1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Janeiro de 2012:
Queridos amigos,
O Boletim Geral do Ultramar veiculava posições governamentais e a sua leitura permite conhecer o que se filtrava e o valor das omissões. Este texto centra-se no período embrionário da guerra, desde as primeiras manifestações e à subversão. Os políticos passam pela Guiné meteoricamente, é até de admitir que não se apercebessem daquela fúria avassaladora que tomou conta dos acontecimentos no Sul, logo no início do ano. As preocupações maiores centravam-se em Angola e já se previa Moçambique, como deixam antever as visitas ministeriais de 1963. A Guiné é ainda uma nebulosa, ninguém tem consciência do seu peso nas lutas pela independência.
Um abraço do
Mário
A guerra da Guiné no Boletim Geral do Ultramar (1)
Beja Santos
O Boletim Geral do Ultramar era o porta-voz da ideologia do regime, era uma publicação com inúmera informação, tinha mesmo dados estatísticos, artigos de história com propensão para a divulgação, secção de artes e letras, mas no fundamental funcionava como uma correia de transmissão do pensamento de Salazar e das ações do Ministério do Ultramar.
A sua leitura não provoca grandes surpresas, para quem procura registar as suas tomadas de posição e detetar informação marginal que escapasse ao pensamento oficioso.
Escolhe-se, nesta primeira abordagem, o período crucial de 1961 a 1963: a Guiné já entrou em agitação, os países limítrofes já anunciaram guerra sem quartel ao colonialismo, em Conacri o apoio é inicialmente indiferenciado, enquanto no Senegal o regime de Senghor protege preferencialmente os movimentos pro-guineenses. Os quadros da guerrilha do PAIGC estão a caminho da Academia Militar de Nanquim, na China. O movimento de manjacos liderado por um dirigente que falava exclusivamente francês, ataca, em Julho, S. Domingos e a seguir Suzana e Varela. Os contingentes militares são reforçados, a PIDE instala-se e dinamiza o sistema de informações. 1962 é o ano da ideologização e subversão internas, em Março Rafael Barbosa será detido, entre outros dirigentes. No final do ano, a destruição metódica começa a tomar conta do Sul e em Janeiro, para completa surpresa dos quadros militares portugueses, a guerrilha ataca Tite, instala-se no Morés e nas matas do Corubal. O cônsul português em Dakar negoceia com Senghor uma autonomização progressiva liderada por guineenses do movimento de Benjamim Pinto Bull, Salazar chega a recebê-lo e depois descarta esta hipótese: o Ultramar tornara-se inegociável. O governador da Guiné não se entende com o comandante militar, este considera a Guiné perdida. A guerrilha progride com êxito, as etnias tomam partido. Aos poucos, os terrenos de manobra definem-se, uma maioria ainda impressiva está do lado dos portugueses, os mais velhos não esqueceram as guerras da pacificação.
Adriano Moreira visita a Angola durante 20 dias, em Maio de 1961, no regresso passa meteoricamente pela Guiné. O Boletim refere esta viagem. O ministro é cumprimentado pelos sobas (!) no aeroporto e no Palácio do Governo. Viaja até Mansoa e é aclamado em Nhacra. Seguiu-se uma visita a Bafatá, onde discursou: “Não quis perder a oportunidade de, nesta terra portuguesa da Guiné, afirmar a solidariedade de todos os portugueses contra as ameaças e agressões que vêm do exterior (…) Continuaremos a dar a todos os que por estas latitudes procuram um rumo, exemplos como o da erradicação da lepra, da luta contra a doença do sono, contra a malária, em suma, da luta contra a miséria e o medo”. E regressa prontamente a Lisboa.
No número de Agosto-Setembro, o Boletim refere os acontecimentos de Julho passado. Começa por dizer que houve em 21 de Julho um ataque ao aquartelamento (!) de S. Domingos. Os terroristas foram repelidos com firmeza. “Eram 50 indivíduos provenientes do Senegal armados com espingardas”. Segue-se o ataque a Varela, os agressores foram computados em 200, cortaram o fio telefónico e causaram estragos em algumas moradias de veraneantes. A informação sobre Suzana é muito magra. Segue-se o texto das notas trocadas acerca da alegada violação do Senegal por aviões portugueses, o Senegal queixara-se da violação do seu espaço aéreo em 18 de julho.
O governador Peixoto Correia falou aos guineenses: “Atente-se na manifestação dos habitantes dos bairros populares de Bissau para exprimirem a sua lealdade à nação e a sua repulsa pelas incursões, na exposição de alto sentido patriótico dos munícipes de Bolama, nas declarações dos régulos, de notáveis e da população em geral e, de modo particular, no oferecimento de um chefe gentílico para, com os manjacos do seu e outros regulados, participar nos efetivos militares em operações”.
O Boletim refere igualmente o corte de relações do Senegal em 25 de Julho, dando como pretexto atividades ilícitas conduzidas por Portugal no Senegal, sobrevoo do território senegalês e recusa do governo português em abandonar a província da Guiné. É também publicado o teor da resposta do governo português, contestando toda a argumentação de Dakar. Adriano Moreira volta à Guiné, em 1 de Novembro, no culminar de um périplo que começou em Moçambique. Visitou no mesmo dia Bissau e Bolama, à noite jovens estudantes ofereceram-lhe uma serenata à porta do Palácio, o Boletim publica fotografia.
Em 1962, temos uma nova visita de Adriano Moreira, em Agosto, vai seguir para Cabo Verde. Diz laconicamente aos meios de informação: “É uma oportunidade para tratar com o senhor governador da Guiné de alguns problemas correntes”. Em companhia de Peixoto Correia, Adriano Moreira visitou as localidades que estiveram mais expostas aos ataques de 1961. No termo da sua rápida visita, Adriano Moreira condecorou Peixoto Correia com a medalha de ouro dos serviços distintos. Há total omissão sobre o larvar da guerrilha e o crescente reforço militar.
Estamos já em 1963, em 12 de Agosto, Silva Cunha, subsecretário de Estado da Administração Ultramarina faz uma visita de estudo à Guiné. É recebido pelo governador, comandante Vasco Rodrigues: visita Mansoa, Bolama, Catió, Fula Cunda e Pelundo. Escreve-se no Boletim “Em Catió, no centro da zona de atuação dos terroristas no Sul da Província, verificou que a população continua a fazer normalmente a sua vida, embora perturbada por vez pela interferência subversiva”.
No remate da sua viagem, teve uma grande manifestação pública organizada pelo jornal O Arauto. Discursaram Alfa Umaru, chefe fula, o comerciante Carlos Gomes, José Demba, funcionário público, entre outros. Silva Cunha terminou o seu improviso dizendo: “Havemos de vencer!”.
Este Boletim, como se vê, não dá oportunidade a descobertas de vulto, permite ler através das omissões, o que não se diz à opinião pública, nomeadamente a militarização e o nível de ofensiva de guerrilha.
Não se deve confundir o Boletim Geral do Ultramar com a revista Ultramar, esta tem outras características, como oportunamente passaremos em revista.
(Continua)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9439: Notas de leitura (329): Francisco Caboz, A Construção e a desconstrução de um Padre, por Horácio Neto Fernandes (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Guiné 63/74 - P9448: (Ex)citações (173): Ralis com zebros no Rio Cacine...petas sobre o obus 14 enfiadas a jornalista da BBC em Gadamael (C. Martins, cmdt do Pel Art, Gadamael, 1973/74)
Capa da revista Combatente, da Liga dos Combatentes, edição de setembro de 2011, alusiva às comemorações do 50º aniversário da criação da Escola de Fuzileiros, em 1961, por iniciativa do alm Reboredo e Silva. Entre os eventos que celebram a efeméride, conta-se a publicação do livro "Ordem do Dia" (144 pp .), sobre a história da escola dos Fuzileiros e os seus primórdios. Prefácio do comandante Alpoím Calvão, antigo aluno da Escola, e combatente na Guiné. Infelizmente, a obra está fora do circuito do mercado livreio.
1. Comentário, ao poste P9437 (*), do nosso leitor e camarada C. Martins (que esteve em Gadamael, a norte de Cacine, como comandante do respetivo Pel Art, entre 1973 e 1974):
Os fuzos de Cacine não faziam water-skiing [, esqui aquático,] no rio mas sim ralis com os zebros.
Quem o fazia de sintex (com o soldado operador deste completamente apavorado) e também tiro de caçadeira a todas as aves que lhe apareciam, era o cap comando Patrocínio, oficial de operações em Gadamael.
Era completamente "amalucado". Insistia comigo que operar os obuses era praticamente igual como os morteiros.
Um dia recebemos um jornalista inglês da BBC que quis uma explicação sobre o obus 14, enfiei-lhe uma série de petas: o tubo era de fabrico alemão, as sapatas russas,o reparo americano,os amortecedores franceses, as rodas e o óleo espanhois... O cap Patrocínio assistia a tudo, meio incrédulo.
Por fim quis gravar um tiro de obus... Bem, mandei colocar o gravador de bobines à frente do obus (perante o espanto geral dos meus soldados)... e após o tiro o dito cujo desintegrou-se. Risota geral. O newspaperman queria que eu lhe pagasse o gravador. Expliquei-lhe que, como nunca tinha feito uma gravação de um tiro de obus, não sabia que o resultado era aquele.
Mais tarde soube que se queixou de mim nas altas esferas de Bissau..
Ah, comia-se bem no patrulha que frequentemente aportava em Cacine! (**)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 2 de fevereiro 2012 > Guiné 63/74 - P9437: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (7): Andava-se de sintex, com motor de 50 cavalos, no Cumbijã, nas barbas do PAIGC... e fazia-se esqui aquático no Cacine...
(**) Último poste da série > 2 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9433: (Ex)citações (172): Ainda o dossiê Guidaje - Maio de 1973 (Manuel Marinho / Amílcar Carreira)
1. Comentário, ao poste P9437 (*), do nosso leitor e camarada C. Martins (que esteve em Gadamael, a norte de Cacine, como comandante do respetivo Pel Art, entre 1973 e 1974):
Os fuzos de Cacine não faziam water-skiing [, esqui aquático,] no rio mas sim ralis com os zebros.
Quem o fazia de sintex (com o soldado operador deste completamente apavorado) e também tiro de caçadeira a todas as aves que lhe apareciam, era o cap comando Patrocínio, oficial de operações em Gadamael.
Era completamente "amalucado". Insistia comigo que operar os obuses era praticamente igual como os morteiros.
Um dia recebemos um jornalista inglês da BBC que quis uma explicação sobre o obus 14, enfiei-lhe uma série de petas: o tubo era de fabrico alemão, as sapatas russas,o reparo americano,os amortecedores franceses, as rodas e o óleo espanhois... O cap Patrocínio assistia a tudo, meio incrédulo.
Por fim quis gravar um tiro de obus... Bem, mandei colocar o gravador de bobines à frente do obus (perante o espanto geral dos meus soldados)... e após o tiro o dito cujo desintegrou-se. Risota geral. O newspaperman queria que eu lhe pagasse o gravador. Expliquei-lhe que, como nunca tinha feito uma gravação de um tiro de obus, não sabia que o resultado era aquele.
Mais tarde soube que se queixou de mim nas altas esferas de Bissau..
Ah, comia-se bem no patrulha que frequentemente aportava em Cacine! (**)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 2 de fevereiro 2012 > Guiné 63/74 - P9437: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (7): Andava-se de sintex, com motor de 50 cavalos, no Cumbijã, nas barbas do PAIGC... e fazia-se esqui aquático no Cacine...
(**) Último poste da série > 2 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9433: (Ex)citações (172): Ainda o dossiê Guidaje - Maio de 1973 (Manuel Marinho / Amílcar Carreira)
Guiné 63/74 - P9447: Parabéns a você (377): Fernando Franco, ex-1.º Cabo Caixeiro do PINT 9288 (Guiné, 1973/74) e José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 4 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9441: Parabéns a você (376): José Belo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/72)
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 4 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9441: Parabéns a você (376): José Belo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/72)
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Guiné 63/74 - P9446: Ainda a emboscada de Ponta Coli, Xime, no dia 14/11/1968, em que morreu o Fur Mil SAM Fernando Dias e que fez 10 feridos graves entre o pessoal da CART 1746 (Bissorã e Xime, 1968/69)
Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > O troço da estrada Xime-Bambadinca, entre Taliuara e Ponta Coli, onde uma coluna auto da CART 1746 foi emboscada, em 14 de novembro de 1968. Carta do Xime (1955) (Escala 1/25 mil).
1. Ainda a propósito da emboscada onde morreu o Fur Mil SAM Fernando Dias (*) [, foto à direita, em Bissorã, 1968], veja-se o que ficou escrito, sobre esta ocorrência, na história do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), Cap II, pp. 5-6 (Atividade em outubro e novembro de 1968):
"(...) Em 14 de Novembro de 1968, pelas 7h30, 2 Grupos IN com cerca de 20 elementos emboscou NT com LGFog e armas automáticas, durante 30 minutos, no itinerário Xime - Bambadinca, entre Taliuara e Ponta Coli. As forças da CART 1746 sofreram 1 morto (Furriel Miliciano), 10 feridos graves e 6 ligeiros. O IN retirou, com baixas prováveis, à reacção das NT" (...).
Cinco dias depois, a 19, às 21h55, "Grupo IN não estimado atacou o aquartelamento do Xime com Mort 82, LGFog, Pel Mort 60 e armas ligeiras, durante 25 minutos, sem consequências. As NT reagiram pelo fogo obrigando o IN a retirar" (...).
Infelizmente não temos o nome dos camaradas da CART 1746 que foram gravemente feridos nesta emboscada. Embora adida, esta subunidade não pertencia ao BCAÇ 2852.
_______________
Nota do editor:
(*) Vd. poste de 4 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9442: In Memoriam (108): Fur Mil SAM Fernando Maria Teixeira Dias, da CART 1746, morto na emboscada de 14 de Novembro de 1968, perto da Ponta Coli, Xime (Manuel Moreira / Rui Dias Moreira)
Guiné 63/74 - P9445: Fotos à procura de... uma legenda (16): Tabanca de Gadamael, 1973 ? (José Sales, CCAÇ 4743, Gadamael e Tite, 1972/74)
Guiné > Região de Tombali > Gadamael - Porto > s/d [1973? ] > Tabanca, reordenada pelas NT.
Foto: Autores desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual. Gentileza de: © Pepito/ AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) (2007).
1. O nosso leitor e camarada José Sales deixou-nos o seguinte comentário, no poste P2801 (*):
Não querendo ser contrariador, esta minha observação é apenas construtiva. Esta foto [, acima,] nem me parece de Gadamael, mas se o é , será posterior a 1973: eu estive em Gadamael desde a primeira semana de Fevereiro de 73 até 24 de Junho do mesmo ano e não existia tabancas de chapa de zinco, era tudo colmo.
Como digo, poderá ser depois desta data. Aqui deixo as minhas desculpas. (**)
José Sales,
CCAÇ 4743/72 (***)
2. Comentário do editor:
Agradece-se a atenção e o interesse do nosso leitor e camarada José Sales. Pede-se aos camaradas que passaram por Gadamael para contribuirem,com os seus esclarecimentos, para a correta legendagem da foto, fornecida em 2007 pelo nosso amigo Pepito, e que desde sempre referenciamos como sendo de Gadamael. Sobre o reordenamento de Gadamael (talvez o primeiro do CTIG), vd. aqui poste do nosso camarada, o cor art António J. Pereira da Costa, com data de 2 de julho de 2008:
(...) " Em Maio/Junho de 1968, o Gen Spínola [, então ainda brigadeiro, ] determinou o abandono dos quartéis de Sangonhá e Cacoca. Houve que transportar, para Gadamael e Cacine, a população que ali residia e que, em Cacine, ficou instalada na antiga Missão do Sono que agora já não existia, visto que a doença estava erradicada.
"Foram feitas mais de 30 colunas em pouco mais de 15 dias. À chegada foi necessário construir as casas com o auxílio do pessoal da CART 1692. Pela sequência das fotos é possível ver que se podem construir casas a partir do telhado. A qualidade das fotos não
será a melhor, mas este poderá ter sido o primeiro Reordenamento da Guiné" (...).
3. Comentários (posteriores) dos leitores a este poste:
(i) Vasco Pires (ex-comandante do 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72, a quem saudamos e convidamos a integrar a nossa Tabanca Grande)
Prezados, com as devidas ressalvas de mais de quarenta anos de distância, não posso afirmar se essas fotos são de Gadamael Porto. O que posso afirmar, é que quando cheguei em Gadamael, penso que em finais de 1970, para assumir o comando do 23°Pelart, os espaldões já estavam prontos, bem como as casas do reordenamento (com teto de zinco), que foram ocupadas pelo pesoal da artilharia, inclusive a primeira casa, junto à cerca do quartel,foi ocupada por mim e pelos valorosos e esforçados Furriéis. Cordiais saudações.
Domingo, Fevereiro 05, 2012 7:45:00 PM
(ii) C. Martins (ex- comandante do Pel Art, Gadamael, 1973/74):
Por diversas vezes apareceram estas fotos , nomeadamente a 1.ª, como sendo de Gadamael.
É-me completamente estranha a 1ª. A 2.ª pode ser, mas terá sido quando houve a retracção de Cacoca e Sangonhá. A 3.ª também pode ser, mas no meu tempo,onde se observa o suposto reordenamento era a pista. O obus que se vê NÃO É O 8,8 MAS SIM O 14.
O camarada Vasco Pires diz que no seu tempo os espaldões já estavam construídos, logo a 3.ª foto só pode ser anterior a 1970.
Se as fotos são de Gadamael terão sido feitas em 1970 ou anteriormente. No meu tempo nada disto existia.
Um artilheiro de Gadamael, C.Martins.
Segunda-feira, Fevereiro 06, 2012 1:05:00 AM
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 30 de abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2801: Fotos e relatos de Gadamael, Maio / Julho de 1973, precisam-se (Nuno Rubim) ______________
(**) Vd. último poste da série > 10 de setembro de 2011 > Guine 63/74 - P8761: Fotos a procura de... uma legenda (15): Bambadinca e o seu famoso bagabaga catedral... Álbum do Benjamim Durães
(***) Esteve em Gadamael (e depois foi para Tite) a CCAÇ 4743/72 (BII 17; partida para o TO da Guiné a 27/12/1972; regresso a 31/8/1974). Teve 3 capitães.
(***) Esteve em Gadamael (e depois foi para Tite) a CCAÇ 4743/72 (BII 17; partida para o TO da Guiné a 27/12/1972; regresso a 31/8/1974). Teve 3 capitães.
Marcadores:
23º Pel Art,
AD - Acção para o Desenvolvimento,
António J. Pereira da Costa,
CCAÇ 4743,
Fotos à procura de... uma legenda,
Gadamael,
Obus 14,
reordenamentos
Guiné 63/74 – P9444: Convívios (392): 16º Encontro/Convívio da CCAV 8351 - “Os Tigres de Cumbijã”
1. Um dos nossos leitores, Domingos Alves, enviou-nos em 3 de Fevereiro de 2012 uma mensagem com o seguinte convite:
Caro Luis Graça:
O meu nome é Domingos Alves e sou amigo pessoal de um "Tigre" de seu nome Augusto Covas, a quem coube, desta vez, a organização do XVI convívio dos "Tigres de Cumbijã".
Como o Covas anda sempre muito ocupado prontifiquei-me, de imediato, a ajudá-lo nesta tarefa.
Assim, através do vosso blogue, reparei que estes convívios não têm aqui sido publicitados, o que é uma pena. Para que isso não aconteça este ano, peço-lhe encarecidamente que o divulgue.
Como vem sendo costume, o convite para esta festa é sempre extensivo a todos aqueles que, tendo feito a sua comissão na Guiné, se queiram juntar a esta excepcional malta.
Um muito obrigado antecipado.
Cumprimentos
Domingos Alves e Augusto Covas
Telem.: 969066091
16º Encontro / Convívio da CCAV 8351 “Os Tigres de Cumbijã”
___________
Nota de MR:
Vd. último poste desta série em:
6 DE DEZEMBRO DE 2011 > Guiné 63/74 - P9145: Convívios (384): Assim foi o jantar de Natal da Tabanca de Matosinhos (Margarida Peixoto)
sábado, 4 de fevereiro de 2012
Guiné 63/74 - P9443: Documentos (17): Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte V): pp. 10/21
1. Continuação da publicação do relatório da 2ª Rep/CTIG, sobre a situação político-militar em 1974, documento esse que foi generosa e gentilmente digitalizado e enviado pelo Luís Gonçalves Vaz [, foto à esquerda], a partir de um exemplar pertencente ao arquivo pessoal de seu pai, cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado-Maior do CTIG (1973/74), entretanto falecido em 2001.
A publicação na íntegra deste documento, embora seja uma tarefa pesada, é considerada de interesse para os leitores do nosso blogue, e foi de resto solicitada pelo nosso colaborador, camarada e amigo José Manuel Dinis. Cabe aos leitores fazer a sua análise detalhada e a sua apreciação crítica e, em última análise, ajuizar da sua importância e interesse. Para o nosso tabanqueiro Luís Gonçalves Vaz vai, mais uma vez, o nosso reconhecimento público por este serviço, que ele dedica não apenas à memória do seu pai, mas a todos os amigos e camaradas da Guiné que integram a nossa Tabanca Grande.
Nas páginas 10 a 21 do relatório (que tem um total de 74 páginas), continua a abordar-se a situação política à data do 25 de Abril de 1974, mas agora centrada na situação interna (ponto c, 1. Situação militar; 2. Situação político-administrativa) (As páginas 22 a 24 serão disponibilizadas em próximo poste; as páginas 1 a 9 constam do poste anterior) (*).
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Nota de CV:
(*) 31 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9424: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte IV): pp. 1/9
A publicação na íntegra deste documento, embora seja uma tarefa pesada, é considerada de interesse para os leitores do nosso blogue, e foi de resto solicitada pelo nosso colaborador, camarada e amigo José Manuel Dinis. Cabe aos leitores fazer a sua análise detalhada e a sua apreciação crítica e, em última análise, ajuizar da sua importância e interesse. Para o nosso tabanqueiro Luís Gonçalves Vaz vai, mais uma vez, o nosso reconhecimento público por este serviço, que ele dedica não apenas à memória do seu pai, mas a todos os amigos e camaradas da Guiné que integram a nossa Tabanca Grande.
Nas páginas 10 a 21 do relatório (que tem um total de 74 páginas), continua a abordar-se a situação política à data do 25 de Abril de 1974, mas agora centrada na situação interna (ponto c, 1. Situação militar; 2. Situação político-administrativa) (As páginas 22 a 24 serão disponibilizadas em próximo poste; as páginas 1 a 9 constam do poste anterior) (*).
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Nota de CV:
(*) 31 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9424: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte IV): pp. 1/9
Guiné 63/74 - P9442: In Memoriam (108): Fur Mil SAM Fernando Maria Teixeira Dias, da CART 1746, morto na emboscada de 14 de Novembro de 1968, perto da Ponta Coli, Xime (Manuel Moreira / Rui Dias Moreira)
Guiné > Região do Oio > Bissorã > 1968 > CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69) > O saudoso Fur Mil SAM é o militar de óculos escuros, na ponta esquerda.
Foto: © Manuel Moreira (2012). Todos os direitos reservados
1. Mensagem do nosso leitor Rui Moreira, empresário e gestor do Porto, enviada em 24 de Janeiro último:
Assunto: Pedido de informação
Luís Graça:
Ao visionar por mero acaso o seu blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné deparei-me com um gigantesco manancial de informação sobre a Guerra Colonial nomeadamente no teatro de operações da Guiné.
Luís Graça:
Ao visionar por mero acaso o seu blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné deparei-me com um gigantesco manancial de informação sobre a Guerra Colonial nomeadamente no teatro de operações da Guiné.
Chamo-me Rui Fernando Teixeira Dias Moreira, tenho 53 anos de idade, dois filhos já adultos (com 27 e 21 anos, respectivamente) e o meu tio Fernando Maria Teixeira Dias, irmão mais novo de minha mãe, furriel miliciano VM [ vagomestre, nº mecanográfico]03682465 pertenceu ao BCac 2852 /CArt 1746 e faleceu na Guiné em 14/11/1968, julgo que a pouco tempo de regressar.
Estas são as únicas informações que possuo e que consegui obter através da Net.
Sendo eu o primeiro de 4 irmãos, o meu tio Fernando foi o mais próximo de um irmão mais velho que alguma vez tive. Natural de Amarante veio, ainda adolescente, estudar para o Porto, passando a viver em casa dos meus pais, onde compartilhava um quarto comigo. A sua partida para a Guiné arquivou, nas minhas memórias de criança, um dos raros sentimentos de infelicidade e saudade que perduram até hoje.
Por um triste acaso fui eu que atendi a porta, a um estafeta que julgo era da companhia Marconi, portador de um telegrama e que me pediu para falar com o pai. Os acontecimentos que se seguiram gostaria de os manter apenas na minha memória.
O assunto da morte do tio Fernando, foi sempre uma espécie de tabu nomeadamente para as crianças da família, que era a minha condição na altura. Ouvimos alguns zum zuns como o de uma visita feita ao meu avô, homem rijo, temperado por uma guerra e uma vida não isenta de dificuldades, por um antigo companheiro de armas de meu tio, que o teria deixado bastante combalido.
O assunto da morte do tio Fernando, foi sempre uma espécie de tabu nomeadamente para as crianças da família, que era a minha condição na altura. Ouvimos alguns zum zuns como o de uma visita feita ao meu avô, homem rijo, temperado por uma guerra e uma vida não isenta de dificuldades, por um antigo companheiro de armas de meu tio, que o teria deixado bastante combalido.
Depois nunca mais se falou no assunto e o meu tio Fernando passou a ser uma memória visual na sala de estar da casa dos meus avós.
Por entender que os Portugueses, independentemente de quaisquer considerações filosóficas ou políticas, mereciam ter tido um outro tratamento por parte da Nação que defenderam com armas na mão, com todo o tipo de custos que esse facto lhes terá acarretado, bem como a sua história estar ainda por escrever, vi-a respeitada, no sentido estrito e lato da palavra, no seu blogue.
Por entender que os Portugueses, independentemente de quaisquer considerações filosóficas ou políticas, mereciam ter tido um outro tratamento por parte da Nação que defenderam com armas na mão, com todo o tipo de custos que esse facto lhes terá acarretado, bem como a sua história estar ainda por escrever, vi-a respeitada, no sentido estrito e lato da palavra, no seu blogue.
Também porque ainda hoje, enquanto lhe escrevo, tenho sentimentos que pensava o tempo tinha já apagado para sempre, atrevo-me a pedir-lhe o favor de, se lhe for possível, guiar-me ou ajudar-me no sentido de saber como o meu tio deixou a sua ainda curta vida na Guiné.
Com um pedido de desculpas por o importunar, não o conhecendo e agradecendo desde já o seu tempo.
Com um pedido de desculpas por o importunar, não o conhecendo e agradecendo desde já o seu tempo.
Com os melhores cumprimentos,
Rui Fernando Teixeira Dias Moreira.
2. Informação, com data de 31 de janeiro, que nos foi dada pelo nosso camarada Manuel Moreira, a nosso pedido, sobre a emboscada de 14/11/1968 que vitimou o
2. Informação, com data de 31 de janeiro, que nos foi dada pelo nosso camarada Manuel Moreira, a nosso pedido, sobre a emboscada de 14/11/1968 que vitimou o
Assunto: A Emboscada de 14 de Novembro de 1968
Amigo e Camarada Luís:
Amigo e Camarada Luís:
O dia 14 de Novembro de 1968 está na memória de toda a CART 1746 .
Eu tinha chegado no dia 13 à tarde da talvez mais dura Coluna em que a CART 1746 participou e que durou três dias mas fica para contar a qualquer momento.
No dia 14, a coluna prepara-se para sair [do Xime] e o 1º Cabo Mec Pinheiro que foi nela, e que também é de Águeda, pediu-me para ser eu a ir no lugar dele porque temia algum perigo nesse dia. Como eu tinha acabado de chegar de uma outra coluna muito dura e complicada, estaria preparado para outra, ao que eu recusei. Também ia o Furriel Mecânico.
A coluna sai, vou ao "Abrigo dos Mecânicos " fazer a minha cama e, qual o meu espanto, encontro um papel escrito pelo Pinheiro debaixo da minha almofada que dizia: "Moreira, hoje vou morrer na emboscada. Peço-te que, quando fores embora, contes à minha Mãe como aconteceu".
Claro que abanei todo de cima a baixo e disse: "Este gajo é doido !"... Tinha acabado de ler esta mensagem quando rebenta o fogo na mata a seguir à bolanha da saída do Xime entre Taliuara e Ponta Coli.
Um Grupo de Combate acorreu imediatamente do Xime para socorrer e apoiar a coluna e eu segui sozinho num Unimog à procura de feridos. Encontro o Pinheiro com um joelho ferido e carreguei-o para o Xime .
O fogo durou cerca de 15 minutos e, quando acabou, regressaram ao Xime todas as viaturas com todo o pessoal e os feridos, que foram muitos, atingidos nas costas, já no chão, por estilhaços quando uma granada de RPG bateu no taipal de uma viatura e fez ricochete.
Numa das viaturas vinha o Fur Dias , já sem vida. O Fernando Maria Teixeira Dias era o nosso Vaguemestre.
Como faz parte do meu "Diário de Guerra" em verso, junto as quadras alusivas à emboscada e que são:
285
O Novembro de 68
Foi o mês de pior sorte,
A Companhia sofreu,
Em Combate, a única morte
291
Mas 14 de Novembro
É a data mais lembrada,
Morreu-nos o Vaguemestre
Em terrível emboscada.
292
Ia em muitas colunas,
Comprar gado era a missão,
Pois ele era o responsável
Pela nossa alimentação.
293
Fernando Dias, de seu nomem,
Furriel era o seu Posto,
Era muito popular,
Sentimos grande desgosto.
E para que fique registado, envio uma foto tirada em Bissorã num desfile pela Vila onde o Fur Dias, de óculos, eu e o Fur Polho fazemos a linha da frente. Curiosamente o Fur Polho faleceu em Janeiro de 2011.
Envio um Abraço de Solidariedade ao sobrinho Rui Fernando .
Um Abraço, Luis.
Manuel Moreira
3. Resposta ao Rui F. T. Dias Moreira:
Meu caro Rui:
Li com mágoa, compaixão mas também com algum conforto a sua mensagem. Ficamos sempre sem jeito quando um familiar de um camarada nosso nos pergunta: "Diga-me como morreu o meu tio, o meu irmão, o marido, o meu namorado, ou até o meu pai"...
Temos portugueses, 40 anos depois, que não sabem como morreram os seus entes queridos na guerra colonial... O exército limitava-se a mandar um seco telegrama com a triste ocorrência... Isso acontecia com toda a gente, incluindo os oficiais do quadro... Ora o silêncio sobre a morte de alguém (e as suas circunstâncias, ainda para mais na guerra) é sempre opressivo e não nos ajuda a fazer o luto... Por isso, dou-lhe os parabéns também pela sua iniciativa, reveladora de uma grande nobreza de caráter e de uma grande humanidade... O Rui é um exemplo e um conforto para todos nós que, tendo vivido o fantasma da morte e do abandono, tivemos apesar de tudo a sorte de regressar...
Interessei-me naturalmente pelo seu caso e pedi ao meu camarada Manuel Moreira, que é de Águeda e foi da mesma companhia do seu tio, para me dar informação adicional sobre essa terrível emboscada do dia 14 de novembro de 1968... O Manuel Moreira é dos bravos do Xime que faz parte desta comunidade virtual que é o nosso blogue.
Eu ainda não estava na Guiné, só lá cheguei no início de Junho de 1969 mas ainda conheci (de vista) alguns camaradas da CART 1746: foram eles que montaram segurança à estrada Xime-Bambadinca, quando viémos de Bissau, em Lancha de Desembarque Grande (LDG), e abicámos ao Xime, a caminho do leste... O inferno do Xime, como eu próprio viria mais tarde a conhecer (A minha companhia africana, CCAÇ 12, fez lá muitas operações e inclusive fez segurança à nossa estrada, alcatroada, que entretanto foi feita)...
Essa emboscada ficou na memória dos nossos camaradas... Muitos meses depois, em meados de 1969, eu ouvi contar a história e soube da morte do nosso camarada, o furriel vagomestre Fernando Maria Teixeira Dias... Sempre que passávamos à na zona de Taliuará / Ponta Coli, a seguir ao Xime (ou antes do Xime, para quem vem de Bambadinca) (vd. aqui o mapa do Xime), lembrávamo-nos respeitosamente dos camaradas que tinham sido vítimas dessa emboscada...
Melhor do que ninguém, o Manuel Moreira explica-lhe o que se passou, nessa manhã. Ele é o único representante, no nosso blogue, da CART 1746, juntamente com um outro camarada que está nos EUA há 40 anos, o J. Ferraz, mas que chegou ao Xime já depois da morte do seu tio... Também já aqui apareceu o capitão da companhia, cap António Manuel Rodrigues Vaz, como simples leitor, não tenho a certeza de ele nos ter deixado o seu endereço de email... Vou ver melhor com tempo e vagar... (O Gilberto Madail também era desta companhia, mas nunca entrou em contacto connosco: temos no blogue uma ou outra história ou foto com ele).
O Manuel Moreira teve, além disso, a gentileza de nos mandar uma foto com o seu tio.. E mais: alguns versos do seu cancioneiro do Xime...em que ele presta homenagem ao único morto em combate da companhia... Tomo a liberdade de partilhar, com ele, esta mensagem que lhe mando a si, em privado. Gostaria no entanto de pedir ao Rui autorização para publicar no blogue esta nossa troca de mensagens, no caso de não achar inconveniente. O seu exemplo merece ser conhecido da nossa geração e da geração dos nossos filhos, bem como dos portugueses, em geral, que são um povo amnésico.... E queremos também fazer um poste, para a série In Memoriam, de homenagem ao furriel Dias. Podemos, no entanto, omitir a identidade do Rui, por razões éticas, sociais, profissionais ou outras.
Peço-lhe desculpa pela demora na resposta. Hoje tentei telefonar-lhe para a empresa. Disponha sempre. E, inclusive, fica convidado para integrar este espaço de partilha de memórias e de afetos que é o nosso blogue, e a nossa Tabanca Grande (reunimo-nos pelo menos 1 vez por ano, em Monte Real,e já somos mais de meio milhar). Um Alfa Bravo (ABraço).
Luís Graça
4. Resposta, de 1 de fevereiro, do Rui Dias Moreira:
Caro Luis Graça: Começo por lhe agradecer, respeitosamente, o tempo e o esforço que despendeu para satisfazer o meu pedido, agradecimentos que estendo ao seu camarada Manuel Moreira.
Não respondo hoje ao telefonema que teve a amabilidade de me fazer(não estava no escritório, por mera coincidência tinha ido a Amarante por questões profissionais), porque fiquei com os sentimentos ou pouco baralhados e tenho receio de não conseguir articular a conversa que gostaria de ter consigo… escrevendo é mais fácil.
Mas se me autorizar devolvo-lhe posteriormente o telefonema, para um dos números que menciona no seu mail.Quanto á utilização da nossa troca de palavras, fará o Luis aquilo que entender, não tenho qualquer problema seja de que natureza for a que ela se torne pública , antes pelo contrário!
Vou pedir autorização à minha mãe, minhas tias e ao meu tio, para digitalizar algumas fotos do tio Fernando que lhe enviarei. Porque da memória dos vivos, tem também que fazer parte a saudade dos mortos. Com um muito obrigado mais uma vez. Abraço, Rui Dias Moreira
_____________Eu tinha chegado no dia 13 à tarde da talvez mais dura Coluna em que a CART 1746 participou e que durou três dias mas fica para contar a qualquer momento.
No dia 14, a coluna prepara-se para sair [do Xime] e o 1º Cabo Mec Pinheiro que foi nela, e que também é de Águeda, pediu-me para ser eu a ir no lugar dele porque temia algum perigo nesse dia. Como eu tinha acabado de chegar de uma outra coluna muito dura e complicada, estaria preparado para outra, ao que eu recusei. Também ia o Furriel Mecânico.
A coluna sai, vou ao "Abrigo dos Mecânicos " fazer a minha cama e, qual o meu espanto, encontro um papel escrito pelo Pinheiro debaixo da minha almofada que dizia: "Moreira, hoje vou morrer na emboscada. Peço-te que, quando fores embora, contes à minha Mãe como aconteceu".
Claro que abanei todo de cima a baixo e disse: "Este gajo é doido !"... Tinha acabado de ler esta mensagem quando rebenta o fogo na mata a seguir à bolanha da saída do Xime entre Taliuara e Ponta Coli.
Um Grupo de Combate acorreu imediatamente do Xime para socorrer e apoiar a coluna e eu segui sozinho num Unimog à procura de feridos. Encontro o Pinheiro com um joelho ferido e carreguei-o para o Xime .
O fogo durou cerca de 15 minutos e, quando acabou, regressaram ao Xime todas as viaturas com todo o pessoal e os feridos, que foram muitos, atingidos nas costas, já no chão, por estilhaços quando uma granada de RPG bateu no taipal de uma viatura e fez ricochete.
Numa das viaturas vinha o Fur Dias , já sem vida. O Fernando Maria Teixeira Dias era o nosso Vaguemestre.
Como faz parte do meu "Diário de Guerra" em verso, junto as quadras alusivas à emboscada e que são:
285
O Novembro de 68
Foi o mês de pior sorte,
A Companhia sofreu,
Em Combate, a única morte
291
Mas 14 de Novembro
É a data mais lembrada,
Morreu-nos o Vaguemestre
Em terrível emboscada.
292
Ia em muitas colunas,
Comprar gado era a missão,
Pois ele era o responsável
Pela nossa alimentação.
293
Fernando Dias, de seu nomem,
Furriel era o seu Posto,
Era muito popular,
Sentimos grande desgosto.
E para que fique registado, envio uma foto tirada em Bissorã num desfile pela Vila onde o Fur Dias, de óculos, eu e o Fur Polho fazemos a linha da frente. Curiosamente o Fur Polho faleceu em Janeiro de 2011.
Envio um Abraço de Solidariedade ao sobrinho Rui Fernando .
Um Abraço, Luis.
Manuel Moreira
3. Resposta ao Rui F. T. Dias Moreira:
Meu caro Rui:
Li com mágoa, compaixão mas também com algum conforto a sua mensagem. Ficamos sempre sem jeito quando um familiar de um camarada nosso nos pergunta: "Diga-me como morreu o meu tio, o meu irmão, o marido, o meu namorado, ou até o meu pai"...
Temos portugueses, 40 anos depois, que não sabem como morreram os seus entes queridos na guerra colonial... O exército limitava-se a mandar um seco telegrama com a triste ocorrência... Isso acontecia com toda a gente, incluindo os oficiais do quadro... Ora o silêncio sobre a morte de alguém (e as suas circunstâncias, ainda para mais na guerra) é sempre opressivo e não nos ajuda a fazer o luto... Por isso, dou-lhe os parabéns também pela sua iniciativa, reveladora de uma grande nobreza de caráter e de uma grande humanidade... O Rui é um exemplo e um conforto para todos nós que, tendo vivido o fantasma da morte e do abandono, tivemos apesar de tudo a sorte de regressar...
Interessei-me naturalmente pelo seu caso e pedi ao meu camarada Manuel Moreira, que é de Águeda e foi da mesma companhia do seu tio, para me dar informação adicional sobre essa terrível emboscada do dia 14 de novembro de 1968... O Manuel Moreira é dos bravos do Xime que faz parte desta comunidade virtual que é o nosso blogue.
Eu ainda não estava na Guiné, só lá cheguei no início de Junho de 1969 mas ainda conheci (de vista) alguns camaradas da CART 1746: foram eles que montaram segurança à estrada Xime-Bambadinca, quando viémos de Bissau, em Lancha de Desembarque Grande (LDG), e abicámos ao Xime, a caminho do leste... O inferno do Xime, como eu próprio viria mais tarde a conhecer (A minha companhia africana, CCAÇ 12, fez lá muitas operações e inclusive fez segurança à nossa estrada, alcatroada, que entretanto foi feita)...
Essa emboscada ficou na memória dos nossos camaradas... Muitos meses depois, em meados de 1969, eu ouvi contar a história e soube da morte do nosso camarada, o furriel vagomestre Fernando Maria Teixeira Dias... Sempre que passávamos à na zona de Taliuará / Ponta Coli, a seguir ao Xime (ou antes do Xime, para quem vem de Bambadinca) (vd. aqui o mapa do Xime), lembrávamo-nos respeitosamente dos camaradas que tinham sido vítimas dessa emboscada...
Melhor do que ninguém, o Manuel Moreira explica-lhe o que se passou, nessa manhã. Ele é o único representante, no nosso blogue, da CART 1746, juntamente com um outro camarada que está nos EUA há 40 anos, o J. Ferraz, mas que chegou ao Xime já depois da morte do seu tio... Também já aqui apareceu o capitão da companhia, cap António Manuel Rodrigues Vaz, como simples leitor, não tenho a certeza de ele nos ter deixado o seu endereço de email... Vou ver melhor com tempo e vagar... (O Gilberto Madail também era desta companhia, mas nunca entrou em contacto connosco: temos no blogue uma ou outra história ou foto com ele).
O Manuel Moreira teve, além disso, a gentileza de nos mandar uma foto com o seu tio.. E mais: alguns versos do seu cancioneiro do Xime...em que ele presta homenagem ao único morto em combate da companhia... Tomo a liberdade de partilhar, com ele, esta mensagem que lhe mando a si, em privado. Gostaria no entanto de pedir ao Rui autorização para publicar no blogue esta nossa troca de mensagens, no caso de não achar inconveniente. O seu exemplo merece ser conhecido da nossa geração e da geração dos nossos filhos, bem como dos portugueses, em geral, que são um povo amnésico.... E queremos também fazer um poste, para a série In Memoriam, de homenagem ao furriel Dias. Podemos, no entanto, omitir a identidade do Rui, por razões éticas, sociais, profissionais ou outras.
Peço-lhe desculpa pela demora na resposta. Hoje tentei telefonar-lhe para a empresa. Disponha sempre. E, inclusive, fica convidado para integrar este espaço de partilha de memórias e de afetos que é o nosso blogue, e a nossa Tabanca Grande (reunimo-nos pelo menos 1 vez por ano, em Monte Real,e já somos mais de meio milhar). Um Alfa Bravo (ABraço).
Luís Graça
4. Resposta, de 1 de fevereiro, do Rui Dias Moreira:
Caro Luis Graça: Começo por lhe agradecer, respeitosamente, o tempo e o esforço que despendeu para satisfazer o meu pedido, agradecimentos que estendo ao seu camarada Manuel Moreira.
Não respondo hoje ao telefonema que teve a amabilidade de me fazer(não estava no escritório, por mera coincidência tinha ido a Amarante por questões profissionais), porque fiquei com os sentimentos ou pouco baralhados e tenho receio de não conseguir articular a conversa que gostaria de ter consigo… escrevendo é mais fácil.
Mas se me autorizar devolvo-lhe posteriormente o telefonema, para um dos números que menciona no seu mail.Quanto á utilização da nossa troca de palavras, fará o Luis aquilo que entender, não tenho qualquer problema seja de que natureza for a que ela se torne pública , antes pelo contrário!
Vou pedir autorização à minha mãe, minhas tias e ao meu tio, para digitalizar algumas fotos do tio Fernando que lhe enviarei. Porque da memória dos vivos, tem também que fazer parte a saudade dos mortos. Com um muito obrigado mais uma vez. Abraço, Rui Dias Moreira
Nota do editor:
Último poste da série > 29 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9416: In Memoriam (107): Está de luto a CCAV 488 do BCAV 490, pelo falecimento de Augusto Pimenta Henriques Simões (Fur Mil)
Guiné 63/74 - P9441: Parabéns a você (376): José Belo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/72)
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 2 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9430: Parabéns a você (375): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832 (Guiné, 1970/73)
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 2 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9430: Parabéns a você (375): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832 (Guiné, 1970/73)
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
Guiné 63/74 - P9440: Nós da memória (Torcato Mendonça) (8): Segundo dia em Bissau - Fotos falantes IV
Porto de Bissau - Local de protesto
1. Texto do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) para integrar os seus "Nós da memória", ilustrado com fotos falantes da sua IV série.
NÓS DA MEMÓRIA - 8
(…desatemos, aos poucos, alguns…)
4 – BISSAU
O segundo dia de Guiné chegou. Estivera de serviço no primeiro. Agora procurava alojamento em Santa Luzia.
Sentia fortemente o apelo, o chamamento da cidade que no dia anterior atravessara. Mal a vira quando pelas ruas passei. Eram imagens demais, novidades pela diferença, para tanto ter fixado. Sentia o forte desejo de lá voltar e ver como era.
Bissau era de facto logo ali e, pouco depois estava a descer perto do antigo Forte da Amura. Recordo, não sei se mal, que logo em loja ali perto comprei uma máquina fotográfica.
Vícios velhos e, como esquecera a minha em Portugal, escolhi esta nova e boa companheira para muito tempo. Muitas e boas recordações me propiciaram.
Depois corri para o porto. Queria ver aquelas águas, o Pidjiguiti - sabia o que lá se passara anos atrás -, os barcos e aquela paisagem apressada da véspera e, se possível, fixá-la. Para isso tive que atravessar a baixa e demorei-me a ver a arquitectura dos edifícios, as gentes em passagem alegre com os seus vestidos multicolores. As vozes, as conversa ininteligíveis para mim e pensava: eles estão certos e nós, em quinhentos anos, nem a língua cá deixamos. Depois pensava ser erro meu. Era um excesso de facto.
Continuava deambulando ao acaso e surpreendia-me, como na véspera dera para ver, pela grande quantidade de militares… safa parece uma parada de quartel.
O porto visto, e fixado pela máquina, lá segui, calma e gostosamente, avenida acima até ao Palácio do Governador. Sentia os novos cheiros, o calor, as gentes e tudo era novo e diferente. Sentia-me bem. Claro que se devia a ser, por temperamento, eterno curioso pela novidade. Hoje menos e só neste momento reparo em tal.
O tempo passou célere e passado o dia seguinte, também gasto em visitas, veio o quarto e último desta primeira estadia em Bissau. Nesse quarto dia veio a preparação para a partida para o Leste.
Voltamos ao porto, ao rio e a uma enorme LDG onde embarcamos. Engoliu-nos como se nada fosse com ela.
LDG - Transporte de carga diversa até ao Xime
O Geba era um Tejo sem Tágides e larguíssimo. A LDG subia rio acima e as margens iam-se apertando naquela viagem de algumas horas. Os velhos, os que muitas viagens tinham feito, iam dando explicações: passamos o Porto Gole e o Corubal não tarda.
De facto, pouco depois aí estava o Corubal a entrar Geba adentro e a mata densa a estar bem perto.
Não sabia que, tempos depois por ali andaria. Fora uma zona muito visitada por nós e muitas operações ali fizemos.
Pouco depois aí estava o Xime o porto do Leste. Por ali passava a quase totalidade de homens, abastecimentos e armamento.
Porto do Xime e manobra de barcos de calados diferentes
Abicamos num porto rudimentar e estávamos em terra.
O trabalho, o nosso trabalho, ia começar.
Estaríamos preparados? Claro que não e seria impensável estar.
Texto e fotos ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes IV) 2012. Direitos reservados
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 1 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9429: Nós da memória (Torcato Mendonça) (7): Finalmente Bissau - Fotos falantes IV
Guiné 63/74 - P9439: Notas de leitura (329): Francisco Caboz, A Construção e a desconstrução de um Padre, por Horácio Neto Fernandes (Mário Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70):
Queridos amigos,
O livro de Horácio Neto Fernandes é de um sofrimento pungente, uma longa viagem de construção e desconstrução de um sacerdote católico. Os primores literários, diga-se sem qualquer hesitação, situam-se fundamentalmente nas memórias registadas a fogo no menino de 11 anos que, muito mais tarde, cursará Filosofia e Teologia, e que depois rezará missas por casas senhoriais.
O narrador insiste que a desconstrução desse padre está diretamente associada aos seus tempos de capelão militar, esteve no BART 1913, na região Sul e depois em Bambadinca. A prosa aqui afrouxa, o que temos que lamentar, não possuímos de forma integral nenhum relato do género, há um desequilibro na desconstrução do padre. Mas é um documento que tem parágrafos arrepiantes, pode imaginar-se o tormento que foi passar a escrito tais memórias.
Um abraço do
Mário
Do Colégio Seráfico a Capelão Militar do BART 1913
Beja Santos
“Francisco Caboz, A construção e a desconstrução de um Padre”, por Horácio Neto Fernandes (Papiro Editora, 2009), é um relato ímpar pela simplicidade do que documenta, pela coragem em pôr por escrito recordações por vezes pungentes da criança sofrida que o adulto guardou em bom recato. Algures, na Lourinhã [, Ribamar,] num ambiente de pobreza austera, um menino solícito e participativo nas fainas duras do campo e das pescarias do pai, guardou esculpido a cinzel as memórias de um meio rústico, das brincadeiras das crianças e da religiosidade dos actos litúrgicos, dos bodos e da catequese. Terá sido na escola primária, no princípio dos anos 40, que se sentiu impelido a ser padre. Com 11 anos partiu para o Colégio Seráfico, em Braga, partiu com o enxoval mínimo, como ele descreve: “As botas que deviam ser dois pares: umas pretas, para usar com o uniforme da mesma cor e outras para trazer no dia-a-dia ficaram reduzidas a um só par, dado pelo padrinho, sapateiro, que também era pobre. O sobretudo preto para completar o uniforme e fazer face ao rigoroso Inverno minhoto, também foi riscado da extensa lista enviada pelo seminário, por falta de dinheiro". Mais tarde, vai ser fortemente penalizado por estas carências. Não teve outro remédio senão pintar as botas de tinta preta, quando havia saídas em que se usasse o uniforme. A princípio, ainda resultou, mas depois este artifício foi descoberto pelo Perfeito que passava revista aos uniformes, antes da saída do Colégio Seráfico para o passeio semanal, às quintas-feiras. A sentença foi varrer os recreios e o salão.
O padre construiu-se a partir deste colégio que era um pesado e frio edifício de quatro pisos, circundado por densa e verdejante mata. Outra nota: “O portão sul, apenas utilizado pela comunidade para sair para a cidade, dava para um bairro chamado Areal, de gente pobre, vivendo em condições higiénicas miseráveis e que eram os principais clientes da igreja do Colégio. Quando avistavam os frades, as criancinhas descalças e de grandes barrigas ao léu, aproximavam-se para pedir um santinho, pequenas pagelas com imagens de santos”. Tudo compartimentado na organização deste Colégio, e bem hierarquizado. O regulamento era muito severo, cheio de proibições, à menor desobediência o Perfeito disparava duas ou mais bofetadas.
Francisco não esqueceu a composição do pequeno-almoço, do almoço e do jantar, as diversões, os passeios, as orações e a composição dos estudos. É uma descrição por vezes arrepiante, o leitor segue-o pelos lugares, envolve-se nos sacrifícios e nas medidas disciplinares, Francisco é tão evidente que aceitamos que se tenha habituado a cumprir sem pestanejar, sentindo-se sempre devedor dos padres. Cresce e habitua-se a afastar as tentações da carne. Aliás, segundo o director espiritual, as mulheres catalogavam-se da seguinte maneira: as freiras que se tinham consagrado a Deus; as mulheres casadas, sobretudo as mães dos padres, porque tinham dado um filho a Deus; depois as outras mulheres que procriavam; e as solteiras eram sempre um perigo porque causavam maus pensamentos aos homens. No final do 5º ano partiu para o Convento do Varatojo, agora era um rapaz de fato preto e chapéu na cabeça, é aqui que ele vai fazer um ano de noviciado, aqui também há castigos e penitências para as faltas. A nova etapa serão três anos de curso filosófico e depois quatro anos de curso teológico, no Seminário da Luz, em Carnide. De vez em quando, Francisco corre o risco de ser expulso, uma vez enviam uma carta anónima denunciando um tio que vivia amancebado, era o suficiente para a sua expulsão, felizmente que tudo se esclareceu. Temo-lo agora padre, em Agosto de1959, começa a sua missão, reza missas em casas senhoriais, presta serviço religioso nas igrejas, é professor.
A desconstrução de um padre começa nas suas hesitações ou vacilações: está apto a exercer a sua missão de sacerdote? Se o autor carpinteirou admiravelmente o contexto onde nasceu um padre e o modo como ele foi construído, há que confessar que esta desconstrução é descosida, frouxa, perdeu o nervo, é uma narrativa arrancada à força, um testemunho que não agarra o leitor pela gola.
Imprevistamente, é indigitado para capelão militar, frequenta a Academia Militar, aprende a manejar a G3 e ouve o bispo de Madarsuma a explicar a razão do compromisso com a pátria e a razoabilidade da guerra aos terroristas, Portugal estava a defender a civilização cristã contra as agressões externas. É nomeado capelão militar no BART 1913, segue para Catió num DO pilotado pelo lendário sargento Honório. É logo praxado na sala de oficiais, à mesa, no almoço, o major passa-lhe fotografia com mulheres nuas e Francisco pergunta-lhe se eram fotos da mulher dele, valeu o médico do batalhão que conseguiu que o caso ficasse abafado. Temos uma descrição de Catió como uma vila isolada e cercada de florestas e rios com um administrador cabo-verdiano, um administrador adjunto alentejano e uma dúzia de cipaios; havia duas casas comerciais e um comerciante conservava o seu estabelecimento na outra margem do rio, num local chamado Ganjola, onde esteve um destacamento que depois veio a ser abandonado com consequências sérias para Catió. É uma descrição cuidada mas pouco vibrante, sabemos que houve ataques à sede do batalhão mas ele é praticamente omisso quanto ao seu relacionamento com os militares. Há igualmente uma descrição de Cabedu, um aquartelamento mais a sul onde Francisco apanhou um susto quando os guerrilheiros invadiram a pista e entraram na povoação. Pouco também ficamos a saber do seu múnus apostólico fora do quartel, ele é lacónico: “Francisco nunca foi visita assídua nem das populações nem dos comerciantes brancos. Naturalmente reservado, nunca actuou como se fosse o pastor do rebanho com as obrigações inerentes. Tinha o papel de capelão, procurava desempenhá-lo, mas pouco mais do que isso”. As suas homilias eram obrigatoriamente para falar do heroísmo dos nossos soldados e da vida difícil da Guiné. O BART 1913 foi rendido, Francisco foi colocado em Bambadinca, numa zona que ele classifica como a mais cobiçada pelo inimigo. Adoece e entretanto a sua comissão chegou ao fim, regressa em Dezembro de 1969. Com o dinheiro que juntou, vai estudar e ajuda a irmã, que está a tirar o curso de contabilidade.
Já muito hesitante sobre a sua missão sacerdotal, alistou-se no clube Stella Maris, uma organização religiosa que cedia capelões para as companhias marítimas. Descreve o seu trabalho com um pouco mais de vivacidade, é neste tempo que toma a decisão de não voltar ao convento: “Era levado por uma explosão de vida, nunca antes sentida”. E fica-se por aqui, diz ao leitor de uma forma sacudida que havia experimentar uma nova vida: “Sentia dentro de si a primavera da vida a borbotar de uma forma quase imparável”. Escandalizando a família e as senhoras mais devotas da terra, passou a usar o traje civil, depois escreveu ao provincial a comunicar-lhe que ia abandonar o sacerdócio. Concluiu os seus estudos universitários e dedicou-se a muitas actividades no Ministério da Educação. Não sente nostalgia do que deixou para trás.
Há momentos de grande elevação em toda esta carpintaria narrativa. Temos aqui rememorações que mereciam ser revistas, acompanhamos uma formação mediante um esforço quase pungente de tudo dizer, sem azedumes nem ressaibos. Mas há um desequilíbrio na desconstrução do padre que merecia mais afeiçoamento à escrita, ganhava o depoimento e teríamos aqui um relato suficientemente vigoroso para poder constar no que há de melhor no memorialismo e nas confissões de um capelão militar.
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 30 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9418: Notas de leitura (328): La Pointe du Couteau, de Gérard Chaliand (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
O livro de Horácio Neto Fernandes é de um sofrimento pungente, uma longa viagem de construção e desconstrução de um sacerdote católico. Os primores literários, diga-se sem qualquer hesitação, situam-se fundamentalmente nas memórias registadas a fogo no menino de 11 anos que, muito mais tarde, cursará Filosofia e Teologia, e que depois rezará missas por casas senhoriais.
O narrador insiste que a desconstrução desse padre está diretamente associada aos seus tempos de capelão militar, esteve no BART 1913, na região Sul e depois em Bambadinca. A prosa aqui afrouxa, o que temos que lamentar, não possuímos de forma integral nenhum relato do género, há um desequilibro na desconstrução do padre. Mas é um documento que tem parágrafos arrepiantes, pode imaginar-se o tormento que foi passar a escrito tais memórias.
Um abraço do
Mário
Do Colégio Seráfico a Capelão Militar do BART 1913
Beja Santos
“Francisco Caboz, A construção e a desconstrução de um Padre”, por Horácio Neto Fernandes (Papiro Editora, 2009), é um relato ímpar pela simplicidade do que documenta, pela coragem em pôr por escrito recordações por vezes pungentes da criança sofrida que o adulto guardou em bom recato. Algures, na Lourinhã [, Ribamar,] num ambiente de pobreza austera, um menino solícito e participativo nas fainas duras do campo e das pescarias do pai, guardou esculpido a cinzel as memórias de um meio rústico, das brincadeiras das crianças e da religiosidade dos actos litúrgicos, dos bodos e da catequese. Terá sido na escola primária, no princípio dos anos 40, que se sentiu impelido a ser padre. Com 11 anos partiu para o Colégio Seráfico, em Braga, partiu com o enxoval mínimo, como ele descreve: “As botas que deviam ser dois pares: umas pretas, para usar com o uniforme da mesma cor e outras para trazer no dia-a-dia ficaram reduzidas a um só par, dado pelo padrinho, sapateiro, que também era pobre. O sobretudo preto para completar o uniforme e fazer face ao rigoroso Inverno minhoto, também foi riscado da extensa lista enviada pelo seminário, por falta de dinheiro". Mais tarde, vai ser fortemente penalizado por estas carências. Não teve outro remédio senão pintar as botas de tinta preta, quando havia saídas em que se usasse o uniforme. A princípio, ainda resultou, mas depois este artifício foi descoberto pelo Perfeito que passava revista aos uniformes, antes da saída do Colégio Seráfico para o passeio semanal, às quintas-feiras. A sentença foi varrer os recreios e o salão.
Francisco não esqueceu a composição do pequeno-almoço, do almoço e do jantar, as diversões, os passeios, as orações e a composição dos estudos. É uma descrição por vezes arrepiante, o leitor segue-o pelos lugares, envolve-se nos sacrifícios e nas medidas disciplinares, Francisco é tão evidente que aceitamos que se tenha habituado a cumprir sem pestanejar, sentindo-se sempre devedor dos padres. Cresce e habitua-se a afastar as tentações da carne. Aliás, segundo o director espiritual, as mulheres catalogavam-se da seguinte maneira: as freiras que se tinham consagrado a Deus; as mulheres casadas, sobretudo as mães dos padres, porque tinham dado um filho a Deus; depois as outras mulheres que procriavam; e as solteiras eram sempre um perigo porque causavam maus pensamentos aos homens. No final do 5º ano partiu para o Convento do Varatojo, agora era um rapaz de fato preto e chapéu na cabeça, é aqui que ele vai fazer um ano de noviciado, aqui também há castigos e penitências para as faltas. A nova etapa serão três anos de curso filosófico e depois quatro anos de curso teológico, no Seminário da Luz, em Carnide. De vez em quando, Francisco corre o risco de ser expulso, uma vez enviam uma carta anónima denunciando um tio que vivia amancebado, era o suficiente para a sua expulsão, felizmente que tudo se esclareceu. Temo-lo agora padre, em Agosto de1959, começa a sua missão, reza missas em casas senhoriais, presta serviço religioso nas igrejas, é professor.
A desconstrução de um padre começa nas suas hesitações ou vacilações: está apto a exercer a sua missão de sacerdote? Se o autor carpinteirou admiravelmente o contexto onde nasceu um padre e o modo como ele foi construído, há que confessar que esta desconstrução é descosida, frouxa, perdeu o nervo, é uma narrativa arrancada à força, um testemunho que não agarra o leitor pela gola.
Imprevistamente, é indigitado para capelão militar, frequenta a Academia Militar, aprende a manejar a G3 e ouve o bispo de Madarsuma a explicar a razão do compromisso com a pátria e a razoabilidade da guerra aos terroristas, Portugal estava a defender a civilização cristã contra as agressões externas. É nomeado capelão militar no BART 1913, segue para Catió num DO pilotado pelo lendário sargento Honório. É logo praxado na sala de oficiais, à mesa, no almoço, o major passa-lhe fotografia com mulheres nuas e Francisco pergunta-lhe se eram fotos da mulher dele, valeu o médico do batalhão que conseguiu que o caso ficasse abafado. Temos uma descrição de Catió como uma vila isolada e cercada de florestas e rios com um administrador cabo-verdiano, um administrador adjunto alentejano e uma dúzia de cipaios; havia duas casas comerciais e um comerciante conservava o seu estabelecimento na outra margem do rio, num local chamado Ganjola, onde esteve um destacamento que depois veio a ser abandonado com consequências sérias para Catió. É uma descrição cuidada mas pouco vibrante, sabemos que houve ataques à sede do batalhão mas ele é praticamente omisso quanto ao seu relacionamento com os militares. Há igualmente uma descrição de Cabedu, um aquartelamento mais a sul onde Francisco apanhou um susto quando os guerrilheiros invadiram a pista e entraram na povoação. Pouco também ficamos a saber do seu múnus apostólico fora do quartel, ele é lacónico: “Francisco nunca foi visita assídua nem das populações nem dos comerciantes brancos. Naturalmente reservado, nunca actuou como se fosse o pastor do rebanho com as obrigações inerentes. Tinha o papel de capelão, procurava desempenhá-lo, mas pouco mais do que isso”. As suas homilias eram obrigatoriamente para falar do heroísmo dos nossos soldados e da vida difícil da Guiné. O BART 1913 foi rendido, Francisco foi colocado em Bambadinca, numa zona que ele classifica como a mais cobiçada pelo inimigo. Adoece e entretanto a sua comissão chegou ao fim, regressa em Dezembro de 1969. Com o dinheiro que juntou, vai estudar e ajuda a irmã, que está a tirar o curso de contabilidade.
Já muito hesitante sobre a sua missão sacerdotal, alistou-se no clube Stella Maris, uma organização religiosa que cedia capelões para as companhias marítimas. Descreve o seu trabalho com um pouco mais de vivacidade, é neste tempo que toma a decisão de não voltar ao convento: “Era levado por uma explosão de vida, nunca antes sentida”. E fica-se por aqui, diz ao leitor de uma forma sacudida que havia experimentar uma nova vida: “Sentia dentro de si a primavera da vida a borbotar de uma forma quase imparável”. Escandalizando a família e as senhoras mais devotas da terra, passou a usar o traje civil, depois escreveu ao provincial a comunicar-lhe que ia abandonar o sacerdócio. Concluiu os seus estudos universitários e dedicou-se a muitas actividades no Ministério da Educação. Não sente nostalgia do que deixou para trás.
Há momentos de grande elevação em toda esta carpintaria narrativa. Temos aqui rememorações que mereciam ser revistas, acompanhamos uma formação mediante um esforço quase pungente de tudo dizer, sem azedumes nem ressaibos. Mas há um desequilíbrio na desconstrução do padre que merecia mais afeiçoamento à escrita, ganhava o depoimento e teríamos aqui um relato suficientemente vigoroso para poder constar no que há de melhor no memorialismo e nas confissões de um capelão militar.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 30 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9418: Notas de leitura (328): La Pointe du Couteau, de Gérard Chaliand (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 – P9438: Memória dos lugares (173): Ponte Caium e o seu monumento, em ruínas (Pepito / Magalhães Ribeiro)
1. Mensagem e fotos do Engº Agrº Carlos Schwarz, Pepito para os amigos, fundador e director executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento, enviada em 31 de Janeiro de 2012.
Marco histórico
Luís,
Fui de carro a semana passada à Guiné-Conakry dando a volta ao Fouta Djalon e entrando por Boké-Quebo (Aldeia Formosa).
Entre Gabú e Buruntuma dei de caras com este marco, do qual te envio fotos. Possivelmente já os publicaste no Blogue. (*)
abraços
pepito
Texto e Fotos: © Pepito (2011). Todos os direitos reservados.
2. Comentário do M.R.:
Temos mais de duas dezenas de referências à estratégica Ponte Caium, no nosso blogue. Ficava a meio caminho entre Piche e Buruntuma. Ainda hoje está memória e no imaginário de muitos camaradas que por lá passaram e sobretudo que lá estiveram, destacados. Caso, por exemplo, do Jacinto Cristina, do Florimundo Rocha, do Carlos Alexandre, três camaradas que hoje pertencem à nossa Tabanac Grande, e que fizeram parte da equipa que desenhou e construiu o monumento à memória dos bravos do 3º Gr Comb da CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) que guarneceram aquele destacamento e que não voltaram para casa...
No poste P9210 (, da autoria do ex-Fur Mil Ribeiro) e no poste P8061 (, da autoria do ex-Sold Cond Auto Florimundo Rocha) é feita a reconstituição da fatídica emboscada de 14-06-1973, na estrada Ponte Caium-Piche.
A ideia do monumento erigido á memória dos mortos da Ponte Caium terá partido do Carlos Alexandre, o único que tinha conhecimentos de desenho e de moldes por trabalhar na construção naval, em Peniche.
Vd. em especial o poste de 1 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7203: Memória dos lugares (107): A Ponte Caium e o monumento, construído por nós, e dedicado aos nossos mortos: Cardoso, Torrão, Gonçalves, Fernandes, Santos, Silva (Carlos Alexandre, radiotelefonista, natural de Peniche, 3º Gr Comb, CCAÇ 3546, 1972/74)
Guiné > Zona Leste > Piche > Destacamento de Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Foto de 1973. Monumento construído pelo pessoal destacado na ponte, do 3º Gr Comb, e que ainda lá está, como o comprovou em Abril de 2010 o nosso camarada Eduardo Campos, e o como comprovam agora as fotos do Pepito, tiradas em janeiro último.
Foto: © Carlos Alexandre (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Ponte Caium > Abril de 2010 > Dois monumentos de homenagem aos bravos de Caium, constituídos por: (i) Memorial aos mortos da CCAÇ 3546 (1972/74): "Honra e Glória: Fur Mil Cardoso, 1º Cabo Torrão, Sold Gonçalves, Fernandes, Santos, Sold Ap Can [Apontador de Canhão s/r ]Silva. 3º Gr Comb, Fantasmas do Leste. Guiné- 72/74"; (ii) Pequeno oratório com a legenda "Nem só de pão vive o homem. Guiné, 1972-1974". A foto é do Eduardo Campos que por lá passou em Abril de 2010.
Na altura (em novembro de 2010): escrevemos: "É espantoso como, 37 anos depois, o memorial p.d. esteja ainda quase intacto (falta-lhe a cruz que o encimava) e em razoável estado de conservação... Noutros sítios, estes monumentos deixados pelas tropa portuguesa foram vandalizados ou pura e simplesmente destruídos. Hoje, pelo contrário, há uma tentativa para os recuperar. Estamos no nordeste, em pleno chão fula, próximo da fronteira com a Guiné-Conacri, a meio caminho entre Piche e Buruntuma".
Foto: © Eduardo Campos (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
Hoje voltamos a repetir: é espantoso como este monumento funerário tem conseguido resistir à usura do tempo. Obrigado ao nosso amigo Pepito pelas inesperadas fotos da ponte Caium, em tempo seco, e do seu precioso monumento. É um gesto que nos sensibiliza! Oxalá os guineenses saibam preservar este e outros pequenos pedaços da nossa história comum, do nosso património imaterial comum... E nisso o Pepito e a sua ONG AD têm sido incansáveis, dedicados, generosos. (MR).
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Nota de MR:
Vd. último poste desta série em:
No poste P9210 (, da autoria do ex-Fur Mil Ribeiro) e no poste P8061 (, da autoria do ex-Sold Cond Auto Florimundo Rocha) é feita a reconstituição da fatídica emboscada de 14-06-1973, na estrada Ponte Caium-Piche.
A ideia do monumento erigido á memória dos mortos da Ponte Caium terá partido do Carlos Alexandre, o único que tinha conhecimentos de desenho e de moldes por trabalhar na construção naval, em Peniche.
Vd. em especial o poste de 1 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7203: Memória dos lugares (107): A Ponte Caium e o monumento, construído por nós, e dedicado aos nossos mortos: Cardoso, Torrão, Gonçalves, Fernandes, Santos, Silva (Carlos Alexandre, radiotelefonista, natural de Peniche, 3º Gr Comb, CCAÇ 3546, 1972/74)
Guiné > Zona Leste > Piche > Destacamento de Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Foto de 1973. Monumento construído pelo pessoal destacado na ponte, do 3º Gr Comb, e que ainda lá está, como o comprovou em Abril de 2010 o nosso camarada Eduardo Campos, e o como comprovam agora as fotos do Pepito, tiradas em janeiro último.
Foto: © Carlos Alexandre (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Ponte Caium > Abril de 2010 > Dois monumentos de homenagem aos bravos de Caium, constituídos por: (i) Memorial aos mortos da CCAÇ 3546 (1972/74): "Honra e Glória: Fur Mil Cardoso, 1º Cabo Torrão, Sold Gonçalves, Fernandes, Santos, Sold Ap Can [Apontador de Canhão s/r ]Silva. 3º Gr Comb, Fantasmas do Leste. Guiné- 72/74"; (ii) Pequeno oratório com a legenda "Nem só de pão vive o homem. Guiné, 1972-1974". A foto é do Eduardo Campos que por lá passou em Abril de 2010.
Na altura (em novembro de 2010): escrevemos: "É espantoso como, 37 anos depois, o memorial p.d. esteja ainda quase intacto (falta-lhe a cruz que o encimava) e em razoável estado de conservação... Noutros sítios, estes monumentos deixados pelas tropa portuguesa foram vandalizados ou pura e simplesmente destruídos. Hoje, pelo contrário, há uma tentativa para os recuperar. Estamos no nordeste, em pleno chão fula, próximo da fronteira com a Guiné-Conacri, a meio caminho entre Piche e Buruntuma".
Foto: © Eduardo Campos (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
Hoje voltamos a repetir: é espantoso como este monumento funerário tem conseguido resistir à usura do tempo. Obrigado ao nosso amigo Pepito pelas inesperadas fotos da ponte Caium, em tempo seco, e do seu precioso monumento. É um gesto que nos sensibiliza! Oxalá os guineenses saibam preservar este e outros pequenos pedaços da nossa história comum, do nosso património imaterial comum... E nisso o Pepito e a sua ONG AD têm sido incansáveis, dedicados, generosos. (MR).
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Nota de MR:
Vd. último poste desta série em:
26 DE JANEIRO DE 2012 > Guiné 63/74 – P9403: Memória dos lugares (172): Bissau: que diferença de 1964: 1965 e 1966 (João Sacôto)
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