segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P11017: Agenda cultural (252): Apresentação do livro "Guineidade & Africanidade: Estudos, Crónicas, Ensaios e Outros Textos", dia 3 de Fevereiro de 21013, em Lisboa

C O N V I T E

Apresentação da obra de Leopoldo Amado "GUINEIDADE & AFRICANIDADE: Estudos, Crónicas, Ensaios e Outros Textos", dia 3 de Fevereiro de 2013, pelas 16 horas no Hotel Real Palácio, junto ao Marquês.


Sinopse:
Contrastando com a vistosa luta de libertação dirigida por Amílcar Cabral com o percurso sinuoso do país no período pós-independência, a Guiné-Bissau tem conhecido e registado múltiplos fenómenos que a caracterizam, cumulativamente, entre outros qualificativos depreciativos, como um país pobre, um “non State”, um país instável, um país inviável, um narco-estado, um país falhado e, amiúde, como um país demasiadamente problemático.

Ressaltam nítidas, destas contrastantes asserções, efectivamente dialécticas mas não necessariamente contraditórias, duas acepções que interpelam viva e persistentemente a Guiné-Bissau e aos guineenses, para além da própria comunidade internacional. De um lado, o passado histórico guineense e as modalidades de sua projecção na contemporaneidade histórica do país e, por outro, a resultante da forma como esta contemporaneidade histórica se articula com a emergência de uma nova entidade sociológica que é hoje a Guiné-Bissau, para o bem e para o mal, com todos os seus problemas e expectativas, certamente peculiares e diferenciados dentre as várias entidades e actores em presença, mas também com todas as suas contradições e clivagens, nomeada e inclusivamente as dinâmicas que comportam uma incidência secular, dentre as quais avultam as étnicas.

Neste sentido, “Guineidade & Africanidade: Estudos Crónicas, Ensaios e Outros Textos” é, para o autor, uma contribuição desinteressada mas direccionada, que resulta de uma compilação, em livro, de vários escritos reflexivos da sua lavra, seleccionados pelo próprio, e que visam, antes de mais, proporcionar aos guineenses e aos amigos da Guiné-Bissau, em jeito de contribuição, um exercício de cidadania susceptível de ocasionar um maior conhecimento e uma maior compreensão dos meandros históricos imbricados e complexos em que perigosamente se agigantaram e se agigantam as equações do problema na Guiné-Bissau, sem dúvida, segundo o autor, o passo sensato e o primeiro na procura de soluções minimamente duradouras.

Notas do editor:
O nosso tertuliano Dr. Leopoldo Amado sentir-se-ia honrado com a presença da tertúlia da grande Lisboa neste evento cultural.

Ver notícia no facebook em: https://www.facebook.com/events/130568393776409/
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 24 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10998: Agenda cultural (251): Últimos dias da exposição no Padrão dos Descobrimentos, Álbum de Memórias: Índia Portuguesa 1954.1962: A não perder!!! Encerra a 27, domingo... Já foi visitada por mais de 46 mil pessoas (EGEAC)

Guiné 63/74 - P11016: Notas de leitura (453): "A Mulher Portuguesa na Guerra", coordenação do Cor Alberto Reis Soares e "A Pátria ou a Vida" por Gertrudes da Silva (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Outubro de 2012:

Queridos amigos,

Creio que a generalidade dos textos incorporados no livro “A mulher portuguesa na guerra” terão sido publicados na revista da Liga dos Combatentes.

Os depoimentos das enfermeiras paraquedistas são muito interessantes, Maria Zulmira André conta como foi buscar um ferido e um oficial paraquedista, responsável pela missão, a informar que não podia de modo algum deixá-lo morrer. Soube mais tarde que se tratava do capitão Peralta, oficial cubano.

“A Pátria ou a Vida”, de Gertrudes da Silva, é um livro emocionante, porque justo, varonil no recorte das figuras que vão dar respiração a tudo quanto se segue, todos convergem para o RI 15, dali abalam para a Guiné.

É reconfortante encontrar tão bons nacos de prosa de que ninguém fala, até apetece tocar o sino e perguntar aos editores porque ignoram documentos de altíssima qualidade.

Um abraço do
Mário


"A mulher portuguesa na guerra"; "A Pátria ou a Vida"

Beja Santos

“A mulher portuguesa na guerra e nas Forças Armadas”, coordenação do coronel Alberto Reis Soares e edição da Liga dos Combatentes, 2008, reúne textos de mulheres que viveram a guerra, acompanhado familiares ou como enfermeiras paraquedistas, as primeiras profissionais na frente de combate. No que toca à Guiné, este livro acolhe textos de um ex-combatente da CCAÇ 1418, José Jesus Cristóvão, e textos das enfermeiras paraquedistas Ivone Reis, Maria Arminda Lopes Pereira dos Santos e Maria Zulmira André.

Escreve José Jesus Cristóvão: “Partindo de Nova Lamego, íamos fazer uma operação a Madina do Boé. Deslocaram-se duas companhias, em viatura até ao Cheche, localidade junto do rio Corubal. A companhia que seguia à frente pisou uma mina e o militar que ia ao lado do condutor apanhou com a explosão em todo o seu lado direito. Já era noite, não foi possível a evacuação por helicóptero, tivemos que recolher num abrigo subterrâneo até ser dia para poder ser evacuado. Muito cedo, logo que foi possível ao heli, ele lá estava para evacuar o nosso camarada. O heli a poisar e já a maca corria (era levada) por dois camaradas nossos. Do heli salta uma enfermeira paraquedista agarrada à mala dos primeiros-socorros. Quando chegou junto do nosso camarada ferido, com a sua ternura feminina dá-lhe um beijo, ou mais do que um, acaricia-o, conforta-o e acompanha-o para dentro do heli… lá fomos atravessando o rio Corubal na precária jangada, em direção a Madina do Boé, tive este pensamento: que tamanha força pode fazer uma mulher na guerra! Ela não deu um beijo só ao meu camarada ferido… também deu um beijo a cada um de nós, que avançávamos!”.

A enfermeira Arminda tem um longo depoimento, intitulado “A minha vivência na Guiné”. Deixa-se o registo de algumas das suas memórias: “Eu tinha sido destacada para uma base de operações em alerta para evacuação urgente de feridos, desenrolava-se na zona de Cantanhêz uma grande operação militar. Numa evacuação o ferido mais grave era um turra, como se chamava na época. Vendo que o sol incidia sobre a sua cabeça, apressei-me a colocar-lhe a minha boina para o proteger, mas os outros feridos africanos indignaram-se porque era bandido. Porém, para nós, enfermeiras paraquedistas, era apenas mais um ferido a necessitar de todo o meu saber e empenhamento”. Descreve outra situação: “O avião foi puxado para junto dos bidões de areia e do arame farpado que protegia a área do quartel, onde o piloto e eu nos refugiámos. Os soldados à nossa volta deitados no chão com armas prontas a fazer fogo, montaram uma frente de proteção. O quartel foi posto às escuras e continuámos à espera dos feridos que nunca mais chegavam. Senti medo, pedi aos soldados que nos defendessem, porque, apesar de ter tido instrução de fogo, a nossa principal arma era a bolsa de primeiros-socorros. Fomos informados que um jipe com feridos estava a chegar. E agora que fazer, com feridos mas sem ordens para voar de noite? O ferido mais grave era um soldado com uma mão esfacelada e em estado de choque. Percebi de imediato que aquele jovem ia morrer se ali ficasse mais tempo, quanto mais se tivéssemos que esperar pelo amanhecer. O piloto e eu falámos sobre o assunto, ambos assumimos que íamos sair dali. Depois colocado a maca do ferido grave, os outros quatro feridos ligeiros foram distribuídos da melhor forma para me permitir um pequeno espaço de manobra. Com auxílio de uma lanterna de bolso, canalizei uma veia e pus o sangue a correr. O piloto deu instruções ao capitão para que o quartel se mantivesse às escuras, as autometralhadoras de proteção foram colocadas na pista no sentido da descolagem para que se acendessem e iluminassem quando o avião começasse a rolar. Dada a máxima força ao motor, o piloto iniciou a saída a acendeu-se um farol que existia no quartel (…) O piloto fez sair o avião numa linha de subida contínua e quando o ruído do motor mudou de som endireitou-o, evitando a copa das altas árvores. No ar, a caminho da nossa base, o fogo inimigo ainda tentou alcançar-nos, tarde de mais. Felizmente o ferido manteve-se vivo e o sangue posto a correr ia estabilizando a sua situação. Tanto o piloto como eu pensávamos que íamos ser castigados, mas tudo acabou em bem. Quanto ao ferido, ajudámos a salvar-lhe a vida”.


“A Pátria ou a Vida”, por Gertrudes da Silva, Palimage Editores, 2005, é uma grande, muito grande surpresa. É dedicada à CCAÇ 2785, que combateu na Guiné entre Setembro de 1970 e Setembro de 1972. É uma escrita escorreita, plausível, apresenta um grupo ilustrativo de atores, dá-lhes dimensão, o leitor navega facilmente pelo seu mundo.

Primeiro, João Benvinda, o mais velho de um ranchinho de 6 irmãos, já foi pastor de cabras e ovelhas, guardador de vacas e bezerros, cavador, mondador e mateiro: “E assim que os irmãos foram chegando à frente, fez-se jornaleiro de enxada, seitoira ou de gadanha nas mãos”. Foi de assalto para França, não resistiu ao chamamento da família, tinha de cumprir os seus deveres com a Pátria. O seu nome é mesmo João da Silva Rodrigues, depois deram-lhe um número mecanográfico. Apresentou-se na incorporação para a recruta no quartel de Viseu. Os seus melhores tempos eram os que passava no pinhal, a correr, a saltar e a rastejar. Seguiu para a cidade do Nabão. O cabo miliciano da sua secção é um gajo implicativo, o aspirante parece ser mais humano e o capitão também não parece ser mau sujeito. Gosta muito da Amélia, meteram-se em cavalarias altas, a rapariga está grávida, o melhor é acelerar as coisas para que ela não passasse pelas normais vergonhas destas irregulares situações.

Segundo, o 1º sargento Cebola, na sua criação passou por tudo, desde pastor a lavrador. Amparado por um tio que era irmão da mãe e guarda-republicano em Bragança, lá conseguiu tirar a 4ª classe nas escolas regimentais e depois a escola de cabos. Pensa com os seus botões que não vai propriamente em funções de combatente. Olha à sua volta e vê os cabos milicianos que são miúdos ainda mal acabados, os aspirantes até sabem-se dar ao respeito e o nosso capitão é outra coisa, mas envolve-se demasiado em tudo.

Terceiro, temos o gingão José Carlos Ribeiro Antunes, felizmente teve um pai com pulso, senão nem o 5º ano teria concluído, transpôs a porta de armas do RI 5, que era o centro de formação de sargentos milicianos, agora está na unidade mobilizadora que é o RI 15. Ofereceu-se para os Comandos e para os Rangers, em ambos os casos foi rejeitado por causa daquela maldita cicatriz que lhe apanhava toda a largura da coxa direita, sinal da parvoíce da queda numa brincadeira tola com uma motorizada.

Quarto, o aspirante Costa, nado e crescido até aos primeiros três anos em Ferreira do Alentejo, vila onde o seu pai teria sido colocado no final do curso de alistados da GNR. Recebeu rigorosa educação que lá em casa se distribuía com muita sopa e batatas cozidas, e pouco pão e menos carne. Andou pelo seminário, descobriu depois que gostava doidamente da Maria do Rosário, chegaram mesmo a um quase vias de facto. Foi depois para Coimbra cursar Direito, viu-se embrulhado no turbilhão da crise de 1969, após sumariamente interrogado e fichado pela PIDE/DGS, foi convocado para o curso de oficiais milicianos. À socapa, aderiu ao PCP. Adaptou-se a Mafra, juntou-se à insubordinação coletiva em reação à morte de dois camaradas num acidente com engenhos explosivos, na praia da Foz do Lizandro.

Dá gosto ler esta prosa sem arrebiques nem embaraços, a prova provada que a ficção não pode ser a realidade voltada do avesso. Segue-se a apresentação do nosso capitão.

(Continua)
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 25 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11001: Notas de leitura (452): Fernando Baginha e o assassinato de Amílcar Cabral (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11015: Blogpoesia (320): Por mor da nossa saúde (Luís Graça)

[Foto à esquerda: crâneo de rioneceronte (ou hipopótamo ?), possivelmente trazido   por algum africanista das penumbras do passado.... Quinta de Candoz, 29 de dezembro de 2012. Foto de L.G.]


Por mor da nossa saúde 
Luís Graça

Por mor da saúde de todos nós.
Por mor da boa governação da coisa pública.
Por mor da abastança.
Por mor do nosso futuro.
Por mor da nossa memória futura.
Por mor de D. Quixote e seu criado Sancho Pança.
Por mor de Guerra Junqueiro
que escreveu o "Fim da Pátria".
Por mor dos vindouros e dos perdedores.
Por mor dos historiadores
que escreverão a história
em nome dos vencedores.
Por mor dos que vierem depois
de eu fechar a porta.
Por mor dos guardiões da Torre do Tombo.
Por mor de quem de direito.
Por mor dos pagantes e dos não-pagantes.
Por mor dos atores e dos espetadores.
Por mor dos marginais-secantes.

E dos rinocerontes africanos extintos.
Por mor do mercado 

e da bolsa de Lisboa
e da casa forte do Banco de Portugal.
Por mor do meu querido Portugal S.A.
que não quer dizer Portugal Sociedade Anal.
Por mor dos loucos e dos menos loucos.
Por mor dos poetas
que têm um pouco de loucos, de médicos e de gestores.
E dos gestores
que têm um pouco de loucos, de poetas e de médicos.
Mas também dos médicos
que têm um pouco de loucos,
de poetas e de gestores.
Por mor dos economistas, 
que são piores que os loucos, são treslouscos,
e que gostariam de governar o mundo
Este mundo, não o outro.
Sem esquecer os políticos
que gostariam de mandar nos economistas,
nos gestores, nos médicos e nos doentes.
Por mor daqueles dos políticos
que falam em nome do povo.
E daqueles que gostariam de mandar no povo.
Por mor do povo de esquerda, de centro e de direita.
(Abaixo a unicidade nacional!).
Por mor dos da lista de espera
que desesperam de esperar.
Por mor dos que vão morrer esta noite
nos Hospitais SA
e nos Hospitais SPA
e amanhã nos Hospitais EPE.
Por mor do Hospital Real de Todos os Santos,
a primeira parceria público-privada.
Por mor dos que foram hoje
ao serviço de atendimento permanente
do meu centro de saúde
e que deram com a porta na cara.
Por mor dos cirurgiões que afiam a faca
à espera dos da lista de espera.
Por mor dos doentes agudos.
E dos doentes crónicos.
E dos hipocondríacos.
E dos doentes da saúde.
E dos utentes da indústria da doença.
Por mor da saúde doente e das doenças saudáveis.
Por mor dos doentes terminais.
Por mor da saúde empresarializada.

Liofilizada.
Museologisada.
Por mor de todas as vítimas por todas as causas, 

dos terramotos, 
dos tsunamis,
da fome, 

da peste 
da guerra
e do bispo da nossa terra
(de que Deus nos livre!).
Por mor dos simples, 
dos utentes, 
dos pacientes, 
dos clientes,
dos beneficiários, 
dos misericordiosos,
dos velhos presos por arames,
e das crianças.
Sobretudo das crianças, meu Deus!
E todos os de mais.

Por mor das bem aventuranças.
Por mor das catorze obras de misericórida,
sete espirituais 
e sete corporais.
Por mor dos meus (con)cidadãos, 

os remediados e os ricos.
Por mor dos pobres, 
dos tristes,
dos descrentes, 
dos desempregados,dos cativos,
dos insepultos,
dos sós, 
dos deprimidos,
dos esquecidos
e dos desconsolados,
dos mais pobres dos pobres,
os da minha rua, 

os do meu bairro, 
os da minha cidade, 
os do meu país.
Sem esquecer os apátridas
e os que perderam a identidade.

E a dignidade.
Por mor dos meus camaradas 
que ficaram nas bolanhas da Guiné.
Por mor daqueles de quem um dia se disse
que eram os bem-aventurados
porque deles seriam o reino dos céus, amén.
Por mor do meu fornecedor da revista Cais
no semáforo da esquina 

da rua da alegria com a avenida da liberdade.
Por mor da minha ex-médica de família
que contava os dias
que lhe faltavam para a reforma.
Por mor do médico do gabinete ao lado
que se enganou na profissão que queria ter
e que está a atender os senhores da propaganda médica.
Por mor do boticário do meu bairro.
Por mor do meu barbeiro-sangrador.
Por mor de mim e de ti, meu amor.
Por mor do meu psicanalista, 
da minha psicoterapeuta,
do meu confessor 
e do meu curandeiro.
Por mor do meu hermeneuta.
Por mor do meu médico do trabalho
e do meu técnico de higiene e segurança do trabalho.
Por mor do ergonomista que está a desenhar
o meu sistema técnico e organizacional de trabalho.
Por mor dos habitantes da minha casa inteligente do futuro.
Por mor da minha cartomante preferida.
Por mor de ti, feiticeira.
Por mor dos mais distraídos.
Dos votantes.
Das debutantes.
Dos amantes.
Por mor do meu patrão
para que Deus lhe conserve a saúde e a riqueza.
E lhe aumente o empreendedorismo
e a capacidade de inovação e de exportação.

E que lhe baixe o colesterol que está alto.
Por mor dos meus dinossauros de estimação.
Por mor dos médicos da noite.
Dos médicos na noite.
Da noite de todos os pesadelos.
Por mor dos mercadores de sonho
que trazem com eles a peste onírica e bubónica.
Por mor do meu rico seguro contra todos os riscos.
Por mor do Estado,
que se quer menos Estado e melhor Estado. 

Ou até mínimo, de preferência.
(Quem disse abaixo o Estado, que levante o braço!).
Por mor dos que sofrem de insónias.
Por mor dos contínuos, porteiros e seguranças 

do Estado da flatulência.
Mais os cobradores de impostos.
E os pagadores de promessas.
E os guarda-costas dos figurões.
Por mor do Estadão.

Por mor do estado a que isto chegou.
Por mor da nossa jovem e frágil democracia.
Por mor dos gestores e administradores dos serviços de saúde.
Por mor dos que passam as noites e os dias a pensar
na reforma do serviço nacional de saúde.
Por mor dos reformadores de sistemas.
De todos os reformadores.
E das vítimas das reformas.
Dos reformados e aposentados.
Dos humilhados e ofendidos.
Das viúvas e dos órfãos.
Por mor da nossa frágil saúde.
E dos vírus que hão-de vir.
E do mal gálico.
E do mal italiano.
E do mal espanhol.
E do mal americano.
E do mal chinês.
E do mal português.
E do Ribeiro Sanches
que curava os males de amor
aos príncipes da Rússia.
Por mor do amor em carne viva.
Por mor da Rússia Imperial.
Por mor das doenças (re)emergentes
que nos querem matar.
Por mor das galinhas
e da gripe dos comedores de galinhas.
Por mor do vírus da gripe das aves do céu.
Por mor dos codificadores
de grupos de diagnósticos homogéneos de doença.
Por mor dos marcadores biológicos do Homo Sapiens Sapiens.
E sobretudo dos grandes arquitectos do genoma humano.
Por mor do meu antepassado troglodita
que era recolector-caçador
e que quando almoçava nunca sabia
onde (e o que) iria jantar.
Por mor do meu professor de economia
que me lembra que não há almoços grátis.
Nem entradas grátis
no céu, no purgatório ou no inferno.

Nem no palácio de Belém.
Cá se fazem, cá se pagam.
Por mor dos atuais e futuros ministros da saúde.
Por mor dos ministros do futuro.
Por mor da utopia do futuro sem ministros.
E até dos ministros sem futuro.
Por mor dos servidores do povo,
para que nunca esqueçam que ministro
vem do latim minus, pequeno,

e quer dizer servidor.
Para que os deuses iluminem os nossos governantes
e os pescadores que andam perdidos no mar alto.
E os pecadores dos sete pecados mortais.
Por mor dos nossos governantes e dos seus governados.
Para que o canto e o voo dos pássaros lhes sejam favoráveis.
E as vísceras lhes tragam bons augúrios.

Por mor do Zé Portuga.
Do Zé Manel.
Do Zé, simplesmente. 

E do Pedro. 
E do António.
E para que, eu, Blogador, me confesse
e nunca perca de vista
o essencial.
Por mor da minha terra, Portugal.

Por minha pátria, a minha utopia.
Por mor do meu planeta azul.
Por mor de todos nós, os do campo e os da cidade
Por mor..., 
como se diz em terras de Entre Douro e Minho.
Por mor de nós, que te amamos, 

ó meu Portugalzinho,
e dos que hão-de vir atrás de nós. 
Por mor do meu ponto de cambança
para a eternidade.
Por mor da parca herança 
que lhes deixamos.

Luis Graça (2005). Revisto em 27/1/2013


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Nota do editor

Último poste da série > 24 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - 10997: Blogpoesia (319): Sou nada (Ernesto Duarte)

domingo, 27 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P11014: Efemérides (119): 23 de Janeiro de 1963 - O fim do princípio ou o Princípio do fim - 50 anos depois (José Martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 24 de Janeiro de 2013:

Boa noite
A guerra nem começou em 1963, nem terminou em 1974.
Para mim, começou em 1446, com a primeira morte - a de Nuno Tristão - e ainda não terminou, porque nós ainda estamos vivos. Mesmo assim, em 1976 tombaram os últimos combatentes da Guiné com a morte "anunciada" já há algum tempo.
Anexo segue, muito resumidamente, um texto que tenta "lembrar" o que se passou ao longo dos séculos.
Entre 1963 e 1974, todos nós escrevemos sobre esse tempo.
Abraços
Zé Martins


23 de Janeiro de 1963 
O Fim do Princípio ou o Princípio do Fim 
50 anos depois

Na senda dos descobrimentos, as caravelas portuguesas foram tocando a “costa africana” deixando sinais da sua passagem, estabelecendo contactos com os povos do litoral, uma vez que eram descobridores e não conquistadores.

A Guiné, a actual Guiné-Bissau, foi “tocada” pelos portugueses no ano de 1446, quando a expedição comandada por Álvaro Fernandes chegou à enseada de Varela, a norte; João Infante, filho de Nuno Tristão, terá descoberto o Rio Grande, presumindo que se trate do Rio Geba; e, mais tarde, Nuno Tristão terá chegado ao Rio Nuno, hoje na Guiné Conacri, tendo encontrado a morte num combate com os nativos. É assim o primeiro português a tombar naquela terra, pelo menos conhecido.

© Imagem: Wikipédia

A primeira obra literária sobre as terras da Guiné, que à época se entendia como uma extensão maior do que a actual, é o manuscrito da Crónica do Descobrimento e Conquista da Guiné, de Gomes Eanes de Zurara, presumivelmente do ano de 1453.

Foi no ano de 1456 que Diogo Gomes e Cadamosto, comandando uma pequena frota de três caravelas, chegam à região do Cacheu, passando o rio S. Domingos. Rumando mais a sul, ao estuário do rio Geba, subiram o rio e, tendo atingido uma povoação de mandingas, os portugueses estabeleceram uma feitoria. É nessa região que obtêm a malagueta.

A importância da costa da Guiné tambem é reconhecida pelo papa Calisto III (pontificado de 1455 a 1458) que, em 13 de Março de 1456, publica a Bula Inter Caetara, confirmando a concessão à Ordem de Cristo de todos os poderes espirituais sobre as “ilhas, vilas, portos, terras e lugares adquiridos e a adquirir desde o Cabo Bojador e Cabo Não, decorrendo por toda a Guiné e por toda a plaga meridional até os Indos”. Em 26 de Dezembro de 1457 é feita a doação à Ordem de Cristo, pelo Infante D. Henrique, “da vintena dos direitos de escravos, ouro, pescarias, etc.”, resgatados na terra da Guiné, desde o Cabo Não.

Diogo Gomes e António da Noli, navegadores da Casa do Infante, quando regressam de uma viagem à Guiné, descobrem, em 4 de Maio de 1460, o arquipélago de Cabo Verde, terra que virá a ter forte influência sobre a Guiné que, de colónia, passou a colónia de colónia.

Dois anos depois, no ano de 1462, foi iniciado o povoamento da Ilha de Santiago, em Cabo Verde, com escravos negros provenientes da costa da Guiné, além de cativos mouros de Marrocos, e quatro anos volvidos, em 1466, é firmada a doação régia do “trato das partes da Guiné” aos habitantes da de Santiago, arquipélago de Cabo Verde, reservando apenas para a coroa o “trato de Arguim” e entrega das alçadas civil e criminal ao infante D. Fernando.

Caravela portuguesa Foto: © Carlos Vinhal

É no ano de 1469 (de acordo com João de Barros, in Ásia, Decada I) que foi firmado o contrato entre D. Afonso V e Fernão Gomes, sobre o comércio da Guiné: “Como El-Rei pelos negócios do Reino andava ocupado (…) arrendou (o negócio da Guiné) pelo tempo de cinco anos a Fernão Gomes, um cidadão honrado de Lisboa, por duzentos mil réis cada ano, com a condição de que em cada um desses anos fosse obrigado a descobrir pela costa adiante cem léguas(…)”. Findo o tempo do contrato, é emitida uma carta régia prorrogando, por mais um ano, o arrendamento do comércio da Guiné concedido a Fernão Gomes.

É fundada, em 1479, uma feitoria na zona de Cacheu e, em 1494, Bartolomeu Dias é nomeado recebedor do Armazém da Guiné, até 1497, que antes havia sido escudeiro real e Capitão de uma armada que foi à costa meridional de África.

A partir de 1526 começa o “assédio” à colónia da Guiné. Inicia-se com a frequência de navios ingleses na costa da Guiné e, em 1530, a tentativa dos ingleses se estabelecerem na região, que não obteve êxito, enquanto os franceses se instalam no Senegal e na costa da Mina.

Cabo Verde é elevada a diocese, incluindo a Guiné, em 1534 e, em 1526, André Feio é nomeado como primeiro corregedor de Cabo Verde e Guiné, e em 1552 é nomeado Manuel de Andrade como ouvidor-geral e capitão-mor de Cabo Verde, que, administrativamente, incluía o território da Guiné.

No ano de 1588 foi fundada na foz do rio Cacheu uma pequena povoação, que fortificaram, a que denominaram de Cacheu e, em 1641 o capitão-mor de Cacheu, Gonçalo Gamboa Aiala, decidiu fundar a povoação de Farim, no rio da mesmo nome, utilizando para o efeito gente de Geba de origem portuguesa. Da mesma forma procedeu ao fundar a povoação de Zinguichor. Em 1656 foi fundada a Companhia de Cacheu e Rios da Guiné, ratificada pelo governo português, no dia 9 de Junho desse ano.

A construção da Fortaleza de Bissau é iniciada em 1687 e a capitania reporta ao ano de 1692, mas só em 1696 é que é nomeado o primeiro capitão-mor da fortaleza. Por volta do ano de 1700 há uma tentativa francesa de ocupar algumas áreas de Bissau. Em 1708 a capitania é extinta e o forte arrasado, mas reconstruída em 1735.

Entretanto, em 1698, após ter havido uma tentativa dos mandingas de se apoderarem da feitoria de Farim, esta passou a dispor de uma pequena força militar.

Apesar de ter sido descoberta por volta do ano de 1460, só 1 de Abril de 1753 foi afirmada a soberania portuguesa sobre a ilha de Bolama. O então governador da praça de Bissau, coronel Francisco de Sotto Maior, efectuou o acto de posse, colocando na ilha um padrão com as armas portuguesas. Desde o século XV, Bolama era visitada por mercadores portugueses, mas não houve ocupação efectiva, nem mesmo após esse acto de posse.

No ano de 1766 é iniciada a construção da fortaleza de S. José de Bissau.

Em 25 de Maio de 1792, desembarca na ilha de Bolama uma expedição de três navios, com duzentos e setenta e cinco ingleses, chefiados por Filipe Beaver. Tentaram apossar-se da ilha, mas deram-se mal com o clima e também com os indígenas. Esta aventura mal sucedida terminaria, no ano seguinte com a retirada dos sobreviventes desta expedição, em 3 de Novembro de 1793.

Na assinatura de um tratado luso-britânico em 19 de Fevereiro de 1812, que se proíbe o tráfico negreiro na Guiné, Portugal acede vender à Inglaterra, dentro de um prazo de 50 anos, as povoações de Bissau e de Cacheu, caso a Inglaterra conseguisse que a Espanha devolvesse a praça de Olivença a Portugal.

Olivença – Castelo e Torre de Menagem © Imagem: Wikipédia

No ano de 1834, a Inglaterra decide considerar válida a posse de Bolama, ensaiada em 1792, reivindicou, junto do Governo português, o direito à soberania sobre aquele território. De imediato, Portugal repudiou tal pretensão. A questão arrastar-se-ia por alguns anos em que, além da polémica diplomática, se registaram alguns incidentes na Guiné, causados pela marinha inglesa. Foi nesse mesmo ano, que o regime liberal resolve alterar a designação de Colónias para Províncias Ultramarinas. Estes territórios ainda não tinham as suas fronteiras definidas, pois estas variavam com a sorte das armas.

A 31 de Dezembro de 1843, a guarnição militar da Guiné, contava com 7 oficiais e 149 soldados, dispersos por nove feitorias: Bissau, Bolama, Bolor, Cacheu, Ganjara, Geba, Fá, Farim e Zinchingor.

Nova revolta, no ano de 1846, em Farim por parte de naturais das etnias dos grumetes e manjacos, que foi dominada, pelos portugueses, sob o comando do governador Honório Pereira Barreto, natural de Cacheu e de raça negra, que desempenhou vários cargos antes de ascender a governador, com talento e dignidade, procurando desenvolver a instrução, a saúde e a agricultura. Nascido em 24 de Abril de 1813, viria a falecer a 26 de Abril de 1859.

Estátua de Honório Pereira Barreto. © http://coisasdaguine.blogspot.pt/2011/06/204honorio-pereira-barreto-e-porque-e.html

No ano de 1860, a Inglaterra proclamou a incorporação da ilha de Bolama na sua colónia da Serra Leoa, o que levou à tentativa imediata do Governador britânico da Serra Leoa de consumar a posse daquela território. O assunto só conheceria desenvolvimento em 1868, com a Inglaterra a aceitar uma arbitragem americana – tal como lhe era proposto por Portugal – e foi o Presidente dos Estados Unidos da América, Ulysses Grant, aceite pelas partes em litígio quem serviu de árbitro. A sentença, proferida em 21 de Abril de 1870, foi favorável a Portugal.

A região dos papeis e manjacos do Cacheu e do Churo, entre os rios Cacheu e Mansoa, sublevava-se de tempos a tempos. Os naturais do Cacheu assassinaram o governador, em 1871, facto que motivou o envio de uma força que os castigou severamente no recontro de Cacanda. Contudo, a intranquilidade continuou por mais algumas décadas.

Por Carta Régia de 18 de Março de 1879, a Guiné deixou de estar dependente do Governador de Cabo Verde. Como província autónoma, directamente dependentes de Lisboa, teve nos primeiros tempos uma existência administrativa muito apoiada na estrutura militar.

A Guiné conheceu sobressaltos guerreiros, sobretudo desde 1880, o que continuaria a acontecer, ininterruptamente, em ritmo quase anual, até à eclosão da Grande Guerra. O decisivo pacificador da Guiné Portuguesa foi o major Teixeira Pinto.


Ao longo dos mais de quatrocentos anos da Guiné, este território não tinha as fronteiras definidas, o que só veio a acontecer a 17 de Maio de 1886, negociado e assinado pelo ministro regenerador José Vicente Barbosa du Bocage.

Foi a partir de 1886, o ano a seguir ao fim da Conferência de Berlim, que alterou o direito de descoberta para o direito de ocupação dos territórios coloniais, que na Guiné, os vários governadores do território com a colaboração dos militares destacados e pertencentes ao Quadro do Exército Colonial, assim como com o auxilio de diversas canhoneiras e das suas guarnições, assim como a utilização de auxiliares, desenvolveram esforços no sentido de ocupar e apaziguar as populações. Convém notar que em 19 de Setembro de 1896, a guarnição militar da Guiné contava com 8 oficiais e 190 soldados, das tropas regulares, nas feitorias de Bolola, Buba, Cacheu, Cacine, Contabane, Geba, Farim, Sambel-Nhanta e S. Belchior.

Estas operações, que se iriam prolongar até ao inicio da Grande Guerra de 1914 – 1918, que iriam custar muitas vidas e gastos ao erário público, que originou a que, no dia 12 de Fevereiro de 1900 - José Bento Ferreira de Almeida (1847-1902), oficial de marinha e político português, antigo ministro da Marinha e Ultramar, discursa na Câmara de Deputados, em que defende a venda das colónias, à excepção de Angola e São Tomé e Príncipe, para com cujo produto se poder pagar a dívida externa e fomentar o desenvolvimento do país.

Companhia Expedicionária de Infantaria 13 © Foto: José Henriques de Mello (Bissau 1908)

Porém nem sempre as forças disponíveis na Guiné eram suficientes, pelo que em 19 de Março de 1908, desembarca na ponte cais de Bissau, uma força expedicionária da metrópole constituída por uma companhia do Regimento de Infantaria nº 13 (Vila Real), um Grupo de Artilharia e uma força de Engenharia.

A gestão dos assuntos ultramarinos estavam dependentes do então ministério da Marinha e Ultramar, mas a preocupação com as terras de além mar e dos seus recursos, levaram a que fosse constituído, em 23 de Agosto de 1911, o Ministério das Colónias, que se passou a ocupar dos assuntos respeitantes ao ultramar, incluindo os militares.

Terminada a Grande Guerra, foi criada em 10 de Janeiro de 1920 a Sociedade das Nações ou Liga das Nações, organização idealizada e concretizada pelos países aliados e vencedores do conflito mundial, em 28 de Junho de 1919. É assinado o Tratado de Versalles, por 44 estados, cuja primeira reunião teve lugar a 16 de Janeiro de 1920. Esta organização tinha, como principal função, evitar que novos conflitos com a gravidade do que terminava, acontecesse de novo.

Foi durante o ano de 1920 que foram criados, em Portugal, os Altos-comissários para as colónias africanas, para descentralização de poderes.

A 6 de Novembro de 1928 é publicado o Código do Trabalho, pelo Decreto-Lei nº 16.119, que se aplicaria aos indígenas nas colónias portuguesas de África.

Ao contrário das principais potências coloniais, o governo português decide não ratificar a Convenção número vinte e nove da OIT - Organização Internacional do Trabalho de 10 de Junho de 1930, relativa a questões de trabalho forçado ou “a contrato”, sobretudo no caso das “populações indígenas” dos territórios coloniais. A Convenção entraria em vigor em 1 de Maio de 1932.

Enquanto decorriam os trabalhos da OIT, é dado inicio, em 8 de Maio de 1930 na Sociedade de Geografia, ao II Congresso Colonial Nacional, tendo por objectivo a divulgação da “ideologia imperial”, o reforço da “capacidade civilizadora” de Portugal enquanto potência colonial, a discussão e, sobretudo, a consolidação do apoio ao projecto de Acto Colonial, proposto por Salazar, e que foi aprovado pelo Decreto nº 18.570 de 8 de Julho de 1930 (I Série).

Há uma nova reorganização do Exército, criando cinco regiões militares e dois comandos independentes na metrópole, pelas Leis n.º 1960 e 1961, de 1 de Setembro de 1937. O Decreto Lei número 28.401, de 31 de Dezembro de 1927, diploma que define, basicamente, a organização do exército até 1959, previa a possibilidade do envio de forças expedicionárias, para reforçar a composição das forças militares em operações nas colónias.

Foi no ano de 1941 que Bissau foi confirmada como capital da província da Guiné. Ali se tinha formado uma povoação comercial, provavelmente por volta de 1456, passando a feitoria em 1692. Foi, em 1859, elevada à categoria de vila e passou a cidade em 1914.

Casa dos Estudantes do Império - © www.dw.de/casa-dos-estudantes-do-imperio

Por iniciativa do governo de Salazar é fundada, no mês de Dezembro de 1943, em Lisboa, a Casa dos Estudantes do Império, destinada a ser utilizada pelo Estado Novo, quer como estrutura de enquadramento político-ideológico dos jovens vindos das colónias portuguesas para estudar na Universidade de Lisboa, quer como símbolo da “superioridade moral” e da “função civilizadora” da “presença portuguesa” em África, na Ásia e na Oceânia.

A 24 de Outubro de 1945 é criada a ONU – Organização das Nações Unidas, que assumirá as atribuições da Sociedade das Nações, aumentando o número de estados aderentes. Terá a sua primeira Assembleia Geral em 10 de Janeiro de 1946, em Londres, e em 1 de Fevereiro de 1946 o socialista norueguês Trygne Lie é eleito secretário-geral. A Sociedade das Nações é dissolvida em 18 de Abril de 1946.

O governo de Salazar apresenta em Nova Iorque o pedido de adesão de Portugal à Organização das Nações Unidas em 3 de Agosto de 1946. Esta solicitação é vetada pela União Soviética com o argumento de que o país continuava a ser um regime fascista e colonialista.

Com a publicação de Decreto-lei n.º 37.542 de 2 de Setembro de 1949, processa-se a passagem para a dependência do Ministério da Guerra (Ministério do Exército a partir de 1950) dos serviços militares do ultramar, incluindo as tropas nele constituídas ou eventualmente destacadas como reforço.

No mês de Dezembro de 1949, o governo português subscreve junto da ONU, organização internacional da qual estava excluído, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, que tinha sido aprovada em Paris a 10 de Dezembro de 1948.

Alteração constitucional datada de 11 de Junho de 1951, com o desaparecimento da autonomia formal do Acto Colonial e a sua integração na Constituição Portuguesa de 1933. A revogação do Acto Colonial de 8 de Julho de 1930, no quadro da revisão constitucional, que passa a integrá-lo no seu texto, altera a designação “colónias” para “províncias ultramarinas”, em ordem a reforçar o carácter integrador da política colonial, e a 15 de Junho de 1951, o Ministério das Colónias passa a designar-se Ministério do Ultramar. Em Dezembro desse mesmo ano, aquando da revisão da Constituição, foi revogado o Acto Colonial de 1930, passando a integrar o texto constitucional.

Pelo Decreto 2066, datado de 27 de Maio de 1953, é promulgada a Lei Orgânica do Ultramar Português. Em 27 de Junho de 1953, de acordo com o diploma citado, o Estado Novo extingue o “Império Colonial Português”, composto pela metrópole e pelas colónias, e cria as “Províncias Ultramarinas.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

A aprovação do Estatuto dos Indígenas Portugueses das Províncias da Guiné, Angola e Moçambique, em 20 de Maio de 1954, divide as populações em três grupos: indígenas, assimilados e brancos. Este documento seria publicado em Agosto.

O PAIGC – Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, foi fundado por Amílcar Cabral em 18 de Setembro de 1959. Nos anos seguintes outros partidos ou movimentos seriam fundados: em 1958, UPG – União Popular da Guiné; em 1959, UDC – União Democrática Cabo Verdiana e MLGCV – Movimento de Libertação da Guiné e Ilhas de Cabo Verde; em 1961, MLG – Movimento de Libertação da Guiné; em 1962, UNGP – União doa Naturais da Guiné Portuguesa. Em 1962, a maioria destes partidos fundiram-se, dando origem FLING – Frente de Libertação para a Independência da Guiné.

Em 3 de Agosto de 1959, uma greve dos descarregadores indígenas do porto abala Bissau. Coordenada pela União dos Trabalhadores da Guiné, organização clandestina de natureza político-sindical, termina com a morte de cerca de cinquenta grevistas e com mais de cem feridos, ficando conhecida como o massacre de Pidjiguiti. Outra versão é de que o que aconteceu foi uma reivindicação laboral dos estivadores da Casa Gouveia e não como diz a propaganda do PAIGC. [Mário Dias, residente e militar na Guiné (Correio da Manhã / Revista, 20 de Janeiro de 2013 e post do blogue Iª série Guiné 63/74 - DXXXV: Pidjiguiti, 3 de Agosto de 1959: eu estive lá (Mário Dias) de 15 Fevereiro 2006].

Guiné > Bissau > 1959 > Alguns dos 1ºs Cabos Milicianos do 1º Curso de Sargentos Milicianos, realizado na província portuguesa da Guiné, em que participaram juntos, pela primeira vez, europeus e guineenses.
De cócoras, a partir da esquerda: Domingos Ramos; um outro cujo nome não me lembro mas que também foi para a guerrilha; Laurentino Pedro Gomes. De pé: não me recordo o nome mas também foi para a guerrilha; Garcia, filho do administrador Garcia, muito conhecido e estimado em Bissau; mais um de cujo nome não me recordo; eu, [Mário Dias]; e mais outro guerrilheiro. Como se pode concluir, o recrutamento de 1959 do CIC [Centro de Instrução de Civilizados] , foi um autêntico alfobre [de quadros] para o PAIGC. 
Foto e legenda: © Mário Dias (2006). Direitos reservados.

(Continua)
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 25 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11003: Efemérides (118): Data da Operação Irã (José Martins)

Guiné 63/74 - P11013: Memória dos lugares (208): Buruntuma, memorial da CART 1742 (1968/69) (Eduardo Campos)

Buruntuma, 2010 > Memorial da CART 1742 (1968/69) 
Foto: © Eduardo Campos (2013). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso Eduardo Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, com data de 24 de Janeiro de 2013:

Caro Luís:
Acabei de ver e ler, o lP10992 da CART 1742, que esteve em Buruntuma, onde aparece uma foto com o marco da passagem da companhia por Buruntuma.

Tirei uma foto em 2010 onde é visível ainda algumas legendas no referido marco.
Como o malta da Cart 1742 deverá gostar de saber que algo que eles deixaram há cerca de 45 anos ainda está bem "vivo", aqui vai ela, que farás naturalmente o que muito bem entenderes.

Um abraço
Eduardo Campos
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 26 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11006: Memória dos lugares (207): Ponte Malã Dalassi, ou melhor Ponte Caium, e outras imagens do leste, Piche e Buruntuma (Alberto Nascimento, ex-sold cond auto, CCAÇ 84, 1961/63)

Guiné 63/74 - P11012: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (24): 25.º episódio: Memórias avulsas (6): Cabeça cá tem juízo

1. O nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), em mensagem do dia 21 de Janeiro de 2013, enviou-nos mais esta história para publicar na sua série "Os melhores 40 meses da minha vida".


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

GUINÉ 65/67 - MEMÓRIAS AVULSAS (6)

CABEÇA CÁ TEM JUÍZO

23 de Julho de 1966 e o campeonato mundial de futebol a disputar-se lá para as englandes.

Pára tudo, que é dia de Portugal jogar.

Chegámos a estar a perder por 3 a Ó mas depois lá demos a volta à coisa e acabámos por ganhar a uns tipos que antes tinham dado tareia, na guerra, aos américas e só por isso se atreveram a pensar que faziam o mesmo cá c'os Eusébios... Torres... Zés Augustos... Hilários e outros muita bons.

Uma das duas grandes penalidades convertidas por Eusébio, que marcou 4 golos nesta vitória de Portugal sobre a Coreia do Norte por 5 a 3. O quinto golo foi marcado pelo saudoso, bom gigante, Torres. (Legenda de CV)
Foto: Com a devida vénia a citizengrave.blospot.com

Já uns CIAosos, que tinham vindo recentemente a Bissau, sabiam de tal impossibilidade e só cá estiveram com o intuito de aprender e perceber, como é que, sendo nós aqui, pr'ái uns 20 mil, conseguíamos estar a vencer, quando eles lá nos Vietnames e com um milhão de profissionais bem armados, estavam em quase completo colapso.

Depois dum lauto almoço comemorativo duma boa notícia recebida há pouco e para quem não saiba elucido desde já que todos os almoços sempre foram e serão para mim, de comemoração, só que estes ainda mais saborosos me pareceram e ai nanas... que a dieta Kapatrêziana do feijão com dobrada, era já passado... e dizia eu... fui assistir ouvindo o relato talqualmente.

Enquanto isso ia emborcando uns whyskais digestivos, tantos quantos os golos da partida, conforme a mim mesmo prometera e promessas para mim, ou se cumprem ou não se fazem, nem mesmo que com isso prejudiquemos a saúde.

Por culpa dessa futebolada aconteceu a loucura total.

Conto-vos, pois então: Acabada a partida começaram a ver-se garrafas pelo ar e até aí tudo normal, só que depois caíram no chão e... sabe-se lá do porquê.

Resultado: aquela Praça do Império, ficou uma verdadeira fábrica de vidro estilhaçado e disperso pelo chão.

"Monumento ao Esforço da Raça. Praça do Império"... Bilhete postal, nº 109, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa")

E então... era uma vez... uma cidade a entrar no pandemónio... vieram os pára-quedistas cuja luta exclusiva era a de fazerem de Polícia Militar (nessa altura, porque mais tarde foram também combatentes)... a balbúrdia piorou já que ninguém os "amava" dada a sua estapafúrdica e autoritária poses... aparecem os fuzos a tentar pôr mais desordem na ordem... e assim SIM, finalmente dá-se o caos.

Foi o bom e o bonito, também colaborei assim como todos os do Exército que por ali estavam em merecido descanso, e festejámos agora aliados à Marinha, descascando no inimigo comum, (os páras) que tão mal nos maltratavam com a prepotência costumada. Para mim escolhi os mais altos, aplicando-lhes o conceito aprendido no Judo que diz, que quanto maiores são, maior é a queda.

Gozei à brava, creiam, com tanta castanha que distribuí e com algumas que recebi não nego, mas "djubi", quem vai à guerra dá e leva.

Assanhada esteve a peleja durante horas, quando alguém, merdosamente decidiu interromper e deu ordens aos seus homens para que regressassem de imediato a Brá, o que fizeram bastante sovados e estropiados, uns sem cassetetes e outros sem os capacetes e pobres de nós que como de costume fomos os prejudicados, quando assim nos retiraram aquele pequeno prazer porradal que estávamos usufruindo caceteando de borla.

E eu? ...pois acabei a noite no Hospital Militar onde graças à minha nunca desmentida valentia, levei seis pontos na tola e de tal forma que ainda hoje lá está o sinal e nesse sítio nunca mais nasceu cabelo.

(continua)
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 20 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10970: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (23): 24.º episódio: Memórias avulsas (5): "Salazar é qui na manda"

Guiné 63/74 - P11011: Efemérides (119): Diário de George Freire, ex-comandante da 4ª CCAÇ (Bedanda, 1962/63): o início da guerra no sul do CTIG (jan / mar 1963)...Recordando topónimos que nos são familiares: Cabedu, Caboxanque, Cacine, Cadique, Cafal, Cafine, Catió, Chugué, Jemberém, Mejo, Salancaur...



Guiné > Região de Quínara (parte sul) e Região de Tombali > Sítios referidos por George Freire no seu dário (1/3 a 23/3/1963), e onde a sua 4ª CCAÇ, colocada em Bedanda, ou outras unidades do exército (como a CCAÇ 273, por ex.) , estiveram em ação, logo no início da guerra...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)

1. Ainda a propósito dos 50 anos do início da guerra no TO da Guiné - a 23 de janeiro de 1963, segundo os nossos historiógrafos (mas também os da Guiné-Bissau) - achamos oportuno reproduzir, aqui, mais uma vez, o diário do cap inf Jorge Freire (,hoje cidadão americano, George Freire), que comandou a 4ª CCAÇ, e que esteve, já em cenário de guerra, em Bedanda, desde novembro de 1962 até ao fim da sua rendição individual em maio de 1963 (*)...

É impressionante como um só companhia podia, na época, operar em quase todo o sul da Guiné, compreendendo parte da região de Quínara  e a região de Tombali, o celeiro da Guiné... Todos estes topónimos são-nos familiares, para muitos de nós: Bedanda, Cabedu, Caboxanque, Cacine, Cadique, Cafal, Cafine, Catió, Chugué, Jemberem, Mejo, Salancaur... Ainda não se falava de Guileje nem de Gadamael...Repare-se que há tabancas que vão ser logo de imediato abandonadas (caso de Iemberém, cuja população fula é transferida pelo exército pata Bedanda), Da leitura do diário depreende-se que houve um rápido alinhamento da população local, com os fulas a mostarem-se leais às autoridades portuguesas e os balantas (e outros: beafadas, nalus...) a ficarem do lado do PAIGC... Houve seguramente terror e contraterror nestas ações de ambos os lados. Mas repare-se que os prisioneiros feitos pela 4ª CCAÇ são entregues ao batalhão (o George Freire não o identifica,  claramente, não sei se era o BCAÇ 236 ou o BCAÇ 356). Por outro lado, um dos alvos da ação da guerrilha são as casas comerciais, a Ultramarina, a Gouveia... A produção de arroz vai decrescer drasticamente nos anos seguintes. A importação de arroz mais do que triplica de 1962 (c. 9 mil toneladas) para 1964 (c. 30 mil toneladas). A Guiné nunca mais será a mais a mesma, depois do ataque de Tite, em 23 de janeiro de 1963. (LG)



O meu Diário da Guiné, por George Freire (EUA)

Como história, transcrevo partes de um diário que encontrei no meio de papelada antiga numa gaveta da minha secretária. A primeira entrada no diário foi no dia 31 de Janeiro de 1963 e a última, no dia 28 de Maio do mesmo ano.

31/1/63:

Ataque de terroristas aos Fulas de Jemberém. Mataram o chefe da tabanca e outros 6 Fulas.

2/2/63:

Acção em Boche Falace pelas minhas forças de Jemberém. Um grupo de terroristas balantas em fuga deixou grande quantidade de arroz cozido (!).

6/2/63:

O nosso destacamento em Salancaur foi atacado às 00:30. Tivemos baixas: um furriel e um soldado foram mortos do nosso lado e vários terroristas foram abatidos. Nesta mesma noite, também atacaram o nosso destacamento em Cacine, mas felizmente não houve baixas a assinalar.

8/2/63:

Fui a Bissau tratar de vários assuntos da Companhia [4ª CCaç].

9/2/63:

Volta de Bissau. Manga de trabalho em atraso devido as acções dos últimos dias. Recebemos informação de que vários terroristas passaram ao largo, vindos de Catió para a zona de Cacine. As instalações da Ultramarina foram assaltadas e o encarregado europeu foi morto.

10/2/63:

Lista de material extraviado em combate: 1 capacete em Chugué, 1 espingarda Mauser e1 pistola-metralhadora em Jemberém.

Esta madrugada as instalações da Gouveia em Salancaur foram atacadas. Os terroristas levaram cerca de 10 toneladas de arroz e outros géneros de comida.

11/2/63:

Efectuámos acções em Jemberém, Salancaur e Cadique. Vários elementos terroristas que tinham tomado parte no assalto aos Fulas de Jemberém foram aprisionados e enviados para a sede do Batalhão.

12/2/63:

Um alfaiate mandinga, Mamude Djassi, que tinha sido aprisionado em Chacual pelos terroristas e que passou vários dias num dos seus acampamentos, conseguiu fugir e apresentou-se ao nosso destacamento do Chugué. Foi transportado para o nosso quartel em Bedanda. Enviei um rádio para o Batalhão para que este Mandinga possa ser aproveitado como guia na acção que está a ser preparada pelo Batalhão.

13/2/63:

Enviei um pelotão para Salancaur para proteger o embarque de arroz da Ultramarina e da Gouveia.

14/2/63:

Patrulhamento feito em Jemberém e Cadique. Nesta última povoação tivemos contacto com terroristas Balantas que puseram alguma resistência mas acabaram por fugir. Três foram abatidos.

15/2/63:

O nosso quartel em Bedanda foi visitado por 3 directores da CUF, procurando informações do que se está a passar na região. Nessa mesma altura, terroristas rebentaram um pontão na estrada de Catió junto de Timbo. Houve também grande tiroteio em Chugué e algumas explosões na estrada próxima da área. Os 3 directores ficaram bem informados do que se está a passar...

16/2/63:

Chegou o Pelotão de acompanhamento da Companhia 273. Uma patrulha das nossas forças do Chugué foi atacada por um grupo armado de pistolas-metralhadoras. Não sofremos baixas mas 2 terroristas foram abatidos.

Regressou à base o Pelotão destacado em Salancaur. Foi rendida por novas forças a Secção que se encontrava destacada em Jemberém.

17/2/63:

Continuaram a chegar mais elementos da companhia 273.

18/2/63:

Reconhecimentos feitos a Salancaur, Jemberém e Cadique. Aprisionámos alguns dos elementos que tinham atacado o nosso destacamento de Salancaur.

22/2/63:

Fomos visitados aqui em Bedanda pelo Comandante Militar e pelo Major Mira Dores, durante a altura em que tínhamos começado uma acção no mato de (Nhairom?), com 2 pelotões da CCaç 273 e 1 Pelotão da minha Companhia.

23/2/63:

Regresso da acção. Pobres resultados. Foram encontrados vários acampamentos terroristas, abandonados mas com indícios de terem sido ocupados recentemente. Foi rendida a secção de Jemberém.

25/2/63:

Reconhecimento feito em Salancaur e Mejo. O Capitão Delfino, comandante da Companhia que substituiu a CCaç 74, visitou-nos, para discutirmos colaboração.

26/2/63:

Outra visita pelo Comandante Militar e o Comandante da Força Aérea, para discussão sobre a colaboração da FA na próxima operação que iremos executar. Pormenores foram discutidos em detalhe.

27/2/63:

O Capitão Relvas veio da sede do batalhão visitar-nos em Bedanda. Aparentemente, o comandante do Batalhão está chateado por não ter sido consultado nos detalhes de apoio pela FA. e tomou a decisão de fazer a operação sem esse apoio. (Incompreensível!).

A acção começará esta noite a partir das 00:04. A acção terminou pelas 15:00 do dia 28/2/63. Os resultados que poderiam ter sido bastante satisfatórios, foram praticamente nulos, pois vários grupos de terroristas conseguiram, (devido a configuração e extensão do terreno de acção), fugir e dispersar. Se a FA tivesse colaborado os resultados teriam sido tremendos, pois o número de terroristas que conseguiram infiltrar-se entre as nossos forças foi considerável. (Esta foi a opinião de todos os comandantes de pelotão directamente envolvidos na acção. Na área onde a minha companhia actuou, notamos exactamente os mesmos resultados).

É evidente que os terroristas foram avisados da operação a tempo de poderem debandar. Nada me admira, pois temos um número considerável de soldados nativos, incluindo Balantas...


1/3/63:

Hoje pela 09:30 e mais tarde pelas 14:30, pessoal do pelotão do Cabedú sofreu emboscadas respectivamente entre Cafal e Cafine e no cruzamento de Cabante. Na segunda emboscada sofremos um morto e um ferido. Uma viatura Chaimite foi destruída na primeira emboscada. Seguiram dois pelotões reforçados para os locais das emboscadas.

Em Impungueda uma patrulha da CCaç 859 travou contacto com os terroristas e feriu alguns e os outros conseguiram fugir.

2/3/63:

Durante parte do dia de ontem e durante todo o dia de hoje as nossas forças percorreram todo o terreno nas zonas das emboscadas. Encontraram vestígios dos atacantes, fizeram um prisioneiro que tinha tomado parte numa das emboscadas, mas nada mais. O soldado ferido seguiu de avião para Bissau e o morto foi enterrado no cemitério de Bedanda.

O prisioneiro foi interrogado mas poucas informações conseguimos. Foi enviado para o Batalhão para ser interrogado.

3/3/63:

O Comandante Militar veio cá hoje de avião com o segundo Comandante do Batalhão 356. Depois de informados dos acontecimentos dos últimos dias, seguiram para Catió.

4/3/63:

Recebemos informação do batalhão de um possível ataque planeado pelos terroristas a Caboxanque e Jemberém. Enviei dois pelotões para Jemberém e Cadique, ponto de onde, segundo a informação, os terroristas se estavam a organizar para os ataques. Em Caboxanque executámos acções por um pelotão da minha companhia e outro da CCaç 273.

6/3/63:

Fizemos um reconhecimento à zona de Jemberém. O alferes Gonçalves encarregou-se de falar aos chefes Fulas de Jemberém e discutir a possível mudança das suas tabancas para Bedanda. Há toda a vantagem dessas mudanças para incrementar a protecção da população Fula. Poderemos também formar aqui e em Bedanda um pelotão de uns 40 Fulas, o que nos poderá ajudar substancialmente na segurança da área e aliviar as nossas forças. Os chefes Fulas aceitaram a nossa oferta de braços abertos.

7/3/63:

Começámos o transporte da população Fula de Jemberém. Usámos 10 viaturas neste movimento. Calculamos que serão necessárias 3 mais viagens semelhantes.

8/3/63:

Continuação do transporte dos Fulas. Seguiram dois pelotões da CCaç 273 para a região de Salancur.

9/3/63:

Continuação do transporte dos Fulas. Os pelotões da CCaç 273 continuaram a operar na região de Salancur.

Elementos Fulas de Jemberém conseguiram aprisionar um nativo que sabiam estava ligado ao movimento terrorista. Quando este nativo (Balanta) foi interrogado aqui na companhia, deu-nos a informação de que elementos terroristas estão no mato de Boche Falace a prepararem um ataque àquela povoação. Enviámos um pelotão da CCaç 273 para a área.

Recebemos também informação, por elementos do Chugué, que um grupo de terroristas bem armado estava concentrado do outro lado da fronteira com a Guiné Francesa, perto da zona de Banta-Sida.

Mais informações recebidas do pelotão de Jemberém: cerca de 300 elementos terroristas estavam a preparar um ataque à nossa companhia em Bedanda na madrugada de amanhã.

Dei ordens para que todo o nosso pessoal, (estávamos um pouco desfalcados pois tínhamos 2 pelotões em operações longe de Bedanda), estar em alerta em posições defensivas, já há muito preparadas para eventualidades semelhantes. Foi uma longa noite de nervos, mas o ataque nunca se deu.

10 e 11/3/63:

Acabámos o transporte dos Fulas de Jemberém para Bedanda, contudo ainda teremos que transportar abastecimentos e víveres que ainda lá ficaram, em especial uma grande quantidade de arroz. Os Fulas fizeram um outro prisioneiro que, após interrogado, nos deu boas informações sobre o grupo terrorista que tem actuado na zona de Boche Falace: nomes de comandantes, armamentos e locais aproximados do grupo. Este prisioneiro foi enviado para o batalhão.

13/3/63:

Recebemos novas informações sobre um outro possível ataque ao nosso aquartelamento no dia 16 ou 17.
O Benfica venceu o Dukla de Praga para a taça dos campeões europeus. Ouvimos o relato no rádio.

15/3/63:

Chegou um pelotão da CCaç 417 que seguirá para Caboxanque. Enviei uma grande coluna de 10 viaturas para Jemberém para trazer o resto dos víveres pertencentes aos Fulas.

16/3/63:

O pelotão da CCaç 417 seguiu para Caboxanque para render o Pelotão 859.

18/3/63:

Chegou o Pelotão 859 que seguirá para Bafatá. A CCaç 273 partiu para Jemberém em operações, não se sabendo por quantos dias.

19/3/63:

Visita do major Pina para discutir os pormenores do movimento dos pelotões 859, 870 e 871 para Bafatá. Eu irei a comandar a coluna e voltarei para Bedanda de avião.

20/3/63:

O alferes Mendes seguiu com um pelotão para o Chugué dentro do novo plano de ordenamento dos dispositivos.

22/3/63:

Cabedú enviou uma mensagem informando que os terroristas estavam a planear uma emboscada às viaturas da CCaç 273 que se tinham deslocado para a região de Darsalame. Enviei imediatamente um rádio para o capitão Gaspar com todos os detalhes da informação.

23/3/63:

Chegou outro pelotão da CCaç 417. Seguirá amanhã para Cabedú para render o Pelotão 871, que virá para Bedanda e depois para Bafatá na minha coluna.

[.-..] O meu diário, cobrindo os acontecimentos que se passaram entre a minha partida para Bafatá com a coluna, a minha vinda de retorno a Bedanda e as semanas até ao dia 18 de Maio, extraviou-se, infelizmente.

Lembro-me de alguns detalhes de possíveis ataques a Bedanda que, felizmente, nunca se concretizaram. Nós estávamos muito bem preparados, com todo o terreno à volta do aquartelamento (cerca de uns 150 metros), completamente limpo de arvoredo e vegetação.

Tínhamos os morteiros de 60 todos treinados nas áreas prováveis de ataque, além de explosivos enterrados e comandados à distância. Bem no fundo, eu estava com esperança de que os terroristas tentassem um ataque, pois seriam totalmente aniquilados, mas nunca aconteceu, possivelmente porque eles sabiam que tal acção seria muito difícil e arriscada.

No dia 18 de Maio, o capitão Nelson (meu colega de curso) veio render-me. Durante os 4 dias seguintes fiz a entrega da 4ª CCaç ao Nelson e no dia 21 de Maio segui de avião para Bissau.

Ai estive à espera de transporte e finalmente no dia 27 de Maio parti de volta a Portugal no navio da CUF “Ana Mafalda”.


Tenho ainda mais algumas histórias para contar, (entre os primeiros dias de Abril, até a altura em que fui rendido, 20 de Maio de 1963).

Um abraço,
George Matias Freire

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Notas do editor:

(*) vd. postes de:

24 de Janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10996: Efemérides (117): O início da guerra no CTIG há 50 anos: Nova Lamego, Bissau, Bedanda... O paraíso... perdido (set 62/mai 63): filme de George Freire, ex-cap inf QP, a viver nos EUA há meio século (Virgínio Briote / Luís Graça)
29 de dezembro de 2008 >  Guiné 63/74 - P3681: Tabanca Grande (106): George Freire, ex-Comandante da 4ª CCaç (Fulacunda, Bissau, N. Lamego, Bedanda, 1961/63)

(**) Último poste da série > 25 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11003: Efemérides (118): Data da Operação Irã (José Martins)

Guiné 63/74 - P11010: Parabéns a você (528): Mário Serra de Oliveira, ex-1.º Cabo Escriturário (BA 12) (Guiné, 1967/68)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10987: Parabéns a você (527): Augusto Silva Santos, ex-Fur Mil da CCAÇ 3306 (Guiné, 1971/73), Francisco Godinho (Barão do K3), ex-Fur Mil da CCAÇ 2753 (Guiné, 1970/72) e José Albino, ex-Fur Mil do Pel Mort 2117 e BAC 1 (Guiné, 1969/71)

sábado, 26 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P11009: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (3): De Varela a Guileje

1. Continuação da publicação do Diário de Iemberém, da nossa grã-tabanqueira Anabela Pires,  nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero e Alice Carneiro... Em 2012, esteve na Guiné-Bissau cerca de três meses (, de meados de janeiro a meados de abril). Devido ao golpe de Estado de 12 de abril , acabou por sair da Guiné.-Bissau, por razões de segurança. Passou um mês no Senegal. Regressou a Portugal. Vive neste momento na Índia, em Auroville. Em Iemberém, Parque Nacional do Cantanhez,  região de Tombali, esteve a trabalhar como voluntária no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento.  Chegou em Iemberém no dia 17/1/2012. E ficou  hospedada nas instalações locais da AD, a ONGD que é dirigida pelo nosso amigo Pepito (*)


2. Diário de Iemberém, por Anabela Pires [, que escreve de acordo com a antiga ortografia] > Parte III


22 de janeiro de 2012 (continuação)

Estiveram cá a passar o fim-de-semana 9 jovens portugueses, 7 dos quais professores, mas na vinda tiveram um acidente e acabaram por vir só em 2 carros. Assim, não puderam dar boleia à Cadi. Bom, talvez também seja perigoso dar boleia pois em caso de acidente pode-se arranjar um grave problema. E problemas já eles tiveram na vinda com uma moto em contramão que se enfaixou de frente. Na mota vinha um homem e uma mulher grávida que ficaram feridos e tiverem que ir para Bissau.

Foi a primeira vez que estes jovens vieram a Iemberém, ficaram nos bungalows, comeram no restaurante da Satu e saíram para passear com o Zeca (guia turístico instrutor). Hoje às 5.30 da manhã saíram para irem ver chimpanzés e conseguiram ver três.

Uma das jovens era professora de matemática e colega da Cátia, amiga da Mariana, de Coimbra, do Aikido. Não a conheço mas mandei-lhe de presente uma cestinha feita aqui pelos Balantas (uma das etnias existente nesta zona da Guiné).

Regressando à chegada a Bissau…. No dia 14 de Janeiro, às 7 horas da manhã, depois de me ter deitado às 4 horas, fui com o Pepito, a Isabel e o Cláudio para Varela, no norte do país, na fronteira com o Senegal. O Cláudio é um italiano que trabalha num projecto de cooperação com a AD. É geógrafo e o seu trabalho tem uma grande incidência em Iemberém. Já vem à Guiné há 10 anos. Agora foi para Itália mas volta em Março com outros colegas italianos ligados ao projecto. Estarão alguns dias em Iemberém mas também irão trabalhar no norte, na zona de S. Domingos.

Logo à saída de Bissau, na estrada, o Pepito foi comprar aquilo a que aqui se chama “couscous”. São uns bolinhos feitos de arroz pilado, levemente açucarados, com a forma de um pequeno queque. Uma dúzia deles dentro dum saco de plástico preto de má qualidade e lá os fomos comendo pelo caminho. Achei-os bem saborosos e imaginei a maioria dos meus amigos portugueses a comerem aqueles bolinhos, feitos por uma mulher agachada na estrada! Aí a ASAE! Bem, ninguém ficou doente e eu aproveito para aumentar as minhas resistências a alguma suposta falta de higiene.

O Pepito e a Isabel têm uma casa de férias em Varela e estão a fazer uma nova com horta, mesmo no meio da floresta. Penso que Varela deve ter a melhor praia da Guiné, de areia branca e muito fina. Assim, fomos tomar banho de mar no Sábado à tarde e no Domingo de manhã. A água devia estar aí a 23º ou 24º, considerada fria aqui em África. Nesta zona, uma das etnias são os Flupes, a etnia do coração do Pepito, e que pescam de zagaia! Quem me dera ter tal habilidade! [, a Anabela levou canas de pesca para Iemberém!]

Neste primeiro dia fiz logo coisas que me tinham dito em Portugal para não fazer: lavei sempre os dentes com água da torneira (e assim continuo pois não me fez mal algum!) e atravessei um pequeno riacho descalça.

Na casa de Varela quem cozinha é uma jovem também chamada Satu, que cozinha igualmente muito bem e tem ar de ser bem inteligente. O seu irmão Moamed é o empregado de casa, que segundo o seu próprio pai deu uma pancada com a cabeça em pequeno e ficou afetado! Só se lhe pode pedir uma coisa de cada vez pois se pedirmos duas não faz nenhuma. Não tinha ouvido a voz ao Moamed e por isso não imaginei que falasse português. Comecei a falar com a Satu e espantei-me do seu bom português! E descobri que o Moamed também falava bem português. Então expliquei por que tinha vindo para a Guiné, disse que ficaria 6 meses e que depois voltaria ou não, caso me adaptasse e o Pepito gostasse do meu trabalho.

Moamed: “Vai voltar!”

Eu: “Não sei, não depende só de mim, também depende do Pepito gostar ou não do meu trabalho.”

Moamed: “Vai gostar!”

Eu: “Ah, não sei!”

Moamed: “Sim, vai gostar. Como a senhora fala na mesa, Pepito vai gostar!”

Fiquei de boca aberta com a sua observação e percebi que da conversa à mesa nada lhe tinha escapado! O Pepito e a Isabel explicaram-me depois que o Moamed é extraordinariamente curioso e que, se por acaso, eles estão ao computador, ele não sai dali. Quer ver tudo, sobretudo o que pode ser para ele algo de novo. Felizmente a tal pancada na cabeça não o afectou completamente!

Antes de chegarmos a Varela parámos em Ingóre, zona onde a AD também intervém. Fomos ver o infantário que está a ser construído pela população e para o qual a AD contribui com os materiais. Conheci o Eugénio, engenheiro agrónomo guineense formado no ISA [, Instituto Superior de Agronomia,] em Lisboa e a Ermelinda, também técnica da AD. Parámos em S. Domingos, em Suzana, onde o Pepito e a Isabel foram contactando outras pessoas ligadas ao trabalho da AD. Fizemos 170 km de Bissau a Varela, 120 dos quais em estrada alcatroada e os restantes em terra batida.

No Domingo, depois do almoço, fizemos a viagem de regresso. Nos primeiros quilómetros devemos ter parado uma dúzia de vezes. As crianças da zona conhecem o carro do Pepito e saem a correr em direcção à estrada – mesmo quando estão a guardar vacas – a gritar “Pepito, Pepito, Pepito!”. Ele pára o carro e eles pedem “caneta”! Então ele pergunta-lhes em que classe andam e de acordo com a que frequentam questiona-os sobre a tabuada. Quando acertam dá-lhes uma caneta, se não acertam manda-os estudar. Dá-lhes às vezes segunda hipótese, às vezes até uma terceira mas se não acertam nenhuma não têm direito à caneta. Ele já me tinha contado este jogo quando esteve em Portugal mas vê-lo ao vivo foi uma delícia! E assim, aqueles primeiros quilómetros demoraram uma eternidade. Quando chegámos a Bissau já tinham terminado as cerimónias fúnebres do Presidente da República [, Malam Bacai Sanhá, 1947-2012] e a cidade estava calma.

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Na segunda-feira, dia 16, de manhã, fui com a Isabel às compras a Bissau. Começamos por ir tomar um pequeno-almoço especial – pão de Deus, com manteiga e fiambre, sumo de papaia e depois uma bica. Muito bom, mas custou, para as duas, cerca de 8 €. Em Bissau encontra-se quase tudo à venda mas os produtos importados são caros.

Dia 17, 3ª feira, vim então para o Sul, às 6 da manhã. Devemos ter feito cerca de 150 km em estrada alcatroada e depois começou a estrada de terra batida. Parámos em Quebo onde o Pepito comeu um pão (cacete) com a margarina de cozinha aqui usada mas eu preferi comer pão seco.

Passámos em Farosadjuma, onde a Fatu, que será também minha formanda, tem três bungalows e energia solar. Parámos em Guileje, onde existiu um quartel português. Um dos antigos edifícios (foram todos destruídos após a retirada da tropa portuguesa e por sua ordem) foi reconstruído e serve de habitação e escritório aos técnicos locais da AD – O Domingos e a Maimona. O exterior da entrada do edifico está todo coberto de garrafas de cerveja enterradas pelo gargalo – um piso curioso feito pelos soldados portugueses e que evita a lama à porta de casa no tempo das chuvas. Depois visitei a antiga capela, também já reconstruída pela AD, com um pequeno altar, uma cruz, uma Nossa Senhora de Fátima, oferecida por antigos combatentes portugueses, e à entrada uma antiga pedra gravada pelos nossos soldados. De seguida fui ao memorial de Guileje, outro edificio reconstruído, onde estão memórias dos combatentes portugueses e do PAIGC. Uma homenagem a todos os que tiverem de fazer a guerra.

É um sítio de reconciliação e não pude deixar de me sentir emocionada. Onde se fez a guerra há 40 anos faz-se hoje a paz. Gostei especialmente da frase de Amílcar Cabral colocada à entrada “A cultura é um elemento essencial da história de um povo”. A AD vai agora começar a reconstrução de outro edifício do antigo quartel. A Fundação Mário Soares contribui financeiramente, e penso que não só, neste projecto. No Memorial existe uma detalhada maquete do antigo quartel. No exterior está um antigo Unimog português e uma arma anti-aérea que era do PAIGC.

Chegámos finalmente a Iemberém, onde era previsto almoçarmos.

(Continua)

[Fotos: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados]

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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10988: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (2): A adaptação