Para os/as amigos/as, camaradas e camarigos/as da Guiné…
Com humor,
amor,
amizade,
camaradagem,
cumplicidade...
em mais um Dia Mundial da Poesia,
criado pela XXX Conferência Geral da UNESCO
em 16 de Novembro de 1999,
com o propósito de promover
a leitura, escrita, a publicação e ensino da poesia através do mundo.
Também Dia Mundial da Água.
Escrevam poesia,
leiam poesia,
soltem o vosso poeta envergonhado,ou até encarcerado!
Ah!, não é preciso dizer-vos para poupar a água! (... Nós, camaradas da Guiné, sabemos dar valor a ela!)
LG
Tuteio ou tratamento por tu
por Luís Graça
Fiquei com pena da fräulein Tina Kramer,
antropóloga,
hoje nossa tabanqueira,
a quem, chegada da austera e luterana Germânia,
lhe impuseram o tratamento por tu,
como se fora uma praxe de gangue:
depois desta receção da Tabanca Grande,
ela deve ter ficado confusa,
quiçá perturbada
e até intimidada,
ao pensar que os camaradas da Guiné
são todos uma cambada de velhos malucos
a quem saltou a caixa dos pirolitos...
"Portugueses, pocos, pero locos"
(diria ela se fosse uma altiva castelhana,
daquelas que vinham casar com príncípes portugueses,
na mira de acertar em cheio no jocker)...
Eu próprio detestava a palavra fräulein,
nunca tratei nenhuma colega ou amiga alemã por fräulein...
Posso a estar a ser injusto,
mas tem, para mim, uma conotação pejorativa,
prussiana,
militarista...
Como teria se eu tratasse por menina Tina Kramer,
como nos bons velhos tempos do Portugal dos nossos pais e avós
Ao menos, tratemo-la, não por miss,
(cheira-me a babydoll)
mas por bajuda,
que é mais doce, mais crioulo, mais tropical…
Zé Belo, lusolapão,
tuga da diáspora
na terra onde o cidadão trata o cidadão por tu,
não foi preciso fazermos uma revolução
à moda dos sovietes de Petrogrado,
nem do Grande Irmão Urso sueco,
nem dos Camaradas (salvo seja!) do PAIGC,
do MPLA
ou da FRELIMO...
(Lembram-se das milhares de anedotas
que se contavam do camarada, salvo seja!, Machel
e da sua mania de reeducar e recuperar o diabo branco colonialista
com o trabalho manual na machamba?!)...
Com o 25 de Abril,
a distância social e afetiva,
a começar na família, entre pais e filhos,
foi encurtada,
e o tratamento por tu impôs-se sem ser por decreto...
Com tanta naturalidade (ou só aparente ?)
que a gente nem sequer se questiona hoje
sobre o como e o porquê...
(Alguns questionam-se, e têm toda a liberdade para o fazer).
Em contrapartida, foi retomado
(ou nem sequer foi interrompido)
o tratamento, tradicional,
aparentemente mais distante e formal,
de você,
de pais para filhos,
de esposa para esposo,
em certas famílias,
em certos meios sociais
(que eu não vou adjectivar,
porque não gosto de adjetivar os outros,
e faço um esforço por respeitar todas as diferenças).
O tecido social é isso mesmo,
é um pano, de linho, de algodão, de serapilheira ou de seda,
que se puxa conforme o frio, as pernas e as mãos,
as chagas, as misérias e as grandezas…
Os nossos filhos, pelo menos os meus, tratam-nos por tu,
mas eu trato os meus pais à moda antiga...
Há algum mal nisso ?
São apenas mudanças de paradigma
na convivialidade sociofamiliar,
diria o sociólogo de serviço, que já não há,
descartado pela mãe de todas as crises...
Eu, o Hélder, o Nelson,
fomos capazes de tratar os nossos velhos,
o Luís Henriques,
o Ângelo Ferreira de Sousa,
o Armando Lopes,
veteranos da II Guerra Mundial,
expedicionários em Cabo Verde,
com a ternura da expressão
“Meu pai, meu velho, meu camarada”…
Liberdades ou libertinagens bloguísticas,
dirão os críticos…
Daqui a uns anos
(espero bem que não, cruzes canhoto!...)
voltaremos a tratar-nos
com distância e reverência,
quiçá por Vossa Senhoria.
meu fidalgo, meu amo,
como no tempo da(s) outra(s) senhora(s)…
Eu sei que o tratamento por tu,
republicano,
económico,
frugal, com duas letrinhas apenas,
o tratamento à romana na Tabanca Grande,
nem sempre é fácil nem natural,
para mais num país,
ainda muito estratificado,
em que se continua a usar e a abusar dos títulos,
nomeadamente no Estado, nas empresas e demais organizações
onde o trabalho é pouco e a distância grande,
tão grande como a rede clientelar:
senhor presidente, senhor doutor, senhor engenheiro...
Nunca foi nem o é ainda hoje:
tive a prova disso, há uns anos,
numa das memoráveis quartas feiras
do almoço semanal da Tabanca Pequena,
quando cumprimentei um a um a meia centena de convivas
da Tabanca de Matosinhos...
Boa parte, já meus velhos amigos...
mas ainda havia gente que se retraía,
invocando a educação que tiveram,
o desconhecimento do outro,
«a falta de intimidade e de convívio,
a distância física
(sempre são 300 km entre Lisboa,
a capital do reino,
onde o Paço tem Terreiro,
e o Porto, a capital do trabalho,
onde o povo tem o São João e o alho porro)...
Quando impus (passe o termo...)
o tratamento por tu no blogue,
entre camaradas da Guiné,
quis deliberadamente fazer o curto circuito
entre as distâncias militares, hierárquicas, do passado
e as eventuais distâncias sociais e profissionais, do presente...
Hoje considero uma honra poder ser tratado por tu
por um camarada da Guiné,
independentemente do antigo posto,
da idade,
da naturalidade,
da nacionalidade
e da atual posição na sociedade portuguesa...
E vice versa:
considero um privilégio poder tratar por tu
um homem ou uma mulher
que aceitam os valores e as regras do jogo do nosso blogue...
Há sobretudo uma cumplicidade (saudável) entre nós,
que não seria possível se
aqui, no blogue
e nos convívios da Tabanca Grande,
e das demais tabancas que entretanto foram crescendo
como cogumelos em floresta de carvalhos e de castanheiros,
se a gente continuasse a tratar-se como na tropa,
na escola,
no parlamento:
Dá-me licença, vossa senhoria, meu capitão ?
Como vai, senhor Doutor ?
Vossa Excelência, senhor engenheiro,
permite-me que eu discorde da sua douta opinião ?
O meu furriel é que sabe,
mas o vague-mestre é que dormia com a mulher… do Baldé
quando o Baldé ia para a Ponte do Rio Udunduma...
E, você, nosso instruendo, sua besta quadrada,
não sabe que a Pátria é hermafrodita,
é pai e mãe ?
Mais do que isso, é Pátria, é Mátria, é Frátia|
Para que o tu continue a escrever-se com duas letrinhas apenas,
o tu de tuga,
portuga,
camarada,
amigo,
irmão,
cidadão…
fomos capazes de tratar os nossos velhos,
o Luís Henriques,
o Ângelo Ferreira de Sousa,
o Armando Lopes,
veteranos da II Guerra Mundial,
expedicionários em Cabo Verde,
com a ternura da expressão
“Meu pai, meu velho, meu camarada”…
Liberdades ou libertinagens bloguísticas,
dirão os críticos…
Daqui a uns anos
(espero bem que não, cruzes canhoto!...)
voltaremos a tratar-nos
com distância e reverência,
quiçá por Vossa Senhoria.
meu fidalgo, meu amo,
como no tempo da(s) outra(s) senhora(s)…
Eu sei que o tratamento por tu,
republicano,
económico,
frugal, com duas letrinhas apenas,
o tratamento à romana na Tabanca Grande,
nem sempre é fácil nem natural,
para mais num país,
ainda muito estratificado,
em que se continua a usar e a abusar dos títulos,
nomeadamente no Estado, nas empresas e demais organizações
onde o trabalho é pouco e a distância grande,
tão grande como a rede clientelar:
senhor presidente, senhor doutor, senhor engenheiro...
Nunca foi nem o é ainda hoje:
tive a prova disso, há uns anos,
numa das memoráveis quartas feiras
do almoço semanal da Tabanca Pequena,
quando cumprimentei um a um a meia centena de convivas
da Tabanca de Matosinhos...
Boa parte, já meus velhos amigos...
mas ainda havia gente que se retraía,
invocando a educação que tiveram,
o desconhecimento do outro,
«a falta de intimidade e de convívio,
a distância física
(sempre são 300 km entre Lisboa,
a capital do reino,
onde o Paço tem Terreiro,
e o Porto, a capital do trabalho,
onde o povo tem o São João e o alho porro)...
Quando impus (passe o termo...)
o tratamento por tu no blogue,
entre camaradas da Guiné,
quis deliberadamente fazer o curto circuito
entre as distâncias militares, hierárquicas, do passado
e as eventuais distâncias sociais e profissionais, do presente...
Hoje considero uma honra poder ser tratado por tu
por um camarada da Guiné,
independentemente do antigo posto,
da idade,
da naturalidade,
da nacionalidade
e da atual posição na sociedade portuguesa...
E vice versa:
considero um privilégio poder tratar por tu
um homem ou uma mulher
que aceitam os valores e as regras do jogo do nosso blogue...
Há sobretudo uma cumplicidade (saudável) entre nós,
que não seria possível se
aqui, no blogue
e nos convívios da Tabanca Grande,
e das demais tabancas que entretanto foram crescendo
como cogumelos em floresta de carvalhos e de castanheiros,
se a gente continuasse a tratar-se como na tropa,
na escola,
no parlamento:
Dá-me licença, vossa senhoria, meu capitão ?
Como vai, senhor Doutor ?
Vossa Excelência, senhor engenheiro,
permite-me que eu discorde da sua douta opinião ?
O meu furriel é que sabe,
mas o vague-mestre é que dormia com a mulher… do Baldé
quando o Baldé ia para a Ponte do Rio Udunduma...
E, você, nosso instruendo, sua besta quadrada,
não sabe que a Pátria é hermafrodita,
é pai e mãe ?
Mais do que isso, é Pátria, é Mátria, é Frátia|
Para que o tu continue a escrever-se com duas letrinhas apenas,
o tu de tuga,
portuga,
camarada,
amigo,
irmão,
cidadão…
O tu do abraço, do alfa bravo, do quebra-costelas,
o tu de Tango Uniform,
e não se torne o tu
de intumescência,
da tumefacção,
da turbulência…
nestes dias de Charlie Romeo India Sierra Echo,
da CRISE que continua dentro de momentos...
Luís Graça
___________
Nota do editor:
Último poste da série > 19 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9627: Blogpoesia (183): Homenagem ao Homem, no Dia do Pai (Felismina Costa)
e não se torne o tu
de intumescência,
da tumefacção,
da turbulência…
nestes dias de Charlie Romeo India Sierra Echo,
da CRISE que continua dentro de momentos...
Luís Graça
___________
Nota do editor:
Último poste da série > 19 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9627: Blogpoesia (183): Homenagem ao Homem, no Dia do Pai (Felismina Costa)