terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15551: Notas de leitura (791): "A Rua Suspensa dos Olhos", de Ábio de Lápara (pseudónimo literário de José A. Paradela): reprodução do capítulo 7 com a descrição da viagem de seis meses, aos 17 anos, em 1955, aos bancos de pesca do bacalhau: II parte


Foto nº 1 > O artista quando jovem, em 1955, com 17 anos... "Moço de convés", junto à bitácula no navio "Lusado". (A bitácula é, em linguagem náutica,  a caixa redonda de metal e vidro, geralmente assente em coluna de madeira, que contém a bússola da embarcação).




Foto nº 2 > Oito dias levava o "Lousado" a chegar aos pesqueiros da Terra Nova



Foto nº 3 > Um aspeto do convés do navio bacalheiro "Lousado"




Foto nº 4 > Alguns dos bravos marinheiros e pescadores que embarcam no "Lousado" em abril de 1955. Na segunda fila, ao centro, o terceiro a contar da esquerda, é o nosso autor...


Fotos: © José António Paradela (2015). Todos os direitos reservados.


1. Segunda parte da publicação do capítulo 7 (A viagem “O Mar por Tradição”, pp. 91-99), do livro A Rua Suspensa dos Olhos, de Ábio de Lápara (edição de autor, Aveiro, 2015, 164 pp.) (*)... 

É uma grande cortesia do autor, José António Paradela, velho amigo do editor do nosso blogue ... Ábio de Lápara é  o seu pseudónimo literário... Ilhavense, filho de marinheiro, o autor evoca e revive com enorme ternura e talento a rua onde nasceu e cresceu, e onde conheceu algumas das figuras humanas da sua terra, que marcaram a sua memória e o seu imaginário... Aliás, pelas  histórias da rua suspensa dos olhos perpassa muita da humanidade, ternura, inocência, traquinice, generosidade e poesia da nossa infância...

Refiro-me à infância daqueles de nós que nascemos nos anos 30/40 do século passado, toda uma geração duramente sacrificada que conheceu,  uns, a epopeia dos mares, incluindo a pesca do bacalhau (que chegou a ser alternativa à guerra colonial),  outros o exílio e a emigração, e outros ainda (a grande maioria) a guerra colonial e até a condição de prisioneiros de guerra (como foi o caso da Índia, em 1961/62).

Capa do livro, da autoria
de José A. Paradela
A sua passagem pela Escola Profissional de  Pescadores, em Pedrouços, Lisboa, acaba com uma  viagem de seis meses na safra do bacalhau, nas costas da Terra Nova e da Groenlândia. Era, por antonomásia, "A Viagem"  (*)...

Foi uma experiência, aos 17 anos, que o marcou para o resto da vida, não só pela dureza das condições de vida a bordo como pela descoberta e reforço dos laços de camaradagem, solidariedade e amizade entre a tripulação (marinheiros e pescadores) do navio-motor "Lousado", construído em 1954, nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. [Características principais: comprimento: 62,04 m; boca: 11,07 m; pontal: 4,9 m; tonelagem líquida: 599,35 ton.; tonelagem bruta: 1176,95 ton.; capacidade de porão: 17 mil quintais; tripulação: 99 homens; material de construção: aço.]

Como já o dissemos anteriormente, a vida deu, entretanto, outras voltas e o autor não seguiu o destino dos seus antepassados...  Aluno brilhante, acabou por ficar em Lisboa, ganhar uma bolsa  e assim poder continuar a estudar, sendo hoje um nome de referência da arquitetura e urbanismo em Portugal. (Depois da tropa, feita na Marinha, entraria para o curso de arquitetura na Escola Superior de Belas Artes, no ano letivo de 1960/1961; fundou e geriu a empresa PAL - Planeamento e Arquitectura, com sede em Lisboa, e ainda em atividade;  tem obra por todo o país, e em especial na Região Autónoma da Madeira).

O livro A Rua Suspensa dos Olhos não está à venda no mercado. Mas, contra reembolso (10 euros, preço de capa + 2 euros para portes de correio), pode ser pedido autor, através do seu endereço pessoal. Ver igualmente a sua página pessoal no Facebook.

Publicamos hoje mais algumas páginas do capítulo 7. Haverá um 3º e último poste com o resto do texto (pp. 99-107). (**)


Foto do livro: cortesia do autor,
José A. Paradela
2. A Rua Suspensa dos Olhos > 7. A viagem “O Mar por Tradição”, de Ábio de Lápara (2015) > Parte II (pp. 91-99)

[Foto à esquerda: o autor quando jovem, ao meio, ladeado pelo pai, velho lobo do mar, e a irmã; um outro irmão, Tibério Paradela,  seguiu  a carreira de oficial da marinha mercante: tem um livro de ficção sobre a pesca do bacalhau, "Neste mar é sempre inverno", de que já aqui falámos (edição de autor, Aveiro 2014, 262 pp.)]



A Viagem

Num belo dia dos fins de março desse ano [de 1955], fui finalmente chamado para embarcar.

O Lousado era um navio-motor, construído em ferro, com dois mastros despidos de velas, com o casco pintado de branco como todos os navios portugueses da pesca à linha e comecei imediatamente a trabalhar. [Era a segunda viagem do navio aos bancos pesqueiros da Terra Nova e Groenlândia. (LG)].

A bordo encontrei tripulantes de Ílhavo, alguns dos quais meus conhecidos, com os quais viria a estabelecer fortes laços de amizade: o Armindo Verdade, o João Eugénio e o Francisco Serrão. O primeiro desempenhava funções de ajudante de motorista, o segundo, de ajudante de cozinheiro e o terceiro, de moço de convés, como eu, embora com maior experiência por ter feito várias viagens. Com este partilhei um dos pares de beliches em que o rancho se organizava.

Tinham-me avisado que “grande nau, grande tormenta”! Nesse aspecto o Gazela teria sido mais bonançoso (#),  mas a minha opção [, a de embarcar no Lousado] estava tomada.

Nesse primeiro dia a bordo, fundeado no Tejo, o almoço foi comido sentado num pandeiro de cabo, no convés em desalinho. O navio estava a receber materiais de toda a ordem para “A Viagem”.

 O rancho [espaço interior, debaixo do castelo da proa, onde se situam o refeitório e o dormitório do pessoal (LG)] não estava ainda operacional. A acompanhar a comida, servida num prato de alumínio, deram-me uma caneca de ferro esmaltado, de cor azul, com cerca de um quarto de litro de vinho tinto. À medida que o ia bebendo em pequenos goles, a minha nostalgia e o aperto no peito iam desaparecendo como por milagre. Não estava habituado a beber, e o estado ansioso que me afligia, foi substituído por uma exaltação eufórica inesquecível que me transportou para um patamar de lucidez que poucas vezes consegui repetir durante a viagem, apesar de não dispensar, a partir daí, a ração de vinho que me era atribuída.

Nesse estranho momento, muitas imagens do passado desfilaram como num filme: os momentos de solidão e temor nas minhas graves doenças infantis, a rejeição dos estudos nos dois anos que frequentei o liceu, o gosto da liberdade juvenil na comunhão dos amigos, as aflições da minha mãe com as minhas ausências, a recente partida da minha avó paterna para a cova do meu avô, onde eu ia com ela rezar em criança, e, sobrepondo-se a tudo isso, o manto roxo da minha paixão adolescente, pairando sobre aquela nau daí para o futuro, ao longo de seis ou sete meses, na ausência do poema amado!

Ia começar a aventura! Levantei-me e exclamei bem alto perante a perplexidade dos outros: “Um homem é um homem… uma mulher é um bicho!”.

Palpitava-me que não seria bem assim, mas, naquela altura, foi a consolação da raposa perante o cacho de uvas inatingível. Confortado pelo grito agarrei-me ao trabalho. Nesse tempo eu não conhecia a frase inscrita sobre o portão de Auschwitz [Arbeit macht frei,  (LG)] mas de facto sentia que o trabalho me libertava.

No navio deixei novamente de ser um número! [Na Escola Profissional de Pescadores,  era o Sessenta... (LG)]. Embora a obediência continuasse obrigatória mas não regulamentada, permitindo abusos de poder sobretudo dos poderes subalternos, os sentimentos de liberdade e autonomia experimentados, compensavam a angústia do “castigo” que se aproximava.

Até que chegou o dia, em abril [de 1955], em que os navios, fundeados em Belém frente aos Jerónimos, eram benzidos em cerimónia montada a preceito, como o regime [do Estado Novo, (LG)] sabia fazer, ritualizando os atos que, desse modo, passavam a estar sancionados pelo Altíssimo! Assim encomendados a Deus, no meio da tarde do dia seguinte, rumamos a Cascais.

Dia primaveril, onde nada fazia supor o que se passaria nessa noite, apesar da bênção. Saídos da barra, a ondulação começou a fazer-se sentir, e fiquei junto à amurada a ver a terra desaparecer, iluminada pela luz dourada do poente. À medida que o sol se punha, a linha da costa extinguia-se no lado oposto. Em pouco tempo era um fio de sombra, uma nuvem, uma névoa…Nada.

Para trás ficara enrolado,  em nostalgia, todo o meu quadro de referências físicas e espirituais. Era a primeira vez que isso me acontecia e as primeiras vezes têm, como se sabe, o sortilégio da permanência na memória. Era também a primeira vez que eu navegava no alto mar.

Ao reentrar no rancho perdi a referência estabilizadora do horizonte. A descoordenação de movimentos foi imediata e, a cada balanço do navio, as anteparas aproximavam-se de mim perigosamente. O esforço que tinha de usar para me manter na vertical tornou-se penoso. Faltava-me o andar de marinheiro!

Na véspera da partida, o contramestre comunicara-me instruções do imediato, explicando-me que a tripulação das máquinas era composta de três maquinistas e dois ajudantes. Faltava assim um ajudante para preencher o terceiro turno do serviço.

Conhecida a minha prática oficinal anterior, através de informação dada pelo Armindo Verdade, eu deveria abandonar as tarefas do convés e seria arvorado em ajudante do segundo maquinista, sempre que o navio tivesse de navegar por um tempo mais longo. Gostei do alvitre, era um desafio que não esperava. O meu turno de serviço começava às vinte horas. Fui tentar jantar qualquer coisa, mas o estômago não aceitou. Chegada a hora, dirigi-me para a casa das máquinas.

Naquelas primeiras horas, após a saída da barra, o tempo piorara de modo assustador. Tinha de me manter permanentemente agarrado aos corrimões, e o enjoo não tardou a chegar.

O segundo maquinista, um ilhavense avisado e muito afável, já me tinha indicado as tarefas a executar e o balde apropriado para vomitar. Pouco depois, através do “telégrafo” de bordo, veio da ponte de comando uma comunicação para reduzir a força da máquina. As coisas deviam estar a complicar-se lá por cima, pensei eu…

O navio ia ser posto de "capa", isto é, aproado ao vento e à ondulação, em baixa velocidade, para evitar estragos sobre o convés durante a viagem até aos pesqueiros, onde estavam peados os botes de pesca  e outros materiais para a laboração do peixe.

Depois de dois ou três dias de mau tempo e enjoo permanente, todos os cheiros eram repugnantes, quer fossem os dos vapores do óleo derramado pela almotolia sobre a cabeça quente do motor ao lubrificar os balanceiros, quer fosse o cheiro do pão quente ao sair do forno, quando no regresso ao rancho passava junto à cozinha.

O ruído contínuo das máquinas, a princípio difícil de suportar, transformava-se com o passar do tempo, numa monódia envolvente com modulação de ladainha religiosa e, lentamente, a adaptação foi ocorrendo.

Por alturas da passagem pelos Açores, avistou-se, a flutuar nas ondas, uma tartaruga de grande tamanho e manobrou-se o navio de modo a recolhê-la. A canja ficou deliciosa, e foi a primeira sopa que comi com verdadeiro apetite. Provavelmente hoje não conseguiria comê-la! Preconceitos…

As primeiras noites, deitado no beliche que me coubera no rancho inferior, foram infernais. Açoitado pelo mau tempo, o navio cavalgava o mar com balanços tais que faziam bater a amarra que suspendia o ferro (a âncora), no tubo metálico que a conduzia para o paiol respetivo. Só o profundo cansaço de muitas horas de trabalho permitia algum repouso, ajudado pelo efeito de berço de infância gerado pelo balanço do navio.

Entretanto o tempo foi melhorando e as agonias desaparecendo, tal como os sons da amarra, agora menos agitada no interior do tubo. As anteparas deixaram de me ameaçar e o andar de marinheiro foi-se instalando aos poucos.

Como quem mora ao pé da igreja, deixa de ouvir o toque dos sinos, habituei-me e aprendi mais tarde a reconhecer o estado do tempo pelo nível sonoro da amarra! Muitos dias de silêncio seguidos significavam outros tantos de cansaço na pesca. Assim, os ruídos fortes chegavam a ser bem vindos para obter o merecido descanso imposto pelo mau tempo!

A viagem até aos pesqueiros durava cerca de oito dias. As tarefas executadas nesse período formavam um manancial de conhecimentos muito diversos, tanto para os “moços” recém embarcados, como para os “verdes” [, o equivalente a "piras" (LG)], os pescadores que embarcavam pela primeira vez e eram obrigatoriamente orientados por um pescador sénior [, um "maduro", (LG)]. Eram os dias preparatórios daquela vida, antes de entrarmos na rotina da pesca.

Mas não quero aqui avançar por narrativas já conhecidas e mais competentes. Prefiro averiguar sobretudo aquilo que, ao fim de tantos anos, em mim resta daquela experiência.

Restarão certamente impressivas sensações onde já não habitam alguns nomes, tão pouco os seus rostos, gastos na erosão dos dias. De homens longamente afastados do fluxo normal da vida urbana, cultivando a saudade no meio de condições de sobrevivência infra-humanas, isto é, fora dos padrões sociais de convivialidade característicos da vida em terra. Ali, a comunicação ficava limitada ao passado, nas conversas do rancho, ou apenas grunhida com interlocutor imaginário no isolamento do bote, durante muitas horas por dia. O fatal embotamento da consciência motivado pelas poucas horas dormidas em cada dia, completava-se recorrendo à aguardente diariamente distribuída em duas tomas como se de remédio se tratasse: de madrugada, antes de saltar para o bote [, o chamado "mata-bicho", (LG)] e à tarde durante a longa “escala” do peixe.

Esta tarefa durava até que o convés ficasse limpo. Os pescadores iam então beber a “chora”, um caldo de peixe reconfortante, antes de caírem no beliche com a roupa que traziam no corpo, esgotados. Apenas a lembrança da família lhes permitia manter o “élan” vital, para suportar a dureza destas tarefas.

Sempre que o tempo estava calmo, a alvorada soava com os “louvados” [, ladaínha para despertar os pescadores, (LG)],  às 4 horas da manhã. O silêncio acontecia, por volta da meia noite. Eram assim vinte horas de vigília para quatro de descanso em cada dia. E este regime podia durar muitos dias seguidos, sem sábados nem domingos, com mar calmo ou agitado. Quantas profissões em terra se sujeitavam a semelhante regime?

Deixo-vos aqui um poema esquecido no fundo de uma “loca”, o lamento de um “verde” (pescador que embarcava pela primeira vez) que veio parar às minhas mãos no acaso de uma manhã.

O Verde

No dia em que, “verde”, me puseram entre tábuas
De um catafalco a que chamaram bote
E me disseram: salta, esquece as mágoas…
Senti, logo, na garganta um garrote!
Primaveril, meu coração bateu mais forte,
Ao cair na onda junto ao costado,
E remei, como quem enxota a morte,
De dentro do meu “fato oleado”.
“Senta-te, Zé, e rema enquanto a força durar!
Tens pão e peixe, e tens também café quente!
Segue-me quando o meu búzio roncar…”
Disse o “maduro”, comovido, ao ver-me imberbe,
Estendendo as linhas na corrente,
Junto à fria palidez do terrível icebergue.


(Continua)

[Revisão e fixação de texto, ilustrações, links e notas, exclusivamente para este poste: LG]

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 23 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15531: Notas de leitura (791): "A Rua Suspensa dos Olhos", de Ábio de Lápara (pseudónimo literário de José A. Paradela): reprodução do capítulo 7 com a descrição da viagem de seis meses, aos 17 anos, em 1954, aos bancos de pesca do bacalhau: Parte I

(**) Último poste da série > 28 de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15548: Notas de leitura (792): “Bichos da Guiné, Caça, fauna, natureza”, por Júlio de Araújo Ferreira, Edição de Autor, 1973 (2) (Mário Beja Santos)



segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15550: Tabanca Grande (481): Osvaldo Pereira da Cruz, 1.º Cabo Radiotelegrafista (rendição individual) – Piche 1969/71. É o grã-tabanqueiro n.º 710

1. O nosso Camarada [António M. ] Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), enviou-nos a apresentação de mais um camarada nosso, com a seguinte mensagem: 



Camaradas



Envio a apresentação de um novo Tertuliano, Osvaldo Pereira da Cruz, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista em Piche – Guiné,  1968/71. Para além de camarada d’armas também foi meu colega de trabalho nos ENVC (Estaleiros Navais de Viana do Castelo). 

Saudações,
A. Sousa de Castro


OSVALDO PEREIRA DA CRUZ, EX-1.º CABO RADIOTELEGRAFISTA EM RENDIÇÃO INDIVIDUAL NA GUINÉ – PICHE, 1969/71

PARA DAR UM ABRAÇO AO IRMÃO QUE IA CHEGAR À GUINÉ PARA CUMPRIR A SUA COMISSÃO AO SERVIÇO DO ESTADO PORTUGUÊS, INVENTOU PROBLEMAS DENTÁRIOS PARA CONSEGUIR CONSULTA E DESLOCAR-SE A BISSAU, FICOU SEM DOIS DENTES MAS PASSOU O NATAL DE 1970 COM O IRMÃO PAULO. VALEU A PENA! 

HISTÓRIA QUE SUA FILHA PAULA OLIVEIRA DA CRUZ FEZ QUESTÃO DE RECORDAR E PARTILHAR. MUITO BOM! (Sousa de Castro)


4 IRMÃOS NA GUERRA COLONIAL AO SERVIÇO DO ESTADO PORTUGUÊS.

Tenho 68 anos, trabalhei nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. (Fui Serralheiro Mecânico.) Fui para a tropa e daí para a Guerra Colonial na Guiné em rendição individual, fui 1.º Cabo Radiotelegrafista,  tinha 21 anos. Pertenci à Companhia de TRMS sediada em Bissau, no Quartel General, passei por Teixeira Pinto, Farim e completei a maior parte da comissão em Piche (15 meses, zona Leste da Guiné, no STM - Serviço de Transmissões Militares),  adido à CCS do BART 2857.

Foi muito duro para os meus pais pois estivemos na guerra ao mesmo tempo 4 irmãos, 2 na Guiné, 1 em Moçambique e outro em Angola.

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José Cruz

Meu 2.º irmão: José Pereira da Cruz, ex-Fur Mil TRMS INF. Cumpriu na Província de Moçambique desde 1969/71 a sua comissão de serviço,  integrado na CCAÇ 2555 como adjunto do Centro Cripto.


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Paulo Cruz 


Meu 3.º irmão: Paulo Pereira da Cruz, ex-Fur Mil, chegou à Guiné em rendição individual, em 1970/72. Ficou integrado num Pelotão de Nativos até ao fim. Não sei qual a designação do Pelotão e onde pertencia. Faleceu há mais de trinta anos por afogamento no Rio Lima,  no Barco do Porto em Cardielos, Viana do Castelo.


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Domingos Cruz 

Por último o meu irmão mais novo, o 4.º,  Domingos Pereira da Cruz:  cumpriu a sua comissão em Angola,  em rendição individual nos anos  de 1973/74 como Rádio-Montador. 

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- Pai, esta foi, por ventura, a história de Natal mais bonita que me contaste. Talvez não te lembres de a ter escrito no projeto Sénior, mas eu guardei-a para ti. Paula.


Osvaldo Cruz com sua filha Paula




MEMÓRIAS DO LESTE DA GUINÉ QUE NUNCA VÃO DEIXAR DE O SER!



Osvaldo Cruz
Estava na GUERRA COLONIAL da GUINÉ, e como tinha ido em rendição individual, passei por Teixeira Pinto e por Farim, acabando por me fixar em Piche onde estive quinze meses. 

Piche era uma zona do mato, no leste da Guiné. Como era uma zona das mais flageladas pelos ataques do PAIGC, não era fácil uma deslocação a Bissau onde acima de tudo se respirava um pouco melhor aquele ambiente de guerra. Acontece, porém, que eu recebo um aerograma dos meus pais onde me diziam que meu irmão Paulo tinha sido mobilizado e iria embarcar também para a Guiné. Fiquei muito surpreendido, e eis que chega novo aerograma do meu irmão onde me diz a data em que embarcaria em Lisboa,  directo à Guiné.

Eu era Radiotelegrafista, e a partir desta notícia desdobrei-me para saber quando chegava o navio a Bissau pois gostava muito de dar um abraço ao meu irmão, naquela hora da chegada. Então comecei a pensar o que fazer para vir a Bissau, pensa que pensa, e eis que surge uma ideia! Fui falar com um sargento-ajudante, com quem tinha já alguma amizade, e que eu sabia que me poderia ajudar. Contei-lhe a minha pretensão ao que ele me diz: “Tu és maluco, tu nem as pensas!”.

Fiquei triste, mas não saí dali. Então ele diz-me: “Olha lá,  os teus dentes estão bons ou tens algum avariado?” Eu tinha dois dentes atrás que estavam mais ou menos, mas estavam a cariar. Respondi: “Tenho um que volta e meia não o suporto com dores.” “Ora bem” - diz ele - “Sendo assim eu vou falar com o médico para ver se ele ajuda nisto”.

O médico era meu amigo e antes que o sargento falasse com ele falei eu primeiro, onde ele me diz: “Ó Cruz,  por mim não sou problema, deixa-o vir”. No dia seguinte sou chamado ao comandante. Quando chego diz-me o comandante: "Então queres ir à consulta do dentista no hospital militar?" Eu respondi afirmativamente e, olhando para a secretária dele, vejo a guia de marcha para eu ir para Bissau no primeiro meio aéreo que aparecesse. Entretanto ele pega nos papéis,  assina,  põe o carimbo e manda enviar uma mensagem para marcar a consulta. Manda-me sair e esperar por notícias.

Eu via o tempo a passar e nada de notícias, até que chega finalmente a confirmação da consulta e o meu amigo sargento mandou-me chamar. Fui a correr onde ele me diz: "Só falta o avião, o resto já cá está".

Entretanto chega uma mensagem dizendo que um avião DAKOTA chegaria naquele dia e que trazia reabastecimentos. O sargento diz-me: “Eh´, pá, parece que estás com sorte. Vou ver se o Dakota te leva, aguarda”.

Lá viemos para o posto de rádio para comunicar com a Força Aérea para confirmarem a boleia,  o que aconteceu. Fiquei muito contente e lá vim para Bissau. Quando cheguei , apresentei-me na Companhia de Transmissões para me darem alojamento e alimentação. Como ainda faltavam oito dias para a consulta, puseram-me a trabalhar no posto de rádio do Quartel-General.

Os manos Cruz, Paulo e Osvaldo
Dali a dois dias chegava o navio que trazia meu irmão. Como para entrar no cais era preciso uma credencial, fui pedi-la à secretaria e aí não houve problemas, pois fui com o condutor da carrinha de Transmissões que tinha livre-trânsito. 

Já no cais, eis que o navio que já fazia manobras para desembarcar o pessoal é vedado pela Polícia Militar, e não deixam ninguém contactar com os militares que chegavam, e estes são metidos em camiões directo ao Depósito Geral de Adidos que ficava a uns 16 quilómetros. Lá pedi ao condutor e este levou-me aos Adidos. O condutor deixou-me ficar, mas também nos Adidos não era fácil chegar ao contacto com os que chegavam e que estavam a ser encaminhados para os diferentes quartéis. 

Já estava desesperado e vejo aquela cabecita a olhar para todo o lado, não à minha procura porque ele não sabia que eu estava ali, mas porque tudo era diferente para ele a partir daquele momento. Eu gritei: “PAULO! PAULO!” e ele ouviu-me,  saiu da fila e com as lágrimas nos olhos veio dar-me um abraço. 

Como ele já sabia que iam ser alojados temporariamente no Quartel-General e eu tinha que vir para entrar de turno, despedi-me e disse-lhe que o procurava em Bissau. Lá arranjei boleia, o que era fácil, e vim para o Quartel. Ainda não tinha terminado o turno e chega um colega meu que me diz: “Cruz, está lá fora um periquito à tua procura.” 

Pedi-lhe que terminasse o turno por mim, depois de lhe dizer que o periquito era meu irmão que tinha chegado naquele dia. Fomos beber uma cerveja na cantina, pois o calor assim o impunha, conversamos para saber notícias e decidimos ir jantar num restaurante em Bissau.

Fui-me vestir com roupa civil e lá viemos para a cidade que ficava a uns 4 quilómetros. Foi uma noite diferente. Depois todos os dias nos encontrávamos, até que chegou a consulta. Chegado ao Hospital lá sou encaminhado para uma fila com mais de dez pessoas. Chega o enfermeiro faz a chamada e de seguida sem ser visto pelo médico que era um oficial da Marinha, começa a dar anestesia a todos que ali estavam.

Já não sentia a cara quando sou chamado, o médico manda-me deitar na cadeira e pergunta "qual era o dente?” Eu não sabia falar, pois não sentia a cara. Abri a boca, ele olha toca no dente mais estragado e arrancou-o. Meteu uma gaze no buraco olha de novo e diz: "O melhor é tirar aquele também que já não te vai chatear mais". E vai daí fiquei com menos dois dentes.

Entretanto,  trago a alta do médico onde dizia que podia voltar à minha unidade. Faltavam mais ou menos três semanas para o Natal, mas o transporte era difícil e aí eu já não tinha muita pressa. Chegou o Natal e, nem eu nem o meu irmão, tínhamos ainda transporte para os destinos. Então foi muito bom porque passamos juntos o Natal de 1970.

Passados uns dias sou chamado e fui de volta para Piche onde os meus camaradas de transmissões me esperavam, pois já estavam só os dois há mais de um mês e como o turno era de 24 horas, cada um trabalhava doze horas por dia. Passado um mês sou mandado para Bissau, pois tinha terminado a comissão e aguardava por transporte para a Metrópole. (Assim era chamado o nosso Portugal.) Em Abril de 1971 regressei com menos dois dentes, mas com grande alegria porque tinha ido receber o meu saudoso irmão. 

Um abraço, camaradas 

Osvaldo Cruz 
1.º Cabo Radiotelegrafista (rendição individual)

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

Guiné 63/74 - P15549: Inquérito 'on line' (24): Num total de 35 respostas, 15 dos nossos camaradas (c. 43%) diz que o bacalhau nunca faltou na mesa de Natal, no CTIG... A inquirição acaba no dia 30, 4ª feira, às 14h10


Guiné > Zona leste > CART 3494 (1971/74) > Xime >  Natal de 1972, o segundo passado no CTIG. De pé, António Costa [1.º cabo]; José Pacheco [20.º Pel Art]; Jorge Araújo e Mário Neves [furriéis].


Guiné > Zona leste > CART 3494 (1971/74) > Mansambo > Natal de 1973, o 3º passado no CTIG >  Da esquerda para a direita: Carola Figueira [furriel]; António Costa, de pé [1.º cabo impd. messe of.]; Orlando Bagorro [1.º  srgt]; Serradas Pereira [alferes]; Luciano Costa [cap mil cmdt CART 3494]; Jorge Araújo, de pé [furriel]; Lobo da Costa [alferes estagiáriodo curso de capitães].


Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



INQUÉRITO DE OPINIÃO: "NA GUINÉ, NO NATAL, NUNCA FALTOU O 'FIEL AMIGO', O BACALHAU"


Camaradas: como era na Guiné, nos idos tempos de 1961/74 ?  Como eram as nossas "ceias de Natal" ?...

Recorde-se aqui a nossa série "O meu Natal no mato"... Já publicámos pelo menos 42 postes  nesta série: o último foi assinado pelo nosso camarada Rui Pedro Silva (ex- cap mil, CCAV 8352, Cantanhez, 1972/74) (*).

Por outro lado, houve malta que passou 3 natais no CTIG ou a caminho do CTIG: caso,  por ex..  da CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74).

O "fiel amigo", o bacalhau, está associado, na nossa tradição gastronómica, à quadra festiva do Natal e Ano Novo...

Na ceia de Natal portuguesa (e nomeadamente nortenha) a tradição era (e continua a ser) comer bacalhau, e de muitas formas e feitios, desde o bacalhau com pencas à "roupa velha"...  Na Guiné, durante a guerra colonial, o bacalhau trazia-nos a lembrança dos sabores da terra e as saudades de casa.

O bacalhau, a saudade e e, a partir de meados do séc. XIX, o fado são três elementos da nossa identidade.

Vd. aqui a propósioyo a um interessantíssimo artigo de José Manuel Sobral e Patrícia Rodrigues - O “fiel amigo”: o bacalhau e a identidade portuguesa. Etnográfica [Em linha], vol. 17 (3) | 2013. desde. [Consult em 28 de dezembro de 2015]. Disponível em http://etnografica.revues.org/3252.

É um artigo que aconselhamos vivamente, disponbível em pdf, e que foca os seguintes pontos: (i) A identificação entre o bacalhau e os portugueses; (iii) Um consumo antigo; (iiii) Razões históricas do consumo do bacalhau em Portugal; (iv) Da penitência ao sucesso; (v) A pesca e o abastecimento do bacalhau: uma síntese breve; (vi) A construção de uma cozinha nacional e o bacalhau: o testemunho dos livros de cozinha; (vii) O bacalhau e os portugueses: uma identificação recriada nas relações e inscrita no corpo e na memória

Bacalhau com "pencas"...
Foto de LG
Como dizem os autores no resumo do seu artigo "o bacalhau possui um estatuto único na cozinha portuguesa, pois é ao mesmo tempo um alimento muito frequente no seu receituário e um símbolo da própria identidade nacional. Neste ensaio procede-se a uma reconstrução genealógica dos diversos motivos e processos que conduziram a esta situação, procurando mostrar que dinâmicas de natureza religiosa, económica, política e ideológica se combinam com uma longa socialização e incorporação, que se traduziu num gosto específico por este tipo de alimento entre os portugueses."


Ler aqui algo mais sobre a história da pesca do bacalhau... 

Recorde-se, por outro lado, que sobre a pesca do bacalhau  (a tal "outra guerra"...) temos já 15 referências no nosso blogue. No nosso tempo, o Estado Novo elevou a "faina maior" à categoria de epopeia nacional... E em 1958 Portugal era o maior produtor mundial de bacalhau seco e salgado...

Houve, até agora, 35 respostas ao inquérito de opinâo desta semana festiva sobre a presença do bacalhau na mesa de Natal na Guiné,  no nosso tempo (1961/71). As opiniões estão assim repartidas:
.

1. Sim, nunca faltou, no Natal > 15 
(42,9%)


2. Não sei / não me lembro > 9 
(25,7%)


3. Faltou pelo menos uma vez > 0 
(0%)


4. Faltou sempre > 9 
(25,7%)

5. Não aplicável. nunca liguei ao bacalhau > 2 
(5,7%)


Votos apurados: 35
(100,0%)

Dias que restam para votar: 2 (termina em 30/12/2015, 4ª feira, às 14h10). Queremos chegar, pelo menos, até às 100 respostas... (**)

________________

Notas do editor:

(*) Vd. último poste da série > 25 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14080: O meu Natal no mato (42): 1971, em Zemba (Angola); 1972, em Caboxanque; 1973, em Cadique (Rui Pedro Silva, ex- cap mil, CCAV 8352, Cantanhez, 1972/74)

(**) Último poste da série > 15  de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15492: Inquérito 'on line' (23): cerca de 57% dos respondentes, num total de 81, admitem que já caíram (ou foram tentados a cair) no 'conto do vigário', uma ou mais vezes, e sobretudo na vida civil...

Guiné 63/74 - P15548: Notas de leitura (792): “Bichos da Guiné, Caça, fauna, natureza”, por Júlio de Araújo Ferreira, Edição de Autor, 1973 (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Março de 2015:

Queridos amigos,
Estes "Bichos da Guiné" farão parte do meu lote de livros raros.
Temos aqui o entusiasmo do caçador vagabundo, um militar colocado em Bolama que espairece e goza os seus lazeres um pouco por toda a Guiné à procura de búfalos, antílopes, hipopótamos, crocodilos, e aqueles bichinhos que escapam à caça grossa mas que são muito bons no churrasco.
Maravilha-se com a Lagoa de Cufada, encontrou belezas ímpares em Guileje e Madina do Boé.
Até neste aspeto é um relato raro, especioso, que nos põe a questionar o que era aquele mundo de paz e como virou em ferro-e-fogo, pouco mais de dez anos depois.
Um livro, houvesse imperativos culturais luso-guineenses, que merecia reedição, para satisfação de todos.

Um abraço do
Mário


Bichos da Guiné, por Júlio de Araújo Ferreira (2)

Beja Santos

Em “Bichos da Guiné”, por Júlio de Araújo Ferreira, Edição de Autor, 1973, partilhamos das impressões de um caçador vagabundo, militar na Guiné que aproveita os seus tempos livres na arte cinegética. E é um verdadeiro prazer acompanhá-lo nas suas deambulações, ele cativa-nos com a caça, a fauna e a natureza que o deslumbram. Estamos agora na pista de elefantes. As informações que ele colhera eram nebulosas, as informações eram esparsas. Viveu na Guiné três anos, entre 1946 e 1948, e descobriu que afinal havia elefantes: 

“Pude verificar a presença de elefantes entre o Corubal e a fronteira. Posso também assegurar a sua existência na região de Banjara. Da Mata de Cantanhez, chegavam-me, de tempos a tempos, informações a confirmar a presença de elefantes por ali. Nas várias caçadas que fiz por terras de Contabane, encontrei rastos diversos de elefantes”

Dá como confirmado haver elefantes na Guiné. Considera que é dos aspetos mais apaixonantes, a caça ao elefante: caminhadas de arrasar, intermináveis maratonas, e sugere que é melhor levar o leitor a embrenhar-se com ele pelos matos da Guiné em perseguição dos enormes trombudos.

Lá vai a caminho de Contabane, segue um caminho paralelo à fronteira, até ao cruzamento com a estrada de Cacine, voga ao sabor das fantasias da manada, regista repetidamente as aves e os mamíferos. É uma longa caminhada até se descobrir o rasto, dão com um animal ainda relativamente novo, tem um dente entre 15 a 20 quilos e o outro apenas a raiz. Pé entre pé aproximam-se uns 25 metros: 

“Procurei localizar rapidamente o orifício do ouvido e visando um ponto à retaguarda deste para lá fiz seguir sem perda de tempo os 400 “grains” de uma .404 sólida”.

 O animal tomba com a parte posterior do corpanzil assente no solo, aparecem dois elefantes, parecem ameaçadores, um tiro partiu, a arma desparafusa-se, é preciso mudar de arma, o elefante está tombado leva o tiro de misericórdia, os outros dois elefantes fogem, o abatido é todo retalhado. Depois disserta como se matam elefantes, há discussões apaixonadas sobre o tiro ao cérebro do elefante: 

“É certo que uma bala dirigida à raiz da tromba, ao ouvido, ou acima da linha dos olhos poderá fulminar um elefante, mas o que se torna indispensável é ter em atenção que isso só poderá acontecer em determinadas posições da cabeça do animal em relação ao atirador. A grande verdade é que o elefante não tem o cérebro nos bordos exterior do canal auditivo, nem na raiz da tromba, nem na linha dos olhos… Nem em ponto nenhum da periferia da cabeça. Uma bala, par atingir o cérebro, tanto poderá entrar acima como abaixo da linha dos olhos, ou mesmo num dos olhos, tanto no ouvido como acima, abaixo, à frente ou atrás dele”. Fala sobre as melhores armas, vê-se que escreve tudo com uma ponta de genuíno orgulho: “Os troféus do meu elefante – o dente, uma pata e uma orelha – fizeram tremendo sucesso durante a viagem, e, no dia seguinte, em Bolama, vieram ainda ao meu quintal bastantes africanos para ver os despojos”.

São memórias de um caçador, a seguir vai falar de búfalos, deixa-nos breves apontamentos sobre algumas espécies e aves e comunica-nos o maravilhamento da Lagoa de Cufada. Vale a pena fazer uma corrida apertada pelas suas observações. Sobre búfalos, diz-nos que é um animal de caça estupendo, devido à perseguição pelo rasto, sabe defender-se com habilidade, tem por vezes reações perigosas, na Guiné é a peça de caça número um, já não se pode contar nem com o elefante nem com o leão. Disserta sobre o que é mais apropriado na caça ao búfalo: 

“Sou partidário dos grandes calibres para os grandes animais. É certo que a bala de uma .303 pode matar com limpeza um búfalo. Em minha opinião deve usar-se um projétil mais valente, mais maciço, capaz de fazer face, com maior segurança, a todas as situações”

E prende-nos a atenção com uma caçada em Caur, perto de Empada. As suas descrições são amplas, sensoriais, preenchidas com muitos elementos da natureza. Está no rio Tombali e aproveita para descrever as rias, tem presente que o leitor comum precisa destes condimentos para entender aquela natureza luxuriante e diversificada. Passando para os antílopes, detalha as espécies, aí o leitor comum encolhe-se com tanto búbalo, sylvicapra e redunca, e gazela de lala. Nenhum caçador é indiferente aos símios e ele enumera-os: macacos verdes, macacos cães, macacos fulas, macacos pretos, macacos fidalgos, distingue-os. Por exemplo, os macacos cães são de temperamento muito conflituoso, envolvendo-se em constantes disputas e ficamos a saber que o leopardo é o seu tradicional inimigo. À data, o leão já era raríssimo na Guiné, não avistou nenhum.


Espraia-se em hipopótamos e crocodilos. Os primeiros estavam largamente espalhados pela Guiné, em quase todos os rios e lagoas, até nas Bijagós. Os crocodilos são conhecidos por lagartos. E fala como perito: 

“Qualquer projétil, mesmo com ponta de chumbo, os abate com facilidade; o que é indispensável, evidentemente, é estar bem colocado. A celebérrima carcaça de crocodilo, mais ou menos impermeável às balas, é uma lenda. Contra eles, uma carabina de calibre ligeiro, à volta dos 7 a 8 mm, grande tensão de trajetória, e provida de uma boa alça telescópica, é a minha ferramenta preferida. Refiro-me, como é evidente à caça de dia, porquanto de noite, caçados a farolim, são incrivelmente estúpidos. Até à arma branca se torna possível abatê-los”

Visivelmente contrafeito, fala das cobras, a cuspideira, a “surucucu”, as jiboias, a temível mamba, a bonita cobra verde da palmeira. E derrama-se, lânguido, sobre perdizes, galinhas, rolas, pombos, gansos, mas também recorda os pássaros e a sua plumagem. Deixa-nos páginas impressivas sobre a Lagoa de Cufada, o lugar que ele recorda com maior saudade, é um texto que por si só merecia ser reproduzido num documento sobre conservação da natureza. Por último, é citada a legislação da proteção das espécies, certamente escrito pelo punho de Sarmento Rodrigues, aqui fica um pequeno texto: 

“O verdadeiro caçador em África deverá ser ainda estoico e brioso, lutador e leal, duro e generoso. Terá vista de lince e músculos rijos e flexíveis; ouvidos, como diria Kipling, envolta tde toda a cabeça. Não matará os animais inofensivos com processos traiçoeiros. Bem lhe bastarão as suas armas, produto do engenho humano, para vitimar uma indefesa perdiz; deixe-lhe, ao menos, a possibilidade de empregar as suas asas e prove depois disso que é um destro atirador”.

Que livro belíssimo sobre os bichos da Guiné!
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Notas do editor

Vd. poste de 21 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15520: Notas de leitura (790): “Bichos da Guiné, Caça, fauna, natureza”, por Júlio de Araújo Ferreira, Edição de Autor, 1973 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 23 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15531: Notas de leitura (791): "A Rua Suspensa dos Olhos", de Ábio de Lápara (pseudónimo literário de José A. Paradela): reprodução do capítulo 7 com a descrição da viagem de seis meses, aos 17 anos, em 1954, aos bancos de pesca do bacalhau: Parte I

Guiné 63/74 - P15547: In Memoriam (242): Senhora D. Georgina de Almeida Alves Araújo [1928-2015], Mãe do nosso camarada Jorge Araújo. Estará em Câmara Ardente a partir das 18 horas de hoje, 2.ª feira, na Igreja de Almada, realizando-se o seu funeral na próxima 3.ª feira, às 13h30, para o Cemitério do Feijó - Almada

IN MEMORIAM

Senhora D. Georgina de Almeida Alves Araújo [1928-2015]


1. Mensagem do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CART 3494, Xime-Mansambo, 1972/1974) chegada ao nosso Blogue às 23h24 de 27 de Dezembro de 2015:

Camaradas
Estou-vos grato e sensibilizado por todas as manifestações de pesar que me tem feito chegar, públicas e privadas, com palavras de muito conforto pela dor causada pela perda de minha mãe - Georgina de Almeida Alves Araújo [n.12.04.1928].

Ao longo da sua vida de mais de 87 anos foram muitos os actos e exemplos que me marcaram e que continuarei a recordar, a admirar e a respeitar. Foi uma verdadeira heroína, pelo seu carácter, coragem e genuína generosidade, e daí muito respeitada nas suas redes sociais. 
Neste âmbito merece destaque a sua acção durante o período militar na Guiné, enviando-me diariamente palavras ternurentas e de ânimo. 

 A senhora D. Georgina no ano de 1948

Enfim... chegou o seu dia, que ela certamente considerou de precoce, pois tinha ainda muito para dar. 

O seu corpo estará em câmara ardente na Igreja de Almada [2.ª feira, depois das 18:00 horas]. 
O funeral realiza-se na 3.ª feira pelas 13h30 horas para o cemitério do Feijó (Almada). 

Obrigado. 

Um abraço, 
Jorge Araújo.
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Nota do editor

Vd. poste de 27 de Dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15543: In Memoriam (241): Acaba de falecer a Mãe do nosso camarada Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Esp da CART 3494

domingo, 27 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15546: Blogpoesia (428): "Era Dezembro, Mãe" (Felismina Costa)

1. Mensagem da nossa amiga tertuliana Felismina Costa, aniversariante no passado dia 23, juntamente com os camaradas Albano Costa e Carlos Pinheiro, com data de hoje 27 de Dezembro:

Boa noite amigo Carlos Vinhal 
Quebrando um longo silêncio, por aqui, decidi voltar à Tabanca, donde nunca saí! 
Obrigada por mais um ano ter editado o poste alusivo ao meu aniversário e por ter permitido os comentários dos amigos. 

Envio um poema que ofereço a todos os Tertulianos da Tabanca, muito especialmente aos aniversariantes que comigo festejaram a data. 

Grata pela vossa amizade: 
Felismina Mealha

************



"Era Dezembro mãe"

Era Dezembro mãe!
Tão Dezembro!
Tão perto do Natal…
E eu quis vir à festa,
Trazendo como prenda
o meu eu, que me ofereceste…
e que ficou tão meu, tão unicamente meu
que, sem ele… não sou eu…
Às vezes, querem que eu, não seja eu,
mas eu, não sei ser outro, senão eu!
E talvez, porque recordo os teus afagos,
os teus beijos, sublimados,
os teus braços e abraços
a tua voz cristalina,
eu… sou ainda uma menina!

Lembro Março, florindo sem cansaço
inundando o largo espaço de poesia,
enquanto no teu regaço, eu sorria e crescia.

Lembro Abril, de luz dançante
quando as nuvens com o vento se fragmentam
e desenham alegria esvoaçante.

Lembro o Maio das novas aves
dos chilreios coloridos, exultantes…

Lembro, os Agostos escaldantes e longuíssimos
que queimavam apenas os dias que passavam…
E à noite, o luar, trazia mensagens de outras galáxias,
Contava-me histórias que ouvia encantada,
ao som de orquestras, que não divisava.

Lembro os Outonos que amavas e me ensinaste a amar
nas cores dos poentes que namorávamos
em êxtase total,
absorvendo aromas que retenho ainda, como se o tempo
tivesse parado, ali à esquina…

E eis que regresso ao Dezembro de então,
Trazendo na mão o presente teu…
que era somente… a luz do que é meu.
Sorrindo me olhaste, sabendo que eu era
a pequena magia desse teu Natal,
Que juntas vivemos, e fomos cantar
A essa Belém, onde, de outra Maria,
um outro Menino…
Nascia também!

Felismina mealha
Agualva, 24 de Outubro de 2012
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15482: Blogpoesia (427): No meio da Ponte (Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728)

Guiné 63/74 - P15545: Libertando-me (Tony Borié) (49): Newark, New Yok, Newark

Quadragésimo nono episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66, enviado ao nosso blogue em mensagem do dia 24 de Dezembro de 2015.




Newark, New Yok, Newark! 

Devíamos de ter na altura, talvez 8 ou 9 anos de idade, foi quando celebrámos a “comunhão cristã”, que colocámos nos pés a primeira protecção, uns sapatos usados, oferecidos ou emprestados, não sabemos ao certo, pelo companheiro Carlos, filho do Santos dos Correios de Águeda, que tinha vindo dos lados de Leiria. Até essa idade, era “pé descalço”, no inverno, nas manhãs de geada, divertíamo-nos partindo o gelo das poças de água com os pés, nos carreiros da nossa aldeia, era uma bricadeira agradável, pois o gelo derretia com mais facilidade.
Ufa, até nos arrepiamos só de lembrar, mas é Dezembro, ainda não vimos neve, está muito frio por aqui, mas esta história de colocarmos nos pés a primeira protecção, para nós, ainda é considerada “o nosso primeiro Dia de Natal”.

Deixemos o passado, nesse bonito Portugal, vamos falar de hoje, chegámos a Nova Jersey, viemos em trânsito para Nova Iorque, passámos na cidade de Newark, visitámos a portuguesa Ferry Street, procurámos os lugares nossos conhecidos, onde moravam as personagens de que vos temos falado, está tudo diferente, no lugar do “Bar do Minhoto” está um Restaurante Grill, que aceita reservas via internete; onde morava a Gracinda está um parque de estacionamento, onde uma senhora afro-americana, nos atendeu, embrulhada num enorme casaco e cachecol, pois o frio era muito, teve dificuldade em receber o pagamento e guardar o dinheiro, pois usava umas luvas sem a parte dos dedos, onde sobressaiam umas “unhas azuis”, muito compridas. Perguntámos se falava português ou espanhol, pois era a “Ferry Street”, com um sorriso matreiro, respondeu-nos qualquer coisa como, “mi non habla”.

A Ferry Street tem algumas árvores, está limpa, alguns canteiros com flores, onde havia a loja do Orlando está um grande edifício de um Banco, os estabelecimentos têm portas de vidro, não mais aquelas portas em madeira, que “chiavam”, alguns restaurantes têm esplanadas nos passeios, está uma Avenida para turistas.

Vamos em frente, deixámos a viatura na cidade de Newark, seguindo de comboio, pois o estacionamento na cidade de Nova Iorque é muito caro. Estava nevoeiro, quase cerrado, como se dizia na minha aldeia. Atravessámos um dos túneis do rio Hudson que desagua na ilha de Manhattan, que é o mais densamente povoado dos cinco bairros da cidade de Nova Iorque, que se situa na ilha com o mesmo nome, delimitada pelos rios Hudson, East e Harlem, sendo um dos principais centros comerciais, financeiros e culturais do mundo. É o coração da "Big Apple", é onde estão os arranha-céus, cujas imagens correm o mundo, como o Empire State Building. As luzes de néon no Times Square ou os teatros da Broadway, nós saímos na área do World Trade Center, visitámos mais uma vez o museu educativo, dedicado ao “11 de Setembro”, meditámos em homenagem às vítimas, tomando em seguida o “subway” para a Rua 53, junto da Quinta Avenida, caminhando, fomos vendo a Catedral de São Patrício, parando por mais tempo na área do “Rockefeller Center”, onde está a árvore de Natal que tradicionalmente é um abeto vermelho da Noruega, sendo iluminada por 30.000 ecológicas luzes, que envolvem mais de cinco milhas de fio eléctrico, coroada por uma estrela de cristal Swarovski. Esta árvore de Natal é um símbolo mundial em Nova York, foi acesa pela primeira vez na quarta-feira, 2 de Dezembro, com performances ao vivo na Rockefeller Plaza, entre as Ruas 48, 51, e a Quinta e Sexta Avenidas, onde dezenas de milhares de pessoas todos os dias enchem as calçadas para assistir a este evento, que milhões podem assistir em todo o mundo pelos meios de comunicação que hoje existem.
Faz este ano 83 anos que foi iluminada pela primeira vez, e permanecerá acesa, podendo ser visitada até ao dia 7 de Janeiro de 2016. Oxalá seja a mensageira de Paz para todos nós, em especial para os nossos companheiros combatentes.


Comemos “pretzels cookies”, que é um biscoito típico, parecido com pão, feito de massa, em forma de um nó torcido, que teve origem na Europa, provavelmente entre os mosteiros da Idade Média, que se vende em qualquer quiosque de rua, em Nova Yorque e não só. Continuando a nossa jornada, vendo os edifícios da cadeia de televisão NBC, do Rádio City Music Hall, onde em frente algumas “Rockettes”, que são as tais raparigas que dançando, levantam a perna esquerda ou a direita, todas ao mesmo tempo, fazendo uma coreografia de “cabaré do século passado”, convidam a partilharmos momentos inesquecíveis juntos, experimentando a magia do Natal, transformando tudo num país das maravilhas onde o “Pai Natal” não se cansa de espalhar elogios a todos.

Parámos por momentos no “Times Square”, já andam em montagem de estruturas para as celebrações da passagem de ano, continuando, pela Sétima Avenida, em direcção à estação de comboio “Pennsylvania”, que se localiza na Rua 34, por baixo do edifício de grandes eventos desportivos e não só, que é o célebre e histórico “Madison Square Garden”, onde tomámos o comboio de regresso à cidade de Newark, em Nova Jersey, de novo na portuguesa Ferry Street, onde tivemos a sorte de encontrar um restaurante que dá pelo nome de “Bar & Restaurante Sagres”, com charme, num espaço acolhedor, música ambiente, onde numa escala de dez, damos a nota dez, onde o Henrique, um simpático jovem, que se dedicava ao ensino em Portugal e veio para os EUA há uns anos para “ver a neve”, e que por cá ficou, nos atendeu com simpatia, servindo-nos “Chistorra” e “Bacalhau à Casa” com natas e camarões, que estava bom, mesmo muito bom, oferecendo-nos no final, um copo com vinho do Porto.

Não sabemos se era o efeito do vinho do Porto ou se sonhávamos, mas retornando à Ferry Street, já no regresso, em direcção ao parque de estacionamento, não vimos roupas escuras, xailes, tranças e bigodes, mas sim uma jovem, usava um sapato alto de cada cor, umas meias compridas de um azul escuro, por baixo de uma saia que parecia o lenço que a minha avó usava à cintura, quando ia à romaria do Senhor dos Passos, na vila de Águeda, onde uma espécie de blusa só lhe tapava parte da frente do seu corpo, mascava “chiclets”, algumas pinturas, não para tornar a face mais atractiva, mas sim diferente do normal, o perfume não era exótico, era diferente, o cabelo era curto, pintado com uma cor que nem era verde nem azul, usava óculos à “Hollywood”, não nos olhos, estavam colocados a segurar o cabelo, um casaco de “cabedal” amarelo, debaixo do braço onde usava umas cinco ou seis pulseiras que brilhavam e completavam a história do seu vestuário, falava alto, numa linguagem sem preconceitos, havia “frio de rachar” mas estava excitada, recebendo o calor, talvez do cigarro que fumava, pois era parecido com aqueles que nós algumas vezes, quando estávamos com o moral em baixo, fumávamos lá na então nossa Guiné, pela coreografia talvez fosse alguma descendente da Inês, aquela portuguesa espanholada, do nosso tempo da Ferry Street.

Boas Festas para todos, em especial aos companheiros combatentes e, já agora, se não é pedir muito, que continuemos juntos pelo ano de 2016, com saúde, alegria em ainda por cá andarmos, que nunca nos falte a panela a cozinhar no fogão e alguma “protecção nos pés”.

Tony Borie, Dezembro de 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15514: Libertando-me (Tony Borié) (48): Vamos para Norte

Guiné 63/74 - P15544: Memória dos lugares (327): O nascer da lua em Candoz... E "por detrás da lua" a serra da Aboboreira, "a serra dos mortos", e mais longe a serra do Marão, "onde mandam os que lá estão"... Ou mandavam, antes de Bruxelas... À direita, pode imaginar-se o rio Douro, Cinfães e a serra de Montemuro, visíveis de dia, da tabanca de Candoz






Marco de Canavezes > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz >26 de dezembro de 2015 > O nascer da lua, do outro lado do vale, já em terras de Baião (as luzinhas são as de 3 freguesias, Mesquinhata, Grilo e Santa Leocádia que rivalizam no fogo de artifício pascal), com o rio Douro ao fundo, a baía de Porto Antigo, do lado direito (não vísível da fotografia), e mais ainda à direita Cinfães e a serra imponente de Montemuro)... Estamos na confluência de 3 distritos (Porto, Vila Real e Viseu)...

Na foto, e por "detrás da lua", pode imaginar-se a serra da Aboboreira, a "serra dos mortos", e mais longe a serra do Marão "onde mandam os que lá estão"... Ou mandavam, antes de Bruxelas e dos eurocratas... Amigos e camaradas, ainda há magia no Portugal profundo que nos resta... LG

Boas festas aos de cá e aos de lá.... Regresso hoje a Lisboa... LG


Marco de Canavezes > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > 27 de dezembro de 2015 >  O Portugal profundo que ainda nos resta, visto da "minha janela"...

Fotos: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados.



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Nota do editor:

Último poste da série > 19 de dezembro de 2015 >Guiné 63/74 - P15510: Memória dos lugares (326): Fui destacado várias vezes para o Depósito Disciplinar no Forte de Elvas. Subia e descia o morro a cavalo e dormia lá quando calhava ser oficial de serviço (Marques Leandro, ex-Tenente Miliciano, 1953/55)

Guiné 63/74 - P15543: In Memoriam (241): Acaba de falecer a Mãe do nosso camarada Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Esp da CART 3494

IN MEMORIAM

Faleceu a Mãe do nosso camarada Jorge Araújo

Amigos e camaradas, recebemos há momentos uma mensagem do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CART 3494, Xime-Mansambo, 1972/1974) que diz apenas:

Camaradas, 
A minha Mãe acaba de falecer
Jorge Araújo

Esta é a notícia que não gostaríamos de dar.

Nesta hora muito difícil para o nosso amigo Jorge, apenas nos podemos solidarizar com a sua dor.

Ficamos à sua disposição para divulgar, logo que chegue ao nosso conhecimento, o local onde a sua Mãe ficará em Câmara Ardente, assim como hora, data  e local do funeral.

Lembramos que o Jorge mora em Almada.

Para o Jorge o nosso abraço solidário, e os nossos pesares para toda a família da malograda senhora.
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15390: In Memoriam (240): Faleceu o Mário Rodrigues Silva ‘Nascimento’ [1950-2014], ex-soldado da CART 3494 (Xime-Mansambo, 1971/74)... Era um "sem-abrigo", esteve seis meses num lar da Figueira da Foz (Jorge Alves Araújo)

Guiné 63/74 - P15542: Parabéns a você (1009): José Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Especiais da CCAÇ 4745/73 (Guiné, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 25 de Dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15539: Parabéns a você (1008): Ismael Augusto, ex-Alf Mil Manut do BCaç 2852 (Guiné, 1968/70)

sábado, 26 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15541: Efemérides (207): Ataque ao Cachil na Consoada de 1965 (João Sacôto, ex-Alf Mil da CCaç 617/BCAÇ 619)

Cachil - Natal de 1965 - Zona da cozinha atingida pelo ataque IN da Noite de Consoada



1. Mensagem do nosso camarada João Sacôto (ex-Alf Mil da CCAÇ 617/BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66), com data de 25 de Dezembro de 2015:

Faz hoje 50 anos, no Cachil, Guiné Portuguesa.
Dia de Natal de 1965, no rescaldo do ataque IN da véspera, todo o pessoal da C.Caç 617, se afadigava a pôr o quartel em ordem, e a cuidar dos feridos, alguns dos quais, feridos com gravidade, foram evacuados para o Hospital de Bissau.

Na véspera e durante a ceia de Natal, em que cada um de nós, à sua maneira recordava Natais anteriores em família, com os rituais e hábitos próprios de cada um, naquele momento tão especial e sagrado, fomos vítimas de um ataque impiedoso que nos obrigou a passar de um estado de espírito do qual, emanava paz e saudade, para rapidamente voltarmos à guerra, pegando em armas, tomando posições e disparando para nos defendermos.

João Sacôto

Cachil - Na foto, da esquerda para a direita: Capitão João Bakar Jaló, falecido em combate e um dos militares portugueses mais condecorados; Capitão Marques Alexandre, já falecido este ano e Alferes João Sacôto, eu, que ainda estou vivendo.
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15518: Efemérides (206): Há 44 anos estávamos nos preparativos para embarcar, o que se veio a efectivar no dia 18 de Dezembro de 1971 (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15540: Feliz Natal / Filis Natal / Merry Christmas / Feliz Navidad / Bon Nadal / Joyeuz Noël / Buon Natale / Frohe Weihnachten / God Jul / Καλά Χριστούγεννα / חַג מוֹלָד שָׂמֵח / عيد ميلاد مجيد / 聖誕快樂 / С Рождеством (15): Ao colectivo tertuliano da Tabanca Grande - Bom Natal e um Ano de 2016 com muita saúde (Jorge Alves Araújo)

1. O nosso Camarada Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CART 3494, (Xime-Mansambo, 1972/1974), enviou-nos a seguinte mensagem no passado dia 18DEZ. 

BOAS FESTAS
AO COLECTIVO TERTULIANO DA «TABANCA GRANDE»
- BOM NATAL E UM ANO DE 2016 COM MUITA SAÚDE -


Foto 1 [postal BF] – Xime - DEC1972. Aquecendo as mãos e o coração em redor dos nossos «meninos do Xime» … enquanto o arroz coze. Será que estamos perante o nosso amigo e camarada José Carlos Mussá Biai?

1. – INTRODUÇÃO

- Memórias do passado que são presente – o NATAL

A primeira efeméride do contingente metropolitano da CART 3494, relacionada com a tradicional quadra natalícia, ocorreu há quarenta e quatro anos a bordo do N/M Niassa, durante a viagem iniciada em Lisboa, no Cais da Rocha, a 22 de Dezembro de 1971, rumo a Bissau, onde chegou seis dias depois.

Em função do tempo contabilizado na missão ultramarina – cerca de vinte e oito meses – outras duas efemérides semelhantes constam no seu historial, a segunda no Xime, em 1972, e a terceira em Mansambo, em 1973.

A propósito dessas reuniões de elevado simbolismo para todos nós, recordo com mais algumas imagens,recuperadas do baú de memórias, o último Natal da CART 3494 passado no mato. 

3.º NATAL –> 1973 = NO AQUARTELAMENTO DE MANSAMBO

Foto 2 – Mansambo, ceia de Natal 1973. Da esquerda para a direita: Serradas Pereira [Alferes]; António Costa, de pé [1.º Cabo - impd.M.Of.]; Luciano Costa [Cap Mil, 3.º CMDT da 3494]; Lobo da Costa [Alferes Estagiário do Curso de Capitães]; João Manuel Sousa Teles [Ten Cor, 2.º CMDT do BART 3873]; Carvalhido da Ponte [Furriel] e Cláudio Ferreira, de costas [Furriel]. 

Foto 3 – Mansambo, Natal1973. Mesa 1 [esq.]: Abílio Oliveira; mesa central [esq/dtª]: João Godinho; Mendes Pinto; Sousa Pinto [1950-2012] e Benjamim Dias; mesa 3 [dtª]: Carvalhido da Ponte e Jorge Araújo – todos furriéis.


Foto 4 – Mansambo, 1973. Ícone do Aquartelamento de Mansambo – local dos milagres gastronómicos.

Termino, enviando a todos os camaradas tertulianos da nossa TABANCA GRANDE, e aos leitores assíduos do nosso blogue, uma MENSAGEM DE BOAS FESTAS. 

Ao Luís Graça, ao Carlos Vinhal e ao Magalhães Ribeiro – os nossos editores permanentes – é devida uma palavra de gratidão pela sua entrega continuada a este trabalho diário de ordenar a prosa e as imagens enviadas pelos camaradas grã-tabanqueiros, sobre as nossas memórias do CTIGuiné. 


Foto 5 – Xime, 1972. Local onde aconteceram as primeiras grandes experiências, e por isso recordamos a “nossa” Tabanca do Xime”.

QUE TENHAM UM BOM NATAL E UM ANO DE 2016,

MELHOR QUE O ANTERIOR, COM MUITA SAÚDE.

Com um forte abraço de amizade
Jorge Araújo
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 

Guiné 63/74 - P15539: Parabéns a você (1008): Ismael Augusto, ex-Alf Mil Manut do BCaç 2852 (Guiné, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15533: Parabéns a você (1007): Fernando Jesus Sousa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6 (Guiné, 1970/71) e João Rebola, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2444 (Guiné, 1968/70)