1. Mensagem do nosso camarada António Nobre (ex-Fur Mil da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Buba, Nhala e Binar, 1969/70), com data de 29 de Dezembro de 2011:
Meu caro Carlos
Se porventura vislumbrares algum interesse nas fotos que se juntam, publica no nosso Blogue
A título informativo esclareço tratar-se de Pessoal da CCAÇ 2464/BCaç 2861 que nos anos 69/70 cumpriu serviço militar na ex-colónia portuguesa da Guiné
As fotos reportam-se à nossa estadia em Biambe e Binar.
Um abraço
Saudações camarigas
António Nobre
(ex-Fur Mil da CCaç 2464)
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 6 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8234: Convívios (324): Almoço de confraternização do pessoal da CCAÇ 2464, ocorrido no dia 30 de Abril de 2011 em Fátima (António Nobre)
Vd. último poste da série de 26 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9272: Memória dos lugares (168): Bambadinca, de 1969/71... Evocando a figura do antigo comerciante Fernandes Rendeiro, natural da Murtosa, recentemente falecido... (Leopoldo Correia)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
Guiné 63/74 - P9304: Estórias cabralianas (70): Sambaro, o Dicionário e o Afecto (Jorge Cabral)
1. Mensagem do Jorge Cabral, que também é, além de um notável contador de estórias, um homem de afectos (com "c", não de cão mas de coração) e um activo facebook...eiro (com cerca de 2300 amigos e amigas, incluindo guineenses, como a sua antiga aluna de serviço social, a B. B. Ferreira, nascida em Bissau em 1980, e aqui numa foto com ele, na Universidade Lusófona, em Lisboa)...
Além de professor de direito penal, agora reformado, é conhecido na praça e no blogue por ser um escritor lusófono que diz não ao NAO (Novo Acordo Ortográfico):
Bom Ano, Amigos!
Com o AFECTO
do Jorge Cabral
2. Estórias cabralianas (70) > Sambaro, o Dicionário e o Afecto
por Jorge Cabral
Agora que tenho tempo, tornei-me um caminheiro. Logo pela manhã abalo pela cidade. Travessas, calçadas, pátios, becos, vilas, percorro devagar essa Lisboa escondida, quase invisível.
Foi num desses passeios que encontrei Ansumane. Um negro velho e calvo, que entre a Travessa da Lua e o Beco das Estrelas, arengava em crioulo.
Dei-lhe os bons dias e ele apresentou-se:
- Ansumane Baldé, segurança.
- Segurança? Foi militar?
- Soldado de Artilharia, Número Mecanográfico 82062962, Guileje, com os Alferes… - e desfiou uma lista de nomes.
- Eu estive na Guiné. Era o Alferes Cabral do Pel Caç Nat 63.
- Ah! O Alfero Bigodes!
- Sim, usava um grande bigode. Mas como sabes? Estive sempre no Leste, em Fá e Missirá!
- Quando fugimos para o Senegal, iam muitos soldados dos Pelotões Nativos. Do teu, foi o Sambaro, que já morreu. Morávamos na mesma Tabanca e muitas vezes falávamos de vocês todos. Sambaro, o homem da bazuca. Talvez quarenta anos, forte, sério, três mulheres, muitos filhos. Queria ser cabo e estudava, estudava para ir fazer o exame da 3ª classe a Bambadinca.
Quando voltei de férias ofereci-lhe um Dicionário. E que contente ficou! E leu e releu a dedicatória: “Para o Sambaro que é quase Cabo e ainda há-de chegar a Sargento. Com Afecto”.
- Alfero, o que é Afecto? (ele lia o “c”)
- Procura no Dicionário, Sambaro. Que é para isso que ele serve.
Isto passou-se em Fevereiro de 1971. O Sambaro, além da bazuca, passou a carregar o dicionário. Ainda me lembro de o ver no Mato Cão a folheá-lo…
Disse-me o Ansumane que os filhos e os netos do Sambaro vivem para as bandas de Sonaco. E que será feito do dicionário?
Imagino um dos netos a procurar nele a palavra afecto;
- Olha, Sambaro Neto, se te disserem que agora é afeto, não acredites. Ninguém lhe pode tirar o “c” de coração.
Jorge Cabral
____________
Nota do editor:
Último poste da série > 18 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9223: Estórias cabralianas (69): Onde mora o Natal, alfero ? (Jorge Cabral)
Além de professor de direito penal, agora reformado, é conhecido na praça e no blogue por ser um escritor lusófono que diz não ao NAO (Novo Acordo Ortográfico):
Bom Ano, Amigos!
Com o AFECTO
do Jorge Cabral
2. Estórias cabralianas (70) > Sambaro, o Dicionário e o Afecto
por Jorge Cabral
Agora que tenho tempo, tornei-me um caminheiro. Logo pela manhã abalo pela cidade. Travessas, calçadas, pátios, becos, vilas, percorro devagar essa Lisboa escondida, quase invisível.
Foi num desses passeios que encontrei Ansumane. Um negro velho e calvo, que entre a Travessa da Lua e o Beco das Estrelas, arengava em crioulo.
Dei-lhe os bons dias e ele apresentou-se:
- Ansumane Baldé, segurança.
- Segurança? Foi militar?
- Soldado de Artilharia, Número Mecanográfico 82062962, Guileje, com os Alferes… - e desfiou uma lista de nomes.
- Eu estive na Guiné. Era o Alferes Cabral do Pel Caç Nat 63.
- Ah! O Alfero Bigodes!
- Sim, usava um grande bigode. Mas como sabes? Estive sempre no Leste, em Fá e Missirá!
- Quando fugimos para o Senegal, iam muitos soldados dos Pelotões Nativos. Do teu, foi o Sambaro, que já morreu. Morávamos na mesma Tabanca e muitas vezes falávamos de vocês todos. Sambaro, o homem da bazuca. Talvez quarenta anos, forte, sério, três mulheres, muitos filhos. Queria ser cabo e estudava, estudava para ir fazer o exame da 3ª classe a Bambadinca.
Quando voltei de férias ofereci-lhe um Dicionário. E que contente ficou! E leu e releu a dedicatória: “Para o Sambaro que é quase Cabo e ainda há-de chegar a Sargento. Com Afecto”.
- Alfero, o que é Afecto? (ele lia o “c”)
- Procura no Dicionário, Sambaro. Que é para isso que ele serve.
Isto passou-se em Fevereiro de 1971. O Sambaro, além da bazuca, passou a carregar o dicionário. Ainda me lembro de o ver no Mato Cão a folheá-lo…
Disse-me o Ansumane que os filhos e os netos do Sambaro vivem para as bandas de Sonaco. E que será feito do dicionário?
Imagino um dos netos a procurar nele a palavra afecto;
- Olha, Sambaro Neto, se te disserem que agora é afeto, não acredites. Ninguém lhe pode tirar o “c” de coração.
Jorge Cabral
____________
Nota do editor:
Último poste da série > 18 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9223: Estórias cabralianas (69): Onde mora o Natal, alfero ? (Jorge Cabral)
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
Guiné 63/74 - P9303: Memórias do Carlos Marques dos Santos (Mansambo, CART 2339, 1968/69) (1): Op Gavião: Abril de 1968, antes o fogo do IN que o ataque das abelhas
Guiné > Zona Leste > Setor L1 > 1969 > Rio Geba, junto ao Xime > Travessia de canoa para o Enxalé
Foto: © Carlos Marques Santos (2005)Memórias do Carlos Marques dos Santos, ex-Fur Mil da CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69
1. Operação Gavião - Abril de 1968, antes o fogo do IN que o ataque das abelhas*
5 de Abril de 1968
Às 15h, saída de Fá Mandinga para mais uma operação (Op Gavião). Desta vez para a zona do Enxalé, via Xime.
O Rio Geba foi atravessado de lancha. Do Enxalé saímos cerca da meia-noite iniciando mais um passo para o desconhecido. Dois meses de mato e já tínhamos tido a nossa dose. Andámos a corta mato até às 3.30h.
O guia turra capturado, como sempre, perdeu-se. Descanso até às 5.00h, seguindo as NT depois em progressão normal.
Perto do objectivo vimos, na mata, dois nativos. Fugiram e nós continuámos. A CART 2338, nossa companheira de andanças, está a atacar o objectivo. A Companhia de Mansoa também.
Cerca do meio-dia sofremos um ataque de abelhas. Desespero em muitos de nós. Eu também fui completamente picado. Há camaradas inchados. Disformes. Há 2 camaradas desmaiados. Faz-se uma maca. Soam tiros...
- Emboscada!
Um nativo do Pel Caç Nat 53 é atingido e morto. O ataque IN continua. Regressamos.
Sofremos 5 emboscadas, mas apesar de tudo correu sem grandes azares. O IN tem baixas. Fogem. Seguimos para o Enxalé. Mais 2 ataques de abelhas. Choros. Desespero. Há que fugir. Desorientação total. Armas abandonadas.
Compreendo agora - pois noutra ocasião e lá para a frente no tempo de comissão, estive debaixo de fogo - o que é estar nestas mesmas circunstâncias. 45 minutos intermináveis. Antes o fogo do IN.
Chegámos ao Enxalé cerca das 18.00h. Soube-se depois que tinha ficado um homem da Cart 2338 (**) desmaiado no local dos acontecimentos.
Quem vai procurá-lo? Ninguém. Não há voluntários.
Triste vida a da Guerra e da sobrevivência. Mas nem sempre foi assim!
Passámos para o Xime e chegámos a Fá Mandinga às 03.00h da manhã do dia de 7 de Abril de 1968. (***)
Estou exausto. Estamos todos exaustos.
Boas notícias: o nosso homem desmaiado, soube-se, apareceu por ele no Enxalé! Já li uma estória semelhante neste blogue. Ou será o mesmo protagonista?
No dia seguinte, 8 de Abril de 1968, voltamos ao Enxalé procurar as armas perdidas. Na progressão ouvimos rebentamentos. Será Mato Cão?
Recuperámos 2 armas. Regressámos a Fá Mandinga sem incidentes.
10 de Abril de 1968
Há emboscada na estrada Xime-Bambadinca. Não houve incidentes, são as notícias que nos chegam.
14 de Abril de 1968
Dia de Páscoa, aqui, igual aos outros.
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Notas do CV:
(*) Originalmente publicado na I Série do nosso blogue em 31 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXIII: Diário do CMS (CART 2339)(1): Um homem ficou para trás e não há voluntários para o ir buscar...
(**) Mobilizada pelo RAL 3, e independente tal como a CART 2339. Vieram para o TO da Guiné na mesma data (14/1/1968) e regressaram a casa na mesma data. A CART 2338 esteve em Fá Mandinga, Nova Lamego, Buruntuma e Piche. Comandantes: Cap Mil Art João Carlos Palma Marques Alves; Cap Art Manuel João de Azevedo Paulo. Tem cinco referências no blogue. A CART 2339 tem 118…
(***) Sobre a Op Gavião vd. poste de 11 de maio de 2008 > Guiné 63/74: P2833: Op Gavião (Belel, 4-6 de Abril de 1968) (Armando Fernandes, Pel Rec CCS / BART 1904, Bissau e Bambadinca, 1966/68)
Guiné 63/74 - P9302: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (5): Fragmentos Genuínos - 3
FRAGMENTOS GENUÍNOS - 3
Por Carlos Rios, ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66
Durante seis dias, passámos primeiro pelo Funchal para irmos buscar mais uma Companhia, navegámos a caminho de Bissau, correu uma agradável viagem sempre com mar calmo e bom tempo; pela primeira vez vi uns curiosíssimos peixes-voadores, que acompanharam diversas vezes o navegar do navio ao seu lado. Aqui vim também a reparar na extrema estratificação existente na sociedade portuguesa; que profunda ignorância a minha: os graduados tinham aceitáveis acomodações e uma sala para refeições; os restantes camaradas, que iam exactamente com o mesmo fim que nós (a guerra) iam instalados a monte em deploráveis condições nos porões de carga e comiam em marmitas no convés do navio.
No Bar e sala de estar, onde passávamos a maior parte do tempo, adormeci um sábado nos sofás do mesmo só acordando com os ruídos estranhos na manhã seguinte; o padre preparava o espaço para a realização de uma missa. Lá tive que me levantar de madrugada, 8h00, e desandar.
O famigerado Niassa
Ao aproximar-nos de terra vislumbrava-se à distancia uma paisagem deslumbrante, ainda que difusamente, o ar era pesado e o calor abrasador começava a fazer sentir-se, de um conjunto de ilhas fronteiras a Bissau, (arquipélago dos Bijagós) aonde nos dirigimos e fundeámos entre a cidade e o agora bem visível arquipélago, que nos transmitia uma sensação de placidez com a sua luxuriante floresta onde eram visíveis alguns conjuntos de moranças (tabancas) numa mostra exuberante e exótica de tipicismo tropical que já imaginava devido às profundas explanações e ao imenso espólio fotográfico a que tivera acesso em longas e agradáveis conversas durante toda a viagem, com o malogrado, querido amigo e conterrâneo Vasco Cardoso.
Imagem de uma tabanca situada em lugar de pouca mata e onde se pode verificar o seu aspecto exótico e tipicamente tropical. Ao fundo uma luxuriante, densa e misteriosa floresta.
O povo bijagó é nómada entre as ilhas do arquipélago e cultiva principalmente arroz
Uma bolanha cultivada com arroz
Braço de mar ou bolon, em maré baixa
Tabanca bijagó. As aldeias bijagós estão sempre cercadas de árvores e afastadas da costa.
Pouco tempo tivemos para usufruir deste ambiente, onde o calor era já abrasador, porquanto de imediato começamos a transferir para os botes que nos levaram ao cais, todas as nossas bagagens e afins. De imediato comecei a sentir um profundo desalento quando cheguei a um degradado cais de desembarque e pude constatar o movimento que nele se fazia e a miséria que dele parecia depreender-se, onde pululavam um número indeterminado de crianças desnudas ou em farrapos e que se ofereciam para transportar as nossas coisas, (houve de imediato quem aceitasse) tinham em comum um pormenor que na altura me chamou a atenção apresentavam grandes ventres e os umbigos de alguns eram bastantes salientes, a tudo isto juntava-se o ar sobranceiro e displicente que uns quantos indivíduos, alguns fardados, apresentavam. O ar era seco, denso, agreste, enfim; parecia quase irrespirável; a simples tarefa de transportarmos para as lanchas as nossas bagagens e afins faziam-nos estar permanentemente a transpirar com a roupa colada ao corpo como que pegajosa parecendo fazer parte da pele, era profundamente incomodativo a par do inóspito ar ambiente que em lugar das fragâncias e odores tropicais que imaginava ir encontrar. Fui confrontado assim que comecei a caminhar, com o sufocante respirar ao cheiro a terra vermelha queimada, típica do continente africano, ainda acompanhado de episódicos pequenos tufões que se levantavam em muitas das ruas, que em parte eram de terra e com pouca limpeza, o que começou a germinar em mim um sentimento de rejeição em relação a este pedaço (dito) de Portugal. Não, pensava eu. Aqui não fico, isto não tem nada a ver com a minha já saudosa linha do Estoril onde nasci e cresci e onde em comparação escolho os maravilhosos e esplendorosos nasceres do sol, em que sorvendo uma brisa agradável e revigorante, remando numa “chata”, navegava junto da costa para recolher os “galrichos”, postos na noite anterior para fazer decorrer uma maré, sendo que escolhíamos as noites em que um manto diáfano de luar nos alumiava transmitido pelo nosso satélite, na sua majestática quietude, de que usufruíamos para a minha falhada pesca artesanal. Surgiam nesta aérea cabeça mais alguns pingos nostálgicos.
Forte da Giribita visto da Praia de Caxias
Depois de em Stª. Luzia recebermos directamente o armamento, conselhos e despedidas de grande amizade e alvoroço, juntámos um grupo em que se incluía o Vasco Cardoso, o Bastos, o Mota e mais alguns que sendo guiados pelo malogrado Vasco, que já aqui tinha estado quando ainda na adolescência, fomos dar uma volta pela cidade e terminar no “Pireza” uma pequena cervejaria cujo proprietário o Vasco conhecia e onde a uma pergunta posta por este, apenas pude responder a frase que se veio a tornar paradigmática entre os diversos elementos que se deslocavam a Bissau: "a cidade como vila é uma aldeia bastante grande".
Vista aérea de Bissau em 1966
Uma rua de Bissau – havia muitas assim
(Continua)
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Vd. último poste da série de 30 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9289: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (4): Fragmentos Genuínos - 2
Guiné 63/74 - P9301: Notas de leitura (319): Milicianos, Os Peões das Nicas, de Rui Neves da Silva (Mário Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Dezembro de 2011:
Queridos amigos,
Procurei atinar com a relevante importância do curso para capitães de Julho de 1970, em Mafra, não terei sido muito bem sucedido. O autor gaba-se de como estes capitães milicianos, em muitos casos ardorosos, entusiastas e valentes, podiam ter contribuído para mudar o curso da guerra, era um sangue novo que foi recusado pelos muitos interesses enquistados dos oficiais do quadro permanente, que neste relato romanceado são, regra geral, tratados a baixo de cão. Seria bom ouvir a opinião daqueles que, à época (entre 1970 e 1974) tenham vivido a incorporação, a guerra em África e depois a rejeição dos oficiais do quadro permanente.
Um abraço do
Mário
Milicianos, os piões das nicas
Beja Santos
Em Julho de 1970, cinco dezenas de cidadãos, com idades compreendidas entre os 27 e os 35 anos, e com formação académica superior, foram convocados pelo Ministério do Exército para se apresentarem em Mafra, na Escola Prática de Infantaria. Estes adultos tinham em comum coisas como estas: havia cumprido já o serviço militar obrigatório, estavam numa fase ascendente das suas carreiras profissionais e não eram propriamente aliados do regime. Receberam quatro meses de formação, foram promovidos a capitão e deram-lhes o comando de Companhia, numa das três frentes de combate. Este é o ponto de partida do relato romanceado “Milicianos, os peões das nicas”, por Rui Neves da Silva (Prefácio, 2007).
Com o passar dos anos e o agravar da guerra, tornou-se indispensável o recurso generalizado a estes capitães milicianos para suprir a falta de oficiais do quadro no comando de Companhias. Durante os primeiros anos, eram oficiais do quadro os chamados, e os alferes, seus subordinados, eram milicianos. A narrativa centra-se no papel que eles desempenharam, a contragosto dos oficiais do quadro permanente. São cerca de 700 páginas de um relato que não esconde o excesso, tanto na linguagem rebuscada como na animosidade a muitas figuras do quadro permanente, isto numa atmosfera em que o vinho a mais, a cartilha de Marialva e a solidariedade são omnipresentes. É uma narrativa composta por três livros: a Escola Prática de Infantaria é apresentada como uma fábrica de oficiais; a guerra como uma fábrica de heróis; e a revolução do 25 de Abril uma fábrica de equívocos. Esses capitães milicianos são apresentados como piões das nicas, numa daquelas diatribes carregadas de gongorismo o autor levanta o véu do conflito latente entre o quadro permanente e os milicianos: “Entre os diversos processos de tirar partido do jogo do pião há um que exige dos participantes um forte instinto destrutivo; trata-se de, lançado o pião, procurar não só que ele gire rápido e de forma equilibrada, mas também que, ao chegar ao solo, acerte do pião do adversário que por sorteio jogou primeiro. Acertando, o vencedor ganha o direito de, com o seu pião, nicar o pião do vencido; ou seja, espetar-lhe através de sucessivos golpes o espigão de ferro na zona mais carnuda e frágil, junto à pequena saliência onde o cordel é preso no acto de lançamento”. E, mais adiante, o tenente miliciano diz a um tenente-coronel: “Neste jogo há um processo de o nosso pião perdedor, ou ganhador, não sofrer o menor dano, que é o de um jogador ter um pião bem equilibrado para lançar, um outro de ponta de ferro bem afiada para escavacar o do adversário… e um terceiro, de ponta gasta e de corpo cheio de lanhos, para levar com as nicas. Senhor tenente-coronel, nesta maldita guerra nós somos os piões que levam com as nicas”.
O autor argumenta que estes tenentes milicianos tiveram necessidade de ser exigentes consigo próprios. E para que não haja equívoco sobre a carga autobiográfica, Rui Neves da Silva esclarece: “Foi em Angola que combati. No Leste e no Norte. Orgulho-me de ter feito parte do único Exército do mundo que venceu uma guerra subversiva. Quando saí desta província ultramarina os três movimentos independentistas estavam de rastos”. O leitor é logo emerso no Convento de Mafra, o lançamento das hostilidades é dado pela pergunta do miliciano a um oficial superior: o que vão vossemecês fazer quando a merda da guerra acabar? Depois o autor aprimora-se a identificar a proveniência destes tenentes, como eles se relacionam entre si, as tascas e restaurantes onde se encontram, os engates, as bebedeiras, as zaragatas, as peripécias da instrução, a ansiedade das suas famílias. Quando há palestras, são inevitáveis as ferroadas políticas, os oficiais do quadro permanente são confrontados com a abertura inevitável de diferentes áreas de comando aos milicianos. Há também o diagnóstico do quadro mental e político de cada um, tudo é superado pela franca camaradagem. Alguns deles irão frequentar o Centro de Instrução de Operações Especiais de Lamego e depois colocados nas Unidades de onde partirão para a guerra, à frente da respectiva Companhia.
Partem todos para a guerra, o epicentro narrativo será Angola, Guiné e Moçambique merecerão igualmente referências, praticamente anódinas e desambientadas. Marcelino, filho de D. Diogo Fermões de Pimentel, parte para Bissum, Daniel Cabrita fica em Bissau. São apontamentos frágeis, ao contrário de tudo quanto é escrito sobre Angola, é um desequilíbrio de que toda a obra se ressente, terá faltado investigação que permitisse dar quadros impressivos e ajustados ao que ele descreve sobre o Leste e Norte de Angola. Vão surgindo as baixas, os sinistros, os capitães mantêm-se em contacto entre si e toda a desconfiança quanto ao quadro permanente jamais abranda. Sensivelmente a partir de Março de 1973, os capitães milicianos da tal incorporação de Julho de 1970 começam a regressar. Marcelino tinha morrido heroicamente em combate.
E chegámos ao período revolucionário, o autor descreve minuciosamente a legislação do ministro Sá Viana Rebelo e o descontentamento que ela provocou, como irão ficar acirradas as relações entre os oficiais preparados na Academia Militar e aqueles que o regime de Marcello Caetano pretende que ingressem no quadro especial de oficiais. É deste ângulo que o autor parte para uma crítica demolidora aos oficiais do quadro que confundiram uma reivindicação com as obrigações que deviam ter mantido com ética militar. O MFA, nesta lógica, foi uma maneira de esses oficiais do quadro terem fugido à competitividade com aqueles que tinham ardor e entusiasmo em combater. Esses oficiais foram politicamente manipulados, os comunistas e a extrema-esquerda. Os piões das nicas descobrem o logro em que caíram. Um mestiço que fugira do MPLA e que desertara do Exército português irá abater um oficial miliciano condecorado no dia 25 de Novembro. Aqui termina a narrativa romanceada e dá-se como demonstrado o nefando papel dos militares de carreira em tudo terem feito para impedir os capitães milicianos para não terem sido compensados com igual estatuto ao seu.
Não se percebe exactamente o que levou Rui Neves da Silva a escrever este relato que ele classifica como história romanceada de um punhado de homens que se assumiram como testemunhas de eventos que militares envolvidos na revolução dos cravos e historiadores teimam em calar ou desvirtuar. Não se percebe a dimensão desta conspiração de silêncio e pasma o silêncio do autor quanto ao alferes e tenentes milicianos que, segundo os historiadores, tiveram um papel fundamental na preparação das condições psicológicas que contribuíram para os oficiais do quadro terem chegado à conclusão que todo aquele esforço de guerra era insano na ausência de uma resposta política, quando não se antevia qualquer solução militar, pelo menos da Guiné e em Moçambique.
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Nota de CV:
Vd.- último poste da série de 30 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9288: Notas de leitura (318): Literaturas da Guiné-Bissau, Cantando escritos da história (2) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Procurei atinar com a relevante importância do curso para capitães de Julho de 1970, em Mafra, não terei sido muito bem sucedido. O autor gaba-se de como estes capitães milicianos, em muitos casos ardorosos, entusiastas e valentes, podiam ter contribuído para mudar o curso da guerra, era um sangue novo que foi recusado pelos muitos interesses enquistados dos oficiais do quadro permanente, que neste relato romanceado são, regra geral, tratados a baixo de cão. Seria bom ouvir a opinião daqueles que, à época (entre 1970 e 1974) tenham vivido a incorporação, a guerra em África e depois a rejeição dos oficiais do quadro permanente.
Um abraço do
Mário
Milicianos, os piões das nicas
Beja Santos
Em Julho de 1970, cinco dezenas de cidadãos, com idades compreendidas entre os 27 e os 35 anos, e com formação académica superior, foram convocados pelo Ministério do Exército para se apresentarem em Mafra, na Escola Prática de Infantaria. Estes adultos tinham em comum coisas como estas: havia cumprido já o serviço militar obrigatório, estavam numa fase ascendente das suas carreiras profissionais e não eram propriamente aliados do regime. Receberam quatro meses de formação, foram promovidos a capitão e deram-lhes o comando de Companhia, numa das três frentes de combate. Este é o ponto de partida do relato romanceado “Milicianos, os peões das nicas”, por Rui Neves da Silva (Prefácio, 2007).
Com o passar dos anos e o agravar da guerra, tornou-se indispensável o recurso generalizado a estes capitães milicianos para suprir a falta de oficiais do quadro no comando de Companhias. Durante os primeiros anos, eram oficiais do quadro os chamados, e os alferes, seus subordinados, eram milicianos. A narrativa centra-se no papel que eles desempenharam, a contragosto dos oficiais do quadro permanente. São cerca de 700 páginas de um relato que não esconde o excesso, tanto na linguagem rebuscada como na animosidade a muitas figuras do quadro permanente, isto numa atmosfera em que o vinho a mais, a cartilha de Marialva e a solidariedade são omnipresentes. É uma narrativa composta por três livros: a Escola Prática de Infantaria é apresentada como uma fábrica de oficiais; a guerra como uma fábrica de heróis; e a revolução do 25 de Abril uma fábrica de equívocos. Esses capitães milicianos são apresentados como piões das nicas, numa daquelas diatribes carregadas de gongorismo o autor levanta o véu do conflito latente entre o quadro permanente e os milicianos: “Entre os diversos processos de tirar partido do jogo do pião há um que exige dos participantes um forte instinto destrutivo; trata-se de, lançado o pião, procurar não só que ele gire rápido e de forma equilibrada, mas também que, ao chegar ao solo, acerte do pião do adversário que por sorteio jogou primeiro. Acertando, o vencedor ganha o direito de, com o seu pião, nicar o pião do vencido; ou seja, espetar-lhe através de sucessivos golpes o espigão de ferro na zona mais carnuda e frágil, junto à pequena saliência onde o cordel é preso no acto de lançamento”. E, mais adiante, o tenente miliciano diz a um tenente-coronel: “Neste jogo há um processo de o nosso pião perdedor, ou ganhador, não sofrer o menor dano, que é o de um jogador ter um pião bem equilibrado para lançar, um outro de ponta de ferro bem afiada para escavacar o do adversário… e um terceiro, de ponta gasta e de corpo cheio de lanhos, para levar com as nicas. Senhor tenente-coronel, nesta maldita guerra nós somos os piões que levam com as nicas”.
O autor argumenta que estes tenentes milicianos tiveram necessidade de ser exigentes consigo próprios. E para que não haja equívoco sobre a carga autobiográfica, Rui Neves da Silva esclarece: “Foi em Angola que combati. No Leste e no Norte. Orgulho-me de ter feito parte do único Exército do mundo que venceu uma guerra subversiva. Quando saí desta província ultramarina os três movimentos independentistas estavam de rastos”. O leitor é logo emerso no Convento de Mafra, o lançamento das hostilidades é dado pela pergunta do miliciano a um oficial superior: o que vão vossemecês fazer quando a merda da guerra acabar? Depois o autor aprimora-se a identificar a proveniência destes tenentes, como eles se relacionam entre si, as tascas e restaurantes onde se encontram, os engates, as bebedeiras, as zaragatas, as peripécias da instrução, a ansiedade das suas famílias. Quando há palestras, são inevitáveis as ferroadas políticas, os oficiais do quadro permanente são confrontados com a abertura inevitável de diferentes áreas de comando aos milicianos. Há também o diagnóstico do quadro mental e político de cada um, tudo é superado pela franca camaradagem. Alguns deles irão frequentar o Centro de Instrução de Operações Especiais de Lamego e depois colocados nas Unidades de onde partirão para a guerra, à frente da respectiva Companhia.
Partem todos para a guerra, o epicentro narrativo será Angola, Guiné e Moçambique merecerão igualmente referências, praticamente anódinas e desambientadas. Marcelino, filho de D. Diogo Fermões de Pimentel, parte para Bissum, Daniel Cabrita fica em Bissau. São apontamentos frágeis, ao contrário de tudo quanto é escrito sobre Angola, é um desequilíbrio de que toda a obra se ressente, terá faltado investigação que permitisse dar quadros impressivos e ajustados ao que ele descreve sobre o Leste e Norte de Angola. Vão surgindo as baixas, os sinistros, os capitães mantêm-se em contacto entre si e toda a desconfiança quanto ao quadro permanente jamais abranda. Sensivelmente a partir de Março de 1973, os capitães milicianos da tal incorporação de Julho de 1970 começam a regressar. Marcelino tinha morrido heroicamente em combate.
E chegámos ao período revolucionário, o autor descreve minuciosamente a legislação do ministro Sá Viana Rebelo e o descontentamento que ela provocou, como irão ficar acirradas as relações entre os oficiais preparados na Academia Militar e aqueles que o regime de Marcello Caetano pretende que ingressem no quadro especial de oficiais. É deste ângulo que o autor parte para uma crítica demolidora aos oficiais do quadro que confundiram uma reivindicação com as obrigações que deviam ter mantido com ética militar. O MFA, nesta lógica, foi uma maneira de esses oficiais do quadro terem fugido à competitividade com aqueles que tinham ardor e entusiasmo em combater. Esses oficiais foram politicamente manipulados, os comunistas e a extrema-esquerda. Os piões das nicas descobrem o logro em que caíram. Um mestiço que fugira do MPLA e que desertara do Exército português irá abater um oficial miliciano condecorado no dia 25 de Novembro. Aqui termina a narrativa romanceada e dá-se como demonstrado o nefando papel dos militares de carreira em tudo terem feito para impedir os capitães milicianos para não terem sido compensados com igual estatuto ao seu.
Não se percebe exactamente o que levou Rui Neves da Silva a escrever este relato que ele classifica como história romanceada de um punhado de homens que se assumiram como testemunhas de eventos que militares envolvidos na revolução dos cravos e historiadores teimam em calar ou desvirtuar. Não se percebe a dimensão desta conspiração de silêncio e pasma o silêncio do autor quanto ao alferes e tenentes milicianos que, segundo os historiadores, tiveram um papel fundamental na preparação das condições psicológicas que contribuíram para os oficiais do quadro terem chegado à conclusão que todo aquele esforço de guerra era insano na ausência de uma resposta política, quando não se antevia qualquer solução militar, pelo menos da Guiné e em Moçambique.
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Nota de CV:
Vd.- último poste da série de 30 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9288: Notas de leitura (318): Literaturas da Guiné-Bissau, Cantando escritos da história (2) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P9300: Parabéns a você (361): Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 1 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9298: Parabéns a você (360): A nossa novel tertuliana Margarida Peixoto
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 1 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9298: Parabéns a você (360): A nossa novel tertuliana Margarida Peixoto
domingo, 1 de janeiro de 2012
Guiné 63/74 - P9299: O nosso sapatinho de Natal: Põe aqui o teu pezinho, devagar, devagarinho... (13): Mensagens dos nossos camaradas José Manuel Cancela, António Teixeira, Francisco Palma, Carlos Rios, Manuel Reis, Fernando Barata, Manuel Sousa e Manuel Joaquim
1. Do nossos camarada José Manuel Cancela, ex-Soldado AM da CCAÇ 2382, Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70:
Caro Amigo Carlos
Um pouco atrasado, mas a época natalícia continua.
Quero deixar aqui os meus votos de um Ano Novo com tudo que há de melhor para todos os ex-combatentes e em especial para os da Guiné, e mais ainda, aqueles esquecidos da sociedade, que lutaram connosco, e não são reconhecidos como tal.
Aqui vai uma recordação do meu segundo Natal na Guiné, este em Safim.
José Manuel Cancela
2. Do nosso camarada António Teixeira, ex-Alf Mil da CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 - Teixeira Pinto, e CCAÇ 6 - Bedanda, 1971/73:
3. Mensagem do nosso camarada Francisco Palma, ex-Condutor Auto Rodas da CCAV 2748/BCAV 2922, Canquelifá, 1970/72:
Para todos, votos de um Bom Ano Novo 2012, com saúde e felicidade.
Saudações do
Francisco Palma
4. Do nosso camarada Carlos Rios, ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66:
Para os incansáveis e extraordinários responsáveis do blogue e todos os camarigos alguns dos quais tem feito o favor de ter paciência de ler e enviar os mais entusiásticos e agradáveis comentários aos meus incipientes
escritos e a tudo o mais, aos quais retribuo e agradeço, pois estes momentos e tudo o mais são partilhados por todos nós, envio os maiores desejos do mais maravilhoso 2012 ao encontro dos desejos mais íntimos de cada um.
Bem Hajam!
Carlos Rios
5. Do nosso camarada Manuel Reis, ex-Alf Mil da CCAV 8350, Guileje, 1972/74:
6. Mensagem do nosso camarada Fernando Barata, ex-Alf Mil da CCAÇ 2700, Dulombi, 1970/72:
Carlos
Para toda a equipa de editores da Tabanca votos de muita saúde para que possam continuar a desenvolver este genuíno "serviço público".
Abraço
Barata
7. Do nosso camarada Manuel Sousa, ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74, actualmente Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma:
8. Do nosso camarada Manuel Joaquim, ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67:
Vivam, meus caros Luís, Carlos e Eduardo:
Que as vozes destas crianças, na sua força e sua alegria, nos sustentem a esperança e nos dêem alento para continuarmos o caminho rumo a um futuro melhor.
Feliz Ano Novo, para os meus queridos camaradas e para todos os vossos entes queridos!
Um grande abraço
Manuel Joaquim
9. Mensagem de CV:
Muitos outros camaradas se dirigiram a mim ou ao Blogue utilizando os célebres Power Point's que não são publicáveis, como tal, no Blogue. A todos o nosso muito obrigado pelos votos manifestados, os quais agradecemos e retribuímos.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 30 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9292: O nosso sapatinho de Natal: Põe aqui o teu pezinho, devagar, devagarinho... (12): Cartão de boas festas do Patrício Ribeiro, À sombra do poilão, Cacheu, Dezembro 2011
Caro Amigo Carlos
Um pouco atrasado, mas a época natalícia continua.
Quero deixar aqui os meus votos de um Ano Novo com tudo que há de melhor para todos os ex-combatentes e em especial para os da Guiné, e mais ainda, aqueles esquecidos da sociedade, que lutaram connosco, e não são reconhecidos como tal.
Aqui vai uma recordação do meu segundo Natal na Guiné, este em Safim.
José Manuel Cancela
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2. Do nosso camarada António Teixeira, ex-Alf Mil da CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 - Teixeira Pinto, e CCAÇ 6 - Bedanda, 1971/73:
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3. Mensagem do nosso camarada Francisco Palma, ex-Condutor Auto Rodas da CCAV 2748/BCAV 2922, Canquelifá, 1970/72:
Para todos, votos de um Bom Ano Novo 2012, com saúde e felicidade.
Saudações do
Francisco Palma
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4. Do nosso camarada Carlos Rios, ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66:
Para os incansáveis e extraordinários responsáveis do blogue e todos os camarigos alguns dos quais tem feito o favor de ter paciência de ler e enviar os mais entusiásticos e agradáveis comentários aos meus incipientes
escritos e a tudo o mais, aos quais retribuo e agradeço, pois estes momentos e tudo o mais são partilhados por todos nós, envio os maiores desejos do mais maravilhoso 2012 ao encontro dos desejos mais íntimos de cada um.
Bem Hajam!
Carlos Rios
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5. Do nosso camarada Manuel Reis, ex-Alf Mil da CCAV 8350, Guileje, 1972/74:
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6. Mensagem do nosso camarada Fernando Barata, ex-Alf Mil da CCAÇ 2700, Dulombi, 1970/72:
Carlos
Para toda a equipa de editores da Tabanca votos de muita saúde para que possam continuar a desenvolver este genuíno "serviço público".
Abraço
Barata
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7. Do nosso camarada Manuel Sousa, ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74, actualmente Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma:
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8. Do nosso camarada Manuel Joaquim, ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67:
Vivam, meus caros Luís, Carlos e Eduardo:
Que as vozes destas crianças, na sua força e sua alegria, nos sustentem a esperança e nos dêem alento para continuarmos o caminho rumo a um futuro melhor.
Feliz Ano Novo, para os meus queridos camaradas e para todos os vossos entes queridos!
Um grande abraço
Manuel Joaquim
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9. Mensagem de CV:
Muitos outros camaradas se dirigiram a mim ou ao Blogue utilizando os célebres Power Point's que não são publicáveis, como tal, no Blogue. A todos o nosso muito obrigado pelos votos manifestados, os quais agradecemos e retribuímos.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 30 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9292: O nosso sapatinho de Natal: Põe aqui o teu pezinho, devagar, devagarinho... (12): Cartão de boas festas do Patrício Ribeiro, À sombra do poilão, Cacheu, Dezembro 2011
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O nosso sapatinho de Natal
Guiné 63/74 - P9298: Parabéns a você (360): A nossa novel tertuliana Margarida Peixoto
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 29 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9284: Parabéns a você (359): Luís F. Moreira, ex-Fur TRMS da CCAÇ 2789 (Guiné, 1970/72)
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 29 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9284: Parabéns a você (359): Luís F. Moreira, ex-Fur TRMS da CCAÇ 2789 (Guiné, 1970/72)
sábado, 31 de dezembro de 2011
Guiné 63/74 – P9297: Memórias de Gabú (José Saúde) (19): Um poço no mato
1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur
Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabú) - 1973/74, enviou-nos
mais uma mensagem desta sua série.
Camaradas,
Um poço no mato
Saciando a sede
O calor apertava e não dava tréguas ao guerrilheiro que
se depara com a falta de água no cantil. A sede assumia-se como uma necessidade
premente. Saciar a avidez era urgente. Por aquelas paragens a ausência do
precioso líquido era uma certeza. Olhávamos o terreno, infecundo, e não
visualizávamos fontes, tão-pouco bolanhas para uma recarga do pequeno cantil
que trazíamos atrelado ao cinturão.
Meu Deus, faça-nos o milagre de um eventual encontro com uma
fonte de água! Pensávamos. A caminhada no mato prolongava-se. O pessoal, já com
o cantil completamente esvaziado, desesperava. Aconselhava calma. Também eu
sentia a necessidade de um reabastecimento. Mais uns quilómetros percorridos e…
nada!
Eis que, perante os espaços desalinhados das árvores,
pareceu-nos ver uma cultura de milho. Verde! Gritou-me um dos soldados.
Associei de imediato que o verde simboliza fresquidão. Fresquidão… água.
Estamos safos, pensei.
A surpresa foi quando nos aproximámos do local. Uma criança
tirava água de um poço, utilizando uma pequena lata que transportava o líquido
do fundo para a superfície. Eureka! Estamos safos, avançou um outro soldado já quase
a desfalecer. Nos limites. Barrenta? Não faz mal, comentava um camarada ao
lado alertando para a necessidade de colocarmos no cantil o tal comprimidinho
desinfectante que matava o mais audaz bicho que porventura ousasse desafiar as
nossas gargantas e bexigas.
Curioso foi a amabilidade que a criança nos prestou. Quis ser
ele a assumir o trabalho. O caldeirão fez
várias viagens ao fundo. Saciámos a sede, enchemos os cantis e toca a andar.
Conhecendo a zona onde prestei serviço – Gabu – não era comum
encontrarmos poços no mato. Água, isso sim, havia com fartura nas bolanhas e
nos rios. Tanto mais que a Guiné era um território onde a água abundava.
A fonte do Alecrim, na saída da estrada que nos conduzia a
Piche, era a nascente de reabastecimento do nosso Quartel.
O calor imenso que nos transportava a socorrer
sistematicamente ao cantil para, pelo menos, enxaguar a boca com o líquido e
seguir viagem, esgotava-se quase sem darmos por isso. Razão, óbvia, para o
desespero. Restava saber sofrer até um possível reencontro com uma fonte de
reabastecimento e voltar a acelerar a caminho do objectivo ou para o
ambicionado regresso ao Quartel são e salvo.
Saciar a sede era, para todos nós, uma bênção caída do céu
quando a ocasião proporcionava momentos de desespero. Recordações que ficaram
eternizadas nas nossas memórias guineenses!
Junto ao poço para saciar a sede
Um abraço deste alentejano de gema,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do
BART 6523
Fotos: © José
Saúde (2011). Direitos reservados.
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho
(2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste
desta série em:
18 DE DEZEMBRO DE 2011 > Guiné 63/74 – P9224: Memórias de Gabú (José Saúde) (18):
A caminho do campo
Guiné 63/74 - P9296: Blogpoesia (174): Dies irae! (Luís Graça)
Castelo e Pelourinho de Penedono, distrito de Viseu
Distrito de Viseu, Terras do Demo, Sernancelhe, Santuário de N. Sra. da Lapa, um dos lugares de culto mariano mais antigos da Península Ibérica
Distrito de Viseu, Terras do Demo, Sernancelhe > Santuário de N. Sra. da Lapa > Sanitários públicos > Grafitos de antigos combatentes da guerra colonial e de outros peregrinos.
Fotos: © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados
Dies iræ, dies illa!
Dedicado a todos os camaradas,
humilhados,
esquecidos,
abandonados,
ostracizados,
emigrados,
exilados,
que um dia subiram o portaló
dos Niassa, dos Uíge, dos Ana Mafalda,
a caminho da Guiné,
aquela terra verde e vermelha
que a todos nos marcou,
a ferro e fogo...
sem esquecer os que simplesmente viajaram nos TAM!
Que o ano de 2012,
mesmo de raiva,
seja de coragem e de esperança!
Como os que os anos que passámos na Guiné!
Dedicado a todos os camaradas,
humilhados,
esquecidos,
abandonados,
ostracizados,
emigrados,
exilados,
que um dia subiram o portaló
dos Niassa, dos Uíge, dos Ana Mafalda,
a caminho da Guiné,
aquela terra verde e vermelha
que a todos nos marcou,
a ferro e fogo...
sem esquecer os que simplesmente viajaram nos TAM!
Que o ano de 2012,
mesmo de raiva,
seja de coragem e de esperança!
Como os que os anos que passámos na Guiné!
Cavalgam caudalosos os rios
Pela terra adentro,
Enquanto fluem ruidosos
Os dias da guerra.
Rios que não são rios
Mas rias,
Entranhas ubérrimas
Fustigadas pelo vento,
Rias baixas pela manhã,
Pedaços, braços de mar,
Restos de tsunamis,
Pontas de fuzis,
Palavras acérrimas,
Imprecações ao Grande Irã,
Picadas minadas
De ir e não mais voltar.
Dias que não são dias,
Circadianos,
Mas fragmentos,
Ora ledos ora amargos enganos,
Ora ledos ora amargos enganos,
Estilhaços de tempo,
Riscos nas paredes sujas dos bunkers,
Repentinas emboscadas,
Breves finais de tarde,
Instantes,
Flagelações,
Balas tracejantes
Sob o céu verde e vermelho
Enquanto o capim arde.
Narciso, reveste ao espelho,
Quebrado,
Vais nu,
De camuflado,
De azul,
Celestial,
Celestial,
Ao encontro do anjo da morte
Em Jugudul.
E não há estrelas
À noite,
Mas a bússola indica o norte,
Sideral,
Sideral,
Nunca o sul,
Nunca o nascer nem o morrer.
Dies irae, dies illa,
Dia de ira, aquele,
Em que subiste o cadafalso do Niassa,
Ou do Uíge ou do Ana Mafalda,
Em que subiste o cadafalso do Niassa,
Ou do Uíge ou do Ana Mafalda,
Dias de ira, aqueles,
Os da guerra!
Os da guerra!
Calai-vos,
Rápidos do Saltinho,
Rápidos de Cussilinta,
Vós que mais não sois
Do que canoas loucas,
Desenfreadas,
Levadas pelo macaréu da nossa raiva,
Entre o Geba e o Corubal.
Braços que não são braços,
Braços que não são braços,
Amputados,
Mas apenas tatuagens,
Traços,
Letras de fado pungentes,
Pontes que são miragens,
Tentáculos, serpentes,
Lianas, cortadas pela catana,
A eito,
Pela floresta-galeria,
Inferno tropical,
Inferno tropical,
Túneis, tarrafo,
Bolanhas, lalas, bissilões,
Curvas da morte do Cacheu ao Cumbijã,
Curvas da morte do Cacheu ao Cumbijã,
Apocalípticos palmeirais,
Pontas de punhais
Cravadas no peito,
Irãs acocorados
No alto dos poilões.
E depois o silêncio.
O impossível silêncio.
O silêncio das partituras,
Das mapas dos argonautas,
Partículas,
Pausas,
Pautas,
Cartas de tiro
Cartas de tiro
Com claves de sol,
Desidratação,
A ogiva do obus,
O medo da avestruz,
O roncar do helicanhão,
Gritos do djambé,
E do macaco-cão,
E do macaco-cão,
Gemidos de kora,
Espasmos de balafon,
Rajadas de kalash
Ecos do bombolom,
Bombas de fragmentação
Que correm no dorso dos cavalos
Desde o Futa Djalon.
Não vais poder ouvir o silêncio do Cantanhez,
Nem queres voltar a ouvir o grito da morte
Outra vez.
Terras do Demo, 27-29 de Dezembro de 2011;
Madalena, Vila Nova de Gaia, 30-31 de Dezembro de 2011
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Nota do editor:
Último poste da série > 17 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9215: Blogpoesia (173): Natal da raiva e solidão (Armor Pires Mota, 1974)
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Nota do editor:
Último poste da série > 17 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9215: Blogpoesia (173): Natal da raiva e solidão (Armor Pires Mota, 1974)
Guiné 63/74 - P9295: Nós da memória (Torcato Mendonça) (4): Ano Novo; Ano Velho e Toca o Mesmo
Quotidiano em Candamã
Foto ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes) 2011. Direitos reservados1. Em mensagem do dia 26 de Dezembro de 2011, o nosso camarada Torcato Mendonça* (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69), enviou-nos o segundo texto para publicação na sua série "Nós da memória".
NÓS DA MEMÓRIA
(…desatemos, aos poucos, alguns…)
4 - Ano Novo; Ano Velho e Toca o Mesmo
Passou o Natal de 68.
Com tão grandes festejos, com os calorosos carinhos e as prendas do Pai Natal, estavam as gentes de Mansambo prenhes de alegria.
Até os picadores e seus familiares, mesmo sendo muçulmanos, com os militares estavam solidários.
Só que o trabalho continuava. A guerra não tinha fechado o portão. Esquecimento? Nada disso, os portões só se fecham quando a guerra entra em letargia e pára aqui para começar acolá.
Assim: - em 28 de Dezembro viemos para Bambadinca preparar mais uma louca coluna de abastecimentos ao Saltinho/Xitole. Louca porque era composta por muitas viaturas, civis e militares, passando por estradas e picadas entre Bambadinca, Galomaro, Dulombi, Quirafo, Saltinho e Xitole. A chegada era à noitinha ou já noite e na madrugada seguinte estávamos de regresso. Eram dezenas de quilómetros - itinerário alternativo - para não fazer dezassete entre Mansambo e o Xitole. Não era fuga a portagens, nada disso. Aquele troço de estrada estava encerrado para obras de desminagem e afins. Além disso quando foi aberto levou mais tempo, com tropas por terra e ar. Faltou a Marinha devido ao assoreamento do Galoiel e o Corubal ter uns rápidos em bela e traiçoeira paisagem.
Nesta coluna, de itinerário alternativo, só ia o 2.º GCOMB, mecânicos reforçados, picadores e os militares da Manutenção Militar. Em caso de emboscada respondiam uns, por avaria auto outros e mais outros quanto aos comes e bebes transportados. Tudo ligado mas com tarefas distintas e de preferência sem interferências Era uma maravilha.
O regresso era, se possível, de prego ao fundo.
A 30 de Dezembro já estávamos de regresso a Bambadinca, em trânsito para Mansambo. Para não arrefecer ânimos, no dia seguinte depois de breves preparativos partimos, em visita de cortesia certamente, para a Moricanhe onde estava sediado um Pelotão de Milícia. Visita e salamaleques feitos, regressámos a quartéis.
À noite, a noite de fim do fim de 1968 ou só 68 – assim o relator não parece tão velho – e de entrada em 69 (ano), houve uns tiros e, por acidente na resposta, um militar ficou ferido. Era do 2.ºgrupo. Como era um “faz de tudo” fora destacado para manobrar os geradores eléctricos, de marca Lister, creio eu e alemães. A EDP nada tinha a ver com aquilo e chineses estavam do outro lado daquela barricada. Outras vidas…
O militar foi evacuado no outro dia para Bissau. Nós seguimos para a Tabanca em auto defesa de Candamã.
Lá fomos, naquele primeiro dia de 69, fazer segurança a um pequeno Grupo da Engenharia de Nova Lamego, comandado pelo Furriel Zamite (?). Isto se bem me lembro e as breves notas da agenda estão correctas. Eles iam reconstruir um pontão entre Candamã e Musa Iéro, o pontão da Chanca, que os nossos inimigos de outrora tinha escaqueirado. O outrora fica bem, não fica? Outrora?
Mobilizada a população, sempre os que pagam as crises, para uma ajuda, as moto-serras a trabalhar - perigoso o ruído na mata - o saber das gentes da Engenharia e lá se reconstruiu rapidamente o pontão.
No dia 3 de Janeiro estávamos de regresso a Mansambo, depois de, ainda em Candamã, um militar ter ficado com ligeira queimadura. Acidentes ou azares.
Aí estávamos nós, ao fim da tarde de regresso a “casa”, com correio e roupa lavada à espera.
Talvez nos tenhamos apressado no regresso pois o IN atacou, pelas 20/21 horas, Mansambo. Seria o normal. Este não foi. Provocou um ferido grave e o primeiro morto do nosso grupo. Triste recordação.
Eles certamente tinham ido cheirar a zona do pontão ou foram para a picada Candamã/ Mansambo à nossa espera. Viemos primeiro. Que pena não termos ainda os obuses 10.5. Que pena pois eles certamente gostariam.
No outro dia, já na igreja de Bambadinca (desconhecia aquela construção) assisti à colocação do corpo do meu camarada na urna.
Curioso, talvez não, ainda recordo bem a cena. Logo já continuo. Um café, agora.
No dia seguinte, a 5 de Janeiro, apanhei boleia numa DO para Bissau. Vinha gozar o meu segundo e último período de férias.
Ninguém diria certamente que a “produção” destes militares não era boa.
Perspectivava-se um Bom Ano Novo. Outrora como agora é o que sempre desejamos. Não é? Acredita camarada, acredita pois não há mal que sempre dure.
PARA TODOS UM BOM 2012. O de 69 há muito que se finou.
Vai ser um Bom Ano, este de 2012 e com os Votos do T.
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 25 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9265: (Ex)citações (167): Vagomestria(s) (Torcato Mendonça / José Brás)
Vd. último poste da série de 17 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8917: Nós da memória (Torcato Mendonça) (3): Baguera, baguera e Desconforto
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