Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Guiné 63/74 - P13665: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (2): 3 de Agosto de 1959
1. Publicação da segunda parte do trabalho de pesquisa e compilação do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), que diz respeito aos últimos 5517 dias de luta pela independência da então Guiné Portuguesa.
(Continua)
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Nota do editor
Primeiro poste da série de 28 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13660: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (1): Preâmbulo e O Início
Guiné 63/74 - P13664: Notas de leitura (636): “Adeus, Bissau!", A ternura de um conto à volta da guerra civil de 1998-1999 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Setembro de 2014:
Queridos amigos,
Nada fazia supor, naquele fim de tarde chuviscoso a prenunciar Outono que iria encontrar numa publicação do Clube Militar Naval um conto tão pungente, tão tocante, evocativo da reconciliação luso-guineense, a propósito da guerra civil de 1998-1999.
Esta é a dimensão mais agradável que assiste ao andarilho que pesquisa assuntos, coisas de todo o tipo e objetos de toda a sorte que aponta para a Guiné, aquela que foi a primeira colónia moderna de um mundo que se chamou moderno e aonde se decidiu que Portugal não podia continuar a fechar os olhos ao imperativo da emancipação dos povos.
Desculpem o texto ser um pouco maior que é costume, mas este conto naval perderia se fosse cindido, as boas, genuínas emoções não se podem lotear.
Um abraço do
Mário
Adeus, Bissau!
A ternura de um conto à volta da guerra civil de 1998-1999
Beja Santos
Deve haver inúmeros métodos para pesquisar pepitas guineenses, ou seja, encontrar em alfarrábios, em estancos da Feira da Ladra, vendas na via pública e aparentados, o meu método deve ser o mais singelo: quem vê caras não vê corações, não frontispício que me demova, não é a primeira vez que sou engando pelas capas, tem que se ler sempre o índice das revistas, espiolhar, não esmorecer, vai-se à caça sem o propósito deliberado de trazer umas galinholas para casa – é este o princípio básico, está disponível para regressar de mãos vazias. Assim procedo quando, por exemplo, entro num alfarrabista na Rua das Portas de Santo Antão, contíguo ao Palácio da Independência, tem uma banca com publicações a 1€, há de tudo, desde o romance policial, literatura de viagens, catálogos de leilões, livros de relações internacionais e tudo aquilo que é esperável encontrar quando os herdeiros se desfazem de bibliotecas. Naquele fim de tarde, a sorte estava do meu lado, ao pegar num número de 1999 dos Anais do Clube Militar Naval era impensável ir encontrar, redigido por um oficial da Armada um conto enternecedor, sabe-se lá se este Primeiro-tenente Jorge Manuel Moreira Silva não presenciou tudo o que passou à ficção, e que ele chama conto naval. É uma bela achega para a literatura luso-guineense e é acima de tudo um comovente apelo à reconciliação entre todos aqueles que combateram na Guiné. Vamos aos factos, ao conto:
Adeus, Bissau!
Há vinte e quatro anos uma criança corria, desamparada, pelas ruas de Bissau. Desencontrada da mãe, buscava, em vão, amparo na multidão de rostos estranhos que a envolvia, no turbilhão dos acontecimentos. Se nalgumas apenas via medo, outros lhe surgiam, ameaçadores, pela frente, gritando “Vai para a tua terra! Vai para casa!”, só que não lhe diziam como. Ir para casa era o que mais desejava, porque não a deixavam, então fazê-lo como habitualmente, em sossego, na companhia da mãe? À sua volta tudo era gritos e correrias, pelo que nenhum apoio poderia, jamais, encontrar na debandada de gente que apenas buscava a sua própria segurança. Choviam pedras e insultos, ninguém sabia como tudo aquilo iria acabar…
Esbarrou em alguém… Um Negro alto, de camuflado, barrava-lhe a passagem. “Andas perdido, menino?”. Correspondia à descrição feita pelo pai dos temíveis turras que encontrava no mato, mas o seu aspeto era jovem e os seus olhos eram fundos, sinceros, cheio de compaixão.
- Não me faça mal, Senhor Turra! – Suplicou o petiz. – Eu só quero ir para casa.
O negro de camuflado permaneceu sério durante breves segundos, depois esbugalhou os olhos e a sua boca abriu-se numa gargalhada franca moldada por duas impecáveis fileiras de dentes.
- Senhor Turra, eh? – Exclamou. – Não tem medo, menino, que Senhor Turra não te faz mal.
O seu rosto retomou, então, a seriedade inicial e os seus olhos fixaram a linha do horizonte.
– Tua casa não é aqui, menino, fica longe. Estas casa e estas terra são de nós, mas Senhor Turra vai deixar-te a caminho…
Sentiu aquelas palavras como um soco dado no peito. Como podia aquele homem afirmar que não era a sua casa onde sempre vivera e que não passava, agora, de um estranho na única terra que jamais conhecera? Todo o seu pequeno mundo ruía na crueza demolidora daquelas frases.
Caminharam, por longos minutos, entre a multidão assustada, até à beira da estrada que seguia para Bissalanca.
- Vê aquele monte de branco? – Perguntou o guerrilheiro, apontando um grupo de refugiados a caminho do aeroporto. – Segue com eles, para ver tua mãe e voltar para casa. – E passando-lhe a mão pela cabeça, o rosto de novo aberto numa expressão de afeto: - Toma cuidado, menino.
Foi recolhido pelo grupo, nele reconhecendo, de imediato, alguns dos seus vizinhos. Já no aeroporto, foi entregue à mãe, que chorava. O pequeno não sabia se era a alegria do reencontro, os cuidados pelo pai, que ficava para trás, no mato, ou já a saudade de tudo aquilo a que chamara seu e que se via obrigada a virar costas.
Hoje o menino há muito que o não é. Esquecida que ficou, nas teias do tempo, a promessa de que jamais iria combater, orgulha-se, agora, do seu alvo uniforme de oficial de Marinha. Empenhado numa ação de representação junto de um navio estrangeiro, não se apercebe, na azáfama das comemorações do Dia de Portugal, de que na terra que o viu nascer as armas voltaram, uma vez mais, a falar. E só se inteira da gravidade da situação quando o telefonema urgente de um camarada o vem acordar para um novo pesadelo:
- Tens de te apresentar a bordo imediatamente. Houve um golpe militar na Guiné-Bissau e temos que lá ir evacuar os cidadãos portugueses que pretendam regressar.
As duas corvetas sulcam, agora, as águas lamacentas do Geba, rumo a Bissau. Nunca pudera imaginar que a situação fosse evoluir tão rapidamente. E agora? Como reagirá se, ao chegar, a força for acolhida com fogo de morteiro? Vacilará? Portar-se-á como o herói que sempre sonhou ser? Talvez tudo corra de um modo calmo mas a espera não deixa de ser angustiante. Arde a margem norte junto a Brá e Bissalanca e soa seco o matraquear das armas ligeiras, entrecortado pelo estrondo surdo da morteirada. Bissau está à vista e também a “Vasco da Gama” que, fundeada a uma distância segura da margem, se prepara para suspender e efetuar a aproximação. Parte, do Comandante da força, a ordem para os três navios se aproximarem em simultâneo. É o tudo ou nada… A tensão cresce, de súbito, e precipita-se num só instante, o instante em que o navio-chefe se cruza com os outros dois e as três guarnições se saúdam num grito entusiástico e emotivo que poderá bem ser o último… É chegado o momento. As posições são ocupadas a escassas centenas de jardas do cais e já os três ferros unham no fundo de areia lodosa. Tudo decorreu sem incidentes, apesar de um projétil isolado ter caído entre a “Vasco da Gama” e uma das corvetas.
Os botes largam e dirigem-se para o cais onde já se apinha uma considerável multidão. São cerca de setecentos, de acordo com os números fornecidos pela embaixada, mas os que ali se acotovelam são, de certeza, muitos mais. Os homens desembarcam e o jovem oficial dirige-se a um capitão do Exército Português que coordena as operações em terra, juntamente com um sargento senegalês.
- É melhor despacharem-se. – Aconselha o capitão. – A maior parte da população já sabe que vocês cá estão e vai querer ir também. Nós temo-los aguentado até agora, só não sei quanto mais tempo conseguiremos…
A um sinal do oficial, os fuzileiros tomam posição junto à navegação do cais que ameaça ceder face à pressão da multidão. É feita a primeira triagem, de acordo com as prioridades: Portugueses, cidadãos da União Europeia, Cabo-verdianos e, por fim, Guineenses com o visto da embaixada portuguesa. Os botes dão início às primeiras carreiras.
O silêncio é bruscamente interrompido por um estrondo: um projétil de artilharia caiu no centro da cidade e outros dois se seguem, desta vez na periferia do porto. As mulheres e as crianças gritam e os homens tentam, com mais insistência, forçar a vedação, levando os Senegaleses a distribuir bastonadas. Os fuzileiros colocam, instintivamente as armas em posição de fogo, mas a atenção do oficial é desviada por um homem de meia-idade, alto, de olhar profundo e triste que mantinha a serenidade no meio do pânico geral. De onde conhecia ele aquele olhar? Por breves instantes, e sem saber como, voltou a ser um menino desamparado entre uma multidão em debandada, buscando proteção naquele olhar.
- Tragam aquele homem. – Ordenou quando voltou a si. – Vejam se ele tem o visto.
- O senhor faz-me lembrar alguém que em tempos conheci por estas paragens…
Em pé, no convés de voo da corveta, o homem foi bruscamente arrancado às suas divagações, mas não pareceu demasiado surpreso com esta abordagem.
- Está a falar comigo, Senhor Oficial?
- Parece que sim, uma vez que o senhor é o único que não correu a abrigar-se do temporal que aí vem.
- Seu refeitório é muito apertado para toda esta gente. Prefiro dar lugar às mulher e criança, que eu já estou habituado a dormir no mato, debaixo de chuva.
- Isto confirma a minha suspeita. Já foi guerrilheiro?!
O homem suspirou profundamente.
- Naquele tempo era toda gente, unida na mesma causa. Nós lutava, nós morria, mas era feliz, por ser irmãos uns dos outros e acreditar na liberdade e união. Hoje, Camarada Amílcar Cabral ficaria triste, como eu, de ver seu sonho todo destruído.
- Ânimo, tudo se há de compor. Deixou lá família!
O homem baixou os olhos.
- Mulher e filha… Ficaram soterrada quando casa ruiu às três dia.
- Lamento… É por isso que parte, por não ter já nada que o prenda àquela terra?
Ergueu o rosto, de repente, e o seu olhar ganhou nova vivacidade.
- Não, senhor. Quero voltar. Aquela ainda é a minha terra, lutei muito por ela e não a vou largar. Fico triste de ver os meus irmão uns contra outros e vou embora para não ter de combater alguns deles, mas, se guerra acabar, hei de voltar, sim.
Respirou fiando, para recuperar o fôlego, e continuou, mais pausadamente:
- Sabe, Senhor Oficial, Guiné é muito pequena, mas tem gente muito diferente, tem Mandinga, Fula, Balanta, Bijagó, Papel, Felupe, e todos aprenderam a se dar bem. Foi isso que permitiu nossa liberdade contra potência mais forte e é isso que vai trazer paz de volta, não a interferência do estrangeiro. Paz será quando Povo quiser, percebe?
- Eu sei. O meu pai costumava dizer que vocês eram um inimigo terrível, por serem muito unidos…
O velho guerreiro pareceu interessado nestas últimas palavras.
- Seu pai combateu na Guiné?
- Sim, de 68 a 70. – Quando eu nasci, e de 73 a 74.
- Ah, é dessa altura que diz conhecer-me?
- Exatamente. O senhor é igualzinho a um guerrilheiro que me ajudou a sair de Bissau quando tivemos de vir embora. Não se lembra de ter encontrado um rapazinho perdido nas ruas?
O homem saltou uma saudável gargalhada, mostrando-se pela primeira vez bem-disposto.
- Por isso você me ajudou, mesmo sem eu ter o visto… Mas pode estar enganado. Já passou tanto tempo… Não lembro de menino nenhum. Tinha outra coisa importante para preocupar.
Já as primeiras gotas de chuva borrifavam os dois interlocutores.
- Pense nisso. – Pediu o oficial. – Quando vi o centro de Bissau a arder senti reavivar uma antiga ferida, como se me estivessem a expulsar novamente de casa. Então vi-o, a si, naquele cais e senti de novo a proteção do meu amigo turra.
E recolheu ao interior do navio. O homem deixou-se ficar à chuva, entregue aos seus pensamentos.
Ao tocar o cais da cidade da Praia, a multidão de refugiados precipitou-se para a tolda, atulhando-a de sacos e mochilas de várias cores. Aguardava-os uma equipa da Cruz Vermelha de Cabo Verde e um cordão policial controlava os movimentos na muralha, onde vários autocarros se alinhavam para os transportar ao aeroporto.
O antigo guerrilheiro veio despedir-se.
- Vai para Lisboa? – Perguntou o jovem oficial.
- Não, fico por cá, na companhia dos irmão cabo-verdiano, à espera que tudo se resolva.
- Não perca a esperança. Mantenha a fé no seu povo…
- Não perdi uma nem outra. Veja caso de nós dois: ontem combati seu pai, hoje você vem como amigo. Ontem você teve de fugir de sua casa, hoje tive eu, mas quando voltar minha casa será também sua porque sua já voltou a ser terra de Guiné. Como vê, nem tudo está mal… - E, após uns instantes de silêncio: - Obrigado ter-me ajudado.
- Obrigado por me ter encontrado mais uma vez. – E quando o homem já ia a virar costas: - Adeus, Senhor Turra.
Aquele voltou-se novamente e, rosto aberto numa expressão de afeto, colocou a mão no ombro do seu jovem amigo.
- Toma cuidado, menino.
Ao sair a prancha, o velho guerrilheiro levava marejados os olhos negros e profundos, mas sorria, pois acabava de se aperceber que, apesar dos percalços, ainda havia esperança para o grande sonho do Camarada Cabral.
Há vinte e quatro anos uma criança corria, desamparada, pelas ruas de Bissau. Hoje a criança não mais o é, mas voltou a ser feliz, porque quem antes a mandara para longe veio a tornar-se num amigo, um amigo necessitado que, longe de cobrar antigos favores, a ajudou, finalmente, a voltar para casa.
Aqui acaba o conto. Já o li duas vezes, sentado numa cadeira incómoda numa sala em penumbra, num fim de tarde que anuncia o Outono. Choraminguei, como alguém neste conto naval. Estou consolado por tanta surpresa. Até pelo facto da capa nada sugerir sobre a Guiné.
A fotografia deste número dos Anais do Clube Militar Naval mostra o primeiro-tenente Fernando Augusto Branco, imediato do primeiro submersível da Marinha portuguesa, o Espadarte, e avô materno do antigo Presidente da República Jorge Sampaio.
Mais outra surpresa.
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Nota do editor
Último poste da série de 26 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13652: Notas de leitura (635): “Vamos", por Jacinto Lucas Pires (2) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Nada fazia supor, naquele fim de tarde chuviscoso a prenunciar Outono que iria encontrar numa publicação do Clube Militar Naval um conto tão pungente, tão tocante, evocativo da reconciliação luso-guineense, a propósito da guerra civil de 1998-1999.
Esta é a dimensão mais agradável que assiste ao andarilho que pesquisa assuntos, coisas de todo o tipo e objetos de toda a sorte que aponta para a Guiné, aquela que foi a primeira colónia moderna de um mundo que se chamou moderno e aonde se decidiu que Portugal não podia continuar a fechar os olhos ao imperativo da emancipação dos povos.
Desculpem o texto ser um pouco maior que é costume, mas este conto naval perderia se fosse cindido, as boas, genuínas emoções não se podem lotear.
Um abraço do
Mário
Adeus, Bissau!
A ternura de um conto à volta da guerra civil de 1998-1999
Beja Santos
Deve haver inúmeros métodos para pesquisar pepitas guineenses, ou seja, encontrar em alfarrábios, em estancos da Feira da Ladra, vendas na via pública e aparentados, o meu método deve ser o mais singelo: quem vê caras não vê corações, não frontispício que me demova, não é a primeira vez que sou engando pelas capas, tem que se ler sempre o índice das revistas, espiolhar, não esmorecer, vai-se à caça sem o propósito deliberado de trazer umas galinholas para casa – é este o princípio básico, está disponível para regressar de mãos vazias. Assim procedo quando, por exemplo, entro num alfarrabista na Rua das Portas de Santo Antão, contíguo ao Palácio da Independência, tem uma banca com publicações a 1€, há de tudo, desde o romance policial, literatura de viagens, catálogos de leilões, livros de relações internacionais e tudo aquilo que é esperável encontrar quando os herdeiros se desfazem de bibliotecas. Naquele fim de tarde, a sorte estava do meu lado, ao pegar num número de 1999 dos Anais do Clube Militar Naval era impensável ir encontrar, redigido por um oficial da Armada um conto enternecedor, sabe-se lá se este Primeiro-tenente Jorge Manuel Moreira Silva não presenciou tudo o que passou à ficção, e que ele chama conto naval. É uma bela achega para a literatura luso-guineense e é acima de tudo um comovente apelo à reconciliação entre todos aqueles que combateram na Guiné. Vamos aos factos, ao conto:
Adeus, Bissau!
Há vinte e quatro anos uma criança corria, desamparada, pelas ruas de Bissau. Desencontrada da mãe, buscava, em vão, amparo na multidão de rostos estranhos que a envolvia, no turbilhão dos acontecimentos. Se nalgumas apenas via medo, outros lhe surgiam, ameaçadores, pela frente, gritando “Vai para a tua terra! Vai para casa!”, só que não lhe diziam como. Ir para casa era o que mais desejava, porque não a deixavam, então fazê-lo como habitualmente, em sossego, na companhia da mãe? À sua volta tudo era gritos e correrias, pelo que nenhum apoio poderia, jamais, encontrar na debandada de gente que apenas buscava a sua própria segurança. Choviam pedras e insultos, ninguém sabia como tudo aquilo iria acabar…
Esbarrou em alguém… Um Negro alto, de camuflado, barrava-lhe a passagem. “Andas perdido, menino?”. Correspondia à descrição feita pelo pai dos temíveis turras que encontrava no mato, mas o seu aspeto era jovem e os seus olhos eram fundos, sinceros, cheio de compaixão.
- Não me faça mal, Senhor Turra! – Suplicou o petiz. – Eu só quero ir para casa.
O negro de camuflado permaneceu sério durante breves segundos, depois esbugalhou os olhos e a sua boca abriu-se numa gargalhada franca moldada por duas impecáveis fileiras de dentes.
- Senhor Turra, eh? – Exclamou. – Não tem medo, menino, que Senhor Turra não te faz mal.
O seu rosto retomou, então, a seriedade inicial e os seus olhos fixaram a linha do horizonte.
– Tua casa não é aqui, menino, fica longe. Estas casa e estas terra são de nós, mas Senhor Turra vai deixar-te a caminho…
Sentiu aquelas palavras como um soco dado no peito. Como podia aquele homem afirmar que não era a sua casa onde sempre vivera e que não passava, agora, de um estranho na única terra que jamais conhecera? Todo o seu pequeno mundo ruía na crueza demolidora daquelas frases.
Caminharam, por longos minutos, entre a multidão assustada, até à beira da estrada que seguia para Bissalanca.
- Vê aquele monte de branco? – Perguntou o guerrilheiro, apontando um grupo de refugiados a caminho do aeroporto. – Segue com eles, para ver tua mãe e voltar para casa. – E passando-lhe a mão pela cabeça, o rosto de novo aberto numa expressão de afeto: - Toma cuidado, menino.
Foi recolhido pelo grupo, nele reconhecendo, de imediato, alguns dos seus vizinhos. Já no aeroporto, foi entregue à mãe, que chorava. O pequeno não sabia se era a alegria do reencontro, os cuidados pelo pai, que ficava para trás, no mato, ou já a saudade de tudo aquilo a que chamara seu e que se via obrigada a virar costas.
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Hoje o menino há muito que o não é. Esquecida que ficou, nas teias do tempo, a promessa de que jamais iria combater, orgulha-se, agora, do seu alvo uniforme de oficial de Marinha. Empenhado numa ação de representação junto de um navio estrangeiro, não se apercebe, na azáfama das comemorações do Dia de Portugal, de que na terra que o viu nascer as armas voltaram, uma vez mais, a falar. E só se inteira da gravidade da situação quando o telefonema urgente de um camarada o vem acordar para um novo pesadelo:
- Tens de te apresentar a bordo imediatamente. Houve um golpe militar na Guiné-Bissau e temos que lá ir evacuar os cidadãos portugueses que pretendam regressar.
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As duas corvetas sulcam, agora, as águas lamacentas do Geba, rumo a Bissau. Nunca pudera imaginar que a situação fosse evoluir tão rapidamente. E agora? Como reagirá se, ao chegar, a força for acolhida com fogo de morteiro? Vacilará? Portar-se-á como o herói que sempre sonhou ser? Talvez tudo corra de um modo calmo mas a espera não deixa de ser angustiante. Arde a margem norte junto a Brá e Bissalanca e soa seco o matraquear das armas ligeiras, entrecortado pelo estrondo surdo da morteirada. Bissau está à vista e também a “Vasco da Gama” que, fundeada a uma distância segura da margem, se prepara para suspender e efetuar a aproximação. Parte, do Comandante da força, a ordem para os três navios se aproximarem em simultâneo. É o tudo ou nada… A tensão cresce, de súbito, e precipita-se num só instante, o instante em que o navio-chefe se cruza com os outros dois e as três guarnições se saúdam num grito entusiástico e emotivo que poderá bem ser o último… É chegado o momento. As posições são ocupadas a escassas centenas de jardas do cais e já os três ferros unham no fundo de areia lodosa. Tudo decorreu sem incidentes, apesar de um projétil isolado ter caído entre a “Vasco da Gama” e uma das corvetas.
Os botes largam e dirigem-se para o cais onde já se apinha uma considerável multidão. São cerca de setecentos, de acordo com os números fornecidos pela embaixada, mas os que ali se acotovelam são, de certeza, muitos mais. Os homens desembarcam e o jovem oficial dirige-se a um capitão do Exército Português que coordena as operações em terra, juntamente com um sargento senegalês.
- É melhor despacharem-se. – Aconselha o capitão. – A maior parte da população já sabe que vocês cá estão e vai querer ir também. Nós temo-los aguentado até agora, só não sei quanto mais tempo conseguiremos…
A um sinal do oficial, os fuzileiros tomam posição junto à navegação do cais que ameaça ceder face à pressão da multidão. É feita a primeira triagem, de acordo com as prioridades: Portugueses, cidadãos da União Europeia, Cabo-verdianos e, por fim, Guineenses com o visto da embaixada portuguesa. Os botes dão início às primeiras carreiras.
O silêncio é bruscamente interrompido por um estrondo: um projétil de artilharia caiu no centro da cidade e outros dois se seguem, desta vez na periferia do porto. As mulheres e as crianças gritam e os homens tentam, com mais insistência, forçar a vedação, levando os Senegaleses a distribuir bastonadas. Os fuzileiros colocam, instintivamente as armas em posição de fogo, mas a atenção do oficial é desviada por um homem de meia-idade, alto, de olhar profundo e triste que mantinha a serenidade no meio do pânico geral. De onde conhecia ele aquele olhar? Por breves instantes, e sem saber como, voltou a ser um menino desamparado entre uma multidão em debandada, buscando proteção naquele olhar.
- Tragam aquele homem. – Ordenou quando voltou a si. – Vejam se ele tem o visto.
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- O senhor faz-me lembrar alguém que em tempos conheci por estas paragens…
Em pé, no convés de voo da corveta, o homem foi bruscamente arrancado às suas divagações, mas não pareceu demasiado surpreso com esta abordagem.
- Está a falar comigo, Senhor Oficial?
- Parece que sim, uma vez que o senhor é o único que não correu a abrigar-se do temporal que aí vem.
- Seu refeitório é muito apertado para toda esta gente. Prefiro dar lugar às mulher e criança, que eu já estou habituado a dormir no mato, debaixo de chuva.
- Isto confirma a minha suspeita. Já foi guerrilheiro?!
O homem suspirou profundamente.
- Naquele tempo era toda gente, unida na mesma causa. Nós lutava, nós morria, mas era feliz, por ser irmãos uns dos outros e acreditar na liberdade e união. Hoje, Camarada Amílcar Cabral ficaria triste, como eu, de ver seu sonho todo destruído.
- Ânimo, tudo se há de compor. Deixou lá família!
O homem baixou os olhos.
- Mulher e filha… Ficaram soterrada quando casa ruiu às três dia.
- Lamento… É por isso que parte, por não ter já nada que o prenda àquela terra?
Ergueu o rosto, de repente, e o seu olhar ganhou nova vivacidade.
- Não, senhor. Quero voltar. Aquela ainda é a minha terra, lutei muito por ela e não a vou largar. Fico triste de ver os meus irmão uns contra outros e vou embora para não ter de combater alguns deles, mas, se guerra acabar, hei de voltar, sim.
Respirou fiando, para recuperar o fôlego, e continuou, mais pausadamente:
- Sabe, Senhor Oficial, Guiné é muito pequena, mas tem gente muito diferente, tem Mandinga, Fula, Balanta, Bijagó, Papel, Felupe, e todos aprenderam a se dar bem. Foi isso que permitiu nossa liberdade contra potência mais forte e é isso que vai trazer paz de volta, não a interferência do estrangeiro. Paz será quando Povo quiser, percebe?
- Eu sei. O meu pai costumava dizer que vocês eram um inimigo terrível, por serem muito unidos…
O velho guerreiro pareceu interessado nestas últimas palavras.
- Seu pai combateu na Guiné?
- Sim, de 68 a 70. – Quando eu nasci, e de 73 a 74.
- Ah, é dessa altura que diz conhecer-me?
- Exatamente. O senhor é igualzinho a um guerrilheiro que me ajudou a sair de Bissau quando tivemos de vir embora. Não se lembra de ter encontrado um rapazinho perdido nas ruas?
O homem saltou uma saudável gargalhada, mostrando-se pela primeira vez bem-disposto.
- Por isso você me ajudou, mesmo sem eu ter o visto… Mas pode estar enganado. Já passou tanto tempo… Não lembro de menino nenhum. Tinha outra coisa importante para preocupar.
Já as primeiras gotas de chuva borrifavam os dois interlocutores.
- Pense nisso. – Pediu o oficial. – Quando vi o centro de Bissau a arder senti reavivar uma antiga ferida, como se me estivessem a expulsar novamente de casa. Então vi-o, a si, naquele cais e senti de novo a proteção do meu amigo turra.
E recolheu ao interior do navio. O homem deixou-se ficar à chuva, entregue aos seus pensamentos.
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Ao tocar o cais da cidade da Praia, a multidão de refugiados precipitou-se para a tolda, atulhando-a de sacos e mochilas de várias cores. Aguardava-os uma equipa da Cruz Vermelha de Cabo Verde e um cordão policial controlava os movimentos na muralha, onde vários autocarros se alinhavam para os transportar ao aeroporto.
O antigo guerrilheiro veio despedir-se.
- Vai para Lisboa? – Perguntou o jovem oficial.
- Não, fico por cá, na companhia dos irmão cabo-verdiano, à espera que tudo se resolva.
- Não perca a esperança. Mantenha a fé no seu povo…
- Não perdi uma nem outra. Veja caso de nós dois: ontem combati seu pai, hoje você vem como amigo. Ontem você teve de fugir de sua casa, hoje tive eu, mas quando voltar minha casa será também sua porque sua já voltou a ser terra de Guiné. Como vê, nem tudo está mal… - E, após uns instantes de silêncio: - Obrigado ter-me ajudado.
- Obrigado por me ter encontrado mais uma vez. – E quando o homem já ia a virar costas: - Adeus, Senhor Turra.
Aquele voltou-se novamente e, rosto aberto numa expressão de afeto, colocou a mão no ombro do seu jovem amigo.
- Toma cuidado, menino.
Ao sair a prancha, o velho guerrilheiro levava marejados os olhos negros e profundos, mas sorria, pois acabava de se aperceber que, apesar dos percalços, ainda havia esperança para o grande sonho do Camarada Cabral.
Há vinte e quatro anos uma criança corria, desamparada, pelas ruas de Bissau. Hoje a criança não mais o é, mas voltou a ser feliz, porque quem antes a mandara para longe veio a tornar-se num amigo, um amigo necessitado que, longe de cobrar antigos favores, a ajudou, finalmente, a voltar para casa.
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Aqui acaba o conto. Já o li duas vezes, sentado numa cadeira incómoda numa sala em penumbra, num fim de tarde que anuncia o Outono. Choraminguei, como alguém neste conto naval. Estou consolado por tanta surpresa. Até pelo facto da capa nada sugerir sobre a Guiné.
A fotografia deste número dos Anais do Clube Militar Naval mostra o primeiro-tenente Fernando Augusto Branco, imediato do primeiro submersível da Marinha portuguesa, o Espadarte, e avô materno do antigo Presidente da República Jorge Sampaio.
Mais outra surpresa.
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Nota do editor
Último poste da série de 26 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13652: Notas de leitura (635): “Vamos", por Jacinto Lucas Pires (2) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P13663: Inquérito online: a arte lusitana do desenrascanço,,, na tropa e na guerra... Postes publicados no nosso blogue sobre este tópico
Guiné > Região de Cacheu > Bula > CCAÇ 2790 (1070/72) > Uma ilustração do famoso desenrascanço" dos tugas no CTIG: o Alferes mil minas e armadilhas António Matos aos comandos de um "blindado" da CCaç 2790.
Legenda (AM): "Ainda que o cockpit não estivesse a 100%, é nos pneus que se notava o cuidado em manter o veículo preparado para os mais altos desafios fossem quais fossem as situações; Slics à frente porque a estrada estava seca; com piso atrás para ter mais tracção; redondinhos mais atrás para o que desse e viesse"...
Foto: © António Garcia de Matos (2008). Todos os direitos reservados. Edição e legendas de L.G.
1. Alguns postes por nós publicados e que fazem referência ao tema do "desenrascanço" (*):
P3596: O famoso desenrascanço... - Luís Graça ...
10 Dez 2008
Guiné 63/74 - P3596: O famoso desenrascanço...(António Matos). Condições adversas de quem faz uma guerra com a premissa do desenrascanço. Tenho sido suficientemente crítico nos textos que já mandei para este ...
P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4)
05 Set 2006
TRANSFERÊNCIA DE CARGA (ou a arte do desenrascanço que a tropa afinal nos ensinou)... Daí a poucos dias íamos finalmente embarcar em Bissau no Carvalho Araújo para o ansiado regresso… Tinhamos acabado de ...
P7538: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (30)
31 Dez 2010
Não me estou a referir ao “desenrascanço” do dia a dia mas aquele “especial” quando cheirava a mobilização! Por ter cumprido os meus 4 anos de militar no Serviço de Saúde tenho algumas dessas “estórias” na cabeça, ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P13032 ...
24 Abr 2014
Ou a "arte suprema do desenrascanço"...LG]. Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]. 1. Continuação da publicação do álbum do Valdemar ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P11399 ...
15 Abr 2013
Temos aqui operações bem mal sucedidas, momentos de tristeza, relatos de desenrascanço e não falta a gargalhada hilariante. Acaba-se o relato e fica a saber a pouco, já se sabe que a sinceridade toca aos combatentes ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P11200 ...
06 Mar 2013
Só mesmo o desenrascanço como dizes. Falo por mim que nunca me ensinaram a saber fazer a chamada para saltar o plinto. Como é que o exército nos ia preparar se os oficiais estavam preparados apenas para desfiles?
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P6614: A ...
18 Jun 2010
Expedientes de campanha ou o velho “desenrascanço dos portugueses” sempre presente aqui, ali ou em qualquer outro lado. Quem viesse de Cacine, ao chegar ao “Cruzamento”, virava à direita e seguia paralelamente a ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P7165 ...
23 Out 2010
O seu desenfianço de Porto Gole e o desenrascanço em Bissau. Estando o Comando da CCaç 556, colocado em Enxalé, o Soldado Alfredo Ramos solicitara autorização ao Comandante da Companhia, Cap. Inf. Fernandes ...
P3091: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos)
24 Jul 2008
Era uma literatura típica dos tempos da recessão em que se exaltava o desenrascanço e o pícaro. (iv) Viva Hemingway! Li Paris é uma festa, um livro póstumo de Hemingway, de quem já lera Por quem os sinos dobram, ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 – P7366 ...
01 Dez 2010
E de modo nenhum como um elogio ao nosso tão famigerado (e até elogiado pelos estrangeiros) "desenrascanço"... Parabéns, mais uma vez, pelo tyeu texto, com as ideias bem concatenadas, especulativo mas sem ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P11694 ...
11 Jun 2013
... especialistas mais do que capazes....o nosso tradicional "desenrascanço" a tudo se sobrepôs.Os jovens que pagaram com a vida,ou graves consequëncias crónicas até hoje,mais não foram que a tal "Poeira dos Impérios".
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P10722 ...
25 Nov 2012
E tive de me desenrascar mesmo na minha “arte” de guerra, afinal o que também aconteceu à generalidade das forças combatentes, aquilo era uma guerra de desenrascanço, de vitória em vitória até à previsível derrota final ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P11447 ...
23 Abr 2013
5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço (...) Daí a poucos dias íamos finalmente embarcar em Bissau no Carvalho Araújo ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P4734 ...
24 Jul 2009
Como sempre, o eterno "desenrascanço" à portuguesa. Este assunto, dava para imensos posts, com imensos pontos de vista. Mas, estes "franceses", são tão caracteristicamente portugueses como os que foram para a ...
P4619: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria)
01 Jul 2009
Afinal nós tinhamos uma capacidade de desenrascanço fantástica. A minha homenagem ao Mário Pinto da C.Caç 2317 - Gandembel, que em Buba preparava este petisco às 4 da tarde,para quando eu e mais três ou quatro ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P3298: O ...
12 Out 2008
Eis senão quando, dou conta que me havia antecipado e num expedito desenrascanço gritei para o pelotão: "P'ra baixo"! Houve sorrisos e assobios no local, uma chamada de atenção superior, posteriormente, mas nada ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P1541 ...
22 Fev 2007
5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço 19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXL: Estórias de Dulombi (Rui Felício, ...
_________________
Nota do editor:
(*) Vd. poste de 28 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13659: Sondagem: "Desenrascanço é uma qualidade nossa. Na Guiné demos boas provas disso"... Falso ou verdadeiro ? Totalmente falso ou totalmente verdadeiro ?
Foto: © António Garcia de Matos (2008). Todos os direitos reservados. Edição e legendas de L.G.
1. Alguns postes por nós publicados e que fazem referência ao tema do "desenrascanço" (*):
P3596: O famoso desenrascanço... - Luís Graça ...
10 Dez 2008
Guiné 63/74 - P3596: O famoso desenrascanço...(António Matos). Condições adversas de quem faz uma guerra com a premissa do desenrascanço. Tenho sido suficientemente crítico nos textos que já mandei para este ...
P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4)
05 Set 2006
TRANSFERÊNCIA DE CARGA (ou a arte do desenrascanço que a tropa afinal nos ensinou)... Daí a poucos dias íamos finalmente embarcar em Bissau no Carvalho Araújo para o ansiado regresso… Tinhamos acabado de ...
P7538: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (30)
31 Dez 2010
Não me estou a referir ao “desenrascanço” do dia a dia mas aquele “especial” quando cheirava a mobilização! Por ter cumprido os meus 4 anos de militar no Serviço de Saúde tenho algumas dessas “estórias” na cabeça, ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P13032 ...
24 Abr 2014
Ou a "arte suprema do desenrascanço"...LG]. Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]. 1. Continuação da publicação do álbum do Valdemar ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P11399 ...
15 Abr 2013
Temos aqui operações bem mal sucedidas, momentos de tristeza, relatos de desenrascanço e não falta a gargalhada hilariante. Acaba-se o relato e fica a saber a pouco, já se sabe que a sinceridade toca aos combatentes ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P11200 ...
06 Mar 2013
Só mesmo o desenrascanço como dizes. Falo por mim que nunca me ensinaram a saber fazer a chamada para saltar o plinto. Como é que o exército nos ia preparar se os oficiais estavam preparados apenas para desfiles?
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P6614: A ...
18 Jun 2010
Expedientes de campanha ou o velho “desenrascanço dos portugueses” sempre presente aqui, ali ou em qualquer outro lado. Quem viesse de Cacine, ao chegar ao “Cruzamento”, virava à direita e seguia paralelamente a ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P7165 ...
23 Out 2010
O seu desenfianço de Porto Gole e o desenrascanço em Bissau. Estando o Comando da CCaç 556, colocado em Enxalé, o Soldado Alfredo Ramos solicitara autorização ao Comandante da Companhia, Cap. Inf. Fernandes ...
P3091: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos)
24 Jul 2008
Era uma literatura típica dos tempos da recessão em que se exaltava o desenrascanço e o pícaro. (iv) Viva Hemingway! Li Paris é uma festa, um livro póstumo de Hemingway, de quem já lera Por quem os sinos dobram, ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 – P7366 ...
01 Dez 2010
E de modo nenhum como um elogio ao nosso tão famigerado (e até elogiado pelos estrangeiros) "desenrascanço"... Parabéns, mais uma vez, pelo tyeu texto, com as ideias bem concatenadas, especulativo mas sem ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P11694 ...
11 Jun 2013
... especialistas mais do que capazes....o nosso tradicional "desenrascanço" a tudo se sobrepôs.Os jovens que pagaram com a vida,ou graves consequëncias crónicas até hoje,mais não foram que a tal "Poeira dos Impérios".
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P10722 ...
25 Nov 2012
E tive de me desenrascar mesmo na minha “arte” de guerra, afinal o que também aconteceu à generalidade das forças combatentes, aquilo era uma guerra de desenrascanço, de vitória em vitória até à previsível derrota final ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P11447 ...
23 Abr 2013
5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço (...) Daí a poucos dias íamos finalmente embarcar em Bissau no Carvalho Araújo ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P4734 ...
24 Jul 2009
Como sempre, o eterno "desenrascanço" à portuguesa. Este assunto, dava para imensos posts, com imensos pontos de vista. Mas, estes "franceses", são tão caracteristicamente portugueses como os que foram para a ...
P4619: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria)
01 Jul 2009
Afinal nós tinhamos uma capacidade de desenrascanço fantástica. A minha homenagem ao Mário Pinto da C.Caç 2317 - Gandembel, que em Buba preparava este petisco às 4 da tarde,para quando eu e mais três ou quatro ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P3298: O ...
12 Out 2008
Eis senão quando, dou conta que me havia antecipado e num expedito desenrascanço gritei para o pelotão: "P'ra baixo"! Houve sorrisos e assobios no local, uma chamada de atenção superior, posteriormente, mas nada ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P1541 ...
22 Fev 2007
5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço 19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXL: Estórias de Dulombi (Rui Felício, ...
_________________
Nota do editor:
(*) Vd. poste de 28 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13659: Sondagem: "Desenrascanço é uma qualidade nossa. Na Guiné demos boas provas disso"... Falso ou verdadeiro ? Totalmente falso ou totalmente verdadeiro ?
Guiné 63/74 - P13662: Parabéns a você (792): António Bastos, ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953 (Guiné, 1964/66)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 26 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13651: Parabéns a você (791): António Medina, ex-Fur Mil da CART 527 (Guiné, 1963/65)
Nota do editor
Último poste da série de 26 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13651: Parabéns a você (791): António Medina, ex-Fur Mil da CART 527 (Guiné, 1963/65)
domingo, 28 de setembro de 2014
Guiné 63/74 - P13661: Convívios (632): Encontro de 4 magníficos Especialistas das Transmissões em Grilo, Baião (Manuel Dias Pinheiro Gomes)
Vasconcelos, Carneiro, Gomes e Acipreste
1. Mensagem do nosso camarada Manuel Dias Pinheiro Gomes (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM / Agrupamento de Transmissões da Guiné, Catió e Bissau, 1970/72), com data de 24 de Setembro de 2014:
Camarigo Luís Graça As minhas saudações e os desejos de uma boa recuperação da tua anca.
Sou Manuel Dias Pinheiro Gomes, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do Agrupamento de Transmissões do STM do CTIG de 07/1970 a 08/1972, Catió e Bissau.
Se achares conveniente, gostaria de publicar um grande encontro entre 4 ilustres das Transmissões. Há 42 anos, 1 Mês e 5 dias que não sabia nada do Fernando Lopes Acipreste e do Joaquim Fernandes Carneiro.
Todos tivemos o mesmo destino, Recruta no RI 8, Especialidade no Regimento de Transmissões do Porto. Terminamos a Especialidade e lá fizemos o Estágio de Radiotelegrafistas. Eu e o Acipreste embarcámos e regressámos no mesmo dia com mais 3 camaradas, o Tino, já falecido, o Correia e João Abreu.
Este grande acontecimento teve lugar na freguesia de Grilo, em Baião, através do grande amigo Vasconcelos e de sua Esposa Lourdes. Além deles, de mim e da minha esposa, estiveram presentes o Carneiro, o Acipreste e o Gomes.
Foi um dia muito Grande para todos, que nunca mais vamos esquecer. Ficou combinado que na minha próxima viagem a Portugal nos vamos encontrar novamente.
Fiz uma linda viagem da Régua a Mosteiro de comboio, durante a qual pude admirar as lindas paisagens do Douro, recordando os velhos tempos de quando andava na tropa.
Momento de diversão
____________
Nota do editor
Último poste da série de 25 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13648: Convívios (631): Rescaldo do Encontro comemorativo dos 43 anos após o regresso da Guiné, do pessoal da CCAÇ 2615, realizado no passado dia 20 de Setembro de 2014, em Leiria (Manuel Amaro)
Guiné 63/74 - P13660: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (1): Preâmbulo e O Início
1. Vamos começar hoje a apresentar mais um trabalho de pesquisa e compilação do
nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos
Pretos, Canjadude, 1968/70), que reputamos de muito importante, por, como ele próprio refere, se reportar aos últimos 5517 dias de luta pela independência pela então Guiné Portuguesa.
Em princípio vão ser publicados 9 postes com uma média de 12 páginas de texto em formato JPG.
O editor
(Continua)
Em princípio vão ser publicados 9 postes com uma média de 12 páginas de texto em formato JPG.
O editor
(Continua)
Guiné 63/74 - P13659: Inquérito online: "Desenrascanço é uma qualidade nossa. Na Guiné demos boas provas disso"... Falso ou verdadeiro ? Totalmente falso ou totalmente verdadeiro ?
Guiné >Zona leste > Setpr L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > O fur mil at inf Arlindo Roda junto a uma viatura, sinistrada na estrada Bambadinca-Mansambo -Xitole (se não me engano...). Era frequente as viaturas, civis e militares, que integravam as colunas de reabastecimento a Mansambo, Xitole e Saltinho, com escolta da CCAÇ 12, "atolarem-se", "despistarem.se" ou "pisarem minas". O "desenrascanço" da malta era essencial para "desobruir" a via pública,,,
Foto: © Arlindo Teixeira Roda (2010). Todos os direitos reservados. Edição e legendas de L.G.
1. Desenrascanço | s. m.
de·sen·ras·can·ço
(desenrascar + -anço)
substantivo masculino
[Informal] Capacidade de solucionar problemas ou resolver dificuldades rapidamente e sem grandes meios.
"desenrascanço", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/desenrascan%C3%A7o [consultado em 27-09-2014].
Curiosamemte, o vocábulo ainda não vem grafado no "Dicionário Houaiss da Língua Portugesa", pelo menos na versão que eu tenho em casa (6 volunmes, Lisboa, Círculo de Leiotes, 2003). Vem enrascar, desenrascar, mas não enrascanço nem desenrascanço...
2. No "top ten" das palavras estrangeiras mais fixes ["coolest"] que a língua inglesa devia ter, vem em nº 1 o vocábulo português “desenrascanço”. A escolha é de um sítio, na Net, norte-americano, que cultiva o bom humor, O artigo (de 13 de abril de 2009) tem quase 3 milhões de visualizações ...
“Desenrascanço" (o termo é intraduzível em inglês) seria a arte de encontrar a solução para um problema no último minuto, sem planeamento e sem meios... explica o "site". O exemplo mais intelegível, para um americano, seria a célebre personagem da popular série televisiva MacGyver, q dos anos 80/90 do século passado. Lembram-se do rapaz, de estatura meã, bem apessoada, que celebrizou o canivete suíço ?
5. Pessoalmente, tenho a ideia que aquela guerra (a "nossa") foi um exemplo da arte lusitana do desenrascanço no seu melhor e no seu pior... Desde o início, quando fomos apanhados de calças na mão, e o Salazar nos mandou "para Angola, rapidamente e em força", que se pode dizer que o "desenrascanço foi a palavra de ordem"...
“Desenrascanço" (o termo é intraduzível em inglês) seria a arte de encontrar a solução para um problema no último minuto, sem planeamento e sem meios... explica o "site". O exemplo mais intelegível, para um americano, seria a célebre personagem da popular série televisiva MacGyver, q dos anos 80/90 do século passado. Lembram-se do rapaz, de estatura meã, bem apessoada, que celebrizou o canivete suíço ?
3. É um traço da "cultura" portuguesa e terá sido a chave para o segredo da nossa sobrevivência como povo ao longo de séculos... Enquanto a maioria dos norte-americanos terão crescido sob o lema dos escuteiros, 'sempre prontos', os portugueses fazem exactamente o contrário... Como eles gostam de dizer, estão-se "cagando" para os entretantos (meios), gostam é dos finalmentes (resultados)...Em suma, há sempre uma solução de última hora para resolver um problema... Seja o que Deus quiser!... Para quê estar a perder tempo com planos que depois saem furados ?
Moral da história: O futuro ? Logo se vê...Viva a arte lusitana do desenrascanço!... Andamos a desenrascarmo-nos... há mil anos!
4. Já agora, aqui ficam mais algumas palavras estrangeiras que os americanos gostariam de ter no seu léxico: vêm na lista das dez mais, encabeçada pelo portuguesíssimo "desenrascanço"
- “Bakku-shan” > palavra usada pelos japoneses quando se querem referir a uma rapariga bonita... vista de costas;
- “Nunchi” > vocábulo usado pelos coreanos. identificando alguém que fala sempre do assunto errado, no sitio errado, na altura errada, com a pessoa errada; em suma, o tipo desbocado ou inconveniente;
- “Tingo” > uma expressão usada na Ilha da Páscoa, Chile, e que significa pedir sistematicamente emprestado a um amigo, ou "cravar" um amigo, até o deixar de tanga, sem nada...
4. Já agora, aqui ficam mais algumas palavras estrangeiras que os americanos gostariam de ter no seu léxico: vêm na lista das dez mais, encabeçada pelo portuguesíssimo "desenrascanço"
- “Bakku-shan” > palavra usada pelos japoneses quando se querem referir a uma rapariga bonita... vista de costas;
- “Nunchi” > vocábulo usado pelos coreanos. identificando alguém que fala sempre do assunto errado, no sitio errado, na altura errada, com a pessoa errada; em suma, o tipo desbocado ou inconveniente;
- “Tingo” > uma expressão usada na Ilha da Páscoa, Chile, e que significa pedir sistematicamente emprestado a um amigo, ou "cravar" um amigo, até o deixar de tanga, sem nada...
5. Pessoalmente, tenho a ideia que aquela guerra (a "nossa") foi um exemplo da arte lusitana do desenrascanço no seu melhor e no seu pior... Desde o início, quando fomos apanhados de calças na mão, e o Salazar nos mandou "para Angola, rapidamente e em força", que se pode dizer que o "desenrascanço foi a palavra de ordem"...
Posso estar a ver árvore que tapa a floresta... Mas da minha experiência na Guiné sou capaz de arranjar já, aqui, em cima do joelho alguns exemplos do nosso "proverbial desenrascanço":
A lista, a completar pelos nossos leitores, é meramente exemplificativa:
(i) Não tínhamos cão ? Caçávamos com gato;
(ii) Não tínhamos inseticidas ? Matavámos mosquitos com a bazuca 8.9;
(iii) Não havia peças sobresselentes para o jipe do comandante ? Canibalizava-se um unimogue sinistrado;
(iv) Não havia "bunkers", de cimento armado, à prova de canhão sem recuo ? Fazíamos buracos com tetos de cibe;
(v) Já não havia gente na metrópole para ir para a guerra ? Alistávamos os fulas, desde os putos de 16 anos aos velhos de 40;
(vi) As viaturas atolavam-se, e não havia reboques ? Guincho de GMC com elas, ou vai ou racha...
(vii) Só havia um frango ? O cozinheiro fazia massa com "estilhaços de frango";
(viii) Não havia frigorífico na tabanca em autodefesa onde estavas destacado com a tua secção ? Pois, comias uma lata de fiambre dinamarquês de 5 kg num dia (devia durar para duas semanas, para ti e para o soldado de transmissões, que os teus soldados fulas não comiam carne de porco e eram desarranchados)...
(i) Não tínhamos cão ? Caçávamos com gato;
(ii) Não tínhamos inseticidas ? Matavámos mosquitos com a bazuca 8.9;
(iii) Não havia peças sobresselentes para o jipe do comandante ? Canibalizava-se um unimogue sinistrado;
(iv) Não havia "bunkers", de cimento armado, à prova de canhão sem recuo ? Fazíamos buracos com tetos de cibe;
(v) Já não havia gente na metrópole para ir para a guerra ? Alistávamos os fulas, desde os putos de 16 anos aos velhos de 40;
(vi) As viaturas atolavam-se, e não havia reboques ? Guincho de GMC com elas, ou vai ou racha...
(vii) Só havia um frango ? O cozinheiro fazia massa com "estilhaços de frango";
(viii) Não havia frigorífico na tabanca em autodefesa onde estavas destacado com a tua secção ? Pois, comias uma lata de fiambre dinamarquês de 5 kg num dia (devia durar para duas semanas, para ti e para o soldado de transmissões, que os teus soldados fulas não comiam carne de porco e eram desarranchados)...
(ix) É preciso fazer 300 moranças no novo reordenamento ? Eh, malta, caboqueiros, marceneiros, carpinteiros, trolhas da consgtrução vil, engenheiros técnicos, toca a largar a G3 (de dia) e aarregaçar as mangas do camuflado;
(x) Quem tem medo do macaréu ? Ninguém, vamos lá entrar para o sintex, que somos um povo de marinheiros;
(xi) O pobre do comandante de batalhão, com idade de ser avôzinho, não tem pedalada para este tipo de guerra ? Vem o Spínola, de heli, de Bissau e traz-lhe "um par de patins";
(xii) A jangada só leva 100 ? É malta, toca a dar m um jeitinho, que cabe sempre mais um,,,
(xiii) Detetores de minas ? Inventa-se a "pica", um pau de metro e meio, com um prego afuado na ponta...
... E a lista será infindável, se os nossos leitores quiserem colaborar!
6. A sondagem desta semana é justamente sobre o "desenrascanço," alegadamente uma virtude nacional, uma característica (única) da nossa idiossincrasia... E na Guiné, durante a guerra colonial, o nosso exército teria dado boas provas disso...
Recorde-se que no início da década de 1960, a malta chegava à Guiné, mal equipada, de mauser na mão e capacete de aço na cabeça, vestida de caqui, treinada para fazer a guerra do Raul Solnado, a guerra das trincheiras... Em pouco tempo, esse exército tornou-se uma grande máquina de luta antiguerrilha... Os franceses não tiveram tempo de aprender connosco. Os americanos, arrogantes, não o quiseram, mas a gente se calhar tinha algumas coisas a ensinar-lhes... Comparativamente com as guerras da Argélia, da Indochina e do Vietname, o nosso desempenho, do ponto de vista operacional, militar, disciplinar e humano, não terá sido desprimoroso...
Sondagem (em curso durante os próximos 6 dias):
(x) Quem tem medo do macaréu ? Ninguém, vamos lá entrar para o sintex, que somos um povo de marinheiros;
(xi) O pobre do comandante de batalhão, com idade de ser avôzinho, não tem pedalada para este tipo de guerra ? Vem o Spínola, de heli, de Bissau e traz-lhe "um par de patins";
(xii) A jangada só leva 100 ? É malta, toca a dar m um jeitinho, que cabe sempre mais um,,,
(xiii) Detetores de minas ? Inventa-se a "pica", um pau de metro e meio, com um prego afuado na ponta...
... E a lista será infindável, se os nossos leitores quiserem colaborar!
6. A sondagem desta semana é justamente sobre o "desenrascanço," alegadamente uma virtude nacional, uma característica (única) da nossa idiossincrasia... E na Guiné, durante a guerra colonial, o nosso exército teria dado boas provas disso...
Recorde-se que no início da década de 1960, a malta chegava à Guiné, mal equipada, de mauser na mão e capacete de aço na cabeça, vestida de caqui, treinada para fazer a guerra do Raul Solnado, a guerra das trincheiras... Em pouco tempo, esse exército tornou-se uma grande máquina de luta antiguerrilha... Os franceses não tiveram tempo de aprender connosco. Os americanos, arrogantes, não o quiseram, mas a gente se calhar tinha algumas coisas a ensinar-lhes... Comparativamente com as guerras da Argélia, da Indochina e do Vietname, o nosso desempenho, do ponto de vista operacional, militar, disciplinar e humano, não terá sido desprimoroso...
Sondagem (em curso durante os próximos 6 dias):
"Desenrascanço é uma qualidade nossa. Na Guiné demos boas provas disso"... É falso ou verdadeiro ? Totalmente falso ou totalmente verdadeiro ?
A palavra ao(s) leitor(es)... LG
A palavra ao(s) leitor(es)... LG
sábado, 27 de setembro de 2014
Guiné 63/74 - P13658: Bom ou mau tempo na bolanha (68): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (8) (Tony Borié)
Sexagésimo sétimo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.
8 - Da Florida ao Alaska
Era madrugada, alguns animais vinham beber água àquela parte do lago, arrumámos a “tralha”, que é como chamamos a todas aquelas coisas que nos facilitam um pouco a vida, principalmente quando andamos em viajem por zonas onde felizmente a civilização ainda não chegou, abandonámos a região do “Muncho Lake”, que é um maravilhoso lago localizado na parte norte-oeste da Província de British Columbia, no Canadá. Àquela zona chamam “Muncho Lake Provincial Park”, designando-se a sua localização como “Historic Milepost 423”, do “Alaska Highway”, e tem mais ou menos sete milhas e meia de extensão, aproximadamente 12 quilómetros. Falando nas medidas que se usam em Portugal, a sua largura varia entre 1 e 6 quilómetros, 223 metros na parte mais funda e, está rodeado por picos de montanha, alguns cobertos de gelo com milhões de anos, com uma altura que chega a atingir os 2000 metros, mas não podemos esquecer que o lago se situa mais ou menos a 800 metros do nível do mar, cuja água é proveniente do Trout River e dos “glacieres”, que são uma grande e espessa massa de gelo formada em camadas sucessivas de neve compactada e recristalizada, de várias épocas, em regiões onde a acumulação de neve é superior ao degelo e, para quem não sabe, o gelo dos “glacieres”, é o maior reservatório de água doce que existe sobre a terra. A cor verde jade da sua água, dizem que é atribuída à presença de óxido de cobre nas rochas que compõem a base do seu leito e, o seu nome deriva da língua “Kaska”, que designa “muncho” que quer dizer “muita água”.
Olhando mais uma vez aquele “paraíso”, seguimos viagem, a estrada umas vezes era encostada a precipícios, onde só podia passar um veículo de cada vez, e com letreiros a dizer que podiam cair pedras, outras vezes era suave, longas retas, animais a cruzarem a estrada, talvez admirados e não muito felizes com a presença humana no seu território, algumas pontes, ainda do tempo do início da construção da estrada. Tudo seguia normalmente, até surgir aqueles longos camiões, com dois e três atrelados, daqueles que não podem fazer manobras, só podem seguir em frente, que nos causavam algum transtorno, pois em estradas de pedra miúda, os pneus fazem saltar algumas que partem vidros, mesmo a uma distância de centenas de metros, o que nos aconteceu, marcando o vidro do Jeep em três locais, felizmente o vidro era resistente e não nos aconteceu quase nada, só o susto.
Parávamos muitas vezes, apreciando riachos selvagens, paisagens de montanha, animais selvagens, tirando fotos, ajudando motociclistas e outros veículos com problemas, não só cedendo gasolina, mas também rebocando, tirando de buracos fundos de lama.
Passámos na “Historic Milepost 496”, onde se situa o “Liard River Hotsprings Provincial Park”, com uma piscina de água quente, que não é mais do que uma represa do rio, onde as pessoas se banham em água quente.
Um tempo de estrada com quase as mesmas paisagens, um pouco depois de passar a fronteira para a província de Yukon, aparece a “Historic Milepost 635”, onde nasceu a cidade de Watson Lake, onde próximo existe um pequeno aeroporto, uma pequena indústria de minas, comércio, onde comprámos fruta, água, pão, alguns géneros de primeira necessidade, e claro, gasolina. Aqui a polícia local viaja de carrinha, tipo “pick-up”, parando quase sempre, quando vê um veículo com matrícula de outro país, não passa qualquer multa, só quer informar e conversar.
Nesta pequena cidade existe uma importante atracção turística que é o original “Signpost Forest”. Tudo começou no ano de 1942, quando um militar do Exército dos USA, muito saudoso, trabalhando na construção do “Alaska Highway”, resolveu colocar num poste, uma placa com o nome da povoação onde tinha nascido, assim como a distância de onde se encontrava, logo outros o seguiram e, no ano de 2010, já lá havia mais de 76.000 placas, oriundas dos mais diversos países do mundo, algumas com nomes que incluem, três gerações de uma só família. O “Signpost Forest”, é uma das “atracções de estrada”, mais famosa, não só no Canadá, como em todo o mundo.
Continuando, com o Jeep e a Caravana em boas condições, a estrada com zonas boas, outras de terra e pedra e, as obras de reparação incluíam, em zonas secas uma rega de água de cimento, pelo que, se tivéssemos a infelicidade de ir logo a seguir ao carro de rega, “pintávamos” a viatura de cimento.
Passámos pelo “Historic Milepost 733”, em Swift River, a placa de sinalização antes da povoação dizia “comida, gasolina e hotel”, mas quando passámos, estava tudo fechado, dando a entender que os poucos estabelecimentos estavam fechados ou abandonados. Seguimos até um pouco antes da povoação de Teslin, que é marcada pelo “Históric Milepost 804”, parámos antes num lindo miradouro sobre o lago de Teslin, donde se pode admirar a ponte e a povoação. Seguindo, depois da ponte, havia um museu, que na altura estava fechado, cartazes a convidar a ir pescar e passear no lago, mas a nossa atenção era uma estação de serviço, que encontrámos, onde a pessoa que atendia, dentro do estabelecimento, nos pediu o cartão de crédito. Verificou duas ou três vezes, abriu a estação número 2, enchemos a gasolina que desejávamos, fez a transação, assinámos o papel e, perguntando nós qual a distância para a cidade de Whitehorse, que era o nosso próximo destino, logo nos respondeu, com um sorriso malicioso, mencionando o nosso sotaque de voz, que devíamos de ser oriundos dos “States”, que nesta zona, não importavam as distâncias, era o tempo que podia demorar, talvez com este clima e estas obras na estrada, de três a quatro horas.
Eis-nos de novo na estrada, chegámos à cidade de Whitehorse, que é assinalada pelo “Historic Milepost 884”, que podemos dizer ser um “Oásis” no deserto. Tem um cruzamento de estradas, onde se pode tomar o rumo do sul ou do norte, é banhada pelas duas margens do rio Yukon, dizem que é a cidade com a menor poluição do ar, no mundo, e mais, o rio Yukon é navegável a partir daqui, até ao mar de “Bering” e, existem serviços de passageiros ou de carga que usam o rio, aqui na cidade de Whitehorse.
Actualmente é possível fazer a rota da “febre do ouro” pelo rio Yukon, abordando algum dos barcos como o “M.V. Schwatka”, que realizam este trajecto desde a cidade de Dawson City até esta cidade de Whitehorse, podendo durante o percurso contemplar o “Canyon Miles”, impressionante pelos seus “muros”, que é o lugar onde o rio passa entre altas rochas e, a sua corrente é um pouco mais forte, tornando o rio um pouco mais revoltoso.
Já há alguma “civilização”, centro de turismo com computadores disponíveis, hotéis e restaurantes “temáticos”, comércio normal, estações de serviço, das principais marcas de combustível, alguns parques agradáveis, alguma juventude na rua, principalmente em frente aos restaurantes “temáticos”.
Depois de despendermos algum tempo nesta cidade, como nesta altura do ano é quase sempre de dia, sentindo-nos bem, abandonámos o “Alaska Highway”, tomando a estrada número 2, em direcção ao norte, fazendo o “Klondike Loop”, que é como chamam ao desvio que se faz para andar mais 550 quilómetros, de estrada de terra e pedras, para se chegar à cidade perdida de Dawson City, lá no norte do Canadá, onde muitos anos atrás algumas corajosas pessoas começaram a pesquisa de ouro.
Mas não queremos abandonar a cidade de Whitehorse sem vos falar que, nesta cidade, existe uma relíquia oriunda de Lisboa, Portugal, trata-se de um “Eléctrico” que circulou pelo Rossio ou Alfama, trata-se do “Whitehorse Waterfront Trolley”. Esta “relíquia” foi restaurada e transporta turistas numa zona ao lado do rio Yukon, vai desde o Rotary Peace Park, que está localizado ao sul do edifício do Turismo, e vai até ao limite norte da cidade, a que chamam a estação de Spook Creek. Este “Eléctrico” serviu o sistema de eléctricos de Lisboa, Portugal, desde 1925 até 1978, data em que foi vendido ao Southeastern Railway Museum, de Duluth, na Georgia, USA, que por sua vez, o vendeu à cidade de Whitehorse, em 1999, tendo sido restaurado pelo “Historic Railway Restoration”, em Arlington, WA, nos USA. Actualmente tem capacidade para 24 passageiros, e roda sobre carris que foram construídos ao longo do White Pass e Yukon Route.
Depois de rolar alguns quilómetros pelo trajecto do “Klondike Loop”, a tal estrada, rumo à cidade perdida de Dawson City, lá no norte, um pouco cansados, comemos dos géneros que tínhamos comprado na cidade de Watson Lake, onde está o “Historic Milepost 635”, dormindo num parque de campismo localizado junto ao rio Yukon, na localidade de Carmacks, onde antes nos sentámos na ribanceira do rio, apreciando a paisagem, abrindo uma garrafa de vinho português, bebendo por dois copos, que foram atirados ao rio, em homenagem aos nossos companheiros que por lá ficaram. Jovens com esperança num futuro que infelizmente não tiveram, nos rios e bolanhas da Guiné, onde a água corria com uma certa velocidade e, um pouco “barrenta”, tal como aquela que passava à quase meio século, debaixo da ponte do rio Mansoa, em direcção ao Oceano AtlIantico, tudo isto, como já explicámos, a caminho da cidade perdida de Dawson City, viajando no “Klondike Loop”, rumo ao norte, por uma estrada quase deserta, na província de Yukon.
Neste dia percorremos 589 milhas, com preço da gasolina variando entre $1.88 e $1.98 o litro.
Tony Borie, Agosto de 2014
____________
Nota do editor
Último poste da série de 20 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13629: Bom ou mau tempo na bolanha (66): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (7) (Tony Borié)
8 - Da Florida ao Alaska
Era madrugada, alguns animais vinham beber água àquela parte do lago, arrumámos a “tralha”, que é como chamamos a todas aquelas coisas que nos facilitam um pouco a vida, principalmente quando andamos em viajem por zonas onde felizmente a civilização ainda não chegou, abandonámos a região do “Muncho Lake”, que é um maravilhoso lago localizado na parte norte-oeste da Província de British Columbia, no Canadá. Àquela zona chamam “Muncho Lake Provincial Park”, designando-se a sua localização como “Historic Milepost 423”, do “Alaska Highway”, e tem mais ou menos sete milhas e meia de extensão, aproximadamente 12 quilómetros. Falando nas medidas que se usam em Portugal, a sua largura varia entre 1 e 6 quilómetros, 223 metros na parte mais funda e, está rodeado por picos de montanha, alguns cobertos de gelo com milhões de anos, com uma altura que chega a atingir os 2000 metros, mas não podemos esquecer que o lago se situa mais ou menos a 800 metros do nível do mar, cuja água é proveniente do Trout River e dos “glacieres”, que são uma grande e espessa massa de gelo formada em camadas sucessivas de neve compactada e recristalizada, de várias épocas, em regiões onde a acumulação de neve é superior ao degelo e, para quem não sabe, o gelo dos “glacieres”, é o maior reservatório de água doce que existe sobre a terra. A cor verde jade da sua água, dizem que é atribuída à presença de óxido de cobre nas rochas que compõem a base do seu leito e, o seu nome deriva da língua “Kaska”, que designa “muncho” que quer dizer “muita água”.
Olhando mais uma vez aquele “paraíso”, seguimos viagem, a estrada umas vezes era encostada a precipícios, onde só podia passar um veículo de cada vez, e com letreiros a dizer que podiam cair pedras, outras vezes era suave, longas retas, animais a cruzarem a estrada, talvez admirados e não muito felizes com a presença humana no seu território, algumas pontes, ainda do tempo do início da construção da estrada. Tudo seguia normalmente, até surgir aqueles longos camiões, com dois e três atrelados, daqueles que não podem fazer manobras, só podem seguir em frente, que nos causavam algum transtorno, pois em estradas de pedra miúda, os pneus fazem saltar algumas que partem vidros, mesmo a uma distância de centenas de metros, o que nos aconteceu, marcando o vidro do Jeep em três locais, felizmente o vidro era resistente e não nos aconteceu quase nada, só o susto.
Parávamos muitas vezes, apreciando riachos selvagens, paisagens de montanha, animais selvagens, tirando fotos, ajudando motociclistas e outros veículos com problemas, não só cedendo gasolina, mas também rebocando, tirando de buracos fundos de lama.
Passámos na “Historic Milepost 496”, onde se situa o “Liard River Hotsprings Provincial Park”, com uma piscina de água quente, que não é mais do que uma represa do rio, onde as pessoas se banham em água quente.
Um tempo de estrada com quase as mesmas paisagens, um pouco depois de passar a fronteira para a província de Yukon, aparece a “Historic Milepost 635”, onde nasceu a cidade de Watson Lake, onde próximo existe um pequeno aeroporto, uma pequena indústria de minas, comércio, onde comprámos fruta, água, pão, alguns géneros de primeira necessidade, e claro, gasolina. Aqui a polícia local viaja de carrinha, tipo “pick-up”, parando quase sempre, quando vê um veículo com matrícula de outro país, não passa qualquer multa, só quer informar e conversar.
Nesta pequena cidade existe uma importante atracção turística que é o original “Signpost Forest”. Tudo começou no ano de 1942, quando um militar do Exército dos USA, muito saudoso, trabalhando na construção do “Alaska Highway”, resolveu colocar num poste, uma placa com o nome da povoação onde tinha nascido, assim como a distância de onde se encontrava, logo outros o seguiram e, no ano de 2010, já lá havia mais de 76.000 placas, oriundas dos mais diversos países do mundo, algumas com nomes que incluem, três gerações de uma só família. O “Signpost Forest”, é uma das “atracções de estrada”, mais famosa, não só no Canadá, como em todo o mundo.
Continuando, com o Jeep e a Caravana em boas condições, a estrada com zonas boas, outras de terra e pedra e, as obras de reparação incluíam, em zonas secas uma rega de água de cimento, pelo que, se tivéssemos a infelicidade de ir logo a seguir ao carro de rega, “pintávamos” a viatura de cimento.
Passámos pelo “Historic Milepost 733”, em Swift River, a placa de sinalização antes da povoação dizia “comida, gasolina e hotel”, mas quando passámos, estava tudo fechado, dando a entender que os poucos estabelecimentos estavam fechados ou abandonados. Seguimos até um pouco antes da povoação de Teslin, que é marcada pelo “Históric Milepost 804”, parámos antes num lindo miradouro sobre o lago de Teslin, donde se pode admirar a ponte e a povoação. Seguindo, depois da ponte, havia um museu, que na altura estava fechado, cartazes a convidar a ir pescar e passear no lago, mas a nossa atenção era uma estação de serviço, que encontrámos, onde a pessoa que atendia, dentro do estabelecimento, nos pediu o cartão de crédito. Verificou duas ou três vezes, abriu a estação número 2, enchemos a gasolina que desejávamos, fez a transação, assinámos o papel e, perguntando nós qual a distância para a cidade de Whitehorse, que era o nosso próximo destino, logo nos respondeu, com um sorriso malicioso, mencionando o nosso sotaque de voz, que devíamos de ser oriundos dos “States”, que nesta zona, não importavam as distâncias, era o tempo que podia demorar, talvez com este clima e estas obras na estrada, de três a quatro horas.
Eis-nos de novo na estrada, chegámos à cidade de Whitehorse, que é assinalada pelo “Historic Milepost 884”, que podemos dizer ser um “Oásis” no deserto. Tem um cruzamento de estradas, onde se pode tomar o rumo do sul ou do norte, é banhada pelas duas margens do rio Yukon, dizem que é a cidade com a menor poluição do ar, no mundo, e mais, o rio Yukon é navegável a partir daqui, até ao mar de “Bering” e, existem serviços de passageiros ou de carga que usam o rio, aqui na cidade de Whitehorse.
Actualmente é possível fazer a rota da “febre do ouro” pelo rio Yukon, abordando algum dos barcos como o “M.V. Schwatka”, que realizam este trajecto desde a cidade de Dawson City até esta cidade de Whitehorse, podendo durante o percurso contemplar o “Canyon Miles”, impressionante pelos seus “muros”, que é o lugar onde o rio passa entre altas rochas e, a sua corrente é um pouco mais forte, tornando o rio um pouco mais revoltoso.
Já há alguma “civilização”, centro de turismo com computadores disponíveis, hotéis e restaurantes “temáticos”, comércio normal, estações de serviço, das principais marcas de combustível, alguns parques agradáveis, alguma juventude na rua, principalmente em frente aos restaurantes “temáticos”.
Depois de despendermos algum tempo nesta cidade, como nesta altura do ano é quase sempre de dia, sentindo-nos bem, abandonámos o “Alaska Highway”, tomando a estrada número 2, em direcção ao norte, fazendo o “Klondike Loop”, que é como chamam ao desvio que se faz para andar mais 550 quilómetros, de estrada de terra e pedras, para se chegar à cidade perdida de Dawson City, lá no norte do Canadá, onde muitos anos atrás algumas corajosas pessoas começaram a pesquisa de ouro.
Mas não queremos abandonar a cidade de Whitehorse sem vos falar que, nesta cidade, existe uma relíquia oriunda de Lisboa, Portugal, trata-se de um “Eléctrico” que circulou pelo Rossio ou Alfama, trata-se do “Whitehorse Waterfront Trolley”. Esta “relíquia” foi restaurada e transporta turistas numa zona ao lado do rio Yukon, vai desde o Rotary Peace Park, que está localizado ao sul do edifício do Turismo, e vai até ao limite norte da cidade, a que chamam a estação de Spook Creek. Este “Eléctrico” serviu o sistema de eléctricos de Lisboa, Portugal, desde 1925 até 1978, data em que foi vendido ao Southeastern Railway Museum, de Duluth, na Georgia, USA, que por sua vez, o vendeu à cidade de Whitehorse, em 1999, tendo sido restaurado pelo “Historic Railway Restoration”, em Arlington, WA, nos USA. Actualmente tem capacidade para 24 passageiros, e roda sobre carris que foram construídos ao longo do White Pass e Yukon Route.
Depois de rolar alguns quilómetros pelo trajecto do “Klondike Loop”, a tal estrada, rumo à cidade perdida de Dawson City, lá no norte, um pouco cansados, comemos dos géneros que tínhamos comprado na cidade de Watson Lake, onde está o “Historic Milepost 635”, dormindo num parque de campismo localizado junto ao rio Yukon, na localidade de Carmacks, onde antes nos sentámos na ribanceira do rio, apreciando a paisagem, abrindo uma garrafa de vinho português, bebendo por dois copos, que foram atirados ao rio, em homenagem aos nossos companheiros que por lá ficaram. Jovens com esperança num futuro que infelizmente não tiveram, nos rios e bolanhas da Guiné, onde a água corria com uma certa velocidade e, um pouco “barrenta”, tal como aquela que passava à quase meio século, debaixo da ponte do rio Mansoa, em direcção ao Oceano AtlIantico, tudo isto, como já explicámos, a caminho da cidade perdida de Dawson City, viajando no “Klondike Loop”, rumo ao norte, por uma estrada quase deserta, na província de Yukon.
Neste dia percorremos 589 milhas, com preço da gasolina variando entre $1.88 e $1.98 o litro.
Tony Borie, Agosto de 2014
____________
Nota do editor
Último poste da série de 20 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13629: Bom ou mau tempo na bolanha (66): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (7) (Tony Borié)
Guiné 63/74 - P13657: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (3): "Mãos", "Balantão" e "Cachimbêro", três poemas do poeta maior desta antologia, natural de Farim, Pascoal d' Artagnan [Aurigema] (1938-1991), pp. 9/11
Elementos da capa do documento policopiado do Caderno de Poesias Poilão", editada em dezembro de 1973 pelo Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (O GDC dos Empregados do BNU foi criado em 1924).
[Local e data: Catió — Campo de aviação. Junho de 1971]
1. O nosso camarada Albano Mendes de Matos [, ten cor art ref, que esteve no GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74, e foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo], mandou-nos uma cópia, em pdf, do Caderno de Poesias "Poilão"...
Temos a sua autorização para reproduzir aqui, para conhecimento de um público lusófono mais vasto, este livrinho, de que se fizeram apenas 700 exemplares, policopiados, distribuídos em fevereiro de 1974, em Bissau. A iniciativa foi do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (BNU), cuja origem remonta a 1924.
2. Reproduzimos hoje três poemas do poeta guineense, natural de Farim, Pascoal D’Artagnan Aurigema (1938-1991). É o poeta "maior" desta antologia. Sobre ele escreveu Moema Parente Augel:
(...) "Pascoal D’Artagnan Aurigema nasceu em Farim, em 1938, e morreu em Bissau, em 1991, sem tem conseguido publicar em vida seus poemas, embora tivesse tido a preocupação de distribuir várias cópias datilografadas de um conjunto deles e ofertado a amigos. Depois de sua morte, foi publicada em Brasília uma pequena coleção sob o título de Amor e esperança (1994), dentro da coleção Vozes d’África, e em 1997, em Bissau, com o número cinco da Colecção Kebur, sob o título Djarama e outros poemas, com 136 páginas e quase oitenta poemas (1996).
A obra de Pascoal D’Artagnan Aurigemma, em seus diferentes aspectos, pode ilustrar como o escritor, assumindo seu papel social, identifica-se com seu povo, convencido de sua função como porta-voz e tcholonadur, expressão guineense muito apropriada para designar o mensageiro, o intérprete." (...) (in: Moema Parente Augel Vozes que não se calaram. Heroização, ufanismo e guineidade- SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 14, n. 27, p. 13-27, 2º sem.2010)
Tem vários poemas. anteriores e posteriores à independência do seu país, publicados na Antologia poética da Guiné-Bissau. Coordenação do Centro Cultural Português em Bissau e da União Nacional dos Artistas e Escritores da Guiné-Bissau. Prefácio de Manuel Ferreira. Lisboa, Editorial Inquérito, 1990. (*)
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(**) Dos poemas da época colonial
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 25 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13647: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (2): "Párti um peso" e "Canção de Mamã Negra", de Albano de Matos, pp. 6/7
(*) Último poste da série > 25 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13647: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (2): "Párti um peso" e "Canção de Mamã Negra", de Albano de Matos, pp. 6/7
(**) Dos poemas da época colonial
CANÇÃO DE CRIANÇA
Vento forte
vento norte
lá vem a criança
na sua esp’rança.
Vento forte
vento norte
lá vem a criança
lá vem a criança
na sua pujança.
Da tabanca erguida
toda ela de vida
lá vem a criança
na sua embalança.
Lá vem a criança
na sua bonança
lá vem lá vem
saudar alguém.
Lá vem a criança
na sua esp’rança
lá vem a criança
na sua pujança.
Lá vem a criança
na sua bonança
lá vem lá vem
beijar a mãe.
Iha das Galinhas, 1967
Da tabanca erguida
toda ela de vida
lá vem a criança
na sua embalança.
Lá vem a criança
na sua bonança
lá vem lá vem
saudar alguém.
Lá vem a criança
na sua esp’rança
lá vem a criança
na sua pujança.
Lá vem a criança
na sua bonança
lá vem lá vem
beijar a mãe.
Iha das Galinhas, 1967
PRATO DE FOME
Uma mesa triste onde talher e tudo falta
p’ra vingar fome
Mão de alguém-menino
corre [?] como esqueleto numa tigela de fome.
Alguém-menino
saído dum ventre feliz de parir.
Vida de amor de alguém-menino
talvez sonhando um futuro risonho
como tantas outras vidas sonharam.
Alguém-menino — alma simples
contemplando a certeza da revolução.
Nem pilão pila
colonial vida de pilão vazio.
Bissau, Safim, 1973
In: Antologia poética da Guiné-Bissau. Coordenação do Centro Cultural Português em Bissau e da União Nacional dos Artistas e Escritores da Guiné-Bissau. Prefácio de Manuel Ferreira. Lisboa, Editorial Inquérito, 1990
Fonte: Sítio Tripov > Guiné-Bissau > Poetas > Pascoal d'Artagnan (com a devida vénia...)
Guiné 63/74 - P13656: Ser solidário (165): Estou desesperada, conto com a vossa ajuda para encontrar o meu querido irmão Nivaldo Biagué Fortes, de 16 anos, desaparecido de Bissau há 4 meses (Hondina Cabral Fortes, guineense, enfermeira, São Carlos, São Paulo, Brasil)
1. Mensagem da nossa leitora (e amiga da página do Facebook da Tabanca Grande), guineense, enfermeira, a viver no Brasil, na cidade de São Carlos, estado de São Paulo, Hondina Cabral Fortes:
Data: 26 de Setembro de 2014 às 16:48
Assunto: Pedido de ajuda
Olá,
Sou Hondina Cabral Fortes, guineense, moro no Brasil há 9 anos.
O meu irmão, Nivaldo Biagué Fortes, de 16 anos, está desaparecido já há 4 meses em Bissau.
Peço ajuda para divulgar informação a seu respeito bem como a imagem dele.
Se alguém tiver alguma informação sobre o seu paradeiro, entre por favor em contacto com a família.
Estou desesperada, conto com a vossa ajuda. Mais informações em anexo [vd. acima]
Obrigada.
Hondina Cabral Fortes
Bacharel em enfermagem
Telefone fixo: 0055 16 34137729
Celular / telemóvel: 0055 16 981663576
Página do Facebook: www.facebook.com/hondina.cabralfortes
________________
Nota do editor:
Último poste da série > 15 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13610: Ser solidário (164): Muita saúde e longa vida, Joaquim Pinto de Carvalho, porque tu mereces tudo (Os amigos da Tabanca do Oeste)
Guiné 63/74 - P13655: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (36): Campanha de prevenção da Doença por Vírus Ébola
Campanha de Comunicação e Prevenção da Ébola
[Mais informações sobre a Doença por Vírus Ébola, disponíveis no sitio da Direção-Geral de Saúde, Ministério da Saúde, Portugal.]
O objetivo da campanha é suscitar, por parte da população das áreas em que a nossa ONG intervém, um comportamento adequado de prevenção da provável epidemia da ébola no nosso país. O objetivo vai por isso para além da simples comunicação entendida como a difusão de informações. A campanha terá quatro componentes intimamente integradas:
O objetivo da campanha é suscitar, por parte da população das áreas em que a nossa ONG intervém, um comportamento adequado de prevenção da provável epidemia da ébola no nosso país. O objetivo vai por isso para além da simples comunicação entendida como a difusão de informações. A campanha terá quatro componentes intimamente integradas:
1. Comunicação social, através das 32 rádios e 4 TV membros da Rede Nacional das Rádios e Televisões Comunitárias da Guiné-Bissau (RENARC) coordenada pela AD; o boletim informativo “Pepito” do Bairro de Quelélé; site Web e facebook da AD, peças de teatro pela Cooperativa Cultural “Os Fidalgos” e música coordenada pelo Estúdio Bissom com sede em Quelélé
2. Comunicação de grupo, em direção às estruturas beneficiárias e parceiras da AD em áreas rurais e urbanas em Bissau e nas Regiões de Cacheu e Cubucaré: 25 Escolas de Verificação Ambiental; 5 Centros de Saúde e 15 Unidades de Saúde de Base; 2 Escolas de Formação Profissional; 3 jardins-escola e 127 associações e agrupamentos. Através destas estruturas, a AD possui uma capacidade de mobilização das comunidades que entende pôe à disposição da prevenção da ébola
3. Comunicação interpessoal, através da qual as pessoas conscientizadas e tendo adotado um comportamento adequado através das duas primeiras componentes, partilham os conhecimentos e atitudes adquiridos aos seus familiares, amigos, colegas, vizinhos e outros membros das suas respetivas Deste modo criam-se efeitos multiplicadores significativos ao longo da cadeia de impacto que se vai construir
4. Limpeza e desinfeção da água nos locais de trabalho e de encontro dos membros das estruturas acima referidas assim como das suas áreas geográficas respetivas.
Fonte: Sítio da AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau, 27 de setembro de 2014
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2. Comunicação de grupo, em direção às estruturas beneficiárias e parceiras da AD em áreas rurais e urbanas em Bissau e nas Regiões de Cacheu e Cubucaré: 25 Escolas de Verificação Ambiental; 5 Centros de Saúde e 15 Unidades de Saúde de Base; 2 Escolas de Formação Profissional; 3 jardins-escola e 127 associações e agrupamentos. Através destas estruturas, a AD possui uma capacidade de mobilização das comunidades que entende pôe à disposição da prevenção da ébola
3. Comunicação interpessoal, através da qual as pessoas conscientizadas e tendo adotado um comportamento adequado através das duas primeiras componentes, partilham os conhecimentos e atitudes adquiridos aos seus familiares, amigos, colegas, vizinhos e outros membros das suas respetivas Deste modo criam-se efeitos multiplicadores significativos ao longo da cadeia de impacto que se vai construir
4. Limpeza e desinfeção da água nos locais de trabalho e de encontro dos membros das estruturas acima referidas assim como das suas áreas geográficas respetivas.
Fonte: Sítio da AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau, 27 de setembro de 2014
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Notas do editor
(*) Último poste da série > 5 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13465: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (35): Pepito (1949-2014): rei morto, rei (de)posto ?...
(**) Portugal, Ministério da Saúde, Direcção Geral de Saúde > Doença por vírus Ébola(...) Um surto de Doença por Vírus Ébola decorre na Costa Ocidental de África desde fevereiro de 2014.
A infeção resulta do contacto direto com líquidos orgânicos de doentes (tais como sangue, urina, fezes, sémen). A transmissão da doença por via sexual pode ocorrer até 3 meses depois da recuperação clínica.Uma vez que o período de incubação pode durar até 3 semanas é provável que novos casos venham ainda a ser identificados.
O risco para os países europeus é considerado baixo. No entanto, impõem-se medidas de prevenção que se detalham nos documentos abaixo publicados. (..:)
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