pede-nos que sejamos o exemplo para a juventude actual, nós lutamos na guerra, em África, em nome de Portugal e a juventude de hoje tem de lutar em Portugal para tornar este país mais próspero e fazer esquecer este tempo de desânimo colectivo.

Prometeu-nos tudo fazer para que em breve possamos ver o prometido monumento ao nosso esforço de guerra, porque merecemos e nos é devido. Os tempos vão difíceis, as solicitações são muitas, mas tudo se há-de resolver. As relações com o Núcleo de Matosinhos da LC são as mais cordiais e o TenCor Armando Costa um óptimo interlocutor. Assim não custa trabalhar.

O Dr. Guilherme Pinto falando aos presentes

Seguiu-se a entrega de Testemunhos de Apreço aos associados da LC com mais de 40 anos de sócio e a imposição de Medalhas Comemorativas das Campanhas a três ex-Combatentes: Emílio Teixeira Silva, Afonso Silva Lourenço e Rodolfo Mesquita.

Um dos camaradas a quem foi entregue o Testemunho de Apreço pelos seus 40 anos de sócio da Liga dos Combatentes

Os três camaradas a quem foram impostas as Medalhas Comemorativas das Campanhas. À direita da foto o Dr. Rodolfo Mesquita, Presidente da Junta de Freguesia de Lavra, uma das 10 freguesias deste concelho
Foto cedida pela Liga dos Combatentes

Para terminar em grande a Comemoração do Dia do Combatente e do 4.º aniversário do Núcleo, com o Salão Nobre praticamente esgotado, actuou a Banda Militar do Porto sob a batuta do Maestro, senhor Capitão Alexandre Lopes Coelho. Foram interpretadas as obras Hanover Festival, de Philip Sparke; Wild Nights, de Frank Ticheli; Et In Terra Pax, de Ian Van Der Roost; Heroes, Last and Fallen (A Vietnam Memorial), de David R. Gillingham, e para finalizar a sua actuação, interpretou Awayday, de Adam Gorb.

A Banda Militar do Porto durante a sua actuação

De salientar a boa acústica deste Salão Nobre onde tem actuado com regularidade o Quarteto de Cordas de Matosinhos e o pianista António Rosado.

Nunca tinha tido a experiência de ouvir, neste salão, uma orquestra em que os metais (instrumentos de sopro) mais se evidenciam, cujos sons que chegaram aos nossos ouvidos sem distorção e sem eco. Um excelente momento.

A assistência abandonou o Salão Nobre para se dirigir para o andar inferior onde foi servido um Porto de Honra em clima informal e descontraído, a que o editor já não assistiu por ter de ir para outro convívio, o da Tabanca dos Melros. Noblesse Oblige.

 Porto de Honra
Foto cedida pela Liga dos Combatentes


Texto, fotos e legendas: © Carlos Vinhal (2013). Todos os direitos reservados
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Nota do editor:

Último poste da série de 21 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11439: Efemérides (123): O Núcleo de Lagoa da Liga dos Combatentes levou a efeito no passado dia 9 de Abril a Comemoração do Dia do Combatente (Arménio Estorninho)

Guiné 63/74 - P11444: Notas de leitura (474): Um Império de Papel, por Leonor Pires Martins (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Dezembro de 2012:

Queridos amigos,
“Um Império Papel” é uma agradável surpresa, tem uma apresentação gráfica irrepreensível, não há leitor que não fique suspenso da seleção de imagens, tudo a propósito e com elevado vigor ilustrativo, fica-se com uma visão abrangente da iconografia imperial que vai desde a redescoberta de África, a partir dos anos 70 do século XIX até ao clímax que foi a Exposição do Mundo Português, em 1940.
A autora é antropóloga e move-se bem nas suas explanações quanto ao valor das publicações, como elas contribuíram para imaginar o Império, revelando exotismo, empreendimentos de progresso, mostrando a ocupação do mato bravio, a “civilização” dos autóctones, etc.
Assim se montou uma ficção que ajudou a produzir novas ficções, onde fomos figurantes, umas décadas atrás.

Um abraço do
Mário


Um império é uma nação em excesso

Beja Santos

“Um Império de Papel, Imagens do Colonialismo Português na Imprensa Periódica Ilustrada (1875-1940)”, por Leonor Pires Martins, Edições 70, 2012, é uma belíssima obra correspondente a um levantamento exemplar das imagens de uma África até então praticamente desconhecida do grande público; os portugueses, por razões de autoestima, também queriam participar na euforia da descoberta ou revelação de África. Esse é o grande significado que encontramos nestas imagens.

Obra de uma antropóloga, ela soube selecionar com esmero e oportunidade representações visuais do Império entre milhentas páginas de jornais e revistas. Claro que este imaginário da novel representação do Império transcende jornais e revistas, dissemina-se também por relatos de exploração e viagem, livros de temática colonial, alguns fotográficos, postais ilustrados, gravuras, pinturas, selos, embalagens de produtos e muito mais. Assim se procurava vincar a relação de Portugal e as parcelas do seu império. A autora explica-nos o âmbito do seu trabalho: “As imagens reunidas incluem reproduções de gravuras, pinturas, fotografias, desenhos, cartunes, caricaturas e alguns anúncios publicitários. Os temas vão desde a representação de paisagens e lugares «exóticos», com as suas populações nativas, ao tratamento humorístico de acontecimentos do foro da política e da diplomacia coloniais. Os retratos de colonos europeus e de outros «agentes do Império» (exploradores, missionários, funcionários da administração colonial, caçadores), assim como as imagens que apontam para uma ideia de progresso associada à construção de novas infraestruturas e edifícios por parte do poder colonial, constituem, também, motivos temáticos na vasta iconografia alusiva ao Império, publicada na imprensa periódica”.

Como é compreensível, as imagens sobre a Guiné têm um carácter residual, importa nunca esquecer que a Constituição liberal nunca fala da Guiné mas de Bissau e Cacheu. As parcelas dominantes nestas ilustrações são sempre Angola e Moçambique, é para aí que se emigra, são estes os territórios a desbravar, é aqui que estão os recursos preciosos que importa explorar, é aqui que se impõe suster os apetites britânicos e alemães. No entanto vamos encontrar imagens muito representativas sobre a Guiné. A revista O Ocidente publica em Novembro de 1909, a propósito da rebelião do Cuor para a qual se mobilizaram largos recursos que irão, através do Geba, destituir Infali Soncó e intimidar outros régulos rebeldes, imagens de Bissau como seja uma vista do porto, o edifício da Alfândega, a rua da Praia (a futura Avenida Marginal) e uma vista de Bissau, correspondente ao que conhecemos pelo Bissau velho virada para o Pidjiquiti. Os guinéus fizeram furor na Exposição Colonial de 1934, o pintor Eduardo Malta retratou alguns dos participantes, como o régulo Mamadu Sissé, amigo devoto de Teixeira Pinto, aparece a Rosinha, uma bonita Fula de peito à mostra a segurar a bandeira portuguesa junto do monumento “Ao esforço colonizador”, a fotografia surge acompanhada pela seguinte legenda: “Negra muito embora, portuguesa de lei – ei-la empunhando a bandeira verde-rubra que domina todo o Império”. No número da revista O Ocidente de 1891, aparece o forte de Cacheu com caçadores e artilheiros da guarnição, trata-se de um desenho de Domingos Cazellas a partir de uma fotografia. A revista Ilustração Portuguesa, num seu número de Junho de 1908, mostra as operações militares no Cuor, tropas a cavalo e soldados guineenses a pé com arma a tiracolo.

A Grande Exposição Industrial Portuguesa, que se realizou no Pavilhão dos Desportos de Lisboa, em 1932 trazia com grande novidade um grupo de guineenses que fiou instalado numa “aldeia indígena” construída no Parque Eduardo VII. A revista Ilustração, número de Outubro de 1932, mostra o ministro das Colónias Armindo Monteiro rodeado da sua comitiva, fotografado com vários régulos, vêem-se cobatas ao fundo, aparecem outras fotografias com mulheres e homens Fulas, foram um verdadeiro chamariz para os muitos curiosos que vieram ver gente seminua. Armindo Monteiro irá admoestar Henrique Calvão a propósito da Exposição Colonial de 1934, recebera inúmeras críticas para as “poucas-vergonhas” daqueles Bijagós bem desnudados que se passeavam calmamente à volta do Palácio de Cristal, no Porto. Segundo a autora, a I Exposição Colonial Portuguesa foi a primeira grande iniciativa do Estado Novo apostada na massificação da consciência imperial. Não era a primeira vez que se fazia a exposição de mostras das produções coloniais e populações, o que agora se ensaiava era a representação etnográfica das províncias da metrópole dentro da exposição colonial: o cortejo colonial que marcou o encerramento da exposição procurava mostrar a grandeza histórica e territorial da nação, o que permitiu a mistura do Vinho do Porto com Bijagós e Balantas e o desfile de búfalos, pacaças, bois da Guiné e um camelo. A Exposição do Mundo Português acabará por se constituir como uma mostra das diferentes parcelas do Império e, bem entendido, a Guiné compareceu com as suas aldeias indígenas que suscitaram imensa curiosidade.

Voltando ao miolo do livro “Um Império de Papel”, o ponto de partida, 1875, não foi escolhido ao acaso, foi o ano da criação da Sociedade de Geografia de Lisboa, tal como o da chegada, 1940, em Lisboa ocorreu um grandioso evento do regime, a “Exposição do Mundo Português”, nele se fez farta referência às parcelas do Império, aparecia como uma apoteose de um pequeno país derramado por vários continentes, era o palco escolhido, em plena II Guerra Mundial, para se mostrar ao mundo o Portugal imperial.

A autora procede ao enquadramento histórico das imagens, tudo começa pela necessidade premente de ocupar fisicamente o território, a Conferência de Berlim tornou essa ocupação categórica, e enquanto se descobre África mostram-se as imagens correspondentes, os seus protagonistas principais são Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens e Henrique Dias de Carvalho, procura-se determinar uma rota comercial que ligasse Angola a Moçambique; a missão de Dias de Carvalho é igualmente fundamental, ele vai até ao império Lunda, território úbere em matérias-primas como o marfim, a cera e a borracha, isto no exato momento em que as grandes potências coloniais europeias começavam a atribuir menos importância às vias comerciais terrestres e mais ao estabelecimento da navegação a vapor dos rios das regiões centrais africanas e na construção de linhas férreas. Serão sobretudo as viagens e os exploradores Capelo, Ivens e Serpa Pinto a merecer grande publicitação.

A autora refere a existência de revistas que tiveram um grande desempenho divulgativo, caso da revista O Ocidente e do jornal À Volta do Mundo. Com exuberância, vemos avenidas na cidade da Beira, pontes sobre o rio local ou no distrito de Benguela, ilustrações dos grandes exploradores e suas comitivas, o lustre das suas conferências e jantares de homenagem ou até mesmo receções apoteóticas aos exploradores. E neste contexto emerge o exotismo, reis africanos sentados nos seus tronos, os perigos que comportam as florestas, perfis dos diferentes povos, imagens de rara beleza e em contraste, a seguir ao Ultimato Britânico (1890) mostra-se a atitude torcionária das autoridades britânicas, pondo povos à fome ou fazendo execuções sumárias. Também aparecem desenhos de Bordalo Pinheiro a caricaturar a subserviência dos governantes portugueses face ao poder britânico. O António Maria tem desenhos magistrais, inesquecíveis. O conflito luso-britânico motivado pelo Mapa Cor-de-rosa desencadeia protestos, a começar pela cobertura da estátua de Camões com crepes, seguindo-se a agitação popular e a resposta ditada pela ocupação militar que tem o seu ponto alto pela prisão de Gungunhana, o senhor dos Vátuas, por Mouzinho de Albuquerque. Dentro da diatribe política, um grande desenhador que teve vida efémera, Celso Hermínio, para caricaturar João Franco mostrou-o como “O Gungunhana de cá”.

A ocupação efetiva vem profusamente ilustrada, chegou a hora das visitas de Estado; em 1907, o príncipe D. Luís Filipe faz uma visita a parcelas do Império, todas elas reproduzidas nas revistas e jornais da época. Mas a África pitoresca vai merecendo cada vez mais destaque na imprensa. Como a autora observa, se é verdade que até ao final da I República não existiram projetos políticos e culturais mais ou menos concertados com vista à produção de iconografia alusiva aos domínios portugueses no continente africano, não se pode iludir que a divulgação de iniciativas avulsas já aparecia enquadrada no esforço de vulgarizar a África portuguesa: fauna e flora, recursos hídricos, crescimento ou fundação de lugares, as ilustrações vão revelando o casario e as populações autóctones. A este propósito, a autora fala-nos de um caso singular, o fotógrafo Cunha Moraes, um homem dos sete ofícios que se irá instalar em Luanda e ganhará notoriedade pela sua atividade fotográfica sobretudo em Angola e S. Tomé. Ele foi um fotógrafo andarilho, por vezes integrava-se em caravanas de exploradores e sertanejos, é o exemplo acabado do fotógrafo-viajante, intrépido e solitário. Em meados da década de 1880, Cunha Moraes já tinha realizado mais de 800 fotografias de África: imagens de paisagens, rios, vistas e espaços urbanos, “tipos indígenas”, chefes nativos, fazendas agrícolas, missões religiosas, colonos, caçadas, etc.

E temos também as ideias de progresso, que acabavam por contrariar as de decadentismo, tão propaladas pela Geração de 70, era um nunca mais acabar de imagens de construção e da “civilização” dos nativos, estes em escolas ou à frente das bandas de música, por exemplo, ilustrações de comboios, de igrejas, de monumentos. A “África branca” é já uma projeção do regime do Estado Novo, as colónias de África eram “um Portugal ultramarino onde a população portuguesa se iria fixar para viver, era esta a sua missão histórica”. O povoamento branco e os seus estabelecimentos seriam o modelo a adotar para as possessões africanas. Com uma certa regularidade, essa ocupação colonial tem que ser feita a ferro e fogo, são as chamadas operações de pacificação, tanto nos tempos da monarquia como a da I República. O herói Teixeira Pinto não consta desta imagens de “Um Império de Papel”.

O Estado Novo cria um punhado de publicações difundidas pela Agência Geral das Colónias, assim se entendia a propaganda do nosso património colonial, contribuía-se para o engrandecimento da imagem imperial mas também se incentivava ao estudo da suas riquezas exaltando a capacidade colonizadora dos portugueses, este espírito acompanha a participação de Portugal em exposições e no fomento da presença africana nas exposições coloniais que ocorreram em Portugal nos anos 30 e depois nesse pico alto que foi a Exposição do Mundo Português.

Um livro de elevada qualidade gráfica que sintetiza o império de papel por onde se difundiu a mística e o mito imperiais.
Documento obrigatório para o estudo do colonialismo português.
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Nota do editor:

Último poste da série de 19 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11424: Notas de leitura (473): O Sistema Colonial Português em África (meados do século XX), por Armando Castro (Mário Beja Santos)